Marcus Valerio XR

Longe dali, no hemisfério Sul Ocidental do planeta, nem na Zona Polar, nem em Bel-Lar.

Quem via Nova Acrópolis pela primeira vez não raro estranhava o fato da cidade parecer modesta. Nenhum prédio passava de 40m, não se via naves imensas flutuando no ar e nem mesmo sinais de tecnologias defensivas em ampla escala.
Mesmo assim era a mais importante das 4 cidades utópicas, situada onde um dia fora parte da antiga floresta amazônica, na zona equatorial onde graças a sofisticados sistemas de controle atmosférico e ao fato do planeta ter sofrido drásticas alterações climáticas desde a última Guerra Celestial, a temperatura ambiente era sempre agradável.
As construções eram predominantemente claras, de aparência vítrea. Quase não se via veículos na superfície, mesmo porque muitos dos transportes de massa eram subterrâneos e também por que a maior parte da população, habituada a práticas físicas constantes, caminhava ou corria com desenvoltura.
As ruas limpas, com muita vegetação viva, de aspecto sempre novo e higiênico, eram uma característica comum das Cidades Utópicas e das Cidades Médias mais desenvolvidas.
Numa das áreas mais densamente construídas erguia-se o maior de todos os prédios, que tinha menos de 160 metros em seu ponto mais alto mas que, em forma piramidal de arestas curvadas, abrangia uma área equivalente a de muitas cidades.
Era o prédio onde se reunia com maior frequência o atual Alto Conselho Octal, composto pelos 8 administradores planetários empossados mediante um processo democrático que abrangia a maior parte do planeta. Dos 8 membros, no momento apenas dois estavam presentes, conversando numa sala de encontros movimentada.
Um deles era o mundialmente famoso Lorde Mestre Xuminis, uma das mentes mais brilhantes que a raça humana jamais ousou conhecer. Xuminis era filósofo, cientista, artista, místico, e igualmente genial em qualquer área de atividade humana. Suas composições musicais eram conhecidas em todo o mundo, assim como suas esculturas e telas, fora campeão de artes marciais planetário em certa ocasião, ajudara a desenvolver algumas das mais recentes inovações científicas e conseguiu implantar um sistema de gestão em algumas das Cidades Médias que solucionou problemas que as afligiam há séculos, ele era uma celebridade amada em todo o planeta, mesmo por ser considerado belo, simpático e sensual.
Xuminis, que era moreno, alto, esbelto e usava cabelos de comprimento médio, dialogava com a outra membro do Conselho. Sua aparência era a de uma criança de 8 anos, rostinho de anjo, cabelos compridos acastanhados e olhar cativante.
Lady Mestra Sielavia apesar de jovem comprimia em seu pequeno cérebro uma das mais potentes Metanaturalidades do planeta. Inteligentíssima, de mentalidade adulta e com potencial intuitivo assustador, ela costumava representar o pensar místico e subjetivo do planeta. Ela também já sentira que algo diferente parecia estar prestes a acontecer mas preferira não tocar no assunto, pois sabia que breve um evento se daria ao conhecimento.
Foi quando um dos secretários auxiliares do Alto Conselho os abordou, comunicou algo rápido e então os dois o seguiram rumo a uma das salas de reunião. Lá chegando a imagem holográfica dos eventos recém ocorridos no deserto de Kolneia se repetiam ao lado da telepresença de alguns administradores de Bel-Lar, aos quais se complementavam também gráficos e esquemas diversos e luminosos flutuando no ar.
Alguns outros secretários, auxiliares e conselheiros chegavam a sala e logo se inteiravam da situação. O relatório explicara as entradas não autorizadas na atmosfera, o combate das amazonas com os ZIGs, Dai-Haime, e também deste último com o robô. Mostraram também que um dispositivo nuclear radioativo quase foi detonado e a presença de uma nave extraterrestre que além de ajudar a quase devastar uma cidade, atacara novamente as amazonas e capturara um Ione.
- Então é isso. - Pronunciou em voz baixa Sielavia.
Como era de se esperar, a pequena mestra tinha uma noção clara da situação antes que qualquer outro conseguisse ligar os fatos num esquema compreensível.
Ante as dúvidas com relação a qual devia ser a posição do Conselho, Xuminis foi incisivo. - Mas é claro que interviremos. Não podemos permitir esse tipo de invasão e ataque aos habitantes de nosso planeta! Ainda que seja na Zona Polar.
- Mas as deliberações sobre a quem cabe a Zona Polar ainda não foram concluídas Lorde Mestre. - Disse um dos secretários. - Ela continua sendo uma área neutra.
- Desde que não ocorra eventos drásticos como esse. - Respondeu Xu, o nome pelo qual o Lord Mestre Xuminis era mais conhecido. - Pessoas foram mortas no conflito ocorrido nesta comunidade religiosa, tudo indica que algumas daquelas nômades também possam ter sido vitimadas, e tentou-se usar um Anti-Vida contra humanos!
- Ressuscitadores, curandeiros e médicos já estão a caminho, mas com a Lei de Cobertura terão que voar baixo e lentamente. - Completou uma das secretárias.
- Duas Espadas Espaciais também já estão sobre a área e aguardam decisão do Conselho. - Completou outro auxiliar. - Assim como dois Super Metas de Bel-Lar também já se dirigiram para lá e devem chegar em pouco tempo.
Um homem mais idoso embora de aparência saudável se aproximou. - A questão é se devemos convocar todo o Conselho para tomar essas decisões.
- Sim! - Respondeu imediatamente a pequena mestra. - A situação é muitissíssimo mais grave do que parece a primeira vista!
Todos olharam com surpresa, embora Xuminis já tivesse um dado que de fato justificava maior preocupação, e completou. - Tem razão. Os que não puderem estar aqui em menos de uma hora devem comparecer virtualmente. A situação é séria. Vamos!
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Após se recuperarem as amazonas contabilizavam os estragos. As motos e os equipamentos estavam aparentemente intactos, mas duas delas estavam mortas e outras duas gravemente feridas. Chorando e com ódio, algumas das meninas quase entravam em desespero.
- Por favor acalmem-se! - Disse a líder. - Ajuda já deve estar a caminho. Devemos ter esperança que trarão ressuscitadores. - Completou Alice, contando que o fato tivesse despertado atenção dos satélites de vigilância e comunicado a situação aos dirigentes do planeta, que dificilmente não se manifestariam em situações como aquela.
Não havia muitas dúvidas com relação à conduta da administração planetária, mas com sua viabilidade em tempo hábil.
- Mas com a Lei de Cobertura vão demorar muito para chegar aqui. - Disse uma das garotas aos prantos. - Elas não vão ser mais as mesmas. - Terminou se referindo ao fato que se as amigas fossem ressuscitadas teriam sua personalidade gravemente alterada, como de fato geralmente acontecia quanto maior o tempo decorrido entre a morte e a ressuscitação.
- Nos preocupemos agora com as feridas. - Interrompeu Dai-Haime fazendo sinal para os Iones e para uma das moças que também tinha poder de cura, além de Djane. A outra moça Metanatural que antes ajudara na cura da jovem que quase fora vitimada no combate contra Dai-Haime era uma das mortas.
Em círculo em volta da que estava em estado mais grave, conseguiram equilibrar sua vitalidade e tirá-la de perigo, mas não puderam fazer o mesmo com outra, que apresentava uma falência orgânica lenta mas progressiva.
O Super Metanatural se levantou desanimado. - Não dá... Mesmo que eu estivesse com energia máxima não conseguiria. - Olhou então para Alice, que por sinal era prima da garota agonizante, e frisou. - Só aquele Ione poderia salvá-la agora.
- Mas para onde ele foi levado? - Perguntaram, e então subitamente, um clarão se fez notar no horizonte, no rumo para onde a nave partira. Uma curiosa e sutil vibração parecia presente no ar e Djane fechou os olhos e respirou profundamente, e apontou para a luz. - Para lá!
Alice recolheu algumas coisas e em tom calmo mas decidido ordenou.
- Vamos! Eu quero aquele Ione de volta!
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Perto dali o chão do deserto havia sido aberto, estruturas artificiais emergiam das profundezas, raios de energia desintegravam rochas e areia para liberar a passagem de outras partes de aparência plastimetálica.
Assistindo o espetáculo estavam os dois homens cinzentos. Mais atrás o pequeno ione estava envolvido por um cone de luz esverdeada que partia do fundo da nave negra, que flutuava a cerca de 3m do solo. A mais adiante uma figura sinistra. Um robô antropóide de quase 4 metros de altura, em tons vermelho vinho escuro.
Porém era apenas uma armadura, um revestimento para a energia vermelho rosada que em seu interior se comprimia, ocasionalmente escapando por algumas frestas e deixando uma curiosa névoa rosada brilhante que logo se dissipava.
Os homens cinzentos se aproximaram e um deles apontou para o ione.
- Aqui está senhor.
- Como prometemos.
- MUITO BEM! AFINAL AINDA ESTAMOS NO HORÁRIO! ...AAAH... PASSEI OS ÚLTIMOS 700 ANOS ESPERANDO ESTA CENA.
- É realmente muito impressionante senhor. Quando vai concluir a abertura?
- FALTA MENOS DE UM MINUTO, MAS VALE A PENA APRECIAR O MOMENTO. QUANDO ESSA BASE FOI SELADA NÓS ABANDONAMOS ESSE PLANETA POR NADA MAIS TER A FAZER AQUI EM TERMOS PLANETÁRIOS, MAS MUITOS PROJETOS CIENTÍFICOS FICARAM INACABADOS. TIVEMOS UM ÁRDUO TRABALHO PARA CRIAR O MECANISMO PERFEITO DE OCULTAMENTO E CONFIGURAR TODO ESTE CONTINENTE COM SISTEMAS AUTOMÁTICOS DE DEFESA QUE TORNARIAM O LOCAL DIFÍCIL DE SE VISITAR.
- É. E mesmo assim muitas pessoas vivem aqui.
- Inexplicavelmente.
Então o chão parou de se abrir, as luzes diminuíram de intensidade e os tremores foram cessando.
- ENTÃO VOCÊS NÃO SABEM O QUE DAMIATE DIZIA DA EXISTÊNCIA HUMANA? ORA. OS SERES HUMANOS VIVEM SUA VIDA E INVESTEM TODOS OS SEUS ESFORÇOS NUMA TENTATIVA INCONSCIENTE E DESESPERADA DE DEIXAREM DE EXISTIR DEFINITIVAMENTE. NENHUM DELES SE APERCEBE DISSO, MAS TUDO O QUE FAZEM VISA, EM ÚLTIMA E TRANSCENDENTE INSTÂNCIA, AO NÃO-SER ABSOLUTO. TUDO O QUE QUEREM É DEIXAR DE EXISTIR. BEM... E AGORA VAMOS.
Os homens cinzentos seguiram a sinistra figura metálica que se dirigia para aquilo que deveria ser a entrada principal da base. Ficaram tentando entender o que significava aquela estranha definição do comportamento humano, que parecia ir contra todas as evidências. Mas tendo sido o próprio DAMIATE que o disse, quem se atreveria a discordar?
Com um sinal desativaram o facho de luz que envolvia o ione e este os seguiu imediatamente, com a típica expressão vazia de quem não está a agir por vontade própria.
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- VAI ME DIZER OU NÃO!?!?! - Gritava a figura angelical diante de um homem assustado.
- Bem... Se-senhora. Foi ele mesmo que pediu para...
- Não me interessa o que ele pediu! Só quero saber se foi para a Zona Polar ou não! - Repetiu a comprida e ameaçadora loira, que agora com as curiosas asas luminosas abertas parecia estar prestes a engolir toda a sala e quem estivesse nela.
O funcionário da administração defensiva de Bel-Lar tinha uma cumplicidade com Traigon há algum tempo, e não gostaria de falhar com ela, mas não era qualquer um que encarava aquela bela fera sem tremer nas bases, e ela estava mesmo furiosa. Ante um olhar ainda mais ameaçador ele acabou cedendo.
- Sim... Sim senhora... Eles foram para a Zona Polar... - Respondeu suspirando.
- Eu sabia! Ele deu um jeito de enganar os satélites e ocultar a nave. Safado! Ele me paga! Vou para lá agora mesmo! Há quanto tempo eles partiram?!
- Quase meia hora, já devem estar lá. E... Senhora... Não é uma boa idéia você...
Ela levantou o dedo. - Ele não precisa ser defendido ou acobertado por ninguém! Pare de tentar...
- Lei de cobertura! - Interrompeu o homem numa rara ousadia. - A senhora terá que voar baixo, será impossível acha-los a não ser que ele desative os despistadores. O que é claro que não vai fazer.
Então ela saiu para uma parte aberta do prédio, suas imensas asas luminosas e transparentes se expandiram ainda mais e então ela arrancou aos céus causando um deslocamento de ar que derrubou o homem no chão. E antes de sair gritou. - Dane-se a Lei de Cobertura!
O funcionário ficou a observar um facho luminoso sumir no horizonte, pôde ouvir o estrondo sônico, e pensou. "Que se dane a Lei?... Ela não pode estar falando sério! Será que vai tentar desafiar os sistemas de defesa Zenitrons?!"
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No deserto, 12 motos avançavam. As mais rápidas e sofisticadas, mas desta vez todas ostentavam as rodas ainda que levitassem. Era uma prevenção contra neutralizadores eletromagnéticos, de modo que se a energia fosse cortada, elas ainda rolariam por inércia. Além disso os sistemas de pedais estavam preparados. Um engenhoso mecanismo hidráulico permitia que o uso dos pés produzisse uma tração fraca mas eficiente em situações de emergência.
Outra precauções incluíam várias armas não elétricas de prontidão. Muitas foram improvisadas, bombas químicas foram montadas e todas as garotas estavam preparadas para agir de modo furtivo ou dispersivo se fosse necessário.
Além disso, Dai-Haime estava bem recuperado e logo teria todo o seu poder de volta. Alice também, finalmente, parecia ter conseguido reativar seu desintegrador. Graças ao Urânio recém adquirido ela poderia usar essa potentíssima arma que em geral ignorava escudos defensivos, ainda que só em caso de emergência, pois a radiação liberada podia ser letal para o próprio usuário.
As feridas e as mortas ficaram para trás, com o restante do grupo. Das 12 motos 4 levavam duas pessoas. Em 3 seguiam nas garupas moças prontas para usar canhões improvisados de alta potência e que não dependiam de eletricidade. Na moto de Djane Mei continuava Dai-Haime, cada vez mais confuso com relação a todo aquele acontecimento estranho e ainda mais abismado com o sentimento que começava a manifestar por sua guia.
Uma mulher tão inteligente, misteriosa e fascinante! Era fato que dois metanaturais não raro se apaixonavam de modo muito rápido, quase instantâneo, dado sua alta sensitividade, mesmo assim Dai-Haime, estava surpreso como se sentira tão imediatamente ligado àquela mulher.
- "Deve ser um laço trans existencial." - Pensou ele.
O tempo era curto, se em menos de 80 a 90 minutos não trouxessem aquele ione de volta a prima de Alice também ia morrer, e dado a morte ser lenta e agonizante, a ressuscitação poderia ser psicologicamente inviabilizada, pois tendia a trazer a tona todo o trauma de um lento processo de morte, o que podia ter consequências drásticas e negativas para a mente, ao contrário de pessoas que sofriam morte rápida, que quando ressuscitadas embora tivessem sua personalidade alterada, raramente tinham problemas psíquicos mais sérios.
Não demoraram, lentamente reduziram a velocidade e pararam atrás de um rochedo. O contornaram por cima até obter uma vista do local onde Djane garantia terem chegado. Uma a uma as garotas foram se encolhendo entre as rochas e vegetação rala e verificando a curiosa estrutura que emergira do subterrâneo. As reações eram diversas, mas todas intensas.
- Pela Deusa!
- Mas o que é isso?!
- Parece uma entrada para um complexo subterrâneo mas... Aqui nos mapas não existe nada. Também não poderia ter vindo de céu. Com esse tamanho todo nós a teríamos visto mesmo que não ativasse os sistemas de defesa anti-aérea. - Comentava a mais curiosa de todas, Velita, que notava uma série de detalhes familiares mas ainda não entendia bem o que era. - Ou será que... - Se interrompeu e pensou de si mesma. "Ora Velita! Não é hora para bobagens!"
Era uma estrutura de aparência metálica, cinzenta, opaca e não reluzente, mas que por determinados ângulos e incidências de luz parecia plástico. Linhas retas, embora quase sempre inclinadas. Havia uma grande entrada claramente aberta, numa forma trapezóide alta e de onde emanada uma luz amarelada que parecia a luz do sol.
Sob a luminosidade cada vez mais escura do céu nublado, aquele local parecia ter o dia mais radiante em seu interior. Havia alguns curiosos símbolos de tipia não estranha mas indecifrável. Algo fortemente familiar para as mais instruídas do grupo, mesmo assim difícil de reconhecer ou inaceitável a não ser em termos lendários.
Finalmente Djane e Dai-Haime, que foram os últimos a sair das motos, chegaram ao ponto de avistamento. Djane não mudou a expressão de preocupação que tinha no rosto mas Dai-Haime ao se deparar com a cena, ficou tão espantado que esqueceu de se abaixar.
Os olhos arregalados, o evidente arrepio e o travamento da respiração fizeram as moças desistirem de gritar para ele se esconder.
- Mas... Isso... Não... Não. Não acredito!
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Cinco membros do Conselho Octal já estavam reunidos, incluindo Xuminis e Sielavia. Lorde Mestre Siandru era muito alto, cerca de 2,10, muito magro e de pele negra tão intensa que parecia não ser natural. Seus cabelos eram enormes, enrolados em forma de finas molas e desciam até além da cintura. Era o principal especialista em Ciência e Tecnologia e integrava o Conselho já há 12 anos.
O pequeno Lorde Mestre Marzion era aparentemente de idade avançada, embora isso não significasse exatamente debilidade física mas sim austeridade e uma aura de sabedoria, além das inevitáveis marcas de velhice que se faziam notar em seus 106 anos. Seu olhos eram azuis e sua pele clara, quase rosada, e era um formidável político, linguista e administrador.
Por telepresença estava Lady Mestra Benian, da cidade de Xantai e tida pelos seguidores do Xantaísmo como a representação da própria deusa XANTAI. Seus cabelos eram negros e a pele morena, ou pelo menos parecia dado a transparência sutil da projeção holográfica, que embora não inevitável era obrigatória como forma de evidenciar a não presença física da pessoa. Era antes de tudo a voz da vida no planeta. Bióloga, Filósofa, Mística e de agitada vida pública, costumava canalizar a opinião ecológica do planeta.
Todo observavam a cena que se revelava nas telas e nas projeções holográficas com nítida surpresa.
- Alguém teria alguma idéia de como esta coisa pôde estar escondida aí sem nunca termos descoberto?! - Perguntou Marzion, que de pé, parecia estar sentado.
- Provavelmente estava a mais de um km de profundidade. - Disse Siandru. - Só isso explicaria a sua não detecção pelos satélites de observação por mais que ela tivesse despistadores. Mas mais impressionante que isso é a velocidade com que veio a superfície.
Eles reviram as últimas imagens e Xu tomou a dianteira. - Vejam! Aquilo não era um robô! - Disse ele apontando para o enorme antropóide metálico que entrara na base. Ampliando a imagens ativou visualizações diversas até por fim selecionar uma.
Nenhum sistema conhecido era capaz de detectar uma essência espiritual ou astral pura, mas podia captar alguns dos resíduos de recursos que estas utilizavam. A névoa rosada denunciava o uso de uma série de substâncias gasosas usadas para que uma essência espiritual pudesse se manifestar fisicamente, controlando a nível de partículas os gases da composição que a tornavam visível, plásmica, capaz de se infiltrar em organismos e estruturas e manipulá-las.
- Temos uma presença fantasma no interior daquela armadura. Mas o que ela pretende? O que espera encontrar nesta base. Um corpo? - Perguntou Beniam.
- É possível. - Disse Xu. - Normalmente apenas fantasmas sem corpo astral definido usam armaduras de contenção deste tipo. Mas a julgar pelo seu provável nível de energia não parece estar atrás de um corpo humano.
- E para quê o ione? - Perguntou Marzion.
- Esperem. - Interrompeu Siandru. - Aqui está a leitura de aura completa do ione. Desta altitude não é muito precisa mas... Ora vejam só. Nível máximo!
- Hum... Comentou Marzion. - Está escapando da escala mensurável a essa distância. Melhor verificarmos novamente as imagens daquele combate anterior com o SuperMeta.
Então as imagens revelaram a luta de Dai-Haime contra as amazonas no deserto e focaram o momento em que uma delas foi gravemente ferida, e então o processo de cura usado pelos iones. Com um padrão de aura mais completo já definido, o computador pode reinterpretar os dados e deduzir a variação de Força Vital ocorrida no processo de cura. Além disso a imagem havia sido retocada de modo a permitir maior resolução e a cena era vista em detalhes microscópicos.
Finalmente puderam ter o idéia clara do que tinha acontecido.
- Espantoso! - Disse Marzion. - Aquela jovem estava a beira da morte, com queimaduras extensas, danos neurológicos intensos mas... Ela foi totalmente recuperada.
A imagem mostrou as células da moça se reconstruindo a velocidade incrível, sob a influência de uma energia de cura tão potente que quase ofuscava a imagem. Todos ficaram impressionados.
- Estamos diante do mais poderoso curandeiro da Terra! - Manifestou-se a jovem Sielavia. - Eu havia sentido uma série de eventos repercutindo no campo vital do planeta, mas eram difíceis de rastrear, agora que voltei minha atenção para a zona polar posso sentir que foram mesmo lá.
- Como um ione deste nível pode nos passar desapercebido?! - Perguntou Xu.
- Eles costumam evoluir de forma imprevisível. - Iniciou Marzion. - Mesmo assim é algo difícil de acreditar.
- Bem... Temos então uma poderosíssima bateria vital e um Ser astral indefinido. São os dois ingredientes necessários para ativar um organismo biológico. - Disse Xu. - Mas a única coisa que posso imaginar satisfazendo a exigência do nível de energia daquele fantasma é... Algo que...
- É melhor pressupor a pior possibilidade. - Manifestou-se Siandru. - Tudo indica que aquele complexo Zenitron é mesmo...
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- ZENTÁRTIDA!!!
Gritou Dai-Haime. - Não acredito! É Zentártida!!!
Algumas moças gritaram para ele se abaixar, mas Alice e Velita sentiam um frio na barriga.
- Sempre achei que Zentártida fosse lenda. - Disse Alice.
- O que é Zentártida!? - Perguntou indignada uma das moças.
- A base secreta de DAMIATE. - Respondeu Velita.
- Quem é DAMIATE? - Perguntaram algumas das moças, incluindo Xivia, para espanto de Dai-Haime e conformismo das líderes.
- O quê?!?!- Indignou-se o rapaz - Quem é DAMIATE?!?! Mas em que espécie de Universo vocês pensam que vivem?!
As meninas ficaram irritadas com a insinuação de ignorância.
- Eu nunca ouvi falar dessa... - Começou uma delas. Alice e Velita estavam acostumadas com a ignorância de algumas de suas seguidoras, mas no fundo nenhuma delas era também uma estudiosa, de modo que preferiam não falar sobre o assunto e não correr o risco de dizerem besteiras.
Mas Dai-Haime estava furioso. Abaixou-se finalmente e pôs as mãos na cabeça. - Mas será que nenhum de vocês tem alguma noção histórica?!
As meninas, ainda mais impacientes, insistiam na pergunta. E então Djane falou. - Foi o tirano que governou a Terra há quase dois mil anos atrás. Foi ele que criou os primeiros Hiper Metanaturais conhecidos e trouxe a tecnologia Zenitron para esse planeta.
- No ano um da Idade pré-dourada? - Perguntou Xivia.
- Sim. - Respondeu Djane. - Ou século XXI do antigo sistema comum.
- Vamos entrar ou não?! - Insistiu uma das meninas.
- Ei! Olhem ali! - Disse outra.
Finalmente avistaram a nave que as atacara, parada ao lado de uma pedreira.
- Vamos acabar com ela! - Disse Xivia.
- Calma. Devagar. - Deteve-a Velita, se levantando lentamente.
Elas desceram as rochas e aumentaram a intensidade dos despistadores. Contornaram por trás da pedreira até finalmente avistarem a nave, que levitava no ar, inerte. Sem qualquer sinal de atividade.
Velita preparou o canhão enquanto uma das meninas arrastou sua moto manualmente para uma posição estratégica. As outras logo se posicionaram para seguir as instruções.
Então os computadores da nave sentiram o impacto de algumas pedras arremessadas contra o escudo e automaticamente intensificaram o local na barreira energética de modo a tornar o ar sólido. Então várias pedras vieram do alto, o que em nada preocupava o sistema de defesa. Porém algumas destas pedras continham metal, o que confundiu os sensores e estes não puderam notar que dentro de uma das pedras pequenas havia um artefato explosivo.
O estrondo explodiu canalizando a energia do escudo toda para o alto, e então a garota na moto saiu de sua posição e disparou seu Laser. O raio atingiu o casco na nave mas o escudo rapidamente se redirecionou e se reconfigurou para defletir o calor do raio, porém os microsegundos que isto demorou foram suficientes para permitir danos.
Com o escudo voltado para o raio a nave pouco pode fazer para evitar ser atingida por um disparo explosivo que veio pelo lado oposto e o escudo claramente começou a falhar. A nave se moveu mas foi recebida por uma saraivada de disparos. O campo de neutralização eletromagnética entrou em ação e as armas pararam. Mas os canhões explosivos continuaram a castigar o escudo até por fim anulá-lo e finalmente um tiro final ateou chamas ao casco, usando um combustível viscoso. A nave ainda acionou dissipadores de calor mas logo um outro disparo perfurou-lhe a fuselagem. A campo de neutralização eletromagnética foi desativado. As armas das amazonas voltaram a funcionar e todas elas atiraram, em segundos a nave despencava do céu se chocando ruidosamente com o solo.
As moças comemoraram eufóricas. Fora uma revanche. - E agora vamos invadir esse lugar! - Gritaram algumas.
Alice nada fez para evitar. Seguiram para a entrada. Velita estava empolgada com a idéia de entrar pela primeira vez em uma base Zenitron e Dai-Haime num dilema, pois se por um lado aquela oportunidade também o fascinava, por outro ele estava cada vez mais receoso com tudo o que ocorria.
Mesmo assim ele seguiu em frente e com a ajuda de Djane confirmou que não pressentia perigo imediato logo na entrada, embora se segurasse para não dizer que pressentia um imenso perigo não imediato. Por sua vez Velita usou todos os seus sensores e rastreadores para se certificar de estarem entrando num local seguro.
Alice então ordenou à maioria da moças que esperassem, somente ela, Velita, Djane, Xivia e Dai-Haime seguiriam em frente por enquanto. Não sem um receio foram pouco a pouco adentrando a porta principal, que tinha uns 12m de altura por cerca de 8 de largura na base, e cerca de metade disso no alto.
O chão era luminoso apesar de se notar um padrão xadrez sutil, as paredes por vezes pareciam um tipo de metal recoberto por vidro. Havia luminosidade indireta de toda parte mas aos poucos, a medida em que foram entrando, a luz antes forte se tornou mais tênue, Dai-Haime e Djane tiraram os visores. As outras não o fariam, além de estarem com o corpo todo protegido deixando apenas parte do rosto a mostra.
Alice tinha os cabelos soltos, mas seu visor protegia também as orelhas e em casos de emergência ejetava parte de um capacete retrátil, que se fundia com outra parte ejetada pela gola. O mesmo equipamento usavam as demais mulheres embora permanecessem com os rostos à mostra.
Os visores ultraópticos acusariam qualquer perigo sutil. Nada lhes seria imperceptível. Eles captavam Ultravioleta, Infravermelho, várias outras freqüências de ondas, se adaptavam imediatamente ante qualquer luminosidade. Da mesma forma os fones que usavam neutralizavam sons que fossem perigosamente altos ao mesmo tempo que amplificavam sons muito baixos, permitiam ouvir de imediato uma série de freqüências de rádio e operando em conjunto com os visores permitiam uma amplitude perceptiva biologicamente impossível.
Também haviam levado tudo o que tinham de melhor como equipamento, inclusive proteção anti-fogo, ácido, calor, uma malha ligeiramente reluzente que defletiam parte dos disparos de Lasers e toda uma série de medidas de proteção. Somente Djane era mais despojada, por contar sempre com sua Metanaturalidade que no momento parecia amplificada.
Elas, e Dai-Haime, entraram por um corredor de onde mais uma vez era impossível detectar a fonte da luminosidade. O chão se tornava a cada passo mais transparente, permitindo ver estruturas embaixo que pareciam galerias ou túneis descendo para as profundezas. Ao alto não se enxergava o teto pois uma névoa luminosa ainda se dissipava.
Curiosamente não se notava nada além das intermináveis paredes luminosas, metálicas ou transparente. Não havia interruptores, câmeras ou outros dispositivos perceptíveis. Velita sabia porque. Os Zenitrons tinham uma engenharia que se adaptava instantaneamente a qualquer situação. No momento necessário, dispositivos surgiriam.
Mal ela comentou isso e então do chão transparente surgiu uma caixa que do translúcido logo se tornou opaca, assumindo então a aparência de metal. Abriu portas corrediças que simplesmente sumiam e revelou-se um tipo de elevador.
Ficaram na dúvida se deviam ou não entrar. Mas os Meta Naturais não sentiam qualquer perigo naquele local, embora os dois soubessem que o mesmo não se dava lá embaixo. Porém Djane continuava com a sensação de que deviam ir, de que aquele era o momento pelo qual a vida delas esperava.
Entraram no elevador e antes que ele descesse perceberam que a porta por onde haviam passado se fechara completamente.
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