BATALHA ESPACIAL
- O que vocês fizeram?!- Lunis exclamou perplexa quando finalmente se deu conta da
situação. - O que eu fiz?!- E se aproximou do corpo caído de Velek, severamente
queimado pelo calor do ataque da feiticeira.
- Não tivemos escolha! Eles est... - A porta se abriu abruptamente e dois robôs de segurança entraram, um disparo
elétrico atingiu um dos rapazes e o outro só escapou porque a seilan, num "reflexo" micropremonitório ativou um escudo
hemisférico, que os protegeu escorando o raio. Por uma fração de segundo pensou em se render, mas o hábito falou mais
alto e, do nada, fez surgir sua bola de cristal.
Flutuando a seu lado, com cerca de 25cm de diâmetro, parecia algo vivo, transparente, luminoso, energético. Brilhou numa
luz avermelhada e disparou um raio contra um dos robôs, atingindo-o em cheio. Enquanto sua mestra continuava a manter o
escudo para se defender dos ataques, a bola se elevou e disparou novamente até eliminar os dois oponentes.
A trégua durou pouco, o computador da nave ordenou rendição, duas paredes desceram do teto, reduzindo a ambiente a um pequeno
corredor claustrofóbico, e separando os telepatas desmaiados dos seilans. Dois robôs rapidamente recolheram as vítimas, e 4
outros surgiram para continuar o combate. A feiticeira não teve escolha, diante da incerteza, do risco de que pudessem estar
sendo vítimas de alguma manipulação, e considerando que só havia máquinas para enfrentar, decidiu não se render.
Gerou outro escudo, impedindo o avanço dos robôs, e ordenou seus servos a se agarrarem a ela. Ativou então a esfera de vôo,
e só então lembrou que não estava sob gravidade real, mas sim sob força centrífuga, e a esfera ficou presa ao chão.
Tiveram então que rolar a bolha com os próprios pés, até que a seilan, desativando o escudo, ativou sua aura corpórea e usou
seu poder mentônico para produzir impulsão iônica. Mas o imprevisto cobrara seu preço, os robôs se aproximaram perigosamente
e a bolha parecia ter problemas para refletir seus disparos elétricos.
Ela empunhou a bola de cristal nas mãos, a fez brilhar como uma estrela e descarregou um ataque devastador. Os robôs foram
destruídos, e também boa parte do interior da nave. Feito isso, só havia uma coisa a fazer, sair dali o mais rápido possível.
A GENIUS, por sua vez, acabava de entrar na esfera de invisibilidade do planeta fantasma, e foi inundada com os novos e
perturbadores dados. O computador resumiu a situação, descrevendo o ataque dos seilans contra os telepatas, o despertar da
feiticeira e o ataque final contra um dos líderes da frota, bem como a escaramuça contra os robôs. Mas a notícias não
demoraram a piorar ainda mais. A PROMINUS ainda estava cercada por alguns ZIGs fiéis à frota, mas que devido à estabilização da
situação, tiveram seus acessos liberados, o que permitiu a novos códigos intrusos alterarem sua programação, passando a
novamente obedecer aos objetivos originais de Jerok, que só não haviam operado antes devido a
intervenção de Zentaris.
Eles agiram imediatamente e abriram fogo contra a GENIUS, cujos ZIGs também reagiram à altura, porém, a vantagem é sempre
do primeiro atacante, o que obrigou a GENIUS a uma brusca ação evasiva. Mesmo que já viesse preparada para um combate,
Filia e os klumans ficaram bastante surpresos. Todas as suas preocupações pareciam confirmadas,
e não conseguiam entender como podiam ter chegado àquela situação.
A menos de 100 kms uma da outra, as naves estavam se hostilizando como jamais se esperou, e embora nenhuma delas tivesse
armas, os ZIGs foram se destruindo aos poucos mas não sem danos significativos à ambas. A líder não desistiria facilmente,
viera com o objetivo de provar o ameaça da seilan e capturá-la, e não podia encontrar melhor justificativa para suas
intenções. Que não estava agindo da maneira mais equilibrada, podia admitir para si mesma, mas não o suficiente para
restaurar-lhe plenamente o juízo a ponto de lhe fazer ver o quão insólita era a situação.
Na verdade, o campo de perturbação mental era tal que agora já estava francamente afetando os computadores das naves, esses,
porém, embora tivessem mentes vulneráveis à telepatia, ainda estavam submetidos a diversos controles lógicos operativos que
impediam que agissem de modo irresponsável, sendo de certa forma coagidos a seguirem suas diretrizes básicas. O verdadeiro
problema é que nessas condições eles não podiam executar exatamente a tarefa que lhes era exclusiva, tomar decisões sobre
temas mais complexos que normalmente transcendem a simples computação.
Devido a isso, os computadores da PROMINUS não foram capazes de avaliar a situação delicada que a seilan se encontrava,
e seguiram a expectativa óbvia de que ela, realizando uma ação hostil, devesse ser tratada de modo equivalente. Agora,
a mesma PROMINUS se encontrava sob ataque cerrado da GENIUS, e os programas, pura lógica matemática, não foram capazes de
entender a complexidade da situação que perturbava as mentes dos humanos envolvidos, e dos computadores mentais centrais,
que estavam cada vez mais confusos, dando instruções no mínimo inúteis ou mesmo francamente imprudentes.
O sistema computacional insuperável de uma Espada Espacial, completamente sem mente, poderia entender melhor a situação,
e se estivesse lá, SEDNA quase certamente neutralizaria as duas naves com raios de
Indução de Contenção Eletrocinética,
e destruiria os ZIGs, impedindo o confronto, porém, nesse momento, ela estava fora do campo de invisibilidade, pois outra
potencial ameaça chamava atenção.
Enquanto isso, a GENIUS, um pouco menor que a PROMINUS, continuou avançando, concentrando um escudo frontal de energia e
ordenando seus ZIGs a um ataque extremo, mesmo potencialmente suicida, visto que estavam em maior quantidade. PROMINUS
foi obrigada a tomar medidas extremas. Desativou seus sistemas secundários, inclusive a rotação que simulava gravidade,
o que custou à seilan mais tempo e esforço para se deslocar rumo a um local onde poderia ficar em segurança. Depois a
nave decidiu se aproximar mais do planeta, adentrando ligeiramente a atmosfera, o que lhe daria uma cobertura que ajudaria
a dificultar os disparos dos ZIGs.
A GENIUS, com 13 pessoas a bordo, também desativou a gravidade, mas não podia relaxar os demais sistemas de suporte de
vida, de modo que tinha que se aproximar mais cuidadosamente. A PROMINUS, maior e com mais reserva de ar, pôde concentrar
todas as suas forças numa manobra defensiva decisiva, e essa foi uma das poucas contribuições que a mente pré-sensciente da
nave contribuiu com a defesa. Embora não tivesse armas, ela instruiu que se modulassem seus sistemas
I.C.E., comuns a qualquer nave, bem como redirecionou os sistemas de energia nos sensores centrais,
alterando sua polaridade e transformando-os em emissores improvisados. Então disparou uma carga de neutralização que
atingiu a GENIUS em cheio, desativando de imediato seus escudos e seus ZIGs.
O efeito não duraria muito tempo, mas seria suficiente para que a PROMINUS se distanciasse, recolhesse os últimos ZIGs
que lhe obedecessem e tivesse tempo para pensar em evitar um confronto que não estava de acordo com as diretrizes
operacionais padrão. O problema é que o tempo foi suficiente para que a GENIUS penetrasse em parte da camada da atmosfera,
sendo então duramente atingida por uma repentina turbulência.
Em seu interior houve uma breve e total escuridão, até que cristais não elétricos se acenderam, embora os sistemas operacionais
ainda estivessem lutando para se recuperar. Foram segundos intermináveis até que os visores finalmente começaram a ressurgir,
e todos começassem a ter uma idéia melhor do que estava acontecendo.
O que viram era péssimo, para dizer o mínimo. A nave havia entrado demais na atmosfera, e estava sendo atraída pelo
campo gravitacional do planeta. Nenhuma das naves grandes, nem mesmo as espadas espaciais, é projetada para voar na
atmosfera, e os operadores avisaram que se o sistema antigravitacional, que raramente era usado, não fosse ativado o
quanto antes, eles poderiam estar em apuros.
Os impulsores iônicos da nave finalmente se ativaram, mas não estavam num ângulo favorável, pelo contrário, seu súbito
funcionamento, ainda que residual, empurrou a nave ainda mais para baixo, até que os computadores, reavaliando a situação,
os redirecionaram, tentando girar a nave para uma posição mais adequada. A turbulência, porém, dificultou muito,
e quando os impulsores foram ligados, tiveram que promover um esforço extremo para deter a queda, visto que os sistemas
antigravitacionais ainda não haviam sido ativados.
Então, um fenômeno inexplicável ocorreu. O que parecia um violento vórtice surgiu aparentemente do nada, gerando uma brusca
rajada eólica contra a nave, desorientando-a novamente. Foi como se um imenso e violento ciclone tivesse sido disparado
contra a estrutura, pondo-a em franca queda novamente. Os computadores novamente reagiram, mas agora parecia tarde demais,
os sistemas anti gravidade insistiam em demorar a funcionar, o que era comum após longos períodos de inatividade, e os
impulsores iônicos pareciam incapazes de reorientar a nave em meio a traiçoeira turbulência.
Já fora da atmosfera, a PROMINUS se deu conta da tragédia, mas nada podia fazer a não ser assistir a nave irmã despencar
rumo ao planeta. Seus sistemas internos continuavam a caçar a seilan, mas subitamente seus próprios ZIGs passaram a ignorar
suas instruções, e continuaram a disparar contra a GENIUS, dificultando ainda mais sua recuperação. Só então os computadores
se deram conta de que os ZIGs haviam sido breves aliados, e agora se tornavam inimigos.
Com a nave adversária fora do páreo, voltaram-se contra a própria PROMINUS, seguindo a instrução de ajudar a seilan. Fazendo
idéia de onde ela estava, e percebendo que estava disparando contra a fuselagem para abrir caminho para escapar, decidiram
ajudar, concentrando seus raios no mesmo ponto incandescente que já desenhava um círculo brilhante grande o bastante
para a passagem da bolha de cristal.
Lunis então ganhou o espaço, voando livre dentro de sua proteção luminosa e transparente, junto
com seus servos. Até lhe passou pela cabeça a idéia de que aqueles ZIGs, apenas 3, a tivessem ajudado, mas preferiu não
arriscar. Numa sequência rápida de disparos destruiu todos, só então concluindo que provavelmente eles eram mesmo seus
aliados, visto não terem reagido.
Não importava. Agora voaria para fora da zona de invisibilidade, rumo a IANTIS, a única coisa que poderia chamar de lar,
mesmo que soubesse que uma terrível crise diplomática a esperava.
MINUTOS ANTES
Do lado de fora da esfera invisível, a bordo da IANTIS, Eli não podia acreditar no que estava
acontecendo, um dos ZIGs de comunicação, que ia e via no campo invisível, informara o absurdo combate entre as naves
da frota.
- Devo acordar Taulin? - Perguntou uma das operadoras.
- Não! Ele só não perdeu o juízo como Filia porque está acordado há menos tempo. Mande a SEDNA
entrar no...
- Espere! O que é isso?! - Um dos rapazes da sala de comando chamou atenção para a indicação do visor. Um estranho
objeto se aproximava da frota, rumo ao planeta.
- Mas o quê?! Como não vimos antes?!
- Procede da mesma coordenada da pequena nave que saiu do hiperespaço em NOVITA-8, mas é muito pequeno, não pode ser
isso... - O operador então pediu ao computador para comparar as possibilidade. - Acho que a nave lançou esse
objeto que...
- Pode ser um Hipermeta. Outro! - Disse a operadora.
- Mas Zentaris ainda está no planeta. Quem... Qual o espectro de aura?
- Azul e Ciano. Pode ser outro Anjo Estelar. Mas... Não. O espectro da aura dos Anjos é branco com decaimento para azul.
O deste é azul e ciano puro!
- Amplifique mais o sinal!
- Não dá. Está interferindo nos sensores, mal conseguimos ver o espectro de aura.
- Velocidade?
- É... Quase 9 milhões de km/h! Mas está desacelerando.
- Nenhum hiper meta é tão rápido.
- Peça identificação e diga a... - Só então Eli se deu conta que a SEDNA já deveria ter tomado
uma série de precauções, como usar seus sensores superiores para examinar o objeto e assumir posição defensiva. Mas
ela estava completamente parada. - SEDNA!? SEDNA!?!?
- Está... Parece desligada! Parou de funcionar! Acho que o hipermeta a está neutralizando.
Ah não... Isso não pode estar acontecendo! Que tipo de meta natural poderia fazer isso?
- Da nossa espécie, só conheço o Magnetron.
- O Magnetron é SuperMeta, não poderia voar no espaço desse jeito.
- Mas... E se for verdade que o Magnetron foi capturado pelas Seilans?
- Está a menos de 6 milhões de km/h. É incrível sua capacidade de desaceleração!
- Todos os nossos ZIGs estão se posicionando defensivamente, mas... Acho que vai passar direto por nós. Está indo pro
planeta.
- É, vai passar longe da gente. Quase passando...
- Passou! vai entrar no campo de invisibilidade. Estamos pegando imagens melhores agora e...
- Já era! Entrou na fronteira fantasma.
- SEDNA está reativando.
- SEDNA! SEDNA? O que aconteceu? Reporte!
- Reiniciando. Sistema recuperado e operando com perfeição.
- O que houve?! Por que você desligou?!
- Examinando. Impossível determinar a causa com precisão. Mas as características do desligamento sugerem
interferência mentônica.
- Suposições?!
- O SuperMeta antropônico Magnetron poderia fazê-lo. Mas teria que estar em algum local da frota. Alguns SuperMetas
cinzentos talvez. Mas também deveriam estar próximos, num raio inferior a 15km. Ou algum HiperMeta desconhecido.
- Avaliação... Hostil?
- Provavelmente. Mas impossível determinar com precisão.
- ...Pelo Universo... Cadê o Zentaris?
MINUTOS DEPOIS
Zentaris acabava de emergir da imensa piscina, subindo velozmente a kms de altura, estava prestes
a entrar nas nuvens quando percebeu uma precipitação anormal de atividade eletromagnética acima. Preferiu então desviar
e seguir na horizontal rumo a um dos limites da cidade, quando então sentiu um autêntico baque em suas percepções astrais.
Foi tão violento que freou! Observou o cenário desolado e silencioso da necrópole, exceto pelos trovões e ventos que se
intensificavam acima, e expandindo sua percepção percebeu que deserto só mesmo o plano físico. No astral, legiões de
fantasmas rumavam a um ponto específico no interior de um dos prédios. Desconfiado, mergulhou para lá, mesmo estando
preocupado com os evidentes sinais de que o monstro das profundezas pretendia retaliar.
Não foi difícil perceber os sinais vitais e mentais no interior de um dos prédios, e acessando um orifício ao topo, desceu
rumo a um salão que o teria detido para apreciação, se a situação não fosse urgente. Não demorou a notar os dois exploradores
perdidos, cercados por inúmeras entidades disformes cujas mentes começavam a se definir, emergindo da pura inconsciência
e começando a agir racionalmente.
Os dois estavam paralisados, não havia tempo para confabulações. Os envolveu numa bolha de energia e subiu, ignorando os
fantasmas cujas abordagens mentais ainda eram muito incipientes para lhe ameaçar, mas saindo do prédio percebeu que as
nuvens estavam ainda mais revoltas, e então arrancou rumo a muralha da cidade, tão rapidamente que o estrondo sônico
reverberou dezenas de kms cidade adentro, competindo com o som dos trovões que se acentuavam.
A velocidade lhe permitiu cruzar a névoa, pouco acima da muralha, com segurança, e relâmpagos mais intensos só surgiram
quando a cidade nebulosa já ficava para trás. No interior da bolha luminosa Dalmana e
Viuik começavam a se dar conta do que estava acontecendo. Um resgate. Milagroso!
Mal entraram na ascendente quando anjo sentiu um baque mentônico. Não era contra ele, mas dirigido a algo muito acima,
quase fora do planeta. Um evento metanatural extremo. No momento não pôde discernir entre tantos ocorridos. As investidas
dos fantasmas que ainda tentavam lhe sondar, a presença do monstro das profundezas que estava se recuperando e tentando
focar sua mente, o estranhíssimo evento acima e ainda por cima diversas mentes antropônicas em órbita que, contrariando sua
recomendação, estavam se aproximando do planeta.
Não demorou a perceber que havia algo muito errado. Era a GENIUS, caindo! Despencando atmosfera adentro cheia de pessoas
dentro. Ele não podia acreditar. Como isso podia estar acontecendo? A nave parecia em pane, incapaz de resistir à atração
gravitacional, aparentemente avariada demais e em situação muito caótica para permitir até mesmo que seus tripulantes
escapassem nas naves auxiliares. Ele tinha que agir mais uma vez, e não podia fazê-lo com aqueles dois ali.
Comunicou sua decisão aos companheiros em poucos segundos, enquanto descia rumo ao topo de uma montanha onde encontrou um
pequeno refúgio. - Vocês terão que esperar aqui! - Ele disse, e os exploradores mal tiveram reação. O anjo ergueu
o braço esquerdo e disparou um intenso raio luminoso na rocha, deixando um rombo fumegante de minério derretido.
- Isso deve aquecer vocês até eu voltar. - E então arrancou de volta rumo aos céus, deixando a dobuk sem acreditar
que pela terceira vez consecutiva um resgate fora frustrado.
Mas Zentaris tinha uma preocupação muito maior. Uma nave de 225m de comprimento pesando cerca
de 60 mil toneladas despencando a 300km/h. Não sabia se seria capaz de evitar a tragédia, nunca, em seus 9 séculos de
vida tivera uma situação como aquela. Se aproximou da gigantesca bola de fogo que vinha em sua direção, resultado do
esforço dos impulsores, da fricção com a atmosfera, e das diversas liberações de gás e líquidos que a nave fazia no intuito
de diminuir seu peso.
A primeira providência era neutralizar a gravidade o máximo possível. Antes de atingir a bola de fogo, desativou
totalmente sua impulsão e foi expandindo o campo de levitação em torno se si. Desativou também o escudo esférico
e ficou protegido apenas pela aura luminosa. Tinha que decidir entre criar um grande campo de baixa anulação
gravitacional, ou um pequeno de grande anulação, e optou pelo primeiro, visto que o segundo seria menos eficiente
devido a queda caótica da nave, que variava a todo momento a área a ser coberta.
Não demorou a notar a diferença, a velocidade da queda diminuiu, reduzindo também a fricção e praticamente
extinguindo as chamas resultantes da entrada violenta na atmosfera, mas ainda assim a nave caia com velocidade
potencialmente desastrosa, e o rodopio constante continuava. Finalmente eles se encontraram, e ele decidiu aparar,
com a próprio corpo, a popa da nave, tentando estabilizar sua rotação e apontá-la para cima, para que mantendo-se
na posição vertical os foguetes traseiros pudessem diminuir a queda eficientemente.
Mas o corpo de um homem diante de uma estrutura daquele tamanho é mínimo, como se fosse um pequeno projétil a
forçar-lhe a estrutura, e por isso, ainda que tenha reduzido um pouco a rotação da nave, ia destruindo a fuselagem,
por mais que tentasse, em vão, mantê-la intacta.
Assustou-se quando notou que o chão se aproximava muito mais rápido do que pensava, e notou que teria poucos
minutos para remediar a situação. Embora estivesse impedindo uma queda que aniquilasse a nave completamente, ainda não
podia impedir que a avariasse a ponto de colocar em grande risco as pessoas em seu interior e uma série de
equipamentos mais sensíveis, que não eram apenas muito caros, mas potencialmente perigosos se submetidos a um
impacto muito violento.
Notou que uma nave de escape havia conseguido se ejetar, mas foi pega pela violência da turbulência, e caía
desorientada, desaparecendo nas nuvens. Seria fácil salvá-la, mas tinha que insistir em impedir a tragédia maior,
e continuava a tentar orientar a nave para cima, ao mesmo tempo que tentava manter a anulação gravitacional o
suficiente para conservar a velocidade de queda.
Quando passou uma camada de nuvens, percebeu que o fim estava próximo. O melhor que podia fazer era impedir a
morte altamente provável de todas as pessoas pela menos provável, quando então sentiu algo diferente. Uma outra
força parecia ser exercida na extremidade oposta, na proa, ao topo, como se algum tipo de impulsão ajudasse a
estabilizá-la.
Não tinha tempo para questionar o que acontecia, mas aquela súbita ajuda foi decisiva. Com dois pontos de apoio,
conseguiu finalmente manter a estrutura apontada para o alto, e antes que tentasse se comunicar com o computador
que controlava a GENIUS, notou que seus impulsores de popa, agora em posição inferior, foram ativados com
força total.
Toda força resultante foi redirecionada, e agora os motores funcionavam com intensidade e precisão suficientes
para reduzir drasticamente a queda, a ponto de Zentaris poder se dar ao luxo de
deixar de fazer impulso também, se concentrando apenas em expandir o campo de levitação.
Era até mesmo possível, agora, que os motores mantivessem a nave alinhada e até a levassem de volta ao espaço,
mas seria muito arriscado tentá-lo, de modo que foi preferível ir descendo, calmamente, até que os jatos da
impulsão começassem a queimar o solo. Então, com muito cuidado, a nave foi pousando como um foguete. Mas ainda
restava um desafio. Não tendo suportes, ela teria que se deitar, e assim que ficou rente ao solo, os impulsores
traseiros foram transferindo sua força para impulsores dorsais, e que ajudado pela anulação gravitacional do anjo,
e pelo ponto de apoio misterioso na proa, permitiu que a enorme fuselagem fosse se depositando calmamente no
solo, até que, finalmente, a agonia acabou.
Restava agora a imensa nave espacial caída, exausta, desativando quase todos os seus sistemas. E então, quando o
anjo ficou livre para tentar ver o quê o havia ajudado, um raio azul disparou ao alto, numa velocidade espantosa,
e seja lá o que fosse, sumiu de qualquer chance de percepção em poucos segundos.
SOBREVIVENTES
Ela mal conseguia respirar. Tudo parecia acabado, mas o pânico se recusava a ir embora. Deitada na cadeira da
nave de fuga, que não conseguira ser lançada visto ter sido projetada para voar no espaço, e não na atmosfera,
a moça demorou muito para conseguir relaxar, até que uma mão amiga a tirou do sinistro transe.
- Selia! Selia!! Tudo bem. - Era
Sonija, a chefe de segurança, que fora voluntária para a mal fadada missão.
- Acabou. Pousamos. Não sei como, mas pousamos. - Completou. Só então Selia
percebeu que estava invertida, a cadeira presa ao alto. Sua nave estava apontada para o que agora, num planeta
com gravidade real, poderia ser considerado em cima. Coisa que simplesmente não havia no espaço. Reprimiu uma
ânsia de vômito e, soltando as presilhas, se deixou cair sobre a porta, ajudada por
Sonija.
Abriram a escotilha e então passaram para a parede externa, que agora estava em baixo, mas permitia andarem com facilidade.
Saindo de uma numa nave de fuga menor, foram caminhando rumo a outra. Ouviram então um dos técnicos gritar.
- Tudo bem com vocês?! Aqui estamos inteiros. Por sorte. Deve ter sido o Zentaris
que nos salvou. - Completou outro rapaz, que ajudava um híbrido antropônico cinzento a se sustentar.
- Consegue reativar a comunicação central? - Perguntou a chefe de segurança, num tom pouco polido que a urgência
exigia. Um dos homens disse que estava tentando, mas eram tantos danos que já era inacreditável que ainda tivessem
ar. - A propósito... - Disse ele. - Melhor colocar o capacete. - E num toque no colarinho, uma estrutura
envolveu-lhe a cabeça, protegendo então a única parte do corpo que não estava coberta.
Os demais seguiram o conselho, e por uma providência quase milagrosa, pois logo em seguida ouviram um ruído
inconfundível de vazamento interno no casco. O ar começava a entrar mais rapidamente, e apesar da atmosfera do Planeta
Fantasma conter gases respiráveis, sua composição não era nem um pouco recomendável devido a presença de diversos
outros gases nobres em grande quantidade, bem como bactérias e vírus desconhecidos, sem contar a pressão atmosférica
maior.
Então notaram uma luz se aproximando. Era o anjo estelar, que havia conseguido entrar na nave, e já trazia no
interior de uma bolha luminosa 3 pessoas, flutuando, entre elas Filia, todos desacordados.
- Salve Zentaris! Muitíssimo obrigado senhor! - Exclamou um dos rapazes, e
os demais fizeram coro. Mesmo numa emergência, o anjo sabia ser objetivo sem perder a simpatia, e perguntou
quantas pessoas havia na nave.
- Treze! - Respondeu Selia, que era engenheira de armas e estrategista de combate.
- Além de nós 8 há os dois klumans, um casal responsável pelos sistemas de computação, e o analista ambiental.
- Que está bem aqui! Obrigado. - Surgiu o homem vindo por trás. - Mas os klumans sumiram. Foram os únicos
que conseguiram sair como uma nave de fuga. Mas... Sinceramente. Temo por eles.
- Vou procurá-los. - Disse o anjo, e então envolveu todos na bolha luminosa, conduzindo-os para fora da
nave, rumo ao deserto assustador, escuro e frio do planeta desolado. Disse a todos que prestassem atenção na
configuração de suas roupas de astronauta, que haviam prontamente vestido ao iniciar o combate.
De pé sobre uma camada fina de neve, as roupas, incrivelmente versáteis, os faziam parecer uma pouco maiores do
que eram, mas era leves e permitiam agilidade, além de um capacete que em nada prejudicava o campo de visão,
além de fornecer uma eficiente blindagem protetora.
Zentaris esperou que 4 robôs de segurança e 4 ZIGs chegassem, e esperou que os técnicos
garantissem que não havia qualquer risco de explosão, antes de abandoná-los
brevemente. E voou para os céus, confiante que os computadores da nave, que estavam se recuperando, tomassem
as providências necessárias para tornar o interior mais seguro, e pudessem então voltar para algum ambiente
interno mais protegido, cuja estrutura estivesse íntegra.
A primeira coisa que fez foi voar até o alto da montanha onde havia deixado o antróide e a dobuk. Que já
se contorcia de frio aproveitando os últimos resquícios de calor da rocha derretida. Foi um alívio, para eles,
vê-lo, e o anjo os levou para junto do demais tripulantes da GENIUS, que deram a boa notícia que os robôs de
manutenção já estavam adaptando uma nave auxiliar para voar até o espaço, e já se preparavam para adentrar em seu
interior, onde poderiam finalmente descansar um pouco.
Ao juntar Dalmana e Viuik a eles, todavia, o anjo notou
o quão estavam abalados e perdidos. E sentiu um súbito aumento de estresse sobretudo em Selia,
que começava a ter tremores de nervosismo. O campo mental opressivo se intensificava, e se ficassem por muito mais
tempo naquele lugar, certamente enlouqueceriam.
Zentaris tentou acalmar a todos, então partiu em busca da nave de fuga que estava
desaparecida. Não foi difícil encontrá-la, emitia um forte sinal de pedido de resgate, e estava caída
próxima a um dos rios térmicos, que derretia toda a neve em suas margens e tornava o ambiente até agradável em
comparação com o cenário predominante. Mas os klumans não estavam lá, e o anjo seguiu alguns rastros que
iam até o rio, e seguiam correnteza acima.
Além das pegadas dos dois antropônicos haviam as de um robô de segurança. Menos mal, pensou o anjo, mas ainda
assim era muito preocupante. Seguiu acima e notou que o rio saía de uma caverna, que seguia profundamente
para o interior da rocha. Entrou pela abertura e logo adentrou um corredor cada vez mais estreito. Não havia
dúvida que os klumans haviam entrado ali, mas era muito estranho que tivessem sumido de alcance tão rápido.
Ampliou suas percepções ao máximo, e o que percebeu foi perturbador. Eles haviam não apenas seguido para as
profundezas, como se depararam com alguma outra coisa. Havia nítidos sinais de uma criatura nativa, porém,
seus resíduos de aura vital eram completamente diferentes de qualquer outra criatura que até agora ele havia
visto. Na verdade, podia notar que a aura era metanatural, e ao que tudo indicava, muito poderosa.
Por um instante considerou se não havia sido essa criatura que o ajudara a pousar a GENIUS, mas achou muito
improvável pela fato de ter sentido um resquício de aura bem diferente quando aquele raio azul sumiu no céu.
Apenas uma coisa era certa. Ela havia capturado os klumans, e embora não houvesse sinais evidentes de violência,
sabia que tinha diante de si um perigo perturbador.
Pensou em descer para o interior da caverna, rumo às nascentes do rio, que esperava estar conectado ao
oceano subterrâneo. Mas isso implicaria em se expor à criaturas que não fazia idéia ainda do que seriam capazes.
Além do mais, não podia deixar os outros desprotegidos na superfície, não com duas evidências de auras metanaturais
desconhecidas, e ainda que uma tenha sido prestativa, continuava uma incógnita.
Aliado ao fato de que não havia mais o quê rastrear, e que a pressão telepática aumentava a cada minuto, decidiu
voltar e tirar o resto da tripulação e os exploradores do planeta o mais rápido possível.
RAIO AZUL
O agudo, lancinante e intenso grito de Selia deixou todos arrepiados. Ela caiu ao chão gelado, com
as mãos na cabeça, e fez menção de tentar desativar o capacete. Foi detida a tempo pelos companheiros, e então começou a
se debater, como tendo um violento ataque epiléptico. Não era preciso ser telepata para perceber que estava sofrendo um
ataque mental intenso.
Tentaram segurá-la de toda a forma, mas ela parecia dotada de força descomunal, até o antróide, mais forte que qualquer outra
pessoa ali, se esforçava para contê-la. De repente ela aquietou, e a luz que surgiu acima deles lhes faz saber que mais
uma vez o anjo estelar lhes estava ajudando. Ele pousou e tomou a moça no colo, se concentrando em acalmá-la e proteger
sua mente da pressão telepática do ambiente.
Além dela, Filia também estava em estado preocupante, praticamente catatônica, e a dobuk,
subitamente, parecia ter desmaiado. Foi um alívio quando ouviram uma nave decolar e vir em sua direção, era uma adaptação
de uma das naves auxiliares que podia ser reconfigurada para vôo atmosférico, pousou acima deles abrindo uma porta
inferior convidando-os a entrar.
Quando todos já estavam alojados no interior, notaram que Filia melhorava, bem como a dobuk,
mas Selia, por sua vez, apagara completamente, quase não respirando. A climatização interna
permitiu-lhes tirar o capacete e tentarem reanimá-la, mas Zentaris, após um exame mais
cuidadoso, sugeriu que era melhor deixá-la intocada por um tempo, e saírem do planeta o mais rápido possível.
Ninguém se opôs e a nave começou a ganhar altura, mas temendo alguma outra surpresa, o anjo preferiu sair e acompanhá-la
por fora, em alerta máximo a medida que subiam mais e mais deixando o tenebroso planeta fantasma para trás, ou para baixo.
Finalmente, prestes a sair da atmosfera, Zentaris ordenou a PROMINUS que a escoltasse, e a maioria
das naves de Madre-Terra reconhecia a autoridade dele, legitimada pelo Conselho Octal Madre-Terrestre com um estatuto
digno de um Magistrado Galáctico.
Não havendo mais ZIGs ameaçadores, e como SEDNA acabava de entrar na zona fantasma, o anjo estelar pode enfim deixá-los
e voltar ao planeta. Preferia partir, mas não podia deixar os klumans ali, pois se antes SEILA poderia considerar o
desaparecimento de Lunis como uma afronta a sua raça, KLUMA poderia se posicionar de um
modo semelhante não contra Mãe-Terra, mas contra a civilização das feiticeiras. E ninguém com um mínimo de bom senso
na galáxia gostava da idéia de incentivar mais rivalidade entre essas duas civilizações.
Próximo do local onde os klumans haviam sumido Zentaris sentiu algo ainda mais estranho.
Como se não apenas qualquer resquício da presença deles desaparecesse do local, mas tivesse sido na verdade movido para
longe, em direção ao que, acreditava, era um outra concentração de nuvens. Tomou a decisão de rumar para lá, acelerando
o mais rápido possível, quando sentiu uma "voz" em sua mente. Um aviso, grotescamente ameaçador e familiar ao mesmo tempo.
Que dizia nada menos do que: "Saía já desse planeta!"
Chegou a se assustar, a "voz" era indefinida, nem masculina ou feminina, nem sequer antropônica. Parecia filtrada por uma
série de barreiras mentônicas, de modo que embora fosse notável, não sugeria qualquer tipo de ameaça.
Não demorou, após avançar mais algumas centenas de kms, a ouví-la novamente, ainda mais intensa, e mais imperativa.
O anjo prosseguiu e após ignorá-la pela terceira vez, ela fez enfim uma ameaça difícil de compreender. Descartava a
possibilidade de ser algo do planeta pelo fato de que nada sugeria que, se fosse, o quisesse fora dali. Pelo contrário,
estava certo que a forças mentais dali o queriam ainda mais próximo. E considerou se não seria o hipermeta que o ajudou,
mas uma intuição muito forte lhe dizia que não, e começou a desconfiar de algo que, por um, instante, lhe causou um
calafrio.
De repente, do nada, tão rápido quanto um raio, e parecendo imperceptível por sua micropremonição, sentiu um impacto
de violência inacreditável. O pequenino e eficiente escudo energético a sua volta brilhou intensamente dissipando parte
da força do impacto, mas não impediu que ele fosse lançado kms acima, e no sentido contrário ao do local que pretendia
atingir.
Fazia muito tempo que não lidava com forças tão poderosas, como se não bastasse as entidades bizarras e ancestrais daquele
planeta, agora enfrentava um hipermeta capaz de atingí-lo, pela segunda vez, antes que pudesse reagir, e mais uma vez
foi empurrado para trás, e mais para o alto.
- "Muito bem." - Pensou ele. - "Eu aceito o jogo." - E dessa vez, com muita concentração, foi capaz de antever
com uma mísera fração de segundo o raio que vinha em sua direção, e se preparou para o impacto. Ainda foi empurrado, mas
bem menos do que antes, e conseguiu repelí-lo de modo a surpreendê-lo o suficiente para que notasse a mesma coloração azul
luminosa de antes. Um HiperMeta com espectro de aura ciano, detentor de notáveis poderes elétricos, que, após circular
desafiadoramente a sua volta, disparou para longe, em sentido contrário ao do destino de Zentaris,
contando claramente como fato de que seria seguido.
E foi exatamente isso que o anjo fez, partiu ao encalço do misterioso HiperMeta, rastreando-lhe e tentando focar sua mente,
mas não demorou a perceber que ele estava sendo telepaticamente protegido por uma força externa, diferente da que costumava
emanar do planeta. Em pouco tempo, estava a cerca de 11 km/s, e acelerando, diminuindo a distância entre si e o
seu adversário.
Este, então, mergulhou rumo a superfície, e penetrou numa cadeia de montanhas. O anjo o perseguiu, quase pegando o seu
vácuo e ainda tentando alguma abordagem telepática, mas não podia investir muito nisso, visto que ainda correria risco de
ser atacado pelas forças mentais nativas do planeta.
Penetraram numa sequência de cânions, e o raio azul desceu tanto que começou a levantar um rastro de água do tênue rio que
corria abaixo. O deslocamento de ar era tão violento que por vezes secava totalmente trechos do rio, vaporizando o gelo
e deixando quase uma nuvem de tempestade para trás, efeito que era ainda mais intensificado pelas ocasionais descargas
elétricas que o hipermeta deixava escapar, como se precisasse ocasionalmente remodular sua aura.
O cânion parecia não acabar, e a perseguição permaneceu frenética, exigindo manobras tão rápidas que somente a micropremonição
impedia colisões constantes, que ainda que não fossem perigosas, roubariam drásticamente a velocidade. Então, o raio azul
mergulhou num trecho no rio, e Zentaris pensou em não fazer o mesmo, desconfiando que era isso
que seu adversário esperava. Assim, pode alcançar a luz azul que podia notar por baixo d'água, e voar acima dela, ainda
preocupado, porém, que esta penetrasse em algum túnel subaquático.
Por um instante ele pareceu de fato fazer isso, visto que parecia ter sumido. Então, para a surpresa do anjo, saiu da água na
vertical, passando rente a ele e subindo aos céus. O anjo estelar não fez por menos. Partiu em seu encalço e logo voavam
na horizontal novamente. O hipermeta fugitivo deu uma rapidíssima e completa volta em torno de uma montanha, quase como
se brincasse, e Zentaris preferiu não fazer o mesmo, encurtando ainda mais a distância entre
eles, até que finalmente emparelhou, ficando lado a lado com o misterioso adversário.
Pode contemplá-lo mais detidamente, abaixo da intensa luz azul ciano, havia um antropônico, de aparência jovial e simpática,
que o fitou firmemente. Se entreolhando, o anjo tentou novamente uma abordagem telepática, quando então percebeu um bloqueio
inviolável na mente do rapaz. Alheio, vindo do espaço! Capaz de ignorar a distância e até mesmo a ameaça das mentes hostis
do planeta.
Então o rapaz deu um sorriso, e numa expressão quase satírica, numa explosão de luz arrancou a frente, atingindo uma
velocidade até então inédita para o anjo estelar e praticamente sumindo de vista.
Zentaris estava abissalmente impressionado! Nunca vira nada parecido. Percebeu que não havia como
alcançá-lo. Perdera a corrida! Tinha que admitir.
Mas quase tão impressionante foi a força da barreira mental que o protegia, garantindo que aquele hipermeta estava mais
a salvo da influência das mentes hostis do planeta do que qualquer outro sensciente, incluindo o próprio anjo. E quando,
pela última vez, a voz se fez ouvir em sua mente, desta vez pedindo com maior gentileza, ele finalmente concluiu que era
melhor seguir o conselho, e já convencido do que estava prestes a acontecer, subiu para o espaço.
7 MONSTROS
Chegando na IANTIS, horas depois, eram tantas novidades que era difícil até selecionar o que priorizar. Era a mente de
Selia que agora parecia presa no planeta, assim como outras pessoas, embora em situação não tão
grave, estavam cada vez mais dominadas pela pressão mental.
Lunis também estava presa,
mas desta vez fisicamente, numa dependência da nave que deveria ser seu novo aposento, mas que logo se
convertera numa prisão assim que ela a adentrou com seus servos. Ela poderia, é claro, sair a força se quisesse, mas
entendeu que após tudo aquilo, era melhor colaborar, e não protestar, por enquanto, contra a acusação de ato de terrorismo
espacial.
Presos também estavam várias pessoas que colaboraram com a rebelião, em especial Jerok, que
subitamente entrara em estado catatônico, e embora finalmente todos os programas dele, e de seus aliados, tivessem
sido totalmente erradicados, o alerta máximo ainda dificultava todas as operações informáticas da frota.
Mais da metade da tripulação se encontrava incapacitada de trabalhar, e as naves já haviam dobrado sua distância do
planeta, o que ao menos aliviou os computadores mentais.
Mas a novidade mais interessante, afora a outra nave estranha que se aproximava, era que o ZIG que caíra na Cidade Fantasma
e que até há pouco estava desaparecido, achara uma saída do outro lado do planeta, emergindo num lago gelado após navegar
vastamente pelos mares subterrâneos, e então transmitiu um chuva de novas informações à SEDNA, que as trouxe à IANTIS e
que agora espantavam a todos.
Zentaris concordou imediatamente em fazer a reunião que estava sendo proposta, e requisitou,
com toda a delicadeza mas com força de convencimento irresistível, que fosse em presença real, e que a seilan participasse,
resultando em sua temporária libertação.
Então estavam reunidos numa sala holográfica Taulin, Eli,
Filia, recuperada do estresse e mais calma, Dalmana, já tendo
usufruído de alguns reparos, Randol, que estava empolgadíssimo com tudo o que descobriam,
Lunis, apesar do clima tenso e da tentação de se aproximar demais do anjo estelar.
E finalmente, Zentaris.
Velek ainda estava internado na sala de recuperação, e a dobuk estava exausta demais para
participar.
Havia uma tensão e constrangimento difícil de quebrar, mas o líder da frota tomou a palavra.
- Estamos suspendendo todas as operações normais e nos afastando do planeta, e não iremos abordar os incidentes ocorridos
aqui por enquanto. - Disse evitando olhar para seilan. - Mas teremos que assumir a responsabilidade de isolar ao
máximo esse planeta e tentar evitar que as frotas vindouras se aproximem demais. E antes de pensarmos em resgatar os
klumans ou libertar a mente de Selia, temos que saber, afinal, o que estamos enfrentando.
- Exatamente. - Tomou a palavra Randol. - Estou autorizado a sintetizar as informações que
acabamos de receber, e que... Devo dizer, não sei o que é mais perturbador.
As imagens da galeria que os exploradores encontraram foram reconstruídas numa simulação nítida e convicente, mostrando
o mapa planetário, que coincidia perfeitamente com a cartografia que a frota fizera, uma série de símbolos que foram
interpretados de modo muito similar ao que o antróide antevera, e finalmente os desenhos que representavam as criaturas.
Ademais, o ZIG que viajara pelas profundezas captou imagens excelentes de outros monstros aquáticos comparáveis àquele
que todos já haviam visto, inclusive a serpente que somente o anjo estelar contemplara, e obtivera também imagens menos
nítidas de uma quarta criatura. A reconstrução 3D dava detalhes da anatomia assustadora dos seres, mas o que mais
impressionava era sua perfeita correlação com as representações que existiam na galeria, o que se tornava ainda mais
perturbador uma vez que os dois que ainda não haviam sido filmados chamavam atenção em especial.
- Tomei a liberdade de batizar as criaturas com nomes similares ao da literatura lovecraftiana, devido não só à sua
similaridade, mas às inacreditáveis correlações que H.P. Vladiminsky fez a seu respeito, que é... -
Randol se deteve. -... no mínimo. Perturbador. - Tentou ser dramático, mas não conseguiu
esconder sua empolgação. - Também usarei a pronúncia de Vladiminsky.
- Esse é nosso velho conhecido. Que aprisionou a mente da Senhora Lunis, e segundo
Zentaris, também a de Selia. Tudo indica que é essa mesma criatura
a responsável pelos sonhos e perturbações oníricas que estamos sofrendo, embora não seja a única responsável pelos
ataques telepáticos. Então, devido a sua condição de, criatura que domina os sonhos, decidi batizá-la com o nome da
divindade lovecraftiana conhecida como o senhor dos sonhos, com a qual guarda até alguma semelhança física.
Seu nome é... KUTLIU.
- O quê?! - Eli perguntou. - KUTLIU... - Confirmou Randol,
que mostrava as palavras em grafia antiga e atual.
- É uma pronúncia adaptada de um nome que, na verdade é impronunciável, Cthulhu. Bem. Essa outra criatura,
que foi filmada no outro lado do planeta e se assemelha a um peixe abissal da Mãe-Terra, chamaremos de DAGON, devido a
sua semelhança física com o mito. Até agora não nos ameaçou.
Estou particularmente preocupado com este aqui. Ele é assim mesmo,
de acordo com a representação da galeria. Não parece ser uma forma única, mas um cardume de criaturas esferóides,
interligadas, confusas, conforme o desenho. A tradução de alguns dos símbolos que lhe acompanham
sugere que ela tem alguma relação com... Portais. Passagens ocultas, talvez teletransporte... E eu aposto que tem
alguma coisa a ver com aquele vórtice que se abriu próximo a GENIUS, e ocasionou sua queda.
- A única coisa que posso dizer...- Interrompeu Zentaris. - É que não foi a criatura
que combati. Isto é. KUTLIU. E não acredito que seja a serpente gigante.
- Pois bem, então tenho no mínimo 1/4 de chance de estar certo. Por isso chamarei essa criatura de IOGSOTOT. O senhor
dos portais. Yog-Sothoth no original. Já essa aqui, sua imagem na galeria não está ao lado de KUTLIU por acaso. Os símbolos sugerem que também
tem alguma participação telepática. Os telepatas da frota, Zentaris e a própria Senhora
Lunis parecem concordar que apesar de ser extremamente poderoso, KUTLIU não é o único
responsável pelos ataques telepáticos. Mas essa... Um dos pouco símbolos universais que qualquer cultura compartilha
é esse, que sempre se assemelha a um "triângulo" com a ponta para baixo, e sugere feminilidade.
- Poderia haver alguma afinidade desta criatura com as mentes femininas? - Indagou Lunis,
com seriedade e aparentemente já tendendo a concordar. - É possível que sim. - Respondeu Randol.
- Embora os sonhos pareçam gerais para todos, as investidas telepáticas em vigília parecem ter um padrão mais específico,
talvez associada à essa criatura que, na mitologia de H.P.Lovecraft, era a divindade das feiticeiras, de nome
Shub-Niggurath, que adaptei para XUBNIGURAT. Apesar desta forma... Indescritível!
- KUTLIU, DAGON, IOGSOTOT, XUBNIGURAT... - Disse Eli. - Ah, como eu gostaria de poder rir
disso. Mas não dá!
- Essa! Que não foi filmada. - Randol interrompeu o estranho clima tenso que se formou.
- Chama atenção por ser bem menor que as outras. Diria que, quase do tamanho de um dobuk grande. Mas acho que essas
linhas em torno da imagem representam a aura, pelo tamanho, muito poderosa. Acho que posso chamá-la de NIARLATOTEP,
Nyarlathotep, em referência à única das criaturas divinas da mitologia em questão que pode ter um tamanho equivalente ao antropônico.
- Está bem. Espere! - Interrompeu Filia. - Vamos usar abreviaturas, KUT, DAG, IOG, XUB,
NIARLA...
- Perfeito. O próximo nome é fácil. Mi-Go. MIGO. Para aquela serpente gigante que se, olharmos
com mais cuidado. - A imagem ampliou e revelou alguns detalhes novos. - Tem na verdade patas ocultas, como se
fosse uma, centopéia, mas algumas delas são maiores que outras, além dessas aqui na frente, que se assemelham a, pinças...
Eu acho que quando abre seus membros essa criatura deve se assemelhar a um crustáceo.
- Só falta agora a criatura que não está associada a uma cidade, e que é a mais disforme de todas.
- Disse Dalmana. - Tem razão. De fato cada uma delas parece ser, guardiã de uma das
cidades, mas essa sétima... Pelas figuras pode estar localizada mais no centro do planeta. No núcleo. Por isso a chamei
de AZATOT. Azathoth. AZA, se preferirem. Em relação à divindade fundamental e caótica da mitologia lovecraftiana. E assim temos
os 7... Seres das profundezas, representados nessa galeria, supondo que todos existam mesmo, pois não temos imagens de
3 deles.
- AZATOT, AZA. DAGON, DAG. IOGSOTOT, IOG. KUTLIU, KUT. MIGO. NIARLATOTEP, NIARLA. E, finalmente, XUBNIGURAT, XUB. -
Recapitulou Zentaris. - Ótimo. E eu que pensei que não havia mais mitos suficientes para
nomear tudo o que encontramos. Confirmamos visualmente 4, mas estou seriamente desconfiado que já entrei em contato com
o NIARLA. Penso que pode ter sido a criatura que capturou os klumans.
- E quanto ao hipermeta que você enfrentou? Tem alguma idéia de quem seja? - Perguntou Taulin
- Não. Mesmo cruzando suas informações com as minhas, não conheço nenhum com essas características. Uma mistura de
Magnetron com Anjo Estelar, embora sua aura seja muito diferente da de um Anjo. O que mais me impressionou foi sua velocidade.
Nunca vi um hipermeta tão rápido. Mas o principal motivo, camaradas, pelo qual insisti nessa reunião, é que ele também
estava protegido por um campo telepático poderosíssimo, capaz de o tornar invulnerável até mesmo aos ataques de KUTLIU e
XUBNIGURAT.
Demorei muito para perceber do que se tratava, até que finalmente fui chegando a uma conclusão que... Consegue ser pior,
do que tudo que estamos vendo aqui. - Quando o anjo terminou de falar, um súbito calafrio percorreu a todos, até ao
antróide. E então começaram a sentir uma estranha pressão telepática. Totalmente diferente, que por um momento foi um
alívio, pois pela primeira vez sentiram que toda a influência do planeta foi calada.
Mas todo o alívio durou pouco, pois foi logo substituído por algo que também não era... Humano. Parecia ser, como se
fingisse ser, e nem era, abaixo da aparência, tão estranho quanto as presenças do planeta, mas por isso mesmo mais perturbador,
pois as criaturas do planeta ao menos deixavam claro não os conhecer. Mas essa nova presença, conhecia.
O calafrio aumentou quase até o ponto de um desespero, e tudo não durou mais que poucos segundos, e então, uma luminosidade
rosada se fez notar, e um súbito embora suave deslocamento de ar foi sentido por todos, ativando de imediato advertências
dos computadores de bordo, que no entanto, não demoraram a se calar.
Pois ali, no meio de todos, estava alguém que não deveria, sob hipótese alguma, estar presente. Alguém que o anjo estelar
conhecia há muito séculos, e que só demorou para reconhecer como o autor da nova presença telepática pela relutância em
acreditar que pudesse desprezar um pacto formado por várias civilizações da galáxia, que exigiam que ele não abandonasse
o sistema EXARIA.
Antes que ele aparecesse, todos, no fundo, pareciam já saber, mesmo que nenhum além do anjo sequer já tivesse passado por
perto dele. Estavam diante de DAMIATE.
Marcus Valerio XR
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A metanaturalidade costuma se manifestar de modo muito sutil, em geral na forma de inclinações, intuições e
talentos discretos que podem chamar ou não a atenção, considerada então um MANIFESTAÇÃO ESPONTÂNEA.
Embora virtualmente todos os humanos possam ser
metanaturais, é evidente que existem vocações e talentos natos, de modo similar ao que, embora todos os humanos
também tenham potencial musical, existem os talentos musicais naturais. Em Madre-Terra, os testes de
metanaturalidade costumam apontar sua latência na maioria dos testandos, porém somente uma minoria realmente
consegue desenvolver suas capacidade a ponto de serem considerados de fato Metanaturais. Para atingir níveis
mais elevados, são necessários muitos anos de treinamento. Um treinamento completo nas escolas da cidade utópica
de Xantai, por exemplo, costuma durar cerca de 28 anos.
A MANIFESTAÇÃO COMPULSIVA é outra forma de aparição da metanaturalidade, ocorrendo em menos de 4% dos metanaturais
desenvolvidos. Caracteriza-se por manifestações muito mais intensas, em geral involuntárias, que se não forem
devidamente controladas podem resultar em transtornos dos mais diversos tipos. Nesse caso, em Madre-Terra, torna-se
obrigatório o treinamento metanatural, ou então tratamentos de inibição. É possível até mesmo o desenvolvimento
compulsivo da Super Metanaturalidade sem treinamento adequado, porém tal ocorrência em geral apresenta duas
desvantagens graves. Ao não aprender a controlar e modular devidamente suas emissões mentônicas, o metanatural
compulsivo não consegue desenvolver um fluxo puro de mentons livres para a manifestação dos fenômenos metanaturais
auto sustentáveis, tendo então que retirá-los de outras fontes que não são mentônicas primárias, a energia do
ambiente à sua volta, e do próprio corpo. A PRIMEIRA desvantagem é que, em relação ao ambiente, passa a ocorrer
dependência da disponibilidade da fonte externa, podendo ser eletricidade, calor, energia cinética, etc, de modo
que a ausência dessa fonte inviabiliza qualquer manifestação, bem como a presença excessiva obriga manifestação
incontrolável. A SEGUNDA, em relação ao corpo, em geral sua vitalidade, é o consumo de energia para converter
a energia ambiental em fluxo mentônico para depois modulá-lo na finalidade específica, o que, num processo
constante termina por desenvolver esgotamento, doenças, em especial cânceres de alta periculosidade,
envelhecimento precoce ou fraquezas generalizadas e intermitentes. Em outras palavras, o uso da metanaturalidade
se torna desgastante. Esses problemas podem ser eliminados com o treinamento adequado, visto que Super Metas
devidamente treinados, embora possam usar livremente fontes de energia ambiental, também podem "produzi-las"
pela simples modulação mentônica, e embora também sintam algum desgaste vital e mental, este se dá em proporção
incomensuravelmente menor.
MODULAÇÃO MENTÔNICA é o processo de converter fluxos de mentons livres em
em orientações que resultem nas forças fundamentais da natureza. Embora todas as forças físicas conhecidas
[Gravitacional, Força-Y (espaço-temporal), elétrica, magnética, fotônica, vital e nuclear, (de acordo com
as mais aceitas teorias madre-terrestres pós guerra-celestial)], sejam essencialmente constituídas de
fluxos mentônicos, somente a Força Mental é constituídas de mentons puros em estado livre, o que produz a
consciência e intencionalidade. Dominar a técnica para 'produzir' um fluxo mentônico puro, e então modulá-lo
numa orientação que o transforme numa das forças físicas, exige profunda disciplina e auto controle, normalmente
obtido por anos de treinamento.
A AURA, que é um fenômeno físico que vibra numa frequência muito abaixo do infravermelho,
é a soma de todas as radiações eletromagnéticas do corpo, incluindo reações químicas a nível celular e genético molecular,
de modo que sua aparência é uma assinatura tão fiel quanto o DNA. Além disso, permite detectar diversas variações sem
prejudicar sua capacidade de reconhecimento. Sistemas automáticos de leitura de aura permitem diagnóstico de qualquer
alteração significativa, e sistemas de segurança podem ser programados para não permitirem o acesso da pessoa que estiver
sob situação de entorpecimento ou mesmo grande estresse emocional, mesmo reconhecendo sua identificação.
Para o desenvolvimento da metanaturalidade é absolutamente fundamental desenvolver um sofisticado controle da própria aura,
que faz amplificação da interação direta entre Mente e Matéria. As habilidades metanaturais mais básicas (Super Vitalidade,
Transferência de Vitalidade, Telepatia, Micropremonição, e outras) requerem todas uma "afinação" bastante precisa da
aura, que deve estar sempre vibrando num mesmo padrão resultante de uma completa harmonia entre corpo e mente, exigindo não
só um metabolismo otimizado, como uma concentração otimizada, e que no caso, vibram numa frequência bem abaixo do infravermelho.
As habilidade metanaturais mais avançadas exigem padrões vibratórios de aura mais elevados, que passam para o espectro
visível a sobem até além do ultravioleta. Dependendo das habilidades, existem correlações praticamente imutáveis em relação
as frequências, denominadas:
- Espectros de Aura -
Os mais comuns são Infravermelhos, mas há vários níveis. Uma habilidade como Teletermogenia
normalmente apresenta aura Infravermelha, mas numa frequência bem mais alta que as habilidades mais básicas.
Algumas correlações de Espectro de Aura e habilidade metanaturais comuns são:
Infravermelho
Telecinésia, Termogenia
Laranja
Força Fotônica, Termogenia Luminal, "Fogo Mentônico" (sem necessidade de combustível)
Amarelo
Força SubNuclear, Nuclear
Verde
Força Nuclear, Força Gravitacional
Ciano
Força eletromagnética, Força Vital
Ciano-Azul
Força eletromagnética, Escudo Aural,
Ultravioleta
Deflexão Gravitacional, Levitação, Força Eletromagnética
Alguns Espectros são Raros, Como o Azul, o
Violeta e em especial o Vermelho, os únicos
antropônicos conhecidos que o manifestaram foram o Anjo Estelar Antares, além de manifestar também o Branco.
E o RY-1 Haneander, ainda que apresentando decaimento espectral para Magenta.
O Decaimento, por sua vez, é a tendência da Frequência de Aura em variar durante o uso, quase sempre num sentido único.
Como por exemplo iniciar com um espectro Verde e decair brevemente para Amarelo.
O espectro Branco implica sempre em Hipermetanaturalidade, ou no limiar desta. Sendo presente em todos os Anjos
Estelares, ainda que alguns apresentem decaimentos, e na maioria das Hipermetas Seilans, ou Supermetas de alto nível.
Espectros Violeta tem relação direta com Teleporte, tanto no caso do único Supermeta antropônico
conhecido, como no caso de supermetas de outras espécies senscientes. E o espectro
Rosa, é uma exclusividade de DAMIATE, embora com decaimento ou mistura de
Vermelho ou Violeta.
A análise do espectro de aura de um Metanatural, possível por qualquer equipamento de leitura de aura, permite uma previsão
de alto grau de acerto sobre suas habilidades predominantes, pois a relação de espectro é superveniente sobre as habilidades,
isto é, havendo um certo espectro, SEMPRE há ao menos potencial latente para o desenvolvimento de certas habilidades
específicas, mas o inverso nem sempre ocorre, havendo habilidades que podem se manifestar em qualquer espectro.
Em outros termos, QUASE TODO espectro de aura Ciano-Azul permite o desenvolvimento de
Escudo Aural, isto é, uma modulação da aura que a torna uma espécie de blindagem eletromagnética em torno do corpo.
Mas nem sempre o Escudo Aural exige um espectro de aura Ciano-Azul.
A deliquência metanatural Madre-Terrestre é rara, e na quase totalidade das vezes envolve Metanaturais compulsivos que não
receberam o devido treinamento. Após o Guerra Celestial, na fase Pós-Dourada, ocorreram apenas 6 casos de
Supermetas que tenham praticado atos criminosos. Quase todos de desenvolvimento compulsivo. Foram, pela ordem.
- Erina Kari -
392-517
Única que teve desenvolvimento espontâneo e treinamento completo em Xantai, era Telepata especializada em reprogramação
de memória e personalidade. Foi condenada por ter submetido seu cônjuge a sucessivas alterações mnemônicas, inicialmente
com o consentimento do mesmo, mas sem passar pelo exame do conselho de atividades telepáticas, que é muito rigoroso.
A quantidade excessiva com que alterou a memória da vítima, principalmente para fazê-lo esquecer de traumas afetivos,
bem como alterações forçadas em seu comportamento, terminaram por causar-lhe danos irreversíveis. Foi condenada a prisão
pelo Tribunal de Atividade Metanatural, mas conseguiu fugir utilizando suas habilidades contra outras vítimas, dando origem
a quase um ano de perseguição. Após seu aprisionamento e cumprimento de 35 anos de sentença, bem como proibição de qualquer
uso efetivo de habilidades metanaturais potencialmente lesivas, ironicamente viria a se casar com o sobrinho da vítima,
pairando suspeitas nunca confirmadas que também teria usado nele suas habilidades.
- Sailens -
520-641?
Possivelmente o maior Telecinético já conhecido, conseguia aliar a força superior da Telecinésia Monovetorial com a
versatilidade da Multivetorial. Nunca recebeu treinamento adequado, e praticou uma série de crimes desconexos, inclusive
assassinatos, sem nenhum motivo claro. Chamou especial atenção um efeito colateral de sua metanaturalidade que jamais foi
compreendido, o fato de gerar uma campo de neutralização de som que podia ir de poucos metros a centenas de metros ao seu
redor. Tendo manifestado essa anomalia na maior parte de sua vida, sua capacidade de comunicação era grandemente prejudicada.
Seu apelido é derivação da antiga palavra inglesa silence, que marcou tanto o imaginário popular que
em certas cidades e épocas era considerado desagradável que um local qualquer permanecesse silencioso por muito tempo.
Quando num grupo de pessoas o silêncio se instaurava por alguns instantes, eram comuns brincadeiras com a idéia de que
Sailens havia chegado. Foi capturado e congelado. Depois, um acidente o libertou, tendo logo em seguida desaparecido.
Acredita-se que tenha morrido num confronto com super metas de Xantai, mas seu corpo nunca foi encontrado. Seu perfil,
porém, indica que ele não tem capacidade de se manter discreto, de planejar meticulosamente ou mesmo abrir mão dos hábitos
que o tornaram conhecido.
- Magnetron -
560?-?
Indiscutivelmente o metanatural antropônico que mais causou danos, não só em Madre-Terra como em diversas Terras-Filhas,
em especial Sofistia. Sua habilidade única de comunicação mentônica com sistemas eletromagnéticos lhe permitia manipular
mentalmente qualquer sistema informático, numa habilidade conhecida como Tecnopatia, e também produzir campos de
atração e repulsão entre objetos de metal, inclusive produzindo descargas elétricas, embora raramente utilizasse ações
físicas diretas. Magnetron desviou fortunas incalculáveis de créditos virtuais para contas fantasmas, penetrava em
centros de informação e podia sempre estar à frente das autoridades que o perseguiam. Podia também manipular ZIGs, Adagas
e até Espadas Espaciais, mas desde que tivesse proximidade de alguns kms da mesma. Seu alcance limitado era sua
vulnerabilidade, e o que lhe permitiu ser capturado algumas vezes. Seu paradeiro é desconhecido, e até sua data de nascimento
é incerta devido a ter alterado radicalmente informações nos sistemas centrais. E é especialmente preocupante
que possa ter sido capturado pelas seilans, que por não usarem tecnologia eletromagnética, e sim fotônica, são não só imunes
aos poderes do Magnetron como tem alto interesse em usá-los contra civilizações adversárias, especialmente Kluma,
Gaiol e Madre-Terra.
- Cirenia -
581-621
A mais temida supermeta madre-terrestre, era telepata especializada em dominação, forçando suas vítimas a realizar seus
desejos controlando-os apenas o corpo, deixando a vontade intocada e inutilizada, devido a não conseguir resistir à força
coerciva. Também tinha sofisticadas habilidades de introduzir ilusões em suas vítimas, inclusive coletivas, sendo capaz
de iludir centenas de pessoas ao mesmo tempo, e controlar várias outras. Considerada extremamente perversa, teve como aliado
um homem não metanatural que era tão apaixonado por ela que a protegia com todas as forças nos momentos em que esta ficava
temporariamente sem poderes devido a confrontos contra outros supermetas, mesmo que, ele próprio admitia, ela jamais tenha
demonstrado qualquer gratidão por isso. Até pelo contrário. O ódio geral da opinião pública por Cirenia era, e ainda é,
tão grande, que ela é considerada a vergonha de Madre-Terra, título que ela mesma sugeriu. E o famoso filme que conta sua
história com seu companheiro, sob uma ótica romântica, chegou a ser proibido em todo o planeta pelo simples fato de não
mostrá-la sob um ponto de vista fortemente negativo. Cirenia se considerava, e se apresentava, como uma seilan, o que, apesar
de ser muito bonita, era completamente falso. Durante mais de um ano conseguiu escravizar uma cidade inteira, em segredo.
E esses foram só alguns dos motivos que garantiram seu lugar como a pior fascínora da Era pós-dourada.
Foi capturada num confronto contra supermetas de Nova Acrópolis, e linchada em praça pública por uma população revoltada.
- Kaosmos -
622-
Considerado extremamente perigoso não por sua personalidade, mas por seus poderes físicos, no limiar de Hipermetanaturalidade.
Desenvolveu uma capacidade única de distorcer o espaço em ondas frenéticas, causando um colapso vibratório que destrói
qualquer estrutura física, independente de sua resistência. Distorcendo o espaço é capaz de voar a velocidades comparáveis
à de hipermetas, bem como gerar escudos mentônicos de alta resistência. Psicologicamente é considerado muito instável, e se
sua história mostra que teve bons motivos para se revoltar contra diversas situações desfavoráveis que lhe aconteceram, é
notório também a descabimento de suas reações. Enfrentou e derrotou quase todos os super metas de Madre-Terra, embora
também tenha sofrido algumas derrotas. Chegou a receber treinamento parcial em Xantai, tendo inclusive obtido ótimo desempenho,
mas decidiu abandonar sua formação por motivos pessoais e inexplicáveis, que foram seguidos de suas ações destrutivas.
Foi capturado por Zentaris, não exatamente numa luta,
mas porque este o convenceu a se entregar, e aceitou ser mantido numa câmara de suspensão temporal para ter seus poderes
estudados. Seu paradeiro é mantido em segredo pelo governo Madre-Terrestre.
- Xiaisin -
631-
Foi companheira de Kaosmos, e também desenvolveu a rara habilidade de distorção de espaço, porém num estilo muito diferente,
e grau bastante inferior. Desenvolveu um técnica rara, embora já registrada, de distorcer o espaço em torno de seu próprio
corpo como se 'esticasse' e 'deformasse' tal como uma mulher elástica, porém em nada afetando sua estrutura física, e sim
somente fazendo-a seguir a deformação espacial. Além de delitos menores de baixa ofensividade, as atitudes que a condenaram
foram principalmente relativas a Kaosmos, com quem teve um envolvimento amoroso. Após a rendição deste, ela ainda ofereceu
resistência a ser capturada, mas acabou se entregando e aceitando cumprir uma punição. Posteriormente, manifestou interesse
em se juntar a algum dos 4 grupos de operações especiais supermetanatural das cidades utópicas. A proposta permanece em
estudo.
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