O OITAVO
Uma das maiores evidências do poder da mente não somente sobre a matéria, mas sobre a estrutura na qual ela se apóia,
Espaço e Tempo, é a incrível capacidade de nossos estados mentais distorcerem por completo não somente nossa
percepção temporal, mas o próprio tempo em si. Durante milênios pensou-se que achar que o tempo está passando mais devagar,
ou rápido, é sempre somente uma ilusão, mas considerando que o próprio tempo muitas vezes foi considerado uma ilusão, o que seria
então mais ilusório? Que o tempo realmente variasse segundo nossa percepção, ou que fosse imutável? Em estados mentais
alterados, não é apenas a percepção temporal, mas todo o metabolismo que se altera, incluindo qualquer reação física.
Só um relógio pode convencer alguém que em certos casos o tempo não decorreu do modo como se percebeu, apesar de todas
as evidências corpóreas dizerem o contrário.
Naquele momento, isso era uma experiência nítida, pois os segundos que passaram ganharam a extensão de minutos, talvez
horas, embora os sentimentos de todos variassem enormemente. Desde o fascínio e felicidade reprimida de
Randol, embora temperada por aquele inevitável medo que só faz a emoção ser sinteticamente ainda
mais deslumbrante. Até o quase desespero de Lunis, que só se convenceu que quem havia acabado
de chegar era de fato quem parecia, quando lançou, quase involuntariamente como qualquer seilan faz, uma onda sedutora
sutil contra aquele oitavo novo habitante do seleto recinto, e percebeu de imediato sua completa ineficácia. Nem mesmo
o Anjo Estelar seria tão insensível, embora provavelmente não sucumbisse perante uma onda de sedução suave como aquela.
Mas aquele ser que estava ali era vazio, absolutamente além do alcance do poder feminino de dominação sensual. O resultado
era uma quase náusea, um quase terror, muito diferente do que acontecia com o antróide, que apesar de também não demonstrar
reação, não parecia humano a uma observadora dotada de percepções profundas.
Dalmana, por sua vez, era um dos que demonstrou imediata excitação com a situação, embora
incredulidade. Como cientista jamais poderia deixar de ficar empolgado com o que tinha à sua frente, mas ao mesmo tempo
tinha consciência da gravidade política daquela presença ali.
Tal gravidade era o que deixava Taulin autenticamente amargurado, embora também um tanto
espantado. Sabia que significava uma mudança radical no sutil equilíbrio de forças da Galáxia, e faria a complicada
situação que já enfrentavam parecer piada diante do que viria.
Eli se sentiu estranhamente atemorizado. Não saberia dizer por que, mas era como se sentisse que
dali para frente tudo estava perdido. Algo similar sentiu Filia, que teria se divertido com
o incômodo da seilan se pudesse reparar nisso. Mas a sensação inexplicável que lhe acometeu quase lhe fez chorar.
Enfim, somente Zentaris apresentava a seriedade calma e serenidade que se esperaria de alguém
como ele, e fitou o visitante com um olhar ao mesmo tempo cordial e receptivo, mas que também mostrava preocupação com
a gravidade da situação. Se ele deixasse, o silêncio poderia ter se arrastado longamente, mas acabou precipitando as reações.
- Seja bem vindo Lorde Mestre. Embora sua presença aqui me encha de consternação. - Disse numa voz que
penetrou em todos, exceto no próprio visitante, que finalmente falou.
- Saudações habitantes da Pastor-6. Olá meu bom Zentaris, é sempre uma dádiva poder encontrá-lo. E é claro
que eu não viria até aqui sem um motivo muito forte.
As palavras arrancaram gemidos de Taulin, que tentava se recompor e se impor como autoridade ali.
- Lorde Mestre DAMIATE?! O quê... O senhor não poderia estar aqui! - DAMIATE nada respondeu, limitando-se a olhar
para o ambiente ao redor da sala de reunião. Curiosamente Filia e
Lunis pareciam sintonizadas, pois afirmaram praticamente em uníssono. - Você quebrou o
acordo!
- Na realidade não. E mesmo que o tivesse feito, garanto que seria melhor do que deixar a situação aqui continuar
seguindo o desastroso curso que tem seguido. - De repente, sua voz silenciou a todos, que observaram com
tensão hipnótica. - Estamos diante de uma Planeta Primordial. Não há mais dúvida. Mas não somente isso. Tudo
indica que dentre outros possíveis planetas primordiais, descobrir esse foi a pior coisa que poderia acontecer no
atual estágio de desenvolvimento da Galáxia. Vocês estão prestes a arruinar não só o que eu venho tentando fazer
há milênios. Mas também o que todas as outras civilizações, não importam quais sejam, pretendem fazer. Especialmente
as Seilans.
Ao dizer aquilo, olhou para a feiticeira, que pareceu despertar de um transe, e se empertigar de um modo hostil. DAMIATE
podia ser assustador, mas ela não demonstraria um mínimo de fraqueza, tinha obrigação de demarcar seu território em nome
de sua civilização. - Por que especialmente? Como ousa falar por SEILA?
DAMIATE simplesmente ignorou a pergunta. - Estou aqui apenas para perder tempo em prol de não trair minha consciência.
Sei que não atenderão todas as minhas recomendações, mas as farei assim mesmo, como dever de cortesia, bem como para que sirvam de
aviso. É simples. Sugiro humilde e enfaticamente que ponham esta frota em aceleração imediata para fora do sistema, e já
preparem suas Claves Espaciais. Deixem para trás apenas a Espada Espacial e o máximo de Adagas Espaciais, ZIGs e Zarpias
que conseguirem produzir. Com elas ficará mais fácil executar meu encargo de impedir a aproximação de qualquer nave,
enquanto tento resolver a situação.
- Não podemos fazer isso! - Retorquiu Taulin, e Filia logo acrescentou.
- Madre-Terra nos fixou aqui. É nossa missão controlar ou impedir a presença de outras frotas!
- Não estejam tão ansiosos para impor restrições de aproximação à Seilans e Marous, que seguramente não as aceitarão.
Recomendo que deixem isso comigo, e limitem-se a advertir qualquer frota de que considerarei destruí-las se se aproximarem
demasiado daqui. INCLUINDO FROTAS DE MADRE-TERRA! Exceção feita às Espadas Espaciais, que serão sempre bem vindas.
- As Espadas Espaciais não obedecerão você, e SEDNA também não reconhecerá sua autoridade. Você não trouxe nenhuma frota!
Como espera controlar o acesso ao planeta? - Desafiou Taulin.
- O hipermeta que encontrei. Está a seu serviço. - Disse Zentaris. - Só não tive
certeza de que aquela proteção telepática era sua porque ainda me custa acreditar que tenha violado o tratado para vir
até aqui, e também por parecer... Estranhamente diferente. Proteção formidável, devo dizer. Consegue mantê-lo totalmente a salvo do assédio das mentes do planeta.
- E também de nossa feiticeira aqui. Que não me preocupa menos.
Lunis se sentiu pessoalmente ofendida. Mas um lampejo de compreensão suavizou seu mau estar.
- Senhor... Lorde Mestre DAMIATE. - Era Dalmana que falava, mostrando reverência.
- Eu poderia ficar? Posso ser útil por já ter investigado o planeta.
- Na realidade minha recomendação não se aplica a todos as pessoas aqui, mas principalmente à frota. Concordo que você
pode mesmo ser valioso meu caro antróide. Não me oponho, e na verdade também convido-o, juntamente com a senhora
Lunis, a se juntarem à mim na visita ao planeta. Também convidaria a terceira exploradora se
ela estivesse em condições. Tenho uma nave com acomodações satisfatórias.
E é claro, fica evidente que Zentaris me acompanhará.
- Certamente. - Concordou o Anjo. Mas a seilan, que assim como o antróide havia sentido algo estranho no modo como
DAMIATE se referiu à "terceira exploradora", interpelou. - E quanto a mim? Por que me convidas?
- Além de ser menos vulnerável e claramente útil, eu realmente espero que quando suas conterrâneas estiverem a chegar,
seja a senhora que tente convencê-las a dar meia volta. Prefiro isso a eu mesmo ter que destruí-las, pois aí sim, estaria
quebrando o tratado.
- Mas... Senhor, isso não faz sentido! - Interrompeu Taulin. - O tratado já foi quebrado!
Você não poderia jamais sair de EXARIA sem expressa autorização de todas as Partes!
- Ocorre que na realidade eu não saí de EXARIA. O tratado se aplica apenas a minha presença completa, que é a evidente
combinação de meus corpos físico, astral e mental. Mas isso que estão vendo é um clone que já estava fora de EXARIA, como
diversos outros que tenho espalhados pela galáxia, o que jamais foi segredo. Além disso estão diante também de um
AstroClone, e portanto, a única parte de EXARIA que está aqui é minha mente. Controlando esse composto corpóreo remotamente.
O tratado não prevê isso.
O espanto atingiu a todos, até mesmo a Zentaris, que focou ainda mais sua telepatia sobre
DAMIATE, finalmente entendendo por que sua presença mental parecia distorcida.
- Isso é... Possível? - Perguntou Taulin, olhando para o anjo e também para a seilan.
Ambos retribuíram olhares dúbios, ainda muito surpresos, mas o anjo enfim disse. - Talvez.
- É tudo o que tenho para sugerir, contando, porém, com a negação de grande parte. Agora só me resta, antes de deixá-los,
atender a curiosidade de nosso literato aqui. - Apontou então para Randol, que observava
tudo fascinado, incapaz de verbalizar a pergunta que ardia em seus pensamentos, e que só então, com o evidente olhar
convidativo de DAMIATE, pôde superar a timidez e perguntar. - Sim... Senhor. É... O que afinal está acontecendo aqui?
- Não posso revelar tudo do pouco que já sei. Mas posso dizer que este planeta é um tipo de prisão. Que detêm algumas
entidades perigosas até mesmo para os grandes primordiais. Não são necessariamente malignas, mas pense nisso como um
exílio de metanaturais instáveis, como os de Sofistia ou Madre-Terra. Só que, é claro, estes são muito mais poderosos,
e o que é pior, incompreensíveis. A analogia que apostaste com os escritores madre terrestres antigos, associando o que
temos aqui com mitos literários, é bastante reveladora. Estamos realmente diante de perigos indescritíveis. E não.
Infelizmente não creio que você possa nos acompanhar.
- Temos dois membros da frota presos no planeta nesse mesmo instante! - Anunciou Filia.
- Abandoná-los seria uma agressão a nossas relações diplomáticas com KLUMA!
- Creio que já seja tarde demais para fazer alguma coisa por eles. Embora é claro que nosso valoroso
Zentaris fará tudo que puder para salvá-los. De qualquer modo, se as coisas continuarem
como estão, problemas diplomáticos com KLUMA serão irrelevantes perante o que teremos.
- Em breve estaremos fora do alcance do campo telepático! Que perigo ainda pode haver! - Indagou
Taulin.
- O campo aumenta a cada instante, e a cada mente que atinge abre novos caminhos. No ritmo que está, em breve
criará uma rede de conexões telepáticas que poderá atingir qualquer local da Galáxia. A minha capacidade de me conectar
mentalmente com este corpo há 70 mil Anos-Luz de distância, que tanto vos impressiona, é ínfima diante do que a criatura
que batizaram de KUTLIU poderá fazer.
- Que capacidade? Não temos evidência alguma de que isto seja possível! - Replicou o comandante. - Está tentando
argumentar com base numa suposta habilidade que...
- Nosso tempo acabou. - Embora tenha dito em tom normal. DAMIATE interrompeu Taulin
de um modo aparentemente irresistível. - Senhores Dalmana e Zentaris.
Senhora Lunis. Espero vê-los em breve. Quanto aos demais. Espero não vê-los mais.
E num flash luminoso rosado, ele desapareceu, deixando o silêncio para trás.
EXTREMA UNÇÃO
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Selia agonizava. Após a breve pausa em que desligara-se de tudo, agora parecia completamente
ligada de novo, sentido uma violência em sua mente que lhe faria definitivamente passar a levar a sério a idéia de
inferno. Eram pesadelos sem fim, com frequência visitados por versões distorcidas e maléficas de sua mãe, por orgias
sexuais macabras e até por recorrentes ilusões de estar repentinamente grávida.
Sabia que havia telepatas ali, tentando ajudá-la, sabia que havia médicos e sofisticados sistemas hospitalares. Mas
agora tudo parecia inútil, e ela mal podia distinguir os vultos reais à sua volta, que agora pareciam sombras comparados
aos sonhos que a atormentavam.
Quando pensou que não poderia aguentar mais, algo muito estranho aconteceu. Um luz rosa brevemente a ofuscou, e então
ela sentiu a dor subitamente diminuir. Ainda seria insuportável se não estivesse sofrendo uma muito maior, mas
toda e qualquer alívio muitas vezes é como um prazer. E então o rapaz ajoelhou-se ao seu lado, tocando seu
rosto, o que diminuiu ainda mais seu mau estar.
Até que tudo pareceu tão melhor que podia agora até distinguir as pessoas ao seu redor, que pareciam paralisadas, apesar
do inesperado visitante chamar mais atenção. Por um breve momento, ela se sentiu agraciada. O alívio foi tão grande que
quase foi um êxtase. Tudo parecia ter parado, o tempo parecia parado, e antes que ela pudesse pensar melhor, ouviu a voz
que lhe falava, de um rosto que não mexia os lábios.
- "Lamento. Não irei enganá-la. Esse alívio é temporário, e desaparecerá assim que eu me for. Apenas saiba que
seu sacrifício irá salvar muitas vidas. Boa sorte criança."
E tão subitamente quanto surgiu, ele desapareceu, num pulso de luz rosada. Mas ao contrário do que ela esperou, a dor
não voltou. Voltaram sim as vozes, as imagens, a forças que a engoliam mentalmente, mas algo havia mudado. Ela parecia
ter se resignado, ter aceitado seu destino.
Então se levantou, sem deixar de sentir, nem por um só segundo, que continuava sob o brutal ataque de uma mente estranha,
perversa, doentia, mas infinitamente poderosa. Mas ela sentia como se tivesse uma blindagem que não a impedia de ser
tocada e movida, mas impedia que o contato direto fosse desesperador.
Então saiu do hospital, no interior da IANTIS, sem encontrar resistência. Dirigindo-se ao jardim central do pequeno mundo
fechado sob si mesmo.
Pronta para fazer seu sacrifício.
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RECUPERANDO O FÔLEGO
Demorou um pouco para que os 7 integrantes daquela reunião se recuperassem do choque de estar frente a frente
com ninguém menos que o personagem mais misterioso e temido da galáxia.
- Pelo Universo Zentaris! - Disse o líder da frota. - Ele pode mesmo mandar a mente
de EXARIA até aqui?! - O Anjo capitulou, mas respondeu. -Não conheço tal capacidade! Mas posso garantir que
ele não mentiu!
- O que podemos fazer? - Perguntou a líder. - E se ele estiver certo?!
- E se estiver jogando conosco? - Perguntou Taulin, mais para si mesmo. Uma estranha pausa
se formou, interrompida pela feiticeira.
- Eu sei quem é aquele hipermeta. - A afirmação foi tão súbita e resignada que até Zentaris
pareceu surpreso, mas não demorou a lembrar o óbvio fato de que as seilans era ótimas em identificar Hipermetas, visto serem
objeto de cobiça, como o era ele próprio. A pausa funcionou como uma autorização expressa para que Lunis
continuasse.
- É um hipermeta fotossilicônico conhecido como Luriander. Um RY, como é tecnicamente chamado.
- O RY-3? - Completou o anjo. Eli, após se recuperar da tensão que a presença de DAMIATE lhe
causou, conseguiu perguntar. - Ele não é uma lenda? Tem até uma Espada Espacial com esse nome!
- Há outros que não são lendas. O RY-1 inclusive produziu uma nova RY há alguns anos. E conheço muito bem a RY-5, Distroia.
Uma mulher fascinante. - Zentaris pareceu por um momento saborear uma lembrança, continuando
num novo tom de surpresa. - Mas a RY-0 é lendária, não poderia existir. E esse RY-3, pensei, fosse uma versão alternativa
da lenda do RY-X. Pois o verdadeiro RY-3 teria morrido mesmo antes do RY-4.
- É real. Minha mãe teve uma amiga que participou de uma operação de ataque que tentou capturá-lo num sistema estelar
remoto. Por séculos ele foi prioridade máxima entre os hipermetas que cobiçávamos. Até mesmo mais do que você,
Zentaris.
Eli chegou a reprimir uma discreta risada. - Ah... Quer dizer que Zentaris
não é o Hiper meta mais cobiçado da galáxia?
- Como alguém assim pode ser desconhecido? Tido como lendário? - Interrompeu Filia.
- O poder dele... O que mais desejávamos. Ele pode entrar mentônicamente em qualquer dispositivo eletromagnético, captar
qualquer onda, até ruídos de estrelas distantes. Com isso ele entra em sistemas de informação e apaga toda e qualquer
dado relevante sobre si próprio, assim como acrescenta informações desconexas para criar uma aura de incredulidade a seu
respeito. Nós também ajudamos a esconder sua existência, até mesmo com ações telepáticas apagando de algumas mentes
informações sobre ele. Assim podíamos nos concentrar em procurá-lo com mais calma. E além disso, DAMIATE fazia a mesma
coisa. Por séculos disputamos com ele a cooptação desse hipermeta. Parece que ele está na frente.
- Então ele tem um poder comparável ao do Magnetron? - Perguntou o líder da frota.
- Luriander é como uma combinação de Magnetron com Zentaris.
- Respondeu a feiticeira.
- Incrível! - Interrompeu a líder. - Seria a conquista definitiva das seilans! Se ele pode neutralizar as Espadas
Espaciais! Se ele puder controlá-las... - Se interrompeu bruscamente, como pensando nas consequências. Que não
escaparam à Taulin.
- Ele seria a maior arma das feiticeiras. Tornaria o principal trunfo espacial de Madre-Terra e Kluma irrelevante. -
Disse o líder ignorando um chamado que tentava contatá-lo em seu monitor.
- Principalmente se conseguissem reproduzir o poder e criar outros híbridos... Por Xantai! - Exclamou
Dalmana. E embora não esperasse que fosse respondido, ainda perguntou à seilan.
- E o Magnetron? É verdade que vocês o capturaram?
Evidentemente a feiticeira o ignorou, desviando imediatamente o rumo da discussão.
- Vocês não estão entendendo! Não se trata disso! Se DAMIATE o trouxe até aqui, é sinal que está disposto a tudo. Ele
sabe que descobriríamos. Não se pode esconder um hiper meta desses por muito tempo. Ele e Zentaris
são apenas mais dois fortes motivos para as seilans virem para esse planeta. E na verdade, se tiver oportunidade,
eu estou obrigada a capturar Luriander sob pena de ser considerada uma traidora! Isso não se
aplica a Zentaris, mas a ele sim!
- Então, com esse Luriander, DAMIATE poderá controlar qualquer Espada Espacial que chegar aqui? -
Filia, embora com a aparência de pergunta, na verdade fazia uma afirmação. Tanto que
ninguém se deu a trabalho de responder, e o silêncio já era conclusivo.
- Então pode ser um golpe! - Disse Taulin. - Uma armadilha que DAMIATE está preparando. Para
ele é tão interessante controlar as Espadas Espaciais quanto para as seilans. Talvez queira apenas isolar o planeta para
usufruir ele próprio das descobertas.
Ele obteve um olhar discreto de cautelosa concordância da seila. Enquanto houve um breve silêncio
Taulin prestou atenção num chamado que insistia ser respondido, dirigido tanto a ele quanto à
líder da frota, que estava ainda mais resoluta em ignorá-lo devido a perplexidade da situação. De repente as palavras
do líder surpreenderam a todos. - O quê?! Mas quando ele fez isso?!
- Há cerca de 80 segundos senhor! - Respondeu uma voz pelo telecomunicador. Taulin então
jogou a imagem num recém surgido monitor holográfico esférico central para todos verem. Puderam ver DAMIATE ajoelhado
perante Selia, e depois desaparecendo, indo então visitar Viuik,
que no entanto não se moveu após ele partir. E depois várias imagens isoladas dele visitando outras partes da nave.
- Não há como impedí-lo senhor! Ele pode entrar em qualquer lugar. Sempre podemos saber que ele entrou. Não parece
haver modo dele fazê-lo discretamente. Mas nada podemos fazer para contê-lo.
- Não sem um poderoso campo mentônico de restrição de Força-Y. - Disse Zentaris.
- Mas ele já foi embora, eu posso perceber. E enquanto estiver no planeta não poderá se teleportar direto para
cá, terá que usar sua nave como ponto de transição, que tem que estar no mesmo nível de Hiper Vibração Molecular.
Da última vez que pude avaliar, seu alcance médio de teleporte
estava em torno de 100 mil kms. Pode ter evoluído, mas acredito que seus poderes possam estar limitados pelo esforço
de controlar esse corpo remotamente. - O anjo revelou aquelas informações dando a nítida impressão de estar
pagando um tributo. Então mudou de tom. - E está na minha hora de ir embora também. Prometo que manterei contato se
possível, mas não posso deixar DAMIATE à solta naquele planeta sem saber exatamente o que está acontecendo. E deixem
o resgate dos klumans comigo. Não enviem mais ninguém. Por favor. Eu prometo que os trarei de volta se for possível.
Até a próxima. - Com uma respeitosa despedida, o anjo se retirou, e embora alguns quisessem, ninguém tentou
detê-lo.
- DAMIATE não é o único com segredos. - Lembrou Eli assim que o anjo saiu.
- Até agora continuamos sem ter idéia de
como Zentaris chegou a esse sistema. DAMIATE e o tal... Luriander,
ao menos trouxeram naves que já detectamos. Mas e a do Anjo Estelar?
SACRIFÍCIO
Como previsto, a frota agora estava reduzindo a velocidade, chegando à distância determinada pelos líderes, supostamente
segura o suficiente para até mesmo o assédio telepático sofrido por vários membros estar drasticamente minimizado.
Embora o Estado Hiper Vibracional estivesse ativado era possível sentir a desaceleração suave no interior da nave, o
que tornava alguns movimentos um pouco incômodos e não recomendados durante aqueles minutos. Ainda assim alguns tiveram
que perambular para acompanhar o estranho comportamento da engenheira de armas e combate.
Selia parecia aos olhos de todos muito aliviada e tranquila, mas não agia normalmente.
Não respondia a seus colegas, ou dava respostas curtas, evasivas e desatenciosas. Dizia que queria respirar o ar
puro que era disponível nos jardins do cilindro habitacional, cujo ecossistema contava com pequenas mas eficientes lagoas
que produziam oxigênio por meio de algas azuis genônicas.
Como seu estado era inegavelmente melhor do que antes, não era difícil duvidar de que estava apenas tentando fugir de
tudo que lhe lembrasse a tortura que sofrera, inclusive a sala onde era observada e tratada. Ela desceu as escadas marmóreas
rumo à calçada de tijolos, que ainda recebia alguns reparos finais devido ao incidente com a explosão da esfera cristalina.
Várias árvores estavam faltando, assim como alguns dos prédios, mas no geral aquele ainda era o ambiente mais agradável da
IANTIS.
Caminhou calmamente algumas centenas de metros, acompanhada por alguns enfermeiros e dois telepatas dos que tentaram,
praticamente em vão, conter o ataque que sofrera. Saindo da calçada, entrou no gramado e se sentou a beira da lagoa,
cujo nível de água nunca estivera tão baixo devido a ainda estar sendo reenchida. Por minutos ficou quieta,
em silêncio, e um rapaz que a acompanhava se sentou ao lado dela, tentando conversar. Ela apenas sorriu, tomou sua
mão e fez um gesto de carinho e compreensão. E então deixou cair algumas lágrimas.
De repente, aconteceu. Ela respirou fundo e, como se fosse de propósito, teve uma abrupta convulsão, caindo ao chão em
violentos tremores. Foi rapidamente cercada pelos que a acompanhavam, e então desligou por completo, ficando completamente
imóvel. Quando todos à sua volta sentiram um calafrio, os telepatas souberam que o ataque telepático reiniciava, porém,
de modo muito diferente.
Ela se levantou. Na verdade, foi levantada por uma força estranha. O arrepio que foi sentido era nitidamente eletrostático,
e logo Selia estava flutuando. Não podia estar levitando antigravitacionalmente, o que era
impossível no interior da IANTIS, portanto o estava fazendo por impulsão de íons, o que no caso deixava uma nítida luminância azulada
sob seus pés. Ela tinha os olhos fechados, e seus cabelos eletrizados se levantaram, e ela começou a brilhar.
Um alarme foi soado, robôs de segurança vieram correndo e aos pulos, e logo todas as atenções estavam voltadas para o local,
inclusive dos membros da reunião, que eram apenas 6 devido a partida de Zentaris, que agora
já devia estar longe rumando o mais rápido possível ao Planeta Fantasma.
Sensores de aura deixavam claro que ela estava manifestando uma poderosa metanaturalidade, ainda que jamais tivesse tido uma,
o que só podia significar uma possessão por uma mente tão poderosa que era capaz de construir uma aura metanatural intensa
em poucos minutos. Abrindo os braços, parecia presa numa cruz invisível, flutuante, brilhando cada vez mais até que uma
onda de choque jogou todos os que a cercavam longe, deixando alguns desacordados.
A nave parou totalmente, o que podia ser sentido não somente pelo fim da desaceleração como pelo fim do estado
Hiper Vibracional, que era notado por um ligeiro e muito breve formigamento bem como as vezes por uma vertigem suave,
e então Selia voou ainda mais alto, aparentemente desacordada, mas dando agora um espetáculo de
luzes. Todos os olhos da frota já estavam voltados para a cena. Os líderes acompanhavam pelo visor holográfico, o que
os fazia aparentar estar pessoalmente diante do fenômeno, e então, para completar o triunvirato dos dirigentes da Pastor-6,
Velek telecomunicou.
- ...já estou bem! Preocupem-se com ela. Está diretamente conectada a uma das entidades do planeta, com uma força
inacreditável! A metanaturalidade está sendo enviada pela... Eu nunca vi isso!
Estranhas chispas de luz começaram então a surgir no centro da mundo invertido, piscavam em variadas cores, produzindo
ruídos discretos mas impossíveis de não serem notados. Foram aumentando de intensidade, até que algumas nuvens e raios
começaram a se formar num pequeno redemoinho.
Filia reconheceu uma semelhança entre aquilo e o estranho vórtice que havia atingido a GENIUS
na atmosfera do planeta, que ela pudera examinar com detalhes nas gravações do incidente, mas mesmo antes que ela
dissesse algo, outros cientistas advertiram que tudo indicava que um portal podia estar sendo aberto.
O desespero que se abateu sobre a tripulação não poderia ser descrito, se um portal fosse aberto ali, era impossível
prever o que aconteceria. Qualquer coisa poderia surgir por ele, mas no mínimo haveria um violento deslocamento de ar,
muito provavelmente escoando portal adentro. Na pior das hipóteses, que na verdade era uma das mais prováveis, o portal
simplesmente destruiria os sistemas internos deixando a nave à deriva. Velek foi enfático.
- Não dá pra cortar a elo telepático, é impossível! Ela está canalizando energia para fazer uma ligação com o que
estiver no planeta. Não podemos atirar nela! Isso pode causar algum colapso desconhecido! Temos que mover a nave!
Ninguém demorou a perceber que a melhor forma de evitar a provável catástrofe era acelerar a IANTIS novamente, o que
foi imediatamente feito, reativando o Estado de Hiper Vibração e acionando os impulsores nucleares à máxima potência.
É impossível abrir portais com os referenciais em movimentos distintos, ambos os pontos devem estar parados entre si, ou se
movendo muito lentamente, como era o caso do ponto de origem que estava no planeta. No momento em que nave se moveu,
de imediato o efeito se fez sentir, e os espasmos atmosféricos e elétricos começaram a diminuir.
Não demorou para aquele pequenino furação luminoso começar a se dissolver, dando a impressão que o faria lentamente,
quando de repente, sumiu de forma abrupta. Como se outra coisa o tivesse detido. Mas então o corpo
flutuante de Selia reagiu, chegando a gritar de indignação. Ela desceu até quase tocar o solo,
e então diversas descargas elétricas começaram a ser disparadas de seu corpo, queimando e derretendo tudo o que tocavam.
Os robôs foram autorizados a atacar, disparando diversos micro mísseis que atingiam diretamente o alvo, mas pareciam não
surtir efeito, sendo detidos pelo escudo aura. Passaram a atacar com LASERs, e conseguiram desestabilizá-la,
apesar do escudo ainda ter sido efetivo. Ela então contra atacou numa onda de choque que vaporizou de uma só vez a maioria
dos robôs e abriu um sulco fumegante no solo da IANTIS.
- Tem o nível de uma super meta. - Disse Taulin, olhando então para a seilan, que afirmou
de imediato. - Só eu posso detê-la, é meu dever fazer isso! - E saiu disparado do recinto, chegando ao jardim
em menos de um minuto.
Lunis ficou surpresa ao ver a cena diretamente. Só agora podia perceber com mais clareza a
vastidão do poder que se propunha a enfrentar. Percebeu de imediato que poderia ser uma luta impossível se esperasse mais
tempo, visto que a sincronia da origem do poder e de Selia aumentava a cada instante. Ela tinha
que atacar de imediato, mas antes precisava advertir aos líderes.
- É impossível detê-la sem machucá-la! É muito provável que ela morra! - A frase teria causado hesitação maior se
logo em seguida a possuída não tivesse deflagrado um ataque devastador contra o local onde a feiticeira estava, que causou
um estrago tão grande que por um momento todos pensaram que a seilan havia sido aniquilada, até que ela subiu ao alto
protegida por um escudo cristalino hemisférico à sua frente.
Embora a autorização para usar força letal, se necessária, tivesse vindo, Lunis não havia esperado
por ela. Brilhando numa aura branca, flutuou à frente e fez surgir sua bola de cristal, pairando a alguma dezenas de metros
da adversária. Se desviou agilmente de outra onda de choque e contra atacou com uma rajada de luz que saiu da esfera.
O ataque surpreendeu a adversária, que recuou e perdeu altura, se recuperando do choque. A seilan preferiu observar a reação,
talvez houvesse alguma esperança de não matar a maior das vítimas que seria a própria Selia.
Sabia que isso seria o ideal, visto que o incidente causado por seus servos quase destruíra a IANTIS, e era apesar disso
responsabilidade dela. Salvar todos era o melhor meio de compensar o desastre.
Mas a entidade que controlava Selia não demorou a contra atacar, com outra furiosa rajada de energia
que o que não tinha em precisão tinha em potência bruta, voando pelo ambiente, encontrando o vazio até atingir uma armação
de metal que ajudava a dar suporte a um dos imensos anéis que sustentavam a estrutura. Lunis
atacou novamente, com outra intensa rajada luminosa saída da esfera de cristal, tão mais forte que desta vez a adversária
foi lançada violentamente abaixo, caindo na lagoa.
Foram longos segundos de expectativa até que ela emergiu bruscamente. Estava ainda mais assustadora. Os olhos agora se
abriam, mas pareciam completamente sem vida. Na verdade, o corpo não se mexia, era mexido, como um grotesco marionete.
Outra rajada, menos intensa porém mais bem direcionada não permitiu um desvio efetivo da feiticeira, que teve que deter
o ataque com outro escudo hemisférico à sua frente, sendo mesmo assim forçada a recuar largamente.
Lunis subitamente ficou invisível, e expandiu sua aura de modo a tornar-se difícil de ser percebida
por sentidos aurais. Com isso, a oponente pareceu ter se desesperado, e começou a atirar a esmo no local onde a feiticeira
estivera, até que foi atingida por outro disparo da esfera de cristal, desta vez não tão intenso, o que permitiu um contra
ataque imediato por meio de outra violenta onda de choque.
O ataque porém nada atingiu, a esfera escapuliu incólume e então, numa fração de segundo, Lunis
reapareceu, do lado quase oposto e atacou com um disparo luminoso de suas própria mãos. O ataque atingiu em cheio a
adversária flutuante, que caiu no solo com um duro baque. Foi a vez da esfera de cristal voar contra a inimiga caída,
detendo-se poucos metros sobre ela.
No primeiro espasmo a esfera disparou de novo, atingindo a oponente com uma violência moderada, mas aparentemente efetiva.
O corpo de Selia jazia imóvel, embora ainda reluzente. A seilan se aproximou lentamente. A esfera
se mantinha ainda mais próxima da adversária, vigiando seus movimentos. Quando estava quase chegando,
Selia se ergueu num salto, com um grito pavoroso, e se lançou contra a esfera, como se tentasse
agarrá-la. A seilan a fez se afastar, obrigando a adversária à persegui-la, e então num vôo direto a própria feiticeira
atingiu o corpo da oponente por trás, agarrando pelo pescoço.
Seu objetivo era drenar a força da adversária, tentando neutralizar aquela aura inumana. Selia
tinha pouca força física, e sua reação não era eficaz, mas diversas descargas elétricas começaram a atingir tudo à sua
volta, sendo porém inócuas contra a seilan, visto que esta conseguira penetrar na aura, também se protegendo da
periculosidade dos disparos.
Permaneceu estrangulando a adversária, até que esta aparentemente desfaleceu. A feiticeira então foi pousando lentamente,
e depositou-a delicadamente no chão, com atenção redobrada contra uma possível reação. Mal teve tempo de comemorar a
vitória e Selia novamente pareceu despertar de súbito obrigando Lunis
a dar-lhe um duro golpe na cabeça, pondo-a em nocaute novamente.
Foi então que todos perceberam o pior. A aura continuava aumentando e se intensificando, mas como é típico em casos de
possessão, ela não restaura o corpo por regeneração, mas sim o força a se mover, aumentando ainda mais o desgaste.
Quando Velek disse o que acontecia, a feiticeira já percebera que mesmo que o corpo estivesse
destroçado, a força da aura continuaria jogando vitalidade não para sustentar a vida, mas apenas para forçar a conexão
mente e corpo, garantindo o vetor de manifestação da força remota. Não havia escapatória, o próprio
Velek disse. - Sinto muito. Você tem que destruir a aura!
Para os entendidos, naquele caso em especial, era uma forma sutil de emitir uma sentença de morte. Quando a pobre engenheira
de armas foi erguida novamente pela brutal força invisível, encarou Lunis, brilhou novamente
e descarregou outra onda de disparos. A seilan deteve o ataque novamente, um tanto enfraquecido pela debilidade do corpo,
mas compensado por outro incremento alienígena na aura. Criando um potente escudo hemisférico ela manteve o ataque sob
controle, e então deu a ordem definitiva à bola de cristal.
Como um meteoro, ela desceu ao mesmo tempo que disparava um raio vermelho. O disparo abriu caminho pela aura, a própria
esfera atingiu a cabeça de Selia com um impacto fatal. Com parte do cérebro destruído, a aura
falhou irreversivelmente, o que pôde ser compensado por outra dose de energia vital criada pela mente da entidade que
controlava o ataque, porém deteriorando a vítima ainda mais rapidamente.
Seu ataque final foi se lançar contra a feiticeira ao mesmo tempo que tentava gerar outra onda de choque, canalizando toda
sua energia restante numa explosão o mais intensa possível. Mas era o que Lunis esperava, e com
outro disparo penetrou novamente na aura da adversária, rompendo-a definitivamente. Choque que resultou em abruptas convulsões
e descargas elétricas residuais inicialmente fortíssimas, mas que perderam força rapidamente.
A falência definitiva do corpo dissolvera a aura, a canalização fora desfeita, e a mente remota não podia mais sustentar
a conexão, e então, tudo acabou. Toda energia luminosa se desfez, restando apenas o corpo sem vida. Tão intensamente
lesado que não permitiria ressuscitação.
MINUTOS ANTES
- "Pronto Luri! Aí está ele!"- O hipermeta recebeu em sua mente a localização exata do alvo.
A kms de profundidade mergulhado sob uma das cidades fantasmas, se algum ZIG pudesse acompanhar a cena, teria registrado
um dos mais impressionantes feitos metanaturais da história.
Luriander disparava como um torpedo nas escuras águas subterrâneas, passando tão rapidamente
pelas formas de vida luminosas que poderia se pensar que voava por um túnel de luzes difusas. Contornou uma gigantesca
estalagmite submarina e então se deparou com a grotesca criatura. Batizada de IOGSOTOT, aquele cardume de esferas
luminosas era um coletivo de mentes que tinha como função abrir portais para qualquer lugar que pudesse alcançar.
DAMIATE concluíra que enquanto o corpo de Selia, possuído por XUBNIGURAT, fazia uma ligação
mental entre a IANTIS e o planeta, IOGSOTOT usaria isso como guia para saber onde abrir o portal, com o objetivo
provável de enviar uma terceira criatura, NIARLATOTEP, que na verdade já era a maior preocupação de DAMIATE.
Mas o incidente permitia não somente às criaturas do Planeta Fantasma atacarem a frota, também permitiu a localização
exata de IOGSOTOT, visto que abrir um portal espacial pode ser tudo, menos discreto. Com isso,
Luriander voou centenas de kms até estar diante do cardume luminoso, e num disparo fulminante
acabou com a tentativa, desordenando as criaturas e desfazendo o portal que estavam criando.
- "Destrua todos! Nem que seja um por um." - E o RY-3 passou a varrer o ambiente com disparos elétricos que
no caso eram especialmente eficientes. Além de cada tiro e sua subsequente onda de choque fervente eliminar diversas
das criaturas bolha, a água eletrificada cuidava da maior parte do resto. Em segundos a maior parte daqueles estranhos
'peixes' luminosos pereceu, após um longo ciclo de centenas de milhares de anos. Os restantes se afastaram uns dos outros
mas não chegavam a se dispersar. Parecia haver um limite que forçava aquelas criaturas a estarem próximas, e
Luriander os foi destruindo aos poucos, ou melhor, aos muitos.
- "Mudança de planos! Saia daí imediatamente!"
- "Faltam poucos! Posso acabar com eles!"
- "Luri! Por favor! Agora!"
E então o hiper meta obedeceu, dando meia volta e disparando rumo à entrada que o levou direto para uma das cidades
fantasmas. Ele ainda pode notar algo se aproximando extremamente rápido, e teve curiosidade de ver o que era, mas já
havia aprendido que DAMIATE tinha motivos extremamente sérios toda vez que usava a expressão "por favor" ou coisa parecida.
- "De qualquer modo acho que já é suficiente. Os demais parecem..." Dizia telepaticamente o Lorde Mestre do
alto de um dos 'prédios' daquela cidade fantasma, quando parou para respirar enquanto Luriander
pousava à sua frente, e pôde completar a frase oralmente - ...fracos demais para conseguirem se reunir num todo tão poderoso quanto o
anterior. Tivemos sorte, Luri. Esta provavelmente foi nossa última vitória fácil. Daqui
pra frente eles estarão a postos. Mas, de qualquer modo, o único que era mesmo urgente neutralizar era esse.
- Aquele outro que estava vindo era pequeno. Quase do meu tamanho. Acha que pode nos seguir?
- Duvido. De qualquer modo, vamos sair daqui. - E DAMIATE desapareceu num flash.
Luriander disparou rumo as céus, sumindo quase tão rápido quanto. Minutos depois estava longe,
reunindo-se novamente com o Lorde Mestre. No alto de uma isolada montanha.
DESCANSO
Pela segunda vez diversos robôs estavam reparando o interior da IANTIS, que ainda sequer havia se recuperado do estrago
anterior. Embora a pobre Selia não tivesse sobrevivido, os líderes da frota, incluindo o recém
recuperado Velek, concordaram que Lunis havia salvo a todos desta
vez, e concordaram em reconsiderar a situação anterior da explosão da esfera de cristal, afinal os servos da feiticeira
estiveram sob forte tensão e pressão telepática, e sua paranóia era justificável.
Servos estes que, finalmente, estavam agora reunidos à sua senhora em seus aposentos. Tiveram um breve momento de descanso,
e Lunis confessou a eles tudo o que acontecera. Lastimou a incrível ironia da situação, nunca
antes uma feiticeira seilan tivera a oportunidade de estar perto de Luriander e
Zentaris ao mesmo tempo. Parecia até uma artimanha do destino, querendo induzi-la a desistir
de sua pretensão original de conhecer Madre-Terra, capturar ao menos um deles e voltar para Seila como uma heroína.
Seus servos, como não poderia deixar de ser, apoiariam incondicionalmente qualquer que fosse sua decisão, mas ela sabia muito
bem que se tentasse qualquer coisa naquela situação despertaria imediatamente a reação de DAMIATE, que inequivocamente a
destruiria. Poderia ela resistir? Poderia enfrentar DAMIATE? E se conseguisse dominar algum dos hipermetas?
Em outra circunstância talvez ela tentasse, mas naquela situação não parecia prudente. O Planeta Fantasma conseguia ser
bem mais assustador que o próprio DAMIATE, e aquelas criaturas monstruosas certamente exigiriam uma combinação de forças
formidável para serem confrontadas.
Mas agora ela pretendia relaxar, recarregar suas energias com seus servos, curtir o breve momento de paz. Descançar.
Ela gostaria de evitar, mas tinha que concordar que teria de voltar a NOVITA-5. Havia até uma componente pessoal envolvido.
Uma retaliação contra a criatura que a atacara e aprisionara, KUTLIU. E além do mais, diante de oponentes tão
poderosos, quem poderia garantir que talvez até DAMIATE não pudesse ser destruído, quer dizer, temporariamente, como sempre.
Isso poderia deixá-la sozinha no planeta com os cobiçados hipermetas, enquanto uma frota seilan vinha a caminho.
De um modo ou de outro, ela sentia que estava prestes a entrar pra história, e talvez o destino lhe sorrisse de um modo
imprevisto. Ela voltaria, com seu já amigo Dalmana, e talvez Viuik.
Não. A dobuk certamente não quereria ir. Mas Lunis, de repente, gostaria muito que ela também
fosse. E durante um bom tempo não conseguia tirar da cabeça a idéia de convencê-la.
NOVA MISSÃO
Mais de um biociclo depois, a feiticeira e o antróide estavam prontos para partir. Iriam a bordo da PROMINUS, protegida
por duas Adagas Espaciais controladas por SEDNA, e rodeada por 28 novos ZIGs, que foram desta vez produzidos com
configuração predominantemente militar, e não exploratória, o que os tornava imunes a tentativas típicas de usurpação de
controle por meio de códigos não autorizados.
Embora a PASTOR-6 não pretendesse se retirar do sistema, mantinha um progressivo e lento afastamento de modo a tornar
o ambiente mental mais seguro, seguindo recomendações de Velek e do outro telepata cinzento,
que também se recuperara sem danos permanentes. Mas ao menos uma das recomendações de DAMIATE foi aceita, a produção em
massa de Adagas Espaciais, que ficariam sob controle da SEDNA, e ZIGs de combate mais poderosos, além de algumas
Zarpias que seriam enviadas junto com a nave que desceria Lunis e Dalmana
no planeta.
Viuik, nos breves momentos em que esteve consciente, manifestou claramente não estar disposta
a voltar ao Planeta Fantasma, embora algo em seu íntimo lhe dissesse fortemente que deveria ir. O medo, porém, falou mais
forte, e preferiu enfrentar a estranha sensação de estar fazendo algo errado, não indo, do que a sensação horripilante
de adentrar novamente aquele que era, nas palavras dela, um mundo de horrores.
Apesar disso mostrara bons sinais de recuperação, assim como vários outros membros da tripulação, em especial os amotinados
liderados por Jerok, que agora pareciam ter consciência da absurdidade de seus atos, embora
alguns ainda não conseguissem se livrar da sensação de que fariam tudo de novo pela seilan. Era claro que aquela situação
era excepcional demais para merecer procedimentos jurídicos convencionais. Provavelmente, todos seriam julgados somente
em Madre-Terra.
O triunvirato que liderava a frota parecia recuperado novamente, e plenamente consciente da situação. Sentiam-se mais
seguros, por um lado, pela presença de 4 novas Espadas Espaciais, as madre-terrestres TARANIS e ORORO, e as klumans
ZABURI e XARAM, embora a alma de sua tecnologia fosse também Madre-Terrestre. A ANGRA, a nave fábrica da frota, não
podia produzir Espadas Espaciais, pois embora pudesse montar a maior parte de sua estrutura física, não dispunha de
recursos para construir seu complexo processador holográfico inteligente não mental, sem a qual uma Espada Espacial
não passaria de uma Adaga de tamanho mais avantajado, tão 'inteligente' quanto qualquer calculadora pode ser.
Mas os líderes, por outro lado, também estavam muito ansiosos devido a aproximação da frota seilan, que provavelmente já
havia emergido do hiperespaço no extremo oposto do sistema. Tudo isso apenas apressou a partida na nova expedição de
dois exploradores que se juntaria a DAMIATE, Zentaris, Luriander e,
com sorte, Cemilion e Irig, que estavam desaparecidos no planeta.
As despedidas não puderam ser demoradas, Lunis e Dalmana estavam
mais ansiosos do que poderiam, sem esconder um notável temor, mas também uma inequívoca curiosidade.
Randol insistira para ir, mas não foi autorizado, e quando a PROMINUS partiu, escoltada
pela SEDNA, as Adagas e os ZIGs, as demais 4 Espadas ficariam para trás encarregadas da defesa da frota juntas com dezenas
de outras Adagas e um batalhão de ZIGs.
INTERLÚDIO
E é a partir daqui que este grande evento da exploração espacial mergulha mais profundamente em mistério, pois embora
os relatos até então tenham sido comparados, averiguados e escrutinados de modo a serem vistos como altamente fidedignos,
no momento em que os exploradores partiram de volta ao Planeta Fantasma, tudo passou a ser mais nebuloso. Na verdade,
a partir da simples presença do hipermetanatural conhecido como RY-3 os eventos começam a sofrer alguma redução no grau
de precisão e mesmo de confiabilidade.
Os eventos ocorridos no interior do Planeta Invisível, que veremos a partir do próximo capítulo, embora descritos em
detalhes, ainda estão sujeitos a investigações. O início do ano 673 da Idade Pós-Dourada de Madre-Terra foi marcado pelo
anúncio da grande descoberta do primeiro Planeta Primordial, apenas para posteriormente dominar uma grande frustração
pela escassez de informações claras sobre tão magnífica descoberta.
O Conselho Octal de Madre-Terra, num momento de exceção, precisou se reunir e deliberar a respeito da possibilidade de,
pela primeira vez em mais de 400 anos, impor algum tipo de regulagem de informações em grande escala, tamanho foi o
grau de especulações, expectativas, e mesmo apreensão com as fragmentadas e distorcidas informações que inundaram a Infosfera.
Marcus Valerio XR
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Zarpias são o equivalente atmosférico das Adagas Espaciais. Pequenos aviões automáticos para operações em ambientes
atmosféricos densos e de alta gravidade. Que podem também ser acompanhadas por ZIGs. As primeiras Zarpias de Madre-Terra
foram criadas pelo próprio DAMIATE, que ajudou a consolidar seu poder sobre o planeta com um poderio aéreo que dispensava
qualquer tipo de tripulante. Por serem sempre subordinadas a computadores centrais dos sistemas de defesa, não necessitam
tomar decisões muito complexas, tal como os ZIGs e as Adagas, por isso não costumam ter computadores mentais, não sendo
vulneráveis à telepatia, mas ao mesmo tempo, sendo sempre dependentes de um controle mais inteligente, que pode ser
feito por um comando remoto sensciente, ou pelas próprias Espadas Espaciais.
O Teletransporte Espacial Mentônico é um dos mais raros dons Metanaturais existentes, tendo sido claramente observado em
antropônicos apenas em 3 ocasiões registradas, sendo uma delas, porém, o próprio DAMIATE, que não é exatamente um antropônico
apesar da aparência. Dos demais, um foi o lendário Xonhu Uing (401-554), que embora nascido em Madre-Terra, viveu a
maior e última parte da vida em Sofistia, e atualmente Anateli Xanandra (631-), vulgarmente conhecido como Teli,
membro da grupo de elite de Super Metanaturais da Cidade Utópica de Bel-Lar, em Madre-Terra. Chama a atenção o fato de que
todos possuem Espectro de Aura Branco com expressivo decaimento Violeta, ou, no caso de DAMIATE,
Rosa, que são em geral visualmente difíceis de distinguir. Espectros de aura similares também são
notados em teleportadores de outras espécies, em geral Cinzentos e Metiats, ainda que nesses também se encontre outros
espectros numa minoria de casos.
Embora os motivos da raridade do teletransporte metanatural sejam ainda obscuros, dois fatores seguramente estão estabelecidos.
O primeiro é que para a viabilidade da técnica, o meta natural deve dominar a disciplina astral de Transição Instantânea,
que por si só já é rara. Trata-se de, uma vez tendo-se projetado uma cópia mentônica do corpo físico em torno da mente
livre, fora do corpo, que é a única forma eficaz de se deslocar paralelo ao plano físico, logre-se uma forma de deslocamento
que não é a Condicionada, isto é, aquela que se faz imitando os movimentos típicos do plano físico, como se a corpo astral
andasse, tão pouco o deslocamento livre, que se faz mediante ao equivalente a um vôo de velocidade indefinida.
A Transição Instantânea exige que o corpo astral se mova de um ponto a outro numa "velocidade" zero, se transferindo de um
local ao outro, em geral já conhecido, instantaneamente. Embora a transição instantânea nem sempre seja necessária no ato
do teletransporte, aliás em geral não é, seu domínio é largamente expressivo em todos os teleportadores conhecidos, qualquer
que seja a espécie. De certa forma, pode-se dizer que o teletransporte envolve uma breve viagem astral do corpo, saindo
de seu local original e se movendo para o local de destino, e então "fixa" o ponto de saída do portal espacial temporário
que realiza a operação de transporte do corpo. O que nos leva ao segundo fator.
O teletransporte metanatural é, quase sempre, feito por meio de um pequeno portal espacial temporário criado pelo próprio
metanatural. Em astral, o metanatural viaja até o ponto de destino, estabelecendo a 'entrada' e a 'saída' do 'túnel'
hiperespacial, então um portão é gerado movendo-se rapidamente pelo corpo físico e jogando-o na 'saída'. O processo
porém é feito de forma quase instantânea, intuitiva, de modo que o teleportador praticamente nem percebe que viajou em
astral, muitas vezes promovendo uma transição instantânea direta do corpo físico para o local de destino, ativando
imediatamente o portal e puxando o corpo, tudo isso numa fração de segundo. A capacidade de produzir tal portal é da ordem
da manipulação de Espaço, uma das duas manifestações da Força-Y, a propriedade fundamental de repulsão do universo.
Uma habilidade, por si só, também é rara.
Outro motivo que contribui para a raridade do fenômeno, mesmo entre os metanaturais de outras espécies, é o grau de fatalidade
que um mau uso pode causar. Inicialmente o teleporte costuma estar restrito à área de visão do metanatural, e depois entre
lugares que está mais acostumado, e muitas vezes pode se dar de forma descontrolada, levando a um lugar diferente do
esperado. O simples teleporte de um local ao nível do mar para outro a milhares de metros de altitude pode ser fatal, bem
como entre locais com diferenças radicais de temperatura. Além disso há também o risco de saída em um local elevado,
ocasionando uma repentina queda inesperada. Outra condição difícil de ser dominada é o teleporte em movimento, pois a
tendência inicial é que o movimento seja conservado, ou seja, teleportando-se de uma nave movendo-se, é comum aparecer
no local também movendo-se, na mesma velocidade original! Muitas fatalidade ocorreram por contingências desse tipo, contribuindo
para reduzir bastante o já pequeno número de metanaturais que dominaram a técnica. Em compensação, o risco de se teleportar
para dentro de objetos sólidos não existe, visto que o portal só pode ser aberto em espaços cujo meios tenha baixa densidade,
e sua abertura, bem como o movimento do corpo, provoca um ondulação ambiental mecânica normal.
Anateli Xanandra, Teli, aperfeiçoou a técnica de teletransporte a um nível jamais visto não apenas entre os antropônicos, mas mesmo
entre os metanaturais cinzentos. Não só desenvolveu meios de controlar teleporte em movimento, como teleportar não apenas
a si próprio e a outros em contado direto, mas também teleportar objetos remotos, e mesmo outras pessoas distantes, embora
em geral isso exija alguma colaboração do teleportado, que pode facilmente impedir o processo simplesmente modulando a aura
de um modo não compatível, o que pode ser feito até por não metanaturais pelo simples desejo forte de não ser teleportado.
Mas o mais interessante é sua habilidade de abrir portais espaciais temporários
entre locais distantes, que podem funcionar como túneis hiperespaciais restritos, em geral, a pontos distintos em um mesmo
planeta. Nenhuma dessas habilidades foi observada em DAMIATE, assim como a curiosa anomalia deste de não ter uma estatura
física definida, e sim estar sempre crescendo e só diminuir, como tem sido observado, por meio de sucessivos teleportes, ou
outras formas de desgarrego de aura. Isso significa
que DAMIATE consome uma quantidade assombrosa de energia vital para se teleportar, o que não parece acontecer com Teli, o
que sugere que este seja um super meta no limiar na Hiper Metanaturalidade, e ao mesmo tempo uma singularidade.
A estatura variável de DAMIATE é resultado da incompatibilidade de seu corpo astral com seu corpo físico, que é forçado a
constantemente a se expandir.
Deve-se distinguir também o teleporte espacial, ou hiperespacial, de noções de teleporte de partículas, que se dariam mediante
a desintegração do corpo original, sua emissão via raio de energia e sua reconstrução posterior. Este último caso, porém,
há que ser considerado um pseudo teletransporte, visto que o resultado na saída não pode ser rigorosamente contínuo ao
objeto inicial, ao menos não tanto quanto ocorre com o teleporte espacial. Neste, o objeto é apenas movido de lugar, no outro
caso ele é completamente "destruído", e então "criado" um novo, ainda que usando parte da matéria original, num formato
equivalente. Por analogia, digamos que temos 4 letras de madeira formando a palavra "aura", então a desmontamos e a remontamos,
porém, com os "a" trocados de lugar. O resultado final seria perfeitamente equivalente, mas não seria materialmente idêntico
ao original. Essa noção ajuda a explicar porque o teletransporte de partículas só é funcional com objetos simples, em geral
peças sólidas de substâncias inorgânicas, sendo inviável com organismos mais complexos além de possuir o agravante inevitável
de que seres vivos são mortos no processo de teletransporte, pela icontornável destruição de sua aura vital. Além disso,
não havendo qualquer tendência espontânea da matéria a reassumir sua configuração específica anterior, ela deve ser
reconstruída passo a passo, exigindo uma dispendiosa capacidade de processamento e engenharia. Mas o ponto que mais torna
a teleporte de partículas praticamente inviável é o simples fato de não haver diferença qualitativa nenhuma entre reconstruir
o objeto usando parte de sua matéria original, ou usando matéria inteiramente distinta da original, de modo que não ocorre
um teletransporte real, e sim apenas a produção de uma cópia do original, o que, por sua vez, torna desnecessária a
desintegração do objeto prévio. Principalmente por esses motivos, o teleporte de partículas praticamente caiu em desuso,
sendo em todos os casos substituído pelo teleporte espacial. Um dos poucos motivos pelo qual ainda há interesse em sua
pesquisa seria devido a alguns metanaturais supostamente terem apresentado essa capacidade, ainda que de forma restrita,
isto é, não se desintegrando completamente, mas sim entrando em estado similar a hiper vibração molecular, de modo a se
tornarem "fluidos". As feiticeiras seilans hipermetas dominam uma técnica de hiper vibração que as permite viajar no
espaço, munidas apenas de suas bolhas cristalinas, à velocidades próximas da luz, podendo então cruzar portais naturais.
Capacidade similar pode estar por trás da suposta teleportação de partículas metanatural. Nesse caso, não há, evidentemente,
uma desintegração, mas sim um flexibilização capaz de permitir um deslocamento à velocidade quase luminal. Tal técnica,
porém, seria apenas uma possibilidade teórica, jamais devidamente observada, sendo rara até mesmo sua alegação.
Além das habilidades metanaturais, também existem técnicas naturais para abertura de portais espaciais, por meio de
dispositivos similares ao dos Anéis Espaciais, que no entanto podem abrir o portal destino num local específico sem
a necessidade de um terminal de saída. A civilização que mais se especializou no uso desses portais é a Gaiol, e o planeta
Hexandria, no sistema Polaiga, onde seu uso é mais difundido. Na maioria dos outros sistemas os Portais Livres, como são
chamados, são severamente restritos ou mesmo totalmente proibidos, devido aos inúmeros efeito colaterais indesejáveis que
causam no ambiente, como interferências eletromagnéticas fortíssimas, distorções nas Instantes Naturais, tempestades,
danos no campo vital, transporte indevido de microorganismos para outros ambientes, que podem resultar em desequilíbrio
ecológico, contaminações, e toda uma gama de prejuízos que mesmo tendo tanta potencialidade, a tecnologia termina por ser
desvantajosa. Na maioria dos locais onde é permitida, o é somente no espaço, e qualquer uso dentro da atmosfera ou na
superfície de planetas deve obedecer regras criteriosas, como pressão atmosférica similar entre o destino e a origem,
e equilíbrio de forças gravitacionais equivalente. O alcance também é limitado, a maioria dos sistemas conhecidos permitem
a abertura de portais destino cerca de 30 mil kms distantes do gerador fonte, cujo formato é basicamente o mesmo de um
Anel Espacial em escala menor.
A capacidade de Hiper Metas de voar no espaço está sempre sujeita a uma curiosa indefinição. Sua velocidade máxima.
A princípio, parece não haver empecilho para aceleração contínua até o velocidades quase luminais, mas o imenso consumo de
energia e o tempo dispendido costumam ser inviabilizantes. As únicas hipermetas que seguramente voam no espaço a velocidades
próximas a da luz são Seilans, uma técnica praticamente única jamais observada em outros hipermetas de qualquer espécie,
embora envolva não apenas metanaturalidade, mas também alguns artefatos físicos. Os Anjos Estelares jamais foram vistos
ultrapassando velocidades superiores a um décimo da velocidade luminal, mas isso ocorre principalmente porque sempre
é mais cômodo e prático usar naves com devidos sistemas de Hiper Vibração, que no caso dos hipermetas, ainda tem a vantagem
de não exigirem complexos sistemas de suporte vital, tornando-se muito mais compactas e baratas, ainda que a maioria deles
prefira tê-los, por comodidade e segurança.
Não existem sequer alegações ou projeções teóricas sobre viagem hiperespacial por metanaturalidade, o que apenas reforça o
mistério por trás do método, aparentemente descoberto ou inventado por Zentaris, para viajar
entre dois sistemas estelares com estrelas muito similares uma à outra. Provavelmente trata-se de uma aplicação do princípio
básico de que portais são mais facilmente abertos, ou encontrados, entre dois locais que estejam submetidos à mesma
gravitação resultante, isto é, reúnam as mesmas características de atração por astros equivalentes. Assim, em tese, seria
possível produzir um portal entre a Madre-Terra e sua Lua, para um outro sistema estelar de estrela com massa equivalente ao
Sol, entre um planeta de massa equivalente à Madre-Terra e um satélite de massa equivalente à Lua, levando em conta inclusive
a influência gravitacional de outros astros significativos no sistema. O problema principal é que tais configurações
costumam variar largamente, o simples movimento do satélite em torno do planeta pode abalar a equivalência gravitacional
entre os dois pontos do portal. Por isso mesmo, a teoria prevê que o local mais seguro para tentar abrir, ou achar um portal
entre dois sistemas parecidos seria o interior das estrelas, sendo óbvio o motivo de porque tal teoria jamais pode ser
testada. Somente um hipermeta poderia arriscar voar até o núcleo de uma estrela, e mesmo assim não é seguro que isso seja
possível, bem como o destino sempre teria uma margem de erro. Dois fatores influenciam a ligação, o grau de similaridade
gravitacional entre os sistemas, e a distância entre eles. Sistemas menos similares podem ficar interligados em detrimento
de outros mais similares pelo simples fato de estarem mais próximos entre si, ou vice versa. E possível até mesmo que
em alguns casos o destino possa mudar, devido a flutuações de similaridade gravitacional. Em compensação, da mesma forma
que ocorre com os portais espaciais semi-estáveis, um grau de similaridade elevado poderia interligar dois sistemas estelares
em extremos opostos da galáxia.
INFOSFERA é a rede de informação que circunda planetas desenvolvidos como Madre-Terra, que tem na remota Internet um ancestral
quase irreconhecível. A camada eletromagnética de informações é independente, permanecendo mesmo que toda a estrutura
física seja destruída, só precisando de sistemas compatíveis para ser resgatada. A cultura de algumas civilizações extintas
pode ser grandemente reconstruída pelo fato de seus planeta possuírem infosfera, mesmo que praticamente qualquer resquício
material de sua existência tivesse sido eliminado. Infosferas também costumam ser virtualmente indestrutíveis, mesmo para
sistemas I.C.E. vastamente poderosos.
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