PLANETA FANTASMA - Capítulo 05 - Marcus Valerio XR
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MITOS

Apesar de mais de 250 pessoas viverem dentro da IANTIS, há pouco contato pessoal direto, visto que a maior parte dos residentes costuma passar bastante tempo em seus aposentos, fazendo largo uso de seus sistemas de comunicação e de telepresença, ou usando simuladores ambientais.

Randol não era exceção. Do tipo pacato, literato, costumava passar bastante tempo sozinho, com suas pesquisas, cuja especialidade era literatura antiga. Estivera, no entanto, acompanhando atenciosamente os eventos, particularmente fascinado com a cidade fantasma, e com uma sensação fortíssima de que aquilo lhe remetia a algo da antiga literatura.

Pesquisara arduamente tentando se lembrar de onde vinha essa impressão, e após bastante tempo concluiu que deveria ser algo do Século XX, de fontes não acadêmicas, com quase toda certeza. Foi num sonho que obteve uma iluminação. Acordou de súbito e começou a procurar em seus arquivos até que simplesmente pediu ao sistema para lhe voltar resultados de autores, livros ou outras fontes quaisquer, relacionados a uma série de dados que decidiu compilar, envolvendo mitos antigos, místicos ou fictícios que, faziam alusões a grandes civilizações antigas e perdidas, dando destaque especial para seres gigantes que pudessem se adequar melhor àquela cidade desmedida. Juntou também informações a respeito de mensagens em sonhos, ligação com pesadelos, e a idéia de que o mundo onírico permitia uma comunicação privilegiada com o universo misterioso de divindades antigas.

O sistema listou diversas fontes em ordem alfabética, até que Randol ficou intrigado ao ver uma pequena sequência de nomes com a iniciais H.P. Num estalo, achou que se lembrara de algo, e então examinou os dados com mais cuidado. Começou então a descobrir uma série de coincidências estranhas, que interligavam os dados de modo incrivelmente coerente.

Se por um lado tinha a impressão que estava seguindo uma pista fantasiosa, como se visionários pré-DAMIATE pudessem dizer alguma coisa válida sobre os mistérios espaciais que a humanidade vinha desvendando há séculos, por outro tinha a forte intuição de que ao juntar tais peças, teria uma revelação que ainda que por pura coincidência, poderia ser útil ao menos para escrever uma boa estória.

Após muito tempo, porém, passou a desanimar, achando que estava sonhando muito alto em suas especulações. Foi então que começaram a vir as notícias mais perturbadoras. O acidente que acontecera com a bela seilan, as brigas a bordo da PROMINUS e agora a notícia de que parecia haver uma escaramuça a bordo da GENIUS. Mesmo com tudo isso, recebera as últimas informações transmitidas do planeta, inclusive imagens do mar subterrâneo, algumas das quais já haviam sido otimizadas pelos klumans encarregados das pesquisas biológicas.

Foi com uma sensação equivalente a ser virado do avesso que fitou a assombrosa figura tridimensional que fora construída a partir de uma fugaz imagem de uma criatura aquática de proporções dignas de um leviatã, e então toda a sua pesquisa anterior lhe voltou a cabeça, se encaixando como uma luva no que ele via.

Não podia esperar mais, tinha que ser atendido pelos dirigentes da missão. Se não estavam respondendo, ele mesmo iria até a GENIUS levar a informação, não importava que confusão estivesse havendo lá. Reuniu todos os seus dados e saiu para o jardim cilíndrico. A passos rápidos e nervosos, notou ao longe uma pequena e anormal concentração de pessoas próxima a uma fonte de água.

Parou para olhar e não conseguia imaginar um só bom motivo de porque algumas pessoas haviam decidido que era uma boa idéia brigar justo na frente de um antróide de segurança. A situação parecia ter saído ainda mais de controle, quando uma mulher usou um disparador de micro-mísseis, certamente não autorizado, e atirou contra o antróide, que ao se defender, desviou uma chuva de disparos rumo a um ponto obscuro abaixo de algumas árvores, ao alto. Isto é, que estavam cerca de 120 graus cilindro acima.

Foi uma surpresa total quando no ponto onde os disparos foram parar, ocorreu uma violentíssima explosão de luz branca.

NAVES DE RESGATE

Dalmana e Viuik matinham os olhos ocupados, tanto com o céu, vagamente iluminado pelas nuvens iônicas, quanto com o solo, que poderia trazer de volta as assustadoras criaturas. Na verdade, só o antróide realmente observava os dois, a dobuk estava tão assustada com a possibilidade de que aqueles seres se aproximassem, que mal escondia o fato de estava pronta para voar imediatamente.

A conversa entre os dois foi tensa, primeiro ele recapitulara a saída da cidade abandonada, o raio, a queda, o pouso forçado, o ataque das criaturas, o ZIG salvador e os ZIGs inimigos. Agora era a vez dela explicar o que acontecera no mar subterrâneo, o que só fez depois de reclamar muito do frio intenso, apesar de não haver neve.

- Eu não sei ao certo. Foi muito rápido. Estava examinando algumas criaturas luminosas por sobre uma enorme montanha submersa. Só que não era uma montanha. Ela se mexeu. Era uma coisa enorme! Eu... Nem dá pra descrever.

- Era comprida como um dos Leviatãs de Neptunia, ou mais larga, como uma das Grandes Arraias de Dolphus?

- Era... Mais larga. Mas não parecia uma arraia. Eu posso jurar que ela tinha uma... Face. Mas não vi direito. De repente um monte de vozes começaram a falar na minha cabeça. Me senti como se estivesse delirando. Até que não aguentei e... Acordei aqui.

- Como se fosse um ataque telepático?

- Talvez... Isso explicaria o que aconteceu com Lunis, não? Ela deve ter sentido também, só que como ela é telepata, deve ter reagido. Mas alguma coisa me diz que aquelas... Mentes, eram fortes demais para serem detidas... Já sofri ataques telepáticos antes, mas nada que se comparasse a isso. Foi muito... Profundo.

- Talvez a seilan tenha sofrido um ataque mais violento e então... Olhe!

Uma pequena nave automática se aproximou e pousou à frente deles, acompanhada de um ZIG. Abriu a porta e saíram dois robôs de resgate. A nave comunicou: - Por favor exploradores. Tenho ordens de levar somente a seilan. Outra nave já está a caminho para resgatar vocês.

Viuik quase gelou de susto. Então ainda não seriam resgatados? Teriam que ainda esperar ali, à mercê das criaturas. Protestou duramente, mas a nave foi inflexível. Fez menção de adentrar à força, mas os robôs e o ZIG deram "apoio moral" à nave, que insistiu que outra nave de resgate chegaria em poucos minutos. - Então que o ZIG fique aqui conosco! - Exigiu.

Dalmana olhou para ela e pensaram a mesma coisa. Talvez os ZIGs fossem ainda mais perigosos, visto haver algum tipo de anormalidade em sua programação. Mas aquele, embora idêntico a todos os outros, evidentemente estava seguindo o programa normal, e se o antróide achava que os ZIGs eram muitíssimo mais mortíferos do que os monstros nativos, a dobuk preferia morrer num disparo de laser do que enfrentar aquelas criaturas.

A nave consentiu. Os robôs colocaram a seilan no interior delicadamente, e o ZIG permaneceu com eles enquanto a nave sumia no céu.

O antróide havia conseguido reajustar o comunicador da dobuk, mas por mais que tentasse não conseguia se comunicar com a GENIUS. Poderia ser devido a uma anormal atividade tempestiva nas nuvens, mas desconfiava que podia ser algo mais sério.

Num momento, pensaram ter visto movimentos ao longe, entre as rochas, e logo se prepararam para o pior. Mas o ZIG estava atento, o que os tranquilizou. Foi um alívio quanto outra nave surgiu ao longe, pousando suavemente e os convidando para entrar. Finalmente, protegidos no interior do veículo, decolaram, e puderam ver abaixo o aspecto medonho do ambiente em que estavam, incluindo sinais nítidos de coisas se movendo.

Os ZIGs tinham uma vasta autonomia de vôo, mas sua velocidade máxima era baixa. Em torno de 300m/s. No entanto, possuíam a capacidade de se ancorar magneticamente em qualquer outro veículo, se deixando rebocar como se fossem puxados por um elástico, enquanto mantinham sua capacidade de movimento em torno do veículo.

Por isso os exploradores estranharam muitíssimo quando o ZIG, que vinha acompanhando a nave calmamente, de repente sumiu, como se tivesse desligado sua atração magnética.

Dalmana pressentiu o pior, e mau teve tempo de abrir a porta quando a nave foi atingida. Foi muita sorte que o casco tenha recebido a maior parte do calor. Os dois saltaram em queda livre enquanto um segundo disparo reduziu à nave a frangalhos flamejantes.

E então, despencaram dos céus.

POUCO ANTES...

- Por Xantai! Sejam razoáveis! Não podemos deixar eles lá! Aquelas criaturas são perigosas e já os atacaram! - Taulin Começava a perder a paciência. E discretamente manipulava um pequeno objeto sob suas vestes.

- O antróide não é um ser vivo! E a outra pode voar! - Respondeu um dos seilans. - O que importa é a segurança da minha Senhora! Não confio nos outros!

Eli apaziguou a situação. - Temos duas naves próximas. Mandamos a primeira resgatar Lu... - Os seilans olharam feio. - A Senhora Lunis primeiro. A outra pega Viuik e Dalmana. - Taulin, e os seilans pareceram ter ficado mais tranquilos, mas a situação beirava a insustentabilidade.

- Muito bem! Mas com uma condição! - Exigiu. - Liberem os ZIGs agora!

Os rapazes se entreolharam. - Não depende de nós! Ele... - Então um dos operadores anunciou. - Descobri. Os códigos de controle dos ZIGs foram usados pelo engenheiro da segurança eletrônica. Samuel Jerok. Na verdade só mesmo ele teria essa engenhosidade.

Jerok!!! Ele enlouqueceu!? - Indignou-se Taulin.

- Eu sabia!!! - Gritou Filia, que já havia perdido a paciência há muito tempo. - Trazer uma seilan à bordo foi loucura! Ela enfeitiçou Jerok, e quem sabe mais quantos!

- Ela nada fez! - Gritou um dos rapazes arianos. - Nunca chegou perto dele! Ele que quis vir a nós!

- Que seja! Contate Jerok, ordene ele que libere todos os ZIGs que reprogramou. E se ele não voltar a si... - Olhou então para os seilans. - Acho melhor que vocês o convençam!

- Não nos dê ordens!

- Escute rapaz! Eu estou sendo paciente com vocês porque a situação é delicada. Não sabemos o que houve com a sua Senhora e é por isso que estou tolerando isso. Mas que fique...

- Oh não!!! - Gritou uma das operadoras. - Alguma coisa explodiu na IANTIS!

Os seilans se olharam perplexos, e foi a deixa perfeita. Num breve sinal para as pessoas certas, Taulin dirigiu a ação. O refém que tinha uma lâmina no pescoço reagiu e Sonija aplicou um golpe no rapaz. A reação dele foi rápida, e se virou para contra atacar, mas ao ver a mulher ele hesitou. Os homens seilans respeitam mulheres num grau muito elevado para conseguirem se livrar da hesitação em ferí-las, e houve tempo suficiente para que dois outros tripulantes o desarmassem.

Então Taulin ativou a instrução discreta na qual vinha trabalhando. A GENIUS subitamente parou de girar e o suave efeito de simulação gravitacional por centrifugação foi substituído por um baque, voltando a girar logo em seguida gerando outro baque, e trazendo a pseudo gravidade de volta. Ele próprio avançou sobre o outro seilan, agarrando seus braços e logo outros tripulantes vieram em seu socorro.

Não conseguiram, no entanto, impedir os disparos, a micropremonição, embora não plenamente desenvolvida no rapaz, permitiu uma reação formidável. Um tiro atingiu o teto na grade eletrônica de simulação de imagem, causando um efeito luminoso bizarro que desorientou a todos. O outro atingiu em cheio um dos técnicos. Só então as armas foram arrebatadas, mas a situação estava longe de um controle. Os seilans conseguiram uma contra reação surpreendente. Nem sequer foram confundidos pelo fato de nem todas as pessoas que apareciam estarem realmente ali. Algumas estavam por telepresença. Taulin e os outros que o ajudavam foram empurrados, em parte confundidos pelo vertiginoso efeito colateral que o disparo causara no sistema holográfico. Enquanto isso, o outro ariano se desvencilhou de seus oponentes num movimento gracioso. Se desviou habilmente do golpe manual de um e num contra ataque lhe pôs à nocaute. Então avançou rumo a um dos cristais que havia caído.

Nesse momento, Cemilion percebeu que teria que agir. Teria evitado se pudesse, entrar num luta física com um seilan não contribuiria em nada com as relações SEILA-KLUMAN, mas havia muita coisa em risco. Num movimento rápido ela chutou o cristal para longe e então se posicionou para enfrentar o rapaz. Ele não hesitou muito, era uma mulher, mas era negra, Kluman, do tipo que o seu preconceito não permitiria respeitar.

Ele chutou, ela defendeu desviando a perna e o desequilibrando, então contra atacou com uma joelhada certeira no abdômen. Uma cotovelada direta na têmpora finalizou o serviço, e o rapaz desmaiou. Mas o outro, em parte auxiliado pela confusão que as luzes ainda apresentavam, se apressou na tentativa de recuperar o outro cristal, e devia ter estranhado quando aparentemente pararam de tentar detê-lo.

Previu que havia algo errado, mesmo assim recuperou a arma e se virou para disparar, só então percebeu porque não vieram atrás dele. Sua micropremonição incipiente lhe permitiu antever o choque psíquico, mas não impedi-lo. Velek e o outro telepata, que havia acordado, se organizaram e atacaram em conjunto, numa ofensiva telepática que lhe deixou inconsciente.

Demorou para todos recuperarem o fôlego, os seilans foram páreo duro. Atenderam o técnico que fora gravemente ferido e o levaram para um local onde seria tratado. Só então puderam ouvir as notícias.

- Uma nave já está trazendo a seilan. Outra está a caminho para resgatar Dalmana e Viuik. Mas ainda há ZIGs fora de controle por perto, e Jerok não responde.

- Muito bem. Respondeu Taulin, ativando um canal de comunicação com a Espada Espacial. - SEDNA! Destrua todos os ZIGs que não estejam operando no programa padrão!

A voz propositalmente artificial da Espada, que era programada para analisar a ordem e verificar se cumpriam certos requisitos, respondeu. - O comando está de acordo com os princípios operacionais e foi aceito. Iniciando execução.

- Temos que sair do campo invisível e ir até a IANTIS! - Disse Filia, obtendo concordância imediata dos demais. - Podemos deixar a PROMINUS encarregada de resgatar os exploradores.

- Devemos então partir para a PROMINUS. - Interveio Velek, se referindo também ao outro telepata. - Cremos que Lunis deve ter sofrido um estresse telepático severo e necessitará de tratamento imediato. Mesmo que ela tenha abandonado SEILA, se alguma coisa acontecer a ela...

- As Seilans vão exigir satisfações rigorosas! - Completou Taulin. - É. Eu sei. Vão. E levem esses aqui. Já não basta o problema que tivemos com eles. Se ela morrer...

- Nós vamos estar em apuros. SEILA não fica muito longe daqui. - Completou Irig. Sua irmã, por sua vez respondeu que Kluman ficava quase à mesma distância, mas ele treplicou. - Mas elas são mais rápidas.

- Já restauramos o sistema holográfico. Não há danos maiores. Mas o estrago na IANTIS foi grande. - Interveio um dos operadores. - A explosão abriu um rombo na seção habitacional principal, o escudo hemisférico não está conseguindo impedir o escape da atmosfera. A ANGRA já está se aproximando para ajudar nos reparos. Mas a situação é... Espere, acabamos de detectar um objeto não identificado vindo direto da estrela.

- Deixe-me ver. - Assumiu Eli. - Estranho. Pequeno demais para ser uma nave. Rápido demais para um ZIG.

Sonija então apareceu. - Os seilans já estão acomodados e sedados e foram levados junto com os telepatas. Mandamos dois robôs de segurança. Dessa vez eles não poderão nos surpreender.

- Muito bem. Vamos sair daqui. Só espero que essa coisa se aproximando não seja mais um problema. SEDNA. Após terminar de executar o comando saia do campo de invisibilidade e compareça à IANTIS.

- Comando de acordo com os princípios operacionais e inserido na fila de operações. Execução prevista em 217 segundos.

DAS ALTURAS

Viuik não abriu suas asas, pelo contrário, as fechou ainda mais e se posicionou de modo a acelerar sua queda. Com isso sua velocidade aumentaria muito, aumentando também a chance de escapar do ZIG, bem como dos destroços da nave que ainda ardiam. Dalmana pensou a mesma coisa, e agiu de forma parecida. Se a dobuk tivesse aberto as asas seria um alvo enorme. Mesmo assim, o antróide havia calculado que a esperança era pouco realista. A única coisa que lhe garantiu aqueles poucos segundos foi a explosão da nave, que deve ter atrapalhado o ZIG, bem como umas nuvens mais densas que poderiam estar lhes dando cobertura.

Eles se comunicaram visualmente, e não demoraram a perceber que teriam mais chances caso se separassem, e tentaram ir, cada um, em direção diferente. Todo o esforço, porém, foi vão, e no fundo eles sabiam disso. Mal saíram de uma nuvem densa e avistaram o ZIG abaixo deles. Havia dado a volta para para se desviar dos pedaços da explosão, e agora estava em posição ideal que abatê-los sem dificuldade alguma. Nada poderia ser feito, por eles.

Então um feixe intenso simplesmente desintegrou o ZIG numa explosão tão rápida que não foi possível sequer ver os destroços. Foram pegos por uma onda de choque relativamente suave, que não os feriu mas os fez rodopiar, o suficiente para notarem que as nuvens acima, iluminadas tanto pela tempestade que cercava a cidade fantasma abaixo quanto pela luz residual das explosões, estavam "perfuradas". Era óbvio. A Espada Espacial os salvara.

Mas se a morte certa fora evitada, ainda havia a provável, e a Espada não poderia descer para resgatá-los. Então a dobuk finalmente abriu as asas e começou a planar suavemente. O antróide ativou o que restava de seus sistemas antigravitacionais, mas apenas diminuiu a velocidade da queda.

Era suficiente. A dobuk o alcançou, e com seu peso reduzido e um esforço e força de vontade notáveis, pode reduzir a velocidade da queda a um nível não letal. Mas isso, por sua vez, não era suficiente para resolver o outro problema.

Abaixo deles, as estranhas criaturas começaram a surgir em número assombroso. Não haveria onde pousar. Estavam por toda parte, aparentemente atraídas pelas explosões. Viuik ainda poderia voar mais um tempo, sozinha, mas isso significaria abandonar seu companheiro.

Tomaram, então, uma decisão. A cidade fantasma ainda estava ali, ao lado deles, protegida pelas nuvens carregadas. Podia ser assustadora, mas afora a coisa que havia kms abaixo, no oceano subterrâneo, não parecia haver nada que os pusessem em perigo imediato lá. Entre a ameaça dos monstros da superfície e a das nuvens de tempestade preferiram a segunda.

Ela então desviou, e com seu companheiro adentraram as traiçoeiras brumas, de volta ao misterioso local de onde haviam saído há pouco.

DESESPERO E ESPERANÇA - I

Por um momento Jerok achou que tudo estava perdido. Acabara de conseguir reprogramar seu último ZIG apenas para vê-lo destruído por SEDNA, a Espada Espacial, a então foi finalmente rastreado pelos computadores da PROMINUS, que só estavam esperando que ele acessasse algum sistema de novo para o bloquearem definitivamente.

Estava na pequena nave que fugira da GENIUS pouco antes da confusão começar. Tinha controle total dos sistemas e não havia chance de perdê-lo, mas agora também não teria chance alguma de ganhar o controle de outro sistema qualquer. Todos os seus códigos e suas assinaturas operacionais haviam sido bloqueadas. Sua sorte é que SEDNA estava ocupada destruído os últimos ZIGs que ainda poderiam lhe ajudar. Assim que terminasse, provavelmente viria atrás dele, o atingiria com um eletrolaser, paralisando-o, e o rebocaria para a GENIUS.

Tinha porém, uma esperança. Podia ficar entrando e saindo do campo de invisibilidade. Sempre se ocultado de um dos lados, e escapando por alguns momentos. Talvez o suficiente para pensar em outra atividade. No entanto, assim que saiu dos limites do Planeta Fantasma, recebeu a saraivada de novas informações sobre a trágica situação. Não sabia como a bola de cristal seilan havia explodido na IANTIS, mas podia ser providencial, pois a ANGRA estava lá perto, trabalhando.

Se lembrou então de um programa que havia deixado no sistema da ANGRA, para produzir novos ZIGs já programados para agirem em seu favor. Então apenas acessou alguns dados que, ao serem visualizados numa certa ordem e peculiaridade, ativaram o programa oculto. Mesmo naquela situação, a ANGRA podia construir um ZIG completo em menos de um minuto, então passou a produzi-los totalmente fiéis a Jerok.

Não duraria muito tempo, provavelmente descobririam e deteriam a produção, mas ele esperava ter ao menos um dezena deles antes que isso acontecesse. Só torcia para que a SEDNA demorasse um pouco mais no planeta, pois poderia destruí-los em segundos.

Deixou outra instrução oculta que só seria compreendida pelos seus ZIGs, e quando sentiu que havia sido notado pela GENIUS, que acabara de sair do campo de invisibilidade, ele voltou, sumindo de vista da nave capitânia. Seu objetivo agora e ficar se escondendo até ter ZIGs suficientes para cercar e ameaçar a PROMINUS, contando com a possibilidade da SEDNA sair do campo invisível para ajudar a IANTIS, ou talvez receber o estranho objeto que se aproximava vindo da estrela.

Só depois de entrar de novo no campo do planeta, pode observar melhor algumas mensagens que havia recebido. Ficou impressionado! Eram de várias pessoas, dizendo coisas diferentes, porém, com um mesmo teor. Elas queriam se juntar a ele! Queriam ajudá-lo a salvar a magnânima senhora Lunis! Perguntavam o que podiam fazer para se agruparem em torno da feiticeira. Uma mulher dizia que queria ser uma seilan!

Então não fora somente ele que se apaixonara pela senhora. E apesar de toda ajuda ser bem vinda, paradoxalmente, só então Jerok se deu conta do absurdo de toda aquela situação.

Finalmente ele compreendeu que havia cometido uma loucura. Mas agora não havia mais volta.

DESESPERO E ESPERANÇA - II

A GENIUS agora estava próxima do tenebroso espetáculo na IANTIS. Parte do casco rotativo estava corroído, e o pior, o buraco aumentava a despeito dos esforços dos robôs em consertá-lo. A ANGRA produzia mais e mais robôs de reparos, incluindo nanorobôs, mas nada parecia ser capaz de deter a corrosão que se alastrava como uma infecção. A rotação fora diminuída para facilitar a abordagem da ANGRA, mas não podia ser detida sob pena de causar ainda mais danos ao ambiente interno, visto que ausência da força centrífuga facilitaria ainda mais que tudo fosse sugado para fora.

- Deusa mãe! Como isso é possível?! - Indagou o aterrorizado Taulin, e a resposta dos técnicos era ainda mais assustadora.

- Foi um artefato cristalino seilan, repleto de ondas mentônicas destrutoras. Ele pode acumular parte do poder mental das feiticeiras e agir a nível de partículas fundamentais. O dano mentônico corrói as propriedades primárias da matéria. Não adianta remendar o metal, pois as propriedades químicas estão alteradas, perdendo, a solidez. Não adianta tentar coesão magnética, pois a onda mentônica desativa a própria força magnética. Mesmo partes de metal e plástico que não foram atingidas pela explosão original são contaminadas pela onda mentônica, e perdem coesão também. Não vamos conseguir fechar o buraco nesse ritmo.

- Pelo universo. - Disse Irig. - É uma arma terrível!

- E ela trouxe isso pra cá?! - Perguntou Cemilion. - Então já embarcou na frota mal intencionada.

- Não necessariamente. - Respondeu uma operadora. - Todas as feiticeiras seilans usam esse artefato, só que raramente com esse propósito. Foi uma condição da missão que ela não trouxesse suas armas principais para a missão. Deve ter deixado na IANTIS. Provavelmente os servos dela o adaptaram para explodir.

Então o buraco se alastrou ainda mais. Os escudos de energia conseguiam retardar o escape do ar, bem como os robôs impediam que o rombo se alastrasse mais rápido, mas eles próprios eram contaminados pela onda mentônica destruidora e acabavam dissolvidos também, obrigando a ANGRA a produzir mais e mais.

No interior reinava o caos. Os jardins submetidos a uma tempestade digna de um planeta revolto, árvores sendo arrancadas e lagos tendo sua água sugada. Robôs de segurança protegiam os habitantes da melhor forma possível, mas ao menos 4 pessoas já estavam desaparecidas.

Os operadores da ANGRA ordenaram aumentar ainda mais a produção de robôs. - Quem mandou produzir esses ZIGs?- Perguntara um deles, mas seus colegas pesquisaram e não obtiveram resposta. Não haviam estranhado muito porque sabiam da perda de vários ZIGs que tiveram que ser destruídos. Era natural que mais fossem construídos. Mas naquele momento eles não seriam nada úteis. Ordenaram o fim da produção, mas continuaram sem saber por que estava sendo construídos justo naquele momento.

Também não estranharam o fato de que todos rumavam para o planeta, afinal fora lá que vários foram perdidos. Então a SEDNA apareceu. Havia acabado de executar a ordem e vinha em socorro da IANTIS. Não havia muito o que uma Espada Espacial pudesse fazer naquela situação, mas o desespero pedia qualquer tipo de ajuda.

SEDNA passava ao lado da procissão de ZIGs que rumava para de onde ela vinha, mas ela não tinha motivos para atacá-los, visto que não satisfaziam as condições que ela observara para destruir os outros. Ela procurava ZIGs que estavam operando com a programação alterada, mas aquelas não tinham a programação alterada. Já haviam sido construídos com uma nova programação original que se mantinha intacta.

Mesmo assim, a Espada Espacial teria notado o comportamento estranho se não tivesse imediatamente se preocupado com algo potencialmente mais perigoso. Apontou para a estrela, rumo ao estranho e pequenino objeto que se aproximava velozmente. Seus sensores, muito mais profundos que qualquer outro da frota, examinaram criteriosamente o intruso, que os alcançaria em poucos minutos, e avaliou a ameaça.

Então, após alguns segundos, simplesmente, voltou sua atenção para a IANTIS, passando a ignorar o objeto. Da GENIUS, perguntaram porque ela abandonara a posição defensiva. A resposta. - O visitante não constitui ameaça à frota! - Perguntaram então do que se tratava, mas antes que SEDNA pudesse responder, ouviram a transmissão.

- Atenção PASTOR-6! Aqui quem vos fala é ZENTARIS! Como posso ajudá-los?

ESCONDE ESCONDE

A impossibilidade de transmissão direta entre o interior e o exterior da esfera de invisibilidade obrigava alguns ZIGs a ficarem constantemente entrando e saindo da zona de ocultamento, atualizando as informações entre as naves. Mas mesmo com uma frequência de aproximadamente 10 segundos para cada atualização, o atraso era suficiente para dificultar muito o sincronismo das operações e mesmo a pura e simples comunicação.

Para Jerok, no entanto, estava sendo a salvação. Com SEDNA preocupada com outras coisas, era relativamente simples tapear a PROMINUS e a GENIUS, e os ZIGs que lhe eram hostis agora podiam ser confrontados com seu próprios novos ZIGs, agora em maior número e suficientes para o que tinha em mente. Subjugar a PROMINUS.

Teve tempo de enviar algumas mensagens para seus simpatizantes pedindo basicamente códigos de acesso e ajuda para neutralizar outros sistemas de defesa. No meio da confusão, para sua agradável surpresa, recebeu também mensagens de apoio da própria PROMINUS, onde a bela feiticeira acabara de chegar, inconsciente, mas aparentemente viva e intacta.

Tudo corria bem até que um de seus novos aliados teve uma infeliz idéia. Num acesso que só poderia ser loucura, deu uma ordem para SEDNA, se disfarçando de líder da frota, para que travasse combate com o visitante que se aproximava da estrela, no intuito de mantê-la ocupada. Porém a Espada Espacial percebeu o absurdo do comando e então notou que alguém tentara desviar sua atenção. Sua decisão então foi começar a destruir os ZIGs que haviam sido construídos recentemente, primeiro os que estavam próximos, depois partir para dentro da esfera invisível e eliminar os outros.

Quando SEDNA destruiu o penúltimo ZIG da fila que estava prestes a adentrar o limiar de ocultamento, por sorte Jerok entrou na zona invisível um fração de segundo depois, onde uma dezena de seus ZIGs o aguardavam

Torcia para que quando a Espada Espacial o alcançasse ele já estivesse em posição de vantagem, liderando o motim que já havia começado na PROMINUS.

O HIPERMETANATURAL

- Até que enfim uma notícia boa! - Filia quase chorou de alegria!

- Zentaris!?!? Aqui?! Aleluia! - Taulin também não ficou menos feliz. - Zentaris! Graças à Providência!!! Uma bomba mentônica seilan explodiu na IANTIS. Somente abordagem metanatural pode detê-la a tempo! Por favor nos ajude!

Quem pôde ver a imagem não poderia evitar se deslumbrar. Envolto em luminosidade surreal, aquele recém chegado parecia mesmo um anjo. Suas vestes luminosas eram ligeiramente transparentes, e seu corpo era totalmente luminoso, em especial os longos cabelos e a barba. Ele rumou para a IANTIS e se aproximou do ponto de colapso, acompanhando a rotação da imensa esfera habitacional.

Zentaris não era tido como o maior Hipermeta conhecido por acaso. Sabia o que fazer. A corrosão mentônica, sendo infraestrutural, permaneceria até que sua carga original se esgotasse, o que poderia tornar a situação insustentável. Ela tinha que ser revertida por Força Mental pura, que por sorte, na ausência da mente ativa que gerou a força desagregadora, seria fácil.

A primeira coisa que fez foi gerar um escudo esférico em torno de si, ficando envolto numa bolha transparente luminosa que se expandiu mais de um dezena de metros de diâmetro até que se encaixou no orifício do casco da nave. Com isso, ele deteve de uma só vez todo o escape do ar que ainda ocorria. Agora devia se concentrar na força de corrosão, ao mesmo tempo que reforçava muitíssimo as instantes naturais de atração que mantinham a matéria coesa.

A medida que o rombo se expandia, ele fazia o mesmo com a esfera de energia, mantendo o casco da nave selado. Se concentrando, enviava força mental pura ordenando o exato contrário do que a força corrosiva fazia. Parte por parte, centímetro por centímetro, partícula por partícula, seus mentons livres atrativos se fundiam com os mentons livres repulsivos, neutralizando-os, e anulando o efeito desagregador.

O processo era lento, mas constante. O robôs de reparo se afastaram e o deixaram trabalhar. Vários inclusive estavam se dissolvendo, tendo sido contaminados pelo efeito da bomba mentônica, e a ordem era que se afastassem o máximo possível levando as partículas ameaçadoras para longe.

Era basicamente como combater uma infecção por meio de antibióticos. As ondas mentônicas destrutoras, ao tomar contato com qualquer objeto sólido, cancelavam as instantes de coesão eletromagnéticas, provocando a dissolução. Cada molécula afetada ao atingir outra molécula, também transmitia parte do "veneno" residual, e como a explosão inicial tinha uma dose colossal de energia, havia poder destrutivo para dissolver metade da IANTIS, o que já teria acontecido não fosse o trabalho frenético dos robôs de reparos.

Zentaris se ocupava de lançar ondas de coesão, que tinham a exata inversa função de reforçar as instantes de atração, o que anulava os resíduos destrutivos fazendo-os voltar a mentons inertes. Era difícil se concentrar ao mesmo tempo que testemunhava o surreal espetáculo do interior da nave. A esfera habitacional havia reduzido sua rotação no intento de aliviar a velocidade de escape dos gases, produzindo agora cerca de 1/3 de gravidade simulada. Além disso, devido à tempestade sugadora que se abateu sobre o ambiente interno, diversas estruturas, árvores, robôs, pessoas, objetos e volumes de água e terra flutuavam próximas ao interior, onde a "gravidade" era tendente a zero.

Ele sugeriu que a velocidade de rotação fosse lentamente aumentada, de modo a estabilizar o ambiente, e pouco a pouco as coisas voltavam ao "solo" artificial, "caindo" de início lentas, mas cada vez mais rapidamente. Algumas pessoas já haviam passado rente a ele, e o visto através do escudo luminoso e transparente que usava para fechar o imenso rombo que, finalmente parara de aumentar.

Com a desintegração mentônica finalmente neutralizada, era hora dos robôs assumirem novamente o serviço. A primeira providência foi estender um grade em forma de teia sobre o buraco, lançar um espuma de solidificação rápida para um pré selamento e ir soldando placas provisórias para um remendo de emergência. A medida que Zentaris diminuía o escudo, os robôs iam fechando a área, até que finalmente ele ficou liberado, e pôde entrar na IANTIS.

Lá dentro também havia muito trabalho a ser feito. Robôs já reconstruíam algumas estruturas, mas ainda havia pessoas à deriva. O Hipermeta se apressou a resgatá-las, para deslumbramento da maioria. Algumas pessoas demandaram doses de força vital regeneradora, para estarem em melhores condições de suportar o tratamento médico. Havia um sistema "ressuscitador" à bordo que já estava tratando os casos mais graves. Então Zentaris notou um homem em situação alarmante. Havia perdido muito sangue e ficara imerso numa bolha de água flutuante. Provavelmente se afogara.

Levou-o a um local seguro e iniciou um trabalho mais intenso de cura. De sua testa, emanou um intenso raio branco que atingiu o corpo do homem inconsciente e foi expulsando a água, terra, pedaços de vegetais e demais objetos intrusos de seu corpo. Deteve o sangramento, foi aos poucos regenerando os órgãos mais danificados e fechando as feridas. Até que, finalmente, o homem respirou, tossiu, e se deu conta da impressionante cena. Em voz moribunda, falou com dificuldade. - Z-Zentaris? É mesmo... Você? Eu... Ah meu Deus! Temos que... Por favor! Tenho que dizer uma coisa muito importante aos líderes! Leia minha mente, você vai ver... Que é muito sério! Por favor... Pode me levar à GENIUS?

O MOTIM

- Vamos! Levantem-se! Precisamos de vocês! - Um casal tentava colocar os seilans de pé. O jovem rapaz injetou neles uma droga para neutralizar o efeito do tranquilizante, sabia que dificilmente obteria uma recuperação total, mesmo assim insistia. - Ela está aqui! Mas aconteceu alguma coisa! Os telepatas estão tentando acordá-la, mas...

- Tele... Telapatas... - O rapaz seilan mais baixo se agarrou no ombro de seu benfeitor. - Não... Não confio neles! Temos que ir... - Mas então, ao tentar andar, caiu ao chão. O outro seilan então perguntou. - Quem são vocês!? Por que estão nos ajudando!?

- Por favor confie em nós. - Disse a moça. - Só queremos... Queremos salvar a Senhora Seilan. Jerok nos pediu para acordar vocês. Ele está entrando na nave agora. Nos cercou com um bando de ZIGs que ele próprio fez e nos ajudou a render o líder.

O rapaz hesitou, mas estavam numa situação crítica, toda ajuda era bem vinda, e embora não fosse um telepata, era capaz de intuir que aquelas pessoas, ainda que ligeiramente perturbadas, estavam sendo sinceras. Aos tropeços se deixaram levar pelo casal e logo chegaram a um corredor onde Jerok, e mais outros dois novos aliados, os aguardavam.

Um escada em espiral lhes permitiu subir até o eixo central da nave, onde flutuaram sem peso rumo a sala onde a seilan estava. Passaram por um local onde ocorrera uma breve batalha, onde teriam perdido não fosse um Ataque dos ZIGs de Jerok ter obrigado os tripulantes ainda leais à frota a se mover para uma sala adjacente, onde ficaram encurralados e tiveram que se render.

Das 12 pessoas a bordo da PROMINUS, 5 decidiram se amotinar, e agora com a ajuda de Jerok e dos dois seilans, ainda que um tanto abalados, estavam em maior número, e tendo isolado os resistentes numa sala que fora devidamente selada, só tinham agora que dominar os telepatas e a chefe de segurança que estavam num recinto fechado, com a seilan.

SEDNA havia chegado em tempo de destruir os ZIGs que não haviam sido destruídos pelos ZIGs de defesa da PROMINUS e demais sistemas de segurança, mas não a tempo de impedir Jerok de entrar e se refugiar na nave. A Espada Espacial ainda disparou uma carga neutralizadora, deixando a PROMINUS às escuras por algum tempo, mas embora isso tenha atrapalhado os insurgentes, no fim acabou ajudando, visto que também dificultou a ação dos últimos sistemas computadorizados que ainda poderiam evitar o domínio da nave.

Chegando a uma outra escada desceram até um nível onde a pseudo gravidade era ativa, ainda que baixa, e então ficaram em frente ao local de seu objetivo. Somente uma resistente porta deslizante os separava da feiticeira, e o coração de todos acelerou. Embora tivessem algumas armas e equipamentos, não eram adequados para forçarem a entrada, e mais uma vez a ação da SEDNA se tornaria um problema, visto que eles não conseguiam acessar os sistemas que poderiam permitir forçar um código de entrada.

Mas antes que pudessem se preocupar mais, um dos amotinados se adiantou. - Deixem comigo. Afastem-se! - E então começou a golpear a porta com socos fortíssimos, assustadores, até causar um dano na estrutura que lhe permitiu encaixar as mãos e começar a forçar a porta lateralmente. - Genônico! - Comentou outro dos amotinados. - Tem cerca de 5 vezes a força de uma pessoa normal.

E se era assim, logo havia o equivalente a 13 pessoas que conseguiram abrir passagem corredor adentro apenas para se deparar com outra porta, que havia sido improvisada e era ainda mais resistente. Não contavam com esse novo obstáculo. Os sistemas computacionais podiam, em casos de emergência, alterar a configuração interna da nave com muita rapidez, e só não o fizeram mais extensivamente devido ao ataque da SEDNA. Desta vez, as tentativas foram em vão, até que algo aconteceu.

A porta simplesmente se abriu, e uma voz foi "ouvida" na mente de todos. - Podem entrar.

A BELA ADORMECIDA

Lá estava a seilan, deitada, inerte, inconsciente. Os telepatas ao seu lado, Sonija logo atrás, apreensiva, e os 8 rebeldes se adiantaram cautelosamente. Os seilans tomaram a dianteira, tencionando oferecer alguma resistência a um provável ataque telepático que, em dobro, teria o efeito exponenciado. Mas a única coisa que os telepatas fizeram foi emitir ondas mentais relaxantes, e pedir calma.

Mas, nesse sentido, algo funcionava melhor. A simples visão da feiticeira parecia ter neutralizado em todos qualquer potencial agressivo. Jerok, assim como os outros, jamais a tinha visto tão de perto.

- Pelo universo... Ela é linda!

- É como... A encarnação de Xantai.
- Nunca antes eu havia sentido isso por... Uma mulher. -
Disse a moça.
- Nem eu. - Respondeu um dos homens.
- É como... Um sonho.
- Ela está bem?

Os seilans, por sua vez, notavam que sua senhora não estava em seu melhor estado, e, menos deslumbrados que todos os demais, que mal conseguiam falar, interrogaram os telepatas, e Velek prontamente se explicou.

- Fisicamente ela não está em perigo. Sofreu apenas ferimentos leves e uma breve intoxicação pela atmosfera que já foram curados pelo seu super metabolismo. Mas ela foi atacada por uma força telepática muito poderosa. Nós dois juntos não conseguimos contatar sua mente. Sabemos que ele está preservada, adormecida e quase certamente em paz. Mas alguma coisa parece mantê-la isolada.

Os servos da feiticeira se aproximaram e a tocaram, um deles tomou uma de suas mãos. O outro murmurou coisas em seu ouvido, e com seu forte laço empático, se esclareceram e sentiram que o telepata falava a verdade, o que, por outro lado, não os deixou menos apreensivos.

Os outros se aproximaram, ainda sem se atrever a tocar a bela adormecida. Uma deles sugeriu. - E se juntarmos os outros telepatas da frota? - Velek respondeu. - Todos os demais nos acrescentariam no máximo uns 10% de eficiência, mas temos alguém que acreditamos poder solucionar a situação.

- Quem?! - Perguntaram os seilans ao mesmo tempo, e então os sistemas voltaram a funcionar totalmente, e o telepata cinzento pode apontar numa tela flutuante, um grupo de pessoas que adentrava a nave.

- Mas... É um Anjo Estelar? -Disse a moça. - Zentaris?!?!

Não demorou para que a sala, agora decorada pelos efeitos holográficos que simulavam o espaço, fosse adentrada pelo mais famoso dos Anjos Estelares de DAMIATE, acompanhado de Taulin, Filia e Randol. Agora, sem o ofuscante brilho, o anjo tinha os cabelos e a barba negros, bem como os olhos, e embora aparentasse juventude, tinha uma expressão austera, grave, num sentido paternal, acolhedora e que impunha uma fascinação respeitosa imediata.

Uma troca telepática instantânea entre ele Velek e o telepata cinzento tornaram ambos os lados a par dos detalhes da situação. Enquanto isso, Taulin se impôs. - Muito bem, vamos agir com calma. Não somos inimigos, estamos sendo vítimas, ao que tudo indica, de uma ameaça em comum.

A simples presença de Zentaris ali inviabilizaria qualquer ação violenta, e o clima de hostilidade potencial parecia, ao menos no momento, ter desaparecido. Filia tomou a dianteira trazendo Randol pela mão, e disse: - É melhor que você explique.

H. P. s

A sala agora era totalmente operacional, e todo um sistema de suporte foi ativado. Randol tomou fôlego e sacou algumas imagens que o auxiliariam na explicação.

- Muito bem. Desde que chegamos a esse planeta, todos temos sido afetados por atividades oníricas. Sonhos, pesadelos, bem como instabilidade emocional, apreensões inexplicáveis, ou euforia, e em alguns casos, insanidade. Tudo isso é gerado nesse planeta. Estamos sendo todos vítimas de um tipo de loucura coletiva que só vai piorar. Eu já havia pensado nisso quando, em minha pesquisas, fiquei cada vez mais inclinado, misteriosamente induzido, a procurar alguma explicação na literatura do século XX, num período pré-DAMIATE. É difícil entender como pensei nisso, em parte foram os próprios sonhos que me induziram, mas o fato é que percebi que havia algumas fontes literárias que pareciam descrever com muita precisão o que está acontecendo aqui. Fontes de cerca de dois mil anos de idade!

Na minha pesquisa notei uma curiosa coincidência, 3 escritores, de áreas distintas, contribuíram para tecer um quadro curioso que, o Zentaris concordou, pode nos ajudar a entender e enfrentar essa situação, e todos tem nomes cujas iniciais podem ser abreviadas com as letras HP.

A primeira foi um tipo de mística, chamada Helena Petrovna Blavatsky, ou H. P. Blavatsky, que deu um passo inicial, bem incipiente mas pioneiro, na disseminação da idéia de que Madre-Terra já abrigara civilizações mais avançadas muito antes da nossa, e que não eram antropônicas. Nessa... "Mitologia", descrevia-se "raças" que haviam habitado o planeta em ciclos regulares, dando nomes e características detalhadas.

Como sabemos, o entendimento Místico-Filosófico posterior, viria a renomea-las, e desfazer os equívocos típicos que até mesmo confundiam a idéia genérica de arianos, com as etnias arianas e o semi-antropônicos Ários. Mas muitas idéias restaram. Até hoje muitos chamam alguns extra terrestres da Era Transicional de Atlantes. Mas, no geral, essa visão ainda era muito incipiente, excessivamente mitológica e permeadas de crenças neoplatônicas e ocultistas.

Curiosamente, o próximo autor não era um místico, mas um ficcionista, que no entanto foi um tanto mais preciso em parte de sua descrição. Seu nome era Howard Philips Lovecraft. H. P. Lovecraft, e ele descrevia raças antigas, monstruosas e muito poderosas, de origem extra terrestre. Descreveu algumas criaturas colossais, com vastos poderes mentais, mestres do mundo onírico e diversos outros conceitos muito ousados para a época. Por ter situado sua origem em outros sistemas estelares, e tê-los associado a civilizações antigas, que deixaram vastos vestígios misteriosos, H.P. Lovecraft pode ser considerado um precursor do conceito de PRIMORDIAIS.

Mas o salto maior vem depois, desta vez não com um místico nem um escritor, mas um compositor musical de nome Heracles Petrus Vladiminsky, H. P. Vladiminsky, que criou um grupo musical, que no caso era uma banda de rock, chamada Horse Power Voyagers, uma óbvia paródia de seu nome, que em geral se chamava H. P. Voyagers, e que fazia referências diretas à Blavatsky e principalmente à Lovecraft, mas indo muito mais além em sua concepção.

Sua letras de música falavam que os Primordiais... SIM! Ele usou esse nome! Que os Primordiais eram os deuses antigos narrados por Lovecraft, que tinham origem em sistemas estelares distantes, e que haviam edificado vastas civilizações antigas e inumanas. E ele diz que num sistema distante, haveria um Planeta Fantasma. Isso mesmo, ele o chamou de PLANETA FANTASMA, que seria invisível aos olhos, aos telescópios, aos radiotelescópios e a tudo mais que a tecnologia criasse, mas que mesmo assim estaria lá, oculto!

E ele disse também que esse planeta seria repleto de monstros, porém os verdadeiros deuses monstruosos estavam escondidos abaixo de grandes Cidades Fantasmas! Ruínas colossais de civilizações perdidas! E disse ainda que seria nos perdidos mares subterrâneos abaixo dessas cidades! Eu já estava bem impressionado, embora muito reticente, até que vi isso! -

Algumas imagens haviam acompanhado Randol em sua narração, hipnotizando espectadores ainda incrédulos, então exibiu a imagem holográfica da critaura que o ZIG registrara nas profundezas, e que fora tratada pelos Klumans.

- Estão vendo esses pontos dentro da enorme... "Cabeça" da criatura. No início pensei que fossem terminações nervosas, e são mas, na verdade são cérebros.

- Cérebros?! - Interrompeu Taulin. - Mas são centenas de...

- Cerca de mil! Retomou Randol. - Os Klumans que confirmaram. Cérebros de tamanho e massa maiores que o da maioria das espécies senscientes similares a nós. Essa gigantesca criatura aquática não é apenas inteligente, mas é na verdade um coletivo de mil mentes distintas, ou mais. Agora... Deixe eu mostrar isso. -

Surgiu então um pintura antiga, de uma criatura aquática incrivelmente parecida com a da imagem 3D.

- Adivinhem quem fez essa ilustração?! O próprio Vladiminsky! Quem também era desenhista. Era a ilustração de contracapa de seu disco musical. Vladiminsky redefiniu alguns conceitos, mas basicamente usou os mesmos nomes criados por Lovecraft. Essa criatura, apesar de um pouco diferente do conceito lovecraftiano original, ele chamou de Cthulhu, o senhor dos sonhos. Um monstro de mil cérebros capaz de entrar nas mentes alheias e aprisioná-las num mundo de ilusão!

- E foi essa criatura que atacou a seilan? - Perguntou Filia. Mas foi Zentaris que confirmou e tomou a palavra, com uma voz grave, envolvente, quase divina.

- Quando tomei conhecimento da anomalia gravitacional neste sistema estelar inexplorado, desconfiei de imediato que seria algo que venho esperando acontecer há muito tempo. A primeira descoberta de um planeta que abrigou uma civilização Primordial. E não tenho mais dúvida que é o que temos aqui em baixo. Informações que obtive de fontes incomuns, há muito tempo atrás, me permitiram saber que alguns planetas de primordiais estariam escondidos em campos de invisibilidade, indetectáveis por qualquer meio eletromagnético, mas evidenciados devido a certos tipos de distorções gravitacionais. Esse sistema apresentou uma anomalia que seria exatamente o que se esperaria nesse caso, mas com um agravante, NOVITA é relativamente próximo, e a distâncias equivalentes, de KLUMA e SEILA, e é evidente que tal descoberta atrairia ambos até aqui.

Infelizmente, há certos perigos previstos por essas informações, em especial um tipo de registro mental de sensciências antigas, que teriam ficado, de algum modo, aprisionadas, mas que tenderiam a capturar todo tipo de mente que lhes fosse interessante. Ao que tudo indica, a população da Pastor-6 só não foi ainda totalmente subjugada porque após centenas de milhares de anos de confinamento, até mesmo as mentes mais poderosas demoram a despertar.

- O que significa que temos que sair daqui o quanto antes! - Disse Filia.

- Infelizmente não é tão simples. - Pronunciou-se Velek. - A mente de Lunis só não foi definitivamente levada porque ainda está ligada ao seu corpo. Quanto mais o afastarmos do planeta, agora, maior a chance dela morrer.

- E aí teremos uma guerra. - Disse Taulin diante do olhar fulminante dos seilans. Então Zentaris falou, de um modo que era ao mesmo tempo um comando, um delicado pedido, e a única coisa sensata a fazer.

- Eu e os telepatas ficaremos aqui com a seilan, e também os seilans. Precisaremos deles para reforçar o laço empático e tentar libertar a mente dela. Todos os demais devem partir para fora da esfera de invisibilidade. Pelo menos.

- Sim. Claro. Mas não podemos ir muito longe. - Taulin respondeu apreensivo após ler um breve comunicado em seu visor pessoal. - Já há frotas a caminho daqui, e as que devem estar mais próximas vem exatamente de SEILA e KLUMA. E quanto a vocês! - Apontou para os rebeldes, com atenção especial em Jerok - Estarão detidos e sob constante vigilância! E vocês seilans, não pensem que escaparão às consequências. Aquela bomba quase destruiu a IANTIS!

O modo como ele falou, associado a um breve relaxamento geral que parecia ter restaurado a sanidade ao normal, e também a entrada de 11 pessoas mais 6 robôs de segurança, inviabilizaram qualquer reação apesar dos protestos.

Quando todos já haviam partido, Zentaris orientou a PROMINUS a se aproximar o máximo possível do Planeta Fantasma. Olhou então para seus companheiros, os telepatas e os seilans em volta da feiticeira.

- Vamos começar.

Marcus Valerio XR
Embora a tripulação total da Pastor-6 seja de 232 pessoas, isso não inclui os passageiros, isto é, aqueles que não são originalmente funcionários da frota, e dos quais os seilans e o antróide Dalmana são apenas alguns exemplos. Os passageiros, com raras exceções, ficam sempre a bordo da IANTIS, e normalmente obtém sua passagem por meio de pagamento, oferta de serviços, ou por requisição direta da Mãe-Terra ou outros planetas importantes, em geral em caráter científico, político ou diplomático. A quantidade de passageiros varia ao longo da viagem, uma vez que alguns entram e saem em momentos distintos. No total, a IANTIS pode transportar até 120 passageiros mantendo a confortabilidade e segurança mínima. Em situações de emergência, em detrimento principalmente do conforto, a frota pode transportar até o triplo disso, em geral fazendo uso das outras naves.

O Planeta Fantasma, por estar envolvido por um escudo que impede a entrada da maior parte das ondas eletromagnéticas, também não recebe calor da estrela NOVITA. Grande parte da superfície é congelada, mas nos arredores das cidades há dois fatores que impedem que o cenário fique coberto de neve. Primeiro, o calor emanado não só das nuvens iônicas mas da própria muralha da cidade, que termina por acumular energia térmica. Segundo, a concentração de sal e demais compostos salinos que se acumulam num raio de centenas de kms em torno das muralhas das cidades, curiosamente construídas em grandes depressões geográficas que provavelmente foram fundo de mares. Além destas, alguns rios da superfície também possuem águas quentes, outros salinidade, e outros ambos, o que gera longas faixas de superfície relativamente sem gelo que cortam grandes extensões geladas. As criaturas senscientes preferem os ambientes quentes, bem como boa parte de outros animais, e nos rios podem ser encontrados algumas criaturas aquáticas luminosas.

Existem basicamente 4 tipos de ZIGs, no que se refere a seu ambiente de operação e sistema de propulsão.
Os GRAVITACIONAIS são geralmente restritos a operações dentro do campo de atração de um planeta, possuindo um anel de levitação em seu meio horizontal, em geral no local de maior diâmetro, o que elimina totalmente seu peso, e um defletor gravitacional em seu centro, com o qual podem desviar o sentido de atração do planeta e então liberá-la para serem "puxados" em qualquer direção.
Os IÔNICOS, que em geral também são Gravitônicos, utilizam a atmosfera para se mover, magnetizando-a e utilizando impulsores de ar, e ou utilizando indutores de vácuo para serem sugados na direção que necessitem. Não importa a densidade da atmosfera, nas realidade, pode mesmo ser um líquido denso. O princípio é o mesmo, sendo por isso que por vezes são chamados "Fluídicos".
Os MAGNÉTICOS, que na verdade são os de tecnologia mais antiga, usam recursos de atração e repulsão sobre estruturas metálicas, em geral naves espaciais, tornando-as sua base de apoio. O principal motivo pelo qual costumam estar sempre "próximos", se tornando de um certo modo satélites móveis.
Já os PROPULSIONADOS muitas vezes são considerados Pseudo-ZIGs, visto que os ZIGs não possuem propulsão independente por definição, sendo sempre dependentes de um apoio, quer seja um planeta, uma nave ou uma nuvem. Embora sejam os únicos que possam se mover livremente em qualquer situação, o sistema de propulsão, de qualquer tipo, tem como função principal aumentar a velocidade, visto que nenhum dos sistemas anteriores permite velocidades comparáveis ao de qualquer nave espacial ou atmosférica.
A maioria dos ZIGs são mistos, utilizando dois ou os três dos primeiros tipos, e quase sempre são esféricos. Somente os que também integram Propulsão costumam ter formatos diferenciados, em geral discóides ou deltas. São construídos sempre com ligas, metálicas, plásticas e cristalinas muito leves, a fim de otimizar o desempenho visto que seus sistemas de locomoção são projetados apenas para movimentação própria, o que permite o tamanho reduzido. Assim, ZIGs não possuem potência para transportar cargas ou passageiros.
O equipamento fundamental de todo e qualquer ZIG são os sensores, em especial as câmeras, visto que a função primária é observação. Mas há alguns que podem desempenhar reparos mínimos, conter incêndios, absorver e emitir gases ou dissipar radiação. Os ZIGs de combate por sua vez tem como armamento básico o TermoLaser, o EletroLaser, ou comumente ambos, bem como Indutores de Contenção Eletrocinética.
TermoLaser é o nome genérico do tipo mais comum de raio L.A.S.E.R., sigla para Luz Amplificada por eStímulo de Emissão Radioativa. (originalmente em Inglês) O prefixo TERMO enfatiza sua função primária, gerar calor, uma vez que a característica fundamental de um LASER é antes de tudo gerar luz numa única frequência de cor e numa única direção coerente. Convencionou-se o uso da frequência de cor VERMELHA para a maioria dos TermoLasers como forma de identificação de função, embora tecnicamente eles possam assumir qualquer cor ou mesmo serem invisíveis, Infravermelhos e Ultravioletas. Estes últimos costumam ser proibidos pela maioria dos planetas descendentes da cultura da Aliança HEXAGONAL. A maioria dos ZIGs possui TermoLasers que podem gerar de 3 a 7 mil graus centigrados, embora uns poucos possam gerar temperaturas de até 10 mil, situações onde é comum haver mudança na cor do raio. Acima disso, é privilégio das Adagas ou Espadas Espaciais. Alguns planetas padronizaram uma escala cromática de relação de cores de TermoLasers em relação a sua temperatura, seguindo a ordem de cores do espectro, do VERMELHO ao VIOLETA, geralmente usado para temperaturas acima de 20 mil graus. Ou seguindo a ordem de LUMINÂNCIA das cores, começando no AZUL, VERMELHO, seguindo para o MAGENTA, VERDE, CIANO AMARELO e BRANCO. Esse sistema, no entanto, é menos usado, visto que outras espécies senscientes tem percepções de luminância diferentes dos antropônicos, mas principalmente para não gerar confusão com o padrão de coloração do item seguinte.
EletroLaser, invariavelmente na cor CIANO, tem como função primária gerar pulsos de magnetismo, desorientando as funções eletrônicas de qualquer equipamento, e neutralizando suas funções temporária ou definitivamente. Embora os Eletrolasers também possam gerar calor até mesmo superior ao dos TermoLasers, costumam ser muito mais dispendiosos, exaurindo os geradores de energia precipitadamente. Por isso, sua aplicação principal é mesmo como armas neutralizadoras não só de sistemas eletrônicos, mas mesmo de seres vivos, aplicando raios de choque atordoante de baixa potência.
Indutor de Contenção Eletrocinética é um sistema que emite um estímulo de anti fótons que tendem a dificultar ou mesmo impedir as trocas de elétrons entre os átomos, servindo como um tipo ainda mais eficiente não só de bloqueio de sistemas eletromagnéticos, mas também inibidores de combustão brusca, ou mesmo lenta. É possível, por exemplo, gerar um campo que bloqueie qualquer explosão acima de certa potência, neutralizando a maior parte das antigas "armas de fogo", por exemplo. Em nível mais intenso, pode-se neutralizar mesmo uma queima lenta, ação de ácidos, reações químicas, radioatividade e similares. Intensidades extremas em períodos prolongados podem ser letais para formas de vida, por dificultar reações químicas básicas ao metabolismo. Além disso, também pode ser usado para remover calor, tendo função resfriadora e congelante.

Os computadores da frota Pastor-6, assim como a maioria dos computadores de naves espaciais, formam um rede informacional consciente, pois não apenas emulam, mas de fato produzem um mente coletiva dotada de intencionalidade. A ausência de um corpo isolado único, porém, a torna muito diferente de uma mente sensciente comum, e fica a perpétua dúvida de que possam ser considerados seres senscientes, um vez que há consenso que deve-se estabelecer uma diferença entre mentes senscientes e mentes pré-senscientes. Estas últimas teriam basicamente todas as capacidades cognitivas das mentes conscientes, mas não chegam a de fato desenvolver uma auto consciência, identidade pessoal ou emoções explícitas.
Mesmo assim, a mente computacional ainda pode ser acessada por telepatia, e de fato existem redes telepáticas entre computadores, que podem inclusive se conectar com telepatia metanatural. Por isso, computadores mentais comuns são vulneráveis a ataques telepáticos, embora sejam, normalmente, mais resistentes que a grande maioria dos seres senscientes normais.

Denomina-se PRIMORDIAL, toda e qualquer civilização extinta que tenha existido antes de qualquer evento histórico galáctico devidamente conhecido, e que tenha deixado evidências claras de um alto desenvolvimento tecnológico. A maioria tem mais de meio milhão de anos, e as que legaram grandes obras, como os anéis espaciais primordiais, são consideradas GRANDES PRIMORDIAIS, conceito que muitas vezes é confundido com a idéia de PRIMORDIAIS em si, uma vez que geralmente se entende como tal somente as civilizações que deixaram indícios de tecnologia e conhecimentos superiores aos de qualquer espécie sensciente viva. O estudo dos Grandes Primordiais, objeto da HISTÓRIA ARCÔNICA, é muito complexo e sujeito a frequentes revisões, e normalmente é melhor desenvolvido por meio de informações indiretas de outras civilizações antigas, não primordiais, mas que tiveram acesso a registros supostamente mais precisos. Essas últimas são consideradas civilizações HERDEIRAS DOS PRIMORDIAIS, e algumas ainda existem, inclusive entre as participantes da antiga ALIANÇA HEXAGONAL, embora seus resquícios culturais de origem Primordial costumem ser muito diluídos, e frequentemente sujeitos a dúvidas. Qualquer informação sobre civilizações primordiais é de extremo interesse para as ciências da galáxia, muitas civilizações, inclusive, reclamam direitos sobre certas descobertas, devido a suposta legitimidade como herdeiros culturais. A ausência de um acordo claro entre as potências galácticas sobre os procedimentos e direitos básicos da pesquisa primordial costuma gerar dificuldades diplomáticas. Em grande parte isso se dá porque muitos temem que uma civilização que lhe seja potencialmente hostil possa se beneficiar tecnologicamente do contato com conhecimentos primordiais, que comprovadamente já permitiram alguns saltos científicos a alguns planetas.

A Micro Premonição é uma das habilidades metanaturais mais básicas, a capacidade de prever o futuro com cerca de um segundo de antecedência. Tal fenômeno é possível porque sendo o universo essencialmente indeterminado, o número de possibilidades de eventos num certo instante futuro do tempo tende a reduzir-se à medida que esse instante se aproxima, até chegar ao ponto que uma única possibilidade se realiza. No entanto, pouco antes de tal realização, existe um momento de colapso, quando as possibilidades são determinadas de modo irreversível, em geral, fração de segundos antes do evento, no limiar deste colapso, existe então o momento onde o número de possibilidades está drasticamente reduzido a umas poucas opções, por vezes até mesmo duas. É nesse momento que a previsão do futuro de torna possível. O metanatural, ou mais comumente o supermeta devidamente treinado, poderá antever, às vezes em até mesmo 2s, as poucas opções disponíveis, e então agir no sentido de escolher a de sua preferência. Dessa forma é possível a um supermeta, por exemplo, evitar um perigo imediato, até mesmo se desviar da linha de fogo de um disparo de energia, por se antecipar e se mover fração de segundo antes do mesmo ser disparado, no caso de um agente sensciente natural, por exemplo. Se desviar de um agente automático, como um ZIG, é muitíssimo mais difícil. Na verdade, o supermeta eficiente evita não o disparo em si, mas a pontaria. Sua micro premonição pode impedir o ZIG de conseguir colocá-lo na mira. A micropremonição também pode ser usada para atacar, antevendo a posição do alvo, no entanto, é sempre mais eficiente na defensiva do que na ofensiva, visto que aquele que se defende tem o evento de interesse mais próximo de si, e normalmente é muito mais importante evitar ser atingido do que atingir algo. Por isso, muitos supermetas, ao se enfrentarem, acabam sendo obrigados a se aproximar, e quase sempre levam vantagem contra sistemas automáticos distantes, visto que sua eficiência em evitar o ataque, sendo dom metanatural, não é acessível à sistemas computacionais puros, ou mesmo mentes computacionais pré-senscientes. Há, porém, alguns casos menos comuns onde metanaturais são capazes de prever eventos não apenas segundos, mas minutos, horas, e, raríssimamente, até com dias de antecedência, mas nesses casos, o evento previsto já está colapsado, isto é, é impossível de ser impedido. Isso leva a pensar no fenômeno de forma diferente, considerando que na verdade a Micropremonição prevê apenas um evento futuro colapsado em si, como por exemplo, o fato de que um projétil ira passar num local tal, deixando em aberto apenas a possibilidade de que algo esteja ou não em tal local, e possa ser atingido ou não. Ou seja, o metanatural pode se antecipar e impedir ser atingido pelo disparo, mas este em si é um fenômeno já determinado que não pode ser impedido.

O enfrentamento entre Hiper Metas e naves automáticas como Espadas Espaciais é decidido pela equação entre entre o alcance, precisão e poder de fogo de ambos, do lado hipermetanatural, pelo nível da micropremonição, e do lado da nave, principalmente pela capacidade de movimentação, amplitude e frequência de disparo. É certo que os hipermetas levam vantagem defensiva, visto que possuem um dom que tem especial acurácia em preservar sua vida, além de serem alvos bem menores. Por outro lado, sua eficiência em atingir o alvo é significativamente inferior. Evidentemente, para a nave não há diferença de precisão entre atacar e defender, elas podem atacar em grande quantidade, realizar disparos de grande amplitude, e normalmente são programadas para se arriscar, visto que naves são sempre mais numerosas, mais "baratas" e mais fáceis de produzir que Hipermetas. No caso das Espadas Espaciais contra as seilans, porém, pode ocorrer o inverso. SEILA possui mais hipermetas do que Madre Terra possui Espadas Espaciais, para compensar a desvantagem, as E.E. costumam usar as Adagas Espaciais, isto é, naves menores, e mais leves, que são um meio termo entre os ZIGs e as EEs. A grande diferença é que os ZIGs são sistemas operacionais simples que em geral recebem ordens diretas de tripulações senscientes, e as Adagas Espaciais em geral são controladas diretamente pelas EE, embora os ZIGs ocasionalmente também possam. Com EEs, AEs e ZIGs, é possível criar uma esquadra de combate que compensa a inferioridade numérica. Além disso, como uma Hiper Meta seilan, apesar de tudo isso, ainda é mais valorizada do que qualquer máquina, SEILA não arrisca perder nem uma única de suas preciosas cidadãs a não ser em casos muito especiais.

Zentaris foi discípulo de Antares, que era até então o maior e mais famoso dos Anjos Estelares de DAMIATE, e o único que chegou a desafiá-lo. Antares, após séculos de vida com o Modulador de Força Mentônica, decidiu escolher um substituto, e assim treinou e passou o Modulador para seu sucessor, sumindo de cena, embora tenha conservado muitos poderes. Desde então, Zentaris tem deixado um trilha de feitos memoráveis, e atraído o interesse ferrenho das Seilans, que tentaram várias vezes seduzi-lo e dominá-lo, o que é motivo de muita preocupação, e ele não é o único, para DAMIATE, que o considera como peça fundamental no equilíbrio de forças da galáxia.

O artefato manual mais famoso das feiticeiras Seilans é a Bola de Cristal. Em geral uma esfera vítrea de cerca de 20cm de diâmetro que normalmente flutua, exceto quando totalmente descarregada. É desconhecido seu funcionamento, mas sabe-se que pode acumular quantidades indefiníveis de força mentônica para os mais diversos usos, que pode ser escondida trans dimensionalmente, num processo similar ao da esfera de invisibilidade, mas que a remove totalmente do espaço normal. É impossível saber se uma feiticeira tem sua bola de cristal disponível ou não, visto ser totalmente indetectável exceto para outras feiticeiras, e poder ser escondida por tempo indefinido, sendo recuperável a qualquer momento e imediatamente. Na presença constante da feiticeira, funciona quase como uma extensão do corpo, reagindo a cada pensamento, e normalmente orbitando sua mestra como se fosse um ZIG. Sua principal utilização é como arma, embora seja muito usada como visor e projetor de imagens também. Fora da presença da feiticeira, pode ser instável, e se for danificada, o cristal pode se pulverizar e liberar de uma só vez toda a força acumulada, com consequências imprevisíveis.

O LIVRO de Kluman é considerado por alguns pesquisadores como fonte de resquícios de conhecimentos Primordiais, embora a maior parte de seu conteúdo seja derivado de civilizações antigas, mas não tão poderosas e obscuras quanto os GRANDES PRIMORDIAIS. É especialmente intrigante a descrição, ainda que breve e alegórica, de portais espaciais que só viriam a ser descobertos pela HEXALIANÇA posteriormente em locais distantes.