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Alice se aproximou muito mais do que qualquer outro desde que começaram a atacar o monstro, que a ignorava, estava abaixado, numa vala repleta de finos cilindros horizontais que pareciam cabos, como se examinasse alguma coisa.
Com todo o rosto protegido pela máscara, semelhante a um capacete, ela desceu a vala, com cuidado, pé ante pé. E foi caminhando lentamente.
Desintegradores não podem ser usados a distâncias muito longas, este em especial. Além do mais não havia nenhum sistema de mira automática, e ela não poderia se dar ao luxo de desperdiçar disparos.
O Deomi-Zate estava de costas para ela, quando de repente parou o que estava fazendo. Se levantou devagar e se virou. E o imenso olho vermelho a fitou diretamente na viseira, e por um instante ela sentiu como se olhasse diretamente para dentro do inferno, e tremeu.
- "A radiação!"- Pensou ela. - "Ele deve ter sentido a radiação."
E sem hesitar mais ela puxou o gatilho.
O raio desintegrador era quase invisível, um sutil feixe esbranquiçado que por ir desintegrando as moléculas mais complexas do ar, deixava uma fina trilha de névoa que desaparecia rapidamente, mas o mesmo não se podia dizer de seu efeito.
A criatura erguera a mão com um escudo mentônico, mas foi inútil. O feixe não era constituído de partículas passíveis de serem desmontadas por reconfiguração mentônica, mas sim de quantas de informação pura que simplesmente instruíam a própria força nuclear da matéria a se desagregar.
O monstro gritou de modo indiscutivelmente doloroso, e em segundos sua mão direita brilhou numa luz branca, e simplesmente se desfez em meio a luz e fumaça.
Toda a complexa e intrincada estrutura orgânica se dissolveu, todas as variadas substâncias químicas foram convertidas no mais puro hidrogênio. O mais simples de todos os elementos.
O gás branco foi denso por breves instantes e então se dissolveu rapidamente, e quando ela pode ver melhor, do membro superior direito só restava o ante braço da criatura, e seu sangue escuro escorria rapidamente.
A criatura parecia atônita, e Alice não podia esperar mais. Apontou diretamente para seu tórax e atirou de novo.
Num movimento espantosamente rápido para seu tamanho o monstro tentou se esquivar, mas o raio ainda pegou de raspão abrindo um buraco pouco abaixo da axila esquerda e ainda atingiu uma estrutura de aparência metálica logo atrás, que se dissolveu da mesma forma.
De repente a criatura pulara e estava caindo sobre Alice, que mal tivera tempo de apontar a arma e disparar. Desta vez porém atingiu o vazio, ou melhor dizendo, o teto. Com incrível destreza o Deomi-Zate mudou a trajetória da queda e caiu no piso acima da vala onde Alice ficara.
A má-sorte fizera com que uma estrutura do teto se soltasse com o disparo e um breve desabamento obrigou Alice a um rolamento quase desesperado para se esquivar.
Quando ela se levantou ouviu um estridente som e foi jogada por uma onda de choque atordoante. A criatura emitira seu grito tenebroso.
Confusa, Alice mal pode ver o monstro se aproximar, apenas sentiu quando a sombra estava sobre ela. A pistola caíra e apesar de estar ligada a ela por cabos, a vertigem não permitia a amazona recuperá-la com rapidez.
Mas Alice já previra essa possibilidade e programara seus sistemas de armas para abrir fogo. Com
o escudo mentônico desativado, o Deomi-Zate foi atingido pelos múltiplos micro mísseis vindos
dos lançadores de Alice, e recuou.
Não demorou porém para reativar seu escudo e os lançadores pararam de atirar. Atordoado apesar de protegido, o monstro dava tempo a Alice para procurar a pistola, mas a tontura continuava e só então ele percebeu.
Não fora o ataque do monstro. Era a radiação!
Alice sentiu um súbito embrulho no estômago e olhou para o painel de seu pulso. Já havia gastado quase metade do Urânio e o nível de radiação estava no grau máximo de periculosidade. A liberação de radiação era tão intensa que nem mesmo sua roupa protetora era suficiente.
Foi puxando o cabo apressadamente e conseguiu pegar a pistola novamente.
Bem a tempo, pois o monstro acabara de agarrá-la pelo tórax com a imensa e peluda mão esquerda.
Numa reação apavorada ela pensou apenas em não atirar num ponto muito próximo de si, e apontou para o antebraço da criatura puxando o gatilho.
Outro rugido de agonia assustador foi emitido pelo Deomi-Zate, que acabara de perder seu outro braço. Mas Alice estava muito ocupada para comemorar a revanche, pois percebia claramente a onda residual de desintegração se espalhando pelo que restava do punho da criatura que ainda a agarrava.
Fez um enorme esforço para abrir os dedos, e só conseguiu porque eles perderam a tensão assim que os tendões foram sendo dissolvidos, e ela então conseguiu empurrar a mão para longe dela.
Ela caiu por uns segundos, respirou fundo e atirou de novo. Mas errou feio. A tontura anulou sua pontaria e o raio passou direto sumindo adiante.
Então uma súbita e violenta agonia a obrigou a tirar a máscara e respirar. Só ficou com o visor, se agachou e vomitou tudo o que tinha, e até o que parecia não ter no estômago.
A respiração ficava cada vez mais difícil e ela não conseguia se levantar.
Ainda agonizando olhou em frente novamente e o monstro estava de pé perante ela, como se estivesse apreciando seu sofrimento.
Ela apontou a arma mais uma vez. Desta distância não iria errar, mas a criatura ainda tinha um membro. A cauda se lançou a frente e tinha dois dedos que agarraram a pistola e a puxaram. Em consequência Alice também foi puxada caindo ao lado do monstro, que então soltou a pistola e a agarrou pelo pescoço.
Só agora ela percebia que a cauda era ágil e forte, e o monstro começou a estrangulá-la. Ela só pensou em sacar uma pequena adaga que tinha na cintura e com ela furou o espesso quinto membro do monstro que não foi insensível ao ataque, soltando-a imediatamente.
Seu sistema de armas se acionou automaticamente e por sorte o monstro estava novamente sem sua aura protetora, sendo obrigado a recuar ante os múltiplos disparos até que a munição acabou.
Sentindo uma dor indescritível ela se esforçou imensamente para recuperar a pistola. O monstro estava longe mas parecia tão desorientado quanto ela. Bastaria um único disparo certeiro e tudo estaria terminado.
Porém ela mal conseguia enxergar, e agora sua cabeça doía tanto que começava a ouvir vozes. Fez um tremendo sacrifício para, de joelhos, se posicionar melhor e apontar a arma para o que parecia ser o alvo.
Se concentrou e com toda sinceridade rezou a Xantai, que ela dizia não acreditar apesar de constantemente se referir a uma deusa.
Sentiu então um breve alívio, como uma ligeira benção, e mesmo sem o apoio de seus sentidos, sua intuição lhe orientou a puxar o gatilho.
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