MACRO DIMENSÃO I
Uma das maiores conquistas de um escritor de FC é ser original, e por isso mesmo a maioria dos autores tem a sua própria visão de Hiperespaço. Assim, pretendi desenvolver também uma abordagem original, mesmo que já tenha visto uma ou outra idéia que se aproxime.
Trata-se de, efetivamente, desenvolver uma terceira forma de viagem espacial que não seja, literalmente, nem Encurtar o Caminho, ou pegar um Atalho, nem a Velocidade Superluminal.
Mais uma vez, desenvolvi essa idéia preliminarmente no
PLANETA FANTASMA, o que por sinal atrasou um bocado o lançamento do capítulo 4, visto que eu queria apresentar uma abordagem nova e coesa de Hiperespaço.
Pode ser difícil imaginar uma alternativa a tão limitadas possibilidades, mas, sendo honesto, ela seria equivalente ao encolhimento de caminho da Meia Dobra Espacial, porém, no sentido inverso, AUMENTANDO O TAMANHO DA NAVE. Ou seja, o caminho seria feito mais rapidamente não porque ficou mais curto, mas porque a nave ficou gigante!
Imaginemos que uma pessoa corra dando passos de 1m, e assim demora 100 passos para cobrir 100m. Mas se ficasse de repente 20 vezes maior, daria, evidentemente, apenas 5 passos.
Essa idéia mexe com algumas outras previsões de teorias científicas atuais, como as "micro dimensões" da Teoria das Cordas, que aqui, devidamente invertidas, se tornariam macro dimensões. Bem como a previsão da Teoria da Relatividade de que um objeto acelerado a velocidades próximas a da luz aumentaria de massa, e possivelmente também de tamanho, a proporções que por fim inviabilizariam que continuasse sendo acelerado.
Além disso, também aplica de uma forma bastante direta o conceito matemático geométrico de Quarta Dimensão, que como foi frisado no texto sobre
Teletransporte, não tem que ser necessariamente a dimensão do Tempo, ou o Tempo em si.
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Pelo conceito matemático de 4 dimensões,
sabemos que:
0 D = Ponto;
1 D = Linha / Reta;
2 D = Plano / Quadrado;
3 D = Volume / Cubo;
4 D = Hipercubo.
Também conhecido como TESSERACT.
Cada dimensão adicional é como uma ampliação das anteriores.
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No entanto, observe que a cada dimensão, aumenta-se grandemente a anterior. O ponto não foi apenas duplicado, mas aumentado centenas de vezes, o mesmo se deu com a linha e o plano. Lembrando que devemos ignorar as aparentes dimensões do ponto, como se ele fosse uma esfera, ou da linha, como se fosse um cilindro, etc.
O fato é que aumentamos o cubo para uma representação de Hipercubo que aparenta ter o dobro do tamanho, apenas para se ter uma noção didática. Se seguirmos o mesmo padrão, o hipercubo deveria ser centenas, milhares de vezes maior que o cubo. Na realidade, seria infinitamente maior, mas podemos nos contentar com um punhado de zeros à direita.
Cada vez que entra numa dimensão superior, o objeto é forçado a assumir uma dimensão nova que equivale a uma ampliação incalculável de seu tamanho original. Assim, se uma nave entrar na Quarta Dimensão, ela tenderia a aumentar milhares de vezes em relação ao seu tamanho tridimensional.
Assim, essa concepção de Hiperespaço, como uma Quarta Dimensão Espacial, nos leva a idéia de uma MACRO DIMENSÃO, ou um Macro Espaço, onde os objetos provenientes de dimensões inferiores obrigatoriamente assumiriam um tamanho relativo muitíssimo maior, conservando todas as suas demais propriedades intactas.
Se uma nave se movendo a um décimo da velocidade da luz demoraria 50 anos para chegar na estrela mais próxima, se ela entrasse na Macro Dimensão, mesmo que mantendo sua velocidade relativa, e aumentasse ao menos mil vezes, faria a viagem em menos de um mês.
A questão toda passa a ser: Como penetrar nessa dimensão?
Aparentemente, seria necessário encontrar uma ruptura, uma abertura que permitisse o acesso, tal como um portal natural. Da mesma forma como o mundo tridimensional parece poder conter infinitos mundos bidimensionais sobrepostos, talvez a Quarta Dimensão, ou o Macro Espaço, conteria infinitos universos tridimensionais. Assim, qualquer acesso a uma dimensão superior só poderia provir desta dimensão superior.
Ou talvez seria possível forçar uma passagem. Se os habitantes de um hipotético mundo 2D conseguissem concentrar uma quantidade significativa de matéria num único "ponto" de seu universo, talvez chegasse a um limite onde essa matéria forçaria o escape para a terceira dimensão. Assim, promover um acesso ao hiperespaço implicaria em promover um artifício, possivelmente algum tipo de "buraco negro" que geraria um colapso no espaço normal forçando a passagem para a Macro Dimensão.
CLAVE ESPACIAL
Em inglês, eu daria a esse conceito o nome de Space Wedge, ou Hyperspace Wedge. Mas, convenhamos, a tradução literal "cunha espacial" é no mínimo deselegante. Por isso, após testar terminologias como chave, optei por CLAVE, para dar um proposital tom mais exótico, "musical" (típica e irresistível analogia da Teoria das "Cordas"), e ainda se assemelhar a palavra clava, dando idéia de algo que "força" uma passagem para o Hiperespaço.
Assim, uma nave teria que, após acelerar o suficiente, de preferência com um sistema de Hiper Vibração, lançar um tipo de "bomba" à sua frente, que ao "explodir", causaria um colapso no tecido espacial, permitindo a nave adentrar na Macro Dimensão.
Se houvesse seres 2D fazendo algo equivalente, é provável que nós, seres 3D, sequer os percebêssemos, visto que seriam microscópicos. Aliás, é uma das possibilidades sugeridas pela
Teoria-M e sua ordenação de dimensões. Assim, o que quer que haja no hiperespaço, é possível que sequer se dê conta de nossa intromissão.
Resta então, conceber como sair da Macro Dimensão.
MACRO DIMENSÃO II
A nave 3D estaria no espaço 4D por algum tipo de artifício. Quando isso fosse suspenso, desativado, a nave não poderia continuar no hiperespaço, sendo naturalmente jogada de volta ao espaço normal. Penso que tal artifício seria obviamente a Hiper Vibração, que permitiria a flexibilidade da matéria e a expansão obrigatória induzida pela Macro Dimensão. Na falta ou redução dessa flexibilidade, a nave não poderia mais se expandir, e impedida de manifestar sua característica 4D, não poderia mais existir nessa dimensão.
Claro que podemos pensar também que ela poderia ser aniquilada, ou definitivamente alterada de modo a não mais poder voltar ao espaço normal. Se pensarmos num ser bidimensional que penetrou na terceira dimensão e com isso adquiriu obrigatória tridimensionalidade, podemos concluir que tendo se tornado 3D, jamais poderia voltar a ser 2D, da mesma forma como é fácil perceber que nós jamais poderíamos nos tornar bidimensionais.
É por isso que insisto em acrescentar a Hiper Vibração, que permitiria uma simulação macro dimensional, e não uma verdadeira tetradimensionalização. De forma análoga, se o ser bidimensional não se tornasse realmente 3D, apenas simulando essa característica como forma temporária de se manter no mundo 3D, assim que tal simulação fosse suspensa, voltaria ao espaço 2D.
Lembrando da animação das dimensões acima, veja que usamos um padrão regular de expansão da dimensão zero para uma simulação de quarta dimensão, o Tesseract. Mas nada exige que um quadrado 2D teria que se tornar um cubo. Poderia apenas ganhar uma altura mínima. A animação na verdade representa qual seria o limite máximo de uma expansão regular. Haveria então um limite de expansão. Para a linha, seria o equivalente 2D de seu comprimento 1D. O Hipercubo seria o equivalente 4D de seu volume 3D. Ocorre que, ao que tudo indica, esse aumento tenderia ao infinito, a não ser que estabeleçamos uma medida referencial mínima dizendo que todo ente possui medidas supradimensionais fundamentais.
Assim, a entidade bidimensional não teria de fato "altura" zero, e sim mínima, e evidentemente regular. A linha também teria medidas mínimas de 2D e 3D, e o ponto, assim como todas a entidades de qualquer dimensão, teria na verdade todas as dimensões, mas todas mínimas.
Assim nós também teríamos todas as dimensões, porém só conseguimos perceber 3 porque só nelas possuímos uma medida significativa, sendo mínimos nas demais. Essa medida mínima seria do tamanho de uma "Partícula Fundamental", uma entidade quântica indivisível. Se fosse do tamanho de um Quark, então seria simples calcular o quanto seríamos maiores na quarta dimensão, bastando multiplicar nosso volume pela quantidade de quarks que temos de altura.
Um número que simplesmente não caberia aqui.
Mas, O MAIS IMPORTANTE, é que não conseguimos de modo algum visualizar a quarta dimensão efetivamente. O que podemos fazer é simulá-la, ou aplicar uma noção equivalente. Assim, uma nave tridimensional não se tornaria de fato tetradimensional ao adentrar a Macro Dimensão, mas sim, simularia essa nova dimensionalidade por meio de uma expansão irrefreada de suas dimensões naturais. De mesmo modo, um ser bidimensional não poderia nunca se tornar, de fato, 3D, mas poderia simulá-lo.
Na verdade, qualquer das animações anteriores que simule tridimensionalidade é um exemplo de como o 2D pode simular o 3D. E com isso, basta lembrarmos o conceito anterior de que nosso universo 3D possa estar numa forma 4D que não conheçamos, da mesma forma como os seres bidimensionais podem acreditar estar num mundo plano, embora este seja curvado na terceira dimensão.
Além disso, algo similar ocorre até mesmo com nossa experiência normal. Embora sejamos tridimensionais, nossa visão funciona como se fosse 2D, simulando tridimensionalidade. Essa simulação envolve inclusive aumentar ou diminuir o "tamanho" visual de objetos de acordo com a distância. Nossa própria noção de tridimensionalidade é baseada mais numa manipulação perceptiva de duas dimensões, a ponto de podermos até nos enganar quanto ao real tamanho de objetos dependendo da distância.
Enfim. Talvez não se justifique tanta preocupação em como sair da Macro Dimensão visto termos que apelar a conceitos tão exóticos. Mas não custa nada ao menos apontar os problemas potenciais e possibilidades solucionais.
Para finalizar essa parte, quero apenas apontar uma consequência bizarra da possibilidade de se ascender a uma dimensão superior, que seria o fato dos seres 3D voltaram "invertidos", isto é, no caso de um ser humano, voltar totalmente "espelhado", com órgãos internos todos no lado oposto, bem como sua percepção e lado dominante trocado.
Embora perfeitamente são e íntegro, quem é canhoto poderia voltar destro, com o coração batendo no lado direito, com aquela cicatriz na perna direita no lado esquerdo, etc. A explicação para isso é simples.
O objeto 2D, enquanto no mundo bidimensional, só pode se mover, girar ou aumentar num único plano, em torno de um eixo Z, altura, imaginário. Somente passando para a terceira dimensão poderia girar também em outros dois eixos, X e Y, podendo voltar invertido no plano / eixo original.
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Pelo mesmo princípio, um objeto 3D só pode se mover, girar ou aumentar em torno de 3 eixos: X, Y e Z. Mas na quarta dimensão poderia girar em torno de um adicional eixo W, que lhe permitiria, por meio de um movimento análogo a "virar do avesso", se inverter no mundo 3D!
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E, claro, isso também poderia acontecer a teleporters.
FINALIZANDO
Sem pretender esgotar o assunto, e recomendando a leitura do texto paralelo
TELETRANSPORTE, o tema das Viagens Espaciais é bem mais vasto, abrangendo outras possibilidades interpretativas, baseadas ou não na física contemporânea.
O mais importante é notar que é preciso recursos muitíssimo mais avançados do que os atuais para lograr viagens interestelares. Recursos estes que certamente não se limitariam apenas à questão das viagens espaciais.
Séres como Alien ou Battle Star Galactica parecem incrivelmente contraditórias ao apresentar tecnologias de deslocamento superluminal, bem como Gravidade Artificial, e ao mesmo tempo tecnologias tão primitivas em quase todos os outros aspectos, sem dar qualquer justificativa para isso.
Se as viagens interplanetárias já tem sido realidade, as interestelares são um sonho bem longínquo, e as intergalácticas são tão mais improváveis que a própria FC tem sido modesta em abordá-las. Apesar de bordões comerciais tolos que vivem falando em estórias intergalácticas, o fato é que bem poucos autores realmente levam suas estórias num âmbito tão amplo, até pelo simples fato de que apenas uma galáxia com seus bilhões de sistemas estelares, é muitíssimo mais
que suficiente para ocupar as mais férteis mentes.
A Via-Láctea tem mais de 100 Mil Anos-Luz de diâmetro. Para que um dia possamos singrar a galáxia de um extremo ao outro em menos de um dia, como se faz em STAR WARS (que se passa em uma outra galáxia, muito distante, porém totalmente equivalente à nossa), teríamos que nos mover quase 40 milhões de vezes mais rápido que a luz, e apesar de todas as idéias apresentadas, não há esperança de que qualquer pessoa da atual ou da próxima geração tenha sequer perspectiva de quando isso poderá acontecer.
No entanto, nossa mente é um universo à parte, ainda mais vasto e complexo que uma galáxia, e sonhar com a exploração da galáxia é, sobretudo, explorar a criatividade, desafiar a imaginação.
Isso podemos fazer. Que as viagens interestelares sejam uma alegoria das viagens intra cognitivas, nos levando ao auto conhecimento, e sempre que possível, indo onde jamais se esteve antes.
Marcus Valerio XR
Maio e Junho de 2011