O CRIADOR DO MUNDO

Vejamos então 4 opções distintas.

Possibilidade 1

O Mundo pode ser uma estrutura física tal como nos mostram os sentidos, de acordo com a ciência materialista, resultado de uma evolução geológica, biológica e antropológica. Quer seja obra de uma consciência ou não, tem leis imutáveis e está fora de meu controle.

Possibilidade 2

O Mundo pode ser uma ilusão sensível, que domina toda a minha percepção e regido por leis de uma Força Superior Consciente, que controla a ilusão, e estando assim, fora de meu controle.

Possibilidade 3

O Mundo pode ser uma ilusão sensível, ou mesmo uma realidade física mas gerado por uma coletividade de Consciências não necessariamente superiores. Nesse caso eu poderia ser uma dessas consciências, e a combinação unida, intersectiva e subtrativa de nossas mentes, em número indefinido, cria a realidade. Dessa forma, minha vontade sozinha é insuficiente para exercer um controle direto sobre a realidade, pois esta está submetida a inumeráveis outras consciências até mesmo talvez, extrafísicas. A não ser que eu unisse uma quantidade suficiente dessas mentes numa única vontade, o mundo ainda está fora de meu controle.

Possibilidade 4

O Mundo pode ser uma criação minha! Apenas de minha vontade. Uma ilusão ou mesmo uma realidade física. Mas por algum motivo eu perdi o controle sobre esse mundo. Talvez eu seja um Deus que decidiu num determinado momento, tirar férias do pesado expediente cósmico de administrar o Universo. Me inseri em um mundo e me programei para esquecer tudo, criando o real a minha volta até que num dado momento ou sob uma determinada condição, recupere minha divindade. De qualquer modo, ainda que eu crie toda a realidade a minha volta, isso é feito por uma parte inalcançável de mim mesmo, um nível superior de minha consciência que de qualquer forma, está fora de meu controle direto.

 

O grande ponto em comum dessas 4 possibilidade é que o Mundo está fora de meu controle. Não posso levitar, atravessar paredes ou viajar no Tempo. Estou submetido a regras. Sendo assim qual a única conclusão lógica de minha explanação? Qual a minha certeza?

De que há algo além do meu controle que mantém a realidade a minha volta! Portanto minha substância sensível e pensante não é a única coisa que existe, há algo mais, algum domínio que meu trio Sentimento-Vontade-Pensamento não alcança. Há algo mais.

Recapitulando. Constatei por mim mesmo que:

Eu Existo! Na forma de SENTIMENTO-VONTADE-PENSAMENTO

O Mundo existe! Quer seja físico, ilusório ou onírico.

Existe algo além de Mim e do Mundo! Algo que cria esse mundo. Ou mesmo que esse algo seja o próprio mundo, é algo mais do que o mundo em si que eu percebo.

Algo Cria o Mundo, algo que não sou exatamente eu!

AS CRIATURAS DO CRIADOR

Agora eu tenho um outro problema. Estaria eu sozinho no mundo? Cercado por ilusões ou autômatos? As outras pessoas existem? Ou serão elas apenas coisas? Máquinas que simulam um ser como eu?

Sei que existo e que existe um mundo, sei que existe algo além disso. Mas esse mundo é repleto de pessoas aparentemente como eu. Serão elas reais ou fruto de minha imaginação?

Será que elas possuem realmente uma essência pensante?

Serão elas também compostas de PENSAMENTO-VONTADE-SENTIMENTO?

Sou emocionalmente tentado a considerar como reais as pessoas que me cercam, a querer que elas existam, mas não posso ceder ao óbvio, ao conveniente ou ao moralmente "correto". Pude provar a Minha existência, não a dos seres humanos! E minha filosofia existencialista então assume um aspecto fortemente egocêntrico, mas inevitável para buscar a realidade através de mim mesmo.

Primeiro me proponho a eliminar algumas dúvidas, voltando às possibilidades anteriores posso isolar um pouco meu campo de investigação.

A Possibilidade 3 dispensa comentários. A existência das outras pessoas é condição para sua viabilidade.

A Possibilidade 1 é a da Ciência Materialista, por ela não faria nenhum sentido eu considerar apenas a minha existência, pois o meu corpo sendo real o das outras pessoas também seriam, somos biologicamente iguais. Nessa possibilidade não há espaço para a ilusão, e mesmo que eu fosse o único dentre todos os humanos a desenvolver de fato a consciência, de onde teria vindo toda a fantástica cultura? Essa possibilidade garante a existência das outras pessoas.

A Possibilidade 2 é não materialista, mas funciona como se fosse, criando um mundo ao meu redor mas não necessariamente que girasse em torno de mim, dessa forma não faria sentido que os outros seres humanos não possuíssem a mesma essência que eu comprovei em mim mesmo.

Mas isso não elimina a discussão, num certo sentido ela é igual a 4. O mundo poderia ser sim, criado única e exclusivamente em minha função, quer por uma parte superior de meu próprio ser ou por um Ser Superior. Nessas opções a dúvida persiste, mas na possibilidade 4 há meios para neutralizá-la. Se sou eu o Deus de meu próprio Universo, mesmo que as pessoas não existam eu quero que elas existam, enquanto estiver sem minha divindade elas existirão porque não posso negá-las com certeza, e quando assumir novamente minha condição de Deus, se elas não existirem, muito provavelmente irei criá-las. Discutível? Sim. Mas um pouco menos desagradável.

Ainda assim insisto que a Possibilidade 2 tende à existência dos outros, a 4 também, embora não definitivamente.

Como ter certeza?

Há variações dessas possibilidades, cruzamentos e intersecções entre elas, mas de qualquer modo, concluí afinal que essa questão não é muito diferente da existência do mundo. Ela se refere à realidade sensível externa a mim, as pessoas do mundo. Quer elas existam ou não isso não altera minha percepção inicialmente egocentrista da realidade e sendo assim para todos os efeitos, NÃO IMPORTA.

Tanto essa questão quanto a questão do mundo não podem ser resolvidas, mas de qualquer modo isso não é problema pois qualquer que seja sua verdade não altera o modo como eu creio poder ver a realidade da forma mais profunda possível. Eu tenho que tratar as pessoas como sendo existentes e dotadas da mesma natureza que a mim mesmo. Caso contrário minha proposta pessoal seria abalada, que é a de ajudar na libertação e na felicidade humana.

Afinal, na dúvida invencível, melhor tomar o partido daquilo que parece ser mais convincente.

Não me envergonho de admitir que ao encontrar um obstáculo aparentemente intransponível eu simplesmente o contorno. Embora não goste de desistir de desafios, devo mensurar uma relação de custo benefício, principalmente devido a uma questão de tempo. Não acredito ser válido me engalfinhar numa questão tão metafísica quanto a anterior se há tanto mais a fazer. Sei que mesmo uma descoberta revolucionária dificilmente irá alterar drasticamente os rumos de minha investigação pessoal, embora admita que ela possa mudar no futuro.

É nesse momento que necessito voltar ao meu equilíbrio e evitar pender a balança excessivamente para o lado racional. Sendo um ser humano, também tenho minha emotividade e me sinto na obrigação de respeitá-la.

É o que abordarei mais adiante.

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