DreamBook Marcus Valerio XR Mensagem de Romualdo Alves romualdo@crn.inpe.br Meus comentários estão em AZUL. Sobre uma das suas favoritas contradições bíblicas que você selecionou para apresentar no seu site você diz: "Há inúmeras contradições que podem ser facilmente demonstradas ...
citarei apenas 3 das minhas favoritas:
Prezado Marcus, Se você ler os capítulos 10 e 11 com um pouco mais de atenção terá muita facilidade em concluir que foi precipitado em dizer que se trata de uma contradição. O capítulo 10 se limita a apresentar todas as gerações que surgiram após o dilúvio, uma a uma, de todos os filhos de Noé, sem se prender aos fatos históricos associados. INclusive, no finalzinho do capítulo 10 conclui-se esta parte dizendo: "são estas as famílias dos filhos de Noé". Este era o objetivo: apenas apresentar as famílias de Noé. Feito isso, agora, o capítulo 11 volta novamente para o período logo após o dilúvio, quando só havia uma linguagem, pois só havia a família de Noé e começa-se a detalhar os fatos históricos. O texto de Gn 10:9-10, sobre Ninrode e Babel é então explicado, detalhado e apresentado no capítulo 11. Ou seja, os fatos do capítulo 11 (detalhes de como surgiram as diversas línguas) não são uma seqüência do capítulo 10 (resumo genealógico). Para os desatentos, pode parecer uma narrativa sequencial e, portanto, contraditória. Mas, eu creio que você fará uma releitura dos capítulos 10 e 11 e concluirá com muita tranqüilidade que não há qualquer contradição. (É como se você me apresentasse a sua família em 2003 dizendo quem é cada um deles, onde mora etc e depois começasse a detalhar os fatos mais importantes do início da formação da família, anos atrás. Simples, não?!) Depois eu pretendo apresentar algo sobre as suas outras contradições favoritas. Abraços, Romualdo. Thursday, April 17th 2003 - 07:40:45 AM
Caro Romualdo...
Muito obrigado por sua participação e e disposição em abordar esta questão. Se você verificar
em meu Livro de Visitantes a Mensagem no 99,
de Edson Júnior, verá que esse assunto já foi abordado por ele inclusive com o mesmo argumento,
o do paralelismo, e não sequencialismo, entre os capítulos 10 e 11.
(...)a possibilidade do paralelismo é latente. Há porém ao menos dois pontos que depõem
contra essa apologia.
1-De fato até o versículo 5, Capítulo 10 da Gênese, sua interpretação me parece válida, já
no versículo 20 está dito claramente que aos filhos de Cão foram repartidas as terras segundo
suas línguas, e os filhos diretos de Cão são apenas Cuche, Mizraim, Pute e Canaã, sendo Cuche
o pai de Ninrode, que viria a construir a Torre de Babel e desencadear a intervenção divina
originadora das diferentes línguas. Uma forma de evitar a certeza da contradição é considerar
que o termo "filhos" seja interpretado como descendentes, e/ou que o "segundo" seja entendido
como "em seguida", dessa forma as diferentes línguas poderiam ser atribuídas apenas às gerações
posteriores a Nimrode e Babel, de forma paralela aos descentes de Jafé, o que até parece
reforçado pelo versículo 25 que sugere uma repartição posterior da terra. Mas isso apenas
troca a contradição certa pela possível, não resulta em uma solução segura, e ainda implica
no próximo ponto.
2-O outro problema está no capítulo 11. Para que a construção de uma obra como a Torre de
Babel fosse possível, seria necessária uma quantidade de trabalhadores estimada no mínimo em
alguns milhares, mas contando as gerações até Nimrode e seu primeiro reino, Babel (10:10),
mesmo levando em conta inúmeras omissões, é impossível estimar um número maior que uma centena,
a não ser que ele arrebanhasse também os descendentes de Sem, o que parece ir contra o
Capítulo 9, e o fato de Cão, Sem e Jafé terem constituído nações distintas, sendo a de Cão
a oriental. Uma população de menos de mil justificaria a divisão de terras e as migrações,
mas só muito mais que isso possibilitaria uma obra como Babel, e as referências a partições
de terra tanto dos "filhos" de Jafé quanto de Cão não sugerem uma decorrência de tempo tão
extensa.
Ainda assim sua argumentação é mais do que suficiente para impedir que se conclua
definitivamente em favor da contradição, e nesse sentido parabéns, é uma boa resposta.
Na mesma ocasião explico porque esse argumento apesar de válido, não é suficiente para
eliminar a possibilidade de contradição.
Fiz dessa uma de minhas contradições favoritas porque ele apresenta um notável efeito sobre
quem a examina. A primeira vista é difícil discordar da aparente contradição entre as afirmações,
num segundo exame mais detalhado, e possível constatar a possibilidade do paralelismo e então
argumentar da forma como fizeram Edson e você, porém, basta apontar mais alguns outros detalhes
o problema apresenta desmembramentos bem mais interessantes.
Para não repetir o argumento que usei em resposta ao Edson, que sugiro que seja lido, podemos
detalhar melhor o Capítulo 10:
"1 Estas, pois, são as gerações dos filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé, aos quais nasceram filhos depois do dilúvio.
Ora, veja que foi dada a ação de Ninrode que ocorreria a ação divina que daria origem aos
diferentes idiomas, portanto, as línguas só passariam a existir depois que ele se tornasse o
primeiro poderoso da Terra e construísse Babel.
Primeiro, não está claro que a repartição das nações, terras e línguas tenham ocorrido apenas
aos filhos de Javã, e menos ainda que o teria ocorrido apenas aos descendentes mais distantes de
Sem, como diz o versículo 31.
Mas se fosse, essa repartição de terras que incluiria idiomas diferentes teriam ocorrido aos
netos de Jafé, bisnetos de Noé, porém os eventos que viriam a produzir os idiomas só ocorreriam
por ação de Ninrode, neto de Cuche, Bisneto de Noé.
Se consideramos a simultaneidade, ou ligeira posterioridade dos netos de Jafé, poderíamos então
aceitar que essa divisão de línguas tenha sido possível, sem entrar em contradição com o
Capítulo 11, que como você disse, seria uma narrativa retomada de um momento anterior. Para
sustentar essa opinião já contamos com duas hipótese não confirmáveis, de que a referência a
multiplos idiomas diz respeito apenas ao netos de Jafé, e que estes são posteriores aos
feitos de Ninrode. E isso sem tocar no problema do versículo 31 que parece ir contra tudo isso.
Mas mesmo aceitando essa possibilidade, fica uma questão muito curiosa. Se contarmos, veremos
que mesmo somando os descendentes dos 3 filhos de Noé, a geração de Ninrode não poderia ter
mais que 100 indivíduos, contando com as mulheres e considerando que nenhum deles tenha morrido,
gozando de grande longevidade e saúde.
Fica então a questão de se esse punhado de indivíduos, se deslocando para o oriente e supondo
que estivessem todos juntos, conseguiriam edificar uma cidade, Babel, e uma torre que iria até o
céu?
Uma obra dessas me sugere uma quantidade de mão de obra faraônica. É claro que podemos
considerar que o termo "Torre que vai até o Céu" seja uma mera alegoria imprecisa, mas creio que
tal obra deveria ter ao menos algumas dezenas de metros, ou seria mais sensato tentar alcançar o
céu através de uma árvore. Na verdade, teria que ter kms! Pois as montanhas seriam uma opção
melhor.
Não quero nem considerar as implicações técnicas de tal construção, mas de qualquer modo não
consigo ver nenhuma chance de que algumas centenas de pessoas erguessem um torre de altura tão
significativa mesmo que tivessem materiais de excelente qualidade e engenharia de alta precisão.
Sem querer também entrar nos absurdos fundamentais da lenda de Babel como um explicativo para
o origem dos idiomas, acho curioso também imaginar um processo de divisão de nações e terras
entre pessoas que não se entendem devido a uma divergência idiomática recém implantada.
Bem, como está explicado na resposta para a
Mensagem no 99 de Edson Júnior, admito
que há boa possibilidade de que a narrativa de Gênese não implique em contradição, mas repito,
impede apenas uma contradição inevitável substituindo por uma provável, e ainda acrescenta o
problema numérico do operariado que teria erguido a potentosa Torre de Babel.
Encarecidamente Marcus Valerio XR |