Marcus Valerio XR

TELE TRANSPORTE

Observação: Este texto está parcialmente relacionado com o texto de Viagens Espaciais. Não há necessidade de leitura prévia de um ante o outro, mas sendo textos paralelos, é aconselhável ler ambos para uma melhor abordagem dos temas que compartilham, o Teletransporte Espacial.

Sendo animais, nada mais natural que as condições de movimento em nosso mundo espacial tenham importância cabal para nossas vidas. Quanto mais rápido e mais longe possamos ir, por qualquer meio, melhor. Assim, a idéia de que possamos nos deslocar de um ponto a outro instantaneamente, sem qualquer gasto de tempo, é algo que sempre nos fascinou.

Enquanto nossos corpos estão submetidos a rígidas leis físicas que limitam nossa liberdade, nossa mente sempre pôde sonhar em transcender esses limites. Desde os primórdios da história não nos foi difícil imaginar deuses e seres míticos dotados dessa invejável capacidade, podendo se mover livres das limitações que restringem os mortais.

Assim, a idéia de se transportar instantaneamente não é uma novidade nem uma invenção da Ficção Científica, porém, foi somente nela que começamos a de fato pensar sobre o assunto, e não somente no terreno ficcional, pois nossa ciência já começa a dar seus primeiros, e timidíssimos, passos no terreno do teletransporte. Ainda que de meras partículas.

Nesse texto, vamos examinar como funcionam as principais idéias sobre o assunto, sua viabilidade e sobretudo as consequências, muitas das quais jamais consideradas pela maioria dos autores de FC.

DOIS TIPOS BÁSICOS
DE TELEPORTE

Teletransporte de Partículas
Teleporte Super Dimensional

Para nos movermos de um ponto a outro, nada mudará o fato de que há um espaço a ser percorrido, e a única coisa que pode variar é o modo como tal travessia é feita. Assim, podemos considerar os modos distintos com que duas concepções radicalmente diferentes de teleporte, ou teletransporte, implicam.

A esses modos, daremos os nomes simplificados de Teletransporte de Partículas, que envia o item a ser teleportado em partes, e Teletransporte Super Dimensional, que por meio de um "atalho" no espaço-tempo, envio o item por inteiro.

Teleporte de PARTÍCULAS


É a concepção utilizada principalmente por STAR TREK, onde um objeto qualquer é desintegrado, convertido num feixe de energia, e então reconstruído em seu local de destino. Também pode ser concebido em ambientações de fantasia, por meio de super poderes ou magia, mas normalmente tem estado vinculado a Ficção Científica.

Bastante problemática e complexa, muito já se falou das impossibilidades físicas de tal tecnologia, bem como de suas implicações filosóficas. Os livros A Física de Jornada nas Estrelas, bem como A Metafísica de Jornada nas Estrelas, exploram bem esse tema.

Apesar de haver algumas abordagens científicas concretas nesse campo, elas estão restritas apenas a transportar estados quânticos entre as próprias partículas em si, não sendo de forma alguma aplicável a desintegrar e reintegrar objetos, sendo mais promissor no sentido de telecomunicação superluminal.

Os Problemas Físicos...

...começam na desintegração do corpo a ser transportado. Ela não poderia ser feita por qualquer método que conheçamos, como calor intenso por exemplo, porque este não apenas desmontaria o corpo, mas sim destruiria suas "peças", dependendo de em que nível se daria esse desmantelamento.

Teria que ser usado um processo que desintegrasse as partes sem causar um dano estrutural, como se simplesmente desativasse as forças de atração envolvidas em algum nível. Este nível teria que ser delimitado. Celular? Molecular? Atômico? Subatômico?

Para que fosse convertido em energia, teria que ser a nível subatômico, visto que não se disparam "raios" ou "ondas" de oxigênio, carbono ou ferro. Mas isso implicaria em fissão nuclear, e numa conversão completa de toda a massa em energia.

O resultado seria a emanação de uma energia absurdamente colossal! Muitíssimo maior que a de uma bomba nuclear, que obtém sua energia da desintegração de uma pequenina fração de matéria. É difícil imaginar um sistema capaz de canalizar, emitir e receber tal energia.

Por fim, o receptor teria que realizar o procedimento oposto, reconvertendo a energia em massa, por meio de processos que provavelmente envolveriam fusão nuclear, muitíssimo mais complicada e dispendiosa. Então, organizar cada átomo e recompô-los em moléculas e por fim células, reconstruindo o corpo. Além dos problemas energéticos envolvidos, incluindo perdas termodinâmicas, e do modo como essas partes seriam manipuladas, ainda teríamos o problema da quantidade estupenda de dados computáveis envolvidos.

O computador teria que armazenar uma base de dados criteriosa e infalível, que no nível genético celular, envolveria uma quantidade de bytes maior que o de todos os computadores terrestres já imaginados, e uma capacidade de processamento praticamente inimaginável.

Se fosse para teletransportar um objeto muito simples, como uma peça sólida de ferro, seria uma coisa. Mas lembremos que os organismos vivos são incomensuravelmente mais complexos, e que o corpo humano é a coisa mais complexa que conhecemos.

E os problemas ainda mal começaram.

Os Problemas Filosóficos...

...são bem mais perturbadores, considerando a questão da continuidade de um indivíduo teletransportado por esse processo. Ora, será que a pessoa que foi totalmente desintegrada, transportada e reintegrada permaneceria a mesma?

Não se está falando do fato de que ela poderia ser facilmente identificada pelas outras, mas estamos falando da percepção dela própria. Como garantir que a pessoa original não se perdeu para sempre, e que a "nova" seja apenas uma cópia, que realmente acredita ser a mesma, mas enquanto a mente original simplesmente se extinguiu?

O fato de que haverá uma cópia sua completamente indistinguível, pensando ser você, não faz com que você se sinta confortável com a idéia de deixar de existir. Ao se teleportar por esse processo, pode ser que você desapareça, deixe por completo de existir, mas o 'outro você' acreditará plenamente ser a mesma pessoa.

Isso fica ainda mais dramático se voltarmos a uma outra questão: É realmente necessário transportar a matéria original? Que espécie de ligação obrigatória pode haver entre cada partícula do corpo, e a continuidade individual? Lembremos que trocarmos partículas de nosso corpo a cada instante, e que ao longo de décadas, praticamente todas as partículas que tínhamos se vão, expelidas para o ambiente, sendo substituídas por outras equivalentes que absorvemos pelos alimentos, bebidas, atmosfera e outras influências ambientais.

Se existir um sistema capaz de tal processo de teleporte, não bastaria que, ao invés de transmitir partícula por partícula, simplesmente escaneasse o corpo a nível molecular, e transmitisse as informações para que o computador receptor o construísse com outros materiais equivalentes?

Uma molécula de glicose continuará sendo uma molécula de glicose quer seja aqui ou em marte. Porque teríamos que levar as que estão aqui para lá se podemos simplesmente construir outra com materiais que já estejam disponíveis localmente?

Assim, ao invés de transportar partículas, poder-se-ia enviar somente a informação, mesmo assim massiva, numa quantidade de dados que ainda está além do poder de processamento de qualquer computador que possamos por ora projetar. Mas o mais importante é notar que então o corpo original não precisaria ser desintegrado!

O sistema poderia simplesmente gerar uma cópia minha, ou várias, em qualquer lugar! E aí a questão da continuidade da mente original fica evidente. Suponhamos que você encontre de repente uma cópia sua, perfeita em todos os detalhes. Não se trata de um mero clone, mas de um ser que é absolutamente igual não somente em sua estrutura genética, mas em sua história, em cada memória, marca, cicatriz etc.

Pense bem: Saber que existe uma cópia sua lhe deixa à vontade para morrer?

Se não, então fica intuitivamente estabelecido que um teletransporte de partículas na verdade mataria a pessoa original!

E não. Os problemas ainda não acabaram!

Star Trek não foi a única a usar o conceito de Teletransporte. A série britânica Blake's 7 (uma antítese de Star Trek) também o fazia na mesma época, mas num contexto mais limitado, visto ser o teleporte o grande trunfo dos rebeldes contra uma corrupta federação espacial.

As Consequências Adicionais...

...do teletransporte de partículas talvez sejam mais ilustradoras da ingenuidade dos autores que trabalharam com essa possibilidade. Pois além de fazerem vista grossa para os problemas envolvidos, também não perceberam as geniais possibilidades permitidas caso tal tecnologia fosse possível.

Ora, havendo um sistema tão avançado, ele poderia executar diversas instruções adicionais, como promover alterações na reconstrução do corpo. Poderia, após nos desintegrar e nos transmitir, deixar de fora da montagem final aquelas gordurinhas adicionais que dispensamos. Poderia também acrescentar mais massa muscular nos lugares certos, ou mais tecido adiposo para "turbinar" partes de nossa anatomia.

E há mais. Muito mais. Na verdade, a medicina seria total e completamente revolucionada. Qualquer tumor, doença ou mesmo cicatriz, poderia ser facilmente eliminada. Poderíamos manipular por completo nosso próprio corpo, remodelando-o num nível que cirurgia estética alguma jamais seria capaz de imaginar.

Manipulando diretamente o cérebro, poderíamos até mesmo fazer intervenções psicológicas, eliminando traumas, fobias, acrescentando virtudes e qualquer outra coisa que quiséssemos.

E se partirmos para uma concepção mais espiritualista, aí mesmo é que a idéia do teleporte de partículas desmorona, pois ficaria muito difícil considerar que o processo não destruísse a conexão mente e corpo. Diríamos que o ser que foi transportado perdeu sua "alma / espírito", e se conseguisse ainda estar "vivo" nessas condições, seria como um tipo de "zumbi".

Voltando ao terreno da especulação materialista, é aqui que vemos o quanto STAR TREK subestimou as potencialidades da tecnologia que concebeu. Temos exemplos de uma ambientação que domina uma capacidade tão extrema, mas praticamente não a usa para outros fins, como curar a cegueira de George La Forge, ou implantar cabelos no Capitão Picard.

Por fim, alguém ainda poderia lembrar que não necessariamente tal sistema de teletransporte teria que funcionar a nível subatômico. Ele poderia desmantelar a estrutura a nível molecular, ou celular, ou até em partes maiores, e então enviá-la por algum processo não exatamente de transmissão de energia. Acrescentando ainda que pode-se pensar numa conexão necessária entre essa matéria corporal e a mente.

Mas se é assim, então resta saber como transportar tal matéria. E a melhor possibilidade que vejo é exatamente aquela que, devidamente explorada, eliminaria de uma só vez TODOS os problemas acima descritos.

Teleporte Supra DIMENSIONAL


É a idéia de que um corpo se mova de um ponto a outro do espaço não pelas vias dimensionais normais, mas por uma outra dimensão, ou por uma distorção do espaço-tempo, bem como túneis tetra, ou penta, dimensionais, wormholes, portais ou coisas similares.

Por estar simplesmente conduzindo o corpo inteiro por um "caminho" alternativo, essa possibilidade escapa de TODOS os problemas anteriores, e ainda que levante outros, parecem de bem melhor administração.

Tal concepção necessita de um pano de fundo teórico que já é exigido em STAR TREK, que é a idéia de que o espaço possa ser dobrado, como sugere a Teoria da Relatividade Geral (ver o texto paralelo de Viagens Espaciais). Como se o espaço tridimensional fosse um tecido que pudesse ser distorcido e até ter dois pontos distintos emendados. Mas para visualizar melhor isso, é necessário um aprofundamento no tema das dimensões, que pode ser visto em BIG BANG para Principiantes, ou neste maravilhoso vídeo de Carl Sagan, ou mesmo lendo o divertido PLANOLÂNDIA.

Mas apenas para efeito de melhor entender as consequências, até agora, no cinema, ninguém parece ter tratado de tal tema com tanta perspicácia quanto o filme JUMPER, cujo modo como elaborou o poder de teletransporte de seus personagens esbarra na perfeição.

4a Dimensão X TEMPO

Antes de prosseguir, é bom levantar um problema que tem sido recorrente entre os autores e apreciadores de FC, bem como entusiastas de ciência popular, e até mesmo entre os cientistas, que é a confusão que tem sido feita entre Quarta Dimensão e a Dimensão do Tempo, que não são, necessariamente, a mesma coisa.

A física atual tem considerado que o Tempo exista numa dimensão adicional além das 3 dimensões espaciais (ou que seja essa própria dimensão), e como o conceito de Hiperespaço costuma estar matematicamente, associado a uma projeção ortogonal geométrica perpendicular às 3 dimensões, muitos tem então praticamente igualado o Tempo à Quarta Dimensão, quando no entanto eles podem ser pensados em separado.

É possível que, mesmo sendo uma dimensão, o Tempo não seja a Quarta, mas sim alguma outra. É possível que mesmo estando numa dimensão específica, não seja exatamente na Quarta, e é possível mesmo que o Tempo sequer esteja realmente associado a uma dimensão, sendo, talvez, um fenômeno multi dimensional.

Assim, embora seja popular a idéia de que o Tempo esteja na, ou seja a própria, Quarta Dimensão, lembremos que não necessariamente tem que ser assim, e que, então, viajar na quarta dimensão não se relacione com viajar no, ou afetar o, tempo.

Assim, distorcer o espaço pode ser distorcer também o tempo, mas nem sempre necessariamente. Dobrar as 3 dimensões por meio da quarta, ou mesmo dobrar 4 ou mais, pode não ser exatamente dobrar o tempo.

Em JUMPER, essa dobra parece até exagerada, visto que as consequências físicas se expandem para muito além do mero corpo do personagem que se teleporta, que chamaremos de agora em diante de teleporter, até causando danos ao ambiente, e podendo mesmo ter seu campo de abrangência ampliado a ponto de envolver estruturas muito maiores.

Já o personagem "Nightcrawler / Noturno" dos X-Men, apesar da fumaça que emana a cada teleporte, causa bem menos impacto no ambiente, como podemos ver na espetacular sequência de abertura do filme X-Men 2.

Num episódio de X-Men Evolution os autores concebem que tal fumaça é a atmosfera de uma dimensão infernal pela qual o personagem passa, tendo até cheiro de enxofre. Ou seja, ele sairia de nossa dimensão, passaria para outra, e voltaria para a nossa em outro ponto. No entanto, tal passagem seria tão rápida que o próprio personagem jamais teria visto a dimensão infernal em questão.

Mas de qualquer modo, essa idéia envolve acessos, como portais, que interconetam pontos distintos do espaço, ou dimensões. Seriam "rasgos" no "tecido" espacial, e isso pode ser concebido de duas formas distintas.

A primeira, é simplesmente criar um dispositivo que abra tal portal, como um Stargate, por exemplo, tecnologia que em meu universo DAMIATE chamei de Anel Espacial. Ou esperar encontrar um portal natural já aberto por alguma razão. Outra, usada pelas concepções que envolvem personagens com essa habilidade, é fazer o portal envolver o corpo do teleporter e mover somente ele, num breve momento.

Ou seja:

1 - Temos um Portal que tende a ser relativamente Fixo, por onde o objeto a ser transportado deve atravessar;

2 - Ou temos um acesso, um Portal Móvel, levado pelo próprio objeto.

Para a primeira temos obviamente o Stargate, fendas espaciais similares as encontradas em STAR TREK, as janelas entre locais distintos abertas pelo Sr. Destino da DC Comics e etc. Podendo ser elas, obviamente, resultado de fatores naturais ou artifícios. Lembrando que aqui só estamos considerando aquelas passagens que dão acesso instantâneo aos dois pontos conectados. Deixando de lado aquelas por onde a travessia demora algum tempo dentro do "túnel" dimensional.

Para a segunda temos o que mais apropriadamente chamamos de teleporters.

Se há uma falha em JUMPER, é apenas não ter atentado ao detalhe de que, se o contato direto com alguma estrutura fixa dificulta o teleporte, então seria muito mais fácil para o teleporter literalmente pular no momento do "salto" transdimensional, pois assim eliminaria o contato com o chão, que poderia dificultar a ação do portal que o envolve.

Todos os problemas do teleporte super dimensional envolvem essa possibilidade de dobrar o espaço em si. Teoricamente, a única forma conhecida de causar uma distorção significativa no espaço, bem como no tempo, é por concentração de gravidade, o que num nível significativo, só ocorre em corpos muitíssimo massivos, como estrelas, e num nível realmente extremo, apenas em Buracos Negros.

Assim, para viabilizar conceitualmente o teleporte dimensonal, teríamos que conceber algum outro tipo de possibilidade de manipular o espaço. Uma habilidade de "dobra" que, por sinal, teria muitas outras funcionalidades.

TELEPORTE NO ESPAÇO

Um Caminho para as
VIAGENS ESPACIAIS

É por isso que normalmente a idéia de teleporte super dimensional costuma ser mais fácil de conceber no espaço, onde em tese seria possível construir dispositivos que manipulassem gravidade. Portais espaciais também são comuns na Ficção Científica, mas nem todos são dispositivos de teleporte instantâneo como os Stargates. Outros, como os de Babylon 5, apenas abrem uma passagem para uma outra dimensão, em geral denominada como Hiper Espaço, onde pode-se mover em "velocidades maiores", mas não permite deslocamentos instantâneos, como examinado no texto paralelo de VIAGENS ESPACIAIS.

Tais tecnologias poderiam sugerir o uso de recursos gravitacionais. Algumas teorias físicas atuais abrem caminho para a possibilidade de que uma devida manipulação de campos gravitacionais intensos poderia criar uma fenda no espaço, conectando dois pontos distintos. Portanto, poderíamos conceber dois modos de viabilizar dispositivos como esses Anéis Espaciais, que já apresentei em meu livro virtual PLANETA FANTASMA, onde, na coluna azul lateral, fiz um tratamento breve mas completo das teorias de Hiperespaço do Universo DAMIATE.

Uma delas, que também está reproduzida no texto de VIAGENS ESPACIAIS, é a seguinte.

Quando a Galáxia se formou (...) a expansão não se deu de forma totalmente harmônica. Alguns pontos de concentração de energia insistiam em se manter coesos, nos primeiros instantes, não compartilhando da dispersão típica da demais e maior parte. Esses pequenos "nós" de matéria concentrada terminaram por gerar pequenos colapsos similares a buracos negros, porém, sob a pressão da expansão, alguns foram divididos em pares. Os que não o foram terminaram por ser vencidos pelos processos de expansão normal e foram enfim desintegrados, os que se dividiram passaram a resistir a pressão da expansão simplesmente trocando conteúdo um com o outro. Ou seja, ao serem submetidos à (...) repulsão (...) reagiam transferindo forças, energia e matéria de um para o outro, num incessante vai e vem, desse modo, "enganando" o processo de expansão.

À medida que o universo foi se expandindo e se acalmando, esses pontos de concentração acabaram gerando rupturas no tecido espacial normal, que ficaram conectadas, (...) Essa ligação, porém, não está no espaço normal, mas sim no hiperespaço, livre da ação das forças fundamentais e agindo como se fosse matéria expandida em estágio hiper vibratório, de modo que a distância entre um ponto e outro é, pelo hiperespaço, irrelevante, visto que qualquer fluxo de energia ou matéria em estado hipervibratório que se aproxima de um portal é simplesmente puxado para o lado oposto, esticado ao longo do trajeto se acomodando à hiper ligação e "escoando" pelo túnel até ser lançado do lado oposto. (PLANETA FANTASMA - Capítulo 4 - Viagem Espacial Hiper Vibratória. Coluna Lateral. Com adaptações.)

Com isso, podemos conceber como tais portais poderiam existir naturalmente no espaço. Se assim fosse, poderíamos também conceber dispositivos que facilitassem o uso de tais portais, de modo que os Anéis Espaciais poderiam ser construídos sobre os portais naturais.

Mas também poderíamos criar portais completamente artificiais reproduzindo no presente um mesmo procedimento que teria ocorrido no passado resultando nos portais naturais. Para isso, seria necessário criar uma distorção espacial num determinado ponto, e estendê-la até a distância que fosse possível e desejável. Vejamos.

Sendo possível distorcer o espaço, um artifício, como um tipo de buraco negro artificial, criaria um foco de contração, ponto A. Logo, dois focos muito próximos, pontos B e C curvariam o espaço a sua volta, e afetariam ainda mais o espaço entre eles, que ficaria duplamente distorcido.

Assim, seriam criados dois focos de distorção, X e Y, próximos um do outro afim de se "conectarem".

Intensificando a intensidade da distorção, surgiria então uma natural convergência entre eles. Supondo que tal distorção seja produzida por gravidade, como evitaríamos que os pontos colidissem um com o outro?

Provavelmente por movimento. Poderíamos afastá-los enquanto intensificamos a distorção, sendo prudente que nada haja próximo a eles. Assim, o espaço distorcido entre eles se esticaria como um elástico.

Se a distorção for suficiente, poderíamos afastá-los indefinidamente, mas mantendo-os conectados. Talvez seja necessário criar algum tipo de campo de anulação do efeito em torno dos portais, poupando apenas a linha que o conecta com o outro portal.

Uma estrutura em forma de anel poderia limitar a ação do campo de distorção, de modo similar à que pode afetar um campo elétrico, e assim orientar a travessia.

Interessante notar que, em tese, somente naves que acessasem os pontos X e Y, portais de entrada e saída, poderiam de fato entrar no túnel. Aqueles que cruzassem simplesmente ao longo desse túnel, longe dos portais, não seriam afetadas porque o túnel seria provavelmente microscópico, praticamente unidimensional.

Somente nos portais, a nave poderia "escorregar" pela distorção, que seria gradativa, indo do espaço normal ao hiper concentrado. Essa mesma gradação não existiria ao longo da "linha" que atravessaria a distância entre os portais.

E o mais importante, essa travessia tenderia a ser praticamente instantânea, pois o que teríamos é a mesma distância inicial entre os portais, porém dilatada indefinidamente. Ou seja, atravessar essa passagem, não importando a distância que separa os portais, seria equivalente a atravessar aquela mesma distância entre os pontos originais. Se esses distavam 1km entre si, não importaria que os portais estivessem a dezenas de anos-luz de distância, o tempo demorado seria o mesmo que percorrer 1k.

Essa virtual instantaneidade da travessia é o motivo pelo qual esse conceito está sendo tratado aqui, e não no texto sobre Viagens Espaciais.

Alguns autores costumam conceber portais cuja travessia se dá num único sentido. Por esse conceito aqui apresentado, não há uma razão para isso. A travessia poderia ser feita tanto de Y para X quanto o contrário. Alguém poderia também questionar o que aconteceria se duas naves atravessassem ao mesmo tempo.

Uma FC de qualidade é exatamente aquela que, tal como a própria ciência, consegue prever o maior número de situações possível. E essa concepção, felizmente, permite prever com clareza exatamente o que aconteceria.

Tudo depende do tamanho das naves em relação ao portal. Ora, a entrada, especialmente se limitada por um anel, seria exatamente a largura relativa do portal, se as naves cruzassem simultaneamente, quer fosse no mesmo sentido ou em sentidos contrários, mas com espaço entre uma e outra, passariam conjuntamente sem problemas.

Só haveria uma colisão se rumassem diretamente uma à frente da outra, da mesma forma como ocorreria no espaço normal, por isso seria muito importante que o sistema de anéis, que evidentemente poderia se comunicar entre si enviando sinais pelo próprio túnel, orientasse as travessias para evitar acidentes.

Mas agora vamos enfim encerrar essa grande digressão e voltar ao tema do teleporte num sentido menos espacial, visto que o objetivo deste texto, nesse momento, se separa do texto de Viagens Espaciais

TELEPORTE EM "TERRA"

E os problemas dos Stargates

Deixando o espaço de lado, para considerarmos o teleporte dimensional no contexto mais terreno e pessoal deste texto, precisamos adaptar o conceito. É seguramente mais ousado imaginar processos de distorção de espaço em situações bem mais restritas, como em torno do corpo de um personagem.

Mas antes, para vislumbrar portais como os Stargates funcionando na superfície de um planeta, e por enquanto desconsiderando que estes na verdade conectam vários destinos, e não um único, então não haveria muita diferença em termos de fundamentação, se lembrarmos que os "caminhos" supra dimensionais não interagiriam diretamente com qualquer matéria ou energia que estivesse nas dimensões normais. Mais problemático é imaginar como eles interagiriam com os campos gravitacionais ou demais fenômenos, naturais ou não, que também distorcessem o espaço.

Poderíamos imaginar que os túneis ficassem integralmente fechados numa única linha dimensional, sem os focos de entrada e saída, sendo inacessíveis até que o dispositivo forçasse esses focos a se abrir. Teríamos no entanto que conceber, no caso de portais entre planetas distintos, que eles não seriam afetados pelo movimento dos planetas e demais astros em si.

Se tivéssemos um portal no Brasil, e outro na planície Cydonia em Marte, como considerar o fato de que ambos os planetas giram em torno de si bem como em torno do Sol? Ao longo das translações, a distância entre Terra e Marte varia de cerca 56 a 400 milhões de km! O túnel dimensional teria que ter uma enorme elasticidade. E isso sem contar a variação angular devido às rotações, que uma hora colocaria os portais alinhados, outra hora os deixaria perpediculares e também invertidos.

Portais no espaço seriam menos problemáticos, caso mantenham órbitas relativamente fixas, mas não devemos esquecer que também há movimentos entre as estrelas.

E no que se refere a posição, há alguns detalhes bem problemáticos na concepção dos portais da série Stargate. Curiosamente, são fornecidas ao menos 7 coordenadas de posicionamento, 6 para marcar o destino e uma para a origem, o que já é estranho, uma vez que a origem deveria ser óbvia.

As outras 6 coordenadas são pontos que delimitam 3 linhas que se interceptam. O que também é estranho, visto que duas linhas já marcariam uma posição precisa. Ainda mais estranho é o fato de como esses pontos são determinados, pois se há uma referência para determinar exatamente onde marcar tais pontos, então bastaria UM ÚNICO!

Ou, num espaço tridimensional, 3 coordenadas tendo algum ponto zero referencial.

Tudo fica ainda mais surreal quando se percebe que os pontos são sinalizados com base num sistema de 39 símbolos que representam constelações! Que são conceitos que só fazem sentido numa concepção geocêntrica que considera as estrelas como pontos fixos numa imensa esfera em torno da Terra. Se o dispositivo tivesse sido criado aqui, poderia até ser usado tal sistema simbólico, determinando a posição uranográfica com duas coordenadas e uma distância partindo do centro da Terra.

Mas para uma civilização que domina viagens espaciais a nível intergaláctico (coisa rara na FC), pensar astronomicamente com base em constelações é completamente inconcebível, não só porque todo o sistema simbólico teria que mudar de planeta para planeta, e de tempos em tempos, como porque de cada planeta só é possível ver uma pequena parte do universo, não sendo possível sequer visualizar outras galáxias.

Deve-se lembrar que os Stargates, diferente de meu conceito de Anéis Espaciais, podem se comunicar com inúmeros outros, enquanto os anéis são apenas as portas de um único caminho, e portanto dispensam sistemas de coordenadas.

Mesmo assim, sendo eles capazes de tamanha proeza, deveriam poder se referenciar remetendo-se diretamente uns aos outros, da mesma forma que nossos computadores, através da internet, não precisam de coordenadas geográficas para se comunicarem.

E sendo eles capazes de remeter a muitos destinos, então deveriam se basear num princípio algo mais complexo que o apresentado anteriormente, penetrando numa verdadeira malha de caminhos supra dimensionais.

HIPÓTESE DA
ÂNCORA GRAVITACIONAL

Como funcionaria esse avançado sistema de coordenadas capaz de interligar portais distintos espalhados pelo universo, é algo que os autores de Stargate estão devendo, e é compreensível, visto ser algo difícil de conceber.

E não estão sozinhos nisso. De volta ao Teleporte de Partículas, os autores de STAR TREK complicam ainda mais quando pretendem que seus sistemas de teleporte funcionam não somente entre dispositivos teleportadores, mas também entre um dispositivo e qualquer outro lugar, ou mesmo transportando o objeto de um lugar para outro sem passar pelo teportador.

Desafio o leitor a conceber algum tipo de sistema de manipulação tão espetacular que também não fosse capaz de fazer praticamente qualquer outra coisa imaginável, quanto transformar seres humanos em sapos ou multiplicar pães e peixes!

Mas deixando isso de lado, vou sugerir uma hipótese que pode ajudar na concepção de portais em qualquer posição, baseado na idéia da influência da gravidade. É a idéia de que regiões submetidas a forças gravitacionais equivalentes teriam uma tendência espontânea a se conectarem.

Isto é, seria mais fácil conectar regiões diferentes do espaço se ambas estivessem num ponto onde a força gravitacional fosse praticamente a mesma, como a gravidade terrestre por exemplo. Isso explicaria porque os Stargates só conectam planetas com a mesmíssima gravidade, algo que, evidentemente, obedece a fatores técnicos da produção artística. (Que é o verdadeiro motivo do uso de teleporte em STAR TREK, visto que fazer os atores sumirem num lugar e aparecerem em outro é mais barato e prático do que filmá-los entrando em naves, pousando no planeta, etc.)

Ampliando ainda mais a idéia, poderíamos dizer que não somente a gravidade do planeta em si é relevante, mas também as principais influências de outros astros. Assim, num determinado local e momento, um ponto da terra está submetida a outras duas influências gravitacionais relevantes, a da Lua e a do Sol, para não considerar, no momento, outros planetas.

Assim, se criássemos um campo de distorção supra dimensional num determinado ponto, e houvesse uma afinidade gravitacional em outros pontos, então poderíamos abrir uma passagem para um outro planeta com a mesma gravidade, que circunde uma estrela muito parecida e ou numa distância equivalente, e ainda esteja sob influência de uma lua similar.

Com isso, explicaríamos porque teríamos as mesmas condições de temperatura e pressão, e até mesmo condições similares de rotação e translação. Criando um "abridor" de passagens transdimensionais, acessaríamos um local distante muitíssimo similar. Havendo mais de um local com tais características, provavelmente acessaríamos o mais próximo.

Enfim, mais um exemplo de como a gravidade poderia ajudar a conceber um sistema de teleporte.

Resta ainda conceber como um gerador de portais poderia abrir uma saída em qualquer lugar, mas é bem simples de imaginar. Se temos uma tecnologia, com um portal pronto a nossa disposição, que seja capaz de tal feito, poderíamos supor que para abrir a saída bastaria enviar na direção do local desejado alguma feixe de energia, ou onda, devidamente regulada para explodir ou reagir após um determinado tempo.

Apontaríamos o "raio" e ajustaríamos o alcance, determinando a vida das partículas, ou a amplitude de suas ondas, de modo que colapsassem na distância desejada causando o efeito que promoveria a distorção de espaço e conectaria com a fonte.

Assim poderíamos dispensar um dos portais fixos, o de saída. Agora, para voltarmos ao teleporte no sentido em que começamos o texto, só precisamos eliminar o portal fixo de entrada.

"PODER" DE
TELEPORTAÇÃO

Mas como "eu me teleporto"? Como podemos racionalizar um personagem que não utilize qualquer recurso tecnológico, com talvez um gerador de portais portátil? Nem estamos falando de naves, robôs ou máquinas em geral, para os quais o Teleporte de Partículas é até menos problemático, mas mesmo assim, tem problemas suficientes para que seja melhor descartá-lo. Mas, enfim, estamos falando de pessoas com poderes de teleportação, e nesse caso, de Teleporte Super Dimensional.

Há muito tempo insisto que a melhor saída é insistir na clássica concepção do poder da mente sobre a matéria. As bizarras "mutações", alterações genéticas ou Meta Genes dos universos ficcionais dos quadrinhos e séries mais populares não tem a menor chance de passar de fantasia absurda com verniz de ficção científica.

Com uma teoria mais completa de como a mente poderia influenciar o mundo físico, isso passa a ser ao menos compreensível. Há muito, no Universo DAMIATE, tenho trabalhado com o conceito ficcional de Meta-Naturalidade, que é um aperfeiçoamento do conceito de Paranormalidade. Por sinal, bem mais coeso.

Seu fundamento primário é que tudo no universo é redutível a uma substância fundamental chamada MENTON, que pode assumir as características de Matéria, ou de Mente, como explicado na coluna azul lateral ao longo dos capítulos do PLANETA FANTASMA.

Tudo o que o metanatural deve fazer é conseguir se concentrar a ponto de gerar um fluxo de mentons puros, que devidamente sintonizados podem interagir com o fluxo mentônico infra estrutural das forças físicas naturais. Os detalhes da concepção não vêm ao caso aqui, e sim, como poderia se comportar uma capacidade consciente de teleportação, e como lidar com alguns dos mais famosos problemas levantados por autores de FC. (Há um amplo tratamento do modo como o Teletransporte metanatural funciona no PLANETA FANTASMA - Capítulo 8.)

Teleporte Cego...

...seria quando o teleporter não vê para onde está se transportando. É comum os autores consideram que só é possível, ou seguro, se teleportar para um local que se veja claramente.

Quanto a possibilidade, faz sentido, uma vez que sendo um processo consciente, o teleporter teria que perceber o local para onde vai se teleportar. O contato visual seria uma forma de fazê-lo.

Também costuma-se considerar um teleporte às cegas, mas para um local já conhecido, o que também faz sentido, visto que a mente já teria uma pré visualização do destino, e seja qual for o método subjacente, alguma percepção de onde quer chegar. Retomaremos esse tema ao final do texto.

Em JUMPER, há a idéia de que além desses dois fatores, os teleporters também se teleportam com facilidade para locais distantes para onde já tenham se teleportado, pois estabelecem "pontos de salto", isto é, locais onde já abriram passagens e fica mais fácil percorrê-las de novo. Lembrando que no filme, até mesmo pessoas comuns podem passar pelos portais se agirem rapidamente.

Quanto a questão da segurança, há curiosos fatores a se considerar, pois é frequentemente levantado um risco sem fundamento, ao passo que outros, muito mais plausíveis, são frequentemente desconsiderados.

Teleporte Dentro de Objetos Sólidos...

...são um dos temores comuns dos teleporters da FC. Mas ela só parece fazer sentido no caso do Teletransporte de Partículas, pois de fato as moléculas do teleporters e de alguma outra coisa poderiam ser misturadas, como no filme A Mosca. Mas no caso de teleporte dimensional isso não deveria fazer sentido, visto que se trata de um deslocamento espacial com todas as características de um deslocamento normal, exceto o fato de se dar por um portal.

Ocorre que o teleporter, com quase toda a certeza, simplesmente não conseguiria abrir o portal num local obstruído, e mesmo que o fizesse, apenas não conseguiria passar, da mesma forma como não conseguiria atravessá-lo diretamente. Na pior das hipóteses, mesmo que o portal abrisse, ou ele destruiria o objeto, pouco provável, ou simplesmente o distorceria, podendo abrigar o teleporter, que nesse caso ficaria apenas preso dentro de um espaço vazio dentro do objeto, podendo então sair da mesma forma que entrou.

Em suma, tentar se teleportar para dentro de um objeto sólido seria como tentar correr através de uma parede. O único dano seria o impacto direto.

Curiosamente, os autores, nesse mesmo caso, parecem desconsiderar que estruturas não sólidas também deveriam ser problema. O teleporter não deveria então se misturar com a água, ou o próprio ar do local de destino?

Certamente que não. Pelo simples fato de que o portal apenas fornece uma passagem para um corpo sólido que abre caminho entre as partículas do ambiente, gasosas, líquidas ou mesmo sólidas de baixa resistência.

O que deveria se atentar é que num teleporte dimensional, o local de destino teria que sofrer necessariamente um deslocamento de ar, bem como o de saída, pois o vácuo deixado pelo corpo que sumiu seria preenchido, bem como abriria um espaço no local de chegada.

Ou seja, um teleporter sempre dispararia sensores de movimento de ar, e se é difícil prever que tipo de som uma distorção de espaço poderia produzir, provavelmente nenhum, ao menos é bem provável que houvesse o som de "ar" se movimentando.

Teleporte Para Atmosferas Adversas...

...sim, é um problema inevitável que, por outro lado, parece ter passado por completo desapercebido pelos autores do gênero. As diferenças de temperatura, pressão e composição atmosférica, quando bruscamente variadas, podem causar danos sérios, até mesmo a morte.

Quem se teleportasse do Rio de Janeiro para La Paz, na Bolívia, no mínimo sentiria uma dor terrível forçando-lhe a cabeça, devido a súbita despressurização. De locais quentes para frios também poderia provocar choque térmico, e até locais com concentrações maiores ou menores de oxigênio ou outros gases poderiam provocar tonturas súbitas.

Situações como essa parecem inexistir na maior parte da FC.

Curiosamente, esse é um problema que poderia ser facilmente resolvido pelo Teleporte de Partículas, que poderia simplesmente ajustar as quantidades de gases, as condições metabólicas e mesmo a pressão do corpo de acordo com o local para onde se faz a transferência.

Mas parece que os autores de STAR TREK nunca sequer pensaram nisso.

Teleporte Em Movimento...

...porém, parece ser o problema mais interessante.

Sendo um mero deslocamento espacial, motivo não há para que um Teleporte dimensional não conserve a energia cinética, ou que neutralize a inércia. Ou seja, quem se teleportasse de um carro a 100km/h, teria que levar essa velocidade para onde quer que fosse!

Poder-se-ia teleportar de um avião em movimento para outro voando no mesmo sentido e mesma velocidade, mas de Boeing em pleno vôo para o chão, ou vice versa, seria suicídio!

Isso, evidentemente, também não aconteceria com o Teleporte de Partículas, mas STAR TREK jamais se decidiu se o movimento deveria ser conservado ou não, como se pode ver até mesmo no último filme, onde Sulu é transportado em queda livre e aparece caindo no teleportador, mas Spock e transportado de uma nave em movimento e aparece parado.

Em JUMPER há um caso de teleporte em queda livre que também não ficou muito bem resolvido, e em X-Men 2 pode ser visto abaixo.

A velocidade com que Nightcrawler e Rogue reaparecem no avião pode não parecer corresponder à que estava na queda. Mas o avião também estava caindo, e note que o próprio Nightcrawler, que tem resistência sobre humana, amortece a queda de Rogue.

De fato, um teleporter em queda livre, dependendo da amplitude de seus poderes, poderia estar bastante encrencado. A não ser que ele fosse capaz de redirecionar o sentido do movimento, o que é plausível, não adiantaria ele se teleportar para qualquer outro lugar, pois continuaria caindo. Exceto se pudesse alcançar o lado oposto do planeta, onde então passaria a "cair" para cima até que a velocidade fosse neutralizada pela gravidade, e então ele poderia teleportar para o chão.

Algo similar poderia ser feito por aquele teleporter que pudesse redirecionar livremente o sentido de seu movimento, usando uma manobra para frear a queda até estar suficientemente lento para teleportar para um piso firme. Tratando-se de distorção de espaço, parece não haver motivo para considerar que alguém que consegue abrir caminhos supradimensionais não fosse capaz de curvar o espaço para redirecionar a queda.

E é aí que entramos em mais uma vasta gama de possibilidades que a distorção de espaço poderia fornecer.

Além do Teletransporte

Mas até que ponto seria possível distorcer o espaço? Ora, se for possível até o ponto de conectar locais distantes por meio de um túnel supradimensional, então promover distorções menores, locais, limitadas, seria evidentemente muito mais fácil. Sendo assim, muitíssimas outras possibilidades deveriam ser mais acessíveis que o próprio teletransporte.

Poderia-se distorcer o espaço de modo que um objeto, ao invés de cair em linha reta rumo ao centro do planeta, caísse em curva, e dependendo do ângulo, "cair" indefinidamente na horizontal, ou mesmo para cima.

O conceito de Deflexão Gravitacional, explicado no texto Anti-Gravidade e Levitação, teria seu paralelo num procedimento de distorção de espaço que poderia ter resultados equivalentes.

Além, é claro, que princípios equivalentes ao da Dobra Espacial, como visto no texto de Viagens Espaciais, poderiam ser adaptados para uso por personagens, inclusive permitindo deslocamentos em grandes velocidades, ou como se percorresse um espaço aparentemente grande num "salto", quando na verdade encurtou o espaço, ou mesmo para o vôo em si.

De volta ao Espaço Sideral, a distorção de espaço permitiria criar sistemas de defesa muitíssimo mais eficientes que os tradicionais escudos de energia que "escoram" ataques, simplesmente desviando-os sem ter que arcar com o problemas do impacto, desgaste, consumo de energia etc.

Também permitiria coisas bem mais exóticas, e que até hoje, na FC, têm sido atribuídas a outros princípios quase sempre absurdos. Um deles é a famosa habilidade de personagens tidos como elásticos, que normalmente são vistos como tendo estruturas corpóreas super flexíveis e maleáveis. Como se os ossos e carne pudessem se esticar indefinidamente e ainda voltar ao estado de repouso, com rigidez e constituição normais! Tudo isso poderia ser viabilizado por um conceito bem menos problemático.

Bastaria considerar que a personagem apenas distorce o espaço ao redor do braço. Ele não se esticou de verdade, visto que seria fisiologicamente um braço normal. Mas ao distorcer o espaço, tudo o que estiver dentro do mesmo será distorcido em conjunto, sem nenhum impacto ao organismo. Além disso, poderia trazer qualquer coisa para dentro de seu campo de distorção.

Seria a única forma de explicar como que nos curiosos personagens elásticos, não ocorre de fato um "esticar", mas sim um "aumentar", pois todos sabemos que quando esticamos algo, este aumenta só numa dimensão, ficando mais fino nas outras duas. Isso normalmente não acontece nos personagens que tal poder, como se na verdade a matéria expandisse por completo.

Além do "esticar", ainda teríamos a outra opção, de que o braço atravessasse um pequeno portal, com resultados equivalentes. E disso podemos tirar a conclusão óbvia de que um teleporter, além de transportar a si próprio, poderia também Transportar Objetos, talvez mesmo remotamente. Como por exemplo, mesmo a distância, fazer algo sumir de seu local de origem e aparecer próximo a ele, talvez em suas mãos, ou mesmo em outro local.

Nesse mesmo conceito de pequenos portais, poderia também ter um acesso frequente a um depósito remoto, de onde retiraria tudo o que precisasse. Ou seja, seria como se o teleporter tivesse um "cinto" de mil e uma utilidades tetradimensional.

Por fim, há que se lembrar também, como examinado no texto sobre INVISIBILIDADE, que o teleporte de luz seria um requisito necessário para tornar objetos invisíveis.

Por esses motivos, habilidade de teleportação deveria ser muito mais rara que outras habilidades como vôo, invisibilidade, distorção em torno do corpo etc, visto envolver um nível de distorção de espaço muito mais intenso. Talvez a captação intuitiva dessa noção explique porque, de fato, na maioria dos universos de super heróis, o poder de teleporte seja mesmo mais raro que o de vôo, por exemplo.

Claro que poderíamos, mais uma vez, pensar não em termos de distorção espacial. Mas já falamos sobre os inúmeros problemas do teleporte de partículas, restando somente considerar brevemente uma terceira opção.

Teleporte "Fluídico"

Seria aquele que, como dito anteriormente, não desintegraria realmente o corpo, mas sim o tornaria fluído, maleável, de modo a poder ser movido com mais facilidade. A concepção de Hiper Vibração Molecular abordada no texto de Viagens Espaciais ajuda a pensar em como se poderia fazer um corpo aparentemente se energizar a ponto de se mover quase tão rápido quanto a luz, visto que estaria num estado que reduziria a inércia.

No entanto, para fazer o movimento em si, fica difícil imaginar tal manipulação, sendo a distorção de espaço a melhor das opções. Dessa forma, essa terceira forma de teleporte poderia ser considerada como uma mistura do teleporte supradimensional e o de partículas, ou melhor, um meio termo entre ambos, visto que não chega a desintegrar o objeto, nem a cruzar uma outra dimensão.

Quis levantar essa possibilidade apenas porque é sim possível pensar em teleportes que se pareçam com o de partículas, e até tenham algumas de suas implicações, sem necessariamente envolver todas, ou as mais complicadas.

FINALIZANDO

Há muitas implicações adicionais na idéia de teletransporte, e não pretendi esgotá-las aqui. Meu objetivo, como sempre, é apenas aperfeiçoar conceitos, aumentando o grau de racionalidade das obras de FC.

Infelizmente muitos autores só pensam superficialmente sobre o assunto, deixando de explorar implicações muito mais intrigantes e desafiadoras, o que prejudica a verossimilhança do tema e termina por enfraquecer a estória, pois uma FC que não elabora bem os seus fundamentos, acaba sendo alguma outra coisa com mera roupagem de FC.

Essa relevância pode ser mera questão de ponto de vista. E, por falar nisso, mais uma vez podemos notar uma curiosa ausência na idéia de teletransporte na produção audiovisual que só foi parcialmente rompida com JUMPER

É o fato de, praticamente SEMPRE, vermos o fenômeno do teleporte pelo ponto de vista externo.

O personagem some de um lugar, a imagem muda, e ele reaparece em outro.

Por que nunca vemos simplesmente o cenário em volta dele mudar?

Talvez seja esse estranho distanciamento que explique por que a maioria dos autores não se dê conta de uma problema muitíssimo mais fundamental, que remete a questão do Teleporte às Cegas. Todas as nossas ações físicas conscientes exigem percepção, e sendo o teleporte consciente, envolvendo um deslocamento entre dois pontos, seria inevitável que o teleporter percebesse o local de destino. Não apenas por uma questão de segurança, mas também de mera viabilidade. É muito mais fácil nos concentrarmos em algo que estamos vendo do que algo que não pode ser visto.

Analogamente, mesmo num local conhecido, conseguimos andar com muito mais facilidade com os olhos abertos do que fechados. Alguém pode estar acostumado a saltar certos obstáculos ou pular de uma plataforma a outra com extrema facilidade, e mesmo assim se sentir inseguro para fazê-lo de olhos fechados. Assim, parece muitíssimo condizente com a capacidade de se teleportar por inteiro para um outro local, a capacidade de meramente perceber tal local remotamente.

Ou seja, muito mais fácil que se teleportar deveria ser ver o local para onde se teleporta antecipadamente, o que significa nada menos que uma capacidade de TELE VIDÊNCIA, que curiosamente parece totalmente ausente em qualquer teleporter da ficção. Dever-se-ia antes enviar, ou trazer, a percepção e o local de destino, e se é assim, um teleporter também deveria ser alguém que tem uma "Tele Visão".

Ou seja. Muitos autores têm essa dificuldade em assumir outros pontos de vista. Em especial, da dificuldade de assumir o ponto de vista do personagem, e consequentemente, da própria estória.

Pois se é verdade que o teletransporte ainda é um sonho distante, então que ao menos seja um sonho lúcido, onde possamos nos sentir mais próximos da realidade, ao mesmo tempo que, na realidade, possamos nos aproximar da fantasia.

Marcus Valerio XR

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