A LEI SÓBRIA X Os Adoradores do "DEMÔNIO"
Estranho chamarem de Lei Seca uma legislação que não está proibindo ninguém de beber, mas sim, de dirigir sob
o efeito de álcool. Mais estranho ainda, principalmente para os novatos no "assombroso mundo da deturpação mental",
que algumas pessoas tenham manifestado descontentamento e mesmo repúdio pela nova legislação em vigor, que a meu
ver, é um dos mais belos raios de luz que já iluminou nossa sociedade.
Sou um suspeito para falar no assunto, pois como já disse em textos como A Droga da Incoerrência
e Droga de ELITE, não tenho simpatia alguma por qualquer droga, e em especial o álcool.
Nada contra a dimensão puramente gustativa de um bom vinho ou licor, mas sim contra sua dimensão inebriante.
Considero seriamente que a propensão frequente ao entorpecimento não passa da miséria mental, e que aquele que tem
necessidade constante de ficar se embriagando, ou pensa que não existe diversão sem um copinho ou latinha de birita na
mão, não passa de um infeliz, e se não percebe isso, é apenas porque o álcool lhe faz esquecer, ou já destruiu
permanentemente seu bom senso.
Assim, é melhor mesmo recorrer aos números:
Mortes nas estradas de SP caem 15% após lei seca
Acidentes caem 20,5% no DF
Lei Seca diminui em 50% as mortes nas estradas
IML diz que mortes no trânsito caíram 63% com a lei seca em SP
nº de acidentes cai 70% no AM
E saindo um pouco do foco:
"Álcool não é o único vilão no trânsito" (Há também outras "drogas".)
Lei seca pode reduzir preço do seguro de carro em até 20%
Talvez seja melhor nem discutir com quem ache que esses resultados não justificam a implantação da Lei 11.705,
pois tal opinião é difícil de ser desassociada do total desprezo pela vida humana. Pergunte-se se você não
aceitaria que o país inteiro passasse um mês sem beber se isso evitasse sua própria morte, ou a de um ente querido.
Se a resposta não for sim, melhor parar de ler este texto.
A Lei "Seca" evitou ao menos algumas centenas de mortes, e isso era na realidade previsível. Não é a toa que a maior
parte da população a apóie, incluindo os apreciadores de álcool. É difícil não dar o braço a torcer, num país onde
no mínimo METADE da mortes em trânsito são causados pela direção alcoolizada.
No entanto, há quem proteste, é claro. Não é difícil achar, duvido que alguém já não tenha ouvido um discurso contra
a medida, invocando o direito a liberdade individual, comercial ou puramente semvergonhal. Na internet pode-se achar
alguns furiosos desabafos, em geral em blogs irresponsáveis, que atenuam o medo de um dia ter que desabafar num bafômetro.
Mas é bom notar também que onde há discussões, se vê que a consciência popular já está bem preparada, e em geral dá
um banho de sensatez e coerrência nos chorões que, evidentemente, no fundo estão apenas fazendo a má e velha apologia
do álcool.
Via de regra, os detratores da lei "seca" escolhem alguns dentre poucos chavões previsíveis:
- Alterar o sentido da Lei, como se ela estivesse proibindo totalmente o álcool. (Falácia do Espantalho);
- Fogem do assunto, dizendo que a polícia deveria estar atrás de bandidos, que enquanto isso os políticos
continuam roubando, e recorrendo à velha ladainha inconsequente de que não se faz nada pela saúde ou
segurança pública;
- Alegam descontinuidade entre o ato de beber e dirigir, e os acidentes de trânsito
causados pelo efeito do alcoolismo, como se houvesse um limiar claro que divide os sóbrios dos ébrios. E como se a
capacidade, RARA, de alguém dinstinguir com precisão se está em condições de dirigir ou não, pudesse ser normatizada.
- Bradam contra o fato que enquanto o motorista alcoolizado está sendo punido, o motorista drogado estaria impune,
inclusive afirmando que a Lei induzirá pessoas a usarem drogas ilícitas. Como se dirigir sob o efeito de drogas também
já não fosse proibido! E tão passível de detectar e punir quanto o próprio álcool.
- Dizem que os resultados positivos não se devem a lei, mas à intensificação da fiscalização. Como se 0,2 não fosse
diferente de 0,6, e esquecendo que o teste não é mais facultativo!
Mas a única coisa que esse tipo de argumentação fajuta realmente consegue sustentar é que o elemento em questão
não dá a mínima para a vida alheia, e só está preocupado com seu "direito" inconsequente de continuar pondo em
risco vidas humanas, inclusive a própria.
Que a pessoa tenha direito a beber, não está em questionamento, muito menos o direito de dirigir. Mas por que
alguém acha que deveria ter o direito de dirigir em uma condição sob a qual mata-se, fere-se ou invalida-se
milhares de pessoas por ano?
Pergunte ao defensor deste "direito" se ele se submeteria a uma delicada cirurgia nas mãos de um médico que acabou
de tomar duas latinhas de cerveja, ou se viajaria tranquilo num avião pilotado por pilotos que acabaram de
tomar uma ou duas caipirinhas. Não obstante, acha que pode por a família inteira num carro e dirigir sob efeito
de uma substância cujos efeitos são demonstradamente nocivos, e pior, acha que pode por centenas de outras pessoas
em perigo.
É certo, no entanto, que essa lei irá, como sempre, prejudicar principalmente os melhores apreciadores de bebidas.
Seguramente existam aqueles que conseguem beber com moderação e não serem afetados em nível psicológico nem
sensório motor, e que mesmo assim, não passariam no teste do bafômetro.
Pessoas assim certamente são raras, mas existem. Todavia, para possuir este grau de autocontrole é inevitável
ter também uma notável dose de sensatez, pois as melhores virtudes humanas jamais andam sozinhas. E assim, uma
pessoa como essa não deverá demorar a se aperceber que não faz sentido querer uma lei só para si própria, quando
é evidente que a grande maioria das pessoas em questão se comporta de modo inverso.
Além do mais, desde que o
mundo é mundo, a pessoas melhores sempre foram as maiores prejudicadas pelos atos das piores. Óbvio! As leis são
só mais um reflexo disso.
E quem, com um mínimo de experiência de vida, já não cansou de ver pessoas admitirem abertamente que dirigiram bêbadas?
Quem de nós já não cansou de ver com os próprios olhos sujeitos assumirem que nem se lembram direito como conseguiram
trazer o carro até em casa? Quem já não ouviu a estória engraçadinha do "Piloto Automático"?
E isso sem contar os que já tem experiência própria no assunto!
Em meu texto A Droga da Incoerrência, reclamei da dificuldade existente em notar a óbvia
associação da idolatria do álcool com toda sorte de desgraça que aflige nossa civilização. Felizmente, essa lei veio
trazer esperança, e nos colocar no caminho correto para enfrentar uma das maiores desgraças morais do mundo, que mata,
destrói e mutila muito mais do que qualquer guerra ou crime organizado.
OS ADORADORES DO "DEMÔNIO"
Voltando à questão mais ampla que abordei no texto anterior, o fato inconteste é que o álcool é mais terrível de
todas as drogas em impacto social. Combinando os danos causados por todas as drogas ilícitas, mesmo os resultantes
das guerras do narcotráfico, não se consegue fazer frente à droga mor que, como expliquei no mesmo
texto anterior, na língua árabe pode ser traduzida nada menos do que como AL-GHAWL,
literalmente, "O Demônio"!
Repito também que, no entanto, é tolice culpar o álcool em si. Nada demais há em apreciá-lo moderadamente, ocasionalmente,
eu mesmo o faço de vez em quando, embora sempre em casa, e jamais tenha dirigido logo em seguida. Poderíamos ter a
mesma tolerância para a maioria das outras drogas, se não fosse o hábito hediondo de, ao mesmo tempo que as proibimos
e reprimimos, estarmos habituados a venerar o demônio do álcool.
A reação dos alcóolicos que reagiram contra a lei não passa de mais um capítulo previsível dessa verdadeira
legião de fanáticos que tem no álcool o seu ídolo, e na embriaguez a sua musa.
Já era mesmo tempo de haver sobriedade sobre esse tema, e adotar leis severas, como esta, e a que coibiu a venda de
bebidas alcóolicas nas estradas. Foi preciso um governo liderado por um presidente que é conhecidamente chegado
numa cachacinha para, talvez por experiência própria, ter noção da seriedade do assunto.
Passos futuros que seguramente terão que ser dados são a proibição de comerciais de bebidas
alcóolicas, como já fizeram com os comerciais de cigarros, a criminalização de apologias ao
consumo de álcool, que aparecem aos montes em vários tipos de camisas e músicas populares, e apertar o cerco
contra as famosas "consumações mínimas" das boates, que simplesmente obrigam as pessoas a ingerir álcool, visto
que é difícil gastar tudo com não-alcóolicos, e ninguém vai a boates para jantar.
Resultados ainda melhores podem ser obtidos pela instituição da Lei Seca de fato, fechando locais de venda
de bebidas alcóolicas após certos horários, medida que sempre traz resultados onde quer que seja executada, apesar
de ter que enfrentar ocasionais matérias hipócritas como
O Mito da Lei Seca.
(Matéria da Revista Época, aparentemente aprendendo esquizofrenia com a Veja.)
A patifaria é tão grande, que apesar do que pretende a reportagem, que é contestar a correlação entre a Lei Seca
e a redução de criminalidade, todos os dados que ela própria apresenta mostram o exato contrário!
Fica difícil é saber se o autor:
- Fez isso de propósito, (talvez em protesto a ser obrigado a fazer uma
matéria paga pelo lobby do álcool, o que é óbvio pelo simples fato de que o
Instituto responsável que baseia a reportagem é financiado pela
AmBev!) ou;
- Deixou escapar por pura impossibilidade de falsear os dados, visto que há um mínimo de decência que não pode
ser desrespeitado numa revista de tamanha expressão.
Mas o máximo que conseque fazer é mostrar que existem outras formas, tão ou mais eficientes, de se combater a
violência, e o fato óbvio de que a Lei Seca sozinha não funciona se não houver fiscalização e outras medidas paralelas.
A mesma bipolaridade pode ser constatada na pesquisa em que se baseia a reportagem, de Nilson V. Oliveira, que é um
economista daqueles que acha que todo o sucesso econômico do governo Lula é mérito do governo FHC, e da "maré de sorte"
da economia internacional. (Essa "maré de sorte" é a bem sucedida oração dos fundamentalistas econômicos
que querem empurrar a noção de que vivemos numa época dourada graças ao neoliberalismo, apesar do preço do petróleo ser
o mais caro de todos os tempos, a maior economia do mundo estar em guerra e franca recessão, e a economia que mais
cresce no mundo ser um país comunista!) Ver meu texto Heróis Capitais
Como todo bom neoliberal, o senhor Nilson V. Oliveira estará sempre do lado das grandes empresas, como o
Instituto Braudel, para o qual trabalha, deixa claro, ao ser financiado não só pela
pela AmBev, e Souza Cruz, como por uma miríade de Bancos e mega corporações! Incluindo a Philips, que financiava aquele
tal movimento CANSEI. (Lembra desse? A maioria parece ter esquecido, mas
ESTE BLOGUEIRO AQUI não esqueceu, e expõe com
bom humor a patética história de uma das maiores fraudes de todos os tempos.)
Enfim, com isso tudo, espero deixar claro que além dos fanáticos pela embriaguez, só mesmo os economicamente interessados
em vender bebidas podem se posicionar contra as leis de restrição ao consumo desenfreado de álcool.
Os movimentos contra esse flagelo civilizacional, a veneração pela descompostura química, tem no mínimo dois inimigos
poderosos para se defrontar, os adoradores do "demônio", e os que lucram fortunas com seu consumo desenfreado ao mesmo
tempo que fingem pedir "beba com moderação".
Alguém acredita que uma empresa que viva do lucro realmente pretenda que
seus clientes não consumam seu produto o máximo possível? Certamente não quer que eles morram, ninguém gosta de perder
clientes, mas ficou claro que não gostaram nem um pouco de ver seus mercados consumidores se retraírem mesmo que isso
salve a vida de milhares de pessoas, a maioria das quais inocentes.
Daí, juristas mal intencionados tentando sabotar as leis de toda forma possível, e economistas irresponsáveis fazendo
pesquisas fajutas para contestar o sucesso insofismável dessas leis, são coisas que só o dinheiro pode comprar.
Parabéns ao governo Lula pela coragem de levar adiante essa iniciativa!
Marcus Valerio XR
24 de Julho de 2008
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