Em Defesa da
HUMANIDADE

Ao conhecer o Movimento pela Extinção Humana Voluntária, reconheci ser um avanço em relação a uma certa proposta anterior que pregava o suicídio em massa, e a única coisa que sempre tive a dizer a quem pregava o extermínio humano por meio do suicídio global é que deveria nos poupar de seu discurso e nos honrar com seu exemplo.

Não é o caso deste VHEMT (sigla em inglês para Voluntary Human Extinction Movement), que prega o extermínio pela não reprodução, tentando um discurso o menos radical possível, enfatizando o voluntarismo, os objetivos de uma vida longa e feliz sem descendentes, e uma curiosa valoração da natureza que afirma que o planeta Terra recuperará sua antiga glória e boa saúde ao se ver livre da espécie humana.
Pessoalmente penso que quando o último ser humano tivesse desaparecido da Terra, seria absolutamente irrelevante que o planeta vivesse bilhões de anos de exuberante vida não humana, ou fosse aniquilado por um impacto meteórico que não poderia ser detido por nenhum sistema de defesa espacial, uma vez que não haveria humanos para fazê-lo. Sem falar que poderia muito bem surgir uma outra espécie equivalente, humana no sentido consciencial, para começar tudo de novo, e talvez com ainda menor condescendência ecológica.
Claro que tudo isso é um ponto de vista antropocêntrico, mas quem tiver algum outro tipo de ponto de vista que não parta de sua condição humana, não hesite em me apresentar. Quem pensa que qualquer conceito, idéia, valor ou o que quer que seja, como "glória" ou "boa saúde" seja possível sem a espécie humana para lhe constituir, ou quem acha que exista qualquer direito ou valor intrínseco dos não humanos que não seja conferido pelos humanos, então só pode se considerar sobre humano. E, pensando bem, não sei se estou pronto para dialogar com deuses.

Dito isto, só posso lamentar que alguém desperdice seu tempo e talento com uma proposta tão completamente sem possibilidade de qualquer sucesso, ao não ser em piorar ainda mais a qualidade de vida na Terra, que é o exato oposto do que o movimento esperaria produzir se ao menos incentivasse uma desaceleração vegetativa demográfica.
É simples. Qualquer um que conheça meu pensamento sabe que sempre defendi o controle do crescimento populacional, não apenas no sentido de uma contenção ou redução, mas até mesmo de aumento caso seja sustentável. Em minha monografia Pequeno Demais para Nós Todos espero ter deixado isto claro.
É desta monografia que farei minha auto-citação a respeito das perspectivas de crescimento populacional mundial: "Lamentavelmente, esse crescimento não se dará em todos os países e segmentos sociais, não se trata do dobro de cientistas, artistas, empresários, industriais, filósofos e pessoas produtivas em geral. Esse crescimento se dará quase que exclusivamente na áreas miseráveis, ...".
Mais adiante no mesmo texto, eu falo de programas de planejamento familiar e estímulo a contracepção em geral, mas podemos imaginar que este programa em si seja a proposta do VHEMT: "Por outro lado as classes mais pobres, e principalmente as miseráveis, permanecerão intocadas pelo programa e continuarão a se multiplicar.".
O próprio site do movimento reconhece que as duas possibilidades desde movimento ser abraçado por todos são mínima, e nenhuma. É um ponto a menos na ingenuidade, mas se alguém pensar que tal proposta terá qualquer efeito justamente onde precise, isto é, nos segmentos sociais que realmente estão superpovoando o mundo, então não estaria se mantendo na ingenuidade, e sim na estupidez total.
Ocorre que se hoje temos, digamos, 10% de pessoas que realmente podem fazer a diferença para um mundo melhor, e uns 50% que só podem contribuir para piorar a situação (deixemos de lado os indiferentes), então quando o mundo tiver o dobro da população, pela atual perspectiva, as porcentagens não se manterão proporcionais. Teremos algo em torno de 7% de pessoas que ainda poderão melhorar o mundo, e 75% que certamente irão piorá-lo ainda mais.
Isso ocorre porque enquanto as populações pobres e miseráveis, e consequentemente desinformadas, crescem explosivamente, as populações de melhor nível de vida, e evidentemente com acesso a boa formação e informação, já estão em franca diminuição! Ou no máximo estáveis.
Isso significa que o mundo não está sendo deixado em boas mãos, e uma proposta como essa do VHEMT, só podendo ter repercussão exatamente na parte consciente e promissora da população, só viria a diminuir ainda mais rapidamente essa parte, acelerando ainda mais o abandono do mundo aos que não terão chance de uma vida boa, e na melhor das hipóteses lotarão ainda mais as Igrejas, principalmente as 'evangélicas', Mesquitas e templos em geral. E na pior, aumentarão ainda mais o exércitos de criminosos e desesperados prontos a matar em nome de deuses ou ideologias alienantes.
É por isso que antes de pensarmos que a solução é não se reproduzir mais, deveríamos pensar em fornecer a nossos descendentes, que numericamente são pouco significantes, a melhor formação e consciência possíveis, para que eles possam compensar a explosiva aceleração de miséria e ignorância que, com alta probabilidade, estão no futuro próximo.

Mas qualquer um que me conheça sabe que sou um otimista, e se esta visão de futuro altamente provável é pessimista, ainda é ao menos potencialmente reversível, mas não sem trabalho. As estatísticas do CENSUS estimam que por volta de 2050 o mundo deverá estabilizar em torno de 9 bilhões de habitantes. Boa notícia? Não exatamente.
É evidente que a população humana tem um limite físico de crescimento, a questão é saber o que promoverá esse barramento. Políticas responsáveis de contenção demográfica? Ou a má e velha mortalidade, que é o que de fato impede que uma espécie qualquer domine totalmente o planeta? (Pequeno Demais para Nós Todos)
Corremos o risco de não conseguir crescer mais porque taxas de mortalidade assombrosas irão barrar esse crescimento, por meio dos 3 primeiros Cavaleiros do Apocalipse (Guerra, Peste, Fome) que levam ao quarto (Morte), e mais quaisquer candidatos a quinto ou sexto cavaleiros como Poluição, Crime, Fundamentalismo Religioso ou seja lá o que mais for.
Portanto, para revertermos esse futuro sombrio, só podemos investir pesado em políticas de planejamento familiar e educação, principalmente perante as populações necessitadas, e devemos prestar especial atenção à Mãe África. E é claro, na formação das pessoas que poderão vir a lutar por isso. Que precisarão existir, em primeiro lugar. Que é exatamente o que o VHEMT vem a atrapalhar.
Se metade da energia que é gasta nas campanhas pró-aborto, pró-homossexualismo, de meio ambiente, e coisas esdrúxulas como esse VHEMT fosse aplicada nesse sentido de controle populacional, duvido que já não teríamos a garantia de reversão do quadro, além de que estas mesmas campanhas seriam beneficiadas por decorrência.
Fora isso, só há mesmo uma possibilidade de um grupo pequeno fazer algo realmente drástico e impactante em favor da manutenção sustentada da população. Desenvolver algum microorganismo infectante e altissimamente contagioso, sobretudo em locais de baixa salubridade, que promovesse nas pessoas, sem efeitos colaterais, uma esterilização reversível somente mediante algum tratamento relativamente dispendioso. Pronto! Para gerar um bebê, os interessados teriam que investir nisso. Barraria a multiplicação da miséria de modo decisivo, e se quiséssemos eliminar a doença, seriam necessário décadas de pesada pesquisa e investimento. Até lá, toda a fome e pobreza teria sido erradicada sem nenhum sofrimento afora a paixão indolente de quem quer ter crianças sem precisar batalhar para dar a elas o melhor.

Se você me leu até aqui, deve ter a paciência necessária para ainda ler a seguinte apologia antropocêntrica.
A HUMANIDADE é a ÚNICA coisa que faz sentido no Universo, a salvo possíveis outros seres senscientes análogos, aos quais o conceito de humanidade certamente poderá ser estendido. Ela é SIM ESPECIAL. É SIM A MAIOR realização de uma natureza evolutiva!
Sem seres senscientes, humanos, para viver neste Universo, ele seria um completo desperdício de Cosmos, e melhor seria ser revertido ao Caos. Um mundo como o nosso, que não tivesse a possibilidade de ser objeto de relação com seres auto-conscientes seria tão inútil e dispensável quanto o é um corpo humano sem cérebro.
E não! Isso não é um viés religioso, e sim filosófico. Porque ao contrário do que muito se pensa, as religiões não são antropocêntricas, porque isso seria colocar o ser humano em si, assumidamente, como um valor supremo, e não abaixo de uma divindade que é apenas uma pequena expressão possível da criatividade humana, certamente de uma cultura específica em detrimento das demais possibilidades culturais. As religiões são então, etnocêntricas, valorizando não a humanidade, mas sim uma construção cultural específica disfarçada de divindade.
Valorizar o ser humano é valorizar toda a nossa potencialidade criativa, quer seja religiosa, filosófica, artística ou científica. É dignificar nossa capacidade de nos movermos livremente por todas as infinitas possibilidades, e criar as mais incríveis idéias, as mais exóticas fantasias.
Até mesmo as mais tolas, como a de propor um mundo sem humanos, e pensar que poderia haver glória sem os seres que a glorificassem, ou beleza sem as pessoas, que detêm a única fonte de onde emana toda a beleza e toda a glória.
Que é a Mente Humana.

Marcus Valerio XR
7 de Junho de 2008
LIVRE MENTE!!!

Comentários a este texto: (708 e 727), 753, 773
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