INTRODUÇÃO
Hipergamia 1 - Atração Fatal - - - - - - - - - Hipergamia 2 - Atração Imoral
Hipergamia 2.5 - Atração Idólatra - - - - - - Hipergamia 3 - Atração Social
Hipergamia 4 - Atração Sublimada - - - - - - - - - Ginotopia - Hipergamia 5

HIPERGAMIA

FUNDAMENTAÇÃO

Uma Extensão Opicional da Introdução

Mas Obrigatória para os que tenham rejeição prévia a Psicologia Evolutiva
Agosto de 2012 a Janeiro de 2013
Vídeos da Palestra HIPERGAMIA, FEMINISMO e CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL (31/08/12)

Parte 1 - Feminismo, Psicologia Evolutiva, Falácia Naturalista
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Parte 2 - Desigualdade Primordial, Hipergamia, Poligamia, Monogamia
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Parte 3 - Perguntas
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Há um ano meu contato com o conceito de Hipergamia traz crescentes informações e implicações tão abrangentes que o tema merecia uma dissertação acadêmica, com uma abordagem diferenciada embora com o mesmo propósito fundamental.

Devo aqui reintroduzir o assunto, detalhando os motivos que me levaram a enveredar ainda mais por um tema tão polêmico, e insistir na dimensão civilizacional que é minha preocupação primordial. Preciso ressaltar minha visão pessoal do que seria recomendável, que não se trata de mera defesa da família tradicional, tendo mais a ver com Paternidade Responsável, independente da relação entre os genitores da criança, que tem sido negligenciada pela sociedade e pelas leis.

Há um conflito intelectual entre o FEMINISMO e PSICOLOGIA EVOLUTIVA, o primeiro está em perpétua oposição ao conservadorismo e reacionarismo, que absorve da Psicologia Evolutiva fundamentos para seus melhores argumentos. Esta última, evidentemente baseada no Evolucionismo Biológico, é provavelmente a maior vítima de má utilização da história moderna e contemporânea, só perdendo para o Marxismo ou, num tempo histórico maior, o Cristianismo e o Islamismo.

Estas últimas, as maiores religiões do mundo, são a pedra fundamental de minha preocupação. Insisto nisso desde o Milênio passado, num ensaio um tanto ingênuo e que não mais representa integralmente meu pensamento, mas onde adiantei a periculosidade muitíssimo maior de uma divisão do mundo em blocos religiosos ao invés de meramente políticos e econômicos.

HIPERGAMIA E A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

Cabe também, em favor do leitor eventual, esclarecer que tendo 40 anos, estando no segundo e definitivo casamento e já com 3 filhos (a mais velha com 16), nada estou preocupado com consequências pessoais dessas reflexões, passando longe de temas frequentemente entrelaçados em abordagens correlatas, como dicas de relacionamento, técnicas de sedução ou emulações para impressionar mulheres.

Minha preocupação é a sustentabilidade da civilização. Principalmente a ocidental, considerada aqui como Europa e Américas.

Nossa vanguarda científica e superioridade tecnológica não cansa de nos assombrar com a possibilidade de destruição global. A polaridade da Guerra Fria entre um bloco Capitalista e um Comunista tinha pouca chance de resultar numa hecatombe nuclear, visto serem ambos materialistas e desejarem viver neste mundo. O mesmo não se dá com polaridades de ordem religiosa. Um mundo cujas ideologias dominantes fossem Cristianismo e Islamismo teria muito mais chance de promover aquilo que suas profecias já anteviram.

Ou um mundo tomado por um islamismo globalizante, um Califado Universal, dificilmente não se dividiria em facções distintas que lutariam entre si, com tecnologias cada vez mais avançadas, e resultados literalmente apocalípticos. 1

A maior esperança é aperfeiçoar nossa democracia equalitária, visto jamais ter existido guerras entre duas democracias. Infelizmente, a relação inversa entre o progresso social fortemente entrelaçado com conquistas femininas, e as taxas reprodutivas, ameaçam esse cenário, pois populações estranhas à tais conquistas tem crescido em ritmo muitíssimo maior. 2

Minha monografia Pequeno Demais para nós Todos, de 2003 com dados demográficos de 2002, já antevia o problema de que o acréscimo populacional não se deu entre populações de melhor nível de vida.

Permitirá a Civilização Ocidental que seu legado científico seja apropriado por culturas que rejeitariam suas conquistas sociais? Que seus recursos tecnológicos fiquem a serviço das religiões abraâmicas para alimentar seus exércitos? E quanto a China, e sua cultura de mais de 5 mil anos também não muito receptiva aos nossos valores?

Para fazer frente a esse desafio, seria necessário que a população ocidental conseguisse se manter estável, ou que trocasse quantidade por qualidade.

Não me parece ser isso que está acontecendo.

A redução populacional não está acompanhada de um aumento compensatório em termos civilizacionais (Haja visto o problema da Sublimação.). Parece que os momentos históricos de maior desenvolvimento se dão sempre com crescimento generalizado, inclusive populacional. Talvez, uma força inconsciente mova a civilização quando ela tem um futuro garantido, e enfraqueça quando ela entra em retração.

E embora seja inevitável a correlação inversa entre a qualidade de vida e o crescimento populacional, penso que o problema não seja a pura e simples equalidade de gênero, possibilidade de escolha e nível de instrução. E sim a incompatibilidade entre uma sociedade já com tendências ginocráticas e uma estética imoderada com base em instintos primevos que reforça o comportamento sexual, principalmente o feminino, na direção contrária.

A percepção dessa fragilidade tem sido o grande trunfo do anti feminismo, que tem sabido explorá-lo muito bem, e a completa aversão do feminismo ao assunto, em especial por sua rejeição insustentável à P.E., só o priva de responder ao desafio à altura.

FEMINISMO METAFÍSICO

Apesar de ter-me inicialmente dedicado a temas como Criacionismo X Evolucionismo, Teologia, Religiologia e outros que desde 2000 são tratados neste site, umas das primeiras, talvez A Primeira, de minhas preocupações intelectuais foi Feminismo. Porém, minhas inspirações feministas foram por demais pessoais para admitirem uma corrente específica.

Trata-se de um feminismo não de gênero nem de sexo, e sim de Arquétipo, fundamentado numa teoria metafísica, cujos princípios podem ser vislumbrados em Forças FEMININA e MASCULINA. Implica na promoção da equalidade entre Feminino e Masculino em algo muito mais primordial que os papéis sociais ou sexos físicos, mas sobretudo entre as forças psíquicas de todo ser humano. Homens e mulheres teriam que equilibrar seus lados feminino e masculino, o que teria a inevitável decorrência de equilibrá-los no nível físico e social, enquanto a simples equivalência social e física não necessariamente implica na equivalência psicológica.3

Mesmo sendo o movimento emancipatório mais bem sucedido da história, o feminismo falha em circunscrever a real natureza dos princípios fundamentais e comete erros que podem resultar na perda desses avanços, como insistir em moldar culturalmente algo que resiste não somente à modelagem social, mas até mesmo física. A simples manifestação de comportamentos públicos não basta para alterar os fundamentos psíquicos, e mesmo após um século de ascensão feminina os valores estéticos e sentimentais continuam praticamente inalterados.

Sem uma produção estética que fale ao inconsciente, as conquistas feministas podem ser contidas e revertidas por falta de uma sólida base simbólica, e falta de referenciais arquetípicos disseminados, como o YIN e YANG taoísta, ou os conceitos jungianos de ANIMA e ANIMUS.

A equalidade social de gêneros tem algum efeito, por osmose, sobre as psiques individuais, mas só um esforço consciente poderia levar a um devido equilíbrio entre os aspectos feminino e masculino de cada pessoa.

EVA X LILITH

Inspirado nessa carência simbólica, foi num grupo de discussão do extinto e-groups, ainda no milênio passado, denominado Aspecto Feminino, que adiantei minha teoria pessoal que muito posteriormente seria exposta em Os Gatos e a Feminilidade. Partindo de uma inspiração taoísta e empregando símbolos hebráicos, nomeei o Arquétipo Primordial Masculino como ADÃO, que é mantido relativamente constante ao longo da história, com suas qualidades, virtudes e defeitos reconhecidos e relativamente aceitos numa matriz única.

Por outro lado, o Arquétipo Primordial Feminino foi culturalmente dividido nos aspectos EVA e LILITH, sendo o primeiro socialmente aceito e valorizado, e o segundo marginalizado e segregado. Como anteriormente explicado, LILITH, teria sido a primeira mulher de Adão, criada do barro como ele, e sendo assim sua igual, mas por ter sido insubmissa, foi expulsa do paraíso e condenada ao esquecimento, tendo sido omitida do relato bíblico. Só então EVA seria criada com parte do próprio ADÃO, e destinada a ser desde sempre subalterna.

Assim, somente o aspecto EVA é plenamente aceito pela sociedade. A esposa, mulher obediente e mãe. O aspecto LILITH é socialmente rejeitado, a independência, a sexualidade imoderada, a força feminina em sua dimensão ativa, sendo estão estigmatizado na figura da prostituta. Mas ADÃO não pode viver sem ambas as partes do Feminino, e por isso a sociedade cirscunscreveu locais para EVA, o ambiente privado e familiar, explicitamente aceito e louvado, e para LILITH, marginalizada e escondida, embora acessível aos homens.

É nessa divisão que reside a força social dos Homens sobre as Mulheres, visto que elas ficam enfraquecidas pela desunião, e frequentemente em oposição entre si. Por outro lado, simbolicamente, o fato de ter sido retirada do próprio ADÃO sugere que ele próprio foi dividido, que seu lado feminino foi, ao menos em parte, roubado. Portanto, o grande desafio da civilização, em especial do feminino, é reintegrar esses aspectos. O FEMININO deve reunir EVA e LILITH, e o MASCULINO deve reintegrar parte de EVA em ADÃO.

Foi em grande parte isso que aconteceu na civilização com a emancipação feminina, a aceitação da sexualidade da mulher, mas esse processo mesmo estando longe de ser completo, revelou um problema fundamental que começa a ter repercussão. A liberação das mulheres de seus papéis reprodutivos obrigatórios tem cobrado o preço da queda nas taxas reprodutivas.

PATRIARCADO X ANDROCRACIA

O Feminismo "Clássico", muitas vezes chamado de Feminismo Liberal, Equalitário ou de Primeira Onda, conseguiu em menos de um século reverter um quadro milenar de adormecimento de metade da humanidade. Esse sucesso retumbante permite dizer que alguns de seus objetivos principais foram totalmente alcançados, como o direito a voto, ao mercado de trabalho, à educação e a postos de poder.

Evidente que isso só ocorreu na dita Civilização Ocidental, e suas áreas de influência mais notáveis no Oriente, como Japão e Coréia do Sul. Embora também tenha havido mudanças notáveis no papel das mullheres na URSS e outros países comunistas, no ocidente, há um perfeito paralelo com a Democracia e outras formas de Progressismo. Não é por acaso que emancipação de minorias, conquista de direitos trabalhistas e liberdade sejam parceiras de conquistas democráticas.

Mas a partir de meados do século XX algo começou a sair dos trilhos, uma tradição que antes era orgulho para as mulheres passou a cada vez mais ser amplamente rejeitada por suas próprias beneficiárias. 4 Cada vez menos mulheres aceitam o rótulo de feministas, mesmo quando são a melhor expressão da mulher contemporânea possibilitada somente pelo próprio Feminismo.

Isso ocorreu em parte pela percepção de que já vivemos num mundo pós feminismo, onde a equalidade dos sexos foi ao menos disponibilizada, mas também pelo fato de que surgiram outras correntes feministas mais radicais que moveram-se em direções divergentes. Algumas responderam a necessidades legítimas como o insistente preconceito contra a mulher, ou problemas de má adaptação da mulher contemporânea às conquistas femininas, ou focaram temas mais específicos como o problema da violência sexual ou do controle reprodutivo.

Mas parte do feminismo também terminou promovendo uma radicalização conceitual justo no momento histórico onde as mulheres mais tiveram vez e voz na sociedade, elevando o tom de urgência e hostilidade contra um inimigo onipresente e oni opressor que passou a ser denominado O PATRIARCADO.

Embora o conceito seja seguramente válido e realmente explique bem uma série de coisas, inclusive a divisão por mim proposta entre Eva e Lilith, penso que ele se tornou muito mais um tipo de bode expiatório, ou pior, uma espécie de Grande Satã simbólico a canalizar toda um esforço de guerra cultural, o que terminou por esvaziar seu significado e torná-lo uma Sombra a ser perseguida quando não se consegue detectar as verdadeiras causas de problemas.

Minha principal crítica é que o conceito de Patriarcado causa uma confusão entre o público e o privado que só desvirtua o entendimento dos problemas contemporâneos, e atacá-lo causa pouco ou nenhum dano ao real problema do desiquilíbrio de poder entre os sexos, embore cause um dano terrível a uma das maiores conquistas da civilização.

O real problema é o que prefiro chamar de ANDROCRACIA, o fato do poder político ser esmagadoramente dominado pelos homens, e a conquista é exatamente o lado bom do Patriarcado, que é a simples noção de PATERNIDADE, além do fato do mesmo ser indissociável da própria idéia de civilização.

Em suma, a cruzada contra o fantasmagórico PATRIARCADO é praticamente inútil contra a ANDROCRACIA, mas terrivelmente danosa à PATERNIDADE.

Inútil porque praticamente toda a vitória contra a Androcracia reinante em nossa civilização foi obtida pelo Feminismo Liberal, sendo por completo independente do mero conceito de Patriarcado, e por outro lado, ao atacar esse bode expiatório, o Feminismo Radical terminou danificando exatamente o que ele tem de bom, que é o fato dos homens constituírem famílias e assumirem responsabilidades sobre seus descendentes, compartilhando com a mulheres a criação da prole e maximizando suas possibilidades de sucesso. Ao mesmo tempo, imbuído de responsabilidade, o homem é incentivado a trabalhar, e canalizar sua força em produção, ao invés de desperdiçá-la na forma mais primitiva de Força Masculina biologicamente manifestada, o impulso reprodutivo fatalmente Polígamo, ou pior, canalizá-la para a violência e destruição.

Com o enfraquecimento da responsabilidade paternal, temos um decaimento das famílias estáveis, uma proliferação de mães não apenas solteiras, mas sobretudo de crianças que sequer conhecem seus pais, especialmente em comunidades pobres. Isoladamente isso não necessariamente é um problema, mas coletivamente, em contextos onde em dezenas ou centenas de famílias é difícil encontrar um único pai responsável, reforça o arrasto dos jovens à irresponsabilidade, criminalidade, e gera um círculo vicioso.

Nas classes mais abastadas o problema é a alienação crescente dos homens de suas responsabilidades parentais, se acostumando a ser meros provedores distantes que mal conhecem seus descendentes, deixando à cargo das mães praticamente toda a responsabilidade, o que tem inclusive o efeito de dificultar a mera emancipação econômica das mães solteiras, que tem que dedicar tempo quase integral à companhia das crianças.

Mas o fato mais grave é a falta de referência paterna, figura masculina, enfraquecendo o amadurecimento e, mais uma vez gerando um círculo vicioso, onde os homens tem cada vez menos disposição para construir famílias estáveis e antes preferem se dedicar à sexo casual, e as mulheres terminam ficando em condições cada vez piores para conseguir homens dispostos a ser pais, transmitindo essas tendências às futuras gerações.

A FALÁCIA NATURALISTA

A cruzada contra o Patriarcado também tem uma estranha característica, que é se apoiar numa noção forte das Ciências Sociais que insistem na construção puramente sociológica dos comportamentos humanos, e rejeita qualquer referência a predisposições inatas, especialmente no que diz respeito ao comportamento sexual.

Essa rejeição se baseia numa confusa visão de natureza, e na incapacidade de distinguir noções naturalistas arcáicas e certamente suspeitas, com descrições científicas muitíssimo mais avançadas de natureza humana, taxando todas de sexistas e comprometidas com a opressão da mulher.

Funciona da seguinte forma.

Nova Ideologia contra o Status Quo, ACEITA FN, rejeita Interpretação da Natureza como Construção Social.
Determinismo Cultural.
INÍCIO
Status Quo se justifica Projetando sua Ideologia na Natureza. Baseada na FN
(o Bem está na Natureza)
FALÁCIA NATURALISTA
FN
(o que é Natural é Certo e IMUTÁVEL)
Nova Política concebida para reconstruir Cultura. Dados empíricos indesejados, tidos como socialmente construídos, são rejeitados, em face da FN.
Nova Construção Ideológica é projetada na Natureza para Justificar novo Status Quo baseado na FN , para facilitar a implantação.

Aponto que tudo gira em torno da Falácia Naturalista, que em momento algum é questionada, assim, o feminismo contemporâneo comete 3 equívocos: Acreditar que o natural necessariamente é "correto", algo no qual devemos nos inspirar, um modelo a ser seguido; Considerar que o natural é imutável, fatalista, condenando toda a espécie humana a um estado inalterável; E achar que o natural não admite exceções, se aplicando não só ao grupo, mas a cada indivíduo em todas as instâncias.

Curiosamente, herda então a mesma noção do que chamarei aqui de DETERMINISMO CLÁSSICO, e considera que as mesmas se aplicam às abordagens científicas naturalistas. A única diferença é que se tornando então um discurso que rejeita essas noções clássicas porque as mesmas não se harmonizam com suas concepções ideológicas, no fundo acha apenas que o conteúdo da projeção cultural sobre a natureza é que esta errado, e não a projeção em si.

Mas o equívoco não poderia ser mais colossal, porque as diferenças entre o que chamarei de EVOLUCIONISMO CONTEMPORÂNEO e o DETERMINISMO CLÁSSICO são extremas e inconciliáveis.

Determinismo Clássico
Determinismo Cultural
Evolucionismo Contemporâneo
Essências Imutáveis, não sujeitas à variação. Essencialismo
Existências Mutáveis, sujeitas à Variação Ilimitada. Existencialismo
“Essências” Mutáveis, sujeitas a Variação Limitada. Essencialismo Existencialismo
Determinadas por Causas Transcendentais.
Determinadas por Causas Culturais.
Semi-determinadas por Causas Naturais e Culturais.
Natureza Harmoniosa, Boa, IMUTÁVEL.
Natureza Harmoniosa, Boa, mas culturalmente contaminada. Imutável
Natureza com aparência harmoniosa. Neutra. Mutável
Guia,e Exemplo a ser seguido. Mostra nosso devido lugar.
Guia,e Exemplo a ser seguido. Mostra nosso lugar, desde que devidamente interpretada.
Não é guia ou exemplo, devemos nós mesmos construir nosso lugar.
Geral se sobrepõe ao Individual. Indivíduo deve se conformar ao seu Grupo.
Individual pode se sobressair ao geral. Indivíduo NÃO tem que se conformar ao Grupo.
Individual pode se sobressair ao geral. Indivíduo NÃO tem que se conformar ao Grupo.

O Determinismo Clássico prega uma natureza IMUTÁVEL, que no fundo se submete a uma ordem Transcendente, Divina, com Essências perpétuas que se mantém inflexíveis. Prega uma Harmonia no mundo, que inevitavelmente leva à uma leitura moral, estabelecendo que o que está na natureza é correto por ter sido estabelecido por uma ordem superior. E não precisamos nos restringir a modos mais primevos de fundamentalismo religioso, porque essa noção está impregnada no senso comum, na militância ambiental, em visões românticas da natureza, e toda uma sorte de correntes de pensamento populares mesmo quando afastadas das tradições religiosas, indo desde movimentos hippies, veganismo, naturismo, mística, cultura orgânica de alimentos etc.

Já o Evolucionismo Científico prega algo radicalmente diferente. A Natureza não é imutável, é dinâmica, está sempre se alterando, não tem um propósito estabelecido transcendentalmente, e por isso não implica numa ordem harmônica moral. O que há na natureza pode ser bom de acordo com nossos parâmetros Éticos que são EXCLUSIVAMENTE HUMANOS, mas também pode não ser, e não há cabimento na idéia de que o mundo natural sirva de modelo a ser seguido por nós. Sobretudo, as regularidades naturais não são imutáveis, pelo contrário, é exatamente por isso que evoluem! Elas se modificam e se adaptam ao ambiente.

E o mais importante, é que no Modelo Clássico, as características gerais de um grupo devem ser integralmente aplicadas à cada indivíduo! Ou seja, por essa mentalidade, se a natureza de uma espécie, de uma raça, ou de um gênero, é tal, então cada membro daquele grupo necessariamente tem que ser um representante legítimo daquela característica, caso contrário, estará violando uma Ordem Natural estabelecida por uma instância que, no fundo, é sobrenatural.

Mas no modelo evolutivo tal coisa não existe, as características de uma espécie, raça ou gênero são apenas probabilísticas, e nada há de errado em ser uma exceção ou transcender essa generalidade. É exatamente essa a mola mestra da evolução. Não há absolutamente nada de errado numa mulher, por exemplo, não se conformar ao seu papel social feminino porque nada há na natureza que diga que o mesmo seja uma lei inviolável e imutável, e sequer há um parâmetro preciso para definir o grau de conformidade ou não.

Assim, quando se diz que um sexo tende a tal comportamento, que em geral é caracterizado de tal forma, isso diz apenas de uma tendência predominante, mas jamais inescapável, e perfeitamente sujeita a mutação.

VANTAGEM REPRODUTIVA NUMÉRICA

Nada há de errado, essencialmente, numa população crescer de tal ou qual forma, ou deixar de crescer, ou se estabilizar. Mas isso não significa que não haja diferença entre os comportamentos, e sim que não se pode aplicar a eles, diretamente, qualquer valor moral.

Dependendo de tipos específicos de comportamentos, as taxas reprodutivas podem ser diminuídas ou aumentadas, e isso pode ter vantagens ou desvantagens em relação ao ambiente. Em situações de escassez de recursos naturais, por exemplo, uma gradual redução populacional tende a ser benéfica. Infelizmente, isso raramente acontece por uma iniciativa social consciente, e sim, quase sempre por fatores de forças impessoais e normalmente imprevistas.

Frequentemente, é a mortalidade que reduz a população, e não uma redução espontânea na taxa reprodutiva, que via de regra tende a aumentar quando a taxa de mortalidade também aumenta, como se fosse uma tentativa de compensação. Países comunistas como China e Cuba talvez sejam os únicos exemplos históricos de larga escala onde uma política governamental ordenada provocou deliberadamente uma retração populacional por meio do controle reprodutivo.

Mas o que importa frisar aqui, é que dependendo de como o modelo social estabelece papéis de gênero, a taxa reprodutiva é afetada, e modelos onde as mulheres assumem outras funções que não a reprodutiva tendem a ter crescimento populacional mais baixo, principalmente se tais funções envolvem colocar mulheres em situações de risco.

Muito se pensou sobre a possibilidade de ter havidos sociedades antigas onde mulheres tivessem papéis distintos daqueles que predominam em praticamente todas as culturas tradicionais conhecidas. Onde, por exemplo, estivessem envolvidas na política, caça ou na guerra. Mas se porventura existiram, teriam tido taxas reprodutivas inferiores daquelas onde as mulheres se ocupavam integralmente da reprodução, ao longo de sua idade reprodutiva.

Embora não faça qualquer sentido em falar que se ocupar exclusivamente de tal papel é o "correto", ou mesmo o "natural", o fato é que o modelo tradicional foi mais bem sucedido em se multiplicar. Basta imaginarmos duas tribos de 100 pessoas cada, 50% de cada sexo, onde numa prevalece o papel tradicional onde somente os homens assumem tarefas de riscos e as mulheres em idade reprodutiva se ocupam basicamente com suas proles, a morte súbita da maioria desses homens em nada afetaria a taxa reprodutiva, visto que os demais ainda seriam suficientes para fecundar todas as mulheres. Mas na outra tribo, onde prevalecesse um modelo onde as mulheres ocupassem a maior parte das funções não reprodutivas, sua taxa de crescimento seria menor, e uma única fatalidade entre as mulheres já diminuiria ainda mais seu crescimento vegetativo.

Para ficar mais explícito, imagine essas duas tribos entrando em guerra, uma envia seus 50 homens para o combate, e a outra envia suas 50 mulheres. Na hipótese de uma empate com 25 mortos para cada lado, a tribo de mulheres guerreiras teria sua capacidade reprodutiva reduzida pela metade, enquanto a tribo dos guerreiros manteria a sua intacta.

Portanto, não há o que se pensar se isso é bom ou ruim ou se é natural das mulheres assumir tal ou qual papel, visto ser possível os mesmos se inverterem. Porém em termos evolutivos, isso implicaria em perda de capacidade reprodutiva, e tenderia a ser eliminada pela seleção natural.

A maior evidência de que não tem sentido falar que uma taxa reprodutiva mais alta é "melhor" em si, é que quase sempre há uma relação inversa entre Quantidade e Qualidade. Quanto melhores as condições sociais, mais as taxas reprodutivas tendem a cair, e em todos os contextos de piores condições sociais as taxas reprodutivas são muito altas, bem como a mortalidade, inclusive infantil.

3 REGRAS DE ENTENDIMENTO

Para que se compreenda qualquer coisa em termos de Psicologia Evolutiva, evitar maus entendindos e principalmente prevenir seu mau uso por má intenção, é absolutamente indispensável ter em mente as seguintes recomendações.

Da primeira, já falamos, mas é preciso falar mais.

1 - NÃO CAIR NA FALÁCIA NATURALISTA!!! Natural NÃO É sinônimo de Bom nem de Imutável! Em contrapartida, é inaceitável procurar na natureza um guia de comportamento, ela não nos serve de bússola moral. A Ética deriva da reflexão humana sobre as condições sociais, sendo por completo anti-natural. Infelizmente a FN é largamente disseminada, tanto no senso comum quanto em certos círculos acadêmicos, conscientemente ou não. Em geral, revela-se em crenças simplórias de que a natureza é perfeita, de que não existe "maldade" entre os animais (pode até não existir, mas somente se também não existir bondade), de que tudo o que fazem obedece uma harmonia natural.

Da segunda, também já comentamos, mas é preciso reforçar.

2 - A TENDÊNCIA GERAL NÃO SE APLICA NECESSARIAMENTE A CADA INDIVÍDUO! O fato da maioria dos indivíduos de um determinado grupo apresentarem uma característica comum, pode justificar que tal característica se aplique ao grupo, mas não a cada um dos indivíduos. Dito de uma forma simples: Exceções Não Invalidam Regras! Não está errado dizer, de forma coloquial, que os brasileiros adoram futebol, ou que o brasileiro, em geral, gosta, mas isso não significa de forma alguma que isso se aplica a cada um dos brasileiros, e nada há de errado com aqueles que, diferente da maioria, não goste.

A terceira é um conceito da PE, a primeira coisa que diremos sobre ela em si.

3 - NÃO CONFUNDIR CAUSA EVOLUTIVA COM CAUSA COMPORTAMENTAL. Isto é, o fato da evolução ter selecionado determinada característica do comportamento NÃO SIGNIFICA que aquele comportamento é consciente! Normalmente não! "Não precisamos saber que alimentos ricos em açúcar ajudaram nossos ancestrais a sobreviver e reproduzir para gostarmos de sua doçura."5 Pois a Causa Evolutiva é que tais alimentos fornecem energia útil e com isso aqueles cujo paladar os levava a consumí-los tiveram vantagens seletivas, e proliferaram ao longo da história natural. Mas a Causa Comportamental é simplesmente o fato de que gostamos do sabor. E o fato de que hoje tenhámos açúcar em excesso que mais nos prejudique que beneficie, não pode em tão pouco tempo reverter uma tendência que vigorou por milhões de anos num mundo onde o mesmo era escasso.

Sem ter essas 3 regras muito claras em mente, fica impossível entender alguma coisa em PE, e o que é PSICOLOGIA EVOLUTIVA em si? Nada mais do que o casamento entre a Psicologia Cognitiva e a Evolução Biológica. A primeira é o ramo da Psicologia que enfatiza os processos mentais do conhecimento, estudando comportamentos de acordo com os "programas" que operam na mente, que tem como objetivo atender ao "mecanismo" Desejo - Crença - Ação, isto é, agimos de acordo com crenças sobre o mundo para atender a nossos desejos, que em sua maioria, são harmônicos a nossas necessidades.

Assim como características físicas evidentes, os comportamentos também tem valor adaptativo. Não é somente o de pernas mais longas que tem vantagem num ambiente onde correr é necessário, mas também o que melhor consegue se orientar no cenário. Não basta ter a audição boa para maximizar as chances de não ser capturado por um predador, mas também estar equipado com reações rápidas e capacidade de avaliar situações críticas eficientemente. Não basta ter uma boa aparência para atrair parceiros sexuais, mas também saber como interagir ou utilizar o que se tem. Frequentemente, uma boa utilização de uma característica física mediana supera uma má utilização de uma característica ótima.

Assim a PE explica por que tendemos a certos comportamentos e não outros, por que alguns são comuns, outros raros, e explica isso pelo fato de comportamentos também terem valor evolutivo, sendo selecionados ao longo da história natural. No caso em questão, trata-se dos comportamentos sexuais, ou as estratégias de ambos os sexos para maximizar seu sucesso reprodutivo.

Não é fácil tocar nesse assunto, porque o tema 'sexo' nos perturba mais que qualquer outro. Voltando ao exemplo do açucar, veja que podemos emitir raciocínios similares com relação a nossos hábitos alimentares ou reações de medo ao perigo sem causar constrangimento algum. Mas apliquemos o mesmíssimo raciocínio no campo sexual e os ânimos frequentemente se exaltam. Principalmente os femininos.

Por isso é importantíssimo frisar que quando falamos que homens e mulheres tem tal ou qual tendências comportamentais, NÃO ESTAMOS JUSTIFICANDO tais tendências, que não podem ser consideradas Boas ou Corretas apenas por serem mais facilmente encontradas na Natureza. NÃO DIZEMOS QUE TODOS tem necessariamente tal característica, NEM QUE A MESMA SEJA INALTERÁVEL, mas sim que a mesma é um tendência predominante, e que nada há de errado em alguns se comportarem de modos incomuns. Aliás, é o comportamento anômalo que impulsiona não apenas a evolução biológica, mas sobretudo a evolução cultural. Também NÃO SIGNIFICA QUE OS INDIVÍDUOS SÃO CONSCIENTES dos movitos evolutivos de tais comportamentos.

Tanto homens quanto mulheres possuem características psíquicas masculinas e femininas, herdando uma mesma bagagem genética que apenas por uma contingência assume um sexo ou outro, e por vezes ambos. Portanto, parte dos elementos psicológicos femininos são também herdados pelos homens e vice-versa, apenas se constituindo de modos variados. Uma mulher pode ter um comportamento predominantemente masculino, embora isso seja menos comum que o contrário, e NADA HÁ DE ERRADO, NEM MESMO DE ANTI-NATURAL nisso.

Por fim, lembramos que a História Natural humana é antiguíssima. Supõe-se que o Homo Sapiens esteja há mais de 200 mil anos na Terra, e seus ancestrais mais próximos, cuja evolução também nos deixou heranças de comportamentos, remontam a milhões de anos. Assim, os comportamentos aos quais este texto se refere possuem um retrospecto de centenas de milhares de gerações. Foram sendo selecionados aos poucos, num tempo mil vezes maior do que a história conhecida. Não é a toa que seja tão difícil mudar hábitos moldados por tanto tempo em apenas umas poucas gerações.

A DESIGUALDADE ORIGINAL

É fato que a maior parte das desigualdades são socialmente implementadas, e sempre concordei que na raiz de todas elas está a desigualdade de gênero. A questão é saber porque essa desigualdade fundamental se manifestou universalmente em todas as culturas conhecidas, exceto a civilização ocidental contemporânea, que a reverteu por meio das conquistas feministas.

A mim sempre foi óbvio que ela resulta do fato das mulheres terem estado ocupadas com seus custosos papéis reprodutivos, e isso pode ser facilmente demonstrado por uma série de proposições cuja contestação é praticamente inconcebível.

1 - Em consonância com os demais mamíferos, o Ônus Reprodutivo é +99% feminino. A participação masculina obrigatória se resume ao coito. No mais, quem irá gestar, parir e amamentar inegavelmente é a mulher.

2 - Disso decorre que o Potencial biogênico Masculino é imensamente maior. Por estarem dispensados da maior parte do ônus reprodutivo, os machos podem participar de milhares de fecundações, ao passo que as fêmeas de, no máximo, algumas dezenas.

3 - Em contrapartida, o Valor biogênico Feminino é imensamente maior. Para efeito de reprodução, a morte de dezenas de homens não se compara à morte de uma única mulher. Devido ao seu alto potencial biogênico, os homens são largamente dispensáveis, pois mesmo uns poucos deles já podem fazer o trabalho de muitos.

Em média, os machos humanos são fisicamente maiores, mais fortes, mais rápidos e mais agressivos que as fêmeas humanas, porque existindo em excesso, competem entre si. Ainda que a proporção de homens fosse de 1 para cada 20 ou mais mulheres, eles poderiam fecundar todas com facilidade, portanto, existe um excedente dispensável.

Ao mesmo tempo, em consonância com todas as demais espécies conhecidas, decorre uma última diferença, que são os distintos comportamentos reprodutivos de machos e fêmeas humanas. Dadas as desigualdades naturais anteriores, seria COMPLETAMENTE IMPOSSÍVEL que tais comportamentos fossem os mesmos, e estes podem ser entendidas como, principalmente, de tendências POLÍGAMAS e HIPÉRGAMAS.

Falaremos aqui de um âmbito primitivo, que ao longo de centenas de milhares de anos caracterizou a existência humana sobre a Terra, antes do advento da história escrita.

O gênero que sofre de menor ônus reprodutivo, o masculino, ao adotar o comportamento de fecundar o máximo de parceiras possível, tem benefício reprodutivo por replicar seus genes em grau de maior ostensividade. Porém, também pode adotar o comportamento de reduzir tal ostensão e desenvolver laços mais estáveis, trocando quantidade por qualidade, aumentando a chance de sobrevivência de sua prole. E aqui, falamos na CAUSA EVOLUTIVA! Isto é, não se trata necessariamente de comportamentos conscientes.

Ou seja, há uma estratégia QUALITATIVA, e outra QUANTITATIVA. E elas se manifestam na CAUSA COMPORTAMENTAL pelo impulso de atração sexual promíscuo e casual com várias fêmeas, QUANTIDADE, e pela propensão a se envolver sentimentalmente com algumas, ou uma em especial, QUALIDADE, levando a construção de um laço mais duradouro.

Portanto, os homens em geral sofrem desses impulsos dúbios, contraditórios e frequentemente dilacerantes, porque evolutivamente tais posturas levaram vantagem reprodutiva e deixaram muitos descendentes. Isto é. É possível aliar as duas tendências, mantendo um relacionamento estável e responsabilizando-se pelos descendentes, e ao mesmo tempo realizando intercursos externos. Embora os descendentes gerados fora dessa relação estável possam ter menos chance de sobreviver e prosperar, sua quantidade compensa.

Já no comportamento feminino, as duas estratégias são QUALITATIVAS, visto que possuir vários parceiros ou um único não fará com que uma mulher produza mais descendentes. Assim, um de seus comportamentos é basicamente o mesmo masculino, isto é, a tendência a formar laços estáveis. Mas ao mesmo tempo há outro que é o impulso de sentir atração por um tipo especial de homem com o qual não é necessário contrair compromisso, e esse homem, em geral, é o grande reprodutor.

A Causa Evolutiva disto é que um homem capaz de ter acesso a muitas mulheres, ou seja, um grande disseminador, é evidentemente bem sucedido em termos reprodutivos (lembrando que estamos falando num mundo primitivo, onde não existem métodos anticoncepcionais e por vezes sequer a associação entre ato sexual e reprodução). Assim, essa excelência reprodutiva pode ser incorporada nos descendentes, e assim a mulher que possuir um filho deste disseminador tem maiores chances de, sendo esse comportamento herdado, também deixar mais netos.

Por isso as mulheres em geral sofrem desses impulsos dúbios, contraditórios e frequentemente dilacerantes, porque evolutivamente tais posturas levaram vantagem reprodutiva e deixaram muitos descendentes. Isto é. É possível aliar as duas tendências, mantendo um relacionamento estável e onde o companheiro ajuda a criar seus descendentes, a ao mesmo tempo realizando intercursos externos, pois os rebentos dessas relações promíscuas também receberão auxílio do companheiro.

Isso não impede que as tendências comportamentais se invertam, mas um homem que adotar os dois comportamentos, quantitativo e qualitativo, tende a deixar mais descendentes do que aquele que adotar só os qualitativos, ao passo que a mulher que adotar um comportamento quantitativo não deixará mais descendentes do que aquela que adotar os qualitativos.

POLIGAMIA E HIPERGAMIA

Enfim, isso nos levas aos conceitos centrais. Ao longo de toda a história registrada, em todas as partes, e todas as evidências arqueológicas apontam que a PoliGINIA, isto é, a Poligamia masculina , é vastamente disseminada, sendo muitas vezes a regra. Ao passo que a PoliANDRIA, a Poligamia Feminina, é uma raridade quase sempre associada a situações de escassez.

Do ponto de visto biológico isso é muito claro, pois a poliginia é reprodutivamente muito mais eficaz. Um único homem pode fecundar inúmeras mulheres, e assim uma família poligínica deixará muitos descendentes, ao passo que uma família poliândrica tem o mesmo potencial reprodutivo de uma única mulher monógama.

Além disso, há o problema do excesso de homens, que são em sua maioria reprodutivamente dispensáveis, fazendo com que muitos homens não consigam se reproduzir enquanto outros o fazem em grande quantidade, ao passo que a quase totalidade das mulheres se reproduz em taxas pouco diferentes.

Há uma evidência genético molecular para isso, ao se rastrear os Cromossomo-Y das populações atuais, transmitido somente de pai para filho, e o DNA mitocondrial, transmitido pelas mães. O que se nota é que a variação do último é mais do que o dobro do primeiro. Isto é, a humanidade de hoje tem como mães a maioria das mulheres que já existiram, ao passo que tem como pais cerca de metade dos homens primordiais. 6

Há ganhadores e perdedores no jogo reprodutivo, principalmente entre os homens, e isso é tão transparente que não é preciso sequer apelar ao óbvio para confirmá-lo. Mesmo em contextos favoráveis a encontros, a maioria das mulheres recusa as investidas da maioria dos homens. Em praticamente qualquer local concebível isso pode ser verificado, mas ao mesmo tempo, focam suas atenções em uns poucos homens. Ídolos masculinos são os únicos que seriam prontamente aceitos pela maioria delas.

Por outro lado, visando sexo casual sem maiores consequências, a maioria das mulheres será capaz de obter a aceitação da maioria dos homens sobre os quais investir, e isso tende a acontecer até mesmo fora dos ambientes com tal propósito. Pelo mesmo motivo, mesmo um século depois da emancipação feminina e mesmo nos contextos onde as mulheres tem maior poder e oportunidades, continua a não existir prostituição masculina para mulheres, pois a maioria dos homens está disponível sem qualquer custo, enquanto a maioria das mulheres demanda algum custo para os homens, quer seja de ordem sentimental, econômica ou estratégica. 7

REGULAÇÃO SEXUAL

O Patriarcado seguramente instituiu a regulação da sexualidade, cujo peso maior incide sobre a mulheres pelo simples fato destas serem mais valiosas para efeito reprodutivo. Mas isso não significa que tal instituição tenha se dado unilateralmente e muito menos em benefício exclusivo dos homens. Com extrema probabilidade, trata-se muito mais, ao menos inicialmente, de uma troca de mútuo interesse.

Sempre interessou às mulheres possuir suporte masculino, especialmente na criação da prole e principalmente em ambientes primitivos, mas somente a instituição de ordem social, garantida pela força de homens armados, poderia implementá-la de um modo compulsório. E isso jamais se daria sem uma contrapartida. Assim, ficaram os homens obrigados a sustentar seus descendentes e as mães destes, mas somente, é claro, se pudessem ter a certeza genética de que a prole é sua, e num contexto primitivo não haveria outra forma de viabilizar isso que a repressão sexual sobre o comportamento feminino.

Ao mesmo tempo, isso não se aplica à todas as mulheres, e sim somente àquelas que aceitem o acordo. Por isso sempre existiram as mulheres sexualmente livres sobre as quais não se exigiu tal conduta, mas às quais também não se oferecem tal suporte. Voltamos a divisão de papéis femininos sexuais primordiais, os aspectos EVA e LILITH.

Evidentemente, tal regulação jamais poderia incidir da mesma forma sobre os homens porque o ônus reprodutivo não lhes cabe diretamente. Sua conduta promíscua não resultava em ter que sustentar descendentes fora de seu contrato com as mulheres que aceitaram o pacto sexual, ao passo que qualquer aventura feminina fora do contrato poderia resultar numa espécie de prejuízo de investimento paternal, visto que o homem teria que sustentar um descendente que não é seu.

Hoje, muito milhares de anos depois, temos meios muito mais sofisticados de atestar a ancestralidade genética, tornando a repressão sexual feminina, para esse efeito, por completo obsoleta. Ademais, a possibilidade de controle conceptivo inédita disponível às mulheres, bem como as possibilidades abortivas, no mínimo permitem a neutralização do ônus reprodutivo inevitavelmente associado à sexualidade.

Esses fatos estão perfeitamente alinhados a possibilidade de desregulação sexual, visto que esta última, sem as primeiras, não pode resultar em outra coisa que irresponsabilidade paternal ostensiva e guetos reprodutivos, onde inúmeras mulheres criam inúmeros filhos sem suporte paternal.

Mas o que deve ser apontado aqui é que a desregulação da sexualidade aproxima os comportamentos ao estado natural primitivo, pré-regulatório, e nesse sentido o feminismo está sendo, mais um vez, espetacularmente bem sucedido em seu combate ao patriarcado, dispensando a sociedade de modelos de repressão tornados obsoletos graças aos métodos anti conceptivos e de determinação da paternidade.

Porém não se pode confundir as Causas Evolutivas com as Comportamentais. Os avanços sociais tornaram as primeiras obsoletas, mas em nada afetaram as segundas.

O problema é que nada poderá então evitar que propensões primitivas prosperem. Com a queda da responsabilidade paternal, não se poderia esperar outra coisa que o aumento da promiscuidade e evidentemente do descompromisso sentimental e conjugal. E o mais importante, a equalidade de gêneros, e em grande parte a já dominância feminina na sociedade, ao minimizar cada vez mais o papel do homem provedor, torna a procura feminina por homens em condição econômica superior cada vez mais difícil.

Feministas apostaram que essa nova sociedade simplesmente remodelaria os papéis de gênero e as próprias propensões sexuais de homens e mulheres. Isso de fato aconteceu, mas apenas parcialmente, visto que grande parte de tais papéis é mesmo socialmente construído. Porém tal construção não se dá sobre o nada, mas sim sobre uma natureza humana não apenas receptiva a ela, mas que na realidade é o que a modela.

Ou seja, não é a cultura que modela a natureza humana, e sim o inverso. Nada até agora alterou a predisposição poligâmica masculina, manifestada mesmo numa civilização monógama, e que se manifesta não apenas nas relações extra conjugais, disponíveis a ambos os sexos, mas ainda mais na prostituição e na pornografia, exclusivamente disponíveis aos homens.

Nada também alterou a predisposição hipergâmica feminina, que se manifesta não somente na busca por homens sócio economicamente abastados, os Homens Alfa Tipo 3, mas também na busca, ou receptividade, por homens habilidosos na arte da sedução, ou que afirmem seu destaque em relação aos demais de alguma forma.

Como está detalhadamente explicado na série de textos, o novo modelo social, longe de eliminar a hipergamia feminina, apenas a faz mudar de forma.

UMA TEORIA DA HIPERGAMIA

É isso, afinal, que é apresentado em meus textos. Uma abordagem teórica sobre a Hipergamia que apesar de apoiada em estudos prévios de outros autores, tem como novidade apontar a mutabilidade e versatilidade do sentimento hipergâmico.

Essa teoria é capaz de explicar facilmente ao menos os seguintes pontos:

- Por que tantas mulheres se interessam por perfis masculinos violentos, principalmente em nichos sociais mais pobres, ao ponto de haver adoração por genocidas e mesmo ginocidas: Atração Fatal

- Por que do fascínio feminino pelos grandes sedutores, o sucesso dos cafajestes e de comportamentos masculinos que parecem ser o oposto do que dever-se-ia esperar que as mulheres preferissem: Atração Imoral

- Por que os grandes ídolos masculinos ensandecem suas fãs: Atração Idólatra

- Por que o apetite sexual feminino por vezes parece menor, e por vezes maior, que o masculino: Atração Idólatra

- Por que existem crescentes reclamações das mulheres da falta de "homens bons": Atração Social

- Por que as sogras infernizam seus genros: Atração Social

- Por que decaem o casamento e as relações duradouras: Atração Social

- Por que as mulheres começam a liderar a produção de literatura fantástica, mas ainda estão atrás na produção científica: Atração Sublimada

- Por que jamais existiram, e possivelmente jamais existirão, haréns de homens para mulheres (Nem mesmo na literatura erótica feminina!): Ginotopia

- E muitas outras coisas: Atração Fatal, Atração Imoral, Atração Idólatra, Atração Social, Atração Sublimada, Ginotopia.

Enfim, minha esperança é que abordagens como essa possam ajudar a lançar alguma luz num tema mergulhado na obscuridade, quer seja pelo reacionárismo conservador que mistura abordagens evolutivas com intransigência religiosa, ou pelo progressismo imoderado que venera uma natureza inexistente e vê como inimiga justo a grande conquista da civilização, que é a cultura que nos permite transcender um estado natural brutal.

Atravessamos séculos de mudanças radicais, mas a natureza humana não se alterou, ao contrário do que prega o Determinismo Cultural. A humanidade continua manifestando todo o seu lado belo sempre que as condições lhe permitem, mas regride à selvageria sempre que a civilização enfraquece.

É por isso que não podemos deixar isso acontecer, e para isso, precisamos manter nossas conquistas. E definhar populacionalmente enquanto civilizações estranhas a tais valores crescem não é uma postura promissora.

Marcus Valerio XR

Vídeos da Palestra HIPERGAMIA, FEMINISMO e CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL (31/08/12)

Parte 1 - Feminismo, Psicologia Evolutiva, Falácia Naturalista AVI, 235Mb, 52:23;

Parte 2 - Desigualdade Primordial, Hipergamia, Poligamia, Monogamia AVI, 225Mb, 51:40;

Parte 3 - Perguntas AVI, 220Mb, 54:30;

Hipergamia O Sublime Desafio do Feminismo
Hipergamia 1 - Atração Fatal
Hipergamia 2 - Atração Imoral
Hipergamia 2.5 - Atração Idólatra
Hipergamia 3 - Atração Social
Hipergamia 4 - Atração Sublimada
GINOTOPIA - Hipergamia 5

Marcus Valerio XR
Iniciado em Junho de 2012
Finalizado em Janeiro de 2013


1. Ainda que o Islã não preveja o fim dos tempos de forma tão explícita quando o cristianismo, deixando em aberto quando ocorerrá o Juízo Final, ao passo que o Novo Testamento deixa bem claro que o esperava ainda no tempo de vida dos profetas. Isso sem dúvida contribuiu para que a ciência florescesse na era de ouro islâmica, que não estava preocupada com um segundo advento iminente que induzia os cristãos a abandonarem preocupações mundanas e se concentrarem em sua salvação pessoal. Se um futuro Califado Global seguisse os moldes dos antigos califados pré-cruzadas, penso que seria possível um mundo relativamente estável. Mas a herança histórica posterior não ajuda a crer que uma dezena de bilhões de habitantes muçulmanos no mundo não se dividiriam entre blocos sunitas e xiitas, onde governos androcráticos pudessem se lançar num conflito cujo potencial terminal não assustaria quem acredita em ser agraciado com dezenas de virgens num paraíso.

2. Em Muslim World: how Muslims will take over the world via population growth há um texto e vídeos prevendo que em poucas décadas o islã irá tomar a Europa. Os números podem ser um pouco exagerados, mas no máximo aumentam um pouco uma tendência inegável. Em. List of Supremacist Statements by Prominent Muslims temos uma pequena amostra de que a disposição islâmica para o domínio global é ponto pacífico entre seus líderes.

3. Até bem pouco tempo meu feminismo era mais próximo do tradicional, como se pode ver, por exemplo, na resposta à mensagem Mensagem 751 de 29 de Setembro de 2009, onde apesar de minhas idiossincracias, não questionava os excessos das variações mais extremas do feminismo atual. Eu uma aula que dei para alunos de direito, usei uma entrevista do anti-feminista Martin Van Creeveld, comentada na Mensagem 667, como exemplo de argumentação falaciosa, mas nada supera a contenda que promovi na instituição Nova Acrópole ao vestir um "uniforme" feminista em combater um texto canônico da instituição, que no caso bem merecia.

4. E na verdade, tem sido assim desde sempre. Susan Faludi afirma: "Como a erudita Cynthia Kinnard observa no seu levantamento bibliográfico da literatura antifeminista americana, cerca de um terço dos artigos e metade dos livros e panfletos contrários à campanha dos direitos da mulher foram escritos por mão feminina." Backlash - O Contra Ataque na Guerra Não Declarada Contra as Mulheres, Capítulo 3 - Os Refluxos de Ontem e Hoje. Ed. Rocco Pág 67. E é bom lembrar que sem dúvida o maior libelo misógino já escrito, embora não exatamente contra os direitos da mulheres em si, foi escrita também pela autora argentino-germânica Esther Villar.

5. Como diz Griet Vandermassen em Who's Afraid of Charles Darwin? - Debating Feminism and Evolutionary Theory, Capítulo 6 - A Metatheory for Feminism página 169.

6. É difícil distinguir esses dados no artigo original, por isso vejamos uma síntese: "Geneticistas descobriram que a diversidade do DNA nas mitocôndrias de diferentes pessoas (que homens e mulheres herdam da mãe) é muito maior que a diversidade do DNA dos cromossomos Y (que os homens herdam do pai). Isso indica que por dezenas de milênios os homens tiveram maior variação que as mulheres no êxito reprodutivo. Alguns homens tiveram muitos descendentes e outros não tiveram nenhum (o que nos deixou com um pequeno número de cromossomos Y distintos), enquanto um maior número de mulheres tiveram um número de descendentes mais igualmente distribuído (deixando-nos com um número maior de genomas mitocondriais distintos). Essas são precisamente as condições que causam a seleção sexual, na qual os machos competem por oportunidades para acasalar-se e as fêmeas escolhem os machos de melhor qualidade." STEVEN PINKER , TÁBULA RASA, página 469, referindo-se a Ann Gibbons Europeans trace ancestry to Paleolithic people, Revista Science n. 290 p 1081-1, 2000. Outros artigos trazem dados mais claramente ordenados, embora sempre de difícil leitura, como Mitochondrial DNA and Y-Chromosome Variation in the Caucasus, onde pode-se comparar, em tabelas distintas, a variação do haplogrupos do DNA mitocondrial em relação aos haplotipos do Cromossomo Y. Um artigo bem mais acessível e explícito é How Female DNA Came To Dominate The Human Gene Pool, que se baseia no estudo Human paternal and maternal demographic histories: insights from high-resolution Y chromosome and mtDNA sequences. Normalmente não é objetivo desses estudos demonstrar essa diferença de variação pelo simples fato da mesma ser trivial, como atestam diversos outros estudos, que em geral a explicam devido a patrilocalidade da maioria das culturas. Em espécies animais, porém, a diferença pode ser mutíssimo maior. Enquanto nos humanos a variação Y costuma ser em média de pouco mais da metade da variação mtDNA, nos Gibãos, por exemplo, chega a cair a 20%! Ou seja, em média apenas 1/5 dos machos deixa descendentes. Embora todos reconheçam o fato evidente de que mulheres se reproduzem mais que homens (visto que o critério hipergâmico exclui uma grande quantidade deles) é incrível a insistência na questão dos deslocamentos de mulheres como se fosse um fato relevante quando, se analisado melhor, tem significância praticamente desprezível. Me soa como uma esforço "politicamente correto" e de influência feminista para minimizar a conclusão inevitável e mais fundamental, que pode ser vista também entre os animais, que não possuem essa mesma tendência patrilocal.

7. Com um simples levantamento estatístico num site de encontros, Your Looks and Your Inbox torna ainda mais intrigante aquilo que qualquer um que tenha noção, mesmo intuitiva, da hipergamia, já sabe. Sexualemnte, a maioria dos homens é prontamente receptiva à maioria das mulheres, enquanto a maioria das mulheres só é prontamente receptiva à uma minoria dos homens.


Hipergamia
O Sublime Desafio do Feminismo

ENSAIOS
Hipergamia 1 - Atração Fatal