DA ESQUERDA PARA BAIXO

Historicamente, a Esquerda pode ser identificada com 3 elementos que não creio sejam objeto de dúvida para quem quer que seja.

É um movimento ideológico que fala a favor de um setor da sociedade que é:

1 - Maioria da população;

2 - Classe trabalhadora;

3 - Economicamente desprivilegiada (em comparação com outros setores).

Embora os partidos políticos de esquerda hoje, inclusive no Brasil, estejam cada vez mais confusos e irreconhecíveis, principalmente os que estão no poder, ainda existe claramente um setor da sociedade que representa perfeitamente tais características, os sindicatos trabalhistas.

Como o próprio nome diz, neste, o que se vê é a esquerda clássica. Trabalhadores, que são evidentemente a maioria em qualquer contexto, unidos em torno de lideranças para conquistar, garantir ou reaver seus direitos, pelo fato de serem em grande parte desprivilegiados em comparação com seus patrões e chefes.

Portanto, em torno das centrais sindicais tem-se o que há de mais legítimo e puro em termos de Esquerda. Com todas as suas características notáveis há séculos, praticamente inalteradas em essência, alheias à revoluções russa e chinesa que viriam montar exércitos invés de centrais de trabalhadores, substituindo mobilizações e greves por guerras.

Mas a Esquerda também se aliou a outros movimentos emancipatórios que lhe fossem afins, por maior ou menor grau de similaridade.

Que tenha apoiado às causas feministas faz todo o sentido, visto serem as mulheres:

- A maioria da população;

- em sua quase totalidade trabalhadoras, o que evidentemente inclui as donas de casa e as cuidadoras das crianças (o trabalho mais importante de todos);

- e por terem sido durante parte da história desprivilegiadas em questões trabalhistas.

Que a Esquerda tenha decidido apoiar os movimentos contra desigualdade racial também faz todo o sentido, visto que os mesmos reúnem as 3 características. Ou em casos como o dos EUA, ao menos duas, visto não serem os afros maioria populacional no país.

um ruído no que se refere ao sistema de cotas em universidades, por não ter sido um enfoque original da esquerda o acesso direto ao ensino superior, e ao fato de haver um delicado salto de etapa, visto que a melhora do ensino fundamental deveria receber a prioridade. No entanto, o objetivo ainda é facilitar o acesso de uma maioria populacional à recursos que prometem melhorar suas condições.

Quando a Esquerda decide apoiar movimentos pró homossexualidade, as coisas começam a ficar confusas, pois os homossexuais:

- não são maioria;

- embora a maioria sejam trabalhadores, não é o que os caracteriza principalmente;

- e sobretudo não são desprivilegiados.

Algo que nunca se verá nas campanhas a favor dos homossexuais, é observações sobre suas condições econômicas, pois se forem feitas estatísticas comparativas, pode-se apostar que eles são em geral mais favorecidos financeiramente do que a média da população. Dominam setores inteiros da economia, dos quais os salões de beleza de luxo e alta costura são só os mais óbvios. Estão presentes em quantidades impressionantes nas universidades e em certos setores da alta sociedade, como o Diplomático e o Artístico por exemplo, numa proporção muito além do que populacionalmente representam.

O motivo disso é simples. Por reunirem de um modo mais sintético características masculinas e femininas, parece ocorrer um tipo de equilíbrio psíquico que os torna em média mais inteligentes e talentosos que os heteros. Que também podem usufruir deste mesmo equilíbrio sem incorrer em alterações em sua preferência sexual ou comportamento, precisando apenas despertar e incentivar qualidades psicológicas latentes em todos os humanos.

Apesar disso, ainda existe justificativa nesse apóio da esquerda à causa homossexual, por que existe de fato um desprivilegiamento de outra ordem, não econômico, por conta do preconceito que sofrem de grande parte da sociedade. Apesar de ninguém nos sindicatos, a esquerda por excelência, estar preocupado com o assunto.

Também não se preocupariam com demarcação de terras indígenas ou similares, porque índios podem até ser desprivilegiados social e economicamente, embora sejam privilegiados legalmente, mas não satisfazem as outras duas características. E isso sem contar questões estranhas como a do Santuário dos Pajés, cuja manutenção apenas impedia a geração de milhares de empregos e habitações, em prol do privilégio religioso animista de um punhado de "invasores" de terras.

Mas se o apoio da Esquerda às cotas tem algum ruído, principalmente por terminar privilegiando uma parte já previamente privilegiada, se o apoio à causa homossexual é um tanto anacrônico e dissonante, e às causas indígenas parece mais influência de James Cameron, existe um outro que corrompe total e completamente sua essência, e se extrapolado só poderia levá-la à mais miserável auto destruição.

Trata-se do consumo, e apoio ao consumo, de drogas ilícitas.

Primeiro, porque droga de trabalhador pobre é álcool ou fumo comum. As drogas ilícitas são consumidas principalmente por uma elite economicamente favorecida, das quais muitos, talvez a maioria, jamais trabalharam na vida.

Segundo, não existe atualmente sistema de exploração trabalhista mais cruel e desumano do que o do narcotráfico. Nas nossas favelas, sabemos muito bem o que ocorre com os trabalhadores que se submetem ao comando dos narcotraficantes para abastecer o consumo de uma população privilegiada. Até por não ser regulado, ocorre exploração sem qualquer tipo de controle, direitos trabalhistas, e é claro, sem a menor possibilidade de mobilização sindical. Não raro deslizes podem ser punidos com tortura e morte.

E Terceiro, e relacionado, mesmo que venham de uma classe pobre, alguns líderes do tráfico rapidamente enriquecem, não repassando seus ganhos de qualquer modo que lembre redistribuição de renda. O dinheiro vem de uma elite psicologicamente corrompida, para criar uma elite criminosa.

Se isso por si só já demonstra a impostura de esquerdistas que consomem, e apóiam, drogas ilegais, pior ainda são os que defendem sua liberação em geral.

Pode-se até falar na liberação de uma ou outra droga menos nociva, como a maconha, mas a liberação das drogas num sentido irrestrito, ou das mais nocivas, é uma insanidade que corrompe os últimos resquícios de dignidade.

É certo que a maioria parece estúpida demais e pode piamente acreditar no delírio de que, uma vez legalizadas, o narcotráfico desapareceria, como se diversos setores legalizados do comérico já não enfrentassem concorrência de produtos "piratas"!

Mas o realmente impressionante é que esses visionários parecem realmente crer que uma vez legalizadas, as drogas seriam exploradas pelo comércio comum, e aí, nesse caso, quem seriam os grandes beneficiados?!

As Mega Corporações Internacionais! Claro!

A liberação jamais poderia se dar num único país, caso contrário ele seria destruído pela concentração das rotas do narcotráfico e pela retaliação dos demais países. Só poderia então se dar na maioria dos países, e sendo assim, quem estaria em condições de gerenciar um negócio de dimensões intercontinentais?

Como trazer o ópio do Afeganistão, a coca da Colômbia, tratá-los em países com mão de obra mais barata para depois aplicar os últimos toques para distribuí-los nos países ricos?

Acaso seriam pequenos comerciantes locais, cultivo caseiro ou empresas municipais que assumiriam esse comércio? Acaso produtores de bebidas alcóolicas ou fumo caseiro podem competir com a Heineken ou a Malboro?

Poderiam eles arcar com os altos impostos que inevitavelmente os governos colocariam sobre os produtos legais? Que evidentemente os ilegais não pagariam?

E o mais trágico, considerando que seria um mercado consumidor literalmente viciado, como não ver com olhar de Ficção Científica Distópica uma civilização onde megacorps controlam os produtos dos quais milhões de usuários dependem quimicamente?!

E isso, claro, cedendo ao delírio de que tal liberação funcionaria dessa forma, o que não é verdade. A liberação fatalmente aumentaria o consumo, o estado fatalmente sobretaxaria as drogas e o mercado ilegal continuaria com lucros bilionários, provavelmente potencializados, além da crise de saúde pública que a sociedade teria que enfrentar como se já não bastasse os danos das drogas legais.

Mas se não fosse assim, se a liberação realmente funcionasse, os grandes ganhadores seriam empresas Multinacionais. É o cúmulo da contradição ver pretensos esquerdistas defenderem posturas que, se dessem certo, só beneficiariam os mega capitalistas que eles juram combater! Enchendo os hospitais de dependentes químicos e suas vítimas indiretas, para serem tratados às custas da população trabalhadora.

E que não venham os direitistas liberais esnobarem superioridade moral quando não apoiárem essa "causa" estúpida (geralmente o fazem). Pois a maioria, e os maiores, usuários estão nas classes privilegiadas, onde a direita liberal continua forte e atuante, e se não apoíam a liberação é apenas porque sabem que não daria certo (nenhuma grande empresa jamais se interessou pelo assunto), e tem que posar de defensores dos bons costumes da sociedade.

Nesse ponto, a única superioridade estaria com os direitistas conservadores. Não fosse seu apoio irrestrito às drogas lícitas e a incoerência que isso causa.

Infelizmente, essa tolice tem se alastrado, e apesar de nítida rejeição da maior parte da população, que seguramente daria um sonoro 'NÃO' no caso de um plebiscito, uma certa elite esquerdista parece ter nesse ponto uma pauta prioritária.

Podem ser encontrados principalmente nos CAs e festas universitárias onde estudo fica em terceiro ou quarto plano, e a prioridade é o consumo de drogas, como se fossem um tipo de atestado de independência intelectual, e não o corruptor cerebral que de fato é.

Uma elite que deveria estar a favor da classe trabalhadora, e não de si própria enquanto elite consumidora, ardilosamente querendo usar a força histórica da esquerda para satisfazer seus vícios.

Isso já não é mais estar a Esquerda, e sim Abaixo.

Suprema corrupção ideológica.

Marcus Valerio XR

13 de Maio 2012


<A Droga da Incoerência
ENSAIOS

Vôos e Quedas
Ideológicas