Quarto Esboço de uma Filosofia do CAOS

CAOS, ORDEM e ENTROPIA

Não sou um apreciador dos jogos de bilhar, mas eles me permitem uma boa analogia. Tomando uma posição inicial de uma mesa de sinuca, temos as bolas agrupadas em forma de triângulo. Isso é CAOS. E temos um jogador com um taco prestes a desferir um golpe na bola branca. Isto é o TÉLOS.

Espero ser comum uma estranheza inicial, visto que minha analogia de CAOS parece o contrário do que o senso comum costuma considerar, mas deixemos isso, que é na verdade O tema da maior importância, para adiante.

Fato é que neste momento só há uma coisa que o TÉLOS pode, e pretende fazer: Dar a tacada inicial! Não há dúvidas a esse respeito, não há uma ou outra direção a se escolher, não há uma consideração a ser feita a respeito da qual seria a melhor bola para se atingir. Praticamente a única opção se resume a dar uma tacada inicial com o máximo de força adequada para iniciar o jogo.

E então essa tacada é dada, e logo em seguida temos o KOSMOS. É aqui que surge uma possibilidade e não outra, onde uma bola pode estar numa ou outra posição. Onde antes sá havia um vazio, um NADA, agora temos espaços mensuráveis entre uma e outra bola, ângulos discerníveis, disposições compreensíveis. E também só então que surge de fato o LOGOS, pois agora fará diferença que tipo de movimento o jogador poderá fazer. Agora ele poderá escolher uma direção específica, tendo objetivos mais complexos visando buscar uma disposição mais vantajosa. Agora ele terá bolas passíveis de serem enviadas deliberadamente para as caçapas, e poderá jogar de acordo com um plano racional que mudará a ordem neste KOSMOS.

Claro que a analogia tem falhas. Existem sim possíveis escolhas na tacada inicial relativas a velocidade ou mesmo ao ângulo, mas normalmente são irrelevantes, visto que se espera que o resultado gere uma ordem aleatória. Claro que a mesa inicial já tem uma ordem espontânea, existem as caçapas, e claro que as bolas agrupadas não são uma boa representação do CAOS. O principal objetivo do uso destas imagens foi insistir na distinção entre TÉLOS e LOGOS. O primeiro é incomensuravelmente mais simples, e perene, enquanto o segundo é complexo e só pode existir a partir do momento em que há um KOSMOS que lhe permita fazer distinções, uma ordem que pode estar de uma forma e não outra, passível de se reconfigurar.

Há que se acrescentar que o TÉLOS permanece constantemente, só que agora direcionando o LOGOS, que é a inteligência que pode ser emulada por sistemas artificiais. Mas o LOGOS sem TÉLOS é inerte, tal como nossos melhores computadores o são se não recebem nossos comandos. A parceria TÉLOS e LOGOS é o que caracteriza o que chamo de SENSCIÊNCIA, a Auto Consciência impulsionada pela Vontade, dotada de uma Intencionalidade. É altamente provável que desenvolvamos sistemas avançados de Inteligência Artificial capazes de até mesmo nos iludir se passando por seres Senscientes, mas tal Sensciência só será real se houver um TÉLOS próprio.

Assim, no meu modelo filosófico o Universo necessariamente tem um TÉLOS desde sempre. Mas o momento onde surgirá o LOGOS é discutível, pois podemos admitir a cosmogênese materialista na qual essa inteligência de fato só viria a emergir na espécie humana. Nós somos, ou contemos, o LOGOS do universo. Mas o TÉLOS nos transcende, estando já presente nos seres vivos ancestrais, que nitidamente possuem um impulso vital, disposições volitivas. Como esse TÉLOS se manifesta na matéria "inanimada" também é discutível, mas podemos considerá-lo como envolvido com as próprias Regularidades, as "Leis", e Forças Naturais.

ENTROPIA

Por fim, algumas breves considerações sobre a estranheza inicialmente apontada, onde os estados que chamo de CAOS e KOSMOS na mesa de bilhar parecem o exato contrário do que se costuma considerar. Esse é exatamente um ponto central de minha noção sobre o tema, o de que existe não somente um paradoxo potencial no estado originário de CAOS, que de certa forma seria a mais perfeita ordem, mas que também existe uma falha extrema na concepção mais comum de tal ordem.

Ora, o nosso Universo é um exemplo claro de uma disposição que possui um estado e não outro, e que pode assumir alguns estados, mas não outros. No exemplo da mesa de bilhar, é claro que o resultado posterior à tacada inicial é uma disposição e não outra, e a media que o jogo for evoluindo, vai assumindo outros estados, e não mais sendo possível assumir outros. Como por exemplo uma vez que uma bola for encaçapada, não é mais possível recolocá-la em outra posição, segundo as regras do jogo, progressivamente limitando as possibilidades.

Seguindo as regras de nosso Universo, as "Leis" Naturais, também vamos perdendo conteúdo e possibilidades, devido a crescente Entropia, e é justo nesse conceito que reside a chave para o entendimento da confusão, visto que muitos a consideram apenas como uma forma de "Ordem", quando no entanto diz mais respeito à potencialidade transformativa de um sistema. Isto é: um sistema é mais entrópico ao possuir menores possibilidades de assumir outras formas.

Nesse sentido, o CAOS seria o estado inicial de entropia mínima, ou nula, visto que pode assumir qualquer forma, mantendo abertas todas as possibilidades, e isso gera uma paradoxal confusão com um estado de perfeito ordenamento, do qual poderia-se extrair qualquer outra formatação mais específica e com menos potencial de assumir outras formas.

Mas um aprofundamento disso ficará para um momento posterior.

Marcus Valerio XR

Iniciado em 7 de Janeiro

Finalizado em 28 de Junho de 2015


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