Terceiro Esboço de uma Filosofia do CAOS
CAOS, KOSMOS, LOGOS e TELOS
Terminei o esboço anterior falando sobre uma dualidade primordial entre CAOS e LOGOS. Mas em minha monografia de graduação trabalhei com os conceitos de KOSMOS & TELOS. É hora de reunir esses 4 conceitos num modelo primordial único. Manterei o primeiro com "K", para permitir abreviação distintiva, e grafarei o segundo como TÉLOS.
Evidentemente, eles se agrupam em pares. Tanto CAOS quanto KOSMOS dizem respeito a algo físico, sendo estados distintos de uma mesma entidade material. O CAOS, em sua desordem máxima, deixa de sê-lo assim que apresenta alguma ordenação, se tornando KOSMOS, ordem.
Ao mesmo tempo, TÉLOS e LOGOS também dizem respeito a algo não exatamente físico, mas informacional. TÉLOS seria algo muito primevo, um Impulso, uma Intenção, Vontade, ou outros termos com os quais as tradições denominaram algo que não é realmente inteligente, mas apenas um princípio do que viria a se tornar inteligência.
LOGOS, por sua vez, é uma organização não física, que se conecta com o KOSMOS.
Sendo o CAOS por natureza incompreensível, não pode ser de forma alguma diretamente pensado, sequer pode ser percebido, somente o KOSMOS pode ser psiquicamente tratado pelo LOGOS. Se a Matéria ou Energia Escura dos cosmólogos modernos não pode ser diretamente detectada, em parte pode ser porque a mesma seria o que temos mais próximo ao estado caótico da matéria.
Em suma, o CAOS não pode ser percebido pelos sentidos, nem por qualquer artifício instrumental, assim como não pode sequer ser pensando enquanto estiver em sua forma plenamente caótica. Nesse sentido, é perfeitamente comparável ao NADA, embora seja, por essência, quase o seu oposto.
Assim, não seria possível um LOGOS operar sobre ele, a despeito da dualidade primordial sugerida no esboço anterior. Seria necessário algo mais sutil, não racional, que tivesse a possibilidade de lidar com o CAOS. Este seria o TÉLOS.
Em minha Monografia trabalhei com a distinção deste TÉLOS em relação ao LOGOS, porém os conceitos apareceram com outros nomes, respectivamente 'intenção', 'intencionalidade' ou mesmo 'finalidade' para o primeiro, e em geral 'razão' ou 'inteligência' para o segundo. Assim, esta última seria uma capacidade totalmente passiva, que precisa ser ativada por algo mais fundamental, e este algo é o TÉLOS.
Na Filosofia da Mente utiliza-se o conceito de intencionalidade para distinguir os seres verdadeiramente conscientes, humanos, a talvez outros animais superiores, de outros seres que possuem alguma capacidade análoga de raciocínio embora não considerados inteligentes, como computadores. Assim, mesmo que construíssemos uma inteligência artificial completamente indistinguível de uma inteligência humana, só a consideraríamos verdadeiramente inteligente no sentido de auto consciência, que chamo se Sensciente, se esta tivesse intencionalidade.
Assim, a cosmogonia fica reduzida à seguinte possibilidade.
Ou seja. As entidades primordiais seriam o CAOS e o TÉLOS, e de sua interação surgiriam o KOSMOS e o LOGOS. Sendo um a própria Ordem natural em si, inteligível, e o outra a potência de entendimento, a inteligência, que porém seria inerte não fosse ser efetivamente dirigida pela Intencionalidade. Assim como o é a própria inteligência humana em si.
Poeticamente podemos recorrer a alegoria bíblica ao dizer que "O espírito de Deus pairava sobre a face das águas." O que seria o TÉLOS, puro contemplando o CAOS. Porém, somente a partir do primeiro ato criativo, o Fiat Lux, é que passaria a existir algo passível de um discurso, uma narrativa pensável e passível de ser expressa, porque antes o KOSMOS, só havendo o CAOS, nada há que possa ser dito. Por isso mesmo nada se pode dizer antes de "No princípio criou Deus os Céus e a Terra."
Isso não pressupõe necessariamente uma entidade divina, podendo ser visto também apenas como o meio pelo qual os antigos autores da Gênese puderam pensar sobre o mito cosmogônico. Eles teriam então intuído espontaneamente essa impossibilidade de uma discurso, um LOGOS, sobre algo anterior ao KOSMOS. Mesmo assim havia algo aparentemente tão perene quanto o CAOS.
Na cosmogonia mitológica japonesa temos algo parecido, ao vermos que do Caos emergem primeiramente a Terra, o Céu e o Subterrâneo, por um ato gerador não especificado e que, naturalmente, nada diz a respeito do Caos. E somente depois surgem os seres inteligentes. Isto é, qualquer forma de Logos é posterior a criação, embora a própria ideia de criação já pareça pressupor a existência de algo além do mero Caos.
E isso porque se pressupormos um CAOS pleno, puro e completamente desordenado, não haveria como o mesmo gerar algo espontaneamente, pois tal geração implicaria em algo não caótico. Se uma parte do CAOS pudesse se separar espontaneamente, isso sugeriria que o CAOS não é puro, havendo então algo além dele. Por isso a necessidade de postular uma entidade externa. Mas se tal entidade fosse um LOGOS, ao quê poderia ela aplicar sua inteligência? O que poderia entender, se o CAOS é ininteligível?
Por isso, a pressuposição de que tal entidade externa ao CAOS seja algo mais profundo, primevo e fundamental do que o LOGOS em seu sentido mais complexo. O TÉLOS.
Assim ficamos com o CAOS, Feminino, Potencial, e o TÉLOS, Masculino, Atualizante como entes originários. E o KOSMOS, o Inteligível, e o LOGOS, o Inteligente, como entidades secundárias, e por isso mesmo, ambas mistas, Masculinas e Femininas, oferecendo uma solução para a questão levantada no
esboço anterior.
Marcus Valerio XR
20 de Dezembro de 2014
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