Segundo Esboço de uma Filosofia do CAOS

CAOS ou "A CAOSa"

Atualmente, entende-se por CAOS apenas a desordem. Mas originalmente é muito mais, sendo principalmente a Pré-Ordem, a Potência Primordial de onde toda a Ordem pode ser "extraída".

Podemos imaginá-lo de várias formas, inclusive como um amontoado de pecinhas magnéticas dos mais variados formatos totalmente desmontadas e misturadas, sem qualquer critério. Ou algumas peças podem estar acidentalmente encaixadas.

O construtor nada pode fazer sem a MATÉRIA, que são os tijolinhos, portanto, deve ordená-las, separá-las por suas diferenças, montá-las segundo seus critérios. Com tendência a atrair umas às outras, e talvez também repelir, o construtor precisa orientá-las na posição desejada para que a atração faça o resto.

É nessa concepção fundamental que surge o primeiro problema da Filosofia do CAOS, que é sobre o Caos em si.

Sendo o universo totalmente pautado pela interação de duas Forças fundamentais, que nomeei de Feminina e Masculina, estariam ambas imersas originalmente no próprio CAOS?

Se sim, confirma-se a visão tradicional e afirma-se que o CAOS é simultaneamente Masculino e Feminino. Então absolutamente tudo o que possa existir provêm desse Caos Primordial.

Mas há a dificuldade em conceber como a Ordem pode surgir espontaneamente do Caos.

Se não, então temos que pressupor algo paralelo ao Caos, possivelmente perene, que seria evidentemente a origem da Ordem. Um tipo de Logos original, que facilmente seria identificado como um tipo de divindade.

Nesse caso, então o Caos seria essencialmente Feminino, e o Logos Masculino. O primeiro seria a Matriz, essencialmente Atrativa, o segundo o Demiurgo, separador.

Mas ordenar pressupõe não só separar como também reagrupar, por isso um hipotético ordenador teria que operar também a força feminina além da masculina, orientando-as.

Assim, o próprio ordenador seria também Masculino e Feminino.

Ou, ele agiria hora separando, hora deixando a natureza atratora prevalecer, oferecendo então mera resistência pontual ao fenômeno de atração.

Mas se o Caos for essencialmente Feminino, e o Logos Feminino e Masculino, então este não é "puro" no sentido de ser a Força Masculina em si, e sim, mais um existente que deveria ter sua origem explicada, e nesse caso abre-se a possibilidade de que o Ordenador também tenha vindo do Caos.

Ou seja, somente o CAOS seria perene, incriado, perpétuo. O Logos, o Demiurgo, seria uma criação primordial, o primeiro filho da Matriz Universal. Ou ao menos, o primeiro a ser capaz de agir para moldar Ordem a partir do Caos. Em suma.

O CAOS é a origem de tudo, sendo a única coisa perene, ou Caos e Logos são a origem de tudo, ambos perenes.

O que não é possível é conceber que somente um Logos exista, sem um Caos sobre o que trabalhar. Isto é, a noção de um Divino que cria a partir do nada é absurda, a Creatio Ex Nihil, que volto a afirmar, NÃO TEM FUNDAMENTO BÍBLICO, é apenas uma tentativa de evitar a conclusão forçosa de que algo além de um Logos tem que existir desde sempre. Eliminando qualquer possibilidade de haver algum tipo de "concorrência" de entidades divinas, o que levaria a fatalmente supor a existência de uma Deusa, uma contraparte feminina ao Deus explicitamente masculino da tradição Abraâmica.

Explorar as possibilidades e implicações da Feminilidade e Masculinidade nesses seres primordiais, Caos e Logos, geradores do Cosmos, é assunto a ser desenvolvido com muito cuidado, principalmente para não cair em contaminações conceituais de quaisquer tradições e evitar apropriações indevidas, que invariavelmente tentam arrastar o conceito rumo a algum sistema de pensamento já arraigado.

No momento, voltemos a atenção ao CAOS em si. Em especial sua distinção com o Nada.

CAOS X NADA

Não são somente teólogos tradicionais que afirmam a criação de um universo a partir do nada, ainda que o mesmo pressuponha a existência prévia de um Deus. O que deveria imediatamente nos levar à pergunta: Então porque não dizer que o Universo veio de Deus? A resposta, provavelmente levaria à necessidade de invocar alguma forma de Panteísmo, a reafirmar a distinção radical entre os domínios da Matéria e do Espiritual, ainda que o Cristianismo devesse ser distinto de qualquer forma de Maniqueísmo.

Também os físicos contemporâneos têm flertado com afirmações similares, de que o universo vem do nada, no entanto, dispensando a presença de uma divindade qualquer.

Mas talvez ambos incorram no mesmíssimo erro. Confundir Caos com Nada.

Quando os cientistas usam termos como "Vácuo Quântico" ou dizem que ocorreram "flutuações no nada", ou que partículas foram "espontaneamente criadas e destruídas num vazio", eles não podem estar, na realidade, usando Nada no sentido filosófico clássico de Não-Ser. Frequentemente admitem ser este um "nada não absoluto", mesmo que isso soe um tanto contraditório.

Ocorre então que estão de fato a referir-se a um típico conceito de Caos, e a confusão é compreensível porque muitas características do Caos de fato podem ser confundidas com a idéia de Nada.

O Caos seria invisível, imperceptível, porque para que ocorra qualquer forma de detecção é preciso existir alguma forma de ordem, algum grau de separação.

O Caos não pode ser visto ou tocado.

No entanto, o Caos é fundamentalmente distinto do Nada por que é Ser.

A melhor forma de representar isso, no entanto, é usar uma comparação gráfica.

Por mais que entremos no impreciso reino das analogias, penso que comparar o Caos à Luz Branca seja ilustrativo, visto que esta é exatamente a mistura de todas as cores. O Nada, por outro lado, seria exatamente a ausência de qualquer cor, ou seja, de ser.

Nada pode ser dito sobre o Nada, exceto que ele é nada!

Já o Caos, pode parecer o Nada por nada ser em especial, mas sim, ser Tudo. De onde podemos extrair, separar, as coisas em si, representadas pelas cores. O DEVIR, isto é, as coisas que embora existam, estão sempre em mutação, sendo Seres dinâmicos.

O Cosmos então nada mais é do que uma coletânea de coisas extraídas do Caos, de cores diversas, e alguns "vazios" também. Ou seja, poderia "haver nada" em algum lugar, mas isso seria apenas por ser ausência de qualquer coisa, inclusive ausência de Caos.

Ainda no mundo das analogias, lembremos que se enxergamos tudo preto, nada vemos. Mas se enxergássemos tudo branco, o resultado seria equivalente. Perderíamos qualquer possibilidade de orientação, nada distinguiríamos. No entanto, haveríamos de admitir que vemos algo, pois haveria diferença entre fechar e abrir os olhos.

É impossível pensar o NADA. Nada pode ser dito sobre o NADA. Qualquer uso do termo "Nada" que faça algum sentido, está na verdade se referindo ao CAOS, que é o SER Puro.

Em resumo, fica estabelecida a diferença absoluta entre o NADA (Não-Ser) e o CAOS (Ser Puro).

Também que o CAOS, ou a CAUSA Primordial (para o qual penso no neologismo "KAOSA"), é Feminino, ou Híbrido (Feminino e Masculino), e se é puramente Feminino, então existe também um LOGOS perene, Masculino, conferindo uma dualidade primordial.

Marcus Valerio XR

Iniciado em Fevereiro de 2012

Finalizado em 04 de Julho de 2012


Terceiro Esboço de uma Filosofia do CAOS
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