TRAINDO O MOVIMENTO
e
SALVANDO A SI PRÓPRIO

Muitas questões podem ser entendidas se tivermos em mente duas verdades praticamente axiomáticas.

1 - O mundo externo pessoal de cada pessoa troca influências com o seu mundo interno;

2 - É fácil confundir os eventos externos com os internos.

Costumo descrever a existência humana como uma insistente tentativa de equalizar o universo interior com o exterior, quer seja absorvendo o máximo possível a realidade externa, quer seja projetando inconscientemente seus conteúdos internos no externo, ou num ensejo deliberado de deixar sua marca, mudar o mundo à sua vontade e semelhança.

A grande maioria dos jovens passa por uma natural fase de rebeldia que se associa a saga simbólica de seu herói interior. Há tanta literatura sobre isso na psicologia profissional e popular, inclusive na auto ajuda, que não cabe explanar mais aqui. Vou apenas focar na viagem interna, repleta de símbolos largamente explorados nas estórias de fantasia, que remetem a arquétipos predominantemente masculinos como o cavaleiro, o mago, o bárbaro etc, e seus desafios estruturais representados pelos dragões, monstros, feiticeiras etc.

Mas frequentemente essa realidade interna é tomada como vindo de fora, das condições políticas e sociais, sendo fácil confundir uma luta que é por essência interior e atemporal, com questões práticas geradas por condições materiais e interpessoais.

Algumas gerações coincidem a chegada em grande número nessa fase e a factualidade de situações históricas realmente dramáticas, como guerras, revoluções e momentos de transformações radicais.

Outras vivem em tal grau de fartura e estabilidade que ficam sem uma boa referência externa para seus desafios interiores, mas mesmo esses, se imersos no desconhecimento maciço de si mesmos e sobretudo numa miséria referencial externa, podem muito bem projetar para fora essa luta interna e realmente acreditar que estão travando Uma Batalha Épica Contra As Forças do Mal!

O inimigo exterior frequentemente não passa de um reflexo do inimigo interior, tanto mais exponenciado quanto mais coletivo é o fenômeno. E o mergulho de corpo e alma na causa coletiva leva a um inevitável afastamento de si, uma dissolução da individualidade numa identidade de grupo, podendo chegar ao ponto de que o indivíduo não apenas deixa de pensar por si mesmo, mas deixa de ser si mesmo para ser apenas um soldado a serviço de movimentos por vezes caóticos, por vezes ardilosamente dirigidos por manipuladores.

Cedo ou tarde essa luta interior cessa, se a morte não sobrevier antes. Pode terminar em vitória, o amadurecimento pleno e encontro de si. O Santo Graal interior. O casamento do Masculino e do Feminino inerente a cada ser humano.

Pode haver a derrota, culminando no pessimismo, na falta de sentido e depressão, causados pela fragmentação de si próprio, desembocando numa persistência desolada e miserável. Mas frequentemente termina num “empate”, ou num armistício. O impasse interior de quem nunca conquistou a si mesmo nem caiu do desespero existencial.

Mas uma coisa é certa.

Aquele que venceu suas batalhas mais graves inevitavelmente estará bem no interior e no exterior. Uma vida bem resolvida a nível interpessoal, afetivo, familiar, profissional etc, é o maior resultado disso. E aí sim, as verdadeiras batalhas externas serão travadas com sabedoria e muito maior chance de sucesso.

Muitos também, a meio do caminho, caem em si mesmos e ainda que não compreendam plenamente o acontecido, podem subitamente interromper projetos externos por reconhecê-los como inúteis ou desfocados.

E para uma aplicação prática, atual e benevolente disso, lembre-se do seguinte. Quando alguns desertarem de rebeldias incausadas ao estilo Teenage Mutant Blackboc Coxinhas Ninja, não quer dizer que são traidores do movimento.

Possivelmente apenas amadureceram.

Marcus Valerio XR

27 de Agosto de 2013


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