GINOTOPIAS
Recentemente assisti a interessante animação MARS NEEDS MOMS, que apesar de ser da Disney e contar com nomes famosos, foi um fracasso de bilheteria. Embora seja um filme direcionado ao público infantil, recebeu críticas sérias de ativistas homossexuais e feministas, basicamente por ter mexido com uma das vacas sagradas da Ficção Científica Especulativa, a idéia de sociedades sobre controle feminino.
Como se pode ver nesse amplo Artigo sobre Ginotopias, sociedades ginocráticas são retratadas na ficção e nas lendas quase sempre como Utópicas, e numa produção de grande repercussão, este filme certamente foi a primeira vez na história que se apresentou uma Ginocracia Distópica.
Como escritor de FC, sou também adepto da idéia de que ginocracias, ou ao menos "equalocracias" resultariam sempre em mundos melhores que o nosso,
GRADIVIND, A Espada de Cristal, As Senhoras de TERRANIA ou ALICE 3947 não fogem à tendência utópica.
Mas penso que os autores de Mars Needs Moms acertaram num ponto, pois diferente da maioria das Utopias Feministas, nesse filme as mulheres foram usurpadas de toda sua dimensão maternal e cuidadora, tendo sido reduzidas a operárias, soldados ou técnicas, deixando as crianças serem criadas por robôs que necessitam de mães terrestres para atualizarem suas programações, e onde meninos e meninas são separados desde o nascimento, gerados artificialmente, sendo elas educadas para assumirem seus papéis no mundo superior enquanto eles são enviados para sobreviver em lixões subterrâneos.
A FC então sugere que uma Ginocracia seria quase certamente benéfica DESDE QUE AS MULHERES MANTIVESSEM SUA FEMINILIDADE FUNDAMENTAL, que nada tem a ver com passividade, fragilidade ou submissão, visto que podem ser ativas, fortes e autônomas sem perder em nada suas características mais nobres. Esse feminilidade fundamental seria a sensibilidade, a capacidade de cuidar, proteger e amar, o que estaria simbolizado sobretudo na Maternidade, ou ao menos seria incompatível com sua erradicação quer a nível reprodutivo ou apenas educativo. 4
Como toda e qualquer distopia é sempre uma advertência contra os rumos tomados por certas tendências de nossa própria civilização, o que Mars Needs Moms faz, mesmo ambientado em outro mundo, é exatamente especular sobre questões como reprodução artificial, separação impositiva entre homens e mulheres e evidentemente o fim da família tradicional, que é revelada como tendo ocorrido no passado da civilização marciana, que desconhecia sua história.
Inspirado por isso, gostaria de refletir neste texto sobre algumas tendências que podem nos levar a uma Utopia, e outras que poderiam nos levar a uma Distopia.
DOIS MUNDOS POSSÍVEIS
Façamos uma experiência mental, imaginando duas possibilidades divergentes. Numa, subitamente, toda a população feminina da Terra desapareceria, noutra, toda a população masculina.
MUNDO SEM MULHERES
Na primeira possibilidade, não é difícil antever o fim da espécie humana. Mesmo com os avanços tecnológicos atuais, é improvável que se consiga construir em tempo hábil úteros artificiais, ou dispor de óvulos férteis. Além disso, a tensão seria nada menos que enlouquecedora. Violência explosiva e guerras terminais não demorariam a surgir. O fundamentalismo religioso, até por falta de uma referência em suas próprias profecias, tenderia a entrar numa paranóia muitíssimo pior do que a simples realização de uma delas.
Comunidades monásticas poderiam sobreviver por algum tempo, mas poderiam ser vítimas da violência de uma maioria populacional compreensivelmente ensandecida. Um mundo sem mulheres não mereceria outro nome além de Inferno!
Um único atentado terrorista, para isso haveria loucos de sobra, poderia arruinar os melhores esforços de reprodução artificial.
E por fim, caso tal tecnologia conseguisse êxito, as mulheres em breve poderiam ser novamente produzidas, pois gerar seres com o cromossomo XX seria o primeiro passo óbvio, e assim a salvação da humanidade estaria associada à volta das mulheres.
MUNDO SEM HOMENS
Na segunda possibilidade, a tecnologia já garantiria a sobrevivência humana. Há bancos de esperma suficientes para inseminar a população feminina, podendo trazer os homens de volta sem qualquer dificuldade.
Mas na verdade, isso sequer seria necessário, pois poder-se-ia produzir apenas mulheres, quer fosse por meio de partenogênese, cujas pesquisas poderiam avançar enquanto a simples inseminação artificial é utilizada, quer fosse selecionando apenas espermatozóides X, ou mesmo
produzindo tais espermatozóides por meio de futura engenharia microbiológica.
Embora de certo houvesse tensões, parece improvável que elas fossem terminais. Não há motivos evidentes pelos quais as mulheres decidissem promover guerras em larga escala, ou se lançar em violência desenfreada. Pelo contrário. A tendência prometeria ser de cooperação.
Por mais que as mulheres sejam conservadoras e observadoras dos costumes religiosos, quase não há suporte a idéia de que fossem autoras de paranóias religiosas genocidas com potencial apocalíptico.
Em suma, parece que um mundo sem homens, com a tecnologia atual, já é possível, até mesmo porque produzir o cromossomo Y seria uma dificuldade a mais para a reprodução artificial, e sempre arriscada, devido a todos os problemas típicos desse cromossomo, não sendo a toa que muitos biólogos já tenham antevisto sua
extinção natural.
GINOLATRIA
Não são poucas as mulheres, e homens, que já pensaram na extinção do gênero masculino, tanto na realidade, quanto mais na ficção.
Mundos Somente de Mulheres são comuns na fantasia de escritoras feministas e mesmo homens não feministas, sem qualquer preocupação ideológica. Talvez, apenas pela simples contemplação de um paraíso feminino.
O inverso, aparentemente, jamais aconteceu. E não é difícil imaginar por quê.
Os homens vivem pelas, e para as, mulheres. Os heteros as amam, os homossexuais as amam mais ainda! (Para quem costurariam, fariam cabelo ou maquiagem?) Não é a toa que se mundos sem homens sejam comuns na FC, mundo sem mulheres são praticamente inexistentes, e quando acontecem são apenas pano de fundo para a reintrodução das mulheres.
Quer se goste ou não disso, o fato é que NÃO PODEMOS VIVER SEM MULHERES! Mas parece possível viver sem homens!
Mesmo numa avançada tecnologia de reprodução, só mesmo uma cultura extremamente peculiar poderia impedir que um mundo de homens não produzisse mulheres deliberadamente. Sendo uma das características masculinas mais comuns a rebeldia, não haveria lei nesse sentido, por mais bizarra que uma dessas fosse, que não seria cedo ou tarde desafiada e burlada. 5
Por outro lado um mundo de mulheres onde fosse proibida a produção de homens seria mais plausível não só pela dificuldade, e instabilidade, do cromossomo Y, como pelo argumento da ameaça inconteste do potencial destrutivo masculino.
É certo que a humanidade sofre de uma bipolaridade que a impede de chegar a um meio termo razoável antes de flertar com o extremo oposto de onde está. Por isso é previsível e natural que antes de se conseguir a total equivalência de gêneros para toda a população mundial, algumas feministas radicais flertem com posições extremas que vão desde a mera rejeição em massa aos homens, Feminismo Separatista, até sua completa eliminação. Ou seja, tal radicalismo seria apenas parte integrante de todo e qualquer movimento ideológico, em oposição ao reacionarismo anti-feminista, para que enfim prevaleça o equilíbrio saudável. Podemos explicar assim qualquer espectro de posições ideológicas com suas miríades de posições.
Mas por outro lado, essa erradicação, ou a mera submissão dos homens às mulheres, podem ser vistos de outra forma, não sendo algo impossível de vir a ocorrer, e existem argumentos a seu favor. Não há impedimento técnico algum para isso! Na verdade, apenas anteciparíamos enormemente uma tendência que a própria natureza poderá seguir. Sendo a masculinidade biológica um recurso adicional posterior na história da vida, pode muito bem ser temporário.
O futuro pode ser de um mundo sem homens! Ou pode ser apenas um mundo Ginocrático.
GINOCRACIA
Se não for vítima da ameaça do encolhimento vegetativo e outros males advindos de uma má adaptação às conquistas dos últimos anos, citadas nos textos anteriores, provavelmente seria inevitável que a civilização ocidental recaísse sobre controle feminino. O que sempre me pareceu desejável. Haveria mais de uma forma disso ocorrer, uma delas, possivelmente a mais viável embora menos desejável, envolveria o uso da sexualidade como forma de poder.
Devidamente utilizada, as mulheres poderiam controlar totalmente os homens por meio do apelo sexual. A maioria deles faria qualquer coisa para ter oportunidades sexuais exponenciadas, entregando de bom grado a liderança da civilização. Poucos seriam os jovens que não trocariam qualquer projeto de vida por um vitalício harém de lindas mulheres, ou uma única esposa maravilhosamente bela.
O reverso é evidentemente implausível. Todos os esforços femininos tradicionais na conquista de um bom parceiro tem como base inconsciente um instinto central pela conquista dos melhores recursos materiais possíveis, sem os quais a sustentação da prole corre riscos, e mesmo numa perspectiva de não reprodução, o instinto fundamental ainda promoverá uma postura absolutamente equivalente. Um harém de homens jamais demoveria a maioria das mulheres de seus objetivos fundamentais na vida.
O ponto nevrálgico é que sendo impossível os avanços femininos sem a cooperação, ou ao menos a não confrontação, dos homens, nada mais importante do que convencê-los das vantagens de uma sociedade sexualmente igualitária. Por mais altruístas e bem intencionados que eles possam ser, não se descarte que seu apoio às causas feministas, conscientemente ou não esteja associado a uma perspectiva de melhora das oportunidades sexuais.
Isso parece ter acontecido. Sociedades beneficiadas por conquistas de gênero são vistas como mais liberais e sexualmente satisfeitas. Principalmente para os homens! O que ajuda na manutenção e mesmo amplificação do estado de coisas. Também parece clara a redução da pobreza, mortalidade infantil e o desenvolvimento econômico.
Por outro lado temos o aparente aumento da criminalidade, que desafia expectativas, bem como do consumo de drogas e da depressão crônica, principalmente entre as mulheres, que fazem o contrapeso. Ademais, há os indícios que de nem todos os homens foram beneficiados pela liberação sexual, motivo pelo qual, mesmo décadas após a emancipação feminina e quando as mulheres podem exercer sua sexualidade livremente, a figura do Nerd virgem não parece ter se alterado nem mesmo um milímetro. Ou seja. Existe um vasto segmento da população masculina que parece fora do alcance desses benefícios sexuais, que podem muito bem tender à monopolização por parte dos homens sedutores, não atingindo à grande parte dos outros. 6
Nesse delicado equilíbrio, se os homens achassem que a utopia feminista não será um mundo melhor, inclusive com maiores oportunidades sexuais, eles removeriam qualquer colaboração. E pior. Se os homens fossem subitamente convencidos de que o futuro é uma Distopia Ginocrática conforme pregado pelos anti-feministas, o movimento feminista seria desmantelado e poderíamos voltar ao velho modelo androcrático de séculos atrás. O temido Backlash, que embora possa vir de dentro da civilização ocidental, é mais provável que venha de fora, quando essa civilização ocidental estiver enfraquecida.
Essa distopia seria uma civilização onde as mulheres perderiam seu papel materno e ou sua sexualidade, ou aderissem em massa ao lesbianismo, os homens fossem relegados a segundo plano, ou onde somente a minoria Alfa seria largamente agraciada com sexo de qualidade e em grande quantidade, enquanto a maioria Beta faria todo o trabalho e receberia migalhas como forma de controle, etc. Ou seja, uma típica perspectiva ao pior estilo pessimista.
Embora o quadro seja altamente improvável, sua simples sinalização pode ser um trunfo do anti-feminismo, com potencial para minar a base de apoio masculino. E para que essa ameaça seja verossímil a Hipergamia é um conceito central, pois como expliquei ao longo dos 4 textos anteriores, um desses quadros tenebrosos seria viável caso as mulheres não abrissem mão de seus instintos hipergâmicos e o transferissem exclusivamente para os homens sedutores. No mínimo, teríamos uma civilização onde homem algum jamais iria querer contrair um casamento. Como os adeptos do Marriage Strike 7 já estão sinalizando, em inesperada afinidade com as feministas mais radicais, e que curiosamente termina por prejudicar mais as mulheres.
Nesse ponto, É ABSOLUTAMENTE IRRELEVANTE se essa previsão é razoável ou não, de fato não é, se é sensata ou sensacionalista. O fato é que muitos homens irão acreditar nela, especialmente os conservadores ou reacionários, ou fingirão acreditar. Basta inspirar algumas frases feministas radicais descontextualizadas, como as do início do texto, e apontar tais ou quais dificuldades da adaptação da sociedade a um novo modelo em construção, tomando-o como uma prova de insustentabilidade. O que tem o infeliz efeito de convencer muitos incautos.
Não vejo muita chance de uma contestação à altura que ao menos não aborde a questão da
Sublimação da Hipergamia. Aliás, não vejo sequer muita chance para um futuro igualitário ou ginocêntrico em nossa civilização que não lide com essa questão, pelo problema do declínio populacional, da retaliação consciente ou não dos homens não beneficiados pelo estado de coisas atual, e principalmente pelo fato de que duas civilizações potenciais ameaçam nos destronar, o Islã e a China, que não tem muita consideração pela emancipação feminina. E seu maior opositor ocidental, o fundamentalismo cristão, também não tem!
Todo o nosso avanço social, em especial a equidade de gêneros, será em vão se nossa civilização entrar em compasso de espera ou retração vegetativa enquanto outras civilizações crescem explosivamente, pois estas fatalmente irão nos sobrepujar, e ainda por cima herdar os avanços tecnológicos e científicos que desenvolvemos, colocando-os a serviço de outras concepções sociais.
Mas antes de retomar esse assunto, seria interessante explorar mais as evidências e consequências da falta de interesse feminino por poligamia ostensiva, ainda que muitas mulheres tenham imitado comportamentos masculinos, e de como o sonho dourado de todo homem não parece ser compartilhado pelas mulheres.
HARÉM DE HOMENS
Esther Vilar, uma das maiories anti-feministas de todos os tempos, afirma que
"Uma mulher se aborreceria até chorar num harém de homens." (The Manipulated Man, 1978), e a praticamente total ausência de referências sobre os implausíveis haréns masculinos parece ser suficiente para evidenciar o desinteresse feminino no assunto. 8
Há porém um suposto e improvável caso relatado pelo Marques de Sade, a respeito da rainha africana Nzinga, que caso seja verídico, mais uma vez confirma a Hipergamia. Pois os homens teriam que lutar entre si, até a morte, para decidir quem teria uma noite com a rainha, para logo em seguida serem executados.
Mais relevante do que o registro histórico é a ausência do tema em obras ficcionais mesmo numa época onde mulheres tem dominado o mercado de literatura fantástica.
Na série Crespúsculo, True Blood, Vampire Diaries, Succubus Blues e tantas outras escritas por mulheres, é que temos é o recorrente tema de uma mulher sendo cortejada e disputada por homens super poderosos dos quais apenas um é enfim acolhido como parceiro, sendo os demais apenas "amigos" úteis.
A única obra de destaque que poderia ser uma exceção é
Ooku: the Inner Chamber, da autora japonesa Fumi Yoshinaga, que envolve um Harém Masculino. Mas novamente, é mais um local onde um dos homens é rigidamente selecionado para servir 'à Shogun', e depois ser morto, numa ambientação fantástica onde 3/4 da população masculina teria perecido. (A trama me parece inverossímil, pois a morte de 75% dos homens num Japão feudal em nada mudaria o sistema social. Os homens simplesmente aplicariam a poligamia e mulher alguma teria qualquer dificuldade em engravidar, como a obra sugere.)
Curiosamente, a idéia de que os homens sejam mortos logo após se acasalarem com mulheres de uma sociedade ginocrática é quase uma regra em lendas e obras ficcionais do tipo. Como pode ser visto na obras listadas no texto GYNOTOPIA.
Não posso deixar de compartilhar o melhor exemplo de como um "harém" de homens funcionaria para mulheres sonhadoras. Procurando exaustivamente na internet por referências sobre fantasias femininas por haréns masculinos, na tentativa de falsear minha afirmação, deparei-me com a inusitada frase inicial Minha fantasia feminina seria ter um harém masculino de maridos.... Mas hilária foi minha reação ao ler que o restante foi uma ótima confirmação da tese, pois o tal harém foi descrito da seguinte maneira:
Número 1 é um grande cozinheiro (então eu nunca precisaria cozinhar),
N.2 é um homem habilidoso que pode consertar qualquer coisa,
N.3 é atraente e que se veste muito bem, ficando fabuloso ao meu lado quando saímos,
N.4 ama crianças e é tipo paizão de mão cheia,
N.5 é um médico, para que nossa família nunca tenha que se preocupar com despesas médicas,(...)
Como vemos, até aqui, o que temos não é exatamente um harém, mas um bando de servos de funções não sexuais, e para dirimir qualquer dúvida, a lista fecha com chave de ouro ao finalizar. N.6 é uma "love machine".
Em suma, a idéia mais próxima de um harém de homens servindo uma mulher não é a de um paraíso sexual particular, mas sim de um grupo de servos multifuncionais dos quais somente uns poucos, ou mesmo um único, teriam função sexual. A sugestão final é que as mulheres teriam muito mais facilidade em compartilhar um único homem do que ao contrário. Numa situação de maioria feminina, principalmente a nível reprodutivo, não seria difícil para homens especialmente hábeis agraciar a maioria ou todas as mulheres, o inverso não soa viável.
É bem possível que um grupo de moças prefiram compartilhar um ídolo do que cada qual ter um parceiro comum. Se um famoso astro que enlouquece as tietes promovesse um concurso para que suas fãs se tornassem suas esposas, e se isso fosse permitido, de certo formaria um imenso harém de mulheres, jovens, que estariam dispostas a dividi-lo, ainda que internamente disputassem sua preferência. O inverso não se observa, não se vê filas de homens ensandecidos por uma única mulher célebre, muitíssimo menos dispostos a ser um mero integrante de um grupo que a dividiria.
Essa concentração feminina num ídolo em especial, bem como dispersão masculina em várias mulheres especiais ou não, pode ser vista até mesmo nos modos como ambos lidam com a admiração remota. Moças com frequência elegem um ídolo famoso e estampam seus pôsteres em toda parte, consumindo e acumulando uma quantidade enorme de material sobre ele. Os rapazes, em geral espalham fotos de várias mulheres nas paredes de seus quartos, muitas totalmente desconhecidas.
Os homens são promíscuos mesmo digitalmente. Não se vê um deles eleger uma atriz pornô famosa ou uma modelo em especial, e consumir somente material sobre ela. Um sessão masculina típica de pornografia na internet inclui ver quase simultaneamente centenas de mulheres diferentes, sempre achando novas, se empolgando por modelos totalmente desconhecidas, sem precisar do aval de ninguém para decidir sobre tal ou qual acham atraente.
Por outro lado, a opinião coletiva das outras mulheres parece ser absolutamente fundamental para que um homem em especial concentre atenção de uma mulher. Um artista famoso irá capturar toda atenção mesmo que esteja ao lado de um homem muito mais bonito mas desconhecido. Mas uma mulher famosa, mesmo reconhecidamente bela, terá que disputar atenção com uma desconhecida que seja ainda mais bonita, e dependendo da diferença, pode perdê-la completamente.
Todos esses fatos, óbvios a qualquer observador comum, estão plenamente de acordo com os princípios biológicos, posteriormente cooptados pela cultura, anterioremente citados. A Atração Masculina é Dividida no Impulso Polígamo, a Feminina é concentrada no impulso Hipérgamo!
Para finalizar com notáveis símbolos da cultura pop, pensemos no personagem Conan, o Bárbaro, com suas hordas de amantes à cada aventura, e na personagem Red Sonja, A Guerreira, que só se entregaria a um homem que a vencesse em combate. 9
UTOPIA MASCULINA
Com o exposto, podemos explorar a sugestão de Sally Miller Gearhart de reduzir a população masculina, apoiada por umas poucas feministas como Mary Daly e lema do blog Ending Male Violence, e tenho certeza, seria também apoiada em larga escala por muitos homens. Provavelmente a maioria. Basta que não se confunda essa idéia com um androcídio ostensivo, o que jamais foi sugerido, mas sim por meio de seleção artificial de espermatozóides X, métodos que aumentam a possibilidade de conceber meninas, ou na pior das hipóteses, aborto seletivo.
Portanto, seria a idéia, bastante óbvia por sinal, de que poderíamos reduzir drasticamente os males do mundo, ou ao menos a violência e excessiva ganância e competitividade, por meio da redução da população masculina. 10
A princípio, nada mais inspira os homens do que viver num mundo com um generoso excedente de mulheres. Isso representaria uma imensa gama de oportunidades sexuais, poliginia generalizada, talvez socialmente implementada. Todo homem teria a possibilidade de constituir um harém a sua disposição, e com isso, parece que os impulsos hipergâmicos femininos seriam neutralizados pela simples escassez de homens.
Esses poucos já seriam os melhores, ou por serem os únicos, ou mesmo porque o simples fato de terem muitas parceiras já transmitiria o recado instintivo que a potencialidade masculina para promiscuidade costuma transmitir. Isso é, ser um bom disseminador de genes, não sendo a toa que se diz que a melhor forma de atestar previamente o valor de um homem para uma mulher, a fim de lhe atrair atenção, é a simples aprovação do mesmo por outras mulheres.
Para ser justo, é claro que esses poucos homens teriam que valer por vários, trocando quantidade por qualidade. Mas penso que poderia acontecer exatamente isso por meio de um investimento controlado sobre eles, despertando suas melhores qualidades.
É muitíssimo provável que essa desproporção reduzisse os níveis de violência para índices insignificantes. Se os psicanalistas estão certos em dizer que a violência nasce da repressão sexual, e se a biologia serve para nos mostrar uma relação direta entre índices de violência e concentração de machos nas populações da maioria das espécies animais, fica difícil negar que num mundo onde a competitividade é dispensável, não haveria motivo para os típicos comportamentos de disputa invariavelmente pautados pela superação física.
As ocorrências de assassinatos, estupros ou agressões tenderiam a despencar para níveis próximos ao da violência entre mulheres, no mínimo 10 vezes menores do que entre homens, ou entre homens e mulheres.
Mas seria assim mesmo? Ou estaríamos perdendo algum ponto importante aqui?
Talvez possa ser bastante enganoso. Além de desagradável para a maioria das mulheres, mesmo diante do fato óbvio de que o inverso, ou seja, mais homens que mulheres, gera situações socialmente insustentáveis. Tal aparente "utopia masculina" não só poderia ser apenas um estágio intermediário para a erradicação dos homens, como poderia também ser incapaz de reverter as mazelas tradicionais, devido a inconteste flexibilidade humana.
O problema pode residir na quantidade da desproporção. Penso que numa situação onde a população feminina fosse apenas o dobro ou triplo em relação à masculina, é possível que não houvesse alteração significativa. Da posse de uma para a posse de duas ou 3 pode ser uma diferença muito pequena para levar a uma acomodação nos já viciados comportamentos masculinos violentos. O impulso polígamo apenas afloraria com mais intensidade, dado a sua maior facilidade de realização, e por conseguinte intensificaria ainda mais o impulso hipergâmico. Ou seja, não seria impossível que a divisão masculina entre Alfas e Betas se mantivesse ou mesmo se acentuasse. Ainda mais se lembrarmos que muitos homens têm de fato mais de uma mulher, quer sejam poligamicamente oficializadas, ou na base de amantes, enquanto muito outros têm nenhuma.
Para neutralizar isso seria necessária uma redução muito drástica da população masculina. Para seguir a sugestão de Sally Miller Gearhart, cerca de 10 mulheres para cada homem. Nesse caso, ao que tudo indica, ficaria mesmo difícil manter o mesmo estado de coisas tradicional apenas intensificado. Imagine um sistema social onde constituíssem núcleos "familiares" onde o simples fato de cada homem ter que se relacionar com 10 mulheres, por si só, poderia neutralizar todas as investidas nocivas adicionais, visto condensar a libido numa constante atividade sexual.
Mas, por outro lado, isso poderia promover um notável aumento do lesbianismo, visto tudo indicar que as mulheres são mais propensas a homossexualidade que os homens 11, apenas tendo mais escolha entre adotá-la ou não. Com isso, é possível que a redução da população feminina hétero terminasse por levar a situação de volta ao estado anterior.
Lembrando que tal especulação estaria considerando um grau elevado de ciência e tecnologia, um mundo assim poderia deixar ainda mais claro, e mais desejável, a eliminação definitiva dos homens em prol de métodos alternativos de reprodução. Se já é possível pensar no fim do gênero masculino na situação atual, seria muitíssimo mais nessa situação de escassez masculina.
Talvez um meio termo, uma proporção ideal, fosse a solução, já prevendo uma adesão feminina em massa ao lesbianismo, ou ao menos ao bissexualismo. Ou talvez tal meio termo seja impossível de ser definido, sempre oscilando entre a manutenção da situação atual, ou uma queda irreversível rumo a extinção da parte masculina da humanidade.
SOLIGINIA
Nesse ponto, voltemos à possibilidade de um Mundo Sem Homens.
Seria mesmo viável, ou também estaríamos perdendo algum ponto importante?
Muitas obras de FC exploraram o assunto, mas a maioria tende a dar ênfase aos problemas reprodutivos. Pensemos então que isso não fosse o caso. Um mundo exclusivamente feminino onde a reprodução fosse obtida quer por meios artificiais, ou por alterações fisiológicas que permitissem às mulheres a partenogênese, ou mesmo a auto clonagem espontânea.
Em minhas obras de FC, costumo levantar a hipótese de que a partir de uma certa idade fosse possível a uma mulher se auto fecundar, gerando um óvulo convencional e um outro mini óvulo para complementar o material genético, como um tipo de espermatozóide interno. Claro que um processo como esse exigiria um Transcriptase de RNA extremamente eficiente, mas consideremos que isso seja superado. Assim, as mulheres gerariam clones de si próprias
Por outro lado, poderiam também misturar seus materiais genéticos umas as outras, gerando fecundação cruzada.
Mas o importante é pensar em que tipo de falta o sexo masculino poderia fazer. Se observamos certos padrões de comportamento, como a estética lésbica Butch-Femme, vejamos que uma parte costuma assumir um papel tão intensamente masculino que passa a se travestir e agir como homem, inclusive replicando vícios tipicamente masculinos.
Mesmo que isso fosse atenuado numa civilização feminina, pela simples e progressiva falta de referência masculina clara, é possível que ainda assim permanecesse uma tendência de parte das mulheres assumirem papéis masculinos, passando a replicar os comportamentos dos homens, talvez com resultados completamente equivalentes, podendo ocorrer que os maus hábitos masculinos que justificaram a eliminação do gênero jamais desaparecessem, podendo até se agravar. Afinal, a necessidade de afirmação de masculinidade poderia ser ainda maior.
Pensando na hipótese absolutamente contrária, consideramos que o mundo assuma uma estética total e completamente feminina, conforme entendemos feminino atualmente. Isso de certo eliminaria todas as mazelas da masculinidade, mas e quanto às virtudes masculinas? Quais seriam as consequências da ausência de valores, padrões e comportamentos tidos como masculinos?
Haveria a pesquisa científica, produção filosófica, mística, artística etc, se manter no mesmo ritmo? Ou faltaria algo à civilização?
Não é o feminino essencialmente Materialista? No sentido original de Máter, Matéria, Matriz. Ou seja, muito mais voltado a manutenção das condições vitais do que dado a especulações abstratas que, apesar de tudo, são o motor primordial da Ciência.
Se for assim, poderia ocorrer um decaimento da produção científica e inevitável enfraquecimento da civilização rumo aos desafios e ardis que o mundo físico não cansa de nos oferecer, como novas doenças e desastres naturais.
EQUALOCRACIA RADICAL
Tudo isso, nos sugere que há dificuldades possivelmente intransponíveis em todas as possibilidades apresentadas. A manutenção das "coisas como estão" é inviável. Se a sociedade não progredir junto com a tecnologia, cedo ou tarde alguém irá usar os mais avançados recursos para fazer de forma mais drástica aquilo que a humanidade, especialmente os homens, não cansam de fazer. Se auto destruir.
Progredindo, resta saber em que direção. Se as mulheres assumirem o poder, sublimarão seus impulsos? Perceberão que os homens podem ser bem menos necessários do que parecem? Teremos uma mera Ginocracia ou rumaremos a uma Soliginia? Afastados do poder, o apelo dos homens decái drasticamente. Não poderia o lesbianismo aflorar de forma jamais vista?
A melhor solução parece ser mesmo a Equivalência entre os gêneros, no entanto, há um obstáculo aparentemente intransponível para que ela se dê de forma plena. Por mais que possamos equivaler homens e mulheres socialmente, provavelmente eles sempre serão fisiologicamente distintos, e isso gera uma inevitável desigualdade que embora possa ser complementada, frequentemente resulta em problemas insistentes.
Principalmente, o problema da violência contra as mulheres.
A meu ver, certas feministas 12 acertaram em cheio ao reduzir toda desigualdade humana a uma desigualdade estrutural fundamental, a que ocorre entre os sexos. Havendo uma relação de submissão no relacionamento primordial, o único absolutamente indispensável para a existência da espécie, seria inevitável que tal submissão assumisse as mais diversas formas entre as famílias, tribos, nações e civilizações.
Não parece haver esperança de superar as terríveis desigualdades estruturais do mundo sem superar as desigualdades entre homens e mulheres, o que a história recente parece ter confirmado sonoramente, pois as sociedades mais igualitárias em todos os níveis são justamente aquelas que equivaleram ao máximo as relações entre os gêneros.
Mas certas relações de poder ainda persistem, ou correm o risco de sempre retornarem caso a civilização seja ameaçada. O poder masculino sempre é mais proeminente em situações de perigo, pelo puro e óbvio motivo de que cabe aos mais fortes assumirem os riscos nas situações de ameaças físicas.
Toda Forma de Poder e Autoridade, NECESSARIAMENTE, se baseia na Força, e em última instância, na manipulação da Força Física. O Estado, o Governo, a Justiça, jamais poderiam exercer poder sem estar, desde o fundamento e princípio, baseados na força de homens armados.
Assim, o Fundamento Primordial da Histórica Autoridade Masculina sobre as Mulheres, é o Puro e Simples Fato dos Homens Serem Fisicamente Mais Fortes!
Se essa força não for necessária, a desigualdade diminui, mas jamais se acaba, podendo retornar a qualquer momento em qualquer instabilidade social, e aflorando também em situações pessoais resultantes da falta de auto controle, bem como se embrenhando de formas inusitadas no tecido cultural. 13
Já que estamos então falando em situações hipotéticas futuras, baseadas em tecnologias avançadas de manipulação genética, Ao invés de pensarmos em reprodução artificial, partenogênese, clonagem e outras ousadias, poderíamos então pensar num outro tipo de solução, que eu saiba, jamais sugerida por autor algum, sequer na Ficção Científica, ao menos de forma séria. 14
Seria simplesmente eliminar ou ao menos diminuir a diferença de força física entre homens e mulheres.
Há, evidentemente, problemas potenciais. Não seria desejável tornar os homens mais fracos, portanto, seria o caso de fortalecer as mulheres, no entanto, isso tenderia a prejudicar sua feminilidade biológica, uma vez que a administração de estruturas físicas que aumentassem sua força tenderiam a masculinizá-las.
Por sorte, a solução não poderia ser mais simples. Até mesmo óbvia.
Bastaria tornar as mulheres maiores que os homens!
Creio que uma média de 10cm de vantagem, associadas a um aumento moderado de força, dentro dos padrões hormonais naturais, já seriam mais do que suficientes.
Mesmo que no geral os homens continuassem muscularmente mais fortes, haveria drástica redução dessa superioridade, facilmente compensado pelo tamanho feminino mais avantajado.
Mais uma vez, embora eu não tenha dados para corroborar isso, seria também capaz de apostar que a maior parte dos crimes de violência do homem contra a mulher estão diretamente associados a diferença de força física entre eles. A maioria esmagadora das agressões físicas é viabilizada sobretudo pela covardia.
É pateticamente fácil para um homem de 1,80m pesando 90kgs dominar por completo um franzina mulher de 1,60cm, mas mesmo homens ainda mais fortes e maiores tem dificuldades de subjugar uma mulher de tamanho e peso equivalente ao deles.
Isso eliminaria de vez a ameaça constante da violência física baseada na pura e simples superioridade corporal masculina, prevenindo até mesmo situações de colapso social onde ameaças físicas voltassem com força total. Mesmo o desmantelamento da sociedade não permitira o retorno a um estado de coisas brutal e desigual que frequentemente caracterizou as sociedades primevas. 15
E, é claro, isso mais uma vez exigiria a erradicação de outro tipo de Hipergamia que não ocupou os textos anteriores em momento algum por pura falta de necessidade. A que simplesmente se volta à superioridade física masculina, em especial a altura.
Historicamente, a preferência feminina por homens mais altos jamais foi um problema porque a maioria dos homens já é mesmo maior que a maioria das mulheres, e isso só gera transtornos em poucas situações. Curiosamente, e mais uma vez, trabalha em vantagem dos homens, que jamais têm dificuldade em encontrar parceiras mais baixas, por menores que sejam. Por outro lado, mulheres muito altas frequentemente tem dificuldades de encontrar parceiros maiores, visto que esses tem sua atenção disputada tanto pelas altas quanto pelas baixas, não sendo raros os casos de homens enormes que preferem mulheres bem menores.
Mas é exatamente nessa desigualdade física fundamental que se assenta praticamente toda a desigualdade entre os gêneros, e por conseguinte, todas as demais formas de desigualdade. Portanto, uma hipotética civilização futura que lançasse mão desse recurso de manipulação genética teria que superar essa modalidade de Hipergamia, o que por outro lado teria a vantagem de não ter que necessariamente superar as outras, exceto a de Alfa tipo 1, é claro.
O FUTURO TRANSHUMANO
Nada é mais permanente no universo do que a constante mudança. É impossível permanecer indefinidamente como estamos. A civilização vai mudar, a questão é saber em que sentido.
Podemos voltar a modelos arcaicos, por meio de reações conservadoras, que costumam ter o apelo de nos iludir com bases supostamente sólidas. Mas todos os modelos passados foram pautados por tensões que invariavelmente explodem em movimentos revolucionários ou guerras. Jamais a civilização conseguiu passar sequer uma geração sem a ameaça frequente de destruição maciça, porém, os recursos bélicos eram limitados. Mas insistirmos em modelos antiquados com a tecnologia que temos hoje, com devastadoras armas nucleares e biológicas, é praticamente um suicídio, que só cabe mesmo nas irresponsáveis mentes delirantes dos que esperam ansiosos por uma devastação global na esperança de que um messias desça dos céus para nos salvar.
As mulheres assumirem a vanguarda da civilização e respeitarem sua natureza feminina, com o apoio masculino, soa como uma ótima solução para prevenir o pior, mas resta saber a que desmembramentos isso nos leva. Equalocracia, ou Ginocracia?
Ou melhor dizendo, antropocentrismo, ou ginocentrismo?
Examinamos brevemente algumas possíveis implicações da uma provável superlação ginocêntrica futura, antevendo alguns problemas potenciais, e parece que a equalocracia, ao menos no nível social, seja mais promissora. Pode mesmo ocorrer das mulheres dominarem por completo os postos de poder da civilização. Isso não será um problema se o papel masculino estiver salvaguardado.
Em todos os casos, porém, há a necessidade premente de sublimação da hipergamia feminina, ou qualquer possibilidade equalocrática, quanto mais ginocrática, será instável, bem como já é instável a simples emancipação feminina.
Têm sido comuns recentes acusações contra o feminismo, inclusive de que o mesmo teria enganado as próprias mulheres, por não ter realizado o que prometera, visto que pesquisas parecem indicar que o nível de satisfação das mulheres em geral parece decair na relação direta com sua ascensão social.
Não é verdade. O feminismo cumpriu papel crucial no progresso social e seu resultado é mais que benéfico, mas é certo porém que cometeu erros, e o maior de todos seguramente foi cair no determinismo cultural de achar que as diferenças entre homens e mulheres são meras construções sociais. Até hoje, a simples temática da hipergamia é solenemente ignorada, muitas femininas insistem no conceito de "gênero" como convenção cultural, e muitas mulheres ainda se iludem de que direitos iguais significa fazerem as coisas da mesma forma, inclusive copiar os maus hábitos masculinos como se isso fosse sinal de emancipação.
Mas a natureza é implacável e não dá ouvidos a nossas ideologias. Enquanto a cultura pode ser transformada e responder positivamente a iniciativas de progresso, a constituição nua e crua de nossas bases biológicas permanece insensível, e se é verdade que as espécies evoluem conforme o ambiente, são necessários dezenas de milênios para imprimir mudanças minimamente perceptíveis.
Por sorte, além da transformação cultural, podemos lançar mão de bio engenharia, e literalmente nos transformar.
Digo isso por achar que A Humanidade é um Projeto. Uma mera promessa do que poderá vir a ser. E só poderá sê-lo se voluntária, esclarecida e deliberadamente decidir lançar mão de todos os recursos disponíveis para tornar o mundo não somente um lugar melhor, mas um lugar minimamente seguro, o que é completamente incompatível com o casamento entre tecnologia avançada e herança cultural atrasada.
Falo, nitidamente, em Pós Humanidade. Transhumanismo, META HUMANIDADE. Isto é, uma espécie reformulada por sua própria cultura num nível jamais visto antes, por meio de intervenções genéticas, e nesse sentido, é curiosíssimo notar que os homens são muito mais resistentes a essa idéia do que as mulheres.
O motivo é simples. As Mulheres Já São Meta Humanas! Enquanto a maioria dos homens de hoje pode ser fisiologicamente indistinguível de um homem de 100 mil anos atrás, as mulheres de hoje lançam mão de todos os recursos disponíveis para se transformar. Maquiagens, adereços, cirurgias plásticas e sobretudo métodos anticoncepcionais.
Uma mulher verdadeiramente natural seria aquela que engravidaria em série, tendo dezenas de descendentes, dos quais muitos morreriam. Mas as mulheres de hoje são artificiais, no bom sentido, fazendo uso dos mais avançados métodos anti concepcionais, inclusive dispositivos inseridos em seu próprio corpo. Isso é Trans Humanismo! Não há, então, motivo para temer passos ainda mais ousados.
É farto na literatura feminista, em especial as ficcionistas, a idéia de transformar a humanidade das mais diversas formas, inclusive viabilizando a gravidez masculina, idéia que soa repugnante a qualquer homem. Talvez por isso mesmo, conscientemente ou não, os homens costumam ser tão avessos ao Pós Humanismo.
Mas não penso que a transhumanidade seja uma mera possibilidade, muito menos um capricho. Penso que a auto determinação humana a nível genético é inevitável. Não teremos outra opção. Não podemos levar adiante nossa natureza imprudente, inconsequente e tão potencialmente auto destrutiva.
Explorei largamente algumas dessas possibilidades no livro de Ficção Científica GRADIVIND, mas não é preciso ir tão longe. Falo, principalmente, de mudanças mais modestas. Principalmente no sentido de prevenir doenças, nos tornar mais longevos, mais inteligentes, mais empáticos e tolerantes.
Realmente não sei qual seria a fórmula ideal para a humanidade futura, mas estou certo de que tem algo a ver com alguma das idéias pinceladas aqui. Talvez a reprodução artificial se torne uma realidade e obsoletize a natural, e então, a sexualidade poderia se extinguir, ou o contrário, se exponenciar, uma vez que o prazer deixaria de ser onerado pela reprodução e os problemas de saúde.
Talvez vivamos em perfeita Equalocracia, ou numa Ginocracia benevolente. Ou talvez algo imprevisível.
Mas uma coisa é certa. Deixar arsenais de destruição em massa, cada vez mais acessíveis, nas mãos de androcracias repletas de testosterona é receita certa para a catástrofe.
Principalmente daquelas crentes em deuses masculinos que brandem espadas, prontas para cumprir suas profecias armagedônicas baseadas em livros patriarcais para os quais as mulheres, reduzidas a condição análoga à de escravas, ao menos podem se orgulhar de jamais terem contribuído com uma única linha.
Marcus Valerio XR
Iniciado em Outubro de 2011
Finalizado em 3 de Maio de 2012
1.
"We can't destroy the inequities between men and women until we destroy marriage.". Em
Sisterhoor is Powerfull (1970), Robin Morgan pretende desconstruir o casamento heterossexual. São comuns afirmações similares (Feminism Quotes), algumas bem mais severas, pelo Feminismo de Segunda Onda. Curiosamente, a anti-feminista Esther Vilar pregava o absoluto oposto, vendo o casamento como uma escravidão do homem, condenado a trabalhar em benefício da mulher. Já Ti-Grace Atkinson, teria dito
"O preço de se engajar com o inimigo [o homem] é sua vida. Entrar num relacionamento com um homem que se desvencilhou completa e publicamente do papel masculino o máximo possível ainda será um risco. Mas se relacionar com o homem que tenha feito menos que isso é suicídio... Eu, pessoalmente, adotei a postura de nunca aparecer com um homem em público, pois poderia ser interpretado que somos amigos." (Ti-Grace Atkinson, Amazon Odyssey, Links Books, 1974, pp. 90, 91) (Tradução minha.) Também se atribui a ela outras frases marcantes, como "Feminismo é a teoria, Lesbianismo é a prática." ou "A instituição das relações sexuais é anti-feminista."
2.
Sally Miller Gearhart, uma das mais radicais feministas, lésbica, norte americana, em
Entrevista.
Sally Miller Gearhart, em
O Futuro, se houver um, É Feminino.
3.
Valerie Solanas.
"Life in this society being, at best, an utter bore and no aspect of society being at all relevant to women, there remains to civic-minded, responsible, thrill-seeking females only to overthrow the government, eliminate the money system, institute complete automation, and destroy the male sex" SCUM MANIFESTO. Eu simplesmente não consigo traduzir a primeira metade desta frase! Mas ela diz basicamente que, sendo a nossa sociedade irrelevante para as mulheres, o certo seria reuní-las unicamente para... (o que está traduzido lá em cima). Valerie Solanas é, com quase toda certeza, a mais radical pensadora feminista, sendo rejeitada pelo Feminismo Igualitário e até mesmo mal vista pelo Feminismo de Gênero, que são os atuais ramos divergentes do Feminismo. Na verdade, ela própria chegou a renegar seu trabalho, em especial ao ser processada pela tentativa de assassinato contra Andy Warhol, declarando-o como uma paródia. Apesar da radicalidade assustadora do
SCUM MANIFESTO, que prega a extinção do gênero masculino, ele contém algumas idéias interessantíssimas que em parte foram consideradas neste texto.
4.
Um exemplo em Utopia Feminista por Marge Piercy.
5.
Gostaria de agradecer a Rodrigo Marques por me chamar atenção para essa idéia na Mensagem 800
6.
Não conheço pesquisas nesse sentido, mas eu apostaria alto que em comunidades pobres, principalmente, onde se verifica uma alta incidência de adolescentes grávidas de pais desconhecidos, se fosse realizado um criterioso rastreamento genético na população, descobrir-se-ia que para cada 100 crianças de 100 mães diferentes não se encontraria sequer 30 pais diferentes!
7.
Essa modalidade de "Greve de Casamento" é um tema que começa a ganhar espaço nos EUA, em conjunto com críticas ao modelo de pensões, por sinal muitíssimo pior que o do Brasil. Alguns exemplos:
Marriage Strike Central,
A Marriage Strike is now in effect!! e
Don’t Marry - The Marriage Strike. Devido ao fato de aqui termos uma legislação e um jurisprudência bem mais razoáveis, não parece provável que a mesma tendência se repita entre os brasileiros.
8.
Emblemático que um dos ícones máximos, talvez o maior, do anti-feminismo e mesmo da misoginia seja uma mulher. A autora argentina / alemã Esther Vilar apresenta uma crítica à mulher tão ácida e incisiva que a muitos, eu incluso, soa agressiva à beira do insuportável. Não é de se estranhar que ela tenha sofrido até ameaças de morte. Não obstante, a obra tem reflexões muito interessantes que devem ser consideradas, principalmente por promover uma mudança tão radical de ponto de vista que é impossível que não se perceba coisas novas, por vezes, e no meu caso, até na direção contrária à pretendida pela autora.
Bem mais profundo e grave, porém menos agressivo, é Rich Zubaty, que se inspirou muito em Vilar, mas desenvolve uma abordagem mais filosófica, quase metafísica, e cujo alguns excertos podem ser vistos no ótimo Bits of Zubaty. Me identifiquei com o enfoque do autor, nem tanto com o conteúdo, por que apresento um tipo de "Feminismo Metafísico", cujos fundamentos podem ser visto em Forças Masculina e Feminina.
9.
Estranha essa característica, considerando que a personagem fora vítima de um estupro antes de conseguir sua super força, concedida por uma deusa, que lhe impôs essa condição. Visto que para ser subjugada, ela teve que ser "derrotada", a "dádiva" da deusa curiosamente não lhe permitia interagir sexualmente com homens exceto se fosse, novamente, subjugada! Evidente que tal estória foi criada por um homem, mas isso não muda a força do símbolo hipergâmico envolvido. Ademais, a lenda de Siegfried e Brunhilde tem basicamente a mesma situação. O homem só teria direito a se envolver sexualmente com ela se fosse "superior", e como a personagem jamais encontra alguém capaz de fazê-lo, no caso de Sonja, que não é derrotada nem mesmo por Conan, permanece "virgem". Ao passo que Brunhilde se entrega a Siegfried após este superá-la, embora depois seja vítima de uma fraude que a faz se entregar a outro homem porque este, aparentemente, também a derrotou.
10.
Nunca deixarei de citar uma dos livros que mais me influenciou nesse tema, que é O Macho Demoníaco, de Richard Wrangham & Dale Peterson, que faz uma abordagem minuciosa da violência humana e sua fonte quase exclusivamente masculina, tanto a nível antropológico quanto biológico, com sólida pesquisa no comportamento animal, em especial dos primatas superiores.
11.
O que explico em Lesbianismo.
12.
Especialmente Riane Eisler com sua Teoria da Transformação Cultural, apresentada nos livros
O Cálice e a Espada, e
O Prazer Sagrado, e Merlin Stone, em When God was a Woman, que me influenciaram bastante, embora hoje eu discorde da maior parte da tese fundamental de que teria havido amplas sociedades matriarcais pré históricas, que posteriormente foram sobrepujadas pelo patriarcado. Na realidade, discordo até mesmo do simples uso dos termos Matriarcal e Patriarcal no Feminismo em geral, preferindo utilizar, por sugestão da própria Riane Eisler, Androcracia e Ginocracia, por achar que os primeiros tendem a fazer mais sentido na esfera privada, e os segundos na pública. De fato, penso que em grande parte nossa sociedade, e até algumas outras mais androcráticas, em parte são matriarcais, mas somente no núcleo familiar. Ou seja, é perfeitamente possível, e penso que seja bem comum, que no lar a autoridade feminina frequentemente supere a masculina, mas isso não afeta a androcracia dominante na sociedade.
13.
Feminilidade, Heterossexualidade e a Síndrome de Estocolmo é um texto de autoria desconhecida, mas claramente de Feminismo Separatista, que sustenta de modo impressionante que as mulheres, em todos os tempos e locais, sofrem de uma Síndrome de Estocolmo Social, estando sempre a mercê da violência masculina e para isso precisando se "aliar" e mesmo amar seus "captores". Apesar de alguns exageros e de afirmações insustentáveis, no geral eu concordo com a tese diagnóstico, na maior parte da civilização, as mulheres realmente vivem sob uma espécie de opressão onipresente que só não é mais visível graças as mil estratégias defensivas que desenvolveram, inclusive a manipulação, e graças a equidade de gêneros obtida nos último séculos. Porém, discordo da solução proposta pela autora, que só poderia funcionar exatamente por meio de novas tecnologias que dispensassem os homens.
14.
Desconheço obra de FC de grande repercussão que tenha atentado para esse detalhe que deveria ser óbvio, chegando ao ponto de ilustrar civilizações de ginocracia opressiva e radical, mas mantendo as mesmas proporções físicas tradicionais entre os sexos, além das estéticas. Em parte isso vem sendo até retroalimentado por produções recentes que, mesmo fora do tema, tem insistido na completa equivalência de capacidade física masculina e feminina, mesmo com radical diferença, como se fosse minimamente viável uma mulher com corpo de Barbie, mesmo sem super poderes, enfrentar de igual pra igual brutamontes enormes.
15.
Posso ser acusado de estar justificando uma preferência estética pessoal, pois de fato adoro mulheres altas, mas isso não muda a validade da proposta. Eu também gostaria muito de justificar uma proporção maior de mulheres para homens, mas terminei concluindo que não seria viável, e que a proporção média atual é a ideal. Ademais, note que não raro a apreciação contrária, por mulheres bem menores, frequentemente se associa a formas de impulso dominador. Ao menos, ouvi isso ao longo de toda a minha vida, de outros homens, que mesmo admirando mulheres grandes, ainda preferem se relacionar com as pequenas para que sua posição dominante não fique ameaçada.