FILOSOFIA, IDEOLOGIA e MILITÂNCIA
Vamos usufruir de nosso legado latino e fazer uso da distinção SER e ESTAR, que falta aos anglo saxônicos. Portanto, não se trata apenas de alguém SER um Filósofo, um Ideólogo ou Militante, mas de ESTAR sendo, podendo-se transitar por essas 3 "atitudes".
Sem entrar na dificuldade de conceituar FILOSOFIA, vejamos a mesma com uma reflexão sobre
algo pautada por um discurso racional. Um Filósofo tem um Sistema de Pensamento, que pode ou não ser explícito. Com isso há uma visão de mundo própria, que explica parte, ou toda, a realidade de uma forma pessoal.
Já uma IDEOLOGIA resulta de uma FILOSOFIA, porém transcendendo a mera compreensão do real rumo a uma iniciativa de transformá-lo. Pode não ser o sentido original ou etimológico mais apropriado, mas de certo é o que temos utilizado cotidianamente.
Por fim a MILITÂNCIA, ou ATIVISMO, parte do projeto reformador da IDEOLOGIA, e segue para a ação transformadora do mundo.
Assim, FILOSOFIA é a Compreensão, IDEOLOGIA é a Proposta, MILITÂNCIA é a ação.
Dois Filósofos que defendem sistemas diferentes podem dialogar, embora discordando, porque é da natureza da Filosofia a atividade dialética e o confronto de opiniões, podendo até haver mudanças de idéias. Dois Ideólogos de propostas distintas também, embora a possibilidade de alguém rever suas convicções seja bem mais remota, e a oposição tenda a ser um tanto mais rígida quanto maior a rivalidade dos sistemas.
Mas dois militantes que seguem ideologias opostas, enquanto ativistas, NÃO DIALOGAM!
Também uma Filosofia pode dialogar com qualquer Ideologia, e também como uma Militância, mas o esforço de entendimento tende a ser unilateral. Em geral a atitude filosófica visa entender, a atitude ideológica visa adquirir elementos para reforçar seus projetos, e a militância visa apenas se impor.
Mas as posturas podem variar. Filósofos podem assumir atitudes ideológicas ou mesmo ativistas, e como toda pessoa pode assumir qualquer postura, quando militantes demonstram uma maior tolerância a opiniões opostas é porque já elevaram sua atitude ao nível ideológico ou mesmo filosófico.
Nem sempre alguém que está questionando as propostas de uma militância é um agente do ativismo ou ideologia adversária. Às vezes apenas está tentando estudá-la ou chamá-la para um diálogo de nível mais elevado.
Mas geralmente o ativismo tenta rebaixá-la, reduzindo-a apenas a um militante opositor.
Um Ideólogo, quanto mais um Filósofo, em geral entende a Ideologia do Ativista adversário melhor do que ele próprio, mesmo discordando dela. E isso ocorre porque via de regra os militantes são formados pela ideologia diretamente para a ação, quase nunca estudam a ideologia que visam combater, se limitando a aceitar a descrição quase sempre distorcida de seus orientadores.
Existe militância esclarecida. Quer pela capacidade natural de, com boa vontade, elevar a mente, mas também porque há raros formadores ideológicos que exigem de seus militantes uma reflexão maior, e que sejam capazes de ter suas próprias idéias.
Mas muitas visam apenas aumentar seu exército de seguidores, pregando a versão empobrecida da própria ideologia, passando longe das dificuldades e facilitando tudo com palavras de ordem e chavões.
Quando dois grupos adversários de ativistas desse tipo se encontram, é difícil não estourar um conflito.
Com raras exceções, Militância é feita para Agir, não para Pensar.
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