CALENDÁRIOS ALTERNATIVOS

Para compartilhar algumas idéias sobre como poderíamos contar os dias de modo menos confuso, decidi publicar duas concepções de minha autoria, que tenho parcialmente usado em obras de Ficção Científica, mas que penso que seriam mesmo mais úteis e eficientes que o nosso modelo usual.

Embora existam vários calendários distintos em uso no mundo, o mais utilizado associado à contagem de anos iniciado no suposto nascimento de Cristo, tem acumulado deficiências que o tornam mais e mais complicado. Os meses tem quantidades diferentes e desarmônicas de dias, seus nomes não mais correspondem à sua posição ordinal, (Setembro, que antes correspondia ao sétimo mês, agora corresponde ao nono!), pelo mesmo motivo, o dia adicional dos anos bissextos, que ocorria ao final do ano, agora ocorre no segundo mês.

Os ciclos mensais não se harmonizam com as fases lunares e como se tudo isso já não bastasse, insistimos na absolutamente anti intuitiva idéia de que o dia começa à Meia-Noite. Sistema que, não importa que tenhamos nascido e vivido a vida inteira nele. JAMAIS NOS ACOSTUMAMOS! Sempre temos que ser lembrados, contra qualquer espontaneidade, que após a meia noite "já é outro dia"! (Por sinal, até agora não consegui descobrir quando e por que essa arbitrariedade foi introduzida.)

Existem e existiram muitos tipos de calendários, no entanto, duas coisas tem sido praticamente universais em nosso sistema de contagem. O número de dias da semana em 7, e de meses do ano em 12, por motivos evidentemente astronômicos. Porém, como o ano possui 365,25 dias, não há acrobacia matemática que consiga harmonizar essas quantidades. Assim, as duas alternativas que proponho implicam em exatamente desconsiderar ao menos uma delas em prol de uma regularidade maior.

Ou seja, ou baseamos o calendário em base lunar, ou solar, calendários lunissolares permanecem impossíveis de serem harmonizados.

13 Luas

Já escrevi sobre a fixação dos ocidentais pelos números 4 e 7, bem como dos orientais pelos 5 e 8, em Filosofia Elemental. Mas de qualquer modo, em ambos os hemisférios as semanas tem 7 dias. O motivo disso é claramente astronômico, pois o conceito de mês é uma evolução do conceito de "lua", período lunar, que dura aparentemente 28 dias em 4 fases claramente distintas.

Sendo 28 / 4 = 7, fica evidente que a própria natureza demanda esse padrão para o fracionamento dos períodos lunares. Ao mesmo tempo, também é disseminada em ambos os hemisférios a divisão do ano em 12 meses, também por um motivo astronômico, pois a observação das constelações sugere um destaque de 12 delas ao longo do ano, embora essa divisão não seja tão espontânea. Além do mais, havendo em grande parte do mundo uma nítida demarcação de 4 estações distintas, fica intuitivo harmonizar 3 meses para cada uma delas.

Porém, com a descoberta do ano solar em 365 dias mais 1/4, manter a harmonia numérica se tornou impossível. Como a divisão do ano em 12 meses é um tanto mais arbitrária do que a da semana em 7 dias, poderíamos então manter a última eliminando a primeira.

Curiosamente, se recuássemos o conceito de mês de volta para o de ciclo lunar, poderíamos dividir 365 / 28 e obter 13,03, e nesse caso, ao invés de 12 meses, teríamos 13 luas. Como 13 x 28 = 364, teríamos que acrescentar apenas um único dia a mais em um único mês para a maioria dos anos, e dois para os anos bissextos.

Com isso, os "meses" teriam todos 28 dias, com a exceção do último. O mais interessante seria que esse dia adicional não fosse um dia da semana normal, mas um tipo de dia especial. Continuaríamos com os 7 dias convencionais, mas esse dia adicional não seria um Domingo nem Sábado ou Terça-Feira. Seria uma outra coisa.

Assim, seria possível manter com razoável harmonia a correlação entre semanas e luas, tendo então 13 meses, de modo que o dia 1 seria sempre Domingo, Quartas-Feiras seriam sempre dias 4, 11, 18 e 25.

Alguns poderiam lamentar que as fases lunares ficariam muito tempo nos mesmos dias, com anos de luas cheias caindo no meio da semana, por exemplo. Seria um preço a pagar pela regularidade dos dias, e considerando que o ciclo lunar na realidade está mais para 29 dias, e também devido ao dia adicional que não seria um dia de semana comum, isso ainda iria variar lentamente.

De certo não seria nada fácil aceitar um calendário com 13 meses, por motivos superticiosos, mas também por 13 ser um número primo. Seria interessante se os nomes dos meses fossem os das constelações zodiacais, incluindo Ofiúco, para que os signos astrológicos sirvam para alguma outra coisa além de alimentar mais superstições.

Mas nada nos obriga a nos atermos ao ciclo lunar, e poderíamos então desenvolver uma calendário mais ousado, unicamente solar.

CALENDÁRIO DECA MENSAL

Sendo impossível dividir exatamente o número de dias do ano por 12, é inevitável que alguns meses tenham dias a mais ou a menos, no entanto, nem mesmo essa redistribuição consegue manter alguma harmonia. Considerando que 12x30=360, deveríamos alternar os meses colocando um dia a mais em 5 deles, e a cada 4 anos, em um outro. No entanto, temos um sistema onde 7 desses meses foram fixados em 31 dias, e um deles em 28 / 29.

Além disso, é também impossível sincronizar datas específicas com dias da semana, de modo que feriados e ocasiões memoráveis estão sempre mudando, gerando uma dificuldade de planejamento preciso a longo prazo. Nessa exato momento, corre outro projeto de lei no congresso para deslocar o recesso dos feriados para segunda ou sexta, caso caíam na terça ou quinta.

A seguinte idéia exigiria um salto bem maior de mentalidade, pois romperia com a tradição de 7 dias semanais, reduzindo-os para 6, e assim passando a ignorar as fases lunares e desvinculá-las de dias específicos. E o mais importante, dividiria o ano em 10 meses, cada qual com 6 "semanas" de 6 dias.

Os meses então se alternariam entre 36 e 37 dias, havendo nos anos bissextos, um mês de 38 dias.

Para um devido funcionamento, teríamos então 8 dias semanais previstos, mas apenas 6 ocorreriam em todas as semanas, um sétimo só ocorreria 5 vezes por ano, o oitavo a cada 4 anos. Suponhamos que os nomes dos dias sejam letras, e assim ficariam os 3 tipos de meses:

Os meses ímpares teriam 36 dias. A correlação entre a data e o dia da semana seria sempre exata. A data 22, por exemplo, seria sempre dia D.

Os meses pares teriam 36 dias, com uma dia semanal a mais. Portanto, um dia G seria seria 37, e só ocorreria 5 vezes por ano.

Por fim, de 4 em 4 anos o mês décimo teria o dia H, data 38.

Supondo que tal calendário só poderia ser adotado num futuro longínguo por uma civilização mais desenvolvida, minha sugestão é que os dias A,B,C e D fossem "utéis", e E,F,G,H dias de "descanço". Em nosso sistema atual, sendo a semana mais de 71,4% "útil", nesse novo sistema seria 66.66...%. Exceto nas últimas semanas dos meses pares.

Enfim, nada disso passa de uma reflexão livre, sem a menor ilusão de ser concretizada, mas nada custa divulgar idéias. Fato é que temos diversos calendários, apesar da hegemonia da Era Cristã, que em respeito a outras religiões pode ser chamada de Era Comum.

Já foram feitas tentativas de instituir novos calendários, como na Revolução Francesa, mas por enquanto seguimos utilizando esse confuso e ineficaz sistema ao qual já estamos apegados.

É interessante o quanto a espécie humana é capaz de se acostumar com as coisas, por pior que elas sejam. A não ser, é claro, com a idéia incrivelmente incômoda de que o dia começa à meia-noite, e não ao nascer do Sol, como foi ao longo de toda história em todo o mundo.

Mas para isso, teríamos que alterar também a numeração de horas, incrivelmente mais precisa que a de dias, e nos acostumar que ao invés de 6:00, o nascer do Sol é a hora 1, ou 0.

E ainda há mais problemas em nossos sistemas de marcação de datas. Alguém pode ver algum sentido no hábito dos norte americanos em colocar o número do mês à frente do dia e do ano? Nesse ponto estamos em vantagem, mas os japoneses mais ainda, pois colocam o ano à frente, seguido do mês e por fim do dia. Quando você coloca datas numa tabela eletrônica ou mesmo em nomes de arquivos, fica evidente a vantagem dessa disposição.

Mas isso é mais um desabafo. O fato é que a humanidade ainda enfrentará séculos de desacordo e de sistemas confusos para contar os seus dias. Os vários calendários atuais, com suas datas diferentes, que o digam.