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O General Harrison esfregava os dedos impaciente, deixava transparecer claramente a tensão
inevitável do momento. - Alguma notícia da Dra. Frieda? - Repetiu pela enésima vez.
- Ainda não! - Respondeu num tom de irritação o Major assistente.
- Daqui a 45 minutos estaremos em posição de tiro. -
Lembrou o Coronel.
- Melhor que decidam logo. - Insistiu o Tenente-Coronel.
Responsável máximo, empossado pela ONU, sobre as defesas planetárias naquela emergência, o
general britânico podia ter nas mãos o destino da Terra.
Enquanto isso a Dra. Frieda, o Dr. Ling e o Dr. Narayan se esforçavam ao máximo para decifrar
as últimas peças do quebra cabeças. - Tente agora! - Se animou Ling. Teclaram Enter e
esperaram alguns segundos enquanto o super computador tentava encontrar uma combinação que
permitisse vislumbrar algum sentido final nos hexabytes de dados extraterrestres captados há
mais de 20 anos pelo projeto SETI II.
- Nada... - Suspirou a Dra. Frieda prestes a desistir. - Não acredito que tanto tempo de pesquisa vai resultar em nada!
- Será que eles vão mesmo destruir o objeto? - Perguntou Narayan.
- E por que não? - Respondeu Ling. - Não estou querendo justificar os militares mas devemos admitir que as circunstâncias e a forma de aproximação do objeto são um tanto assustadoras.
- Alguma coisa pela WEB? - Perguntou Frieda, que como responsável pela decifração, via o tempo escapar pelos seus dedos.
- Nada! - Respondeu uma das assistentes.
- Agora só um milagre! - Suspirou Frieda. - Se pelo menos Hermes estivesse conosco. -
Mas ele estava. Ainda que afastado a milhares de kms, em sua própria casa, Hermes trabalhava incansavelmente tentando desvendar em total o código que impediria que o maior evento de todos os tempos fosse reduzido a cinzas. Se em pouco mais de 40 minutos o enigma não fosse decifrado, ou se não fosse o que ele esperava, os militares iriam enviar seus mísseis para destruir o misterioso artefato que se aproximava do planeta a mais de 40 milhões de km/h.
Hermes fora um dos membros mais ativos do SETI II, um dos primeiros a fazer avanços significativos na decifração primária do único sinal captado que se revelara genuinamente de uma fonte inteligente. Porém suas idéias pouco ortodoxas e sua insubordinação lhe custaram oficialmente o cargo. Oficialmente! Pois ele continuou trabalhando por conta própria naquilo que ele mesmo chamava de maior tarefa já realizada pela humanidade.
Naquele momento o mundo inteiro estava apreensivo. Não era mais possível manter em segredo
aquela descoberta. Os governos do mundo investiram milhões num programa de acobertamento do
fato de terem recebido há 20 anos uma genuína mensagem alienígena, que mesmo tendo sido pouco
decifrada, permitiu saber que algo estava a caminho da Terra.
Agora, tão próximo, não havia mais como ocultar o fato dos milhares de telescópios que apontavam para o céu sem saber muito bem o que esperar. Devido a velocidade de aproximação do objeto, ao teor em alguns casos inquietante das poucas partes da mensagem que foram decifradas, e do natural senso de auto preservação humano frente ao desconhecido, fora acertado que o objeto seria atacado quando atingisse uma certa distância da Terra, sendo desintegrado antes que colidisse com o planeta, o que pelos cálculos traria danos terríveis a superfície.
Hermes não podia permitir isso. Ele sabia de alguma forma que a intenção da inteligência que enviara aquele artefato não era hostil. Embora nunca se tenha conseguido compreender com clareza as mensagens alienígenas, Hermes sabia o suficiente para ter certeza que destruir aquele objeto seria algo absolutamente lamentável.
Ele tinha ajuda dos milhões de internautas em todo o mundo ajudando com seus computadores pessoais a agilizar os cálculos. Ele sentia que estava chegando a algum lugar.
Enquanto isso o General Harrison tinha um pepino nas mãos. Ordenar a destruição daquilo que poderia ser o maior evento da história humana, ou se arriscara a ter a própria história humana destruída?
Mesmo que os alienígenas não fossem hostis, aquela nave poderia estar avariada. Mesmo enviando sinais progressivos da mesma natureza do sinal captado há 20 anos pelo SETI II, podia estar desgovernada e trombar com a Terra.
A Dra. Frieda também insistia mesmo sem compreender totalmente o sinal, que não se tratava de nada hostil, mas o pouco que se decifrou sugeria que os alienígenas queriam dados precisos sobre a tecnologia da Terra, os armamentos, a estrutura de produção de energia, toda a rede de comunicações humanas e toneladas de outras informações.
Era difícil ficar a vontade com isso, a entidade extraterrestre parecia querer se infiltrar em tudo, possuir toda a cultura humana. Era para isso sem dúvida, que pedia à humanidade que lhe enviasse uma resposta, pelo menos era o que se entendia, quando o objeto estivesse prestes a atingir a Terra.
Hermes tinha algumas teorias estranhas sobre isso, especialmente uma delas, que ninguém ousava acreditar. Mas era nisso que ele apostava.
- Vinte e cinco minutos para distância de ataque segura. - Lembrou o Coronel.
- Qual a velocidade do objeto? - Perguntou o General Harrison.
- Ele está mantendo os 40... Espere! A estação internacional
acusa uma redução de velocidade. O objeto agora está a menos de 37 milhões de kms. -
Respondeu o Major assistente. O gráfico na tela mostrava algo inétido, pela primeira vez desde que foi avistado, o objeto demonstrara uma sensível desaceleração.
Enquanto isso a Dra. Frieda recobrava as forças e com sua equipe tentava nova combinação de dados. Era duvidoso que a aquela altura dos acontecimentos a decifração do código fosse muito útil. Hermes também tinha essa preocupação, mas ainda tinha esperança, que apesar de tudo se esvaecia cada vez mais.
Em todos os países as opiniões de dividiam. Alguns esperavam o fim do mundo, outros o desembarque de uma civilização pacífica. Alguns eram a favor da destruição do objeto, outros consideravam que valia a pena correr o risco.
Milhões de pessoas estavam ligadas na WEB para acompanhar com maior precisão as informações que eram atualizadas segundo após segundo através do site oficial do acontecimento, o mesmo pelo qual os computadores militares e científicos utilizavam processamento de computadores de todo o planeta na tentativa de ajudar a decifrar as mensagens.
Então o objeto reduziu ainda mais a velocidade e efetuou uma ligeira mudança de trajetória, mas quando todos já começavam a ver nisso um sinal de que não haveria uma colisão, tão pouco um ataque, o objeto simplesmente começou a ejetar objetos menores, que foram um a um se posicionando em volta do planeta. Os telescópios podiam ver formas cônicas, estacionando em órbitas a alguns centenas de kms sobre o planeta, e apontando para a superfície.
- Mas o que é isso? - Perguntou para si mesmo o general Harrison, que sentia ter nas mãos o momento decisivo frente aquele desembarque espacial cujos objetos já passavam de duas dezenas cercando completamente o planeta.
O objeto maior agora se desviara definitivamente da rota de colisão, e tinha menos de um terço
da velocidade original, mas lançou 4 naves ainda maiores que rumaram para outras direções em
volta da Terra. Cada uma delas tinha quase um km de comprimento e assumiram posições
estacionárias além do cinturão de Van Allen.
Mesmo que só por precaução, o General obteve consentimento de seus companheiros e dos
dirigentes mundiais para reposicionar os satélites de defesa, e quando os mesmos foram
programados para apontarem seus mísseis e LASERs em certas direções, notou-se um grupo de
pequenas e muito rápidas naves se aproximando deles.
- General!!! - Gritou um dos operadores. - Perdemos o satélite de combate número... - Mas foi interrompido por outro operador. - Os satélites 4 e 8 sumiram!
Então todos os observadores do mundo puderam notar em seus telescópios que as dezenas de cones apontadas para a Terra passaram a brilhar, e os sensores detectaram que eles concentravam altas doses de energia, e finalmente raios de alta intensidade foram disparados em direção a superfície.
De seu centro de comando o General não pode saber o que acontecia, pois repentinamente todos os satélites de comunicação foram neutralizados, assim como a comunicação com cada uma das grandes cidades da Terra foi sumindo, até que o próprio centro de comando começou a sentir interferências em seus sistemas, e suas fontes de energia começaram a falhar.
- Disparar!!! Ordenem todos os satélites ainda ativos que disparem em tudo!!! -
Gritou o General Harrison, e todos os telescópios da Terra, mesmo os caseiros, puderam ver os mísseis sendo lançados e sendo destruídos um a um.
Hermes não podia acreditar, logo agora que ele finalmente entendera o significado de grande
parte da mensagem. - Sim! É isso!!! Ah meu deus! Como pude ser tão cego!? -
Ele lançou os resultados no site, sugerindo uma nova abordagem, e então milhares de
computadores em todo o mundo, driblando as interferências de comunicação e as oscilações de
energia, não demoraram a devolver os resultados.
Enquanto isso em bases militares em todo o mundo os canhões lasers de alta potência começaram a
disparar nos alvos invasores, mas assim que efetuavam o primeiro tiro, eram atingidos por um
raio vindo dos céus.
- Estão destruindo nossos canhões! -
Gritou o Major. E quando um dos oficial executava a ordem de atirar com o Laser do próprio
centro do comando, um dos tenentes alertou.
- Não atirem! Se o fizermos eles nos detectarão e contra atacarão!!! -
Mas era tarde, o canhão foi ativado e o intenso raio de luz subiu rumo aos céus, até que,
segundos depois, outro raio vindo dos céus, nem tão luminoso, atingiu em cheio o centro de
comando.
- General Harrison!!! - Tentava se comunicar a Dr. Frieda.
- Não atire! Hermes decifrou o código, entendemos a mensagem!!!
Mas o comandante inglês demorou a responder, pois ao abrir os olhos lentamente custou a crer que estivesse vivo, e a se convencer que não só o comando, como o próprio canhão Laser estivessem ali, intactos. E então, um a um, os satélites e as cidades que haviam sumido dos sensores começaram a reaparecer, embora os satélites de combatem continuassem inoperantes, paralisados por um campo eletromagnético intenso.
- Era isso!!! Eu sabia!!! - Gritou Hermes vitorioso, enquanto percebeu que o site oficial começava a se transformar rapidamente. Entrou em contato com os provedores e eles disseram que não sabiam o que acontecia, haviam perdido o controle do dados e as páginas estavam sendo reformuladas enquanto hexabytes de dados estavam sendo lidos, até que finalmente, perceberam que um volume de informações muitíssimo maior que toda a WEB mundial começava a ficar disponível
Os sensores do mundo inteiro viram as 4 grandes naves que estavam mais distantes da Terra dispararem intensos raios de energia em direções distintas do espaço, rumo a estrelas próximas. Os cientistas não demoraram a perceber que a medida que os raios iam se tornando invisíveis, podia-se detectar um número impressionante de partículas táquions, resultantes da ação de ondas super luminais, que se movem muito mais rápido que a luz.
E seguida todos os cones em torno do planeta partiram, haviam terminado o escaneamento do
planeta e voltavam juntos com vários outros objetos à nave mãe, que nem parara de se mover.
Restaram as 4 naves maiores, que podiam ser vistaS à noite a olho nu, como pequenas e novas
estrelas, e que tinham agora linhas de comunicação diretas com quase todos os satélites de
telecomunicações da Terra, colhendo e enviado dados que vinham, ou iam, através das hiper
conexões, para estrelas distantes.
E Hermes, assim, como o General, Frieda, Narayan, Ling e todos os internautas da Terra puderam contemplar espantados o que acontecia na World Wide Web, no site oficial, e em outros sites. Viram links inéditos surgiam, que levavam a páginas completamente novas onde linguagens estranhas iam sendo pouco a pouco traduzidas para os principais idiomas da Terra, ao mesmo tempo que mais e mais e mais links iam sendo adicionados.
Viram que cada link principal correspondia a um planeta em torno de alguma estrela distante, e que de lá podiam acessar um volume virtualmente infinito de dados sobre cada um das dezenas de civilizações extraterrestres que agora também podiam acessar dados da Terra.
Pouco a pouco a estrutura foi se consolidando, e o que antes parecera uma invasão espacial relevou-se como apenas uma instalação um tanto brusca, devido a impossibilidade dos terrestres em decifrarem totalmente os códigos alienígenas e se adaptarem, que precisou resolver uma série de incompatibilidades entre os sistemas de comunicação, traduzir e interpretar os dados terrestres e compatibilizar as redes.
A imensa nave espacial deixara a Terra, que agora tinha acesso a dezenas de civilizações tão ou mais avançadas que a nossa, culturas antes inimagináveis.
A Terra ficou on-line, através da
Galatic Wide
Web.
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