CIÊNCIA
A cultura humana em toda a sua amplitude e domínio abrange 4 grandes áreas, que sempre
estiveram latentes embora fundidas umas nas outras.
As mais antigas a se consolidar são a ARTE e a
MÍSTICA / RELIGIÃO,
que remontam os primórdios da presença humana na Terra. Posteriormente viria a era da
FILOSOFIA, que tanto no Oriente quanto no Ocidente se
desenvolveriam a partir da metade do primeiro milênio antes da Era Cristã.
Mas só mais recentemente, há menos de 500 anos, a quarta grande dimensão da cultura viria a
se especializar e se destacar.
A CIÊNCIA.
Há várias significações para a palavra "Ciência", inclusive aquelas que permitem considerar
qualquer conhecimento como ciência, mas a CIÊNCIA que nos interessa neste texto é mais
específica.
Trata-se de um ramo do conhecimento sistematizado e organizado por princípios rígidos e
regras específicas, seguindo uma metodologia cuidadosa de modo a obter resultados
extremamente confiáveis e capaz de compreender, explicar e possivelmente reproduzir os
fenômenos que se propõe a estudar.
Nesse caso, considera-se CIÊNCIA apenas aquelas áreas do conhecimento que funcionam de
forma Racional, Coerente, apoiadas nas evidências Empíricas, Físicas.
A Ciência caminha principalmente sobre as pernas do:
RACIONALISMO e EMPIRISMO
O Racionalismo é uma linha de pensamento sistematizada a partir do Renascimento, seu mais famoso
elaborador é o filósofo francês Renê Descartes, que desenvolveu uma
metodologia específica de investigação de problemas que baseia-se em proposições claras e
definidas, rigor lógico de pensamento analítico, e que possui 4 regras básicas:
1 - Admitir como inicialmente válidas apenas proposições precisas,
bem definidas e garantidas.
2 - Decompor os problemas no maior número possível de partes para
melhor abordá-los.
3 - Ordenar os dados progressivamente, do mais simples para o mais
complexo.
4 - Revisão sistemática do método de modo a garantir os resultados
até a mais precisa e bem definida solução.
Já o Empirismo, que viria a surgir posteriormente principalmente na Inglaterra, tem como maior
representante David Hume, declarava que
Todo o Conhecimento deriva da Experiência, não havendo portanto idéias pré-existentes na
mente humana. Trata-se antes de tudo da Experiência captada pelos sentido, os dados do mundo
físico.
Uma ferramenta fundamental da Ciência já era então utilizada por esses pensadores, o
importantíssimo CETICISMO, que longe se ser uma simples
incredulidade como o senso-comum gosta de pensar, trata-se na verdade de uma postura de
"suspensão de julgamento", só admitindo como válido algo que esteja apoiado em
Evidência clara e confiável, haja visto a Primeira Regra de Descartes.
Muito antes destes filósofos surgiu um outro importantíssimo instrumento da Ciência, que dirige
toda a produção científica séria e é quase desconhecido pela maioria das pessoas. Trata-se de
uma ferramenta fundamental do pensamento científico. A NAVALHA DE OCCAN
Guilherme de Occan foi um filósofo medieval que viveu nos século XIII
e XIV, ela era um Escolástico, estudante da tradição religiosa que dominava a alta Idade das
Sombras, mas não demorou muito para que seu modo de pensar o fizesse ter problemas com a Igreja,
sendo excomungado em 1328, só não sendo queimado graças a proteção do imperador Luis da Baviera.
A Navalha de Occan diz basicamente que entre duas explicações para
alguma coisa, devemos escolher a mais simples. Não se deve multiplicar hipóteses desnecessariamente.
É por isso que entre acreditar que alguém presenciou um fenômeno sobrenatural ou sofreu
uma alucinação, é mais apropriado aceitar a segunda possibilidade, pois alucinações são eventos
compreendidos e estudados, ao invés de fenômenos sobrenaturais, a não ser que haja uma forte
Evidência, tão extraordinária quanto o fenômeno que se alega.
Com essa idéia, Guilherme de Occan ameaçou todo o pensamento religioso da época, totalmente baseado
nos eventos sobrenaturais apresentados na Bíblia. Occan foi um dos primeiros pensadores a preparar
o caminho para o renascimento e sua navalha desferiu um dos primeiros golpes sérios no poder do
pensamento medieval.
Devido a isto a Ciência mais tradicional, acadêmica, ou "oficial" como dizem alguns, não considera
válida nenhuma forma de alegação que implique em violação das Leis Naturais ou do experiencialmente
estabelecido a não ser que evidências claras sejam apresentadas.
Apesar deste sistema aparentemente rígido, todas as pessoas em sua vida cotidiana costumam aplicar
pelo menos parte do que chamamos MÉTODO CIENTÍFICO.
Quer seja nas sucessivas tentativas de uma cozinheira em preparar uma certa refição, na revisão
automotiva de veículos ou em qualquer tentativa sistemática de se solucionar um problema prático.
O que separa essa atividade do Método Científico propriamente dito é basicamente
o grau de cuidado e precisão utilizados para medir e controlar a experiência.
Podemos ilustrar tal diferença com por exemplo uma receita de bolo, que traz os "ingredientes" e um
"modo de preparo". Normalmente estas instruções costumam ser suficientes para que se reproduza a
receita sem maiores problemas, mas não são raros os casos em que não se chega ao resultado desejado
mesmo que se siga à risca todas as instruções.
Se uma receita de bolo seguisse o método científico de forma mais rígida, teria que não apenas
dicriminar os ingredientes de forma genérica, mas especificá-los com muito maior precisão, informando
inclusive a composição química dos mesmos, o estado de conservação e uma série de detalhes que
normalmente não são necessários no preparo de um bolo.
Da mesma forma o modo de preparo teria que ser muito mais bem especificado, o equipamento a ser usado
provavelmente seria sugerido, as condições locais de temperatura e pressão, o cuidado com a composição
química do ar e etc.
Por isso, o Método Científico, e a Ciência em si, não apresentam
nenhum grande mistério, pois diferencia-se de atividades triviais mais em grau do que em gênero.
Se uma coisa sai errado num quitute preparado por uma cozinheira, ela muito provavelmente irá procurar
o erro no modo de preparo ou nos ingredientes. Poderá fazer uma série de tentativas com algumas
variações até obter o resultado desejado, e anotar algum procedimento que deva ser evitado. Dificilmente
uma cozinheira experiente atribui à falha de sua atividade a algo que não a sua receita ou seu modo de
preparo, como por exemplo julgar que o responsável pela falha seja a música ambiente que esteja tocando
ou o fato de ela não ter rezado o "Pai Nosso" antes do preparo. Sendo assim, ela já está a empregar
um procedimento similar ao da Navalha de Occam, reduzindo as possibilidades ao máximo, a fim de
solucionar seu problema.
Por isso, pode-se considerar que a Ciência sempre esteve latente durante toda a existência humana na
Terra, assim como está latente em cada pessoa, assim como a Arte, a Filosofia e a Mística, trata-se
apenas de desenvolvê-la e estruturá-la.
Cada área espécifica da Ciência possui seu próprio Método, porém há algo em comum entre eles,
que pode ser chamado de METODOLOGIA CIENTÍFICA, que pode ser
entendido como uma estrutura geral que se aplica a qualquer procedimento tido como científico.
Continua...
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