QUEM SOU EU? QUEM É DEUS?

UMA AVENTURA EM SOLO PSÍQUICO

Quando o carro desgovernou, Júlio César refletiu numa fração de segundo sobre as advertências de não se utilizar telefones celulares e dirigir ao mesmo tempo. Era precavido, mas esquecera o aparelho ligado e não resistiu a tentação de atendê-lo. Agora, com o veículo fora da pista e descendo desfiladeiro abaixo trepidando sobre pedras e tocos de árvore, isso não era mais tão importante. Naquele momento era muito difícil pensar.

O prejuízo financeiro já era considerável, pelos sons dos impactos poderia-se concluir o fim de cubos de rodas, eixos de tração e suspensão, destruídas ao atropelar pedregulhos num terreno desnivelado, cair em buracos e se emaranhar em galhos rasteiros. A lataria também já estava implacavelmente arranhada e os faróis dianteiros quebrados como ele pôde perceber após um impacto que os fez se apagar. Mas nada disso importava agora.

Finalmente uma árvore grande e resistente encerrou a louca descida do veículo morro abaixo além da estrada. O forte impacto destruiu completamente o motor e galhos grossos entraram pelo pára-brisa. Na noite escura, a fraca iluminação amarelada de distantes postes na estrada não foram suficientes para que ele visse o que realmente havia acontecido.

Milagrosamente o telefone caiu quase em suas mãos. Ainda preso pelo cinto ele não conseguia se mexer e após sentir uma dor intensa parecia anestesiado. Pegou o aparelho e com um esforço tremendo conseguiu teclar o primeiro número, o segundo, e o terceiro já com muita dificuldade e a visão turvando.

O ar terminou por lhe faltar e só brevemente sentiu o sangue em sua boca, não enxergava mais nada, soltou o telefone e ainda ouvia sons e vozes a sua volta. Pessoas vinham socorrê-lo após deixarem seus carros no acostamento.

Não tivera tempo de saber quem lhe telefonara.

Várias pessoas em volta do carro tentavam fazer alguma coisa, mas alguns já haviam percebido que não havia mais esperança. Um dos grossos e pontudos galhos da árvore entrara pelo pára-brisa atravessando o peito do motorista e varando o banco dianteiro até o banco de trás. A cena era terrível.

Durante um bom tempo Júlio César não entendia o que estava acontecendo. Viu seu carro cercado por pessoas estranhas e assustadas. Tentando caminhar no mato ele se aproximou com dificuldade do veículo e demorou para reconhecer o motorista acidentado, desfigurado pela expressão vazia e pelo sangue que escorria da boca e do nariz. O corpo teve uma breve convulsão e ele sentiu repentinamente um dor no peito incrivelmente intensa, mas após torturantes minutos, um progressivo alívio.

Já um pouco recuperado da dor e do susto tentava entender e ligar os fatos. O carro destruído era dele, o corpo morto também. No entanto estava ali, de pé, do lado de fora, sem sentir mais nada.

Polícia e bombeiros chegaram apenas para constatar que não havia mais o que fazer pela vida do motorista. Revistavam o carro em busca de pertences ou documentos e acharam o telefone.

Júlio não era uma pessoa atenta a questões metafísicas, religiosas ou místicas, mas apenas tendo assistido a alguns filmes e programas de TV já especulava sobre o que acontecera. Seria mesmo isso ou apenas um louco sonho? Estaria mesmo seu fantasma ali? Vendo a cena? Estaria de fato morto? Ou breve despertaria?

Tudo era mesmo etéreo. Ele tentava tocar as coisas mas pareciam desfazer-se em suas mãos. Notava que nem mesmo peso sentia. Seria como nos filmes? Morte ou sonho?

Sempre soube como responder a essa pergunta. Simplesmente desejou acordar, se fosse mesmo um sonho tudo estaria resolvido.

Despertou subitamente em sua cama. Para seu alívio e alegria. Sua esposa não estava ao seu lado então se levantou para procurá-la ansioso por contar o pesadelo. Mas a casa estava vazia, e as crianças não estavam na cama. E o mais estranho, era noite.

Onde estavam todos? Por que naquela noite a casa estava vazia? Era fim de semana e... Era isso! Estavam todos na casa de campo de seu irmão mais velho, para comemoração do aniversário de sua sobrinha. Costumavam dormir lá em fins de semana prolongados. Mas por que ele estava em casa?

Tentou acender a luz mas para sua surpresa o interruptor não funcionava, tentando de novo, várias vezes, percebeu algo muito pior, seu dedo é que não funcionava! Tocava no interruptor mas não conseguia pressioná-lo. Tentou outro, e mais o abajur, mas nada adiantou. A pouca luz que vinha da rua era fraca então correu para cozinha onde ficavam os disjuntores. Com a ânsia de tocar na maçaneta da porta percebeu de imediato que não conseguiu faze-lo, mas de qualquer modo entrou na cozinha.

Demorou vários segundos para olhar para trás e perceber que entrara sem que a porta se abrisse. Engolindo em seco voltou tentando empurrar a porta que por dentro podia ser aberta sem maçaneta. Estava na sala novamente, mas não sabia se a porta se abrira ou não. Não teve coragem de tentar novamente.

Soube então que havia energia na casa, o relógio do vídeo cassete estava ligado. Se recusando a pensar em possibilidades assustadoras, pensou: "Estou sonhando."

E tentou acordar de novo, mas não conseguiu. Tocou seu corpo, estava de pijama, um bem típico. Olhou para a parede e num rasgo de coragem respirou fundo e levou sua mão contra ela. A mão se apoiou.

Ele tocou! Tocou a parede! Era sólida! Seu corpo também!

Aliviado se encostou tentando entender o que acontecia, mas ao se virar para o lado, um novo susto. Estava entrando lentamente na parede, atravessando-a. Pulou apavorado novamente e com mais medo ainda, fez novamente o teste. Foi com a mão lentamente esperando encontrar a resistência de quina. Tocou-a novamente, mas percebeu que era um toque diferente, suave, então se retraiu e novamente foi levando a mão, desta vez mais rápido.

Caiu no chão desesperado quando o susto final lhe ocorrera, sua mão entrou no concreto como se este fosse uma espécie de líquido. Fechou os olhos e ficou em pânico e repetindo para si mesmo. "Quero acordar! Quero acordar!"

Então de repente, como se uma voz falasse por ele, ouviu. "Estou morto."

"Acordou" novamente, no local do desastre. Lá estava um guincho tentando puxar o carro. Ele estava com as mesmas roupas da hora em que morreu. Se sentou numa pedra, sem senti-la, e desatou a chorar.

Tudo o que ele queria era chegar na casa do irmão, encontrar a família, ver a esposa e os filhos. Pensou no Paulinho de 6 anos e em como brincavam, na Luísa, de 3 aninhos, tão linda quanto a mãe. "Jo-Joana... Me perdoe..."

Tudo o que queria era vê-los pela última vez. Fechando novamente os olhos desejou ardentemente encontrá-los, tocá-los. Então de repente, estava na casa do irmão.

As crianças brincavam no tapete, inclusive seus filhos, se aproximou tentando abraçá-las e o fez. Acariciou e beijou a todos, inclusive os sobrinhos. Mas eles não o viam, não o percebiam. Pelo menos Júlio podia tocá-los, como se ainda estivesse vivo.

Procurou a esposa e chegando a cozinha a viu chorando, junto com outros membros da família. A polícia estava lá, trazendo a péssima notícia. Pensou pela última vez que tudo era um pesadelo e sentando-se no chão se concentrou o máximo que pôde, desejando, querendo, ordenando acordar. Mas não aconteceu. Logo depois, não havia mais dúvidas.

O tempo não passava da mesma forma, num breve adormecimento, dias se passaram, e ele estava no seu próprio funeral. Caminhando ao lado da família e dos amigos, chorando bem menos do que todos, já estava um pouco insensibilizado após tanto sofrimento. E uma coisa o perturbava mais ainda.

"Onde está a Luz?!?!"

Onde estava a tal luz que deveria haver. Ele vira isso em vários filmes e ouvira falar em diversas conversas. Até mesmo as experiências de quase morte revelavam a presença de uma luz, ou um túnel. Ele não vira nada! De certa forma isso o aliviava, pois se ela surgisse teria certeza que iria para um outro mundo. Algo um pouco assustador, ainda mais agora que já estava se acostumando a ser um fantasma.

Olhava para todos os lados e para cima, procurando algo. Um portal, uma escada, talvez um anjo. "Não. Um anjo não." Se anjos existissem como dizia o cristianismo, então ele seria levado a crer também em demônios e logo em toda a teologia cristã e de acordo com suas inflexíveis regras, principalmente os 10 mandamentos, achava que tinha muito mais chance de ir para o Inferno do que para o Céu. Era o que acreditava.

Mesmo não entendendo nada de teologia, já havia descartado as hipóteses convencionais das Igrejas católicas e Protestantes. Pensava agora em termos Espíritas, e segundo estes, deveria ter sido chamado por alguém, um outro espírito, ou ficaria vagando como uma alma penada?

Mas estava no cemitério, e havia outros enterros. Onde estavam os outros fantasmas?

Não havia nada, não via nada além de tudo aquilo que sempre vira em vida. Nenhuma alma perdida lamentando a própria sorte. Ele estava completamente sozinho.

Observando a fila de pêsames que sua esposa enfrentava, as palavras que mais ouviu além de seu nome Júlio César, foram Jesus Cristo e Deus. Onde estavam eles?

Olhou para o céu e perguntou. - Deus! Onde está?!

Não obteve resposta. Existiria? E se Deus não existisse? Não deveria estar também tudo acabado? Por que continuava vivendo após sua morte?

Começou a perceber que essa questão era crucial. Quis por algum tempo ter estudado religiões como seu primo que se formara em psicologia, com especialidade com comportamento religioso. Quando o observou, percebeu que fora dos poucos que não mencionara a palavra deus, provavelmente era ateu.

Júlio nunca se considerou ateu, costumava se declarar agnóstico embora não entendesse bem o que isso significava, em algumas circunstâncias como quando sob pressão das tias, se declarava católico não praticante, embora não tivesse a menor idéia do que seria a Santíssima Trindade ou qualquer dogma básico do cristianismo.

Acompanhando o cortejo de volta foi até a missa, quem sabe lá haveria uma resposta. Entrando na igreja, se deparou com as enormes imagens dos santos, ouviu o sermão do padre, até menos chato do que de costume. Procurou um sinal, uma luz, mas nada havia.

Ouviu falar então na Ressureição, que só agora via ser totalmente diferente da Reencarnação. Os mortos na verdade renasceriam no dia do Juízo Final e só então se lembrou quando um evangélico que pregava na rua lhe mostrou passagens da Bíblia que declaravam que os mortos nada sabiam, não tinham consciência de nada, só renasceriam no dia do Juízo.

Então como poderia ele estar desperto e cônscio?

Não tinha mais dúvidas, o cristianismo e seus dogmas milenares não tinham a resposta. Saiu da igreja vagando pela rua, seu condicionamento após 40 anos de vida física o faziam caminhar como qualquer vivente, seguindo as calçadas e contornando obstáculos.

Chegou a frente de um enorme templo ecumênico em forma de pirâmide. Daqueles que misturavam deuses egípcios com terapias alternativas, cristais, discos voadores e tudo o mais. Sabia serem eles em geral reencarnacionistas e uma vez que a idéia da ressureição já estava superada, passou a dar algum crédito ao espiritismo e similares.

Percorreu salas, ouviu pessoas conversarem, olhou painéis e textos nas paredes. Viu pessoas aplicando sessões de passes e cumprimentando os espíritos desencarnadaos presentes. Só poderia ser ele, pois durante todo o tempo ele não vira sequer um só espírito. Ele era o único. Solitário. Adoraria encontrar alguém para conversar mas ninguém o ouvia, ninguém o via.

Riu quando percebeu que muitos dos rituais, como o passe, que pressupõem a presença de entidades espirituais, eram realizados sem qualquer apoio do além. Todos estavam sozinhos. Porém uma dúvida lhe ocorreu. Seria ele um espírito sem capacidade de ver os outros? Talvez estivessem presentes sim, outras entidades, mas mesmo morto ele não podia vê-las. Será que nem depois da morte ele teria respostas?

Quanto ainda teria que esperar para que pudesse aprender alguma coisa, saber por que vivera, qual era o sentido da vida?

Sentiu novamente uma forte ansiedade e caminhou até o centro da nave do templo, o centro de uma pirâmide que ao alto possuía um cristal, e então gritou: - MEU DEUS!!! ONDE ESTÁ VOCÊ?!?!?

O silêncio era a resposta.

Passada uma fase onde ficara muito tempo observando sua família e lamentando, decidiu que era hora de procurar respostas de forma sistemática. Teve a idéia de que vivia o resultado de seu total desinteresse pelo tema quando vivo, talvez as pessoas que procuram por isso em vida sejam privilegiadas depois da morte.

Foi a uma biblioteca onde muitas pessoas estudavam, a maioria jovens, procurou a seção de livros sobre religiões. Após se decepcionar também com o espiritismo, começou a apostar nas doutrinas orientais. O primeiro livro que lhe chamou a atenção foi sobre Budismo, tentou pegá-lo.

Simplesmente riu quando, surpreso, ficou imaginando como poderia ter achado que seria capaz de tocar num livro como se ainda tivesse um corpo físico. Era obvio que não poderia. Voltou para a sala de estudos e ficou olhando o que as pessoas liam, a maioria estudava para provas ou concursos, estavam num centro de rica cultura e só o que se preocupavam era passar numa prova para ganhar mais dinheiro ou obter melhores notas. Só agora ele percebia o quanto desperdiçara sua vida, pois foi exatamente o que fizera.

Viu uma pessoa procurando livros na seção de religiões e teve uma idéia. Ouvira falar que mortos poderiam influenciar as decisões dos vivos e ficou dizendo no ouvido da mulher que devia pegar tal livro. Não tentou apenas uma vez mas várias, com outras pessoas e métodos diferente. De nada adiantou, ele era completamente inexistente para todos.

Angustiado, voltou a estante e ficou se concentrando, se preparando para "pegar" o livro de algum jeito. Levou a mão devagar e então... Pegou!

Mal acreditava no que acontecia, começou a folheá-lo sem se preocupar se alguém estaria vendo um livro flutuando no ar e mudando de páginas. No começo viu um monge, logo depois um lutador de artes marciais, então um ator de hollywood, mas logo percebeu que havia algo errado, um livro sobre budismo não deveria ter imagens de carros, de aviões, de praias, de mulheres de biquini, de garotas nuas!

Olhou de novo para a estante e o livro que quisera pegar estava no mesmo lugar. Olhou para o livro em suas mãos e o fechou e percebeu que a capa estava não só diferente, mas mudando de cor. Logo o livro todo parecia um caixa de imagens e cores sem sentido. Furioso o arremessou contra a parede mas o objeto se desfez antes de tocá-la, como por encanto.

Então percebeu. Repetiu uma operação semelhante e um novo livro surgiu em suas mãos, e então compreendeu que podia fazer qualquer imagem aparecer ali. Desejava ver casas e via, pensava em futebol e logo surgia um campo com jogadores. Tinha criado um passatempo ilusório espetacular. Podia se iludir o quanto quisesse. Na verdade já havia experimentado isso antes.

Olhou para a parede e com algum esforço se concentrou e logo fez surgir uma tela de TV e nela imagens de paisagens que ele mesmo pedia. Não era algo muito exato, pensava numa montanha e surgia uma, mas não exatamente como ele pensava, era difícil manter o foco e antes que aquela brincadeira o entretesse demais ele parou.

"Não. Tenho que parar com isso." Já estava morto, desligado do mundo não podia ficar fantasiando. Acabaria por se perder na própria ilusão. Saiu da biblioteca e olhou para o céu. Era isso! Precisava voar! Até agora vinha caminhando como um ser vivo, obedecendo os limites do deslocamento físico, até mesmo pegava ônibus e metrô!

Caminhou rapidamente dando pequenos saltos e se imaginando leve, logo conseguiu saltos maiores e pouco a pouco, com muita concentração e vontade foi vencendo os 40 anos de condicionamento que o fizeram agir após a morte como se estivesse vivo.

Foram breve saltos longos, logo eram pequenos vôos. Depois estava completamente livre. A gravidade de nada valia para ele, podia levitar e se deslocar em qualquer direção e numa velocidade até o momento isenta de limite, embora não conseguisse passar muito da rapidez em que não fosse mais capaz de distingir nitidamente as coisas.

Por vezes teve fome, que chegara não raro a incomodar, mas bastava se concentrar para esquecê-la e esta, assim como a sede, desaparecia por completo. Após algum tempo de prática estava por fim livre desses resquícios da vida física. Sono por vezes sentia, mas diferente.

Percebeu que parecia se alimentar de emoções. Quanto mais feliz ficava, mais disposição tinha, voava mais rápido e atravessava obstáculos com mais facilidade. Se ficasse deprimido se sentia tão pesado que não conseguia voar e sequer atravessava uma grade. O mundo parecia voltar a lhe ser sólido.

Tudo dependia de seu estado psicológico ou sua vontade. Se quisesse podia sentir tudo do mundo físico, até o calor do sol, o frio do vento e o cheiro das flores. Podia se apoiar numa cadeira e mergulhar numa piscina sentindo a resistência e o frio da água. Mas se quisesse tudo lhe seria completamente intangível.

Só um ano depois, que não lhe parecera um ano e que só soube pela observação do eventos em sua família, compreendeu algumas regras de deslocamento. Além de se mover como se ainda tivesse um corpo físico, ele podia voar numa velocidade limitada apenas pela sua percepção do ambiente, quando tudo se tornava indistinguível ele tinha que reduzir ou acabava por passar quilômetros longe do alvo. Mas além disso podia também se teletransportar.

Percebeu que se concentrando podia surgir instantaneamente em qualquer outro lugar desde que fosse um lugar onde já estivesse estado. Quanto mais familiar lhe fosse o local mais fácil era se teleportar para lá, e não conseguia fazer o mesmo para um local desconhecido.

César entendeu que a regra era muito simples, se não fosse familiarizado com o ambiente, não conseguia visualizar seus detalhes e o deslocamento instantâneo não funcionava.

De posse desse conhecimento decidiu viajar o mundo inteiro. Sobrevoava lugares que nem sonhara existir, visitara suas cidades favoritas e conhecera países aos quais sempre desejou mas nunca pode ir, como Egito e Rússia. Visitou então o oriente, Índia, China e Tibet, aprendendo de um modo espantosamente rápido as línguas locais, na verdade parecia, as vezes, que entendia as pessoas independente de que idioma estavam usando. Passou pelo Oriente Médio onde com muito custo achou o Monte Sinai, para o qual gritou como fizera em várias outras partes do mundo: - DEUS!!! QUEM É VOCÊ!?!?! ONDE ESTÁ?!?!

Mas Júlio César não ouvia, em geral, sequer o eco de sua voz. E nunca lhe ocorreu levar a sério a hipótese que ouvira várias vezes de que "Deus está dentro de você."

Se podia visitar qualquer lugar do mundo como as pessoas vivas, podia ir também a lugares onde as pessoas não podiam, como o interior de vulcões, o fundo abissal de oceanos e desertos gelados nos extremos pólos do planeta.

Por muito tempo se ocupou de desvendar antigos mistérios da humanidade, mas mesmo tendo procurado muito nada achou de Atlântida, do monstro do Lago Ness ou de Discos Voadores.

Antes tivera uma curiosidade menos grandiosa, espionando banheiros femininos e intimidades de mulheres famosas inclusive top models e atrizes americanas. Mas logo essa fase passou, percebeu que tal como não sentia fome ou sede, seu impulso sexual estava desaparecendo também.

E também podia criar seus próprios mundos na forma de ilusões. No começo era como imaginar, depois a imaginação se tornava mais densa como nos nossos sonhos, então ficava quase tão real quanto o mundo físico. Ele criava cenários maravilhosos, animais fantásticos e mulheres divinas. Mas nem mesmo isso conseguia atrair-lhe tanto a atenção quanto o mundo real. Estava cada vez mais obcecado pelo conhecimento, pelo mistério da vida e da morte e sobretudo em saber onde estava Deus e o que tudo aquilo significava. A única ilusão que sempre mantinha, projeção de sua própria mente, eram suas roupas, que variava de ocasião como se estivesse prestes a se apresentar a alguém. Mas até agora não encontrara ninguém como ele.

Nenhuma das religiões lhe dera respostas, mesmo o Budismo que era ateu, ou o Xintoísmo, ou o Islamismo. É bom lembrar que mesmo depois de toda essa aventura ele ainda mal diferenciava uma crença da outra.

De algum modo porém, apesar de tudo lhe parecer demonstrar o contrário, Júlio acreditava que deveria existir um Ser supremo, algo que desse origem e significado a tudo. Sua vida continuou depois da morte, mas por que a dos outros não continuava? Ou será que cada pessoa ficava assim? Com o mundo todo a disposição sem poderem se comunicar umas com as outras?

Muitos anos se passaram, décadas, e concluiu que nada o impediria de viver indefinidamente. "Seria interessante." Pensava ele. "Ver o mundo se desenvolver, ver a história seguir seu curso sendo um espectador imortal. Estar aqui daqui a mil anos sabendo sobre o passado. Seria interessante."

Se não fosse a terrível solidão que sentia.

Nem só de maravilhas ele vivia. Após algum tempo passou a ver o lado ruim do mundo. Viu crimes atrozes serem praticados contra pessoas indefesas sem que pudesse fazer qualquer coisa. Viu massacres inomináveis e hediondos ceifarem milhares de vidas em guerras tão espúrias que faziam pensar o que seria pior. Ter morrido ou continuar vivendo para ver aquilo.

Ele não podia fazer nada, genocídios e torturas absurdamente monstruosas jamais chegariam ao conhecimento das autoridades. Os piores monstros que o Universo poderia conceber andariam a solta, completamente impunes quando não reconhecidos como protagonistas de grandes feitos em suas peles de cordeiro.

Ele acompanhou de perto o sofrimento de crianças sem esperança nos lugares mais miseráveis do mundo, e pensava no quanto fora felizardo em nascer em um país onde se tais coisas aconteciam eram em grau significativamente menor.

E pensava em todas as pessoas que mesmo tendo casa, comida, automóvel e salário garantido, gozando de perfeita saúde e vivendo em sociedades cujas gerações nunca viram uma guerra, ainda reclamavam como se fossem os mais desgraçados dos infelizes.

Viu em buracos imundos crianças que nasciam sem a menor perspectiva de uma vida sequer animalmente aceitável, sorrirem ante a beleza de uma flor mesmo tendo a sua volta cadáveres empilhados aos montes. Viu pessoas aleijadas e deformadas que mal tinham o que comer, possuírem mais força de vontade e alegria de vida do que muitos obesos de classe média alta em carros importados que vivam suas existências relapsas e irresponsáveis, e ainda se achavam vítimas, reclamando do governo, da sociedade e até de Deus.

E ele não podia fazer nada! Só observar e torcer.

Diversas vezes ficou caído ao chão em desespero ao ver pessoas cujas vidas lhe chamaram a atenção serem cruelmente espancadas, violentadas e mortas pelo simples fato de existirem, ante a hedionda estupidez, maldade e loucura de "criaturas", pois não mereciam ser chamadas de pessoas, que não raro sentiam prazer no que faziam.

Ele não aguentava mais, mais do que nunca queria que Deus existisse, mais do que em qualquer outra época de sua vida antes e pós morte desejava um exército divino cair dos céus arrasando tudo e renovando a humanidade.

Mas o golpe de misericórdia em sua alma atormentada veio depois.

Certo dia estava em algum país da África, havia uma linda menininha que lhe lembrava sua filha. Ele era meiga, carinhosa, inteligente e corajosa, capaz de contagiar de alegria qualquer um que se aproximasse, mas teria que ser um Ser Humano.

Quando o humilde acampamento que sequer tinha armas foi invadido por guerrilheiros e mercenários portando um arsenal que ele nunca vira, presenciou velhos, crianças e mulheres, muitas das quais grávidas, serem tratadas como se fossem a mais ameaçadora das pragas, sendo sistematicamente exterminados por tiros rajantes de metralhadoras.

Os poucos homens e rapazes raquíticos não esboçaram qualquer reação, e mesmo assim receberam o tratamento que nem mesmo seus algozes mereceriam receber. Mas os monstros não estavam saciados, precisavam torturar, massacrar e estuprar.

Ele sabia o que aconteceria ao pegarem a menina que por mais que ele tenha desejado, não conseguiu escapar. Eles iam decepar-lhe as mãos com um golpe de facão, e depois a violariam, rindo e sentindo prazer enquanto o sangue e a vida se esvaíssem de seus pulsos. Ele já vira isso acontecer.

Nunca a dor lhe atingira tão forte, o desespero, a intensa agonia do horror.

A mente do monstro era algo simplesmente inominável, uma criatura hedionda cuja categoria mereceria ser completamente extirpada do Universo mesmo que isso custasse metade das reservas naturais do mundo. Ele ergueu o facão enquanto outros dois atrozes demônios seguravam a criança, um outro já abaixava o ziper da calça.

Então sentindo algo que nunca sentira antes, ele não exatamente gritou, ele não mais se desesperou, de algum modo ele simplesmente ordenou. - PAREM!!!

Ele viu uma breve luz, e então os agressores hesitaram, olhando para os lados, tentando achar algo. Repetiu a ordem.

- Soltem ela! Agora!!! - E os algozes ficaram assustados, como se uma voz viesse de todas as direções. Recuaram e soltaram a criança, que rapidamente correu para o mato.

Compreendendo que algo de novo acontecera, olhou a sua volta e ordenou novamente, com toda a firmeza de seu Ser.

- PAREM!!! SAIAM TODOS DAQUI!!!

A maioria pareceu ter percebido algo. Houve uma breve confusão, suficiente para que muitas pessoas escapassem de seus carrascos. Alguns destes chegaram a disparar a esmo e alguns tiros atingiram uns aos outros.

Os momentos foram tensos, até que por fim a tropa começou a se retirar. Exércitos adversários se aproximavam, não sabia se eram do governo ou da ONU, mas eram a salvação.

César respirou aliviado. Respirou! Algo que por falta de hábito não fazia há muito tempo.

Será que finalmente Deus ouvira sua voz?

Ele precisava investigar isso. Precisava pensar. Estava farto do mundo e de não achar Deus, só queria o silêncio e a paz.

Rumou para o meio da selva, mas havia muitos ruídos de animais. Foi ao deserto, mas mesmo lá o vento atrapalhava.

Após décadas indo onde quisesse, se tornou um tanto exigente quanto a tranquilidade de um ambiente quando queria paz. Poderia inclusive cortar a percepção de tudo a sua volta, mas de um modo ou de outro ainda podia senti-lo de forma inexplicável. Nem mesmo o fundo do mar ou as profundezas da Terra eram suficientemente calmas.

Olhou para o céu e lembrou de uma música que dizia:

"...que lugar mais silencioso,
eu poderia no Universo encontrar,
que não fossem os desertos da Lua,
pra recompor meu mundo, bem devagar..."

E subiu aos céus. Já havia estado no espaço antes mas nunca tão alto. Olhou para baixo vendo o planeta azul que agora conhecia tão bem. Estava cansado daquele mundo. Embora houvessem tantas maravilhas, não conseguia compactuá-las com tantas desgraças. A maldade por vezes, lhe parecia pesar mais.

Nunca pensara que seria tão difícil chegar a Lua, tinha que ir voando é claro, mas a ausência de referência de deslocamento era irritante. Por mais rápido que ele se movesse, ou que pretendesse se mover, parecia não fazer a menor diferença.

Insistiu muito até conseguir notar um aumento na imagem do satélite. Por várias vezes pensou em desistir mas por fim, conseguiu ir mais rápido, até que a Lua fosse tão grande que não mais lhe lembrava o pequeno astro do céu ao qual apenas 12 homens, até hoje, chegaram a ir.

Se ele não encontrara Deus em nenhuma parte do mundo, quem sabe fora do mundo.

Para sua incomensurável surpresa, ao escolher um local para pousar achou justamente o Mar da Tranquilidade, exatamente onde estiveram astronautas americanos. Achou uma base do módulo Eagle e logo em seguida com incrível facilidade se teleportou para o ponto onde Neil Armstrong e Buzz Aldrin, os primeiros homens na Lua, estiveram. Se deparando inclusive com a bandeira dos E.U.A.

Deduziu então algo que já lhe ocorrera. Na verdade era possível, embora muito difícil, se teletransportar a algum lugar onde ele não houvesse ainda ido, mas teria que ser um local onde ele pelo menos já tomara conhecimento, de preferência já tendo visto. Como televisionou o pouso do módulo lunar na Lua, já tinha visto pelo menos remotamente o local, na falta de qualquer referência melhor foi atraído diretamente para lá.

Mas não estava nem um pouco interessado nisso, levantou vôo contemplando a Terra uma última vez e pousou do lado escuro da Lua, no meio de uma imensa cratera.

Mesmo aprimorando sua percepção ao máximo não ouvia absolutamente nada, claro, não havia ar. E claro que tudo era escuro, a não ser as estrelas no céu que realmente pareciam mais brilhantes. Nenhum movimento, nenhuma presença, nenhuma forma de vida.

Nunca ele esteve tão sozinho, e tão em paz. Agora era só ele, e ele mesmo. Agora podia olhar para dentro de si. Pela primeira vez decidiu levar realmente a sério a proposição de que Deus estava em seu interior.

Após muito tempo de quietude decidiu lançar mão de seu pouco utilizado potencial para ilusão. Dentro da cratera circular, fez surgir, virtualmente, uma chão liso, plano e espelhado e em seguida uma imensa abóbada transparente. Começava a construir o seu palácio.

Não tinha muita coisa, ele não precisava de muito luxo. "Criou" algumas paredes, um corredor, um teto, coisas que o isolavam ainda mais da realidade. Agora nem mesmo a luz das estrelas parecia lhe chegar.

Tratava-se puramente de manipular a percepção, ou pelo menos era o que ele pensava até o episódio de hoje ocorrido na África. Teria mesmo ele de fato desencadeado um fenômeno no mundo físico, ou apenas se iludido? Teria a pobre criança sido torturada e morta enquanto ele acreditava ver outra coisa?

Já fazia mais de 10 anos que ele deixara o corpo físico, e o tempo não corria da mesma forma. Ele sentia que estava suficientemente desenvolvido em suas percepções para diferenciar a realidade de ilusão. Tinha certeza disso, portanto agora só precisava entender como.

Já há algum tempo vinha tendo uma sensação estranha, como se algo ou alguém o vigiasse, cada vez mais achava que não estava sozinho, mas cria que tal sensação se dava ao fato de ter estado tão envolvido com o sofrimento das outras pessoas. Talvez as emoções fortes tivessem abafado uma intuição que o dizia novamente para procurar Deus, de forma ainda mais profunda.

Esse era o lugar ideal. Não gritou, mas perguntou: - Deus? Onde está você?

- "Deus está aqui."

Ele ouviu uma discreta resposta, quase um sussurro. Estava tão desacostumado a conversar que já nem sabia mais o que dizer. Olhou novamente a sua volta expandindo a percepção e perguntou novamente. - Onde está você?

- "Aqui."

- Aqui onde?

- "Em toda parte, inclusive dentro de você."

- Quem é você?

- "Eu não sou Deus."

- Então quem é?

- "Sou você."

- Eu?!

- "Uma parte de você. Que sempre esteve aqui. Esperando o momento de lhe dizer isto."

- Estou falando comigo mesmo?!

- "Após tanto tempo de solidão isso seria de se admirar?"

- Então de que adianta? Você não terá respostas.

- "E você acha que se conhece tão bem assim? A ponto de desperdiçar uma conversa consigo mesmo?"

- O que você sabe que Eu não sei?

- "Muitas coisas. Pra começar quem eu sou."

- Como posso não saber algo que você sabe, se você sou eu?

- "Por que você ainda não se conhece plenamente, não conhece seu inconsciente. Não conhece sua verdadeira natureza. Uma parte de você sabe coisas que a outra não sabe. Eu sei coisas que você não sabe e você também sabe coisas que eu não sei. Então podemos conversar muito bem, como se fóssemos desconhecidos, mas como teremos muita afinidade, seremos grandes amigos, cada vez mais íntimos até sermos um só. Até você ser completo."

- Mas e Deus? Quando irei, ou iremos, conhecê-lo?

- "Somente após conhecer a si mesmo você pode conhecer a Deus."

- Mas Deus não está dentro de mim? E talvez também de você?

- "Claro. Mas isso não basta para percebê-lo. Se você antes não me percebia, eu, que sou uma parte de você, como espera perceber Deus?"

Aquele que outrora se chamara Júlio César não mais usava seu nome há tanto tempo que não mais sentia falta. E agora, nessa grande oportunidade de diálogo, que ele sentia ser perfeitamente válido, bastava se referir a ele próprio como a única primeira pessoa que existia. Estava aberto ao diálogo, mas precisava torná-lo mais pessoal.

Após tanto tempo de solidão, cabia produzir uma aparência para aquele seu alter ego, mas um outro "ele" seria muito estranho, e as vezes não se sentia preparado para conversar com outro Ser Humano. Então projetou uma espécie de esfera flutuante, semelhante a um olho mas com uma certa simpatia. E olhando para ele perguntou:

- Então... Sobre o que iremos conversar?

Caminhando pelo corredor que ele mesmo projetara, rumo a uma luz ilusória, ele estava indeciso sobre o que perguntar.

- Nem sei por onde começar.

- "Que tal pelo começo? Pela morte de seu corpo físico?"

- Uma boa idéia mas... Sempre esperei respostas mais diretas, sempre esperei Deus.

- "Você queria ver Deus? Então me responda, por que não viu a luz?"

- Que luz?

- "Ora, a luz. Aquele que você esperava que aparecesse."

- Mas ela não apareceu!

- "Sim. É essa a minha pergunta. Por que não quis que ela aparecesse?"

- Mas eu quis... Quer dizer...

- "Tem certeza?"

- Bem, eu. Na verdade tive medo.

- "É isso!"

- Mas como eu poderia faze-la aparecer?

- "Como você fez a mim aparecer? E a todo este palácio?"

- Mas você é uma projeção da minha mente!

- "O que você acha que a luz seria?"

- O quê? Você está dizendo que eu devia criar a luz, criar uma ilusão?"

- "Exatamente."

- Mas... Eu esperava algo divino! Não uma ilusão!

- "Por que não?"

- Por que teria que ser real, uma luz real para um outro mundo real! Não para um mundo de fantasia.

- "Tudo o que você pode ver no mundo que chama de real não vê você. É uma relação indireta. Você toca, sente, ouve, mas nada interage com você. Por outro lado em seus mundos ilusórios, existe total interação. Você toca, vê, sente o cheiro, e tudo a sua volta se você quiser, também te vê, como eu. A interação é recíproca. Diante disso, o que lhe parece mais real?"

- Mas então é isso?! O paraíso e o julgamento, ou o inferno... Tudo seria criação minha?

- "Sim."

- Mas... Eu nem sequer conseguia produzir ilusões naquela época!

- "É apenas uma questão de vontade. Assim que você perdeu seu corpo físico, desejou estar em casa, e lá esteve, vestindo um pijama ilusório. Você sempre teve a capacidade de criar seus próprios mundos. Apenas demorou para perceber isso."

- Mas e se eu criasse sem saber que era ilusão? E se pensasse que tudo era real?

- "É essa a idéia."

- Eu realmente não estou entendendo.

- "Você nunca acreditou firmemente em nada quando vivia fisicamente. Se fosse um cristão convicto, que tivesse plena fé na ressureição, assim que percebesse sua morte estaria no dia do Juízo Final, vendo estrelas caírem do céu e a volta de Jesus. Se acreditasse que iria para o purgatório, teria exatamente essa experiência. Se acreditasse em reencarnação, teria criado a experiência de reencarnar. Mas você não tinha nenhuma dessas idéias, tudo o que você esperava vinha de filmes que você viu, mas mesmo assim estava indeciso e confuso."

- ...Então... Todo o meu destino seria criado por mim mesmo?

- "Sim."

- Mas e aí? Ficaria vivendo uma ilusão maluca sem nunca tomar contato com a realidade? Como iria conhecer Deus?

- "É preciso conhecer a si mesmo para conhecer Deus."

- E faria isso me iludindo?

- "Exatamente."

- Como?!

- "Tudo em suas projeções fantásticas são produto de sua mente. Você manifesta não só aquilo que quer e que sabe que quer, mas com o tempo, também aquilo que não quer ou nem sabe que quer, mas que também fazem parte de você. Perceberia, se desenvolvesse mais seus mundos, que logo muitas coisas pareceriam acontecer a sua revelia, contra a sua vontade, mas na verdade seriam manifestações de coisas de seu inconsciente, que parecem saber coisas que você não sabe. Seria a maneira mais direta e mais prática de se conhecer plenamente. Um dia perceberia a verdadeira dimensão dessa ilusão, cedo ou tarde compreenderia que tudo faz parte de você, então estaria de fato conhecendo a si mesmo, que é o primeiro passo para conhecer Deus."

- Não posso acreditar. Quer dizer que a resposta para tudo era me iludir?

- "Se tivesse começado assim que seu corpo morreu não saberia que estava se iludindo, já estaria a meio caminho."

- Mas e agora? Está tudo perdido?

- "Claro que não. Você pode começar a hora que quiser."

- Mas agora eu saberei que tudo será projetado pela minha mente.

- "Sim, será um caminho diferente. Mas também válido. Nem melhor, nem pior, nem sequer mais ou menos rápido ou eficiente, mas com certeza válido, e diferente."

- Será... Pensando bem, faz sentido. Procurei por anos no mundo real e nada achei, por que eu...

- "Fugia de si mesmo."

- Sim. Se me fechasse em minha ilusão seria a forma mais eficiente de conhecer a mim mesmo, pois seria o meu próprio mundo. É claro! Faz sentido! Mas... E o mundo real? Com todos os seus problemas? Eu gostaria de ajudá-lo!

- "Acha que pode?"

- Sinceramente, acho que não. Mas Deus poderia!

- "Quer conhecer Deus? Conheça primeiro a si mesmo."

- Está bem. É o que farei. Sempre fui mesmo tentado a criar meu mundo de fantasia e ficar dentro dele, só não o fazia por peso na consciência. Mas agora...

- "O que foi?"

- Espere aí!!! Como saberei se o que diz é verdade!?!? E se você estiver me enganando ou eu já estiver me iludindo?!

- "Sinta se o que digo faz sentido. Você mesmo descobrir? Saber sobre Deus, sobre mim, sobre você? Só há um caminho."

- Claro. Conhecer-me.

- "Então? O que estamos esperando?"

Primeiro ele pensou em criar seu mundo ali mesmo, na Lua. Mas depois achou que ainda estava muito perto da Terra. Talvez Marte? Não. Tinha que sair do Universo real. Foi então para o espaço e se isolou por completo da realidade. Até que a sua volta só restava um imenso vazio negro. O Nada.

Ordenou a ausência de tudo de forma tão convicta que até ele mesmo desapareceu, isto é, seu corpo etéreo. Era apenas uma consciência, um foco de luz na escuridão.

- Primeiro quero meu corpo de volta.

- "Ainda não percebeu que seu corpo também é uma ilusão?"

- Isto é... Meu corpo etéreo? Que conservei após a morte?

- "Sim. Você é apenas um espírito, uma mente. Seu corpo também é uma projeção."

- Então posso ter qualquer corpo! É claro! Assim como qualquer roupa!

Se concentrou e seu corpo passou a surgir novamente, viu suas mãos se materializando, sentiu seu cabelos e sua pele. Criou um espelho e se olhou. Era sua velha aparência.

- "Por que não faz algo diferente?"

- Deixe-me ver... Que tal mais jovem.

Da aparência de um homem de 40 anos, embora bem conservado, passou a aparentar um rapaz de vinte, quis ser maior e seu corpo atingiu uma estatura e um modelo Apolo. Mas logo se achou ridículo. Preferiu aparentar 30 anos, menos forte mas de aparência mais austera. Acrescentou bigode e barba, ficou parecendo Jesus Cristo. Então tornou os próprios cabelos brancos.

- Ei! Estou parecendo Deus!

- "Acha que Deus tem essa aparência?"

- Bem eu... Ah! Posso mudar a hora que quiser! Vamos criar um mundo. A primeira coisa que farei é... No princípio, crio os Céus e a Terra.

Criou um horizonte plano infinito, se estendendo a todos os lados, então tornou o céu azul e com nuvens. Ordenou a gravidade e a resistência do ar. Então percebeu que havia algo estranho. Voou e fez a terra se curvar até se tornar uma esfera envolvida por gases. Criava um planeta. Fez a terra se deformar dando origem a montanhas e planaltos, abriu espaço que preencheu de água. Pousou de novo e foi sobrevoando e criando jardins e florestas. Tudo muito parecido com a Terra. só depois percebeu que a luz vinha de todo o lugar e pensou em criar um Sol. Percebeu que era muito mais simples criar um que girasse em torno do planeta do que por o planeta para girar em torno de si mesmo e em torno do Sol. Então mudou de idéia, esse seu mundo seria diferente. Seria sempre dia, um pouco mais suave, e tornou o brilho do céu mais tênue.

- Não. Ainda assim está muito parecido com a Terra.

- "Faça algo diferente."

E tornou o céu esverdeado, em alguns pontos lilás, até que decidiu que o céu mudaria ciclicamente de tons verdes para rosa. Agora criava os animais, alguns semelhantes aos do mundo real, muitos gatos e cães, alguns dinossauros, aves exóticas, unicórnios e outras criaturas fantásticas que ele mesmo inventou. Com fauna e flora criada, era hora de fazer os seres inteligentes.

Então fez surgir o primeiro casal, e muitas crianças. Eram humanas mas acrescentou alguns retoques como cabelos de cores diferentes e peles reluzentes. Logo criava centenas de seres vivendo e se relacionando. Definia a personalidade de alguns deles mas os outros pareciam se desenvolver por conta própria.

Após muito tempo seu mundo estava densamente povoado. Mesmo sem pensar nos detalhes, estes surgiam. Percebeu que os seres se reproduziam, se alimentavam e se comportavam de forma semelhante a que ele já estava acostumado a ver na Terra. Suas criações tomaram vida própria e com o tempo já o surpreendiam.

Caminhava por entre seus seres como se fosse um deles e percebia coisas que jamais pensara em criar. Eles se desenvolviam muito rápido. Percebeu também hábitos que ele não queria que existissem. Alguns estavam brigando, desenvolvendo sentimentos hostis. Ele não queria isso no seu mundo, queria um paraíso e então interveio.

Chegou a descriar alguns dos seres. A outros teve que se revelar e chamar a atenção pessoalmente. Era impressionante como alguns desenvolviam personalidades imprevisíveis. Escolheu alguns que eram melhores e os nomeou como seus assistentes.

- "Por que não dá algo a eles?"

- Uma orientação?

- "Sim."

E criou livros sagrados para serem seguidos por todos. Apesar de querer fazê-lo, não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Para manter seu mundo na linha teve que impor certa autoridade, e a medida que os seres se desenvolviam foi ficando cada vez mais difícil. Então chamou seu outro eu para conversar. Aquele olho flutuante já estava lhe cansando então acrescentou outro olho, uma boca e logo uma face completa com expressão. Era pouco, criou então uma espécie de filho de si mesmo, semelhante a ele mas distinto. E perguntou.

- Não pensei que seria tão difícil! Por mais que eu tente as criações escapam do meu controle.

- "Ninguém disse que era fácil."

- Quando eu menos espero já está tudo saindo dos trilhos. Eles desenvolvem hábitos estranhos, eu os repreendo mas logo os hábitos voltam em outras ocasiões ou lugares. Quanto mais deles, mais difícil fica.

- "Que tal reduzir um pouco a população? E começar de novo?"

- É... Se este não está dando certo.

E enviou um força misteriosa que destruiu milhões em seu mundo, fazendo-os renascer de novo numa outra forma. Depois se arrependeu ao ver tanto sofrimento e decidiu não mais puni-los com força. Reorganizou as sociedades e enviou criaturas especiais, semi-deuses, e leis, e sacerdotes, e governantes.

Mas assim como é difícil controlar os próprios pensamentos, ele não conseguia manter seu mundo sob controle, coisas que ele não queria acabavam acontecendo. Por mais que interferisse mais complicado se tornava, já estava ficando farto de tudo aquilo.

- Eu simplesmente desisto. Não consigo fazer dar certo.

- "Irá começar de novo?"

- Adiantou alguma coisa? Quanto mais eu tento mais complicado fica. Acho que minha presença mais atrapalha do que ajuda.

- "Esse é seu mundo. Sua criação. Uma representação de tudo que há em sua mente. Não lhe disse que você não se conhecia? Mas agora já está aprendendo."

- Começo a entender também como Deus deve se sentir. Será por isso que o mundo real é tão confuso?

- "Esse é o segundo passo. Após conhecer a si mesmo, terá que entender Deus, e tudo o que ele passa."

- É isso! Agora vejo quão difícil é criar e controlar um mundo. Começo a entender Deus. Mas será que ele não é melhor do que eu? Será que não consegue... É claro que não consegue. Se não o mundo real não seria daquele jeito. Pensando bem, Deus não deve ser tão diferente de mim.

- "Você finalmente está entendendo."

- Houve épocas em que eu achava que Deus era mau, ou incapaz. Bem, minhas criações devem estar achando o mesmo de mim. Sabe o que vou fazer?

- "O quê?"

- Seguir o exemplo dele. Vou abandonar meu mundo a sua própria sorte. Como ele mesmo fez. Desaparecerei e voltarei daqui a alguns séculos, ou talvez nem volte. Sei lá!

- "Deixe alguma coisa para eles."

- Sim claro! Mandarei uns últimos profetas, nobres, leais, poderosos e carismáticos. Deixarei novos ensinamentos. Vejamos como eles se saem. Agora tenho certeza de que foi isso que Deus fez. Abandonou o mundo, farei o mesmo e veremos o que acontecerá. Tal como ele, os novos ensinamentos que deixei profetizarão a minha volta, mas é claro que nada de punição eterna, inferno ou seja lá o que for.

- "E para onde irá?"

- Bem. Faz tempo que não vejo o mundo real. Tentei entender a mim mesmo e acho que só o que consegui foi a compreensão de minha própria limitação. Imperfeito por imperfeito...

E abandonou seu mundo. Fez um grande esforço para conseguir voltar ao Universo original, mas logo estava no espaço, entre a Terra e a Lua. Durante algum tempo pensou em ir a outro lugar, criar um outro mundo e ver se conseguia um resultado melhor. Pensou nisso mais de uma vez, que poderia ficar viajando pelo Universo ilusório, criando mundos diferentes, mas de algum modo já estava farto daquilo. Queria uma resposta de qualquer jeito.

Ao se aproximar da Terra percebeu que havia algo errado. Não sabia quanto tempo estivera fora mas não poderia ser tanto a ponto de haver alterações na geografia do planeta. Havia muitos satélites em órbita, muito mais do que vira antes. E então percebeu, alguns estavam atirando, disparando LASERs na superfície. Então olhou para um dos continentes e viu clarões.

Era a guerra! A Terceira Guerra Mundial! O Apocalipse! O Dia Do Julgamento!

Era agora! Deus deveria voltar! Esse era o momento.

Ele desceu à superfície e viu cidades inteiras arrasadas, bilhões de pessoas mortas, o céu ficando avermelhado e colunas de fogo que pareciam alcançar o infinito.

Viu o pânico da população multiplicado ao extremo, o desespero nas ruas, gente correndo e se atropelando, fogo em toda a parte. Alguns nem fugiam mais, apenas se entregavam à desgraça.

Diante de tanta insanidade, alguns queriam apenas viver os últimos prazeres da vida. Ele viu homens pegando meninas, prestes a praticarem algo que lhe fazia lembrar o dia em que decidiu deixar a Terra. E novamente disse: - PAREM!!!

E dessa vez não foi apenas um som que atingiu as pessoas, foi uma força muito maior. O chão estremeceu e muitos ficaram paralisados. As meninas passaram de vítimas a agressoras, aproveitando a imobilidade de seus antes algozes. Ele também não queria isso, e ordenou novamente.

Toda a cidade ficou congelada e ele voou. No céu viu um míssil prestes a atingir uma das cidades que ele mais gostava, uma das que se houvesse justiça divina, deveria ser poupada do apocalipse. Agiu sem pensar, ergueu a mão em direção ao artefato e o fez se desintegrar por completo.

Pousou na cidade confuso. O que estava acontecendo? Por que agora podia controlar o eventos no mundo real como se fossem no mundo ilusório? Sabia que não estava num mundo de ilusão.

A cidade estava caótica, as ruas desertas e mal cuidadas. O que acontecia?

- O que está havendo? Por que tenho esses poderes?

- "Prática! Você praticou muito ultimamente."

- Mas pratiquei no mundo ilusório.

- "Por que acha que é tão diferente?"

Algumas pessoas saíram de suas casas olhando para o céu e perguntavam por que o míssil não chegara. Estavam esperando a morte. Um pequena multidão se juntou e começou a discutir. Alguns carregavam Bíblias na mão e entoavam cânticos, outras surgiram com o Alcorão. Umas tentavam converter a outras a força. Era o Juízo Final, e outras que não acreditavam em nada daquilo preferiam praticar saques, ou ficar sentadas em algum canto. Uma luta se iniciou, livros sagrados viraram porretes. Outras pessoas entraram na confusão. Entre os gritos ele ouvia "Jesus Voltará!".

- Será que eu poderia?

E numa onda de concentração se materializou perante todos, flutuando no ar. Todos ficaram paralisados.

- O que é que vocês estão fazendo?!?! - Pousou entre as pessoas. - Já não basta?!

Mas alguém gritou: - É o anticristo! - Outros disseram - Cristo voltou! - E outros - Louvado seja Alá. - E também - O messias! - E ainda - É o próprio Satanás!

E começaram a avançar sobre ele, numa paranóia totalmente descontrolada. Alguns queriam beija-lo, outros queriam agredi-lo com cruzes e bíblias. Havia uma confusão total. Então ele gritou: - AFASTEM-SE!!! - E uma onda os varreu para longe.

Subiu aos céus e viu que a tal cidade se tornara um inferno, ao vê-lo no ar as pessoas não reagiam nada bem e uma terrível tristeza o abateu.

- Não! Chega! Eu não vou aguentar mais isso!!! Eu deixei este mundo por causa disto! Criei um outro para fugir disto e não adiantou. E agora quando volto... Isto... CHEGA!!!

E uma onda de luz varreu a cidade fazendo-a desaparecer por completo, só restou um chão vitrificado e fumegante. Desceu e se ajoelhou.

- O que é isso?! Qual o significado?!

- "Pergunte para Deus?!"

- E onde?! Onde está Deus?!

Olhou para o céu e gritou com todas as suas forças. -DEUS!!! ONDE ESTÁ VOCÊ?!?!?

Então uma luz brilhante inundou o céu, um imenso sol branco se aproximou, e então...

- EU ESTOU AQUI!

- "É Ele."

- Deus!?!?

- SIM.

- "Não se preocupe. É Ele mesmo."

- Finalmente! Finalmente apareceu! Por que demorou tanto?!

- POR QUE VOCÊ NÃO ESTAVA PREPARADO.

- Preparado para quê?

- "Primeiro era preciso conhecer melhor a si mesmo. Foi o Primeiro passo. Depois foi preciso entender Deus, perceber como é difícil para ele. Foi o Segundo passo. E agora está prestes a dar o Terceiro Passo."

- E qual é o Terceiro Passo?!

- SE LEMBRAR!

- Me lembrar de quê?!

- "Você percebeu o quanto é imperfeito, conheceu sua própria limitação, mas ao mesmo tempo percebeu o quanto é capaz de criar, o quanto é mais poderoso do que imaginava."

- CONHECEU A SI MESMO.

- "Depois percebeu que mesmo sendo um deus, mesmo criando o seu próprio mundo, não conseguiu faze-lo como desejava, e percebeu que mesmo sendo Deus, era imperfeito. E concluiu que como o mundo real também era imperfeito..."

- Deus também não é perfeito!

- ENTENDEU DEUS.

- "E agora o passo mais delicado, e talvez o mais difícil."

- SE LEMBRAR.

- Me lembrar de quê?!

- "Se lembrar..."

- SE LEMBRAR...

- Me lembrar...

- "De Quem você é..."

- DE QUEM VOCÊ É...

- De Quem Eu Sou...

- "Pois Você é o que é..."

- EU SOU O QUE SOU...

- Eu sou o que sou...

- "Se lembrar quem vocês são..."

- SE LEMBRAR QUE NÓS SOMOS...

- Me lembrar que Nós Somos...

- Que Nós Somos...Que Eu Sou...QUE EU SOU DEUS!!! EU SOU DEUS... EU SOU DEUS.

"Finalmente EU ME lembrei. Quando criei o MEU mundo ilusório, estava apenas recordando o que fiz há muito tempo. Quando criei o Mundo. ME lembrei que criei as águas, A Terra, os Céus, o Sol e as Estrelas. ME lembrei que criei os seres vivos e os humanos. ME lembrei que mesmo desejando a perfeição, ela me escapava. Que por muitas vezes tentei fazer o mundo perfeito e não consegui. E não foi só uma vez."

"EU era sozinho no Vazio. No Nada! No Eterno Caos! EU era uma Luz na Escuridão. Sem conhecimento, sem propósito, sem nada para ME relacionar. Era NADA! Mas com poder para criar. Então ME separei em duas partes. Na dualidade primária. No YIN e no YANG. ME dividi várias vezes e criei o Universo e o Mundo."

"EU só queria aprender. Saber. Evoluir. Com MEU mundo criado EU aprendi muito sobre MIM mesmo. Pois era esse MEU objetivo. Saber QUEM EU SOU. De ONDE VIM. Por quê EXISTO. É a pergunta que faço desde o princípio."

"MEU objetivo ao criar o Universo era CONHECER A MIM MESMO. Pois sempre existi no Vazio, e nunca soube o PORQUÊ."

"Mas uma vez criado o mundo, uma vez tendo vencido o Primeiro Passo conhecendo a mim mesmo pela minha criação, e vencido o Segundo Passo entendendo minha própria imperfeição perante a perfeição do Vazio, uma vez que conheci melhor a mim mesmo e entendi minhas limitações, faltava o Terceiro Passo."

"E naquele momento o Terceiro Passo não era Me Lembrar, pois EU tudo sabia. Mas sim ME ESQUECER."

"Então ME programei para esquecer e encarnei em uma de minha próprias criações. E não foi a primeira vez. Fiz isso várias vezes tentando aprender. Até que um dia, finalmente me dei conta. Finalmente percorri de novo o caminho, então Conheci a MIM Mesmo novamente, entendi minha própria limitação, e finalmente ME LEMBREI."

"Agora um novo ciclo está completo. Encerrei minha criação naquilo que alguns chamavam de APOCALIPSE, e reverto o Universo original de volta ao princípio, naquilo que algumas de minhas criações chamavam APOCATÁSTASE, e outros MAHAPRALAYA."

"Aprendi mais sobre MIM mesmo, mas não o suficiente. É preciso começar de novo, criar um novo ciclo. Refazer o Universo para viver mais UM DIA de minha vida. Agora estou desperto. Mas já vou adormecer novamente, e depois acordarei, e de novo e de novo... Pois EU NÃO SOU PERFEITO."

AGORA ME SEPARO DE MIM MESMO MAIS UMA VEZ. E MEU PRIMEIRO CONSELHEIRO É VOCÊ.

Vamos começar de novo?

SIM.

Como será desta vez?

DIFERENTE. MAS SIMILAR. APRENDI MAIS UM POUCO, NÃO COMETEREI OS MESMOS ERROS.

E o que fará dessa vez? Como começará?

BEM... NO PRINCÍPIO É O VERBO. E O VERBO SOU EU!!!


Marcus Valerio XR

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Obs: O subtítulo deste conto é um trocadilho com a palavra SOLIPSISMO.