Era sem dúvida a maior oportunidade da vida dos 4 jovens. Ainda que fantástica. Acharam em uma velha mina nada menos que uma curiosa lâmparina a óleo, que a maioria de nós identificaria como uma lendária lâmpada mágica. É claro que ninguém acreditou nisso até que ao tentarem acendê-la com um isqueiro, um forte jato surgiu e pouco a pouco uma figura antropomórfica foi se materializando a frente deles. Um Gênio. A recusa em acreditar naquilo, em plena década de 80 do século XX, em plena era espacial e nuclear, era mais do que justificada. Mas ante a declaração: - Você são meus libertadores, obrigado por me livrar de minha prisão milenar. Em agradecimento, concedo a cada um de você 3 desejos. E também devido ao espetacular surgimento de uma figura humana flutuante e semi transparente, pouco a pouco a incredulidade foi se desvanecendo. - Eu... Eu... Não dá pra acreditar!!! - Gritou Mauro. - Mas é verdade. - Mas... Como isso é possível se... - Paulo esfregou os olhos e fitou o gênio novamente. - O quê... O quê podemos pedir?! - Indagou Shinzo. - Qualquer coisa que quiserem. Mas peçam com sabedoria. Todos estavam estupefados. Era demais. Estavam diante da maior oportunidade de todos os tempos. Poderiam mesmo pedir qualquer coisa? Diante do que viam eram tentados a crer que sim. Foram todos para seu esconderijo secreto, uma construção entre os terrenos onde moravam Paulo e Shinzo. Os quatro amigos, Mauro, Paulo, Shinzo e Zé Carlos eram muito unidos. Todos quase da mesma idade, se conheciam há muitos anos. Eram semelhantes em desejos, gostos e ideais, e eram muito idealistas. - Quanto tempo temos para decidir? - Perguntou Zé Carlos. - Um dia completo. - Que bom!. - Ótimo! E então pessoal? Paulo perguntou com mil idéias na cabeça. O que iriam pedir? Dinheiro? Garotas? Carros? Ou coisas muito mais fantásticas? Não demoraram a entrar em um acordo. O gênio lhes disse que podia ser qualquer coisa. Mesmo coisas sobrenaturais. Desperdiçariam essa oportunidade pedindo réles coisas mundanas? Por que não aproveitar para conseguir coisas que dinheiro algum no mundo poderia comprar? Ao mesmo tempo, esses idealistas jovens não demoraram a perceber a oportunidade que tinham de mudar o mundo. - Pensem bem pessoal! - Exclamou Paulo. - Não pensemos só em coisas que qualquer milionário poderia ter. Podemos pedir coisas fantásticas! - E podemos também ajudar o mundo! Combater o crime, a miséria, as guerras. - Disse Mauro. - Eu já sei!!! - Gritou Zé Carlos, e fez um suspense. - O quê?! - Ficou impaciente Shinzo. - SUPERPODERES!!! - Declarou triunfante. Todos ficaram abismados. - É possível?! - Perguntou Shinzo ao Gênio. - Certamente. - Uau!!! - Pensem bem! - Continuou Zé Carlos. - Com superpoderes ficaremos famosos, ricos, influentes, e ainda poderemos ajudar a humanidade! - Sim! - Disse Paulo. - Quatro superheróis bem poderosos poderiam dominar o mundo! - Podemos liderar um grupo para acabar com a corrupção, os crimes, a poluição e a ameaça nuclear! - Se empolgou Mauro. - Não sei... - Hesitou Shinzo. - Mas se é possível... Confabularam mais um pouco, até que chegaram a um consenso. Era isso mesmo. Estavam decididos. Discutiram entre eles que poderes deveriam pedir, de modo a formar um grupo versátil, equilibrado e poderoso. Tinham 3 desejos cada, deveria ser suficiente. - Ok!!! Vamos começar?! Paulo era o primeiro. Pensou bastante e concluiu que seria o membro furtivo do grupo. O espião. Ele pensava em entrar em locais sem ser visto, desde para descobrir segredos, quanto para sabotar os lançadores de mísseis nucleares. E para isso... - Meu primeiro desejo é... Quero ser invisível!!! O Gênio assentiu com uma reverência. - Que assim seja! E Paulo desapareceu por completo tirando o fôlego de seus colegas. - CARAMBA!!! - Gritou Mauro enquanto tateava o aparente vazio até tocar no corpo invisível do colega. - Incrível!!! Paulo!? - você está aí!? Mas se os rapazes deixaram de enxergar Paulo, ele por sua vez, deixou de enxergar tudo! - Que porra é essa?! Por que tá tudo escuro? - Gritou a voz que parecia vir do nada. - Escuro?! - Indagou Zé Carlos. - Que escuro?! - Eu não tô enxergando nada!!! - Você está invisível cara! Deu certo!!! - Berrou Mauro. - É sério Paulo! Funcionou mesmo! - Confirmou Shinzo. -Mas por que estou cego?! - Ei Gênio, o que aconteceu?! - Perguntou Mauro. - Ele está invisível. Por isso não enxerga. - O quê?! - Deseperou-se Paulo. - Pedi para ficar invisível, não cego!!! - Peraí! Peraí... Faz sentido. - Falou Shinzo. - Faz sentido o quê porra!? - Perguntou Zé Carlos. O colega continuou. - Se ele é invisível, os raios de luz passam por ele. E se os raios passam, não são captados pelos olhos! Os rapazes pensaram um pouco, olharam para o gênio e este assentiu curvando o corpo. - É mesmo! Por isso se chama Retina. - Concluiu Mauro. - Por que retém a luz e... - Por que não me avisaram isso antes?! - Gritou novamente Paulo. - Ei Gênio!!! Por que não me avisou!?!? - Realizei seu desejo de ser invisível. Foi seu primeiro pedido. - Grande!!! Mas... - Calma Paulo! Cê ainda tem mais dois pedidos. Peça para ser capaz de enxergar mesmo sendo invisível. - É possível?! - Perguntou Shinzo ao Gênio. - Tudo é possível. - Está bem, está bem... Então meu segundo desejo é: Quero ser capaz de enxergar mesmo sendo invisível. - Que assim seja! E logo a visão voltou a Paulo, que no entanto continou invisível! - É isso!!! Valeu!!! - Gritou o homem invisível. - Tá enxergando?! - Perguntou Mauro. - Tô! Perfeito! - Respondeu. - Incrível! - Comentou Shinzo. - Como é possível? - Não interessa como é possível! - Ralhou Zé Carlos! - Importa que funcione! - Só não consigo parar de enxergar. Não adianta fechar os olhos, nem cobrir com as maõs. - Disse Paulo. - Mas tudo bem. É... Gênio... Como é que eu volto ao normal? - Você é invisível. - Tá, mas como voltou a ser visível?! - É seu terceiro pedido? - O quê?! Não! Quer dizer... É... Cê quer dizer que vou ficar invisível para sempre!? - Foi o seu pedido. Ser invisível. - Não!!! Mas peraí!!! Eu não posso ficar assim?! Como é que eu vou viver?! Como as pessoas vão me ver?! Eu... Paulo começou a andar pela sala e ficar nervoso, derrubando coisas. - Ah não!!! Isso é muito estranho! Não consigo parar de enxergar!!! Meus olhos estão doendo! Não posso ficar assim! - E daí?! - Interrompeu Zé Carlos. - Vai desisitr?! - Você não sabem o que estou sentindo! É muito esquisito! Não dá pra ficar assim! Meus olhos doem. Chega! Quero voltar ao normal!!! - Calma cara! - Disse Mauro. - Espera um pouco! - Esperar um cacete! Me faz voltar ao normal!!! - E seu Terceiro pedido? - Pelos amor de Deus anda logo!!! É!!! Eu quero voltar ao normal!!! - Que assim seja! E então Paulo surgiu novamente. Cobrindo os olhos e respirando aliviado. - Aahh... Graças a Deus. - E sentou-se no chão. - Não acredito. - Disse Zé Carlos. - Que oportunidade perdida! Mauro sentou-se ao lado de Paulo e lhe disse. - Pô cara... Se podia ter pedido a capacidade de ficar visível ou invisível a hora que quisesse. O amigo refletiu, e pôs as mãos na cabeça. - Droga! - Ok! Chega. - Interrompeu Zé Carlos. - O Paulo vacilou, mas nós ainda temos nossa vez ok?! Ninguém respondeu. - Tudo bem gênio. Preste atenção. Meu primeiro pedido é... Quero ser capaz de voar, na hora que eu quiser, na velocidade que eu quiser. Entendeu. Ok! Manda ver! - Que assim seja! Zé Carlos sentiu apenas um breve formigamento no corpo. E então, começou a flutuar. - Uau! É... É demais! Funciona! - Gritava enquanto deslizava pelo ar lentamente. Flutuando acima de seus colegas, tinha um pouco de dificuldade de se orientar, girando descontroladamente, mas pouco a pouco foi assumindo o controle. - É um pouco difícil, mas estou conseguindo. - E passou a se mover suavemente no interior da sala para admiração de seus colegas. Subitamente bateu a cabeça no teto. - Ai!!! Tenho que tomar mais cuidado. - E então pousou suavemente desativando por completo sua flutuabilidade. Seus colegas nem tinham palavras. - Legal. Tenho que ir com calma. Vamos de novo. - Disse Zé Carlos voltando novamente a flutuar após caminhar um pouco no chão firme aliviando a breve vertigem. As vezes girava involuntariamente contra a própria vontade, mas não demorou para estabelecer uma boa manobrabilidade, passando a voar cada vez mais rápido apesar de alguns ocasionais esbarrões na parede e no teto. - É isso! Tô conseguindo! É fantástico!!! - Mas acabou acertando a luminário do teto. - Aaii! Droga! - Ei cara! Por que não tenta lá fora!? - Perguntou Mauro. Todos concordaram. Já era noite e bem escura. Cuidadosamente Zé Carlos saiu pela janela e passou a flutuar pelo terreno baldio. A pouca iluminação impedia que fosse visto por outras pessoas, principalmente naquele lugar um tanto ermo. - É muito bom. - Ele dizia para si mesmo enquanto voava cada vez mais ousadamente. Decidu então subir. - Putz!!! - Parou repentinamente ao olhar para cima. - Essa foi por pouco. - Disse ao olhar de perto os cabos de alta tensão onde quase ia enconstando. - Tenho que ser mais cuidadoso. - E desviou da rede elétrica subindo devagar aos céus de uma noite estrelada, de poucas nuvens, e sem Lua. Não demorou a se empolgar e numa explosão de ânimo, arrancou para cima voando várias vezes mais rápido. Mal olhava para os lados a fim de verificar se não seria atropelado por nenhum avião. Mas a alegria durou pouco e logo o frio lhe atacou bruscamente. A aceleração agressiva lhe deixou desorientado, mas mesmo assim continuava subindo. Sentiu seu corpo congelar e seus ouvidos e nariz doerem fortemente. Logo a dor se espalhou por todo o corpo e sua cabeça parecia querer explodir. Saiu sangue dos ouvidos, do nariz e dos olhos e quando finalmente olhou para baixo, percebeu que estava muito acima das nuvens e mal distinguia a cidade. Por um breve instante perdeu os sentidos, sentindo um breve alívio na dor aguda que lhe atacou os olhos, a garganta e todo o corpo. Caiu em queda livre e rápida, até que finalmente despertou por um instante ainda imerso em dores fortíssimas, mas com lucidez suficiente para perceber a morte se aproximando rápido como o chão. Fez um esforço mental e físico intenso para se concentrar e conseguir diminuir a velocidade da queda, até que pouco a pouco seu poder de vôo foi se manifestando de modo a reduzir sua velocidade, e por fim parou flutuando a menos de 1m do chão, quando finalmente, se deixou cair. Seus amigos já o procuravam e tomaram um susto quando o viram todo ensanguentado, gritando de dor. Levaram-no para dentro do galpão que era o seu QG. - Ai meu Deus!!! O que aconteceu!?!? - Perguntou Paulo. - Aarrgghhh!!! Está doendo muito!!! - Gritava Zé Carlos aos prantos. - Ele voou alto demais! - Disse Mauro. - A despressurrização e frio podiam tê-lo matado! - Completou Shinzo. Zé Carlos nada ouvia, estava surdo, e a sua voz rouca, saindo com dificuldade de um garganta inflamada, era desesperadora. Mesmo assim, conseguiu se acalmar um pouco quando passou a distinguir com os olhos lacrimenjantes, seus amigos e o Gênio. - Faça a dor parar!!! Rápido!!! Me cure!!! - Gritou aos prantos ao Gênio. - É seu segundo pedido? Zé Carlos tinha os tímpanos estourados, a garganta ressecada, todo o corpo dolorido de frio. Não sabia o que pedir, no desepero gritou: - Me faça voltar ao normal! Agora!!! - Que assim seja! E então a dor parou, o sangue sumiu e o alívio preencheu o rapaz, que caiu ao chão sorridente e aliviado. Algum tempo depois se levantou. - O-obrigado... - Disse tentando se recompor. Então após alguns minutos passado o susto, onde todo os rapazes ficaram sem nada a dizer, pensativos, Zé Carlos exclamou. - Ei! Eu... Não consigo mais voar! Por quê?! - Indagou ao Gênio. - Você pediu para voltar ao normal. O seu normal é não ser capaz de voar. - Ah não!!! Essa não! - Gritou. - Eu não vou desistir de voar! Mesmo com o que aconteceu Zé
Carlos não havia se rendido. Ele ainda queria voar, iria
tomar mais cuidado da próxima vez. Queria gastar seu terceiro pedido
com isso novamente.
- Espera aí... Eu vou dar um jeito... Eu
tenho que dar um jeito de pedir o poder de vôo novamente e ao mesmo
tempo algumas outras coisas.
- Calma... Enquanto você pensa, eu vou pedir
os meus desejos Ok?! - Interpelou Shinzo.
Zé Carlos acabou concordando, enquanto
pensava num meio de poder voar, ser invulnerável e algumas outras
coisas, tudo sendo conseguido com um só pedido.
Shinzo se dirigiu ao Gênio,
e lançou um olhar para seus colegas.
- O problema é que vocês pediram
coisas totalmente anti naturais. Ficar invisível e voar, não
tem nada haver com o corpo humano. Vai ser muito difícil se adaptar.
Eu por outro lado não vou pedir nada mais do que um simples aumento
em uma das coisas que já faço.
- Ai... Sabidão. - Resmungou Mauro.
- Vai pedir o quê? - Perguntou Paulo.
- Super força! - Respondeu
Shinzo. - Apenas uma super amplificação
da minha força natural, digamos, umas 50 vezes.
- Vai com calma. - Interromperou Mauro.
- Aumento de 50 é demais! Você vai esmagar
a mão de qualquer um que for cumprimentar. Não ia conseguir
segurar um copo! Tente 10!
- Não, 10 é muito pouco. Tubo bem,
vamos começar com 20. É isso Gênio! Meu primeiro desejo
é: Quero ser fisicamente, muscularmente, 20 vezes mais forte!
- Que assim seja!
Shinzo sentiu uma breve e aguda dor em
todo o corpo, mas logo veio um relaxamento e um estranha sensação
de fadiga, que aos poucos foi sumindo. Ele, que era um rapaz bem magricela,
ficou de repente com uma musculatura desenvolvida embora não exagerada,
do tipo atlética, ainda que se sentisse mais pesado do que deveria
aparentemente ser.
Removeu a camisa, que ficara muito justa, e contemplou num espelho sua
nova aparência. Tocando seus músculos, notou que embora eles
não fossem tão volumosos quanto seriam de se esperer de alguém
com 20 vezes a sua força, eles eram bem duros e rígidos,
como se fossem mais densos.
Na verdade ele não esperava ficar mais musculoso. Esse detalhe
lhe escapara. Pensara em conservar a mesma aparência. Mas logo aceitou
o fato como algo lógico e suportável. Sem dúvida quem
o tivesse visto há pouco tempo iria estranhar, mas era uma aparência
possível de se conseguir com uns bons meses de musculação.
Se antes ele era capaz de erguer cerca de 40 a 50kg com alguma desenvoltura,
então agora deveria ser capaz de levantar quase uma tonelada. Era
hora de começar a testar sua força.
- Muito bem. Vamos ver. - Disse ele, se
movendo com cautela.
Se aproximou de um móvel, bastante pesado, o qual nenhum deles
era capaz de arrastar sozinho. Shinzo se posicionou,
segurou o móvel por baixo e ergueu um dos lados com facilidade.
- Nossa! Você ficou forte mesmo hein...
- Admitiu Zé Carlos.
- Legal. - Disse Mauro.
Shinzo procurou não se empolgar.
Devolveu o móvel ao chão, tentando interagir com a breve
sensação de tensão muscular que o atingia. Então
agarrou um ponto mais centralizado do móvel, e o ergueu inteiro,
até o alto.
- Demais!!! - Exclamou Mauro.
- Isso deve pesar mais de 100kg com certeza!
- Acho que uns 200! - Corrigiu Paulo.
Sorridente, Shinzo já ia devolver
o móvel ao chão quando este se partiu ao meio, caindo e esfacelando
em vários pedaços.
- Droga! - Ele falou. -
Que descuido. Esse material não foi feito para ser pego desse jeito.
Tenho que ser mais cuidadoso.
Foi rumo a um grande embora baixo armário de aço junto
a parede, cheio de livros dentro. Não duvidava que pessasse mais
de meia tonelada. Segurou por baixo, em pontos distintos e resistentes,
e realizou uma façanha humanamente impossível ao levantá-lo,
ainda que apoiado na parede até que encostasse no teto.
- Caralho! - Disse
Zé Carlos. - Dessa vez convenceu mesmo!
Shinzo sentiu dores na coluna e em outros
ossos do corpo, mas tentou se adaptar a elas da mesma forma como fazia
com as breves dores musculares. Então, decidiu ir ainda mais longe,
soltou um dos braços, segurando o armário num ponto bem centralizado
enquanto o mesmo ia envergando para as extremidades.
Quando sentiu um estalo na coluna, agitou-se rapidamente e tentou evitar
a queda do armário reacomodando o braço. Então, ouviu
o Crack!
- Aaarrrggghhh!!!!
Caiu no chão gritando intensamente e sentindo imensa dor. Seu
braço se quebrou, trincando o osso em vários pontos, e tendo
sofrido também danos em várias vértebras da coluna.
- Aaahhhh... Aaahh...
- Que foi cara!? Pelo amor de Deus! O que houve?
- Perguntava Mauro, em pânico, mas Shinzo
nem podia falar tamanha era a agonia que sentia, evidenciada por gritos
estridentes que deixaram todos arrepiados.
- Droga! Que foi desta vez! Porra Gênio
será que nada...
- Não! - Shinzo
interrompeu Mauro. -
E... Eu entendi. Foi culpa minha.
Os amigos olharam espantados, e Shinzo
continuou. - Eu pedi superforça, mas não
pedi resistência comparável a... A minha... Aarrghh...
- Resistência compatível com a força.-
Completou Paulo, e Shinzo
balancou a cabeça afirmativamente. Se arrastando com dificuldade
foi até o Gênio e ficou a pensar.
Tinha que corrigir o problema sem perder o que já tinha, então
achou a resposta.
- Gênio! Meu segundo pedido é...
Que meu corpo volte ao estado em que estava logo antes de eu quebrar meu
braço... Entendeu? Mantendo minha superforça!
- Que assim seja!
E então o alívio o preencheu, o braço foi curado,
assim como várias outras dores espalhadas pelo corpo. Ele se levantou
e percebeu que mantinha sua superforça. Pensou muito e percebeu
que seria muito difícil agora, com apenas mais um pedido, diversificar
seus poderes. Era preciso trabalhar com o que já tinha. Disse:
- Tenho que garantir o que tenho. Bem. Portanto...
Gênio! Quero que todo o meu corpo tenha resistência comparável a de minha força.
- Que assim seja!
E então, num passe de mágica, Shinzo mudou radicalmente de
aparência. Com mais de 2m de altura e monstruosamente musculoso. Os braços e tronco dignos
de um Hulk contrastavam com uma cintura mais fina e rígida. As roupas rasgadas revelavam um
musculatura tão dura quanto repulsiva. Era simplesmente nauseante. Completamente inumamo.
Mas os colegas, sabendo que ele realizara seu último pedido, tentaram disfarçar a expressão de
asco.
- Pu... Putz cara! Deu certo... Você tá... Muito forte! -
Disse hesitantemente Mauro. - É...
Demais. - Completou Paulo, quase com vontade de vomitar.
Meio desajeitado Shinzo se dirigiu para o espelho, e o rosto já
preocupado ficou transtornado com sua desgostosa aparência. Porém, ficou lá, mudo, sem nada
a dizer, olhando para o seu novo e assustador corpo.
- Bem... Melhor a gente se adiantar.- Disse
Mauro. -Finalmente alguma coisa deu...
Certo.- Completou após olhar desajeitado para seu colega recém transformado.
- Esse negócio de pedir super poderes é muito complicado. Eu adoraria
possuir super velocidade mas... Pode ser perigoso, e além disso vocês sabem que minha mãe está
doente.
- É verdade! Mauro explicou que apesar da estabilidade do quadro clínico, não havia muita esperança de
que sua mãe superasse a doença a ponto de levar uma vida totalmente normal. Apesar do desvio
do plano original, todos concordaram que era um pedido aceitável.
- Meu primeiro pedido é... Que minha mãe fique totalmente curada de
seu cancêr!
- Que assim seja!
Então Mauro combinou com todos que esperassem. Foi correndo até sua casa. Uma hora depois
retornou com ótimas notícias. Sua mãe sentira um súbito alívio das dores que vinha tendo há anos.
Checou a pressão, fez alguns exames caseiros a que já estava acostumada, e mal pode acreditar
no que via. O médico da família, que morava perto, logo foi chamado e ficou boquiaberto com o
breve diagnóstico que fez, propondo um série de novos exames mas já tendo a nítida impressão de
que sua paciente estava curada.
- Viva!!! Deu certo! Mamãe está curada!!!
Todos gostaram da notícia com a exceção de Shinzo, que parecia
distante, olhando para o vazio. Havia experimentando sua extraordinária força, ainda maior do
que antes, além de perceber que sua pele era quase impenetrável, mas não conseguia se contentar
com sua horrível aparência.
- E agora vamos aos super poderes!!! - Exclamou vitorioso
Mauro. - Eu pensei muito e... Bem. Eu
sempre quis correr a supervelocidade, ou voar, mas já vi que isso é mais complicado do
que parece. Se eu fosse ficar super veloz ia acabar me arrebentando num poste. Eu já sei!
Teletransporte!!!
- Teleporte!? - É! Como em Jornada nas Estrelas!
Apreensivo, Zé Carlos intercedeu:
- Mas isso também pode ser perigoso. Não acha Shinzo? Mas
Shinzo continuava mudo, com a expressão apática, ainda sem
se conformar com o fato de ter que conviver com aquela aparência para o resto da vida.
- Ah! Qual é?! Não vou pedir para me deslocar de modo arriscado,
só quero sumir aqui e aparecer lá! Simples! Já pensei em tudo. Para eu não correr o risco
de me fundir com um parede ou coisa que o valha, vou pedir da seguinte forma:
Gênio! Quero ter o poder de me transferir instantaneamente para qualquer lugar que eu queira
desde que esteja vazio. Entendeu?! Se houver algum obstáculo ao qual eu possa me misturar o
teleporte não funcione! Ok? Não! Espere! Já sei! Não quero misturar minhas moléculas com as
do ambiente para o qual eu me teleporto. É isso! E levando tudo o que estiver comigo! - Que assim seja!
Mauro sentiu um breve comichão por todo o corpo. Olhou para um lado e para outro, e então
subitamente sumiu de onde estava num piscar de olhos, e apareceu logo do outro lado da sala.
Ficou um pouco desequilibrado e caiu ao chão, mas logo se levantou.
- Uau!!!- Exclamou.
Novamente sumiu e surgiu ao lado do Gênio, a transição era brusca e notava-se apenas um
ligeiro deslocamento de ar acompanhado de um som discreto, como o de um vácuo se preenchendo
onde ele desaparecera, assim como o ar se deslocando e dando espaço onde ele surgiu. O que era
providencial, caso contrário ele poderia misturar suas moléculas com a do ar, que
mesmo não sendo sólido ou líquido, o mataria rapidamente.
Diante do olhar atônito dos colegas ele sumia de um ponto a outro na sala.
- Maravilha!!!- Disse ao surgir subitamente ao lado do desolado
Shinzo, que tinha dificuldades de girar o pescoço e portanto girava
todo o tronco e os olhos para ver o que acontecia à sua volta.
- Agora vou para mais longe. Mas com cuidado. Disse enquanto
se preparava para se teletransportar para a casa de alguém conhecido, mas tentando se
concentrar, pois já percebera que havia se transferido de modo muito repentino, mal pensando em
onde iria surgir e sempre sentido uma ligeira vertigem ao checar ao local, principalmente por
que surgia a alguns milímetros do solo caindo logo em seguida.
Então viu tudo a sua volta sumir e dar lugar ao corredor de sua própria casa, onde pouco
antes viera visitar sua mãe. Não havia ninguém por perto e se repreendeu por ter sido
descuidado. Se alguém o visse seria muito complicado explicar. Dera muito certo. Trazia todas
as suas roupas, inclusive sua carteira e relógio, apesar do medo que teve de que surgisse nu
em algum local público. Caminhou um pouco para o corredor e olhou para a escada que levava ao
segundo andar. Sem pensar apareceu em seu quarto.
- Putz! Caramba. Tenho que educar esse meu poder. Não posso ficar
sumindo e aparecendo quase involuntariamente. Devia ter pedido algum recurso do tipo...
Dizer um palavra ou coisa parecida. Esse negócio de só desejar é peri...
Então sumiu e surgiu repentinamente no banheiro feminino do shopping de sua cidade.
No pavimento onde costumavam desfilar as patricinhas de sua idade. Duas moças e uma senhora
não gritaram como era de se esperar, apenas ficaram paralisadas de susto ao vê-lo se
materializar do nada.- Caramba! Que droga! Descul... E sumiu
novamente voltando a surgir na sala onde estavam seus amigos.
Ficou um tempo assustado e começou a rir.
- Ha ha ha ha... Demais! Incrível! Demais! É um pouco difícil controlar
mas eu acho que pego o jeito. Espera um pouco! E voltou subitamente a seu quarto onde
vestiu um casaco e logo em seguida voltou à sala, com o casaco recém colocado.
- Fantástico! Disse Zé Carlos
- Agora temos nosso homem super forte e nosso homem teleporte. E agora
eu... Vou recuperar meu poder de vôo. Deixe-me pensar em como pedir.
-E eu... - Lá vai ele. - Dizia agora o desanimado
Paulo, que ao ver que os poderes começavam a dar certo, amargava
o modo como desperdiçou o seu dom de invisibilidade. E enquanto isso
Zé Carlos pensava em como pedir o poder de vôo de novo, sem correr os mesmos riscos.
E Shinzo, após mais alguns minutos olhando para o espelho, começou
a chorar.
- Eu, estou horrível... Nenhuma garota vai querer nem olhar...
Pra mim! E caiu sentado aos prantos no sofá, que não resistiu e quebrou no meio.
Zé Carlos ainda tinha seu pedido. E também
Mauro, apesar de estar tão empolgado com seu poder de teletransporte que parecia ter
se esquecido disso. E por falar nele, notaram que demorava, enquanto
Zé Carlos pensava num meio de realizar seu desejo, ou talvez, olhava com piedade para o
colega monstruoso, de ajudá-lo de alguma forma. Foi quando então surgiu
Mauro, caído ao chão, meio congelado, com sangue no nariz e nos ouvidos, a pele roxa
e tendo convulsões.
- Meus Deus!!! Exclamou Paulo.
- Essa não! Disse o jovem que queria voar. -
Ele deve ter cometido o mesmo erro que eu. Deve ter se teletransportado para um lugar muito alto
e frio e aí... A despresurização e o choque térmico ferraram com ele.
- E agora!?!? Mauro! Mauro! Fala comigo! - Ah não! Não! Mauro! MAURO!!!
Ficaram em silêncio e perguntaram para o Gênio se ele estava morto.
- Certamente!
Paralisados, ficaram minutos a fio sem saber o que fazer, até que
Paulo gritou. - Chega!!! Pro inferno com essa maldita idéia de
super poderes!!! Não dá certo! Não funciona! Só um bando de moleques babacas acreditam nesta
besteira! É por isso que não existe!!! Porque é que os merdas dos desenhistas de quadrinhos
nunca pensaram nesses detalhes! Porra!!! Não! Não! Não!!!
Calma... Eu ainda tenho um pedido. - GÊNIO!!! Meu terceiro e último pedido é!!! Que nós quatro voltemos ao normal. Ao modo como
éramos antes de ter os super poderes. Shinzo volta a ser como era, e Mauro volta à vida.
Entendeu? - Que assim seja!
E então Shinzo voltou imediatamente ao normal, e
Mauro foi descongelado e acordou subitamente respirando e ainda
tonto. E foi abraçado por Paulo que agradeceu aos céus.
O viajante instantâneo contou que sem querer se transferira para uma montanha muito alta,
talvez o Everest. Seus ouvidos estouraram imediatamente e sua cabeça quase explodiu, caiu no
gelo quase desmaiado e ficou a ter visões confusas. Acha que se teleportou sem querer para
vários lugares antes de voltar à sala em meio ao desespero, e então não ver mais nada.
O antes monstruoso rapaz por sua vez lamentava sua arrogância e juntos os 4 amigos se
confraternizaram e perdoaram uns aos outros.
MUITO LONGE DALI O Coronel Michael Ironhead e o General
Dimitrev Selinsky ainda não haviam se acostumado
com a idéia de estarem ali, lado a lado, naquela improvisada base militar na Antártida.
Em plena Guerra Fria, era muito surpreendente que Americanos e Soviéticos estivessem agora
unindo suas forças contra um inimigo comum, ainda que desconhecido de quase toda a humanidade.
Selinsky, que falava Inglês, olhou para os técnicos e
cientistas de ambos os países que estavam no local e perguntou se a visibilidade do alvo estava
melhor. Um dos operadores de radar manipulou os controles e logo uma imagem surgiu a frente
dele, captada por um satélite de observação.
- Aí está. - Disse o russo.
- Quem diria, hein Selinsky?! - Disse
Ironhead. - Depois de anos sendo acusados
de prováveis destruidores do mundo, aqui estamos nós, para salvá-lo.
- Só que ninguém vai saber. Além disso, o pedregulho de mais de 4km de comprimento era quase totalmente negro, e vinha
apontado em direção ao planeta oferecendo uma pequena área de visualização. Foi por acaso que
uma das bases russas na Antártida o observou e comunicou a seu governo, que ao se aperceber
do perigo da situação, sugeriu uma trégua à potência adversária e juntos planejaram um modo
de eliminar a ameaça espacial.
- Ambas as estações de combate estão prontas senhores! -
Declarou um dos operadores se referindo a dois satélites espaciais, um de cada país, que
a centenas de milhares de kms estavam apontados para a ameaça que apesar de ser desconhecida
para todo o mundo, poderia matar mais da metade da população do planeta.
DE VOLTA À NOSSOS QUASE SUPER-HERÓIS - Nós vacilamos. - Disse Shinzo.
- É... - Concordou Paulo.
- E fomos egoístas. Acabamos perdendo tudo.
- Temos que admitir. Estávamos pensando muito mais na gente do que em ajudar o mundo! - Mas você ainda tem um desejo! - Sim! Ainda lhe restam 20 minutos!
- Nada de super poderes! Vamos pedir logo dinheiro e pronto!
- Ralhou Paulo.
- Foi por esse egoísmo que a gente se lascou! - Indignou-se
Mauro. - Temos que fazer algo útil para o
mundo.
- Temos que fazer os dois ao mesmo tempo. Ganhar dinheiro e ao
mesmo tempo ajudar o mundo. E ficaram a pensar.
E LONGE DALI - Lançar!!!
- Disparar!!! Ordenaram os comandantes da operação. Quatro mísseis nucleares partiram de cada uma das
estações no espaço. Eram a última palavra em tecnologia espacial, produto de uma súbita
cooperação secreta entre as potências do mundo. Apesar do enorme risco, tudo havia sido
detalhadamente calculado.
Era necessário que o asteróide se aproximasse bastante para que a operação fosse bem
sucedida, os 8 mísseis atingiriam o alvo simultaneamente em 4 pontos distintos de um de seus
lados, desviando a pedra da rota. O temor era de que algum dos mísseis falhassem, porém
tudo estava tão bem planejado que o otimismo era grande.
Se alguma coisa saísse errada, ainda havia dezenas de outros mísseis preparados em outras
estaçãoes, e milhares em terra ou no mar, para voar até o espaço e reduzir ao máximo a massa
do asteróide, e ainda que isso não fosse a melhor opção, minimizaria os estragos.
Seria menos pior que o asteróide inteiro atingir a Antártida. Se isso ocoresse, em segundos
todo o gelo do Pólo Sul evaporaria, uma onda violenta arrasaria todos os países do hemisfério
sul até meia zona tropical e o restante do planeta teria um fim mais lento mas ainda mais triste,
submetido a um inverno nuclear que congelaria tudo por décadas enquanto o nível dos mares se
elevaria a centenas de metros e tempestades arrasadoras aniquilariam todas as cidades costeiras
em todo o mundo.
- Cinco minutos para o impacto!
ENQUANTO ISSO - É isso!!! Eu já sei!!! Tenho uma idéia!!!- Gritava
Shinzo.
- Com isso podemos não só salvar o mundo como ficar ricos!!!
O que é?!?! - É isso!!! Grande idéia! Assim acabamos com a ameaça da Terceira
Guerra e ficamos ricos!
- Grande idéia Shinzo!
- É isso aí!
- Você têm um minuto!
Tudo bem! Lá vai! Gênio! Meu terceiro e último pedido é...
MAS LONGE DALI - 30 segundos para o impacto! 29, 28, 27...
- Não se preocupe Selinsky. ...21, 20, 19, 18...
Quando tudo terminar nossos governos irão revelar ao mundo toda a verdade...
...14, 13, 12...
...E o modo como as armas um dia criadas para nos aniquilar...
...8, 7, 6,
...Afinal nos salvaram.
...4, 3, 2, 1...
IMPACTO!!!
...
...
...
O que houve?!
...É... Senhores... Os mísseis falharam!!!
O QUÊ!?!?!?
Quais?!?!
...Todos! ...
E longe dali, os 4 jovens comemoravam o sucesso de seu último pedido. Mal podiam crer na
montanha de ouro que enchia toda o galpão da sala depósito que lhes servia de esconderijo,
assim como enchia toda o buraco logo a frente, uma futura piscina, e mais alguns barracos
abandonados. Tudo muito bem escondido. Toneladas de ouro puro!
O terceiro pedido fora genial. Para salvar o mundo de uma Hecatombe Nuclear e ficar
ricos ao mesmo tempo, disseram:
"Queremos que todo o Plutônio de ogivas nucleares do planeta
seja transportado para cá na forma de ouro!!!"
Nada mais genial. Com isso neutralizavam quase todas as armas de destruição em massa do
mundo, a maioria esmagadora acionadas a Plutônio, enquanto o Urânio dos reatores nucleares
que geravam eletricidade ficavam preservados, assim como os de quase todas as outras aplicações.
Daria um bocado de trabalho saber o que fazer com todo aquele ouro, mas teriam algum tempo
para conseguir uma fortuna e depois até, quem sabe, entregar o ouro para o resto da cidade.
Com o dinheiro conseguido com uma pequena porção que trocaram em um ourives da cidade,
haviam comprado bebidas, discos, roupas, jogos e revistas e agora estavam comemorando
efusivamente. Quando então um deles ficou em silêncio, abaixou o volume da música e olhou
para o horizonte sul. De onde vinha um vento inesperado.
- Estão ouvindo um barulho?!
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