Para que um objeto fosse de fato invisível, ele teria que não apresentar qualquer desses 3 fenômenos, e como sabemos isso
simplesmente não ocorre nem mesmo no mais "imperceptível" vidro, pelo menos em alguns ângulos. H. G. Wells argumentou
que seu Homem Invisível seria basicamente alguém cujo corpo se tornasse totalmente transparente e também não apresentasse
qualquer refração.
Antes que perguntemos se um organismo humano não seria por demais complexo para isso, Wells trabalha com a idéia de
que inúmeros seres vivos são de fato transparentes, e que o Dr. Griffin pesquisou fórmulas que eliminassem toda a
coloração dos tecidos orgânicos, induzidas também por campos eletromagnéticos. Primeiro produziu um gato invisível,
depois testou a fórmula nele mesmo, que se mostrava favorável pelo fato de ser albino, cuja pele já apresenta um certo
grau de transparência.
Wells entra em muitos outros detalhes que prefiro não explanar, uma vez que recomendo muito a leitura do livro.
De fato há notáveis erros de concepção nessa idéia, no entanto não se pode negar a ousadia e genialidade de Wells,
que evidentemente trabalha então com essa hipótese que chamei de Invisibilidade FÍSICO-QUÍMICA,
que funciona alterando as propriedades das substâncias em sua estrutura física intrínseca. Conceito que viria a ser
explorado na maioria das outras estórias de Invisibilidade da FC.
A obra de Wells recebeu um filme em 1933 e uma série de TV na década de 50 (acima a esquerda).
Mas o seriado de TV "O HOMEM INVISÍVEL" da década de 70 (acima ao centro) utiliza o mesmíssimo conceito. Inclusive com os indutores eletromagnéticos.
O cientista Daniel Westin interpretado pelo ator David McCallum, tem o mesmo destino de Griffin, mas não chega a ser acometido
pela loucura, passando a usar seus poderes com objetivos altruístas.
Ao invés de usar ataduras e óculos escuros, Westin consegue uma máscara facial que se adapta com perfeição a seu rosto e pode
se passar por uma pessoa normal, retirando-a, bem como toda a roupa, quando precisa usar sua invisibilidade.
Fica clara então a grande desvantagem desse tipo de invisibilidade, pois a pessoa invisível tem que ficar nua para gozar
de sua peculiaridade, o que traz uma série de problemas. Além de perder a proteção das roupas, essa pessoa invisível sentiria mais
frio mesmo sob uma forte luz solar, pois não poderia se aquecer da mesma forma que um objeto que apresentasse a Absorção de
luz.
A nudez já não é um problema para o personagem de Chevy Chase em "Memórias de um Homem Invisível" (acima a direita), da década de 90.
Onde um acidente num instituto científico deixa metade do edifício invisível, incluindo um homem que não saíra do prédio na evacuação,
e que passa a ser perseguido por agências governamentais que gostariam de usá-lo. Como todos os objetos afetados pelo acidente
se tornam invisíveis, inclusive as roupas, o personagem pode ficar vestido, ainda que tenha que usar as mesmas roupas sempre que
quiser utilizar sua vantagem, o que traz uma interessante série de consequências, como a dificuldade de lavar as roupas por exemplo.
Uma outra consequência normalmente ignorada é com relação aos alimentos e líquidos ingeridos. Neste último filme, tudo que o homem
invisível engole permanece um tempo visível até ir desaparecendo gradativamente, algo que caso não ocorresse, o homem invisível em
pouco tempo acumularia partículas visíveis dos alimentos em seu corpo, que iriam ser notadas no estômago, intestino e com o tempo
até mesmo no sangue.
Na verdade isso leva a uma série de implicações bastante problemáticas. O indivíduo invisível não poderia
deixar de estar em contato com os elementos visíveis do mundo. Normalmente não percebemos, mas no dia a dia costumamos ficar
impregnados de partículas de poeira e similares que não seriam tão discretas se estivessem agarradas a uma superfície
invisível. Mesmo no ar respirado, poderia haver poeira ou fumaça suficiente para ser notada dentro das vias respiratórias,
e a própria absorção constante de alimentos exigiria que as propriedades ópticas do organismo invisível rapidamente
se transferissem para os itens digeridos, ou teríamos uma bizarra amostra completa de aparelho digestivo aparentemente
flutuando no ar, e cedo ou tarde, o próprio sangue iria absorvendo partículas visíveis até que um dia a invisibilidade
deixaria de ocorrer.
Portanto seria imprescindível que tal invisibilidade se "espalhasse" e agisse sobre outras substâncias
para ser conservada, mas nesse caso, teríamos então uma série de problemas inversos. Se as propriedades de invisibilidade
se espalhassem muito rápido, diversos dos objetos tocados pela pessoa deveriam se tornar invisíveis. Essas
propriedades seriam permanentes? Se não, a invisibilidade em si não seria permanente, se sim, teríamos uma pessoa que
iria cada vez mais "invisibilizando" o mundo a sua volta. Mas e essas propriedades seriam inesgotáveis? Se sim cedo ou
tarde tudo à volta do personagem ficaria invisível, se não voltamos ao problema da invisibilidade limitada.
Poderíamos argumentar coisa como, a invisibilidade só afetar organismos vivos, o que não evitaria que
estes, inclusive outras pessoas, fossem "contaminadas" pelas propriedades invisíveis, e também voltaríamos ao velho
problema da nudez. E mais uma vez, se a invisibilidade não fosse "contagiosa", a alimentação normal em pouco tempo a
tornaria inútil a não ser como uma bizarra atração circense.
Se a invisibilidade afetar também materiais inorgânicos voltamos aos problemas anteriores, em que velocidade ela o
faria?
Se não fosse rápido, seria um recurso pouco útil, pois um simples balde de água, ou um spray,
acabaria com sua utilidade, como pode ser em parte visto no "Homem Sem Sombra". Neste mais recente filme temos
uma releitura de vários elementos do clássico de H.G.Wells, mas além dos repetitivos clichês típicos Hollywoodianos,
ocorreu uma curiosa contribuição referente ao problema da visão.
Tal como no livro de Wells, a premissa é uma substância que uma vez injetada na corrente sanguínea,
vai tornando todos os tecidos do corpo completamente transparentes, e ao se tornar invisível, o personagem principal
sofre a desagradável surpresa de ser ofuscado pela forte luminosidade que lhe chega aos olhos, pois suas pálpebras
são totalmente transparentes, não adiantando fechar os olhos e nem sequer proteger o rosto com as mãos. Entre outros
fatores, isso contribui para atormentar o cientista invisível, que só então compreende a dor que suas cobaias
sentiam, invariavelmente enlouquecendo.
Tal percepção não deixa de possuir um certo mérito, afinal tal detalhe escapou a todas as
outras obras que conheço. No entanto é aqui que trago de volta o maior problema lógico da invisibilidade.
O personagem jamais poderia ver qualquer coisa, pois se ele é totalmente invisível, significa que a luz passa
incólume por todo o seu corpo, incluindo seus olhos e mais especificamente suas retinas. Sabemos que para ocorrer
a visão, as retinas devem absorver a luz, transformando-a em impulsos eletroquímicos a serem interpretados pelo
cérebro. Ora, se não há o fundo preto das retinas absorvendo a luz, mas sim deixando-a passar, não pode haver
visão!
Essa consequência óbvia e simples continua escapando persistentemente a TODAS as concepções
de invisibilidade que já tomei conhecimento. Escapou ao próprio Wells. E mesmo considerando a licença poética que
a permita, somente o mais recente filme sobre um homem invisível, um século depois de Wells, se apercebeu
do problema inverso que seria caso a visão fosse de fato possível.
Wells chega até mesmo a tocar no detalhe de que a retina era uma das estruturas que mais
acrescentou dificuldades para se tornar totalmente invisível, e, me parece, deve ter deixado de lado o problema
da visão pelo simples fato de que é logicamente impossível conciliar invisibilidade com visão funcional.
Mesmo que as retinas continuassem escuras, resultando num estranho par de manchas negras flutuante, e mesmo que
a luz não fosse terrivelmente ofuscante, a visão seria completamente embaçada e desfocada, visto que uma íris
invisível seria inútil para regular a pupila e ajustar a imagem.
Mas o Homem Sem Sombra, cujo título original é sugestivamente Hollow Man, também
cai em outras contradições flagrantes em benefício do sensacionalismo visual. Se a substância era injetada no
sangue e agia instantaneamente, não e óbvio que a primeira coisa que deveria sumir seria o próprio sangue?
E logo em seguida os vasos sanguíneos, depois carne e só depois a pele? No entanto o que vemos é o desaparecimento
imediato da pele nos permitindo contemplar o espetáculo grotesco, e sofisticadíssimo em termos de computação
gráfica, de um corpo aparentemente se desmanchando por fora, deixando a mostra músculos é orgãos internos.
Será que os autores também levaram em conta a sugestão de Wells sobre a resistência do sangue a invisibilidade?
Mas a questão da visão não é único problema lógico envolvido. Outro detalhe problemático é o piso.
Em qualquer superfície maleável, como gramado ou areia, poderia-se perceber facilmente onde está a pessoa invisível.
Mesmo em pisos lisos, os simples acúmulo de poeira e sujeira na sola dos pés poderia ser suficiente para denunciá-lo.
Como podemos ver, esse tipo de invisibilidade é bem menos versátil do que pode parecer inicialmente.
Voltando a insistir na consequência de que a invisibilidade deveria se alastrar para outros
corpos, não demoramos a notar que isto invocaria um tipo de "irradiação",
onde suas propriedades afetassem
outros objetos, ou ela própria seria afetada pela "visibilidade" destes. Desde modo acabamos tendo que invocar a idéia
de um tipo de "Campo" de ação da Invisibilidade.
Ao que tudo indica a idéia de um ser vivo FÍSICO-MOLECULARMENTE invisível é bastante incoerente.
Em termos químicos sabemos que as propriedades que tornam a matéria visível estão irremediavelmente atreladas às suas
demais propriedades. O indivíduo invisível está em contato com um mundo visível. Cedo ou tarde todas as células de
seu corpo serão trocadas por outras, que precisaram absorver moléculas visíveis do mundo, e ele se tornaria visível.
Ou tornaria o mundo invisível.
A Invisibilidade FOTÔNICA
Esta outra forma de conceber a Invisibilidade me parece bem mais plausível, e curiosamente
é mais rara. Na verdade só conheço dois exemplos relativamente famosos desta idéia em personagens,
o do seriado de TV Gemini Man e o dos famosos alienígenas cinematográficos dos filmes O PREDADOR,
PREDADOR 2 e ALIEN X PREDADOR.
Esses dois exemplos tem em comum o fato de utilizarem um dispositivo eletrônico que regula a
passagem da visibilidade para a invisibilidade, porém com uma inversão fundamental. No PREDADOR, o alienígena é
visível, e usa um dispositivo para se tornar invisível, ou melhor dizendo, quase invisível. Já em GEMINI MAN, o
personagem Sam Casey É INVISÍVEL, é usa um dispositivo, chamado "Estabilizador", para se tornar visível e viver
com uma pessoa normal.
Sam Casey era um agente do governo e mergulhador que após sofrer um estranho acidente,
fica com o corpo completamente invisível, devido a certas peculiaridades que fazem suas moléculas não interagirem
da forma esperada com os fótons. Então os cientistas da organização governamental que ele trabalha, o INTERSECT,
desenvolvem um aparelho no formato de um relógio digital que organiza as moléculas de seu corpo de modo a
torná-lo visível novamente.
O problema é que ele só pode desligar o Estabilizador por no máximo 15 minutos por dia, ou
corre o risco de ficar irremediavelmente invisível definitivamente. Os detalhes eu sinceramente não me recordo,
pois era um fã desta série há uns 25 anos atrás. Mas o que importa aqui é que tudo indica claramente que as
propriedades que levam Sam a ser invisível não funcionam da mesma forma que no personagem de H.G.Wells, ou no
personagem Daniel Westin de seu seriado de TV concorrente, O HOMEM INVISÍVEL, ambos da mesma época. Caso contrário
não faria o menor sentido que pudessem ser afetados por um dispositivo eletrônico.
O mesmo ocorre com o famoso alienígena caçador. Seu dispositivo de Invisibilidade evidentemente
cria um campo eletromagnético que aparentemente desvia ou refrata a luz. Ele não apresenta qualquer Absorção nem
Reflexão, mas sim uma notável Refração, o suficiente para torná-lo difícil de distinguir.
Mas além destes, há também um exemplo desta concepção para a camuflagem não de seres vivos,
mas de naves espaciais.
Na série STAR TREK, a naves de combate dos Klingons (acima) e dos Romulanos (abaixo),
apresentam o dispositivo de ocultamento, que as permite ficar não só visualmente imperceptíveis, mas indetectáveis
por dispositivos de radar.
O fato de se usar o sistema em máquinas é relevante, pois na concepção de Invisibilidade
anterior, FÍSICO-QUÍMICA, seu uso se aplica basicamente a organismos vivos. É claro que nada impediria conceber a
construção de um objeto invisível, seria até mais simples, mas minha intenção foi destacar os problemas específicos
que isso traria a seres vivos e em especial a humanos.
Já para a idéia de invisibilidade FOTÔNICA, o fato de um objeto ser vivo ou não aparentemente
não tem importância, nem sequer que tipo de objeto seja, pois a idéia seria "cercar" o objeto com um tipo de campo
energético que afetasse o comportamento da luz, o que é bem mais plausível, pois conhecemos formas de fazer isso
na realidade, como por exemplo os Tubos de Imagens, LASERs, Radiação luminosa e etc. Pelo menos é bem
mais próximo da realidade do que um objeto sólido intrinsicamente invisível.
No entanto, os efeitos que obtemos embora mostrem que é possível manipular a luz de várias
formas, não sugerem ainda que seja possível algo similar a invisibilidade. Só posso então especular sobre como
funcionaria tal sistema, e as consequências disto, e para isso podemos lançar mão de
alguns conceitos relacionados aos conceitos físicos anterioremente expostos.
Seria então necessário que o "campo de invisibilidade" afetasse a luz incidente. Como vemos
a seguir.
Temos aqui uma representação de raios de luz cruzando incólumes o espaço.
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Mas havendo um objeto eles podem ser refletidos, possibilitando a visão.
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Bem como parcialmente absorvidos, que é o que em geral ocorre.
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Podendo ser também em parte refratados.
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O resultado de objetos 100% opacos, que apresentam reflexão e absorção.
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E de objetos translúcidos que apresentam também refração.
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Se houvesse em torno do objeto um "campo" que absorvesse completamente a luz...
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...teríamos um objeto que se tornaria completamente negro. Já seria um sistema
útil para camuflagem noturna.
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Este mesmo recurso poderia ser regulado para absorver somente algumas frequências,
permitindo em muitos casos refletir somente as cores desejadas. Numa selva por exemplo,
poderia refletir somente tons de verde, servindo de sistema de camuflagem.
Mas o que mais interessa aqui é a invisibilidade, então vejamos como esse hipotético campo
de efeito poderia agir de modo a permitir que a luz passasse pelo objeto sem implicar nas
consequências ópticas mais comuns. Isso implicaria em fazer com que a luz se comportasse o mais
próximo possível do que faria na ausência do objeto. Aparentemente só há duas possibilidades lógicas,
a luz deveria ser DESVIADA ou TELETRANSPORTADA.
Digamos que aqui o campo de efeito força a luz a contornar o objeto, nesse caso com um
resultado ligeiramente distorcido.
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Parece difícil que tal efeito fosse perfeito, o que poderia resultar numa distorção
óptica similar à da refração. Caso contrário, haveria a invisibilidade total.
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Isso explicaria a distorção visual causada pela camuflagem do ET em "O Predador". No caso, o objeto não
sendo esférico, poderia resultar em "refrações" diversas dos raios de luz.
Pode-se ver à direita, atrás do "jamaicano", os contornos que distorcem a imagem de fundo.
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Aqui estamos vendo a criança através do Alienígena. Ambas as cenas são de PREDADOR 2.
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É difícil imaginar como o campo de desvio poderia resultar nesse contorno da luz, tirando-a da
rota e ainda recolocando-a no ângulo certo. Mas caso esse reencaminhamento
da luz não ocorresse, como nesse gráfico...
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...o resultado final seria uma distorção muito mais sensível, inviabilizando a invisibilidade.
Acho que essa dificuldade intuitiva levou os criadores
do Predador e de idéias similares a considerar a distorção.
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Esse dispositivo, ou super poder, de desvio de luz é um conceito que poderia explicar
certas peculiaridade da Invisibilidade de algumas obras de Ficção Científica. Ela não tem todos os
aparentemente intransponíveis inconvenientes da Invisibilidade Físico-Química por não se dar a nível
molecular do objeto, mas sim num campo em torno do objeto.
As naves espaciais invisíveis em Star Trek também sugeririam isso, um vez que apresentam uma
distorção à medida em que vão ficando mais e mais transparentes, o que poderia ser o resultado de um
breve ajuste do sistema. Além disso afetam não apenas a luz, mas outras ondas eletromagnéticas, por
isso são indetectáveis pelos sistemas de radar.
Mas essa idéia também tem alguns inconvenientes, a começar pelo velho problema da inevitável cegueira por
parte do objeto invisível, que permaneceria intocado. Além disso é fácil perceber que torcer a luz de
tal modo é não apenas fisicamente, mas logicamente difícil de conceber.
É por isso que proponho uma outra forma de se imaginar a invisibilidade. Um forma que só vi ser parcialmente
sugerida de modo mais explícito em um livro da série Perry Rhodan, mas que seria talvez a melhor forma de
explicar a invisibilidade. Trata-se do TELETRANSPORTE DE LUZ.
Tratar-se-ia de um campo cujo efeito fosse ser um tipo de "Portal", talvez pela Quarta Dimensão,
por onde o feixe de luz fosse instantaneamente transferido para o lado oposto sem nenhuma alteração,
ignorando tudo o que houvesse no interior do campo.
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Dessa forma, de qualquer ponto de onde a luz entrasse, sairia imediatamente pelo ponto oposto.
Seria como o conceito de wormhole da física, atalhos no espaço por onde matéria ou energia
"saltariam" de um ponto a outro saindo e voltando ao espaço normal.
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Nos primeiros livros da série Perry Rhodan, ainda no começo do Primeiro Ciclo, ocorre uma idéia similar a de
uma esfera de invisibilidade que faria exatamente isso. Tudo o que estivesse no interior da esfera seria
completamente ignorado pelos raios de luz não importa de onde viessem.
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Ajustar esse efeito para formas mais complexas sem dúvida seria um desafio, poderia
ocorrer mediante uma mera ovalização da esfera, ou a criação de um campo ajustado ao corpo,
o que aumentaria em muito a complexidade do campo. A personagem no caso ficaria totalmente
invisível, bem como tudo o que estivesse dentro do campo. Objetos pequenos que ela pegasse,
principalmente no primeiro caso, desapareceriam também, e mesmo no segundo, com por exemplo
a empunhadura de uma espada. A não ser que o campo se alastrasse para todo o objeto contíguo
ao corpo, e então toda a espada desapareceria. A personagem não está flutuando por acaso,
pois o contato com o solo acrescentaria muitos problemas adicionais. Razão pela qual um total
aproveitamento da invisibilidade só seria possível para uma pessoa, ou objeto, que também
flutuasse.
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A física teórica contemporânea nos permite imaginar meios pelos quais poderíamos teletransportar
ondas eletromagnéticas ou partículas em geral. Pelo menos seria bem mais fácil do que fazê-lo com matéria
mais densa. Se o Teletransporte de matéria de Star Trek fosse possível, seria muito simples
criar um sistema deste tipo.
A geração de um campo esférico de invisibilidade seria suficiente para ocultar naves espaciais, veículos
aéreos ou qualquer outra coisa que não tocasse o chão. Mas uma vez que tal contato ocorresse, alguns problemas
devem ser considerados, como por exemplo o local onde os pés de um personagem invisível estão deveria sofrer
algum tipo de efeito, talvez parte desaparecesse, ocasionado "buracos" ilusórios, ou talvez ficasse escurecido.
Porém, mais uma vez, temos de volta outra velho problema persistente. O da falta de visão do interior do campo
de invisibilidade. Como sempre o indivíduo invisível ficaria cego, sem contato visual de tudo o que estivesse
fora de campo. No entanto, esta concepção de invisibilidade permite ao menos atenuar este problema. Vejamos:
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A luz que vem por trás seria transferida pelos portais, imaginando agora não exatamente uma esfera de invisibilidade
mas sim dois planos paralelos que funcionariam como entrada e saída. Dessa forma, toda a imagem que estivesse
por trás da personagem chegaria intacta ao olhos de quem estivesse à sua frente.
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No entanto a luz que vier da frente, representada pelas setas
cianas, seria em parte absorvida e em parte refletida
pelo corpo da personagem, e digamos que ela passe incólume pelo campo frontal nos dois sentidos. Assim, quem
estivesse à frente da personagem veria ao mesmo tempo a imagem dela e de tudo que que estivesse atrás dela,
ou seja, a veria transparente, ao passo que ela não teria a visão afetada.
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Mas agora digamos que ao invés de não afetar a luz da frente, os campos transferissem um para o outro tudo o que os
atingisse de trás para frente. Sendo assim, a luz que viria de frente para trás não seria afetada, chegando intacta
ao olhos da personagem, mas toda luz que corresse no sentido trás-frente, seria transportada pelos portais,
neste caso saindo pelo portal traseiro e sendo detida pelo próprio corpo da personagem.
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O resultado seria uma invisibilidade perfeita. Quem estivesse à frente da personagem não a veria, mas ela poderia
ver tudo à sua frente sem problemas. Mas há outros inconvenientes. Ela por exemplo não veria nada que estivesse
atrás, e não poderia desativar o campo traseiro, pois mesmo que o dianteiro continuasse funcionando, ela se tornaria
completamente negra para quem estivesse à sua frente. Pois os raios que atingiram não voltariam, e isto seria o
equivalente a uma absorção total.
Se fosse criada uma esfera de invisibilidade que permitisse livremente a entrada da luz, mas não a saída,
a visão do ponto de vista interno não seria afetada, mas a esfera seria perceptível, completamente negra
por fora. Como se pode notar fica muito difícil criar um artifício que possibilite a total invisibilidade e ao
mesmo tempo permita a visão.
Uma solução seria criar uma pequena abertura no campo permitindo que a luz chegasse aos olhos, o que os tornaria
visíveis, ainda que discretos. Outra idéia interessante seria que o gerador dos campos, no caso paralelos como no
exemplo logo acima, estivesse localizado na cabeça do personagem, num capacete ou num visor, de modo que acompanhasse
os movimentos do pescoço. Assim ele sempre veria tudo, gerando uma barreira de invisibilidade à sua frente. É claro
que se ele olhasse para trás apareceria para quem estivesse à sua frente. Mas já seria um ótimo recurso tático.
Ou, ainda mais sofisticado seria, se o personagem fosse todo envolvido pelo campo de invisibilidade mas tivesse diante
dos olhos um sistema de duplo portal, que permitiria total entrada de luz e usaria o teletransporte para impedir toda a
saída. A reunião de mais de um recurso, devidamente utilizados poderia resultar na invisibilidade plenamente eficiente.
Uma outra forma de contornar a dificuldade da visão seria que o personagem possuísse recursos de percepção distintos.
Como radar ou captação de frequências infravermelhas. Isso explicaria por exemplo porque o alienígena de "O Predador"
pode ver o ambiente, pois ele enxerga fora do espectro que é visível aos humanos. Bastaria então que o seu campo de
invisibilidade afetasse somente este espectro.
Essa solução já não seria muito viável em naves espaciais, navios ou aviões, pois estes também podem ser detectados
por diversas formas de sensores que operam em outras frequências. Como vemos em Star Trek, isso não ocorre.
A nave fica totalmente indetectável. Mas para isso ocorrer, seu campo de invisibilidade deveria afetar também outras
frequências além do espectro visual e o resultado então seria o mesmo. A nave também seria internamente cega, sem poder
captar nada à sua volta.
A única solução seria que ela pudesse detectar uma frequência exclusiva, não detectável pelas outras naves.
"INVISIBILIDADE" ELETROMAGNÉTICA
Curiosamente, é justamente neste ponto que ocorre uma das mais interessantes falhas conceptivas destes autores de
Ficção Científica. Se estivermos considerando que o personagem pode de fato ficar totalmente invisível, é curioso
que a maioria dos autores não tenham se apercebido dos outros recursos que tal habilidade automaticamente traria.
O personagem seria automaticamente insensível a disparos de LASER por exemplo, que o atravessariam, bem como de
diversas outras formas de energia, uma vez que o calor tenderia a sofrer pelo menos a maior parte do efeito ocasionado
pela luz.
Isso também pode se aplicar no caso do Campo de Desvio de Luz, como muito bem pode sugerir a imagem abaixo.
Notamos que no recente filme dos
4 Fantásticos
, a Mulher Invisível se protege de um disparo do Dr. Destino. Se o conceito
fosse de um Campo Esférico de Desvio, esse seria um recurso automaticamente disponível. Bem como num Campo de Teletransporte,
só que neste último o raio simplesmente sumiria.
É claro que essa idéia não ocorreu aos produtores, podemos ver que o escudo "escora" o disparo como se fosse sólido.
Mesmo porque o campo de força da Mulher Invisível é claramente sólido. Curiosamente eu nunca havia visto uma tentativa
de explicação que justificasse porque os poderes de Invisibilidade e geração de Campos de Força defensivos deveriam
estar associados. E isso ocorre não só na Mulher invisível dos 4 Fantásticos, mas também na Violeta de
Os Incríveis.
Se bem que "Os Incríveis" seja uma paródia dos 4 Fantásticos, por sinal bem aperfeiçoada. Assim como o filme dos
Incríveis mesmo sendo aparentemente "infantil", consegue ser bem mais sério e ter bem mais carga dramática do que
O Quarteto Fantástico, no entanto neste último houve uma vaga tentativa de unificação entre a invisibilidade e
os escudos baseados no conceito de manipulação fotônica. Mas se a invisibilidade de Sue Storm/Sue Richards
ocorresse de fato assim, não haveria justificativa para que qualquer roupa que ela usasse também não fosse
envolvida no campo de invisibilidade, e vemos que ela precisa usar o uniforme especial para ficar totalmente
invisível. O mesmo ocorre com a Violeta.
É possível que originalmente essa estranha associação decorra da mera similaridade visual entre a transparência da invisibilidade
e a transparência dos escudos. Uma idéia meramente estética. Outrora certos mitos antigos consideravam que o Diamante
poderia trazer a invisibilidade.
Mas a capacidade de desviar ou transportar feixes de energia diversos de forma defensiva não são o único desdobramento
para a capacidade de Invisibilidade Fotônica. Se considerarmos que o campo pode afetar além do espectro visível, o que
muitas obras de FC sugerem, não haveria então nenhum motivo pelo qual o personagem invisível fosse obrigatoriamente
detectável pelo Infravermelho. Ele poderia expandir a amplitude de frequências afetadas de modo a escapar totalmente
de qualquer detecção.
Mas é claro que a partir de um certo ponto começaríamos a complicar o conceito, pois se a amplitude de frequências
que o campo possa afetar for muito grande, pode ocorrer de haver outras implicações físicas. Talvez seja possível
até mesmo escapar da ação da gravidade e obter a levitação, talvez ocorra de
se escapar do próprio espaço para uma outra dimensão ou coisa que o valha. Finalmente, poderia se atingir uma
total saída de nosso universo normal.
Se tudo isso é discutível, ao menos é certo que escapar de ação direta da maior parte das ondas eletromagnéticas
seria relativamente simples. Radares seriam afetados pelo campo, bem como sinais de rádio, raios-X e etc. A nave
invisível poderia ficar totalmente incontactável.
Outro recurso interessante da Invisibilidade Fotônica é que ela poderia ser também aplicada a objetos externos.
O indivíduo com o poder de invisibilidade poderia lançar seu campo contra uma parede por exemplo, tornando-a
transparente e obtendo um efeito da "Visão de Raio-X" do Super-Homem. Se quisesse ser discreto para o lado
oposto, bastaria criar os dois portais, um antes e outro depois da parede, que afetassem os raios que viessem
em sua direção. Dessa forma enquanto ele veria perfeitamente o que está do lado oposto, do lado oposto só se veria
uma mancha negra.
Outra capacidade seria a de manipular a cor de objetos. Se ao invés do campo afetar toda a luz visível, afetar
apenas certa parte do espectro, seria possível fazer com que um objeto multicolorido ficasse completamente vermelho
ou azul. Poderia-se também expandir o campo afetando toda a luz visível e escurecer todo o ambiente, causando um
verdadeiro efeito "luz negra", bem como poderia-se usar o campo para enviar a luz de volta no mesmo sentido em que a
recebeu, criando um perfeito espelho. Se o campo pudesse desviar a luz em vários sentido possíveis, poderia-se
criar uma lente que canalizasse luzes intensas na forma de um feixe de calor, ou que funcionaria como lente
de aumento, telescópio, microscópio e etc. Enfim, essa habilidade poderia permitir não apenas a invisibilidade,
mas uma vasta capacidade de manipular a luz.
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Mas é notável que jamais tenha ocorrido aos autores de FC emprestar habilidades similares aos seus personagens
invisíveis, bem como a invisibilidade não faça parte de personagens com poderes de controlar a luz das mais
diversas formas, como a Dazzler/Crystal dos X-Men, ou a Dr. Luz da DC Comics. Esta última, ao lado
direito, até mesmo pode voar. Crystal, à esquerda, chega a obter um dom de invisibilidade, mas por meio de magia,
ou seja, não diretamente associado a seu poder não-místico de controle de luz.
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Isso denota que a maioria destes autores tem tendências muito mais a literatura de fantasia do que a de Ficção
Científica, uma vez que não se preocupam em racionalizar suas criações. Em ciência é comum a busca pela
unificação explicativa dos fenômenos. Um sinal positivo de uma teoria científica é quando ela consegue
reduzir uma série de fenômenos a um denominador comum, que se torna base para entender todos os aspectos do objeto
de estudo. Infelizmente a falta de informação científica ou perspicácia racional de muitos escritores deixa
escapar diversos elementos que poderiam tornar sua criações não só mais interessantes, como mais coerentes, e facilitando
também, entre outras coisas, o trabalho dos mestres de Role Playing Games, que muitas vezes
não tem sobre o que raciocinar para tornar as suas aventuras mais viáveis.
Como escritor de FC, mantive essa preocupação em mente. Um dos resultados é um de meus personagens que pode ser visto em
meu livro virtual ALICE 3947.
UM PROTÓTIPO DE INVISIBILIDADE REAL
Enquanto divagamos sobre as implicações da possibilidade de um sistema de invisibilidade,
cientistas japoneses deram os primeiros passos num sistema primário mas ainda assim impressionante. Trata-se
de um tipo de tecido capaz de refletir um tipo específico de projeção, que não é refletida por nenhum outro
material. Pode ser visto no link
Japoneses criam sistema de "invisibilidade",
e alguns Vídeos com a tecnologia já estão disponíveis em
Optical Camouflage, ou
no Youtube.
Outro breve texto que toca no assunto é
Estudo propõe invisibilidade de objetos, e como se pode
ver, não apresenta uma proposta fundamentalmente muito diferente das citadas aqui.
Já o texto
Invisibilidade: o que é fato científico e o que é ficção científica
possui outras abordagens distintas, embora ao meu ver, algumas falhas.
Em geral sugere-se o uso de superfícies sólidas, e não campos de força, devidamente preparadas para afetar a luz
de alguma outra forma, mas vemos que não é muito fácil ir longe da idéia de que a luz terá que ser desviada,
teleportada, ou talvez submetida a algum tipo de estímulo que a faça passar incólume por um objeto sólido.
Talvez ele pudesse receber um ganho de energia ou uma propriedade de repulsão de modo a avançar pelo objeto se
desviando dos obstáculos, no caso as moléculas, mas sempre seguindo em frente. Todavia preferi não tratar desta
possibilidade anteriormente porque ela me parece bem menos verossímil que as demais, ou muito me engano.
PARA "VER" O INVISÍVEL
Não temos como, por enquanto, tem uma noção real de como funcionaria a invisibilidade, só podemos especular. Foi isso o que
pretendi neste texto. Todavia, esta especulação não teria muito valor se não obdecesse a alguns critérios mínimos de
racionalidade e bom senso, caso contrário não faria sentido produzirmos Ficção Científica ou mesmo Fantástica num nível
de complexidade envolvente. O que nos fascina nestes tipos de ficção é exatamente seu nível de possibilidade. Por vezes
tão bem colocados que nos fazem sentir quase como se fossem reais.
Não é uma tarefa fácil essa racionalização, visto que a invisibilidade é um tema clássico na literatura, inclusive filosófica,
como no caso de Platão, que em seu mito do Anel de Giges analisa as implicações morais que o poder de ser invisível poderiam
acarretar num homem comum, em seu caso sendo as piores possíveis. Tal tema ético não foi meu propósito aqui, embora o seja
em várias outras ocasiões como nas obras de Wells, Tolkien, ou num interessantíssimo episódio da segunda temporada de
Buffy - A Caça Vampiros.
Todos exploraram a idéia de que tal poder levaria seus usuários a atos eticamente discutíveis,
uma vez que a invisibilidade faria aflorar a idéia de impunidade.
São todas ótimas reflexões, mas voltando ao meu ponto, o objetivo deste texto foi verificar as implicações físicas e
racionais deste poder, e se você o leu com atenção, espero que ao menos tenha tido a satisfação de ver respondida uma
questão que me afligiu em certa ocasição da infância, e que esteja em melhores condições do que meu pai que foi
surpreendido pela questão "Um homem invisível pode ver outro homem invisível?", e ao observar que homens
invisíveis não existiam, pressionei-o de novo com a até então insolúvel questão "Mas e se existisse?"