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MENSAGENS PENDENTES
   
          Rodrigo Marques - 1972 - Angra dos Reis-RJ
          Administrador - Cético
549, 556, 602, 603, 605, 606, 614, 620, 649, 656, 667

        r o d m a r q 7 2       y a h o o . c o m . b r
Olá Marcus, depois de um certo tempo, gostaria de voltar a falar sobre certos assuntos de sua página:

Sobre a dúvida do visitante Danilo Galindo de Araújo, sobre se uma estrela poderia orbitar um planeta, deve-se observar algumas condições:

- Para se iniciar a fusão nuclear uma estrela tem de ter pelo menos 81 vezes a massa de Júpiter, então mesmo as menores estrelas jamais orbitariam um planeta, mesmo que ele fosse muito grande como o gigante do sistema solar pois este não teria massa suficiente para gerar um campo gravitacional para mantê-la ao seu redor, imagine então um planeta do tamanho da Terra;

- Abaixo do limite acima seria uma anã castanha que irradia pouca luminosidade avermelhada, possui pelo menos 13 vezes a massa daquele planeta e portanto não orbitaria um planeta mesmo se este tivesse as massas dos quatro maiores planetas do nosso sistema solar juntas;

- No caso de uma anã branca, estas possuem um volume comparável ao da Terra, porém a sua massa é de 0,6 a 1,4 massas solares, as menores anãs brancas também são mais massivas que todos os planetas do nosso sistema juntos (o Sol possui 98% da massa dele), o que inviabiliza esse tipo de estrela de orbitar um planeta;

- O que poderia causar um efeito parecido ao registrado no Conto O planeta órfão seria uma micro estrela, o único problema é que isso não existe...ou nunca foi detectado! Se acontecer talvez vire o conhecimento acima de pernas pro ar...

- Mas mesmo assim, pode-se imaginar uma maneira de uma estrela orbitar um planeta...ou melhor duas estrelas! Se num sistema estelar binário um planeta estiver posicionado exatamente no centro de massa do sistema, as duas estrelas que o formam vão literalmente girar em torno deste mundo, que seria bem diferente do nosso, já que dependendo das estrelas e do distanciamento destas, este mundo poderia muito bem nunca conhecer a noite, estar sempre iluminado e consequentemente seria muito quente, mas no caso de um sistema de uma estrela como o nosso Sol e uma outra mais distante, menos brilhante e menos massiva de modo que o centro do sistema fosse mais próximo da primeira, talvez fosse viável...

- Quanto ao conto em si, existem melhores como Além da Ressurreição e Seculários de um homem milenar, porém ainda é superior a Os Subterrestres, na minha opinião o mais fraco de todos.

- Continuo aguardando as descrições de As Senhoras de TERRANIA, "O Planeta Fantasma" e Viagens no Tempo e Paradoxos Temporais...

Estrelas
Anã Marrom
Anã Branca
Sistema Binário


Muito obrigado e até logo.

Sábado, 8 de Março de 2008
Olá Rodrigo...
Obrigado por mais essa mensagem, onde devo admitir que você está certo. Uma Anã Branca ainda seria muitíssimo mais massiva do que qualquer planeta viável. No entanto, lembre-se primeiro que em momento algum eu especifiquei, no conto, qualquer informação precisa sobre o planeta e a estrela em questão.
Apenas sugeri que imaginássemos os nativos como se fossem humanos, mas fora isso, o planeta poderia ser muitíssimo maior e ter massa muito maior que a terrestre, bem como ainda poderíamos forçar os dados que você mesmo forneceu um tanto mais até chegar a um modelo razoável.
Ainda assim, é certo que seria muito difícil viabilizar um planeta sendo orbitado por uma Anã Branca, ao menos como a consideramos.
No entanto, poderia ser sim uma Micro estrela, e o fato de isto nunca ter sido detectado ou não existir de certo não seria um problema, considerando o fato de que 90% de tudo o que escrevo eu meus contos de FC não existir. Ademais, veja a notícia Smallest Star Ever. Foi detectada uma estrela apenas 16% maior do que Júpiter, e com cerca de 96 vezes sua massa.
Ora, isso dá cerca de 30 mil vezes a massa da Terra, embora segundo a Wikipédia, uma Anã Branca teria no mínimo 170 mil vezes. Portanto, essa descoberta de 2005 já estica bem mais os limites em questão, sem falar que se o Planeta Errante tivesse, digamos, 10 vezes a massa da Terra, a diferença de proporção já cairia para 3 mil. E assim, vamos forçando os números cada vez mais.
No fato, minha idéia original realmente previa que o O Planeta Órfão seria muito maior que a Terra, visto que isso seria necessário para viabilizar o que eu tinha em mente na segunda parte.
Outra idéia que já me havia ocorrido é que a estrelinha em questão não seria de fato uma estrela, mas um fenômeno atmosférico similar a uma Lightining Ball de longuíssima duração.
Trata-se de um fenômeno ainda não compreendido, sujeito a várias teorias ousadas. Em geral são "relâmpagos" em forma de globo que podem queimar e se mover por vários segundos. Poderia, então, ser um tipo de acúmulo gigantesco de gases na alta atmosfera que teriam se inflamado e se tornado um tipo de tempestade elétrica perpétua, girando indefinidamente em torno do planeta.
Cheguei a pensar também num tipo de cometa contendo materiais inflamáveis, como altas doses de hidrogênio, que teria entrado na atmosfera e se acendido com o choque, de modo que a combustão ao lhe forçar para cima, e a gravidade para baixo, o manteria perpetuamente em "órbita" tangenciando uma parte mais fina da atmosfera.
Tudo isso seriam hipóteses sobre as quais eu teria que me dedicar melhor para dar uma explicação verossímil, mas na realidade, nunca tive muito essa intenção no conto. Também não se deixe enganar pela animação no cabeçalho, pois está não pretendeu ser uma retratação fiel de uma concepção devidamente definida.
Obrigado por sua breve avaliação dos contos. É interessante saber quais são preferidos, embora eu ache um problema avaliar o O Planeta Errante visto que ele nunca foi concluído.

Quanto ao Planeta Fantasma, o que está me segurando é, em parte, porque estou engalfinhado no desenvolvimento de uma teoria decente do Hiperespaço, já o que falta em Viagens no Tempo e Paradoxos Temporais em boa parte já foi dito nos Crononautas, e talvez eu possa apenas remodelar e colocá-lo com alguns acréscimos para finalizar o texto.
Obrigado.
Amigavelmente
30 de Agosto de 2008
   
          Gustaf Dantas Bitencourt Florencio
     1985  -  Natal-RN
Estudante Universitário
449 517 527 546 576 591 607 654
g u s t a f d a n t a s       h o t m a i l . c o m  
Olá, Marcus.
Dando continuidade a nossa discussão iniciada no último meu último post.
Embora não tenha ficado explícito, queria dizer que a minha intenção não era defender a doutrina liberal, até porque não sou um liberal (eu seria um “rawlsiano” ou um “seniano”, mas tenho admiração pela filosofia política de Hayek). A questão que quis tratar é a maneira como se faz as críticas a ela baseada em visões que você vê por aí, por exemplo, em artigos de sites toscos como o Mídia Sem Máscara. E também acho que o PSDB e o DEM estão tão próximos do “liberalismo econômico pragmático” quanto a Terra está de Plutão, mas isso não vem ao caso agora.
A questão da regulamentação não é um problema na economia capitalista. Obviamente, você não pode obrigar todo cidadão a virar um especialista em brinquedos para que o brinquedo que ele compra para o filho pequeno não apresente nenhum risco de acidente para o mesmo. É para contornar a assimetria de informação que existem os órgãos reguladores e os certificados de qualidade, coisa que até Hayek defendia, como você viu na citação posta na mensagem 654.
A questão do intervencionismo não é um problema na economia capitalista. Com ou sem intervencionismo, uma norma de conduta deve ser JUSTA. Isso ocorre apenas quando escolhemos as regras com princípios de justiça que definem limitações de modo que, de uma maneira geral, as pessoas que participam da sociedade não tenham queixa contra elas. Como diria Hayek em “Direito, legislação e liberdade”: “Deveríamos considerar como a ordem social mais desejável aquela que escolheríamos se soubéssemos que nossa posição inicial seria nela decidida exclusivamente pelo acaso.” Ou seja, as normas devem ser feitas de modo que todos pudessem levar em conta ao fazer seus planos. Indivíduos na “fase constitucional” iriam votar em medidas que possa prejudicá-los no curto prazo, porque tais leis provavelmente durarão muito tempo. Para a abordagem das expectativas racionais funcionar, a racionalidade teria que garantir que, dado um objetivo, o indivíduo consegue calcular como atingir esse objetivo. Problemas cognitivos associados à incerteza sobre que posição ocupará na sociedade num futuro distante tornam possível a escolha de regras adequadas. Dizer que quanto mais “pró-ausência de coerção” é uma pessoa, mais de “pró-indivíduo” ela pode ser tachada é considerada uma idéia errada até mesmo na doutrina liberal. Esse assunto já tratei num tópico que pus lá no fórum do “Religião é Veneno”:
Já o seu exemplo da proibição da migração da fábrica viola claramente o princípio de normas de conduta justas em uma sociedade. O problema ocorre quando as ações do governo não se tornam previsíveis para os agentes econômicos. Se você pensa que uma empresa qualquer deveria ser proibida de migrar porque isso seria de interesse de qualquer indivíduo ao fazer seus planos em uma fase constitucional construída sob “véu da ignorância”, então deveria levar em conta o obstáculo intransponível que as empresas relutariam em instalar uma fábrica num país onde o fluxo de capital fosse proibido em circunstâncias onde a questão do “socialmente desejável” prevalecesse. Como a última questão é levada em conta, é comum não existir a restrição sugerida em seu exemplo em qualquer país sério.
Conseqüentemente, uma defesa bem sucedida do “império da lei” deve ser intransigente e não fazer nenhuma concessão ao “império das circunstâncias”, mesmo onde é possível mostrar que, além dos efeitos benéficos conhecidos, algum resultado prejudicial particular possivelmente se seguiria aos efeitos benéficos. Ela prevalecerá somente se aceita como um princípio geral, cuja aplicação aos exemplos particulares não exija nenhuma justificação. Pois, caso contrário, poder-se-ia chegar ao ponto em que a lei passaria a servir como forma de concessão de benefícios particulares previstos para pessoas particulares, necessariamente usando os cidadãos como meros meios para seus fins, como já ocorre no Brasil no mercado de crédito: “A politização da Justiça, ao contrário, manifesta-se muitas vezes na tendência de alguns magistrados em proteger grupos considerados a parte mais fraca nas disputas levadas aos tribunais, de tal modo que, levados a optar entre o respeito aos contratos, independentemente de sua repercussão social, e sentenças que, violando os contratos, buscam justiça social, escolhem a segunda alternativa. Pesquisa realizada por Pinheiro (2001) mostrou que 73% dos juízes escolheriam a segunda alternativa.”
Veja como o canibalismo moral ocorre em nome da “justiça social”. Os bancos freqüentemente operam com uma margem maior nos juros de empréstimos, porque repassam aos devedores menos arriscados o prêmio de risco que procura considerar as chances de determinado grupo de tomadores não honrar suas dívidas. No final das contas, os bons devedores são utilizados como meros meios para se fazer “justiça social”, sem que quaisquer satisfações lhes sejam dadas.
Quanto a questão de dizer que “capitalismo é auto-destrutivo”, essa é uma frase fora-de-moda, não acha? Os economistas importantes que tiveram influência nas políticas públicas dos países há tempos reconheceram o papel do Estado no amortecimento dos ciclos econômicos. No manual do Sachs e Larrain que uso universidade, eu peguei o dado que indica que, entre 1854 e 1938, a economia dos EUA esteve em fase de contração 45% do tempo; entretanto, entre 1945 e 1989 isso ocorreu em apenas 26% do tempo. Além do mais, a volatilidade das flutuações econômicas diminuiu. Apesar disso, a economia americana viveu uma de suas fases mais prósperas justamente na época em que foi a nação mais se aproximou do modelo de Estado Mínimo. Certamente havia muitas flutuações, mas o país...
Continuação da Mensagem - Segunda Parte
...norte-americano jamais deu sinais de se dirigir a “auto-destruição”. Nem antes e nem agora. E como um país que ainda tem a quarta maior renda per capita do mundo pode está se dirigindo a decadência?
Quanto a estagnação da Europa, eu deveria alertá-lo para os perigos da falácia “post hoc”. Basicamente, se você perguntar a um articulista liberal típico do Mídia Sem Máscara sobre o porquê a Europa cresceu tão pouco nas últimas décadas, ele dirá que é causa do excesso de impostos, leis trabalhistas, benefícios sociais, burocracia e dirigismo estatal. Afinal, quem tem razão, você ou ele? Para mim, parece que, de uma forma geral, as tendências macroeconômicas vigentes pouco depois da segunda crise do Petróleo e as respostas das políticas com rigidez excessiva no contracionismo fiscal e monetário, aliado ao fenômeno da “histerese” (ver este artigo que trata desta hipótese) foram as maiores causas da onda de estagnação e desemprego que assolou os países da Zona do Euro durante as décadas de 80 e 90.
Ainda assim, não se pode usar o liberalismo como bode expiatório. A Irlanda é o país com menor carga fiscal da Europa Ocidental e, segundo o Almanaque Abril 2003, cresceu 7,3% de 1990 a 2000. E dentre os países que ainda sustentam um taxa de crescimento de 3% do PIB e desemprego baixo, estão países que fizeram reformas liberais recentemente, como Espanha, Reino Unido, Dinamarca e Suécia.
Isso me faz lembrar muito o caso da acusação de que o neoliberalismo seria o responsável pela estagnação da América Latina na década de 90, quando na verdade o país que mais esteve próximo dele no período (Chile) foi o que mais cresceu. E se é verdade que países nada liberais como China e Índia crescem a patamares surpreendentes, também é verdade que Hong Kong e Cingapura sustentam uma taxa de crescimento acima de 6% nos dias de hoje.
Dito isto, espero contribuir mais uma vez neste espaço, possivelmente fazendo uma resenha sobre “Liberdade e igualdade”.
Terça, 29 de Julho de 2008
Prezado Gustaf...
Antes de tudo, me desculpe por fazê-lo esperar um mês. Estou dando aulas de Introdução a Filosofia na UnB e isso está me tomando um tempo maior do que eu esperava.
Agradeço mais uma vez por sua contribuição, e nada tenho o que observar nos primeiros parágrafos. Vejo, porém, que você está entusiasmado com Rawls e sua noção de estado inicial. Observe que a Teoria de Justiça de Rawls é um contratualismo, que utiliza um "mito" fundador como sistema de fundamentação justificatória. Nem de longe, isso esgota o que podemos entender como justiça, e parece-me que você colocou confiança demais nesta teoria rawlsiana nos parágrafos seguintes.
Meu exemplo da fábrica, poderia violar essa concepção de justiça a qual você se referiu, mas acho que nem isso acontece de fato. PRIMEIRO, você teria que demonstrar que a instalação de transnacionais para exploração de mão de obra barata é necessariamente boa em qualquer situação. E aposto que se tentar fazê-lo, vai descobrir que não é tão fácil assim. SEGUNDO, mesmo que seja, a própria "Posição Inicial" de Rawls, com o devido "Véu de Ignorância", poderia concluir que não necessariamente todos concordariam numa situação onde um grupo A, que viria a estar em posição de vantagem, pudesse legitimamente gerar oportunidades para um grupo B, em desvantagem, sabendo que num momento indefinido tais oportunidades seriam subitamente retiradas resultando num inevitável dano a esse grupo B.
Uma coisa eu concordo, se a transnacional oferecer um prazo previsto de funcionamento e deixar claro como se dará sua remoção, então eu não veria problema algum, no entanto, ela tende a se retirar justo num momento onde o local estivesse dando sinais claros de desenvolvimento, o que implicaria na elevação dos salários e do custo de produção, mas momento este de difícil previsão de longo prazo. A simples ameaça da retirada já transformaria o local em área de investimento de risco. Você investiria em Flint sabendo que em breve a GM abandonaria a cidade? Assim, a própria perspectiva de desenvolvimento já fica prejudicada, e caso tal desenvolvimento ocorra, tende a ser duramente freado pela saída da transnacional.
Não fui bem claro ao dizer que o Governo deveria impedir a saída 654. De fato dei a impressão que necessariamente ele usaria a força bruta. Nesse sentido, foi uma forma desastrada de expressão. Quis dizer que o governo deveria intervir para evitar a remoção, o que poderia até ser feito por meio de insenção de impostos, subsídios, empréstimos ou outros recursos. Mas mantenho que em casos extremos a estatização seria uma opção sim! Embora não ache que seja o caso atualmente do Brasil. Mas pense se não poderia ser o caso da China?
Notei que na sua pressuposição de justiça, parece haver um local privilegiado para o neoliberalismo, como se a defesa das grandes corporações fosse uma obrigação inerente de qualquer concepção social. Ora, mas embora seja exatamente isso que tende a acontecer, quem disse que tenha que ser assim? O fato de condenar ações de justiça social por estas poderem gerar retaliações dos grupos poderosos imediatamente prejudicados é basicamente uma petição de princípio. Seria como afirmar que devemos permitir o crime organizado por que combatê-lo o faz reagir de forma mais violenta. É claro que tal combate tem um custo alto, mas não fazê-lo seria deixar a sociedade se auto...
...destruir.
É como eu disse em Igualdade e Liberdade, a luta pela Igualdade Social inevitavelmente onera toda a sociedade. Todo mundo tem que pagar por um mundo melhor e mais justo, diferente de um mundo degenerado que costuma sair de graça, pelo menos a primeira vista, para muita gente sem uma visão mais ampla.
E esse melhor e mais justo evidentemente implica uma sociedade onde ao menos ninguém tenha que se por, por falta de opção, em condição de auto degradação humilhante para sobreviver, que é, convenhamos, o que de fato sempre aconteceu.
Dê mais ênfase ao teor utilitarista da obra de Rawls e veja que um bem estar médio para todos sempre será melhor que um bem estar máximo para uns e mínimo para outros, até mesmo pelo Princípio de Optmização de Pareto. Por isso mesmo, devemos convir que uma sociedade onde todos estão num nível médio é mais justa do que uma onde uma minoria está no máximo e uma minoria está no mínimo por falta de opção. Repito, como já disse no texto acima citado, isso não seria problema se fosse fruto de escolha, mas é evidente que não é.
Se a defesa do Império da Lei não devesse ceder às circunstâncias, então não haveria necessidade de juízes nem intérpretes, pois bastaria a aplicação literal das leis aos casos particulares. Como tal é impossível, não temos outra escolha a não ser submetê-las aos contextos envolvidos. Ademais, no caso do Brasil, o sacrifício do privilégio dos já privilegiados em prol da justiça social tem amparo constitucional, e assim, faz parte do Império Legal.
Permita-me uma brincadeira, mas, com o perdão do trocadilho, vou reescrever o início de seu parágrado da linha 80 da seguinte forma: veja: Como o canibalismo moral ocorre em nome da “justiça social”.
Realmente ficou parecendo coisa da revista Veja. Não vejo exemplo maior de "canibalismo moral", se isso faz sentido, do que o estado existir para proteger os interesses dos grupos poderosos, que por sinal já são capazes de fazê-los por si próprios, mas para maximizar seus lucros, ainda querem que o estado se encarregue de defendê-los. Acho muito irônico que os setores da sociedade que mais espantosamente lucram, anos-luz acima de tudo e todos inclusive grandes empresas, lamentem que estejam sendo vítimas de pessoas que não "honram suas dívidas", que certamente na quase totalidade dos casos são consumidores de baixa renda sem condições de saldá-las. Não é engraçado que os pobrezinhos dos bancos precisem de proteção contra isso?
E como eu já disse várias vezes, que os bons cidadãos paguem pelos maus não é algo que ocorra no final das contas, mas também no início e no meio, pois uma das maiores imutabilidades da civilização humana é que os virtuosos paguem pelos viciosos. Já é um progresso que os mais ricos comecem a pagar pelos mais pobres, independente de virtudes ou vícios.
O fato de uma frase estar fora de moda não implica em sua falsidade, e muito menos ser o "Mantra do Momento" contribui para sua veracidade. Obrigado por me poupar o trabalho de ter que demonstrar a afirmação da auto destrutividade do capitalismo, que como você bem colocou, só se sustenta por meio de intervenção estatal.
E eu jamais disse que os E.U.A marcham para a auto destruição, quem sugeriu isso foi a Veja, na reportagem que analisei em Herois Capitais. Mesmo porque, sendo a grande nação que é, os EUA sobreviveriam e prosperariam mesmo na remota hipótese de deixar de serem capitalistas, se é que isso faz sentido. Mas insistindo nesse mesmo texto, ninguém até agora parece ter dado mais atenção ao fato de porquê os E.U.A enfrentam sua atual crise, do que ao fato de que há países emergentes que podem vir a ser-lhe o fiel da balança. E nem toquei no fato de que em 1945 os EUA haviam acabado de ganhar a Segunda Guerra Mundial. Se não prosperassem depois disso...
Concordo que não é o caso de culpar o liberalismo. Mas os excessos, quer sejam liberais ou progressistas. Mas por ter falado em post hoc, convido-o a refletir sobre o, conceito supracitado, "Mantra do Momento", o Crescimento Econômico.
Você deve ter notado que esse assunto veio à tona às vésperas das útimas eleições, pois eram o único dado numérico que podia ser usado pelo oposição, mas até agora, ele não saiu de moda. Não se fala em outra coisa que "índices de crescimento econômico". Ninguém, porém, parece se tocar de que, se é verdade que ao se desenvolver um país certamente apresentará crescimento econômico positivo, a recíproca não é verdadeira, pois um país pode perfeitamente apresentar um índice de crescimento econômico que não reflete um real desenvolvimento.
As evidências já foram nos dadas generosamente, ainda que de modo não intencional, pelas intensas e criteriosas pesquisas que diversos economistas fizeram aos mostrar hostes de países com índices de crescimento superiores ao do Brasil, mas que não se comparam ao nosso desenvolvimento global. Mas basta um exercício simples de imaginação para perceber que apresentar um índice de crescimento econômico vistoso, no caso visto como um aumento dos investimentos e do PIB de um certo país, ou local, não tem que necessariamente produzir um real desenvolvimento global do país.
Se um país qualquer receber uma alta dose de investimento, e utilizar os recursos na compra de maquinário industrial, principalmente se for estrangeiro, promovendo drástica automação, poderá tranquilamente aumentar sua produção largamente, e suas exportações, ao mesmo tempo que aumenta radicalmente o desemprego. Isso poderá lhe render um belo índice de crescimento para ser exibido e esnobado ante países com crescimentos mais lentos mas mais estáveis. É claro que nesse caso o crescimento será temporário, e seguido de uma inevitável desaceleração. Mas as estatísticas que encheram nossos olhos nos últimos anos, em sua maioria, não se preocuparam em detalhar em que condições tais crescimentos se deram.
O que quero dizer é que uma imprudência se aferrar aos índices de crescimento como se eles fossem prova do desenvolvimento global de um país, que no caso, estou considerando como geração de empregos, redistribuição de renda, estabilidade econômica e sobretudo qualidade de vida. Uma expressão que parece ter desaparecido dos noticiários recentes, provavelmente porque os países que ainda lideram essa taxa não serem muito expressivos no quesito crescimento econômico.
Mais uma vez voltando ao texto Herois Capitais, recomendo cautela ao se deixar seduzir pelo discurso de que as reformas liberais são as responsáveis pelo sucesso dos países citados, o que inclui até países famosos pela política do Estado do Bem Estar Social, que é inevitavelmente uma tendência progressista típica da Social Democracia.
Isso, é claro, repito, não é culpar, ou demonizar o liberalismo, ou o capitalismo. Eu também já deixei isso claro em mais de um texto. Trata-se de, apenas, não "angelizá-los", vendo-os como se fossem as maravilhosas soluções que vão resolver todos os nossos problemas por mãos invisíveis, e ainda por cima como se fossem a garantia de implementação do paraíso na Terra.
É claro, porém, que uma coisa tem que ser dita.

Há uma deficiência insanável no discurso Neoliberal, especificamente. Uma vulnerabilidade que jamais permitirá que ele tenha esperanças de consenso. É simples. Se é discutível que políticas neoliberais sejam benéficas para toda sociedade (é possível, mas não certo), por outro lado, é totalmente fora de dúvida que elas são EXCELENTES para as parcelas mais ricas da sociedade. Tanto para os grandes empresários quanto para os grandes consumidores.
Assim, é absurdo não esperar que o discurso neoliberal sempre soe suspeito, pois por mais bem intencionado que pareça, ele não seria nada diferente de um discurso que tivesse como única intenção o enriquecimento ainda maior dos segmentos sociais mais privilegiados.
Diante isso, jamais seria uma surpresa que os discursos neoliberais fossem largamente difundidos e vendidos como as soluções ideais mesmo que fossem o absoluto contrário disso, pois o dinheiro compra qualquer coisa, inclusive os melhores economistas, sociólogos e articuladores.
Por isso, desconfie, mesmo quando o discurso seja defendido por estudantes pobres ou pessoas sem nenhuma perspectiva de enriquecimento. O maior mérito memético de um sistema de pensamento é sua capacidade de penetração mesmo nas mentes que lhes sejam menos naturalmente aliadas.

É claro. Muito ainda tenho que pesquisar sobre tudo isso, e tenho andando meio sem tempo. Em especial, tenho ficado cada vez mais intrigado por uma certa questão e talvez você possa me ajudar. Trata-se de nada menos que o conceito de Capitalismo, que tem sido cada vez mais, me parece, usado de um modo desprovido de significado. Noto que atualmente toda e qualquer referência a mercado, comércio, atividade econômica, enriquecimento e seja lá o que for tem sido cada vez mais igualizada com a pura expressão do capitalismo. Vejo que o próprio Liberalismo Econômico tem sido confundido com Capitalismo, e vejo crescer a noção de que o capitalismo é um sistema "natural" de liberdade econômica, o que o torna indistinguível de qualquer atividade comercial.
Sendo assim, o que diabos afinal se tem entendido como Capitalismo?!
Vejo que termos como Neoliberalismo fazem sentido, e denotam políticas e atividades econômicas claras, termos como liberalismo econômico, evidentemente, também. Mas se Capitalismo for simplesmente idêntico a isto, então seria um termo totalmente dispensável, usado por seus críticos apenas como um rótulo para denegrí-lo, e por seus defensores como uma palavra vazia e vulnerável.
Se for, como pretendem alguns, o mero resultado espontâneo das trocas comerciais em si então o mundo inteiro sempre foi capitalista e toda discussão dos últimos séculos não parece fazer sentido algum. Pessoalmente, também não creio que se possa entender capitalismo no mero sentido marxista, que me parece adequado apenas para seu contexto de época, visto que não descreve o capital financeiro atual.
E enfim, se for este último, como acho que deve fazer mais sentido, fica completamente incompreensível vinculá-lo a uma atividade produtiva quando a mais notável característica do mercado financeiro é sua capacidade de "criar" dinheiro virtual por meras flutuações especulativas abstratas.
Realmente tenho pensado que o termo não faz mais sentido, ou que não haveria um oposição entre Capitalismo e outros sistemas de produção, mas sim entre tipos de Capitalismo.
O que acha?
Amigavelmente

29 de Agosto de 2008
   
           Edson de Oliveira Ataide Júnior - 1980
      Rio de Janeiro-RJ    -    Professor de Matemática
672, 669, 666, 662, 658, 650, 641, 638, 634, 477
467, 463, 455, 453, 451, 444, 414, 397, 376
    e d o l a t j r       g m a i l . c o m
Olá Marcus!
Devo discordar do seu primeiro parágrafo. Afinal, poderíamos estar falando sobre uma final de Copa do Mundo, onde haveria um único vencedor. O desejo de vencer denotaria busca, ousadia e coragem, enquanto o medo de perder fuga, timidez e covardia.
O caso em questão é que quase sempre o que se verifica é o “medo” atuando como máscara ou pano de fundo para aquilo que as pessoas chamam de “desejo”. Essa relação soa como mais intensa como norteadora das ações humanas. Não estou exaltando esse ponto de vista, nem o considero inevitável.
Ao meu ver existe uma relação bastante clara entre a sensação de plenitude e a desconsideração meta-existencial, não no sentido de negar a meta-existência, mas no de não cogitar essa possibilidade, não pensar nisso. Em momentos de plenitude a sensação é de eternidade, onde poderíamos citar o orgasmo como exemplo. O mesmo ocorre com explosões de alegria e entusiasmo de qualquer espécie.
Evidentemente que se é possível atingir uma sensação de plenitude ou eternidade por outros meios, mas não é necessário. Além disso, existem diferenças qualitativas.
No budismo, por exemplo, a sensação de plenitude ou eternidade deriva da negação do desejo (ou apego a um desejo de extinção), proveniente de pessoas de notável sensibilidade, mas sem força necessária para o aperfeiçoamento decorrente da vitória sobre a dor mediante seu confronto direto.
Quando falo “realidade”, refiro-me ao mais concreto e palpável aos nossos sentidos. Uma “realidade” além dessa poderia existir, mas para ser levada a sério deveria ser comprovada sua acessibilidade. E mesmo que tivéssemos algum acesso a uma outra “realidade”, haveria a necessidade de saber se tal acesso nos seria útil. Talvez seja a mesma utilidade de se resolver questões matemáticas complexas apenas com base num profundo conhecimento gramatical.
Para mim, é perfeitamente possível ter amor-próprio sem considerações meta-existências. Basta que o indivíduo tenha seu foco direcionado para questões terrenas, buscando explicações para os fenômenos sem apelar para o além. O que mais se verifica é o amor-próprio vinculado a uma realidade falseada, volatilizada ou negada, devido à inadequação dessa “realidade” mais concreta e palpável. Seria um amor-próprio dissociado de uma base mais “real”, o que comprometeria sua autenticidade.
Por tudo que já discutimos até hoje (isso já faz anos), suponho que você seja uma pessoa generosa.
O problema do generoso estaria na tendência que se tem em fazer concessões indevidas. Quando um generoso diz não, por exemplo, e imagina que isso provocou dor na outra pessoa, tende a ceder dizendo sim, mesmo contra sua vontade. Não estou dizendo que você aja assim, pois através de um bom caráter e inteligência se é possível manter o “não”, onde uma instância racional prevaleceria sobre determinadas inclinações. Se você consegue se identificar com esse tipo de tendência (mesmo que não ceda a ela), é porque você se encaixaria, segundo Gikovate, no perfil do generoso.
Haveria também uma tendência, aos que possuem esse perfil, de se sentirem envaidecidos com suas boas ações. Esse reforço da vaidade intensificaria ainda mais a conduta generosa (claro que já não mais tão generosa).
Segundo Gikovate, os generosos estariam mais próximos da justiça (dos justos), a partir do momento que conseguirem vencer o obstáculo da culpa indevida e do controle da sua vaidade derivada de suas boas ações.
Buscar harmonia com outra pessoa, como você diz, somente um generoso pode querer. Jamais um egoísta. O que aproxima o generoso ainda mais da justiça. De qualquer forma, a justiça (o mundo dos justos, segundo Gikovate), estaria além dessa dualidade egoísmo e generosidade, além do mal e do bem. Ou, num linguajar nietzscheriano, “para além do bem e do mal”.
O egoísta seria o indivíduo com baixa tolerância as frustrações e contrariedades da vida. Não se coloca no lugar do outro, pois isso implicaria em dor psíquica, algo que o egoísta evita ao máximo. Por ser incapaz de se colocar no lugar do outro, não sente culpa (embora faça uso dessa palavra). O egoísta não ama e só quer ser amado. Possui uma profunda baixa-estima, mascarada pela venda de uma falsa imagem (procura mostrar aos outros uma coisa que na realidade não é). É naturalmente mentiroso e manipulador, pois não se sente culpado por isso. E quando faz alguma coisa errada, tende a culpar o outro. Não guardam mágoas também. Quem guarda mágoa é quem apanha. Quem bate esquece.
Normalmente um egoísta está acoplado a um generoso, pois dois egoístas acabam em porrada. O ideal seria, obviamente, um relacionamento entre dois generosos, mas infelizmente tais relações são raras, pois é comum o generoso sentir um certo fascínio pelo teatro montado pelo egoísta. Parece que são pessoas que estão sempre de bem, gozando dos prazeres da vida, felizes e sorridentes. É um verdadeiro circo (ou armadilha), mas que quase sempre seduz o generoso.
E assim se formam os casais, em quase todos os casos...
Provavelmente sua esposa seja o oposto de você. O primeiro filho seria mais ou menos livre para optar por um ou outro modelo. Ou generoso ou egoísta. O segundo filho já não teria tanta liberdade assim e tenderia a ser o oposto do irmão (ou irmã).
Agora, se sua esposa for igualmente generosa, pode ficar tranqüilo (ao menos de acordo com Gikovate). Segundo a experiência clínica dele, dos seus mais de 7000 clientes, ele só verificou que mais ou menos 5% dos casais são constituídos entre dois generosos.
E 100% dos filhos se tornam pessoas legais...
Um grande abraço;
Edson Jr

Domingo, 6 de Julho de 2008
É porque agora realmente fez diferença. Você tinha dito "...um time que QUER ganhar e outro time que NÃO QUER perder...", oposições entre desejo positivo e negativo, agora, já falou no "desejo" em oposição ao "medo". Aí é claro que é diferente! É preciso ter cuidado com as palavras, pois elas, por serem nosso veículo não só de comunicação, mas também de pensamento, podem nos criar armadilhas.
Tal oposição também não funciona no budismo, pois como você notou, o desejo pressupõe o medo, que lhe é estruturante, e não oposto.
Já concordei que a fuga da realidade, em geral devido ao sofrimento, pode levar à consideração metafísica, e possivelmente isso seja até majoritário. Não nego a relação, só nego que ela seja necessária. Da mesma forma, evidentemente existe relação entre uma plenitude existencial e desconsideração meta existencial, relação esta demonstrada pelo simples fato de que os locais do mundo com maior nível de qualidade de vida são justamente onde menos existe religiosidade. No entanto, mais uma vez, tal relação não é necessária, pois a religiosidade apenas é reduzida, e não inexistente.
Expliquei minha idéia na Mensagem 674, a partir da linha 52. Agora vou dar uma ampliação ao tema.
Existe uma inegável escala de necessidades humanas, que vão despertando a medida que as anteriores, e mais básicas, sejam satisfeitas. Num nível mais primário, temos necessidade de alimento, agasalho e abrigo. Na escassez deles, moveremos todos os nossos esforços no sentido de obtê-los, e dificilmente sobrará espaço para considerar algo além.
Com tais necessidades satisfeitas, podemos nos dar ao luxo de selecionar o quê comer ou vestir, e passamos a necessidades mais elevadas, de ordem interpessoal. Carinho e demais satisfações estéticas podem agora ser buscadas, estando associadas também ao impulso reprodutivo. E a medida que vamos conquistando mais e mais graus de satisfação, a tendência é o surgimento de necessidades cada vez mais sofisticadas.
Porém isso se dá de diversas formas, uns querem apenas usufruir de confortos sensoriais, outros querem apreciar artes específicas, alguns sentem necessidade de realizações sociais como fama e liderança, outros de realização intelectual.
Tais necessidades superiores podem vir de modo separado ou misturado, mas o fato é que muitos chegarão a um ponto onde o mundo físico não seja suficiente para todas as suas aspirações. Podem então buscar os desafios da imaginação, da ficção, das fantasias ou da transcendência.
Antes de prosseguir, devo só lembrar que essas escalas de necessidade não estão diretamente associadas ao sucesso econômico, caso contrário haveria um padrão claro nas atividades das pessoas mais ricas, e é evidente que não há, além do fato óbvio de todas poderem se dar a luxos materiais.
Em qualquer segmento sócio econômico onde haja satisfação plena das necessidades básicas, as demais necessidades podem surgir de modo distinto, ou podem até não surgir. No meu caso por exemplo, tenho aspirações que tendem a estar além das possibilidades do mundo. Claro que ainda poderia satisfazer desejos de ordem mais elevada se tivesse mais dinheiro, mas isso não elimina as necessidades que já tenho. Mais uma vez, a simples riqueza não torna a pessoas previsíveis em suas necessidades superiores, ou não haveria milionários atrás de gurus religiosos, esportes radicais ou obras de arte caríssimas.
Num contexto ideal, a busca pelo transcendente só deveria ocorrer àqueles que estão devidamente satisfeitos com a maior parte das possibilidades do mundo, de modo que seu ensejo metafísico ocorreria pela percepeção de que o mundo não é o bastante. Por mais ricos que sejamos, não estamos em condições de viajar para outros planetas, saltar para o passado, ser imortais ou realizar certos tipos de façanhas. Assim ocorreu no surgimento da Filosofia, onde filósofos abastados se interessaram por problemas transcendentes, e criaram de fato a Metafísica. Não havia na maioria deles carências vitais, até pelo contrário.
No contexto real, tal busca deveria estar melhor associada a uma superação de certas dificuldades conceituais, e ou ao desejo de amplitude mental, e pode e deve ser relacionada com uma forma de desafiar mistérios existenciais invencíveis.
Infelizmente temos em larga escala a relação que você apontou, pessoas que buscam o transcendente por carência imanente. Ou seja, não por necessidades superiores, mas inferiores. Nos casos piores temos aqueles que abraçam tal busca pela falta de satisfação de necessidades primárias. Mas nos casos melhores temos aqueles que fizeram como Buda, que abraçaram a busca transcendenteal pela compaixão ao semelhante, mesmo sendo materialmente ricos.
E também temos aqueles cujas necessidades intermediárias como riqueza, liderança, ou aceitação social sofram dificuldades, em especial essa última, na parte interpessoal. Aqueles que buscam compensar sua dificuldade de relacionamentos com religiosidade costumam ter problemas sérios, embora por vezes encontrem soluções que tornem suas vidas melhores. Isso com frequência acontece, e então, a única coisa a se lamentar são os efeitos colaterais, quando houver. E é nesse ponto que podemos entrar no tema do egoísmo.
O problema, é que tenho certeza de que numa relação egoísta e altruísta, ambas as partes irão se considerar altruístas. E o pior, se alguém admitir o egoísmo, é mais provável que seja o altruísta! E Pior Ainda, provavelmente ESTARÃO CERTAS!
É a principal falha desse tipo de dicotomia é supor que os papéis previstos serão representados integralmente por cada pessoa, quando na realidade as pessoas apresentarão ambas as tendências, egoísmo e altruísmo, de acordo com as situações, e nas relações problemáticas normalmente se estabelece uma dinâmica de polaridade. Quando uma está cedendo, o outro está tomando, o que não seria maior problema se tal tendência fosse regular e equivalente, mas normalmente não é, há um desequilíbrio progressivo até que ambas as partes assumam a postura egoísta, e aí vem o conflito, que se prolongado, ou frequentemente repetido, tornará a relação doentia.
Por isso, embora eu tenha certeza de que muitos me considerariam a parte altruísta da relação, sei que também sou egoísta em diversos aspectos, e creio que a maioria dos casos seja assim. A grande diferença, e que talvez o altruísta tenha mais facilidade em admitir isso.
A minha pequena experiência pessoal, já tenho duas filhas de 12 e 10 anos de idade, já são suficentes para atestar a não universalidade do sistema de Gikovate, fora outros exemplos próximos, e minha pequena experiência com Teorias de Personalidade também mostram que embora tenha algum charme, tal sistema não é superior à maioria dos que já tomei conhecimento.
É certo que não o examinei a fundo, mesmo assim, recomendo que você não se empolgue tanto. Procure outras teorias, mesmo em livros populares, e achará outras idéias interessantes.
Em especial, evite utilizar o rótulo de egoísta da forma tão hostil. Não creio que tais pessoas mereçam de fato uma classificação tão depreciativa, pois o sistema fica quase maniqueísta. Em geral são pessoas que sofrem de problemas reais, podem ter sido vítimas de traumas, e não conhecem outra forma de viver.
Acho que elas precisam mais de compaixão e auxílio, do que de teorias que as coloquem em situação pior do que a que já estão. E é claro, um boa dose de terapia e talvez algumas conservas duras, porém sinceras e bem intencionadas.

Voltando ao tema anterior, podemos porém usar esses rótulos para afirmar que existem propensões religiosas egoístas e altruístas, e nem sempre fáceis de distinguir, bem como afirmar um tipo superior de religiosidade generosa.
Mas pode não ser nada disso, tal religiosidade, ou mera espiritualidade, ou pura mística (espero que saiba a diferença que vejo entre estes termos), pode também estar totalmente desvinculada disso, ou de qualquer outra carência.
Talvez você deva se perguntar porque tem tanta propensão a achar que quem tem uma inclinação como essa tem que ter algum problema, quando na realidade pode não ter problema algum, como ter resolvido um problema, ou até ter uma solução.
De certo que quem saiu de um sistema religioso muito rígido, com grande frequência, costuma rejeitar totalmente tudo o que o sistema incluía, mesmo as variações menos invasivas, e os fundamentos menos radicais que podem ser compartilhados por sistemas muito mais liberais. Em geral, após um certo tempo, é comum se adaptar melhor a pessoas mais intermediárias.
As pessoas abertas ao transcendente são em geral perfeitamente normais e capazes de levar uma vida saudável. Não estão fugindo da realidade, em geral, pelo contrário, estão buscando formas de viver tal realidade mais plenamente, dando um significado mais amplo e especial.
E ainda que estivessem, qual o problema, se não criarem perturbações para outros?
Ademais, o que é realidade?
Será que o apego a uma suposta experiência real, no caso supostamente externa, não pode ser indício de dificuldade de lidar com as muitíssimo mais complexas realidade internas?
Realidades internas essas que, as portas do transcendente, podem ajudar a contemplar.

Amigavelmente

8 de Agosto de 2008
   
           Danilo Galindo de Araújo - 1980 - São Paulo-SP
           Atendente Comercial
           Católico
673
d a n i l o d e a r a u j o       u b b i . c o m . b r        
Olá Marcus
Mais uma vez estou postando aqui e novamente a respeito do conto Os Crononautas, já que considero o livro a A Máquina do Tempo de H G Weels um dos melhores livros de ficção científica ja escritos, sobretudo em virtude da especulação que autor tem sobre o futuro, sendo que a explicação que o viajante do tempo dá para a origem dos elóis e dos morlocks é justamente um isolamento de classes sociais levado ao extremo no qual a burguesia acaba por dar origem aos elóis e o proletariado aos morlocks, estes últimos oriundos do contínuo confinamento nos subterraneos das cidades; enquanto que no filme mais recente, a origem dessas duas espécies se dá após uma grande catastrofe global na qual a lua se despedaça (confesso que foi uma das cenas mais impressionantes que já vi), na qual obriga parte dos sobreviventes a se abrigar por longos anos em galerias subterraneas e ao saírem, não suportam mais a luz solar, se bem que no mesmo filme é mostrada uma cena na qual um bando de morlocks (que mais parecem criaturas bestiais) atacando os elóis em pleno dia.
Considerando o livro de H G Weels e a sua versão Marcus, acho exagerada a fotofobia dos Morlocks visto que eles não suportam nem a luz de um simples fósforo, sendo que seria até mais plausível que esses seres acabassem por desenvolver mais os outros sentidos como a audição (um sistema de sonar, tipo o dos morcegos) e o olfato, ao invés de exagerados olhos que embora possam enxergar bem em ambientes escurecidos, são um completo empecilho na maior parte do tempo.
De todos os seus contos de ficção científica e fantástica, o que considero com o final mais surpreendente é a Grande Chance, a história dos quatro amigos que desejam se tornar super-heróis, mas acabam se frustando diante das dificuldades qu aparecem e que no final, pretendendo ajudar o mundo eliminando o plutonio das ogivas nucleares, acabam é por condená-lo a um cataclisma com a queda daquele cometa que os americanos e soviéticos queriam destruir. Isso me fez lembrar do seu ensaio sobre o Maniqueísmo, no qual me lembro que a Energia Nuclear, incluindo as armas nucleares, eram vistas como simbolo do mal absoluto, mas hoje por exemplo, a energia nuclear é vista como alternativa energética frente ao aquecimento global e as ogivas nucleares podem serem usadas para rebater possiveis meteoros e cometas que estejam em rota de colisão. Ou seja, não existe como voce falou, o chamado Mal absoluto.O que determina isso é o seu uso.
Também gostaria de frisar uma coisa. O conto, O Planeta Orfão. Seria possivel uma estrela orbitar em torno de um planeta?
Espero não ter te importunado muito
Um abraço
Danilo

Sábado, 5 de Julho de 2008

Olá Marcus
Estou postando mais uma vez e novamente para falar a respeito de seus contos de ficção científica, pois sempre achei muito interessante especular sobre esses temas. Tanto que considero o livro a A Máquina do Tempo de H G Weels como um dos melhores livros de ficção científica já escritos, em virtude da abordagem que o autor teve em imaginar como seria um futuro longícuo. Também assisti o filme (o mais recente)e confesso que fiquei bastante impressionado com a cena da Lua se partindo. Na sua versão, a dos Crononautas, também acontece algo com a Lua. Ela misteriosamente começa a se aproximar da Terra, sendo que o que é atualmente detectado é um afastamento. Seria possivel acontecer algo parecido? Também considerei na minha opinião, exagerada a fotofobia dos Morlocks, que não conseguem suportar sequer a luz de um simples fósforo.
Dentre outros contos que eu achei muito interessante estão A Grande Chance (o conto com o final mais macabro que ja vi) e o 6 letras (a senha não poderia ser mais óbvia!) No conto da Grande Chance, encontrei uma certa similaridade com o seu ensaio sobre o Maniqueísmo, pois na estória, o grupo de amigos desejando acabar com a ameaça de guerra nuclear, sem antes pensar que as ogivas poderiam ser usadas para salvar a Terra do impacto de um meteoro. Ou seja, eles imaginavam que elas seriam o simbolo do mal absoluto e não consideraram que poderiam serem usadas para uma boa coisa.
Por enquanto é só.
um abraço
Danilo

Domingo, 6 de Julho de 2008
Olá novamente Danilo.
Talvez você esteja com problemas de atualização no browser, por isso não vê as mensagens que postou recentemente. Acontece comigo também, e o pior é que as vezes afetas os dois navegadores. O único jeito de eliminar essa situação é deletar o arquivo temporário em cache.
Coloquei então suas duas mensagens, pois apesar do conteúdo ser essencialmente o mesmo, houve algumas diferenças notáveis. E não se preocupe em estar incomodando. Eu adoro conversar sobre meus contos.

Em Os Crononautas, note que atenuei a fotosenssibilidade dos Morlocks (Capítulo XII), a ponto de eles tolerarem luz vermelha e alaranjada, por isso um fósforo os incomodaria, mas não seria suficiente para detê-los. Para sorte do protagonista não há fósforos na minha versão, mas sim potentes lanterna de luz branca. Bem depois de terminar o conto, me arrependi de não incluir o detalhe de que uma ponteira laser vermelha seria inútil contra os Morlok, mas um verde teria um efeito devastador.
Quanto a Lua, eu até tenho um projeto de outro conto onde um extraterrestre chega ao nosso mundo com o objetivo de destruí-lo totalmente, e a nova posição da Lua seria resultado dessa tentativa. Originalmente não pensava em relacioná-los, agora penso que poderia ao menos deixar a possibilidade em aberto.
O que considerei mais importante é mostrar que para a Lua estar à metade da distância da Terra, ela teria que girar 4 vezes mais rápido, para que a translação superasse a atração gravitacional. Isso resultaria nos "meses" curtos de mais ou menos 7 dias.
Não vejo impedimento para que isso acontecesse, o único inconveniente é que isso causaria movimentos de marés e ventos muito mais fortes no planeta.
Eu realmente não pensei numa aproximação lenta da Lua, mas sim num evento catastrófico, que é sugerido no Capítulo XVIII.

Finalmente, alguém comentou alguma coisa sobre o conto O Planeta Orfão, que jamais finalizei principalmente porque não parece ter despertado interesse algum. Foi um dos poucos contos que nunca foi comentado neste Livro de Visitantes, bem diferente de todos os outros contos divididos em partes, para os quais recebi diversas cobranças de finalização, algumas bem insistentes.
Também não vejo impedimento algum em que um pequeno corpo luminoso orbitasse um planeta. Bastaria ser composto de elementos químicos que permitissem a incandescência, e por definição, ele não seria exatamente uma estrela, visto que esta pressupõe ser um astro central de um sistema estelar.
Ela também não poderia ser uma Estrela de Neutrôns, visto que essas são extremamente massivas e com altíssima gravidade, mas poderia ser uma Anã Branca em seus estágios finais de existência, que talvez tivesse sido capturada por um dos planetas de seu próprio sistema, entrando em órbita.
Haveria tempo para evoluir uma nova civilização, que evidentemente, sem conhecimento avançado, como é o caso do conto, lidaria com modelos cosmogônicos radicalmente diferentes dos nossos.
É uma pena eu nunca ter terminado esse conto, e confesso também que até hoje não sei bem como desenvolvê-lo, mas haverá uma tremenda surpresa no final.

Não entendi bem em que sentido você acha que a senha do conto 6 letras é óbvia. Você quer dizer que ela seria previsível?

É isso. Obrigado, e esteja a vontade para questionar mais.

Amigavelmente

27 de Julho de 2008
   
           Mauro Majewski - 1971 - Curitiba-PR
           Comerciante
           Cristão

  b o m b a s p r       u o l . c o m . b r
Olá Marcus (só dando um toque).
Está ciente que seus diálogos com o Xenon vem sendo postados em listas de discussão?
Por ex. ele diz que "[...]inclusive vc verá, na seqüência que o filósofo da UnB, após hesitação, termina por aceitar a idéia" embora você afirme na sequencia que: "É por isso, que embora concorde que usar esse termo relacionado a ilusionismo ou paranormalidade é certamente inconveniente, também não vou endossar sua posição, que é evidentemente de teor místico, no sentido de estar relacionada a conceitos e idéias que remetem a um transcendente."
Com o passar das edições, não tarda e você será usado como ex. de autoridade endossando o mentalismo que ele propõem...
Inté+
Mauro

Terça, 1 de Julho de 2008
Há quanto tempo Mauro!
Obrigado por sua preocupação em me advertir sobre esse grupo, onde de fato há um diálogo sendo travado com o objetivo de embasar o Mentalismo de Xenon, inclusive utilizado o que eu disse na Mensagem 645.
Porém, creio que até agora a situação está tolerável, pois seguindo a sequência das mensagens, que são um pouco difíceis de localizar, a única inverdade dita é que eu era professor na UnB, o que só serei a partir do mês que vem. Além disso, realmente houve uma certa imprecisão que pode dar a entender que eu apoiei o sistema teórico do Xenon, quando na realidade só apoiei a definição! Mas aí é uma questão do indivíduo procurar sabe o que de fato eu disse, e para aquele que está disposto a aceitar o que os outros dizem acríticamente, nem se preocupa em checar as fontes, muito pouco posso fazer. No mais, é o típico que se esperaria de quem está buscando meramente apoios teóricos, poéticos e passionais para fortalecer crenças de pretensão pragmática que tem dificuldade de se sustentar por si próprias.
Bom ver também que o Verbete na Wikipedia já foi corrigido de acordo com uma definição que tanto eu quanto o Xenon não achamos apropriada, mas que tenho que admitir que é o significado mais difundido do termo. Ele havia simplesmente se apropriado do termo para redefiní-lo para o sistema dele, e eu pedi-o que o desfizesse. Não sei se foi ele que fez, mas ao menos está feito.
Esse é um hábito que considero extremamente reprovável, tudo bem dar um novo significado para um termo, ou enfatizar um significado minoritário, mas daí a sair dizendo que as demais significações estão erradas, principalmente quando já são consagradas, é querer reescrever a história. Já vi mais de uma vez situações similares e volta e meia estou brigando contra isso.
De qualquer modo, o assunto no Grupo PNL parece ter se encerrado, mas obrigado pelo alerta. É bom ficar de olho.
Aproveito também para responder uma pergunta que você me fez por e-mail, sobre porque meus textos filosóficos e de Ficção Científica estão "misturados" no mesmo site.
É exatamente essa a idéia do site, mostrar que Ficção Científica e Filosofia são muito aproximadas, e que uma serve de suporte a outra, muito mais do que a FC e Ciência. Alguns de meus contos de FC são aplicações claras de conceitos filosóficos, as experiências de pensamento, para ser mais exato. O Monismo Mentalista, por exemplo, serve como uma das bases teóricas do Universo DAMIATE.
Mais uma vez, muito obrigado pela mensagem.
Amigavelmente
26 de Julho de 2008
   
           Bruno Viani Couto - 1983 - Guarulhos-SP
           Tecnologia da Informação - TI
           Cristão

          w i l d l o u s e       y a h o o . c o m . b r
Olá Marcus,
Recebi por e-mail o link que me levou a experimentar, mesmo que por alguns momentos, um êxtase reflexivo ao me deparar com seu texto intitulado Caro Ser Humano. De imediato, me encantei com a astúcia e inteligente forma de abordar um assunto tão polêmico. Para resumir em poucas palavras a minha opinião sobre este conto, eu o defino como audaz e filosoficamente verossímil.
Eu fui criado sob forte doutrina católica por parte materna até que, aos meus 20 anos passei por um "big bang" emocional. O que veio em decorrência se tornou ambivalente em minha vida. Por um lado portas se abriram em minha mente sobre como ver o mundo e por outro a dificuldade de fechar velhas portas, o que me deixou um bom tempo tendo surtos de crenças conflitantes que nada sanava. Hoje, porém, ainda permaneço nesse torpor entre o cético e místico, porém um pouco mais resolvido.
Gostaria muito de parabenizá-lo pela criatividade e audácia em abordar tais temas, pois eu compartilho de você as dificuldades de se conversar com as pessoas sobre assuntos de crença. As pessoas, especialmente as cristãs, são cegas, medíocres e completamente parciais na faculdade que compete refletir sobre religião e verdades da criação. Às vezes é tão frustrante conversar sobre isso com meus amigos que assim se mostram.
Eu li o primeiro livro Conversando com Deus e meio que me deixei seduzir pela lógica simples e rica ao qual é explicado o porquê da nossa existência. A resposta foi "experimentar". Não temos nenhuma função na vida a não ser experimentar estar vivo. Eu meio que senti um grande peso saindo da minha cabeça conforme deixava essa lógica entrar. Conversando a respeito com um amigo que estuda filosofia, ele me disse que o autor soube de forma muito eficiente colocar no livro todo o modelo filosófico de Platão e afins sob uma veste denominada "Deus". Eu não acredito fielmente se o autor conversou mesmo com Deus ou não, mas adorei o livro, pois me deu muita informação a qual refletir.
Gostaria por fim de mencionar que tenho alguns pouquíssimos contos de minha autoria, e se você se interessar eu os envio por e-mail, bastando você me enviar uma mensagem solicitando.
Gostaria muito de receber suas opiniões a respeito.
Um grande abraço,
Bruno

Segunda, 30 de Junho de 2008
Prezado Bruno...

Muito obrigado pela mensagem e compartilhamento de suas experiências. Se não o fez ainda, recomendo também que leia as respostas de Mario Campos de Jesus sobre o assunto

Há muito tempo que penso em escrever algo sobre o livro de Neale Donald Walsch Conversando com Deus que foi durante muito tempo o meu livro de cabeceira, e continua sendo um de meus livros populares favoritos.
Foi interessante você comentar sobre a influência platônica no livro de Walsch, porque lembro-me de que quando o li pela primeira vez, eu sabia tão pouco sobre filosofia que não era capaz de identificar isso. Hoje, para mim é óbvio não só a base neoplatônica, mas outras influências, como o evidente arianismo, e o tipo imaterialismo comuns a Berkeley e algumas vertentes do hinduísmo.
Este livro teve, para mim, importância capital, visto que promoveu a minha mais autêntica experiência de arrebatamento de consciência, quando de repente, senti um peso enorme ser removido de meus ombros, o peso de achar que eu tinha alguma obrigação divina que estava sendo de algum modo negligenciada, assim como derrubei as últimas barreiras do medo infantil que certas doutrinas religiosas, mesmo não tendo sido severas no meu caso, conseguem incutir de forma maliciosa e traiçoeira em nosso inconsciente.
Algo brilhantemente ilustrado na fábula do O Ratinho, O Morango Vermelho Maduro e o Grande Urso Esfomeado, que é uma analogia sobre usar o medo como forma de convencer as pessoas que trabalham a lhe dar de graça o fruto de seu esforço. No meu caso específico, era bem mais sutil, mas eu realmente achava que devia alguma obrigação a uma instância superior, uma missão a ser realizada, e como não conseguia colocá-la em prática, pagava sob a forma de uma certa frustração.
Foi com o livro de Walsch que pela primeira vez despertei desse transe, e outros, o que me resultou um estado de êxtase por dias seguidos.

Enfim, tenho sim interesse em ler seus contos. Só advirto que não estou com muito tempo livre, e portanto posso demorar. Já tenho outros esperando na fila, alguns grandes.

Obrigado.

Amigavelmente

24 de Julho de 2008
   
           Fernando Ventura Bispo Santos
      Araguaina-TO  -  1975
   Militar Reformado   -   Cristão
625, 633, 635, 657, 665
atthosmatheus       gmail.com        
Salve Marcus! Seu ultimo texto sobre a democracia, como sempre, eh muito bom! quase indene nao fosse o fato de nao mencionar os aspectos culturais e religiosos (fora o fundamentalismo islamico).
Sobre os aspectos culturais e religiosos, eles bem que poderiam funcionar como um freio ou controle sobre a democracia, por exemplo, se compararmos com Star Wars, podemos ver que o que possibilitou a ascensao do Imperio Galactico, foi a eliminaçao do conselho jedi e o exterminio em massa da maior parte dos cavaleiros. Ou seja a "espinha dorsal" da democracia da Republica em Star Wars era uma religiao, era o que refreava os impetos antidemocraticos.
Foi apos a eliminaçao dos jedis que Palpatine alcançou o poder total. Comparando com nossa realidade, podemos perceber que um possivel freio aos defeitos inerentes a democracia poderia muito bem ser a cultura judaico-crista, por exemplo, atraves da etica religiosa que funcionaria como um controle para as consciencias do povo e dos politicos, controle nao imposto, mais autocontrole, como por exemplo o caso que vc sitou sobre nao sacar muito dinheiro no caixa, pois isso poderia trazer dano para nossos familiares e o amor (cristao) eh uma norma etica que pode estar envolvida neste controle de nosso comportamento monetario.
Ainda sobre os beneficios de uma etica religiosa podemos mencionar que as duas maiores ditaduras, as mais fechadas e controladoras, fora o caso islamico, foram arreligiosas, o nazismo alemao(anticristao) e o comunismo sovietico.(estado laico).
Tambem igual a voce eu desejaria ver o mundo unido numa federaçao como em jornada nas estrelas, mas uma democracia hostil a religiao e culturas tradicionais por mais irracionais que sejam, pode muito bem viar a ser no limite hostil as opiniaos individuais, creio que as duas salvaguardas da democracia sejam o humanismo-positivismo e a cultura judaico-crista, e as tres maiores ameaças sejam o comunismo. o fundamentalismo islamico (os cristao nao querem reinar neste mundo), e grupos economicos inescrupulosos. Eu imagino uma forma de democracia perfectibilizada pela tecnologia, uma democracia plebicitaria direta, onde teriamos os poderes executivo e judiciario e eliminassemos os politicos do legislativo, assim atraves de plebicitos direto, apos uma semana de debates televisivos a populaçao votaria ao estilo BIG brother Brasil em terminais e com cartoes magneticos as suas proprias leis.
Eu sonho com esta democracia direta tecnologica em que nao exista mais vereadores, nem deputados ou senadores, os eleitores de seus lares ou terminais referendariam as leis. Uma falha como vc sublinhou em seu texto e que uma grande parte da populaçao poderia fazer suas escolhas contra si mesmo! em seu prejuizo, avocando lideres mais sabios, eh uma lastima!
Bem, acho que estou me precipitando e acho que vc mencionaria estas colocaçoes nos proximos ensaios sobre filosofia politica. Eu percebi que vc leh de tudo mesmo, e se poder dar consideraçao a um texto deste matuto do cerrado veja aqui : A Mácula Pegajosa.
E Sobre o solipsimo ainda,eu tenho uma pergunta? Sendo o Eu a unica realidade comprovada pela razao extrema, onde o localizamos, se dentro ou fora do espaço tempo? precisando melhor, o espaço-tempo existiria dentro do sujeito, que o projetaria num vacuo? Os objetos existem todos dentro do sujeito?
Valeu, ateh a proxima, parabens pelo rebento!

Quinta, 19 de Junho de 2008
Caro Fernando...
Meu texto Em Defesa da DEMOCRACIA é somente o primeiro de uma série que irá sim tocar nos temas que você sugeriu, aliás, como já deve ter visto nos subsequentes Igualdade e Liberdade e A Fraternidade.
Não creio que os Jedis de Star Wars sejam uma boa analogia para as religiões de nossa civilização. Primeiro, porque os Jedis são antes de tudo guerreiros! Sua "religiosidade" parece completamente irrelevante diante de suas capacidades telecinéticas, telepáticas, premonitórias e seu manejo das fabulosas Light Sabers. Não há, nem remotamente, nada sequer ligeiramente parecido com isso em nossas religiões.
Ainda que levemos essa "religião" Jedi como um fator importante, ele estaria muito mais para uma mistura de Filosofia Aplicada e Ciência Oculta do que religião, visto que seus poderes funcionam, e assim, fica muito mais fácil fazer a venda casada de um sistema filosófico. Entre seguir um guru que fala de milagres e um que os faz claramente à vista de todos, o que você escolheria?
Como nossas religiões só tem feitos sobrenaturais e mágicos na fantasia do discurso e nas lendas, não funcionam como sistemas de pensamento coesos que podem ser aplicados na prática, ou que mesmo no caso de de ciências ocultos, tenham resultados concretos. As pessoas normais podem nada entender sobre a Força controlada pelos Jedis, mas não duvidam que eles tem poderes. Nossas religiões são apenas sistemas de crenças que atendem demandas passionais da população.
Além disso, você parece ter esquecido que o a revolução de Palpatine não significou a ascenção de uma visão secular contra uma religiosa, mas sim de uma "religião" rival, no caso, a dos Sith.

Se você ler minha monografia O XINTOÍSMO e A Identidade Cultural do Japão, que exemplifica um tipo de conceito de Fraternidade, terá tudo para derrubar de vez qualquer ilusão de que o Nazismo fosse um sistema laico. Ele poderia até ser considerado anti-cristão, como qualquer pessoa que tenha lido Nietzsche, e gostado, tende a se considerar, mas seguramente ele não é anti-religioso.
Como explico na supra citada monografia, é impossível construir uma identidade etnocêntrica sem apelar para algum tipo de mitologia. Sem falar que houve sim, sínteses de cristianismo e nazismo, como o Positive Christianity.
Os "comunismos" soviéticos e chinês podem ser considerados anti-religiosos, mas, no fundo, acabam seguindo o mesmo padrão da religiosidade, que é a adoração do estado, que seria, como diria Hegel, a realização histórica do Espírito Absoluto. E no caso da China, a idolatria do Imperador foi substituída pela idolatria de Mao-Tsé-Tung, que possuía certamente uma aura mística.

Eu nunca achei que uma civilização ideal seria anti-religiosa, até pelo contrário. Nem mesmo em meus universos de ficção, onde cito Cidades Utópicas ou mundos muitíssimo mais avançados que o nosso planeta, penso em sociedades totalmente secularizadas. Haja visto ALICE 3947 ou As Senhoras de TERRANIA.
Acho que a religiosidade é totalmente inextirpável do ser humano, e jamais deixará de existir. Penso, porém, que numa sociedade futura muito mais avançada, ou nas mais avançadas sociedades atuais, a religiões tendem a se tornar cada vez menos mundanas e atender mais e mais as necessidades mais elevadas da mente, isto é, uma aspiração de transcendência e vocação para uma autêntica ligação com o divino, e não, como predominantemente ocorre, uma mera fuga dos problemas mundanos, e apego à fantasiosas proteções animistas contra perigos físicos reais ou imaginários.
Numa civilização superior, a religiosidade seria abraçada pelas mentes mais sofisticadas, e não pelas vítimas da miséria, violência, desespero e desigualdade social em geral, que em geral precisam muito mais de conforto psicológico e da segurança de um grupo amigo, do que de uma verdadeira experiência transcendental.
Nesse sentido, o Cristianismo, sofreu um grande descaminho histórico, pois não era, originalmente, uma religião dos meros desamparados, mas sim daqueles que estavam prontos a abrir mão, voluntariamente, dos luxos da vida material para aderir ao caminho espiritual, assim como o fez Buda, por exemplo. Os primeiros seguidores de cristo incluíam homens de posses, intelectuais e pessoas que poderiam muito bem viver suas vidas materiais com sucesso.
O verdadeiro religioso, nesse sentido, é aquele que tem em suas mãos a opção de viver confortavelmente em termos materiais, e mesmo assim prefere seguir um caminho acima desses luxos. Aquele que abraça uma religião por carência pode ter também seu mérito, mas, convenhamos, muitas vezes, ele não teve muita escolha.

Creio que o Fundamentalismo Religoso é a maior ameaça ao mundo atual, tanto faz de Islâmico, Cristão, ou qualquer outra coisa. A cultura Judáico-Cristã sem dúvida tem imenso valor em nossa civilização, mas não subestime o valor da cultura Islâmica, que durante grande parte da Idade Média, foi quem garantiu o progresso da ciência e impediu que grandes obras das intelectualidade mundial desaparecessem.
Lembre que o problema do Fundamentalismo Islâmico não é o "Islâmico", mas o "Fundamentalismo". Não se iluda de achar que os fundamentalistas cristãos também não tem pretensões muito maiores do que se pensa. Por sorte, o país onde mais impera o fundamentlismo cristão do mundo, os E.U.A., também...
...é contrabalançado por um leque de liberalismo que impede uma usurpação completa dos recursos tecnológicos pelos fanáticos religiosos, com objetivos que, não seja ingênuo, podem ser tão ruins quanto. Em DEUS - UM DELÍRIO há uma excelente coletânea de situações reais que merece ser analisada. Além de centenas de links ainda mais chocantes.
Não esqueça que os cristãos já dominaram o "mundo", no caso a Europa, por MIL ANOS! E o resultado, em termos sociais, não foi nada digno de orgulho.
Mas tudo isso, porém, é resultado da más condições de vida por onde impera a ignorância. Lembre-se, como já disse o nosso mestre / anti-mestre, que o mal é como uma erva daninha que só sobrevive na escuridão. Onde o povo é esclarecido e auto suficiente, o fundamentalismo religioso, ou qualquer outra ideologia maluca jamais poderá prevalecer. Mas onde existe a miséria, a desesperança, o abandono, aí, todos os tipos de perversões podem se alastrar como uma praga.
E é sobre esse assunto que entro no tema do "comunismo". Entre aspas porque sempre entendi 'comunismo' um conceito marxista, que nesse caso, praticamente não se realizou em grande escala no mundo, principalmente na U.R.S.S. ou na China.
O comunismo no sentido mais original, que entre muitas outras coisas, pregava a abolição completa do estado, mal passou de uma sombra, que no entando, como o disse o próprio Marx, assombrava a Europa, e graças a Deus que assim tenha sido, pois foi o medo do comunismo que obrigou os sistemas de produção a adotarem medidas de contenção que incluiam a melhora das condições de vida dos trabalhadores.
Foi a luta sindical e pressão dos partidos comunistas, e socialistas, que tornou inevitável que o sistema deixasse de ser uma exploração desumana e suicida. Não fosse esses movimentos de esquerda, tanto pressionando na luta política quanto aterrorizando nas revoluções, pode apostar que ainda teríamos crianças trabalhando 16 horas por dia, 7 dias por semana nas fábricas, sem nenhum tipo de direito trabalhista.
Com a pressão da ameaça comunista, chegamos ao mundo que temos hoje, onde apesar de termos muito o que melhorar, ao menos já estamos anos-luz à frente daquele sistema exploratório que imperava em todo o mundo no tempo em que Marx escrevia seus livros. E os movimentos de esquerda, não tenha dúvida, continuam sendo os piores inimigos dos, como você disse, grupos econômicos inescrupulosos.
Os grandes massacres do século XX, só ocorreram onde as condições sub humanas às quais as classes desfavorecidas eram submetidas atingiam níveis insuportáveis. Nenhum país onde haja estabilidade sócio econômica e bem estar social jamais promoveu ou promoverá revoluções.
Ao contar os mortos por regimes revolucionários, que ocorreram em curtos espaços de tempo, não podemos esquecer dos mortos nos longos espaços de tempo onde imperaram sistemas exploratórios tão desvinculados de qualquer pretensão de melhorar as condições dos explorados, que estes fizeram uma revolução! Óbvio!
Quantos camponeses morriam de fome na China antes da revolução? Quantos sovietes eram humilhados e explorados até a morte na Rússia dos Czares? Alguém se preocupou em contar?

Enfim, sobre o Solipsismo, é simples. O EU existe no Espaço-Tempo, que na realidade é pano de fundo da possibilidade existencial. Alguém até poderia pensar num conceito de Eternidade, com o EU congelado num perpétuo presente, tendo apenas as memórias como ilusão de passado, e as perspectivas como ilusão de futuro.
Mas eu não recomendo isso. Se tem uma coisa que eu concordo com Kant, é que Espaço e Tempo são condições fundamentais, primordiais e absolutamente necessárias para qualquer possibilidade de pensamento.

Amigavelmente

16 de Julho de 2008
   
           Danilo Galindo de Araújo - 1980 - São Paulo-SP
           Atendente Comercial
           Católico

d a n i l o d e a r a u j o       u b b i . c o m . b r        
Olá Marcus
Tenho sempre acompanhado seu site, especialmente os contos de ficção científica e fantástica. Achei bastante interessante o conto Os Crononautas e também as Senhoras de TERRANIA, mas fiquei intrigado com algumas coisas:
1 - O que eram os tais "edifícios quilométricos" que aparecem em duas ocasiões ao longo do texto. na primeira vez quando o viajante do tempo chega ao ano 3004 e na segunda vez por volta (acho) do ano 600000, bem depois da época na qual existiram os Elois e os Morlocks, onde os tais "paralelepípedos" negros surgem no meio do mar? Quem os construíram? E para quê? Sendo que no conto não é mensionada a razão.
2 - E em segundo, o conto Senhoras de Terrania é ambientado num planeta de um sistema extra-solar parecido com o nosso, mas não entendi porque o planeta Neptúnia, com órbita além de Saturnia, cujas temperaturas eram abaixo de zero, tenha uma temperatura média de 40°C que lhe permitia a existencia de um oceano global, sendo que o mais plausível é que fosse um planeta mais frio ainda que Saturnia.
Por enquanto são só essas questões que me deixam intrigado.
Obrigado
Danilo

Domingo, 15 de Junho de 2008
Caro Danilo.
Muito obrigado por sua interessante mensagem, e fico muito satisfeito em poder oferecer estórias que entretêm mas também fazem refletir. Será um prazer responder suas mensagens.

1 - Ao escrever uma estória, não necessariamente "sabemos" sobre tudo o que surge nela, mesmo porque o processo de criação é dinâmico. Algumas idéias vem e vão e só com o tempo conseguimos conectá-las. As vezes há coisas que surgem espontaneamente, quase como se fossem sugeridas por outros, e só depois realmente entendemos o que elas podem ser.
Os tais paralelepípedos do Parte 8 - Capítulo XXII dos Crononautas são um desses casos. Eu realmente não sei o que eles são, porque as vezes é importante que alguma coisa seja tão misteriosa para o autor quanto para o leitor, mas há algumas sugestões sutis ali que podem esclarecer possíveis funções.
Além da possibilidade de serem um forma de expressão artística, inclusive musical, devido aos sons que podiam produzir, ocorreu me que poderiam ser um tipo de barreira de vento, com finalidades de proteger uma área litorânea próxima. Eles funcionariam, por exemplo, como neutralizadores de furacões, e dissipadores de ventanias em geral. Outra possibilidade, é que fossem uma obra inacabada, uma estrutura fundacional de pilares que viriam a receber imensas estradas, ou cidades por cima.
Porém, qualquer explicação mais precisa exigiria criar diversos conceitos paralelos. Não sabemos que tipo de civilização vivia ali. Poderiam até ser gigantes, ou máquinas pensantes. Assim, ao menos enquanto eu não tenha intenção de retomar tal estória, prefiro que permaneçam misteriosos. Mas, se você quiser, esteja livre para pensar e sugerir o que eles sejam.
Já os edifícios de 3.009 são um caso diferente. É claro que eram uma cidade abandonada após algum tipo de catástrofe. A atitude das máquinas que atacaram o viajante mostram que havia um estado de tensão, possivelmente uma guerra, que deixara aquele local de quarentena. É bem diferente da atitude das sondas meramente curiosas do ano 212.198. Já, no ano 607.910 a situação, mais uma vez, é outra, e o viajante é bem recebido por uma civilização avançada.

2 - Senhoras de TERRANIA não é um conto, mas uma tetralogia literária da qual os 3 primeiros livros e metade do quarto já estão prontos, mas não pretendo publicá-los on-line, mas sim, lançá-los na forma tradicional. Quanto ao planeta NEPTUNIA, é importante saber que a distância da estrela não é o único fator a determinar a temperatura global de um planeta. Vênus, por exemplo, é mais quente que Mércurio, devido a possuir uma composição atmosférica específica que mantém o planeta 100 graus mais quente que o descoberto Mércurio. Em NEPTUNIA, a atmosfera produz um poderoso Efeito Estufa, repleto de formas de vida que por meio de diversas transformações, conserva a temperatura da superfície. Além disso, é um planeta sólido com atividade vulcânica que constantemente aquece os mares, sem contar as duas luas que também refletem luz e calor para o planeta.

Infelizmente ainda deve demorar um pouco para que eu possa lançar esses livros, mas garanto que quando acontecer, ninguém perderá por ter esperado.
Mais uma vez, obrigado.
Amigavelmente
4 de Julho de 2008
   
           Edson de Oliveira Ataide Júnior - 1980
      Rio de Janeiro-RJ    -    Professor de Matemática
669, 666, 662, 658, 650, 641, 638, 634, 477
467, 463, 455, 453, 451, 444, 414, 397, 376
    e d o l a t j r       g m a i l . c o m
Sabe o que acontece Marcus? É que por vezes fico com a impressão de que a tendência humana em acreditar numa meta-existência está muito mais vinculada ao medo de não-existir do que ao desejo de continuar existindo. É mais ou menos semelhante à diferença de um time que quer ganhar e outro time que não quer perder.
Quando uma pessoa está de bem com a vida, vivendo de forma plena, a aparente sensação é de eternidade, de tal forma que neste momento de satisfação ela nem sequer cogita a possibilidade de uma possível realidade transcendental. Nos momentos mais felizes da minha vida, por exemplo, o tempo pareceu parar e qualquer idéia de realidades transcendentais nem de longe passou pela minha cabeça. O que é diferente nos casos onde a busca do prazer é, de alguma maneira, contida. Quando isso ocorre costuma vir uma sensação do tipo: “Ah, que droga!”
Neste momento parece surgir uma forte tendência em se apegar a algum tipo de idéia agradável e reconfortante que minimize os efeitos desagradáveis decorrentes da sensação de prazer contido.
Quantas coisas horríveis presenciamos neste mundo e nada podemos fazer! Quão forte o desejo de que muita coisa fosse diferente, mais agradável, mais prazerosa! Não seria difícil conviver com toda essa sensação de impotência sem apelarmos para um mundo ideal, uma realidade distinta da nossa!? Não haveria uma forte inclinação para especularmos outras melhores possibilidades que se desenham na nossa mente, não necessariamente condizentes com algum tipo de evidência?!
É neste sentido que entendo a busca pelo transcendental como uma espécie de fuga da realidade. Fuga compreensível, justificável, psicofisiologicamente aceitável, mas que não parece ter sentido como critério de busca pela verdade.
Seria uma seqüência mais ou menos assim: Realidade – inadequação à Realidade – fuga da Realidade – Metafísica.
Não estou dizendo tudo isso por desacreditar completamente de qualquer questão metafísica. Também tenho minhas inclinações nesse sentido, mas com uma razoável compreensão das motivações que me impelem até elas.
Concordo com o que você disse sobre egoísmo e altruísmo, mas gostaria de deixar algumas considerações pessoais que tenho a esse respeito. O altruísmo, por exemplo, parece estar diretamente relacionado com a sensação de culpa. Normalmente ajudamos os outros porque nos sentiríamos culpados se não ajudássemos. Talvez você discorde, mas antes disso se imagine uma pessoa incapaz de sentir culpa! Qual seria a razão de se interessar pelo bem estar dos outros?
É justamente neste ponto que o altruísmo deixa de ser altruísmo, pois se a preocupação está na fuga de uma sensação de culpa posterior, o foco é o próprio eu e o outro seria tão somente um meio para se evitar uma dor posterior.
O altruísta seria o tipo generoso que quase sempre abriga um parasita do tipo egoísta que, sem grandes remorsos, sabe explorar os sentimentos de culpa do outro, quer seja através da pirraça, chantagem ou manipulação. O altruísta é normalmente o que possui muita dificuldade em dizer não, mesmo quando necessário. Costuma também ficar constrangido quando recebe alguma coisa de alguém, pois está acostumado a dar (pois isso o faz se sentir superior).
O egoísta já seria o que possui grandes dificuldades de dizer sim, a não ser que tire algum proveito ou vantagem disso. Não tem grandes dificuldades em receber, mas dificilmente dá algo de si para alguém. Sem grandes dores de consciência suga o quanto pode do generoso e, se ocorrer de não haver mais o que sugar, sem grandes problemas vai a procura de um novo hospedeiro.
Tudo isso parece surgir desde muito cedo. Um exemplo típico é o de dois irmão. Normalmente o mais novo é mais egoísta. Muitas das vezes isso ocorre porque o irmão mais velho sempre houve algo do tipo: Ele é seu irmãozinho! Aprenda a dividir as suas coisas com ele!
Após certa relutância, o irmão mais velho acaba cedendo. Os pais elogiam o comportamento do filho, o que psicologicamente é entendido como recompensa.
Quando cresce, esse comportamento se mantém e o que antes eram somente críticas dos pais, agora se manifesta como sentimento de culpa ou remorso. Secretamente quer aplausos por suas boas ações.
Para o mais novo, o resultado é diferente. Ele aprende a manipular o irmão, percebendo que através da chantagem, pirraça e vitimização é possível conseguir o que quiser, conservando estas características na idade adulta. Normalmente é o que assume o tipo mais pavio-curto, desinibido, descolado.
Repare os casais, Marcus! Normalmente (quase sempre) um é o generoso e outro é o egoísta.
Parabéns pelo seu filho, Marcus! É um sortudo tê-lo como pai.
Um grande abraço;
Edson Jr

Olá Marcus!
Não é para responder essa mensagem não. Pode excluí-la depois de ler.
É só uma indicação de site: Flávio Gikovate
Me identifiquei muito com as idéias do autor. Dê só uma olhada. Acho que você também irá gostar!
Neste outro link, o autor comenta sobre o egoísta e generoso.
Ninguém é Bonzinho
Vale a pena, Marcus. O argumento do cara é bom....
Um grande abraço;
Edson Jr

Domingo, 1 de Junho de 2008
Entre um time ganhar ou perder existe um meio termo, o empate. Entre o não-existir, a descontinuidade da existência, e o existir, a continuidade, não há meio termo. Assim, desejo de continuar a existir e rejeição a não existir são praticamente idênticas.
Não vejo uma relação direta entre o viver pleno e a desconsideração meta-existencial. Mas o notável é que picos de prazer sempre são temporários, o que pode levar à tal contenção, e isso sim, como diz o Budismo, é por si só um problema. Já nos momentos de paz, é diferente. A serenidade derivada de uma autêntica felicidade pacífica parece mesmo remeter à enternidade, e é exatamente isso que os budistas associarão à iluminação e entrada no Nirvana, o que, curiosamente, costuma ser associado ao fim da existência. A felicidade não está no prazer, mas na paz, que é obtida mediante a depuração de qualquer forma de apego, desejo. Aí sim, estar nesse estado é entrar na "eternidade", segundo os budistas.
Não confundir o desejo de uma justiça terrena infalível com o ensejo pela meta existência. São relacionáveis, mas ainda mais separáveis. No primeiro é inegável uma certa fuga da realidade, de certo. No segundo, não necessariamente. Se você está de férias, pode ficar satisfeito mesmo ante a perspectiva de que elas terminarão e você voltará ao trabalho, mas considerar que algo poderia extendê-las indefinidamente não é fugir delas, e sim querer prolongá-las exatamente por gostar delas. Assim, o desejo meta-existencial não pode ser fuga da realidade, pois é decorrente exatamente da satisfação com a própria realidade. Se você gosta do que é, porque não gostaria de ter mais disso? Acaso ao pensar que minhas férias possam durar indefinidamente eu passo a querer fugir delas? Você tende sempre a associar, arbitrariamente, a perspectiva da meta-existência com a fuga da realidade. Isso pode acontecer, mas estou falando exatamente do caso onde não acontece.
Mais sério ainda é apelar para a "realidade" e inadequação à mesma. Primeiro que a crença neste "realidade" continua, em última instância, racionalmente insustentável, lembra do "trocar o certo pelo duvidoso"? A existência é certa, a "realidade" é duvidosa. Depois a Metafísica em questão não tem que passar pela fuga da realidade, visto que, no caso, ela é a própria dignificação da realidade. Essa tradição nasce com o próprio Aristóteles que dizia que a felicidade só era possível ao filósofo! É estranho afirmar que tal tradição nasça de uma inadequação da realidade quando ela é o resultado de nada menos que o estudo sistemático, e apaixonado, da própria realidade. É por gostar de mim mesmo que gostaria de continuar existindo, e gostar de mim mesmo não seria possível se não me adequo a "realidade", caso contrário cairia em frustração e assim, não poderia gostar de mim. Não vejo essa estranha relação entre o amor próprio e o desinteresse numa meta-existência. Pode acontecer, alguém pode querer meta existir por desejar uma vida boa em contraste com a vida ruim que se leva, mas pode também levar uma vida boa e desejar uma melhor ainda, ou mesmo continuar essa mesma vida boa como ela é. E tudo isso só será possível se houver a possibilidade meta existencial. A única dessasociação possível é se o indivíduo achar que a existência dele é perfeita, e nada mais possa ser mudado, e como o tempo fatalmente irá alterar algo, e removê-lo dessa perfeição, ele prefere ficar apenas naquela perfeição limitada. Humm... E até difícil de articular tal idéia.

Minha leitura do Altruísmo realmente é similar a sua, só que não a vejo de modo pessimista. O sentimento de culpa não é necessário a não ser num sentido mais largo, isto é, ajudo porque gosto de ajudar, e se não o fizer, terei deixado de fazer algo que gosto. Pode ser num sentido de remorso, mas não num sentido de auto incriminação. A diferença é entre uma visão contraditória, uma otimista e uma pessimista. Na primeira, sou totalmente altruísta por agir sem nenhuma finalidade reflexiva, o que, já vimos, é absurdo, pois o mecanismo Desejo-Crença-Ação por si só mostra que qualquer ação sem desejo é impossível. Na segunda, o desejo é harmonizar o meu bem estar com o bem estar alheio, é, de certa forma, diminuir a distância que nos separa, integrando-nos mais. Na terceira o desejo é totalmente egoísta porque não vejo como uma forma de beneficiar ao próximo, mas somente a mim próprio, pressuponho que ao agir assim sou egoísta e pouco importa que a pessoa ajudada também seja beneficiada. Acho esse pessimismo simplesmente arbitrário, pois se alguém me ajuda, tendo a gostar não só da ajuda, mas da pessoa, que motivo tenho para considerá-la egoísta por ter me ajudado? Lembre-se de que ao fazer as experiências de pensamento, não se limitar apenas ao ponto de vista do agente, mas também do paciente.
Li o texto do Flávio Gikovate, é concordo que é bom. Mas ela apenas remodela o termo Generoso, que poderia continuar a ser visto como o de amor pela semelhança. Ele chama de generosidade um desejo egoísta de se auto elevar, e eu chamaria um desejo egoísta de se sintonizar harmonicamente com o outro, o que é uma leitura menos pessimista. Até concordo com o que ele diz sobre o egoísta em si, mas não exatamente sobre o Generoso, pois este último pode estar além da mera crença na superioridade, e vivenciar uma superioridade de fato. Ele remodela também o termo Justo para se referir a um estado superior, quando este mesmo modelo poderia ser facilmente aplicável ao Generoso. Enfim, é mais um exemplo entre a infindável lista de remodelagens de conceitos que no fim dizem a mesma coisa com termos diferentes.
Gostei muito mais da segunda parte do texto, quando ele entre nas reflexões sobre individualidade, auto suficiência e elementos do sistema capitalista. Acho que tem uma pista para algo bem mais interessante do que essa simples alteração de conceitos da tríade Justo-Generoso-Egoísta, que eu preferiria equacionar como dois tipos distintos de Altruísmo e dois tipos de Egoísmo. Principalmente, porque ser autênticamente altruísta, ou mesmo generoso, pode ser visar um bem maior ao próximo, que pode exigir uma atitude mais dura.
Obrigado pelos parabéns. Farei o possível para tornar meu filho um altruísta feliz.
Amigavelmente
1 de Julho de 2008
   
           Renato  -  1990  -  São Paulo - SP
       Estudante  -  Cético


  r e n a t o _ p f 7       h o t m a i l . c o m
Olá Marcus!
Em primeiro lugar gostaria de parabenizá-lo pelo excelente site, realmente muito bom!
Há um certo tempo venho discutindo com pessoas que alegam uma suposta inerrância bíblica, tema amplamente abordado em seu site e outros com foco cético/racionalista. Em todas as situações, os argumentos propostos por esses defensores do cientificismo bíblico eram os mesmos de sempre, facilmente refutáveis ou mesmo desonestos.
Recentemente, porém, intriguei-me com um argumento, o qual poderia ser uma forte evidência de uma terra jovem: Halos de Polônio 218.
Vi em uma das páginas desse site uma breve abordagem sobre isso, sem maiores detalhes. Tendo a supor que esta é mais uma das gafes criacionistas, mas confesso que não achei nenhum refutamento para ela. Mesmo que esse argumento fosse verdadeiro, ainda teríamos uma gama inumerável de evidências para uma terra antiga. Entretanto, gostaria de saber o que realmente ocorre nesse caso, e nenhuma pessoa melhor do que você, que além de descomprometido com dogmas é um "especialista" no assunto, para me elucidar a questão! =p
Aguardando resposta!

Sunday, 26 de Maio de 2008
Prezado Renato...

Obrigado por sua mensagem, que parece se referir, neste site, principalmente ao texto É a Bíblia Divina?

O único tratamento que já dei ao argumento do Polônio 218 está, na verdade, em meu outro site, em FAÇA VOCÊ MESMO SEU ARGUMENTO DE IDADE JOVEM DA TERRA!, e de fato é somente um pequeno comentário. Mas lá eu cito um link, em inglês, que envia para outra páginas, também em inglês, que creio liquidarem o assunto.

Há também uma discussão, em português, com diversos outros links, em Rádio-Halos de Polônio, mas é fórum, ou seja, tem que ter muita paciência para aguentar as brigas entre os membros.

Dê uma pesquisada, se quiser, poste uma mensagem no EVO.BIO que terei prazer em dar um tratamento melhor sobre o tema, assim que puder.

Amigavelmente

19 de Junho de 2008
   
           Celso Lacerda  -  1957  -  Rio de Janeiro-RJ
       Autônomo  -  Protestante


c e l s o . l a c e r d a       h o t m a i l . c o m    
Fiquei feliz em conhecer seu site, e achei muito importante as opiniões colocadas sobre as religiões. È verdade que religião é assunto polêmico e confunde muito a mente das pessoas. Mas no momento estou convicto do meu seguimento religioso, e não tenho dúvidas que estou no caminho certo, apesar das pressões que sofremos diante de tantas dúvidas que surgem na sociedade e grupos religiosos. Achei importante encontrar este site e poder opinar minha opinião, já que os amigos tiveram esta oportunidade. Gostaria de saber a sua religião, e sua opinião sobre a minha fé, e pertencer ao movimento protestante. Se possivel dê sua opinião e quem sabe tirar de mim algumas caso ainda tenha. O valor do relacionamento é importante para tirarmos dúvidas, que muitas das vezes poderão nos ajudar no caminho certo, ao encontro de Deus. Acredito que ninguém quer ser condenado no Juizo, por isto estou buscando a verdade.

Sábado, 24 de Maio de 2008
Prezado Celso...
Também fico feliz em responder mensagens como a sua, pois nada tenho contra a fé e vivência religiosa autêntica. Espero que minha opiniões ajudem você em seu caminho. Ei-las:
A humanidade sempre terá uma dívida com Lutero, visto que conseguiu dar um passo decisivo para a liberdade religiosa, que precedeu a liberdade geral que conseguimos hoje. Essa liberdade pressupunha uma experiência pessoal com a própria Bíblia, de modo que o crente poderia construir seu próprio relacionamento com o divino, o que implica sua própria interpretação, diferente da interpretação "única" da Igreja Católica pretendendo uma difícil universalidade que acabava por ser minada pelas distorções locais e estruturais em sua hierarquia.
É uma pena que a maioria dos protestantes não siga essa abertura luterana, pois ao invés de erguer por si próprios sua vivência espiritual, preferem se deixar guiar pelas vivências de outras pessoas, aceitando pastores que lhes dizem o quê pensar, o quê acreditar, e o quê devem interpretar da Bíblia. Ou seja, trocaram a Igreja Católica, que ao menos tem uma sólida tradição interpretativa baseada em grandes gênios, por Igrejas Protestantes, que embora também tenham seus gênios, tem muito menos tempo de solidez doutrinária. Mais grave ainda, é quando tais crentes se colocam sob o jugo de pastores menores (em vários sentidos) que mal tem conteúdo para eles próprios. Assim surgem as seitas bizarras que vemos se multiplicar aos montes.
Não que deva-se dispensar o que os mais experientes tem a dizer, mas não se deve perder de vista o fato de que qualquer abordagem bíblica é uma interpretação, uma mera leitura literal da Bíblia é absurda, impossível pelo fato de que as contradições racionais, que são essenciais a qualquer fenômeno religioso, obrigarão a tomadas de posição, e cada tomada de posição responsável e sensata só é possível com uma teologia específica. Por sorte, isso não significa ter que estudar por anos a fio numa instituição teológica, ainda que seja recomendável, mas sim, principalmente, meditar muito sobre o assunto, abrir a mente para instâncias potencialmente superiores ao pensamento racional, e mergulhar na própria interioridade a fim de encontrar o que se tem de melhor. Se você faz isso, é porta aberta para a ação do Espírito Santo, que a meu ver nada mais é do que o acesso humano a uma instância supra racional.
Não confunda também o supra racional, que está acima da razão, com o sub racional, que está abaixo. Uma coisa é estar diante de paradoxos que são impossíveis de ser racionalmente solucionados mas que não podem ser de modo algum evitados, e isso é o que, pelo esgotamento das possibilidades racionais, abre a porta para o supra racional. Outra coisa bem diferente é a preguiça mental que cede a qualquer contradição que pode sim ser solucionada, levando a abraçar posturas irracionais que tratam qualquer forma de inteligência como inimiga, e criam um antagonisto hostil entre razão e fé.
Por fim, lembre-se que autoridade teológica alguma é superior a sua própria experiência espiritual. Leve em consideração o que os grandes interprétes falaram, mas todos eles eram humanos. E embora seja recomendável se espelhar em alguns mestres humanos, não esqueça que isso não é seguir a eles, mas sim ao caminho ao qual eles seguiam. E tome especial cuidado com auto intitulados guias espirituais que se vê por aí que se consideram donos, ou filhos do dono, da verdade. Quem rompeu com a autoridade de grandes teólogos históricos, o que não é mal algum, não pode se deixar cair nas mãos de pequenos ou minúsculos teoretas que podem ser encontrados em qualquer esquina.
Amigavelmente
10 de Junho de 2008
   
           Edson de Oliveira Ataide Júnior - 1980
      Rio de Janeiro-RJ    -    Professor de Matemática
666, 662, 658, 650, 641, 638, 634, 477, 467
463, 455, 453, 451, 444, 414, 397, 376
    e d o l a t j r       g m a i l . c o m
Olá Marcus!

Quando você diz que a fé no amuleto explica parte do sucesso do pensamento supersticioso, não fica subentendido que o pensamento supersticioso seria capaz de produzir sucesso?

Quando você disse “transcender o limite da própria existência”, deu a entender que um sentido existencial realmente humano teria um componente altruísta, sem pensar somente em si próprio, mas também na satisfação de outros. O que discordo, pois não há como pensar no bem estar de outro sem atrelá-lo ao bem estar pessoal.

De qualquer forma, a idéia transcendental seria tão-somente ilusória, pois cada um é cada um e não continuamos existindo em ninguém. Crer nisso, para mim, é um tanto primitivo e desnecessário. Eu sou eu, você é você, nossos filhos são nossos filhos. Achar que se continua no outro é um tanto limitante, pois o amor que demonstramos ao outro não passaria de amor próprio e não amor à outra pessoa.

Com relação aos filhos, inicialmente, disse que não me sacrificaria por um filho muquirana. Você me questionou dizendo que falo isso por nunca ter sido pai, inserindo a palavra criança (que não tinha me referido). É claro que com criança é diferente, se bem que não terei a mínima disposição em passar a mão na cabeça pelas bobagens que comete, pois é justamente por isso que Nardonis da vida aparecem. Claro que me sacrificaria para dar o melhor pelos meus filhos, mas os criando para serem independentes. Taí uma nova definição para o amor: criar situações que facilitem a independência dos filhos, tanto financeira quanto psicologica. Quantos pais realmente estão dispostos para isso? Tal atitude não seria um maior e melhor sacrifício?

Com relação ao niilismo, repare que coloquei uma condicional (se). Foi uma mera suposição. Não precisava subestimar minha mensagem. A minha última aqui, por sinal.

Até mais;

Edson Jr
Quinta, 15 de Maio de 2008



Olá Marcus!

Só um observação com relação à minha mensagem anterior. Nestas duas frases abaixo:

"O que discordo, pois não há como pensar no bem estar de outro sem atrelá-lo ao bem estar pessoal."

e

"Achar que se continua no outro é um tanto limitante, pois o amor que demonstramos ao outro não passaria de amor próprio e não amor à outra pessoa."

Soam contraditórias essas duas frases. Agora que percebi. Por enquanto, ficarei com a opinião de que esse limite seja intransponível e amar outra pessoa sem se sentir parte dela seja inviável. Neste caso, achar que se continua no outro seria um limite intrasponível.

Fiquei chateado com o tom irônico de sua mensagem anterior, mas esqueci. É claro que a amizade falou mais alto. Pode desconsiderar minha afirmação de que não irei mais postar.
Um grande abraço;

Edson Jr

Quarta, 21 de Maio de 2008
Calma... Não precisa exagerar. Foi a maldição do 666!
Em momento algum eu disse que ser superticioso resulta em obter algum sucesso, mas que a postura superticiosa É BEM SUCEDIDA, no sentido de ser muito popular. Ora, uma coisa que é muito difundida e propagada é algo bem sucedido em termos de ampla aceitação, enquanto um meme.
Parodiando: "O medo da inexistência explica o sucesso DA crença na meta existência." Isso não significa que a crença na meta existência resulte em sucesso. Ou, as antigas propagandas de Hollywood explicam o sucesso da marca de cigarro, mas só quem acha que fumar Hollywood implique em ter sucesso é o Psicopata da música do Capital Inicial.

Transcendência tem um sentido menos restrito do que o que você tem utilizado. Na realidade, originalmente, não tem a conotação sobrenaturalista, pois o prefixo trans remete apenas a "ir além" de um certo limite, que pode ser puramente material, assim como as palavras 'transportar', 'transferir' ou 'transmitir' implica em levar de um local a outro. Apenas o uso corrente que acabou associando a palavra ao 'fisicamente transcendente', de modo similar ao que os ufólogos abduziram o termo 'abdução', que originalmente é tão somente 'sequestro', porém, essa conotação já está tão disseminada que a maioria das pessoas acharia estranho se a polícia tivesse uma Divisão Anti-Abdução, pareceria coisa de Arquivo X.
Exemplo: Que sentido há num jogo de Xadrez? Façamos de conta que um extraterrestre consiga imagens de um jogo em andamento. Examinar as peças, o tabuleiro, os movimentos, irá mostrar apenas fenômenos em si. Talvez seja possível deduzir as regras, os materiais que compõem o jogo, ou as sutilezas dos lances. Mas o real sentido do jogo, o porquê se joga Xadrez, não está lá, mas sim nas mentes dos jogadores. Assim, o significado do jogo transcende o tabuleiro e as peças, transcende o próprio jogo, visto que remete à natureza lúdica humana.
Transcender a própria existência também não tem, obrigatoriamente, um componente altruísta, embora isso possa ser frequente. Um louco poderia trabalhar numa bomba e dar sua vida para que ela explodisse matando o máximo de pessoas possível, talvez até toda a humanidade. Assim, seu objetivo transcenderia sua existência, pois a bomba explodiria depois que ele morresse. Que altruísmo haveria nisso?

Você pensa ter detectado uma contradição em sua própria mensagem. Bem, talvez não exatamente. Isso é um problema típico da reflexividade da questão. Eu também sou partidário da tese de que o altruísmo puro é impossível, não há como haver uma ação desinteressada, mesmo por uma questão teleológica. Qualquer ação intencional visa uma finalidade, que sempre está na mente do agente, assim, toda a ação, não importa qual seja, visa satisfazer uma disposição interna.
O que realmente merece o nome de altruísmo é a concatenação entre o interesse próprio e os interesses alheios. Se prejudico ou beneficio alguém, estou agindo em meu interesse, satisfazendo uma disposição interna e pessoal, mas no primeiro caso sou apenas egoísta, pois desprezo o interesse alheio, no segundo sou altruísta porque estou combinando meu interesse com o interesse alheiro. Em ambos os casos, o fundamento é egoísta, embora eu prefira dizer egocêntrico, mas no segundo há também o altruísmo.

A existência humana individual costuma ter a característica de ser marcada por um desejo irrefreável de tornar o mundo externo fenomênico, e o mundo interno mental próprio, o mais parecidos possível. Sempre tentamos lançar nossos conteúdos interiores no exterior, seja através de discursos que nos agradam serem bem recebidos, seja encontrando pessoas ou idéias com as quais temos afinidades. Ao mesmo tempo que os fenômenos vão lançando seus conteúdos em nós, vamos também dando o troco, lançando nossos conteúdos neles. Só isso explica nossa insistente tentativa de por para fora nossos conteúdos. Criando símbolos, personagens, arte, textos, etc, que carregam algo de nosso universo interior.
Na incerteza de uma perpetuidade existencial plena, nos contentamos com a certeza de uma perpetuidade parcial. Todo escritor quer ser lido pelo máximo de pessoas possível, todo artista quer ser visto, a maioria das pessoas quer ser famosa. A idéia de assim acontecer costuma ser agradável mesmo que pensemos que ela ocorra após nossa morte.
A descendência é, sem dúvida, a forma mais garantida de perpetuidade parcial. Uma criança gerada por nós transporta 50% de nosso material genético, embora essa bagagem não se manifeste da mesma forma, o que pode torná-la apenas 30, 10 ou 3% parecidas conosco. Pouco importa. Ocorre que é algum tipo de continuidade meta existencial. Incompleta, mas é.
Ademais, não queremos realmente nos manter 100%. Todos temos elementos dos quais gostaríamos de nos livrar. O meu EU ideal no futuro não é o mesmo EU de agora. Assim como não é o de antes. Fundamentalmente, não existe um "EU" fixo, ou melhor, não existe uma identidade entre esses EUS de cada fase de minha vida. Tudo o que existe é uma Continuidade, que vai se configurando mais ou menos como o conceito de Continuador Mais-Próximo de Robert Nozick.
Na hipótese de minha extinção pessoal, meu descendente pode ser um bom continuador mais próximo, não só pela bagagem genética, mas pela criação que darei a ele, refletindo em grande parte meu universo interno. Um descendente, é uma das formas mais marcantes com a qual tentamos fazer, mesmo inconscientemente, o mundo exterior mais parecido com nós mesmos. (Por sinal, estou indo agora para a minha terceira criança, que desta vez é um menino.)
Amigavelmente
27 de Maio de 2008
   
           Lais Giselle  -  1988  -  Belém - PA
       Universitária
       Ateísta Convicta
663
  l a l a g i b a r r o s       y a h o o . c o m . b r
Olá Marcus,
Como disse que retornaria, cumpro agora tal dito.
Grata pela sua resposta, por suas palavras de retorno e pelo seu demonstrado respeito para com a pessoa e respectiva opinião do visitante. Revelas sapiência e paciência custosa e necessária a alguns. Mas vamos lá.
Primeiramente, para esclarecer este trecho:
"Seguindo sempre a bandeira do pensamento livre e independente, sob pena de também vender minha alma ao diabo, não ser salva e viver dolorosos dias queimando na danação eterna, compartilho insistentemente que nós livre pensantes e questionadores precisamos de muita coragem, persistência e conviccão para expormos nossas heresias, pecados maiores e sacrilégios sem sermos queimados vivos pelas inquisições pós-modernas da intolerância cega e irracional à propria liberdade humana."
Estas palavras e expressões de pecado, vender a alma, danação, e afins, trataram apenas de um contexto de refinada ironia que utilizei pra me referir ao livre pensar, pois estes represenrtam suas mais comuns sançoes morais taxativas, impostas pelos dogmas religiosos, que assim tratam e condenam tudo aquilo que os questionem ou que simplesmente, seja contrário ou ameaçador a perpetuaçao de seu domínio e coaçao psicossocial ao seu rebanho.
Lamento este jogo de palavras ter passado despercebido aos teus atentos olhos. Não temo, de modo algum, ir ao "inferno" por minhas convicções pessoais, meu caro. Apenas isso. É natural que a maioria dos visitantes não se expressem de tal forma. Não esperavas...
Enfim, inspire-se sempre.
Atenciosamente,
Laís.

Terça, 13 de Maio de 2008
Bem-vinda novamente Laís.
De certo que considerei a ironia, mas preferi interpelar, em pequena parte, porque sou um pouco perfeccionista com temas deste tipo.
Mas em grande parte o motivo é outro. Trata-se do cuidado com certas expressões devido a uma questão de "ação simbólica afirmativa", do mesmo tipo que me faz jamais usar o termo 'homem' para me referir a espécie humana.
A tradição cristã desenvolveu toda uma terminologia que se consagrou ao longo de quase dois mil anos. Muitos termos são inofensivos, outros adequados, mas há uma certa categoria que aprisionou os significados numa teia de relações tão distorcida que continuar a usá-los é prestar um desserviço à emancipação mental contemporânea.
Como exemplo, a horrível associação da sexualidade com o pecado, que fazia com que até bem pouco tempo até mesmo em nossa legislação existissem termos como "mulher honesta" para se referir a mulheres devidamente conformadas à mentalidade tradicional, estigmatizando qualquer variação existencial mais independente. Nesse sentido, acho que pessoas que ainda usem termos pejorativos para se referir a mulheres sexualmente livres estarão ajudando a perpetuar, e dar novo fôlego a essa mentalidade retrógada.
Os exemplos que você citou são de outra ordem, mas equivalentes num certo sentido, porém, podem ter um resultado mais problemático principalmente com relação àqueles religiosos mais ingênuos, e àqueles jovens que gostam de confundir posturas sérias com brincadeiras. Falar nesses termos não deixa de contribuir para o embrutecimento dos mais humildes que realmente acreditam num mundo maniqueísta dividido entre os crentes salvos e os condenados servos de satanás. Ou para o descaminho daqueles que ao flertar com o caminho da crítica consciente, confudem-na com bobagens.
Mas tudo bem. Concordo com o que você falou. Perdoe meu preciosismo.

Amigavelmente

20 de Maio de 2008
   
          Rodrigo Marques - 1972 - Angra dos Reis-RJ
          Administrador - Cético
          549, 556, 602, 603, 605, 606, 614, 620, 649, 656

        r o d m a r q 7 2       y a h o o . c o m . b r
Olá Marcus, gostaria de falar um pouco a respeito de algumas de suas monografias e ensaios.

- A que eu mais gostei, Heróis da Areia, em uma parte fala a respeito dos super-heróis dos quadrinhos, aos quais chama de sub-heróis por algumas características peculiares não-revolucionárias que possuem. Porém acho que existe um dado que falta na sua explanação, os heróis das HQ's, geralmente tem uma origem comum, são pessoas do povo e cidadãos sem nenhuma diferença para as outras pessoas, ao contrário dos lendários e mitológicos, geralmente filhos de reis e deuses, por isso príncipes como Hércules, Arthur e o atual Roland Deschain (A Torre Negra - Stephen King) em contraposição com os de origem humilde Homem-aranha, Demolidor e Capitão América, representando o cidadão comum cumpridor de seus deveres e até os mais endinheirados como Batmam (um rico honesto) e Homem de Ferro (o empresário que trabalha duro). Estes últimos em um certa leitura podem ser vistos como democráticos, pois Arthur e Moisés conduziram seu povo sem nunca promoverem uma eleição na vida.

- Em Os Gatos e a Feminilidade, em um trecho você diz que "A condição feminina ao longo da maior parte da história, na maior parte do mundo, sempre foi desvantajosa em vários sentidos, e isso é ponto pacífico", bem acho que isso não é tão ponto pacífico assim, uma vez que numa sociedade como você diz "androcêntrica", o homem é sobrecarregado com uma penca de responsabilidades enquanto que a mulher, limitada aos trabalhos domésticos, é preservada dos serviços mais insalubres e perigosos e mesmo de situações de risco. Quer dizer, uma sociedade machista, não é necessariamente um inferno para as mulheres nem um paraíso para os homens, muito pelo contrário, acho que na história da humanidade homens e mulheres tiveram o seu quinhão de sofrimento que não foi pequeno para ninguém, cito os seguintes links para ilustrar esta outra forma de ver este assunto: O SEXO OPRIMIDO - Historiador diz que os discriminados são os homens e que eles têm menos direitos que as mulheres

Aqui podemos ver, por exemplo, como numa situação de risco (naufrágio do Titanic) as mulheres eram, e ainda são, beneficiadas em relação aos homens:

Veja o número de mortos homens e mulheres no citado naufrágio:Titanic

Aproveito para sugerir mais três animais símbolos da feminilidade: a aranha, por tecer a teia à moda das mulheres que costuram, pelo jeito paciente de caçar, por ser maior que o macho e devorá-lo para garantir energia para parir a ninhada e o fato de que como a maioria das divindades aracnídeas são femininas, fazendo delas representações do feminino também (apesar do sucesso do Homem-Aranha); o outro animal seria a abelha, pela sua sociedade quase exclusivamente feminina onde os machos existem apenas para fecundação e por produzir um produto doce que evoca as mais valorizadas características das mulheres e por último a borboleta, pela sua beleza, sua delicadeza e fragilidade (apesar de seus músculos serem em termos relativos fortíssimos) e pela metamorfose radical pela qual passa durante suas vidas representando as "mulheres de fases" igual diz a música.

- Numa que eu não li totalmente Dinheiro é Tempo e na Heróis Capitais, percebi a crítica justa ao capital especulativo responsável pelas crises cíclicas que envolvem o capitalismo, que mesmo assim, resiste até hoje, ao contrário do seu concorrente comunismo, desabado sobre suas próprias pernas. Aliás, ao que tudo indica, o único tipo de governo que parece garantir o bem estar e progresso dos seus cidadãos é um que concilie a meritocracia, a propriedade privada, a livre iniciativa de ação e pensamento, e isso, o ocidente protestante em geral sempre foi mestre em oferecer.

Gostaria como sempre de ouvir a sua opinião a respeito dos assuntos levantados. Muito Obrigado e até logo.

Segunda, 5 de Maio de 2008
Olá Rodrigo, obrigado por mais essa interessante mensagem.
Creio que tenha lhe escapado uma certa sutileza do meu texto dos Sub-Heróis, em Heróis da Areia. A afirmação principal é que o herói não tem uma origem comum, e sim especial. Se não semi-deuses, como a amazona Mulher-Maravillha, ou extraterrestres, como o Super-Homem, ou tendo recebido poderes diretamente de representantes de deuses, como o Capitão-Marvel (SHAZAM), são pelos menos de uma certa nobreza social, como o milionário Bruce Wayne, o mega industrial Tony Stark, ou de uma nobreza intelectual, os cientistas, que são algo paralelo aos magos da antiguidade, como Bruce Banner ou Barry Allen, se bem que esta última tende a estar mais presente nos supervilões.
Você citou como exemplos contrários Homem-aranha, Demolidor e Capitão América. Mas como eu já disse, apesar da origem "humilde" destes, há elementos que os colocam num tipo de elite. Peter Parker era um futuro e provavelmente brilhante cientista, o que o coloca numa futura nobreza intelectual. Matt Murdock é filho de um campeão de Boxe, o que desempenha o papel de um tipo de "herói de ação", e Steve Rogers é membro das Forças Armadas, e os militares também são, nesse sentido, uma elite social. Não é a toa que metade dos heróis que conhecemos nos filmes são militares, ou seja, guerreiros.
Como se isso já não bastasse, o que realmente os joga num limiar quase divino é justamente o "milagre" que lhes dá super poderes. No caso "milagres científicos". Não houve abertura democrática para decidir quem quiser concorrer para ser picado por uma aranha radioativa. Esse eventos são fatalistas, "decididos" por um destino inexorável. Na antiguidade, todos seriam considerado como ação direta de deuses, um gift ("dom/presente"), que pressupõe um presenteador.
Um herói mítico, ou sub-mítico, como esses, jamais é democrático. Eles nascem, ganham de graça ou tomam seus poderes. Não são "escolhidos" nem vencedores de nenhum tipo de concurso. Note que não há meritocracia voluntária na totalidade dos super-heróis, ou ganham o poder por acaso, ou de fato o merecem sob o ponto de vista de um ente superior, como o Lanterna Verde que deu o anel a Hal Jordan, ou o Mago Shazam que deu os poderes ao Capitão Marvel, mas nesse caso, nenhum deles estava buscando esse poder.
Quero dizer, afinal, que os heróis de origem realmente humilde, são tardios nas HQs. Um exemplo é Luke Cage, que era um negro dos guetos americanos, pobre de pai e mãe, e que até se envolveu com o crime. Advinhe como ele ganhou o poder? Por um milagre científico acidental! Claro! Mas veja só que interessante. Cage acaba "alugando" seus poderes. Faltou-lhe o altruísmo típico dos heróis de classes sociais mais abastadas que lutam de graça contra o crime.
Que leitura podemos fazer disso?

Quanto ao texto de Martin Van Creveld... Meu amigo! Eu juro que há muito tempo eu não lia um texto tão safado como este! Um festival inacreditável de sofismas, alguns até mais ou menos ajeitados, mas a maioria de uma grosseria hilária! Só mesmo Veja para publicar uma entrevista dessas!
Bem, por pior que seja um texto, ele tem que conter algumas verdades, caso contrário viraria algo digno da Desciclopedia. Misturando-as com algumas bobagens, pode-se passar a ilusão de um fundamento mais ou menos aceitável. É a partir disto que o autor vai construir sua argumentação, que no caso deste texto, é uma impostura total.
As verdades neste caso são óbvias: Que os homens sempre foram obrigados a também fazer coisas contra a vontade; e que são fisicamente mais fortes, mais agressivos, e para algumas tarefas mais inteligentes que as mulheres. Daí, já podemos destacar ao menos duas omissões. O fato, também óbvio, que os homens são obrigados a fazer coisas contra à vontade PELOS PRÓPRIOS HOMENS, e que as mulheres são também mais inteligentes que os homens para outras tarefas.
A esse fundamento coerente o autor adiciona ao menos duas bobagens. Que os homens sempre foram obrigados a trabalhar ou ir para a guerra (como se não houvesse toda sorte de nobres, privilegiados, protegidos, boas-vidas, criminosos e cafetões), e que a obrigação das mulheres em se manter em casa fosse resultado de uma livre escolha.
Mas o mais grave foi fazer uma cisão entre uma realidade insofismável e a sua causa natural, atribuindo-a a várias pseudo causas. Trata-se de que o privilégio feminino em termos de segurança nunca foi uma escolha social, mas um imperativo biológico, bem como o fato dos homens serem mais dispensáveis que a mulheres em termos reprodutivos. O autor começa o texto dizendo: "Os homens não podem existir sem as mulheres. Já as mulheres, enquanto houver um único doador de sêmen, podem existir perfeitamente sem os homens. Essa condição natural condenou o sexo masculino a trabalhar mais pesado para sustentar o sexo feminino.", o que de certa forma resume todo o viés do autor.
Acontece que não são o homens que precisam das mulheres ou as mulheres que precisam dos homens. É a ESPÉCIE HUMANA, que na condição sexuada, precisa dos dois sexos para a reprodução. Porém as fêmeas arcam com mais de 99% do trabalho reprodutivo, e a única contribuição realmente obrigatória dos machos não é exatamente o que podemos chamar de um trabalho árduo. (Ou é?)
A consequência desse imperativo biológico é o fato de que os machos ficam com muito tempo livre, como se pode observar na quase totalidade das espécies de animais onde o machos não contribuem com coisa alguma para a sobrevivência dos filhotes, as vezes até pelo contrário. Em alguns poucos casos existem machos que se lançam contra os predadores, mas na maioria...
...das vezes eles não colaboram nem na caça ou coleta de alimentos para as fêmeas.
Da "falta do que fazer", os machos humanos puderam usar sua inteligência em otimizar suas capacidades. Enquanto as mulheres estavam ocupadas tendo no mínimo um filho por ano, e cuidando dos outros que vão se acumulando, os homens desenvolveram as técnicas que aumentaram seu poder sobre o mundo, o que resultou na superioridade humana sobre todos os outros animais.
Como se não bastasse os encargos típicos da reprodução, as mulheres assumiram praticamente todo o sistema de suporte vital da espécie humana, a produção e preparo de alimentos, a manutenção da casa, o cuidado com os doentes e tudo o mais que qualquer estudo primário de antropologia pode mostrar não só nos registros históricos e arqueológicos, mas mesmo nas sociedades primitivas que ainda encontramos hoje. Só em estágios mais avançados é que muitas dessas funções foram passando para os homens.
Ao mesmo tempo os homens estão liberados para outras coisas, geralmente canalizando sua agressividade e se ocupando da caça, e de disputas de força entre os mais avantajados, o que acaba sendo necessário quando perigos ameaçam a tribo. Em ambientes gelados a caça e a pesca se tornam a única opção, e diante da hostilidade de outras tribos, hostilidade feitas pelos homens por sinal, se faz necessária toda uma estrutura de poder que acentua a importância dos guerreiros com sendo vitais para a sobrevivência da tribo. Embora essa seja a sobrevivência dos próprios homens da tribo, porque tribo conquistadora alguma mata as mulheres da tribo conquistada, mas sim, toma-as e integra-as a sua própria.
Daí, nos aparece esse distinto senhor e diz que os homens são obrigados a trabalhar para sustentar as mulheres como se elas tivessem algum poder para isso! Ainda diz que as mulheres não serem obrigadas a trabalhar nem a ir pra guerra tem haver com escolha e privilégio, como se fizesse algum sentido mandar a parte fisicamente mais fraca de sua população para enfrentar uma ameaça, e como se isso, ou mesmo trabalhar, fosse possível com um bebê no colo, outro na barriga e arrastando dois pelo braço!
Também não é verdade que os homens são sempre obrigados a ir para a guerra, mesmo porque seria estupidez enviar os mais fracos ou medrosos. Pode consultar a Bíblia ou o Alcorão para ver que mesmo nos momentos mais sangrentos, ficar para trás em segurança sempre foi uma opção em aberto para os homens, salvo em casos muito extremos. Ademais, tal obrigação nem sequer faz sentido, visto que a quantidade de voluntários e entusiasmados para entrar em combate é sempre mais do que suficiente para suprir qualquer exército, o que aliás, é exatamente um de nossos maiores problemas!
Com a evolução da civilização, as coisas ficaram atenuadas em termos de trabalho. Tudo foi ficando mais fácil, mas a estrutura em si não mudou muito. Tente, você, homem, se imaginar numa cidade sendo ameaçada por um exército invasor. O que faria? Mandaria sua mãe, sua irmã, sua mulher, para a frente de combate!? Parece piada, mas o sujeito tem a cara de pau de dizer que o fato óbvio dos homens morrerem em maior quantidade na guerra tem haver com outra coisa que não o fato óbvio de serem os homens que fazem a guerra! O mesmo se aplica ao crime.
Esse proteção natural que damos as mulheres é um imperativo biológico, porque sem ela a espécie correria o risco de extinção. Num naufrágio, por exemplo, preserva-se mais a espécie salvando a parte responsável pelo seu suporte vital, pelo mesmo motivo óbvio que não escapou até ao autor, que é o fato de que mesmo com poucos homens pode-se manter a espécie a salvo em termos reprodutivos. Nesse sentido pode até ser um privilégio, mas é um do qual nossa simples existência depende.
Mas a entrevista não se satisfaz com os disparates. Afirma que a porcentagem de mulheres condenadas à morte é muito menor que a dos homens, o que é verdade, mas se esquece de dizer que a porcentagem de mulheres que cometem crimes violentos, (puníveis com morte) é muitíssimo menor. E num ponto especialmente grave, ao comentar o péssimo argumento feminista de que todo homem é estuprador em potencial, o autor ao invés de aproveitar para demolir essa tolice rebate com uma pior ainda! E logo em seguida passa para a pura e simples mentira.
A única coisa que salva é a afirmação, também óbvia, de que vida atual das mulheres é melhor que a antiga, mesmo pelos direitos conquistados. É também válida a idéia de que as condições de vida masculina também precisam ser melhor observadas e melhoradas, e que muito tem sido negligenciado em relação aos homens, principalmente em termos educacionais. Também sou inclinado a concordar que mulheres reclamam bem mais que os homens.
Se quiser examinar melhor o tema, uma boa autora feminista é Riane Eisler.

Obrigado pelas sugestões de animais símbolos do feminino. Concordo com elas, mas sou mais interessado na aranha, como uma espécie de "sombra" da feminilidade, que ao invés de atrair, causa repulsa. Mas passemos ao tema seguinte.
Primeiro, não me tome por um defensor do comunismo, nem no sentido do comunismo marxista, e muito menos no sentido completamente degradado que o termo assumiu nos regimes extremo esquerdistas ditatoriais. Sentidos, por sinal, absurdamente diferentes.
Da mesma forma, não confunda o capitalismo analisado por Marx, no sentido clássico, com o capitalismo que eu de fato critico, que é principalmente o da especulação financeira e...
...produção virtual de riquezas. É claro que ambos estão interligados, mas Marx nem sonhou no que esse sistema econômico viria se transformar.
Nesse sentido não é verdade que o capitalismo tem resistido, nem que o "comunismo" tenha desaparecido. Não enquanto tivermos quase 1/5 da humanidade vivendo sob um sistema dito comunista. O capitalismo ao estilo do tempo da revolução industrial simplesmente não existe mais. Temos hoje é um sistema muito mais complexo, que mistura elementos desse capitalismo clássico com o socialismo reativo da virada dos séculos XIX e XX, que depois virou Social-Democracia.
Nem mesmo os E.U.A. é diferente. O pensamento esquerdista penetrou em todas as instâncias da sociedade, alterando o comportamento das empresas, dos sindicatos e dos governos, e praticamente extinguindo as paupérrimas condições nas quais viviam os proletários da época de Marx, o que, por si só, já eliminou a revolução proletária como uma opção viável.
Não há mais uma luta de classes bem definida, mas sim uma luta de ideologias mais ou menos compartilhadas em todas as classes sociais, embora com ênfases específicas.
O problema que se coloca agora então não é entre um capitalismo da burguesia e um comunismo do proletariado, mas entre dois mistos que melhor seriam descritos como Neoliberalismo e Socialdemocracia, mas por falta de termos melhor, pois ainda assim não explicitam seus conteúdos.
A questão está entre achar que o devemos acentuar ainda mais o capitalismo, pelo neoliberalismo de mercado e principalmente pelo capital especulativo, ou devemos centralizar mais a produção sob o controle do estado, que deve arcar com as políticas sociais de desenvolvimento e redução de desigualdade. Em termos mais centrais, é a diferença entre achar que o simples desenvolvimento de mercado abrirá espontaneamente oportunidades para todos, ou que tal desenvolvimento deve ser controlado por um poder estatal, que abrirá artificialmente as oportunidades.
Que o desenvolvimento mercadológico beneficia a sociedade não há dúvida, nem que o estado desempenhe um papel regulador, mas falta saber a proporção ideal entre um e outro, visualizando além das falácias comuns.
Uma delas é achar que o simples modelo empreendedor particular em si é uma mera perpetuação dos modelos de dominação anteriores, comparando o empresário à nada mais que um senhor feudal ou senhor de engenhos. De fato tal mentalidade ainda ocorre, principalmente nas américas, mas isso não pode nublar o fato de que a maior parte de tais empresários são pessoas comuns que se ergueram por si próprios, principalmente os pequenos e médios empresários, e como tal não podem ser estereotipados nos mesmos moldes dos grandes burgueses capitalistas do século XIX que punham crianças para trabalhar 12 horas por dia. Deve ficar claro que o empreendedorismo é acessível a todos, e não que empresários e empregados sejam classes sociais distintas.
Outra, o de fazer a estúpida confusão entre meritocracia e capitalismo, como se todo empresário fosse necessariamente alguém que construiu seu empreendimento por meio do trabalho, ignorando que a totalidade dos grandes empresários recebeu suas empresas por herança, e que muitos misturam meios de produção legítimos, que geram empregos, com meios de especulação que produzem coisa nenhuma, apenas manipulam finanças virtuais.
É preciso distinguir entre Liberalismo e Capitalismo, que não são a mesma coisa, sendo o primeiro anterior ao segundo, e que pode ser pensado de forma independente, e sobretudo é preciso distinguir o capital físico, que era predominante no século XIX, do capital abstrato, que predomina agora.
Fundamentalmente, tome cuidado com a confusão entre capitalismo e todos os demais méritos das civilizações contemporâneas. Nunca cansarei de repetir. O desenvolvimento científico, acadêmico, a liberdade de pensamento, a democracia etc. NADA TEM HAVER com capitalismo. São coisas que se relacionam, mas são distintas. Há pouco tempo uma pesquisadora da UnB, em pleno debate sobre células tronco, fez a afirmação delirante de que "não existe ciência fora do capitalismo". É um caso típico de alguém que sequer distingue capital de dinheiro, e que obviamente nem tenta explicar como os soviéticos desenvolveram a maior tecnologia aeroespacial, nuclear e militar do mundo até a década de 70.
Outra coisa que deve-se acrescentar, é que o discurso neoliberal, não importa o quanto o neoliberalismo e o capitalismo sejam ou pareçam ser bem sucedidos, nunca deixará de ter uma desvantagem fundamental. É que ele é, e sempre será, SUSPEITO! Pelo simples fato de que se é discutível que o neoliberalismo seja vantajoso para toda a sociedade, é totalmente fora de questão que ele o é para os mais ricos, os grande empresários, que são bem menos liberais do que os pequenos. É realmente difícil confiar num discurso que está em claro benefício dos mais ricos e no máximo em possível benefício dos menos ricos, razão pelo qual os discursos de esquerda só deixarão de ter força, talvez, no dia em que a pobreza for erradicada.
Enfim, não dá pra analisar essa situação ideológica econômica atual por meio de leituras superficiais como "o comunismo acabou" ou "o capitalismo trouxe o desenvolvimento", pois as estruturas por trás disso são muito mais profundas do que a própria economia em si. Aliás, talvez o pecado original das leituras contemporâneas, mesmo as de direita, seja aceitar de forma acrítica uma das premissas mais fundamentais de Marx, que é a redução de todo o fenômeno humano à sua dimensão econômica, perdendo de vista toda uma vastidão cultural, biológica e mental que constrói de fato nossa história. Obrigado.
Amigavelmente
17 de Maio de 2008
   
           Edson de Oliveira Ataide Júnior - 1980
      Rio de Janeiro-RJ    -    Professor de Matemática
662, 658, 650, 641, 638, 634, 477, 467
463, 455, 453, 451, 444, 414, 397, 376
    e d o l a t j r       g m a i l . c o m
Bom Marcus...
O que pude entender com relação ao que você disse sobre superstição é que ela possui um forte vínculo com determinadas situações que escapam do nosso controle e que uma postura supersticiosa seria capaz de produzir sucesso.
Existem, no entanto, outras melhores opções. A pessoa pode, por exemplo, encarar um tanto friamente o fato do carro não ter funcionado e buscar entender de modo mais racional a situação. Tal postura costuma produzir melhores resultados. Descartar a superstição nos força a adoção de atitudes mais racionais e realistas. No início é ruim, devido a certos hábitos, mas uma atitude mais realista, ao longo prazo, gera mais prazer, conforto e bem-estar, já que os resultados costumam ser bem mais sólidos. E também existe muito medo por detrás de toda postura supersticiosa. O medo é o combustível que ativa o motorzinho da superstição.
A inteligência é uma ferramenta poderosa. Se nossa inteligência não estiver contaminada ou nublada pelo medo, não há necessidade de se apegar à superstição alguma, pois a própria inteligência indicará um melhor caminho, sem necessidade dessas bobagens. Não tenho nada contra as pessoas supersticiosas, mas não tenho mínimo interesse em valorizar suas superstições.
No caso do amuleto, não foi o pensamento supersticioso que resultou em sucesso. Foi o otimismo ou pensamento positivo. A superstição, em si, nada fez. Tanto é verdade que uma pessoa pode adotar uma postura tão-somente otimista, sem apelar para a superstição, e obter o mesmo grau de sucesso. A superstição seria apenas um simples e desnecessário elemento intermediário.
Concordo em parte quando você diz: “Qualquer sentido existencial verdadeiramente humano é necessariamente transcedente no que se refere ao limite da própria existência.”
Se considerarmos que nossos filhos são continuações de nós mesmos, não sei até que ponto pensar no bem estar de nossos descendentes seria transcendental. Não sei não. Nós humanos possuímos um forte processo de identificação e posse. As relações humanas possuem um elevado grau de simbiose, de tal maneira que é complicado afirmar que pensar no outro não seja uma forma indireta de pensar em si mesmo. Sinceramente não vejo como encaixar isso num esquema transcendental.
Quanto ao sacrifício por um filho, realmente não me sacrificaria por um Nardoni da vida, por exemplo. Pensando melhor, talvez me sacrificasse sim, não por amá-lo, mas por me sentir culpado pelo que ele fez. Afinal, como o filho costuma ser visto como uma propriedade e continuação de si mesmo, o erro dessa propriedade é tido como uma falha pessoal, de maneira que muitos pais passam a mão na cabeça do filho quando fazem alguma besteira. A relação entre sacrifício e culpa costuma ser muito forte, tão forte que a maioria das pessoas chamam isso de amor.
Pessoalmente não tenho interesse em abalar a fé religiosa de ninguém, mas meu descaso com qualquer religião é quase absoluto. A dúvida é para poucos. A grande maioria desembestaria, se perdessem sua fé religiosa ou algo similar. Neste ponto concordo com você. Por isso que é tão importante a valorização da cultura e da arte, visto serem falsificações mais saudáveis da realidade, sem o veneno naja da religião.
Acho injusto chamar um descrente no transcendental de niilista, se considerarmos niilista aquele que não deseja nem ama a vida, querendo sua extinção. Neste contexto, obviamente seria injusto chamar um descrente em além-mundos de niilista, pois podem muito bem amar a vida presente e se dedicarem com afinco a ela, embora desconsiderem a existência de uma vida posterior. É aqui que acho que me encaixo. Ficarei agradecido se houver uma continuidade (de preferência agradável), mas não a considero em vida.
Afinal, uma vida de cada vez né?! Fazer uma coisa pensando noutra, em termos de rendimento, não é nada legal...
Por hoje é só...
Um grande abraço e tudo de bom!
Edson Jr
Domingo, 4 de Maio de 2008
Parabéns. Você ganhou a Mensagem 666!

Mas devo dizer que o nível caiu de novo. Vou me limitar a reproduzir trechos de minha mensagem anterior e comparar com trechos de sua atual mensagem para que você possa sentir a dissonância entre:

"De certo que tal amuleto na realidade funciona como uma muleta psíquica, mas isso explica parte DO SUCESSO DO pensamento supersticioso."
e...
"...uma postura supersticiosa seria CAPAZ DE PRODUZIR sucesso."

Com isso caem por terra as primeiras 30 linhas de sua mensagem.
Vejamos agora:

“Qualquer sentido existencial verdadeiramente humano é necessariamente TRANSCENDENTE NO QUE SE REFERE AO LIMITE DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA.”
Em relação a...
"...não sei até que ponto pensar no bem estar de nossos descendentes seria transcendental."

Alguma dúvida de que, a não ser que seus descendentes morram antes de você, eles transcendem a sua existência? "Transcendental" não é um termo que só se aplique à metafísica!
Prosseguindo:

"...mas principalmente a idéia, por si só insuportável, de continuar vivo às custas da perda de uma CRIANÇA."
Com...
"Quanto ao sacrifício por um filho, realmente não me sacrificaria por um NARDONI da vida, por exemplo.

Que eu saiba ele já é bem grandinho.
Por fim:

"Se o sujeito ACREDITA QUE NADA HÁ no transcendente, ele por definição acredita em nada! LOGO, É NIILISTA."
(...)
Vou repetir, não vejo problema algum em ser niilista,..."
Relativa a...
"Acho injusto chamar um descrente no transcendental de niilista, SE CONSIDERARMOS NIILISTA AQUELE QUE NÃO DESEJA NEM AMA A VIDA, querendo sua extinção."

Só pra eliminar qualquer dúvida, "niilismo" vem do termo latino nihil, tiraram o 'h' de entre os 'is', e que significa, advinhe? 'NADA'. Daí se o cara ama ou deixa da amar a vida, é outra história.

Eu esperava outra coisa quando pensei que a mensagem 666 bem que poderia ser "diabólica"!

Amigavelmente

14 de Maio de 2008
   
           Fernando Ventura Bispo Santos
      Araguaina-TO  -  1975
   Militar Reformado   -   Meta Cripto Cristão
625, 633, 635, 657
atthosmatheus       gmail.com        
Olá Marcus, depois conversaremos sobre Olavo, conservadores e revolucionários. Agora gostaria de falar sobre Ficção Científica. Vendo o mundo de terrânia observei que ele é muito sistemático, detalhista, você criou toda uma “geografia”, história, leis e sistemas políticos, para cada reino e sub-reino. No processo de criação das Senhoras de Terrânia você construiu maquetes e mapas, modelos de personagens em três dimensões, etc?

Como é possível manter um vasto mundo paralelo dentro da imaginação? De onde vc tirou os símbolos, as línguas? Você se inspirou em que principalmente para criar esta história? Existiram senhoras de terrânia na vida real do pequeno marcus! Existem divindades em Terrânia? Ah e por falar nisto, estou lendo o e - book do Dawkins, DEUS - Um Delírio .... depois comentamos.

Continue com este valerioduto de informações valiosas!

Até mais!

Segunda, 28 de Abril de 2008
Olá Fernando...
As Senhoras de TERRANIA, sendo uma obra de FC vasta e detalhada tem sim uma cosmologia, geologia, geografia e cartografia definidas, ainda que não completas. Isso tudo é necessário para que ambientação não entre em contradições, principalmente com relaçãos aos tempos de viagens entre os reinos, e o posicionamento das situações.
Quanto a modelos em 3D, não. Nunca construi nenhum, exceto uma feiticeira genérica na capa, embora tenha vários na cabeça, que talvez ainda venha de fato a modelar. Também nunca criei imagens dos personagens, e prefiro, na maior parte dos casos, não fazê-lo, respeitando a imaginação de cada um. Além do mais, eu teria que produzir algo absolutamente estupendo se quisesse passar bem a idéia de uma beleza suprema e irreal das feiticeiras, e mesmo assim, eu o faria ao meu gosto, que pode não ser o do leitor.
Quanto aos prédios, castelos ou veículos, já pensei em produzir alguns modelos, até já esbocei alguma coisa. Mas foi mais como uma diversão pessoal do que como um projeto de publicação.
Manter um vasto mundo paralelo na imaginação, é, na realidade, fácil, pois trata-se de uma representação. Ora, todos temos representações em nossa mente, a começar pela que corresponde ao nosso mundo real. Tenho toda uma representação mental de Brasília, com todas as peculiaridades que conheço, e é claro que tal representação não é perfeita, pois ocasionalmente me esqueço da localização de alguma coisa, ou confundo um caminho com o qual não estou acostumado. Também tenho representações de lugares que jamais fui, e assim minha representação de Nova Iorque, embora corresponda a uma realidade, nunca recebeu alimentação sensorial direta, e sim indireta, por meio de imagens que vi em filmes, revistas etc.
Além de tudo isso, eu, como todo mundo, também tenho representações primitivas de lugares onde nunca fui, e de onde jamais tive qualquer referência informacional. De Araguaina-TO, conheço só o nome, mas é impossível não gerar imagens mentais que lhe representem se eu imaginar as ruas da cidade por onde você caminha. Posso mudar isso procurando informações sobre a cidade, e aproximar mais essa representação da realidade.
Com isso chegamos então ao útimo estágio. Podemos representar coisas que não só jamais vimos e jamais veremos. Que fonte segura poderíamos ter para imaginar Atlântida, por exemplo? Bem, esta ao menos tem uma descrição razoavelmente precisa no Timeu, de Platão, mas e quanto a Jerichó, Hiperbórea, Eldorado etc, que possivelmente nem sequer existiram.
Assim, TERRANIA, bem como a Terra Média de Tolkien, os planetas do Universo Star Wars e etc, dão apenas um sutil passo a mais no nível de volatilidade da representação mental. São lugares que assumimos que não existem em tempo algum, sendo criações voluntárias. A diferença entre esta categoria e a penúltima, onde eu poderia adicionar Sodoma, Lemúria ou Shangri-Lá, é bem pequena, e só precisa ser alimentada com dados mais coerentes para ficar rica e convincente.
Com tudo isso, o mesmo pode ser dito dos idiomas, situações políticas, símbolos etc. Sou partidário da idéia de que nada se "cria", nem mesmo na imaginação, nós apenas realizamos transformações de representações mentais, com a vantagem que, nesse mundo mental, tais processos não são dispendiosos. Portanto, se acredito que se aplica a Primeira Lei da Termodinâmica para o mundo mental, não acredito que se aplique necessariamente a Segunda, ao menos no que se referre a um aumento obrigatório de entropia, visto que no universo mental também não creio haver sistemas fechados.
O que melhor caracteriza a "criatividade" é a amplitude, velocidade e qualidade das transformações, conscientes ou não, que fazemos. Podemos deliberadamente nos basear em alguma coisa prévia, e obter resultados irreconhecíveis.
Enfim, não existiram, nem poderiam existir, feiticeiras terrânicas em minha vida, pois estão mais para representações arquetípicas de animas masculinas, que por definição, só existem na imaginação. Mas de certo tive e tenho correspondentes reais que de um modo ou outro refletem esses arquétipos.
obrigado pela mensagem.
Amigavelmente
7 de Maio de 2008
   
          Ronald Rehn Loma  -  1957  -  Porto Alegre-RS
   Publicitário
   Cristão
660
r o n a l d . l o m a       g m a i l . c o m      
Marcus, concordo com suas considerações acerca dos apoios "cristãos" a toda a sorte de massacre e guerras atuais,
“Portanto, como é possível um governo se mobilizar para guerrear contra um outro país, e ainda obter aprovação maciça de uma população predominantemente cristã, incluindo apoio público explícito e televisionado de pastores cristão na TV?”
Então garimpei nos meus manuscritos do livro estes poucos parágrafos que tratam do assunto.
"Hoje existem marketeiros profissionais garimpando na “Bíblia” toda a sorte de ações, práticas, comportamentos, acontecimentos, e simbologias que possam ser aproveitadas para ações de marketing e promoções de venda utilizadas para atrair fiéis ou arrecadação de fundos das mais variadas denominações, e essas práticas mercadológicas vão sendo copiadas e reproduzidas com velocidade assombrosa.
Quem dera que o marketing e o investimento estivesse sendo utilizado para anunciar o Reino de Deus, mas a singela mensagem de Jesus não dá retorno; creiam-me. Após o sermão do monte, dos milhares atraídos pelos milagres, sobraram uns poucos que discerniram a verdade, para os quais, caiu a ficha: Tu tens as palavras de vida. Jesus é a Palavra, mas isso é loucura para os que se perdem.
Essa garimpagem não se resume apenas a fatores mercadológicos. Ela também se dá na busca de parâmetros antigos da moralidade e costumes da época, os quais são motivo de pregação e tentativa de normatização comportamental desses costumes e estéticas morais.
Os púlpitos e livrarias estão repletos do ensino dessas moralidades, costumes e comportamentos, bem ao gosto do espírito farisaico daqueles seguidores das escrituras para os quais a aparência é o que importa.
O entulho literário norte-americano se amontoa nas livrarias evangélicas e seculares, vendendo e rendendo milhões de dólares com toda a sorte de quinquilharias e miçangas pra índio-tupiniquim ver-fazer, em sua sanha imperialista e colonialista.
Enquanto isso, eles estão matando gente no mundo todo, se dizendo Cristãos e guardiões da liberdade, mas, destilando o ódio e desprezo que lhes é característico, apoiados política e religiosamente pelos grandes nomes da “evangelização” mundial.
Lembro do presidente Bush jurando vingança três ou quatro horas após o atentado de 11 de setembro de 2001. Vingança sanguinária que já levou à morte pelo menos quatro mil jovens americanos e 70 mil civis iraquianos. Pessoas são mortas de todos os lados do conflito sob o manto e bandeira da maior nação “evangélica” e “cristã” do Mundo. Isso para falar apenas do caso iraquiano. No passado recente foi o Vietnã, amanhã serão outros. Estão matando gente que tem pai, tem mãe, tem filhos e sonhos de futuro, e que para esses poderes malignos, não passam de meros números e estatísticas, mas que para nosso Pai Celeste são criaturas amadas pelas quais Ele deu a própria vida.
Então eu escrevo, não para condenar nada e ninguém, mas para que alguns poucos tenham a graça de, a partir deste testemunho, conseguir a libertação das garras dessa desalmada e odiosa religiosidade farisaica para quem o “ímpio” é um inimigo digno de morte, inferno, repulsa e discriminação.
Sei do que estou falando. Cada palavra destes parágrafos é consciente e proposital. Elas foram escritas em meio a lágrimas de tristeza por julgamentos e discriminações cometidas no passado por conta desse insidioso engano."
E o mandamento que vos dou é este: que ameis uns aos outros como eu vos amei.
Sábado, 26 de Abril de 2008
Olá de novo Ronald.

Obrigado por compartilhar mais essa ótima reflexão, que tanto tem feito falta à tão degenerada proliferação evangélica das últimas décadas.

Continuarei esperando o seu livro. Até lá, recomendo a leitura de um excelente cristão. O pastor Caio Fábio, o primeiro a denunciar duramente toda a hipocrisia e desando das designinações que, em nome de Deus, praticam toda sorte de iniquidade.

Amigavelmente

3 de Maio de 2008
   
           Lais Giselle  -  1988  -  Belém - PA
       UFPa- estudane de direito
       Ateísta Convicta

  l a l a g i b a r r o s       y a h o o . c o m . b r
Prezado Marcus,

Há algum tempo atrás descobri um link seu no sítio da STR e, curiosa e despretenciosamente, o acessei. Mas confesso-te que de forma repentina e inesperada encontrei reunido aqui, nas suas páginas, o conteúdo filosófico mais interessante, rico e coeso que uma jovem curiosa, racionalista e atéia poderia encontrar para nutrir-se em suas convicções que, como sabes, são muito, mas muito raramente compartilhadas, diante da preocupante e indignante ignorância que as massas menores e ignorantes, já assim descritas por Kant e Freud, respectivamente, insistem em perpetuar, em detrimento da razão, da lógica e da ciência. Da verdade real pura e simples, tão deturpada pelos maus desígnios das mentes humanas que influenciam milhões de outras mentes ocas.

Seguindo sempre a bandeira do pensamento livre e independente, sob pena de também vender minha alma ao diabo, não ser salva e viver dolorosos dias queimando na danação eterna, compartilho insistentemente que nós livre pensantes e questionadores precisamos de muita coragem, persistência e conviccão para expormos nossas heresias, pecados maiores e sacrilégios sem sermos queimados vivos pelas inquisições pós-modernas da intolerância cega e irracional à propria liberdade humana.

Muito oportuno seu último texto, diante da polêmica jurídica atual que a Suprema Corte enfrenta diante da permissão ou liberação das pesquisas embrionárias de células tronco, que vem sendo veementemente atrapalhada pela igreja católica, através da imposição da federação dos bispos do Brasil, ou algo assim. Um Estado supostamente laico deveria abominar a pressão oriunda deste poder, em suas palavras, saudosístico que os chefes católicos insistem em manter, até mesmo às custas da própria vida, da vida de milHões de pessoas a serem salvas, ou que teriam garantido seu direito a uma vida digna, conquistada pelo trabalho e pela biotecnologia médica. Mas, em sua sábia conclusão, como sempre, a religião quer impedir ou atrapalhar os avanços humanos, em todos e quaisquer aspectos possíveis.

Enfim, parabenizo-o por sua iniciativa e ousadia tão simples, mas tão necessárias!

Até um próximo comentário!

Sexta, 25 de Abril de 2008
Olá Lais, seja bem vinda a este site.
Muito obrigado por seus comentários e sua disposição em conhecer meus textos. No entanto achei um tanto estranho o segundo parágrafo.
O que quer dizer com "vender a alma ao diabo"? E que "pecados maiores" são esses?
Penso que a defesa da liberdade de pensamento, do senso crítico e o combate à obscuridade em geral, nada tem haver com cometer pecados ou vender a alma. Muito pelo contrário. Não creio que esteja correndo o risco de ir pro inferno, porque eu não levo a sério essa possibilidade. Pode até existir um Deus que lance pecadores no inferno, temporariamente, mas não um que lance pessoas que simplesmente decidiram fazer uso pleno de sua capacidade racional, nem se submetem à estupidez alheia porque esta decidiu de autonomear divina.
Meu último texto, O Direito ao Legítimo Ataque, tocou de fato num ponto similar ao que você colocou, embora tenha enfocado a questão da auto declaração de santidade, e do mau hábito que muitos religiosos tem de, acostumados com as regalias que as religiões gozam em nossa sociedade, achar que tem pleno direito de se intrometer em tudo sem dar satisfação a ninguém. Nesse sentido sua comparação é justa.
Mas quero destacar uma diferença importante. A Igreja Católica, nesse caso a meu ver, peca apenas por ainda achar que deve ter o papel de legislador moral da sociedade, e que deve julgar e interferir nos processos sociais e científicos com base em concepções espiritualistas no mínimo inadequadas, interferindo indiretamente na vida do cidadão. Já o tema que abordei sobre a questão da PL 122/06 tem outra peculiaridade. O religioso no caso, de qualquer designação, fica numa amplitude mais restrita, pois se acha no direito de atacar diretamente o cidadão em sua postura e escolha individual, crendo-se justificado por uma instância suprema que dispensa qualquer explicação racional. É diferente da Igreja Católica que, no caso das células tronco, ao menos tem uma teoria da alma razoavelmente coerente.
De qualquer modo, fico devendo um tratamento mais amplo ao tema, para o qual ainda não me sinto totalmente preparado. Sou a favor das pesquisas, é claro, mas penso que por vezes estão exagerando nas expectativas de benefícios que estas pesquisas podem resultar. Sem dúvida que há ampla possibilidade de grandes resultados, mas não vejo muita prudência em depositar grandes esperanças em pesquisas de base, no curto ou no médio prazo, visto que são imprevisíveis e podem muito bem dar em nada. As maiores descobertas científicas da humanidade surgiram de modo imprevisto.

Mais uma vez, obrigado pela participação.

Amigavelmente

2 de Maio de 2008
   
           Edson de Oliveira Ataide Júnior - 1980
      Rio de Janeiro-RJ    -    Professor de Matemática
658, 650, 641, 638, 634, 477, 467
463, 455, 453, 451, 444, 414, 397, 376
    e d o l a t j r       g m a i l . c o m
Olá Marcus! Também acho que a busca pelo transcendente possui como base o desejo de se obter resultados terrenos. As pessoas buscariam o transcendental com o intuito de melhorar suas condições. Ironicamente, ao menos no que tange questões puramente materiais, os benefícios ou recompensas dos que buscam algo transcendental, parece ser inversamente proporcional ao seu grau de busca e empenho, sendo mais lucrativo aos que entendem e exploram tais carências humanas para benefícios pessoais.
Talvez a maioria das pessoas tenham medo de ver certos aspectos da realidade, cogitar hipóteses que não são facilmente suportadas emocionalmente, descascar uma série de superficialidades até o ponto de encontrar a matéria bruta, a essência, independente de ela possuir ou não uma aparência dura ou cruel.
Esse medo em ação, uma ação dificilmente percebida, já que o próprio medo impede tal percepção, acaba produzindo uma sociedade cultuadora das aparências, aparências recheadas de idealismos, valores arbitrários, falsidades. Já reparou que quando uma pessoa sente necessidade de buscar algo transcendental normalmente não procura entender as razões que existem por detrás dessa necessidade? Já reparou a tendência dos que buscam o transcendente de considerarem pessimistas os que procuram causas puramente terrenas como explicação das motivações existentes por detrás de todas essas buscas?
Para mim, o motivador humano é o egoísmo, o desejo de chamar a atenção para si, de possuir, controlar, dominar, querer mais, cada vez mais. Numa civilização, o exercício pleno, direto e sem rodeios do egoísmo é bloqueado, assumindo outras roupagens, tomando outros rumos ou direções, da mesma maneira que uma barreira, impedindo o fluxo natural das águas, as impele para outras direções, canalizando, ramificando, tornando sua intensidade original fragmentada.
Dessa forma, poderíamos supor que aquilo que temos como nobre, transcendente, elevado, sejam resultados de constantes relações interativas dos mais variados tipos e graus de sublimações, de tal maneira que fica difícil de perceber que por detrás de tudo existe algo grosseiro, bárbaro e rude, da mesma forma que é bastante curioso saber que uma bela escultura é fruto de um longo processo de lapidação de uma pedra bruta.
Instintos inibidos e egoísmo refreado geram sublimações, devaneios, elevando nossos sonhos, dando asas para nossa imaginação. Seria uma forma natural de alívio das tensões decorrentes do acúmulo de insatisfações, refreamentos e descontentamentos que a realidade nos impõe. Nesse processo seria de se esperar a criação de um mundo novo, nosso, recheado de idealismos, onde podemos caminhar com mais segurança e firmeza, funcionando como uma válvula de escape.
Com relação aos filhos, o meu sacrifício dependeria do merecimento. Não sacrificaria minha vida por um muquirana, por exemplo. Não vejo o sacrifício como algo transcendental. Emociona, toca nosso sentimento, nos comove, mas sem razões transcendentais. Pais costumam ver o filho como propriedade sua, por isso os valorizam tanto. Muitas das vezes é no filho que os pais vêem a possibilidade de realizar seus próprios sonhos, o filho seria uma continuidade de sua própria existência. Seria de se esperar o sacrifício dos pais pelos filhos, pois o filho é entendido como uma continuidade e combustível para sua própria existência, como uma forte motivação para viver. Os pais vivem, muitas vezes, através dos filhos.
Também existem os casos onde o sacrifício reside na sensação de culpa posterior, caso tal sacrifício não seja feito. Muita gente dá esmola para não se sentir culpado depois. Dar esmola é um pequeno sacrifício que, quando não feito, é capaz de gerar uma grande culpa. Imagine se tratando de maiores sacrifícios, onde o impacto na vida do outro seja ainda maior! Negar tais sacrifícios geraria uma sensação de culpa posterior bem mais intensa.
O que disse sobre o niilismo realmente se assemelha à concepção de Nietzsche, mas não é minha concepção. Na verdade, nem sei ao certo qual minha concepção. Hoje penso de uma forma, amanhã noutra. Talvez seja isso o que mais aprecio em Nietzsche, o seu perspectivismo, observar a mesma coisa nos mais variados ângulos, sob as mais diversas formas. Talvez eu seja um tanto nietzscheriano, no sentido de ser um bocado perspectivista, independente de para onde alguma perspectiva possa me levar. No caso da concepção de Nietzsche, de que a busca pelo transcendental seria uma busca pelo nada, realmente não prova o niilismo dos que buscam o transcendental. Parece, de fato, uma acusação injusta, devido à impossibilidade de se provar a não-existência de algo. No entanto, tal concepção nietzscheriana denuncia o caráter injusto em considerar niilistas os que não acreditam no transcendental.
Afinal, é bem razoável alguém não creditar alguma coisa que não possui evidência e concentrar seus esforços naquilo que possui, desconsiderando uma vida posterior, que pode não existir. Acusar tal pessoa de niilista seria igualmente injusto, já que para ter um sentido pleno, deveria se ter certeza de que existe alguma realidade transcendente, certeza que se obtém tão somente pela fé e não pela honestidade intelectual.
Ora, se é injusto acusar os que acreditam no transcendente de niilistas, pelo fato de não ser possível provar a inexistência de algo, também é incoerente chamar os não-transcendetais de niilistas, pois para isso seria necessário provar a existência do transcendental.
Também acho que a maioria dos céticos no além-mundo não parece desejar o nada. Apenas não percebem evidências suficientes para darem crédito num mundo do além. Tal crença pode servir como paliativo para determinadas angústias vitais, acalmando e confortando uma pessoa, mas talvez não como critério de verdade.
Um grande abraço - Edson Jr
Segunda, 21 de Abril de 2008
Oi Edson...
Boa a sua mensagem, mais sintética e objetiva do que as anteriores. Tenho a comentar o seguinte:
Aconselho muito o livro A Psicologia da Superstição de Gustav Jahoda. Ajuda a explicar os motivos que levam as pessoas a adotarem procedimentos que visam aumentar seu controle sobre o mundo, porém, com base em relações puramente simbólicas.
Exemplo. Índios amazonenses inventaram o "Pau de Chuva" como um instrumento que tem por objetivo incitar a chuva. Claro que ninguém pensa que um desses causa chuva imediata, pois a própria experiência mostra que não. Mas com isso é possível acreditar que "chama" a chuva, faz vir mais rápido, talvez aumente sua probabilidade, etc. Esse é o princípio da semelhança, fortemente impregnado no imaginário humano. Toda criança tem isso e algumas piadas populares conservam essa noção, como a de dizer que tomar muito café escurece a pele, ou muito leite embranquece.
Alguns filósofos gregos, como Anaxágoras, desenvolveram o princípio da Homeomeria, que visava explicar coisas como, porque um coelho não assume características da cenoura mesmo que só coma cenouras. A Homeomeria é um conceito precursor das estruturas de genes, ou do atomismo, pois a cenoura poderia ser decomposta em partes fundamentais que são absorvidas e recompostas na forma estrutural do coelho.
A passagem da superstição-religião é óbvia, todo sistema religioso deve parte de sua natureza a noções supersticiosas. Um conceito interessante apontado por Jahoda é que o grau de superstição é inversamente proporcional ao grau de controle sobre algo. Quem acha que precisa fazer uma oração antes de ligar um carro que tem funcionado perfeitamente? Mas se ocorrer do mesmo carro apresentar dificuldades frequentes de ignição, aí se torna comum as pessoas fazerem "pensamento positivo", frases "mágicas" como "liga carrinho", e até rezas.
Na maior parte dos casos não há qualquer relação de causal entre o ato supersticioso e objeto da superstição. Mas nem sempre há total inutilidade na ação, pois por vezes é possível atingir um estado de maior acomodação psicológica à situação, como no exemplo de pessoas que acreditam dependerem de um amuleto para realizar alguma coisa, e que, de fato, acabam se saindo melhor quando estão de posse de um. De certo que tal amuleto na realidade funciona como uma muleta psíquica, mas isso explica parte do sucesso do pensamento supersticioso.
O problema é, quando já temos controle sobre as coisas, por meio de uma tecnologia ou ciência funcional, continuar insistindo em práticas supersticiosas. Aí já é estupidez.
A busca do transcendente seguramente se associa a isso, mas não se esgota. Você se esqueceu de comentar o núcleo de minha resposta anterior, que é o fato de que o sentido existencial é necessariamente maior que a soma total da manifestação física da existência. Sua afirmação de que só se sacrificaria por um filho de acordo com o merecimento só é possível mesmo para quem nunca teve um. São quase impensáveis as situações onde um pai normal não faria isso se necessário. Não é só uma questão de reflexão existencial, mas principalmente a idéia, por si só insuportável, de continuar vivo às custas da perda de uma criança.
Ademais é claro que continuamos a existir por meio de nossos filhos. Um simples leitura de O Gene Egoísta de Richard Dawkins explica com clareza algo que os antigos gregos também já sabiam. Mas o modo como isso se manifesta diretamente nos pais é algo que nem sequer parece racionalidade. O entendimento é posterior e dispensável. O impulso emocional e intuitivo é esmagadoramente maior que qualquer razão, e é exatamente por meio de impulsos similares que as religiões são tão fortes. Não se trata de uma mera acomodação, mas uma força muito maior, que se não for canalizada pode ser terrivelmente destrutiva. Eliminar a religiosidade não eliminaria essa força, que se desviaria para outras direções. É preciso fornecer aplicações para esses impulsos, ou eles podem se tornar auto destrutivos, ou causadores de desgraças tão grandes ou piores.
É por isso que acho problemático atacar a religião de alguém sem dar-lhes algo em troca. Pois essa força psicológica tenderá a vazar para outra direção. Não basta dar razões, é preciso também dar emoções. Eu recomendo arte. Nesse sentido a literatura fantástica pode canalizar essa força, e ao mesmo tempo trazer outros benefícios. Atividade como ciência e filosofia só são adequadas para quem já tem uma vocação forte nesse sentido.
Tudo isso para dizer que a busca do transcendente não pode ser facilmente reduzida a um denominador único.
Estranha sua resposta sobre o niilismo. Você parece sempre tropeçar quando estamos falando de crença e certezas. O niilista seria aquele que acredita ativamente em nada! Não importa se o nada existe, ou se existe algo transcendente. Se o sujeito acredita que nada há no transcendente, ele por definição acredita em nada! Logo, é niilista. Da mesma forma como quem crê em Deus é teísta independente de Deus existir ou não.
Vou repetir, não vejo problema algum em ser niilista, nem em ser ateu ou materialista. Só acho que uma certeza positiva sobre isso não é racional. Lembre-se que minha definição de FÉ é CERTEZA SEM EVIDÊNCIA. Evidência de não-existência é impossível. Ter certeza da não-existência num sentido geral é fé!
De certo ninguém deseja o nada. Visto que é absurdo. Nem há problema algum em desconsiderar a possibilidade transcendental, nem como em considerar. O problema é o abuso. É levantar tal ou qual postura pragmática baseado em crenças absurdas em ditames divinos, ou atacar crenças inofensivas misticamente baseadas em nome de uma suposta superioridade da crença no nada.
Por isso não julgo. Por isso sou cético. Nada invisto na possibilidade transcendente, exceto pensar sobre o tema. Nem invisto coisa alguma contra quem creia ou descreia. Mas aplicarei meu esforço sim, contra os abusos de tais crenças.

Amigavelmente
1 de Maio de 2008
   
           Vinicius Jardim  -  Presidente Prudente-SP  -  1950
   Designer gráfico


    v j j a r d i m       g m a i l . c o m
Marcus, bom dia,
topei com um texto de sua autoria na Wikipédia - sobre o ordenamento das Artes (pelo qual o parabenizo - muito bem estruturado e muito elucidativo). Porém, discordo da (não sua, especialmente, mas de uso comum) Nona colocação para as Histórias em Quadrinhos, uma vez que considero - dos RELATOS de caçadas e cotidiano dos nossos antepassados pré-históricos à Via Crucix cristã e por aí afora - como impressões "quadrinizadas" de experiências humanas com vistas a facilitar a comunicação e assimilação destas (a serviço ou não de qualquer entidade).
Minha discordância não visa despertar levianas polêmicas, mas ponderação , diálogo e reflexão. Como todo o texto do referido texto citado, apreciaria muito saber se o íten "HQ" teve um raciocínio tão esmiuçado quanto o de outras artes ou se lhe escapou estas ilações. Poderia aprofundar a questão especificamente? Eu muito agradeceria a concessão.
Minha reverência.
Vinicius Jardim

Domingo, 20 de Abril de 2008
Prezado Vinícis...
O texto onde trato do assunto originalmente é O que é ARTE?, e este tem sido frequentemente reproduzido na web sem meu conhecimento. Eu não sabia que ele estava na wikipedia, ou esteve, pois não consegui encontrá-lo.
A classificação das artes é arbitrária. Não há como não sê-lo. Os únicos elementos objetivos que podemos adicionar são o da tecnologia, que torna óbvio que o cinema tenha que ser mais tardio que a música, por exemplo.
As Histórias em Quadrinhos não necessariamente dependem tanto de suporte tecnológica, elas poderiam sim, ter surgido muitíssimo antes, e de fato houve expressões nesse sentido. No entanto, devemos lembrar que como uma produção significativa, elas são tardias. Poderia muito bem haver HQs na Idade Média, mas se existem, nem sequer chegaram ao nosso conhecimento.
As pinturas rupestres, nesse sentido, não me parecem poder se enquadrar na categoria, primeiro devido a escassez da produção, e depois porque há sem dúvida um componente histórico que nos leva às classificações. Trata-se do momento onde a humanidade, conscientemente, se debruça sobre uma produção material com pretensões estéticas, daí, principalmente, a arbitrariedade.
Não posso realmente dizer que eu tenha me debruçado tanto sobre a questão das HQs quanto sobre outras questões. É difícil quantificar isso. Sei que, como fenômeno de mídia, e considerando que o cinema tem sido caracterizado como arte, porque as HQs também não poderiam sê-lo? Digo isso porque até hoje há conservadores que negam sua dimensão artística.
Depois, temos o teor da composição. As HQs misturam literatura com desenho, por isso estas tem de lhe ser anteriores. Por fim, só resta sua situação temporal. Não creio que suas possíveis manifestações anteriores, que certamente devem existir, possam afetar sua classificação como um fenômeno de massa no século XX.
Claro que tudo isso é discutível. Esse meu texto é antigo é nunca dei-lhe maior desenvolvimento. Não é uma monografia, apesar de eu sinceramente achar que a parte menos desenvolvida da filosofia é a estética, e assim, penso que dificilmente eu o alteraria significativamente numa abordagem acadêmica.
Faltou-lhe uma explanação sobre outras formas de manifestação artística, como as Artes Circences, em especial o Ilusionismo, ou os desfiles da alta costura, que muitas vezes assumem a mera forma de exposição de arte em esculturas ambulantes.
Sem falar num aprofundamento maior na animação gráfica, em especial 3D, que foi minha profissão durante muito tempo.
Mas isso fica para futuros projetos.
Amigavelmente
30 de Abril de 2008
Mensagensa