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Marcus Valerio XR

Comentários de Júlio César Siqueira Barros
Autor do site CRITICANDO KARDEC

Sobre o texto TRÉPLICA de CRITICANDO Criticando Kardec
de André Maximiano Serpa

Os comentários de Júlio estão em "BEGE" Negrito.

Publicado em 21 de Fevereiro de 2005 - Marcus Valerio XR


Caros André e Marcus,

Olá André,

Obrigado por seu retorno. Vou comentar suas duas mensagens. Meus comentários serão iniciados por *** (Que no caso removi dado ao uso do recurso de cores. - Marcus Valerio XR)

Da sua mensagem ao Marcus: 1 - "?!?! Onde alguém acusou os kardecistas de "se apossarem egoisticamente"?!?! Por favor . Deve ter havido algum engano." Veja a subseção 3 "Kardecismo ou Espiritismo". Destaco que modificações podem ter sido feitas pelo autor do site Criticando Kardec. Se acontecerem, serão muito bem vindas.

Veja, André, eu não acho, e nem disse (!), que alguém se "apossou egoisticamente" de nada. Isso aí foi por sua conta. O link onde eu discorro sobre isso está em: kardesp.htm. Se porém houver algo nesse meu texto que você considerar interessante criticar, rebater, ou refutar, ouvirei seus argumentos com toda a atenção e respeito.

Da sua Mensagem a Mim (vou colá-la na íntegra):

Resposta às Mensagens I e II de Júlio Siqueira:

Caro Júlio Siqueira:

Primeiramente, gostaria de esclarecer que se te chamei de espírita foi em razão dessa afirmação ter sido feita pelo Marcus Valério, como na resposta a Paulo César na mensagem 372.

Para mim, ser chamado de "espírita" (ou mesmo "kardecista") não é uma ofensa; é antes um elogio. Apenas ressalto, obviamente, uma certa imprecisão desse termo ao ser referido a mim.

Sinto também, pela análise de suas palavras, que te magoei, quando afirmei o seu despreparo na elaboração do site Criticando Kardec.

Isso, como dizem, "faz parte". Não há problema.

Não teria como saber dos seus cursos e esforços empregados em todo seu processo de aprendizagem. Em vários momentos eles não estiveram presentes em sua crítica.

Ficarei agradecido se apontar onde e como incorri em tais deslizes.

Acho que talvez, o mesmo ideal que o moveu em seu ataque a Kardec, esteve presente comigo, porém de forma contrária, em sua defesa.

Parodiando o super herói Chapolin Colorado (bem humoradamente, mas seriamente): "Suspeitei Desde o Princípio"! (ou seja, concordo com você).

Não estou anulando meus comentários anteriores os quais, acredito eu, foram corretamente embasados, mas somente reafirmando que talvez tenha, por vezes, usado um pouco mais de paixão em minhas palavras.

A causa é justa e preciosa. E a emoção conseqüentemente também.

Até porque é uma grande mentira achar que as pessoas escrevam com TOTAL imparcialidade.

Correto e bem sinalizado.

Por isso, peço-lhe desculpas e reitero meu respeito a ti. Agora, indo ao que importa aos demais leitores, gostaria de fazer alguns comentários relacionados às suas duas mensagens.

1- Conforme disse anteriormente o trecho de Prolegômenos não apresenta relação obrigatória com a questão 196, embora ambos figurem em O Livro Dos Espíritos.

Concordo. E creio que deixei clara minha concordância com isso em minha mensagem anterior.

Portanto, toda a crítica por ti elaborada nesse aspecto, inclusive a ironia que você diz ter descoberto, caem por terra.

Discordo desse "portanto". Minha percepção da invalidade da metáfora da videira continua, à luz do que você disse, válida. Ou seja, você não a refutou em termos técnicos. A ironia do destino, a meu ver, permanece. Basicamente, não há "licor" (etanol) algum na imagem, apesar dos "espíritos superiores" aparentemente acreditarem que há.

Destaco que o Marcus Valério concordou comigo, como você deve ter visto.

Ele concordou antes de eu ter explanado mais a fundo sobre o ponto. Se ele continuar concordando com você agora, respeitarei a posição dele, assim como respeito a sua. Mas, nesse caso, continuaria com a minha opinião, já que a meu ver não foi apresentada refutação ao meu raciocínio. Eu poderia transformar esse ponto em uma questão pra você: Por quê você, André, considera a metáfora da videira em prolegômenos válida? Explique essa metáfora para nós, sob sua ótica.

2- Concordo com você em sua reflexão a respeito da estagnação da ciência espírita. Realmente estamos comendo moscas e essa também é uma bandeira minha.

É, mas convém não exagerarmos. Tem coisa boa sendo feita também. Você sabe disso, eu sei.

Mas isso tem uma explicação histórica.

Sem dúvida. E outras explicações também, além da histórica. Infelizmente os críticos ao espiritismo, (e ao kardecismo, dentro do meu uso de tais termos) e ao espiritualismo, normalmente (quase sempre) são muito ruins e exagerados em sua negatividade.

O Espiritismo surgiu na França no século XIX e lá encontrou adeptos muito afeitos ao estudo prático e ao questionamento filosófico. Porém, pouco se extraiu de conseqüências morais pelo estudo da revelação. Como a finalidade mestra do Espiritismo é a melhoria do ser humano em todos os aspectos, inclusive em seu caráter e conduta de vida, à luz do ensinamento moral fornecido pela religião, o eixo central dessa doutrina foi transportado pela espiritualidade para o Brasil. Nessa nação de povo acolhedor, solidário, sem tantos preconceitos como em outras localidades do globo

Olha, André, com todo o respeito, eu sou um pouco "pé atrás" com essas visões a respeito do povo brasileiro. Temos também muitos problemas, e ao comparar-nos com outros povos, não vejo necessariamente superioridade moral ou emotiva. Enfim, respeito sua posição.

e, principalmente, muito receptivo aos valores da fé e esperança, é que foi depositado o cerne desses ideais. Todavia, essa mesma religiosidade característica, muitas vezes carregada de excessos, misticismos e autoritarismos presentes no consciente e no subconsciente dos arcabouços mentais de seu povo, gerou uma valorização excessiva da vertente religiosa em detrimento da filosófica e principalmente da científica.

Talvez não necessariamente uma valorização excessiva da vertente religiosa, e sim um detrimento injustificado das vertentes filosóficas e científicas. O lado religioso kardecista brasileiro é de um valor imenso. E isso já me foi dito (pasme!) por um amigo católico, que ressaltou para mim que o kardecismo é a religião brasileira com talvez maior devotação a obras assistenciais. E a que menos faz alarde disso. Fantástico. E pouco conhecido!

É preciso levar em conta também, que somente em tempos recentes, o meio acadêmico, fonte primária dos grandes avanços e descobertas, tem se despido do preconceito e permitido estudos e experiências ligados às questões transcendentais.

Tem havido grande retrocesso nisso também, em especial através do trabalho dos "pseudo-céticos", como os do CSICOP estados-unidense. Relato e critico isso no link abaixo: criticandooceticismo.htm

Sem contar o grande preconceito da própria sociedade em relação aos seus adeptos. Se ser espírita já era difícil, imaginem fazer ciência espírita?! Vasculhem os arquivos ou consultem os trabalhadores mais antigos das casas espíritas de algumas décadas passadas. Conhecerão histórias escabrosas no que diz respeito à discriminação.

Uma outra grave questão é a falta de recursos financeiros. Aí temos um problema. Como somos adeptos do "daí de graça o que de graça recebeste", ou seja, não temos dízimo, contribuições obrigatórias e ainda somos, corretamente, impedidos de cobrar pelo trabalho mediúnico, muitos de nós ainda se furtam a espontaneamente ajudar a causa. Os parcos recursos que temos, os direcionamos a assistência social, construção de creches, asilos, hospitais, etc... mas quase nunca, os direcionamos para a construção de escolas e para a pesquisa científica. Mentalidade errada, pois que, educar e fomentar conhecimento também são auxílio fraterno, tão ou mais importante que as outras formas de ajudar.

Felizmente, algumas pessoas estão correndo atrás do tempo perdido como é o caso de Dora Incontri, jornalista e doutora em pedagogia, que está iniciando a 1a turma de Pós-graduação, abrindo espaço, portanto, para os espíritas na universidade (Univ. Santa Cecília em Santos-SP). Mas especificamente tenho notícia do Dr. Sérgio Felipe na USP, com trabalhos publicados e também cursos ministrados, além do projeto de criar a UNIESPIRITO. Hernani Guimarães também publicou trabalhos. Mas realmente é pouco. Esperamos melhoras. 3- "Deus: A ortodoxia científica não quer se posicionar a respeito. Sendo bastante prudentes, diríamos que é uma questão ainda em aberto (é um dos, senão o maior, questionamento de todo ser dotado de racionalidade!). Em uma última e radical análise, ninguém pode afirmar sua existência ou inexistência".(meu) "Ou seja, você mesmo está afirmando que não é algo científico dizer que Deus é cem por cento comprovado". (Júlio Siqueira)

O que eu disse, é que em uma última e radical análise, se não se pode dizer que Deus existe, também não há nada que prove que Ele não exista.

Concordo.

Infelizmente, o que tem acontecido, é que a ciência ortodoxa tem afirmado a sua inexistência.

Concordo!!! E critico demais isso, principalmente em alguns foruns "céticos" que freqüento e freqüentei, como o Ceticismo Aberto e o SBCR.

Alguns abertamente, outros mais veladamente. O próprio Kardec afirmou que é uma condição indispensável para o entendimento do Espiritismo, a prévia aceitação de Deus.

Aí acho que Kardec, em termos científicos, pisou na bola. O fato da ciência não provar que Deus não existe, não quer dizer que Deus exista. Cientificamente, Deus pode existir ou não. Assumir uma posição taxativa, pró ou contra, é, a meu ver, anticientífico.

Assim, não há nada de contraditório nessa premissa básica. Caso você afirme que ela é mal resolvida, também diria que é para ciência ortodoxa. Afinal, se não há Deus, quem criou o Universo?

E se há Deus, quem criou Deus? Lembra do axioma: "Pela obra se conhece o criador", e "todo efeito tem uma causa", ?. Se você encontrar um Universo, ele é um efeito e tem um criador. Dá para, a partir daí, deduzir que esse universo foi causado e criado por um Deus prá lá de poderoso. Agora, se você encontrar um Deus (ou O Deus), ele também é um efeito (lógico: por quê universos e pessoas seriam sempre efeitos e Deuses seriam sempre causas incriadas?) e ele também é uma criação. Então, pela lógica desses dois axiomas (que Kardec adorava, mas não enxergava as conseqüências lógicas inevitáveis), Deus foi criado por um Deus ainda melhor, e assim por diante, ad infinitum. Possível? Sem dúvida. Tão possível quanto o Universo não ter sido criado por deus nenhum. O erro desse raciocínio está justamente nessa idéia de que qualquer COISA é um EFEITO. Pode ser que haja coisas que não sejam efeito de nada, sendo acausais portanto.

Como ele surgiu? Por quê ele surgiu? Para que ele surgiu? Por que estamos aqui? Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que é o nada? A ortodoxia pode até apresentar algumas respostas, mas certamente elas não são conclusivas e inquestionáveis. Ontem mesmo (12/01/2005), em seu último noticiário noturno, a Rede Globo noticiou que a NASA lançou um foguete de exploração que irá colidir com um cometa, penetrando o equivalente a quinze andares de um prédio, para a partir da análise do seu interior obter conclusões básicas a respeito da formação do Universo.

4- "(...) e tenho uma minunciosíssima reavaliação de um caso de reencarnação de Ian Stevenson onde demonstro a validade dos métodos de Stevenson e de suas conclusões pró-reencarnação".

Afinal, se os métodos do pesquisador são válidos, o que mais precisa para comprovar cientificamente a reencarnação e conseqüentemente a sobrevivência da alma? Notem que aceita a primeira não tem como negar a segunda. Serão necessários a materialização de um espírito num laboratório de cada universidade importante do planeta com dia e hora marcados?

Eu diria, André, que nem isso! (materialização do espírito em laboratório). Sugiro os dois links abaixo: apples.htm, psi-vs-espirit.htm

Ressalto que mesmo Ian Stevenson NÃO CONSIDERA que a reencarnação esteja comprovada cientificamente. Ele apenas afirma que há evidências indicativas de paranormalidade nos casos por ele estudados (nos melhores deles, que perfazem algo em torno de 3 por cento do total de casos estudados por ele), evidências essas que seriam indicativas de paranormalidade e sugestivas de reencarnação. Daí a uma PROVA científica é um salto muito grande. A minha fé é na reencarnação. Eu acredito nela. Como fé. Mas eu não afirmo, nem acho, que ela seja uma hipótese científica já comprovada.

5- Quanto à pluralidade dos mundos habitados, você, Júlio, questionou as descrições de vida em outros planetas do Sistema Solar na Revista Espírita e no Livro dos Espíritos. Certamente não as li todas, especialmente as da primeira fonte, contudo, o entendimento do conjunto da obra nos mostra claramente que essas civilizações não se encontram necessariamente no mesmo plano, ou se preferir, no mesmo grau de materialização que nós.

Não é o que dá a entender as descrições na Revue Spirite durante a vida de Kardec. Os habitantes de Marte e de Vênus, por exemplo, seriam bem similares a nós. Nada levaria a crer que eles são feitos de vento ou algo similar. As descrições da vida em Marte são de tribos bestiais e primitivas (apesar de Emmanuel asseverar o contrário!). Em Vênus, os seres se alimentariam de "laticínios"...(!)

Portanto, não quer dizer que se formos até esses locais encontraremos esses seres.

Pois é, né André, aí complica. É isso que os críticos vivem atirando contra algumas das "explicações espíritas": as coisas existiriam mas seriam indetectáveis. Então, na prática, é como se nem existissem. E pior, nos relatos originais, não era isso que dava a entender. Muito pelo contrário. O que parecia era que seriam seres que conseguiríamos ver. Talvez não os de Jupiter, que teriam seus corpos mais etéreos e seus perispíritos igualmente etéreos. Mas os de Vênus, que seriam pouco superiores a nós? E os de Marte, que seriam inferiores? Fica complicado isso. Mina a credibilidade das afirmações "científicas" kardecistas.

A ortodoxia também não nega a possibilidade de ter no passado, ocorrido formas de vida nesses locais. Pelo contrário, muitos estudos têm sido feito nesse sentido.

Ah! Mas o Espiritismo não comprova todas essas afirmativas cientificamente. Sim. Mas se ele for sempre esperar a confirmação pela ortodoxia, não será mais Espiritismo e sim Ciência Ortodoxa!

A rigor, André, a vertente científica do kardecismo é ciência ortodoxa mesmo! Pelo menos a meu ver. (apesar de não ser aceita como tal pela ciência predominante; mas é uma "ciência ortodoxa" nos métodos e procedimentos).

Alguns exemplos interessantes:

-A ortodoxia do final do século XX fala da teoria das cordas, afirmando que o que fornece as diferentes apresentações da matéria é o nível de vibração de seu elemento primordial, comum a todas as coisas. Os espíritos já diziam isso a mais de cem anos atrás, apenas com outra linguagem, basta observar a descrição do fluido cósmico (universal) em O Livro Dos Espíritos.

Como assim? Explique-se melhor. Que ponto especificamente do Livro dos Espíritos você acha que embasa a teoria das cordas (e olha que tal teoria pode nem estar certa).

- Albert Einstein, que, diga-se de passagem, acreditava em Deus e suas falas estão impregnadas de religiosidade, apresentou a Teoria da Relatividade por volta de 1910.

Einstein era "deísta", algo que Kardec execrava.

Em 1868, os espíritos já traziam um esboço dessa idéia,

Como assim? Desconheço isso. Inclusive acho que a teoria da relatividade atrapalha um bocado o kardecismo.

que mais tarde foi mais minuciosamente descrita e equacionada. Ver Teoria da Presciência em A Gênese (tenho que escrever sobre esse tema!).

Vou dar uma olhada... Depois digo se achei algo interessante no sentido de corroborar a teoria da relatividade. Apenas ressalto que a teoria da relatividade está calcada no princípio da relatividade de Galileu, que já era de pleno conhecimento do astrônomo Camille Flammarion, que foi talvez o principal contribuidor para o livro A Gênese (na parte da "Uranografia" e quaisquer outros textos assinados por "Galileu" em A Gênese).

Concluindo: Os aspectos que você chama de mal resolvidos do Espiritismo, nem mesmo a maravilhosa ciência ortodoxa conseguiu resolver, são eles: Deus e a habitação do Universo.

Quem dera fosse só isso, André.

Trata-se, portanto, de uma crítica injusta, pois é uma questão de evolução para todas as ciências. Quanto às conclusões equivocadas dos postulados básicos do Espiritismo, volto a perguntar: onde estão?

Acho que esses textos também respondem senão a todos, pelo menos a maioria dos questionamentos levantados por Wagner de Almeida Medina na mensagem 404. Mas só para acrescentar, descobrir antibióticos, vacinas e medicamentos não é trabalho da ciência espírita. Para isso, tem o homem sua própria inteligência e todos os conhecimentos armazenados pela ciência tradicional.

A ciência espírita tem como ocupação o espírito. E não pense que isso é pouco. Sua comprovação representa uma mudança radical de paradigmas, especialmente com a reencarnação. A sua comprovação representa mudanças sociais, econômicas, políticas, religiosas e científicas. Imaginem a mudança de comportamento que ela pode gerar nos seres humanos. Como agirão as pessoas quando tiverem vontade de matar alguém, mas se defrontarem com a verdade inquestionável da lei de causa e efeito, como mecanismo de "punição" (prefiro reajustamento), trazendo-lhes encargos e dificuldades na vida futura? Esse tipo de questionamento valerá para todas as decisões, desde as menores até as maiores. Creio que um mundo melhor não é pouca coisa.

Ok, André. De fato, todas essas coisas poderão de fato mudar (e esperemos que para melhor...) com a comprovação científica das afirmações kardecistas.

Mas atendendo à sua justa demanda, vou falar então um pouco sobre os "aspectos mal avaliados e conclusões equivocadas mesmo nos postulados mais básicos do kardecismo" (que é exatamente o que eu digo, ou seja, os termos que eu uso, na página de abertura do meu site).

São então duas coisas que eu devo ressaltar nos itens que enumerarei abaixo: primeiro, se um determinado item é um "postulado básico kardecista" no meu entendimento. Segundo, se o item é um "aspecto mal avaliado" ou uma "conclusão equivocada". Note que estou fazendo tais considerações a respeito da "faceta científica" do kardecismo. Se alguém considerar todas essas afirmações abaixo como válidas em termos RELIGIOSOS, então eu nada objetaria, já que estou querendo questionar (questionar, e não detonar!) apenas a cientificidade do kardecismo.

Itens (retirados de kardec1.htm):

1- Existe um mundo material e um mundo espiritual.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: não há na base de dados de Kardec material suficiente para afirmarmos cientificamente que há um mundo espiritual, apesar de ele de fato fornecer algumas indicações de que tal mundo exista. E também, esse "mundo espiritual" poderia ser feito justamente de matéria, ao contrário do que alegam os "espíritos superiores" que assessoravam Kardec.

2- O mundo espiritual é pré-existente ao mundo material. É o mundo principal, e é, pelo menos até certo ponto, não dependente do mundo material.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: pelos mesmos motivos do que foi dito acima. e também Conclusão Equivocada: parece ser um grande erro considerarmos que o "mundo espiritual" não depende do "mundo material". Pra começo de conversa, sem o mundo material não haveria nem espíritos puros nem evolução espiritual. Então esse papo de "É o Mundo Espiritual que é Bonito e Cheiroso" parece mais juízo de valor do que avaliação verdadeiramente científica (note que o "pelo menos até certo ponto independente" ficou por minha conta, já que o que é dito no Livro dos Espíritos é que o mundo espiritual é independente do mundo material pura e simplesmente!).

3- Tudo no Universo tem uma função.
É Postulado Básico: coloco isso como um postulado básico devido ao fato disso estar indissociavelmente ligado à idéia de um Deus aos moldes como Kardec o via e definia.
Aspecto Mal Avaliado: considero tal postulado mais como um juízo de valor do que como uma descrição realmente reveladora a respeito do funcionamento do universo. Não chego a considerar uma conclusão equivocada, pois há uma similaridade entre esse princípio e a idéia que há nas ciências de que todas as coisas do universo fazem parte de uma cadeia de causalidades (causas > efeitos). Então alguém pode considerar que mesmo um planeta inerte por 15 bilhões de anos tem uma função, dependendo de como a pessoa definir "função". Faço contudo a ressalva que mesmo nessa visão extrema há que se ter cuidado, pois ao que parece os cientistas admitem atualmente que existem entidades (partículas) que não interagiriam absolutamente com nada no Universo (alguns tipos de neutrinos), sendo então bem provavelmente cem porcento afuncionais!

4- Todos os mundos (ou seja, planetas e objetos astronômicos similares) são habitados.
Não é Postulado Básico: quando eu digo que algo "não é postulado básico", o que eu quero dizer é que mesmo se tal item for falso, o kardecismo não se abalará necessariamente.
Conclusão Equivocada: admite-se na ciência atual que há mundos não habitados, o que, se for verdade, tornaria a conclusão exposta acima no item 4 como equivocada. Contudo, é necessária a ressalva que mesmo os espíritos afirmaram que há mundos não habitados, mas que teriam função por serem "mundos em formação".

5- Possuímos o corpo físico e o espírito, sendo nosso espírito a sede de nossa consciência.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: não há como excluirmos a hipótese materialista. Ou seja, em termos científicos, pode ser que haja espíritos ou não. Não há, ainda, como afirmar cientificamente o item 5 acima.

6- O espírito sobrevive à morte do corpo físico.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: não há, ainda, como afirmar cientificamente que a existência de espíritos foi comprovada. Mesmo se houver espíritos, eles podem não ser a mente das pessoas que morreram, ou podem ser a mente das pessoas que morreram e talvez morram, eles próprios (os espíritos), em algumas décadas também (ou seja, o fato de haver espíritos não implica necessariamente em sermos imortais).

7- O espírito interage com a matéria através do perispírito.
É Postulado Básico: coloco esse item como postulado básico devido ao fato de Kardec basear todo o conjunto de fenômenos espíritas no perispírito. Mas a rigor o espiritismo sobreviveria sem esse item 7.
Aspecto Mal Avaliado: não há boa comprovação da existência do perispírito, e o perispírito não resolve em nada a misteriosíssima questão da relação "mente-matéria".

8- Há apenas um tipo de "linhagem" de espíritos.
Não é Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: pode ser que haja diversas linhagens de espíritos, como afirmam algumas visões orientais segundo as quais gatos sempre reencarnariam em gatos, etc. Os próprios "espíritos superiores" que assessoraram Kardec tinham um pezinho nada discreto nessa direção (ou seja, achavam e afirmavam que o espírito de um animal jamais reencarnaria em um homem, e que eram linhagens distintas). Contudo, Kardec forçou bastante a barra para que os "espíritos" dissessem (de "livre e espontânea vontade"...) que há na verdade uma linhagem única. Deixaram ainda de fora, contudo, o próprio Deus, que se mantém no kardecismo em uma linhagem anímica à parte (ao contrário do que ocorre no Brahmanismo, onde somos tentáculos não rompidos de Brahman).

9- Os espíritos são individuais e conservam sempre tal individualidade, em substância, memória, personalidade, e história de vida.
Não é Postulado Básico: com isso quero dizer que mesmo se algum dia ficar provado que o Brahamanismo (e o pampsiquismo) é que está certo, isso não detonará necessariamente o espiritismo.
Aspecto Mal Avaliado: ou seja, o item 9 pode estar errado! Pode ser que os espíritos se fundam, ou mesmo que se dividam.

10- Há a afinidade entre os espíritos semelhantes, e a repulsão entre os opostos.
Não é Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: talvez um espírito superior possa devotar grande amor a um espírito inferior. Eu disse que isso não é um postulado básico justamente porque de certa forma há base no próprio kardecismo para vermos as coisas desse modo.

11- A progressão dos espíritos (em conhecimento e em moralidade) tem um "início" (onde e como, não se sabe; ou seja, não foi ainda revelado ou descoberto) e um "fim" (espíritos puros). Em sua evolução, os espíritos "passam" (encarnam) pelos reinos mineral, vegetal, animal, e "hominal".
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: pode ser que as coisas não se dêem desse jeito, mesmo se existirem espíritos.

12- O espírito só progride, nunca retrograda, podendo por vezes "estacionar" durante um tempo mais ou menos longo, mas nunca infinito. O "progresso" dos espíritos se dá em conhecimento, em moralidade, e em poder anímico sobre os espíritos inferiores na hierarquia espiritual. Igualmente, em suas encarnações os espíritos habitam corpos orgânicos cada vez mais "aperfeiçoados", indo no sentido vegetais -> animais -> homem; nunca indo no sentido homem -> vegetais, ou homem -> animais.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: igualmente ao item acima, pode ser que as coisas não se dêem assim. (a propósito: um dos casos de reencarnação estudado por Ian Stevenson é o de uma mulher que afirmava ser a reencarnação de um boi! Isso ainda não é um boi afirmando ser a reencarnação de uma mulher. Mas é quase...)

13- Há a reencarnação.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: mesmo havendo espíritos, pode ser que não haja reencarnação. E mesmo se houver, talvez nem todos reencarnem.

14- Há a alternância entre a vida como espírito encarnado e como espírito desencarnado (ou "errante"). Isso até que o espírito atinja o grau de espírito puro, a partir do qual pode nunca mais reencarnar. Aparentemente, espíritos puros podem reencarnar se assim o desejarem, mas esse parece ser um ponto um pouco obscuro na teoria kardecista.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: mesmo havendo espíritos, pode ser que as coisas não se dêem desse modo. Pode até ser que espíritos vivam apenas alguns milhares de anos, ou uns poucos milhões. Talvez haja até "anjos decaídos".

15- As encarnações procedem também de mundos (planetas) "inferiores" (planetas com civilizações menos desenvolvidas em conhecimento e em moralidade), seguindo posteriormente para mundos "superiores".
Não é Postulado Básico: ou seja, talvez um dia descubram que as encarnações se processam preferencialmente no próprio planeta, e mesmo assim isso talvez não abale fortemente o espiritismo.
Aspecto Mal Avaliado: pode ser que seja quase impossível reencarnar em outro planeta.

16- Há a "redenção inexorável", ou seja, nenhum espírito permanece para sempre em uma condição inferior.
É Postulado Básico.
Misto de Aspecto Mal Avaliado com Conclusão Equivocada: seria esperado, dentro do exposto pelo kardecismo, que de vez em quando aparecessem espíritos que permaneceriam por bilhões de anos a fio nas fileiras do mal, e que talvez nunca viessem a se emendar no final das contas. A menos se não houver de fato livre arbítrio.

17- Há o livre arbítrio e a responsabilidade pelos atos praticados, implicando em necessidade de se "pagar" pelas faltas cometidas, o que por vezes inclui a reparação dos erros junto àqueles a quem se ofendeu. Isso é por vezes chamado de Lei Moral de Causa e Efeito, e posteriormente a Kardec passou-se a se utilizar o termo indiano "Karma" (ou "Carma") para se referir a este aspecto da teoria-doutrina kardecista.
É Postulado Básico.
Misto de Aspecto Mal Avaliado com Conclusão Equivocada: é um equívoco querer concluir que, já que há no universo causa e efeito, tal cadeia se aplicaria também às "faltas cometidas". Uma falta cometida (uma "causa") pode não levar a punição (a um "efeito"). Ian Stevenson inclusive afirma que não encontrou nos casos por ele estudados uma correlação entre o tipo de vida posterior e o tipo de vida anterior, ou seja, não encontrou "pagamento nesta vida de faltas cometidas na vida anterior". E afirmar que "Há o Livre Arbítrio" é algo de uma temeridade intelectual abismal. Eu pessoalmente, após queimar minha mufa por meses a fio com essa questão (e com uma bagagem anterior de anos de encucação), acho agora que não há livre arbítrio. Acho que há apenas determinismo, aleatoriedade, e aleatoriedade com tendências. Aliás existe uma questão interessante nesse papo de que "O Homem tem Livre Arbítrio". Como pode um Deus que NÃO TEM livre arbítrio dar ao homem esse livre arbítrio que ele próprio não possui?

18- Há a preponderância do espírito sobre a matéria, e não há arrastamento irresistível para a prática do "mal" (o espírito sempre pode vencer, resistir, aos arrastamentos da matéria).
É Postulado Básico.
Misto de Aspecto Mal Avaliado com Conclusão Equivocada: Pessoalmente considero essa a mais funestra das conclusões kardecistas. A influência da "matéria" sobre o "espírito" é inimaginavelmente poderosa. Há sim, penso eu, diversas situações onde o arrastamento é irresistível.

19- Há uma hierarquia do bem sobre o mal.
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: pode ser que não haja tal hierarquia.

20- Há Deus. Um só! É ele o criador do Universo. Ele possui uma individualidade diferente da dos espíritos, ou seja, os espíritos provavelmente não são fragmentos de Deus, e também não são manifestações, ou emanações dele (ao contrário do que ocorre, por exemplo, com Brahman no induísmo. No induísmo, todos nós em nosso âmago mais profundo, "atma", somos o próprio Brahman). Deus é omni-potente, omni-ciente, omni-benevolente, omni-justo. O Deus kardecista é basicamente o Deus típico do que é definido como "teísmo".
É Postulado Básico.
Misto de Aspecto Mal Avaliado com Conclusão Equivocada: pode ser que não haja Deus. Pode ser que haja muitos deuses ou Deuses. Pode ser que o induísmo brahmanista seja a visão correta. Pode ser que o ateísmo seja correto. Pessoalmente, acho impossível que haja UM Deus e que esse Deus seja onipotente onibenevolente e onijusto. Há, penso eu, injustiças no Universo. E nada, nenhuma "desculpa" que Deus vier a nos mostrar, me parece capaz de tornar tais situações como justas. Sofre-se demais nesse mundo!

21- Há a mediunidade, e amplas maneiras e graus de comunicação entre os "vivos" e os "mortos".
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: pode ser que não haja "mediunidade", já que talvez nem haja espíritos.

22- A mediunidade é mediada (perdoem a redundância), em grande parte pelo menos, pelo perispírito do médium (incluindo emanações do perispírito mais ou menos abundantes).
É Postulado Básico.
Aspecto Mal Avaliado: mesmo havendo mediunidade, ela talvez não seja mediada por perispírito nenhum.

Concluindo: Ou seja, André, para mim é claro que o kardecismo (o kardecismo enquanto ciência, ou tentativa de) é um excesso de afirmações sobre uma imensa escassez de dados empíricos. É muita teoria pra pouco fenômeno. E resumindo o que eu expus em kardec1.htm, apesar do método de Kardec ser interessante e promissor, ele possuía falhas intrínsicas de boa monta, além disso Kardec não deu mostras de o ter usado de fato, e por vezes ele claramente não usou o método. Eu acho que o kardecismo "pode" ser ciência. Ou seja, eu considero possível, válido, e fértil que se trabalhe cientificamente com algumas hipóteses kardecistas, como por exemplo a reencarnação e a vida pós morte. Mas ciência se faz com muita pesquisa, muito esforço, muita descoberta e com boa avaliação das descobertas encontradas. Não há um bom percentual de cientistas trabalhando nesse sentido com hipóteses kardecistas ou similares. Infelizmente. Mas acredito que o futuro ainda nos trará surpresas agradáveis e boas reviravoltas nesse quadro. Mas, por enquanto, é apenas uma expectativa minha. Então, até lá, Deus, vida pós morte, e reencarnação, são muito mais crenças minhas do que verdades científicas já comprovadas.

Um grande abraço,
Julio Siqueira.

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André Maximiano Serpa
QUARTA MENSAGEM
(Sobre "Criticando Kardec")
QUINTA MENSAGEM
Resposta a Wagner Medina
SEXTA MENSAGEM
Presciência e Relatividade

Livro de Visitantes