MEU LIVRO DE VISITAS

DreamBook

Marcus Valerio XR

Comentários de Júlio César Siqueira Barros
Autor do site CRITICANDO KARDEC

Sobre o texto CRITICANDO Criticando Kardec
de André Maximiano Serpa

Os comentários de Júlio estão em estão em "BEGE" Negrito.

É com enorme prazer e orgulho que publico em meu site um texto de Júlio César Siqueira Barros, um autor cuja obra sou um grande admirador e que sinceramente considero como um pensador que quase me é intelectualmente gêmeo. É verdade que sua calma diante de alguns trechos mais duros da mensagem de André chegou a me surpreender, o que aumentou ainda mais meu respeito sobre seu trabalho. Melhor do que eu esperava, ele soube receber bem as críticas e tratá-las devidamente, e nada tenho a acrescentar, uma vez que seus esclarecimentos me foram plenamente satisfatórios. Deixo agora o texto por conta dele. Obrigado.

Marcus Valerio XR - 20/12/2004


Caro Marcus e leitores de sua home:

Sinceramente, não entendi a posição do autor do site "Criticando Kardec", o biólogo Júlio César Siqueira Bastos.

Apenas uma correção superficial: meu último sobrenome é Barros.

Suas idéias, em muitas ocasiões, carecem de lucidez e coerência. Ele inicialmente fala sobre a (suposta) falta de metodologia científica do método kardequiano. Mais a frente, na subseção "Criticando o Ceticismo" critica os próprios cientistas ortodoxos e a metodologia científica.

Na verdade o que eu tento fazer na página kardec1.htm é expor o que eu penso serem algumas falhas no método usado por Kardec, e também expor situações onde ele aparentemente não usou o próprio método. Já quando eu falo das, digamos, outras Ciências, tento apresentar uma avaliação do quanto qualquer Ciência pode nos dar um conhecimento final e inequívoco a respeito da verdade dos fatos do nosso Universo. Ou seja, esse último ponto trata de uma reflexão a respeito da Filosofia da Ciência.

Só para exemplificar: " Ou seja, não chega a ser exatamente um exagero dizer que os cientistas não têm a rigor a menor idéia do que diabos a ciência pode ou não provar".

Essa é uma frase altamente radical da minha parte, deliberadamente colocada para causar alguma perplexidade e reação emocional-intelectual por parte dos leitores. Como diria o filósofo da Ciência Alan Chalmers em seu livro "O Quê é Ciência Afinal?", a intenção é deixar-nos "confusos em um nível mais elevado". Mas ela precisa ser lida em seu contexto, ou seja, as frases imediatamente anteriores onde eu mostro as diferentes e aparentemente antagônicas posições dos cientistas e filósofos da Ciência a respeito do que podemos e devemos esperar da Ciência.

Por fim, defende o importante médium Daniel Dunglas Home, que tem a fama de nunca ter fraudado, e o grande cientista William Crookes, que realizou importantes experiências na área de fenômenos físicos (materialização).

Também percebe-se que, boa parte do conteúdo , embora envolto de aparente lucidez e clareza, tem como objeto a crítica descompromissada e, principalmente, a má fé.

É muito difícil, eu diria mesmo impossível, alguém se defender de uma acusação de "má fé". Deixo então essa questão para o julgamento do coração de cada um. Contudo, com relação ao "descompromissada", penso ser uma clara demonstração do meu compromisso com a seriedade e com a factualidade o fato de eu ter estudado a fundo aquilo que eu me propus a analisar, e isso pode ser constatado não só a partir da bibliografia ao fim do texto kardec1.htm, mas também através da maneira como eu conduzi as análises de tal bibliografia. Houve e há sim da minha parte grande compromisso com a análise meticulosa, respeitosa, cautelosa (devido principalmente à possibilidade de eu estar errado em muitos pontos) e acima de tudo atenta a tudo o que se relaciona com o kardecismo atualmente e antigamente (na época de Kardec).

Vejam o que diz o autor no final de sua dissertação, onde diz encontrar uma contradição e até debocha sobre o que chamou de " símbolo material do Espiritismo".

A intenção não foi na verdade fazer um "deboche". Mas houve sim a intenção de mostrar o que me parece ser uma ironia do destino, e uma ironia que a meu ver chama a nossa atenção para a necessidade de respeitarmos todas as posições, mesmo a posição dos materialistas.

Esclarecendo: "Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque REPRESENTA O TRABALHO DO CRIADOR ... " (Prolegômenos, O Livro Dos Espíritos). Como claramente vemos, a cepa fac-símile desenhada pelos espíritos representa o trabalho de Deus, e não a Doutrina dos Espíritos.

E foi exatamente isso o que eu disse no texto em kardec1.htm.

Quanto à descrição do licor e do álcool, na questão 196, trata-se de um exemplo que não necessariamente tem relação com a descrição de Prolegômenos. Basta consultar O Livro Dos Espíritos para facilmente se observar que houve má vontade do autor, estabelecendo uma relação obrigatória.

Na verdade, eu não estabeleci exatamente "uma relação obrigatória". O que eu disse é que a exposição de Kardec na pergunta 196 ajuda a explicar a metáfora usada em prolegômenos. As duas metáforas, a de prolegômenos e a da pergunta 196, são praticamente idênticas. A principal diferença é que Kardec comparou o corpo ao alambique, e os "espíritos" compararam o corpo à cepa. Na prática, a metáfora de Kardec (pergunta 196) é cientificamente menos errada do que a usada pelos "espíritos" em prolegômenos. Podemos até dizer que, a rigor, a metáfora de Kardec é cienficamente correta, desde que ele entenda que o suco original da vinha não contém álcool algum a ser depurado.

Em outra ocasião, afirma que Kardec era centralizador, o que é uma crítica até razoável e que merece um estudo criterioso (conforme faremos adiante). Agora, dizer que ele era arbitrário e autoritário é falácia irreflexionada de quem faz crítica de maneira leviana.

A idéia de que ser "autoritário" e "arbitrário" é um defeito é coisa do nosso tempo. No século XIX, isso era na verdade pré-requisito para quase qualquer atividade de liderança. Não podemos nos esquecer que a infância de Kardec foi passada ainda aos ecos não tão distantes do rolar das cabeças da Revolução Francesa. Quando Kardec foi para a escola de Pestalozzi, em Yverdun, ele já estava com uns 11 anos se não me engano, e foi nessa época que Napoleão Bonaparte caiu. Era um mundo selvagem. Eu falo claramente de tal situação no meu texto. Ainda hoje, nem sempre ser autoritário e arbitrário é algo necessariamente errado. Mas é lógico que sempre traz conseqüências. E é de tais conseqüências que eu tento falar em meu texto.

Aproveitamos então, para nos posicionarmos diante dessa questão, citando o depoimento do próprio mestre lionês:
"A medida que a doutrina cresce, minhas relações se multiplicam, e os deveres de minha posição aumentam, o que me obriga a negligenciar um pouco as minúcias, em favor dos interesses gerais. O tempo e as forças do homem têm limites, e confesso que as minhas, desde algum tempo, freqüentemente me tem faltado, e não possuo ter o repouso que às vezes me seria necessário, porque sou sozinho para fazer tudo."

De fato, Kardec se sintia e se manifestava como "sozinho".

Junto a esse sincero depoimento, somamos as palavras de J. Herculano Pires em "Notícias sob o Livro" em OBRAS PÓSTUMAS, edição da LAKE, o qual esclarece o motivo dessa solidão:
"A responsabilidade espiritual de Kardec era enorme e ele não podia partilhá-la a não ser com aqueles que traziam à Terra, a missão de ajudá-lo. Muitas vezes quis servir-se de pessoas que julgava aproveitáveis, mas os Espíritos Superiores o advertiam em sentido contrário. Kardec se retraía e os seus companheiros atribuíam essa atitude às suas possíveis ambições de predomínio. O próprio Flammarion, à beira do túmulo, não o acusou de fazer obra um tanto pessoal? Essa acusação se repete de maneira mais violenta e incisiva na nota da Revista (Espírita) ( julho de 1869, três meses após a desencarnação do mestre, que serve de abertura para o texto geral de Obras Póstumas). Longe disso, porém, Kardec procurava colaboradores e sofria por não encontrá-los.
A obra não era pessoal, mas a responsabilidade de sua atualização na Terra tornou-se quase pessoalíssima em virtude de falta de criaturas aptas a compreendê-la. E a maior prova disso está no que fizeram da Revista (Espírita) e da Sociedade (Parisiense de Estudos Espíritas) após sua passagem para a vida espiritual."

Veja, André, que mesmo Flammarion, como você mesmo ressalta acima, comenta o fato do "isolamento" de Kardec. A mim, de um ponto de vista científico-analítico, cabe tentar entender que tipo de conseqüências isso causou sobre o movimento espírita. É isso que tentei fazer. É lógico que, de um ponto de vista mais religioso, até nos cabe perguntar por quê os espíritos superiores não enviaram colaboradores para Kardec.

Para aqueles que não são afeitos à história do Espiritismo, informamos que ambas (Revista e Sociedade) acabaram após a morte física do Prof. Hyppolite Lion Denizard Rivail *, comprovando que as afirmações do Prof. Herculano condizem com a verdade e têm comprovação nos fatos. Kardec era realmente um homem a frente do seu tempo, e não era tarefa fácil encontrar pessoas que o acompanhassem em sua tarefa, apesar delas existirem e terem gravado seu nome na história do Espiritismo. No futuro, certamente, terão todos gravados os nomes na história da humanidade. Tal explicação também resolve a questão explorada sobre a publicação de "O Evangelho Segundo O Espiritismo".

*Allan Kardec - é o nome pelo qual foi chamado em uma encarnação anterior, a qual viveu como druida. Utilizou esse "pseudônimo" para desvincular a "nova obra" daquelas anteriormente realizadas como professor, separando inclusive os direitos autorais, que no caso dos livros espíritas, foram totalmente voltados para a causa espírita.

Como comentário final sobre essa questão, gostaria de frisar que o fato de em alguns momentos posteriores, o rigor de uma análise coletiva não ter sido tão fortemente observado, pelas razões acima explicadas, não se invalida de forma alguma o cuidadoso critério observado na nascença da Codificação (só para citar como exemplo, os 50 cadernos recebidos por Kardec contendo inúmeras mensagens de diversos espíritos obtidas por vários médiuns). Além disso, não podemos deixar de nos lembrar do constante amparo ao codificador dado pela falange do Espírito de Verdade em todo o processo de materialização da doutrina.

Na verdade, um dos principais objetivos do texto em kardec1.htm é fornecer subsídios para uma análise dos momentos iniciais da obra de Kardec. Comento inclusive sobre esses "cinqüenta cadernos" e situações relacionadas.

Quanto às "estranhas diferenças ou alterações" na assinatura de uma mensagem de O Livro Dos Médiuns e O Evangelho Segundo O Espiritismo,

Eu faço uma profunda análise da diferença dos textos. Sinceramente, esse evento é para mim o mais estranho que já vi nas obras espíritas, e eu diria mesmo em qualquer outra obra que já analisei em toda a minha vida. Não tenho, sinceramente, uma explicação que me pareça satisfatória para o que aconteceu. Mas o que aconteceu foi algo grave. Remeto os leitores interessados para a leitura desse incidente na página kardec1.htm.

tenho a dizer que não há um consenso se o "Espírito de Verdade" é um espírto ou grupamento, ou se é ou não Jesus de Nazaré.

Dentro dos meus conhecimentos do kardecismo, eu acredito que seria indiferente, e talvez mesmo impossível de ser identificado, se o Espírito de Verdade é Jesus ou não. Provavelmente se tratam de espíritos da mesma ordem, e que se confundem em moral, conhecimento, e pensamentos.

De qualquer forma, isso não invalida o teor sublime da mensagem, que apresenta importância maior de seu conteúdo que sua assinatura. O importante é que indubitavelmente, sendo ou não do Cristo, a mensagem teria o aval do Divino Mestre, por estar em acordo com o Bem, e portanto, com a Sua vontade e a do Pai Celestial.

Repare, André, que você não comentou sobre o mais importante, que são as alterações do texto e as possíveis implicações disso. Remeto então os interessados para a leitura atenta dos trechos apropriados em kardec1.htm.

Com relação à crítica que diz que a idéia dos espíritos estava pré-concebida, em razão da existência do fenômeno mediúnico desde a Antiguidade, podemos verificar pouca disposição do autor para o questionamento edificante e imparcial (mesmo dizendo-se ele espírita).

Uma retificação importante: eu não me digo espírita, e na verdade eu não sou espírita.

Ora, não é pelo fato da mediunidade sempre ter existido na humanidade, que se pode dizer que se sabia que era ela (a mediunidade) a causa dos estranhos fenômenos. A força da gravidade sempre existiu, mesmo antes de Isaac Newton te-lá anunciado como uma lei da Física. Será que podemos dizer que Newton estava pré-determinado a provar sua teoria? Claro que não. Foram a observação e a análise atenciosas dos fatos que levaram o cientista a essa conclusão e, permitiram-no posteriormente, formular sua teoria

Talvez Newton estivesse de fato pré-determinado a "provar a teoria da gravidade". Eu teria que ler a fundo sobre esse período da História da Ciência para me pronunciar com autoridade sobre o assunto. Mas acho que na época já se admitia a existência da força da gravidade, antes mesmo de Newton. Acho! Newton introduziu conhecimentos importantes a respeito da "estrutura interna" de tal força, ou seja, o fato dela diminuir com o inverso do quadrado da distância, de aumentar proporcionalmente à quantidade de massa dos objetos envolvidos, etc. Mas já houve de fato muitas outras coisas que estavam bem pertinho de nós e que nos passavam despercebidas, algumas mais "óbvias" como o próprio ar, desconhecido por muitos povos (até dos gregos antigos), e outras bem menos "óbvias", como o eletromagnetismo, que permeia toda a nossa existência e ninguém se dá conta. Contudo, "espíritos" não se encaixam nisso. Eles sempre estiveram presentes em nosso imaginário ou em nosso "cotidiano" (real ou ilusório). Daí eu achar estranha a afirmação de Kardec. Minha conclusão é que ele tentava dar ao espiritismo uma respeitabilidade científica ao dizer isso, por esse tipo de afirmação ser bem aceita pelo "indutivismo", que era a visão filosófica da Ciência predominante então.

Para terminar, pois é difícil gastar o tempo com questões onde claramente se vê má intenção, vamos buscar a subseção "Erros Em Algumas Obras Psicografadas Por Chico Xavier e Divaldo Franco" na qual temos a 4a citação de Emmanuel: "(...) em contraposição aos acertos dos negadores, podeis notar que, cientificamente, a Terra é o local no Universo onde a vida mais encontra dificuldade de se estabelecer."(pág. 89 e 90) Comentário (do autor): Se, cientificamente, a Terra é o único lugar onde ATÉ HOJE, podemos encontrar "vida", FICA DIFÍCIL ENTENDER COMO UMA AFIRMAÇÃO DESTA DE EMMANUEL PODE SEQUER SER FEITA."( os grifos são meus).

Páááára tudo!!! Desse jeito não dá! Uma pessoa que se diz espírita perguntar como Emmanuel pode conceber a "vida" em outros locais do Universo é brincadeira de mal gosto. A Pluralidade dos Mundos Habitados é um dos pilares do Espiritismo. Deveria sim, o autor, tentar provar que não existe vida em outros mundos. "Até hoje" não é o mesmo que "para sempre", não é um dado definitivo, tanto é que, milhões de dólares estão sendo empregados atualmente, em pesquisas científicas, para se verificar a existência de vida extra-terrena. Ausência de provas e incoerência científica são coisas bastante distintas.

Novamente: não "me digo" e não sou espírita. E André não entendeu meu trecho. O que eu estou dizendo é que Emmanuel só poderia dizer que a Terra é o local onde a vida mais encontra dificuldade, etc, se houvesse algo com o que compararmos. Como podemos saber cientificamente, por exemplo, se é mais difícil para a vida se estabelecer na Terra ou em Marte se ainda não encontramos vida em Marte para fazermos comparações?

Estou indo e espero não voltar mais. Pelo menos para comentar esses abusivos atos de má fé. Caso apareça alguma questão de relevante valor para a comprovação ou anulação da Doutrina Espírita, poderei eu, amistosamente, tentar contribuir com meus escassos conhecimentos e pontos de vista.

Desculpem-me este comentário, mas somente uma análise superficial do texto pode fazer com que os leitores demonstrem um grande entusiasmo por essa obra (Criticando Kardec). Posso até estar enganado, mas até que me provem o contrário, o Espiritismo por nada se tem abalado.

Bençãos de alegria e humildade pelas dádivas do Amigo Jesus!
Cordialmente,

André.
Setembro de 2004

Apenos lamento que André não tenha de fato feito uma análise científica das minhas idéias. E gostaria de frisar que muitos dos comentários de Marcus abaixo já haviam explicado pontos falhos no texto de André. Comentarei também alguns trechos de Marcus abaixo.


Olá Andre.

Finalmente encontro tempo para publicar e comentar esse seu texto. Um dos motivos da demora, além dos que já expliquei largamente, é que tentei entrar em contato com Júlio César Siqueira Bastos, o autor de Criticando Kardec, pois gostaria de comunicá-lo sobre essa mensagem publicada em meu site, já que o dele não tem espaço para participação dos leitores. Infelizmente ele ainda não respondeu minha mensagem. Paciência.

Caro Marcus e leitores de sua home:

Sinceramente, não entendi a posição do autor do site "Criticando Kardec", o biólogo Júlio César Siqueira Bastos. Suas idéias, em muitas ocasiões, carecem de lucidez e coerência. Ele inicialmente fala sobre a (suposta) falta de metodologia científica do método kardequiano. Mais a frente, na subseção "Criticando o Ceticismo" critica os próprios cientistas ortodoxos e a metodologia científica. Só para exemplificar: " Ou seja, não chega a ser exatamente um exagero dizer que os cientistas não têm a rigor a menor idéia do que diabos a ciência pode ou não provar". Por fim, defende o importante médium Daniel Dunglas Home, que tem a fama de nunca ter fraudado, e o grande cientista William Crookes, que realizou importantes experiências na área de fenômenos físicos (materialização).

Bem, deixe-me explicar o que acho da posiçao do site do Júlio. Acho que ele busca o não extremismo, acreditando que a Verdade nunca está num ou outro extremo da realidade, por isso ele não quer ser um crédulo total, aceitando acriticamente tudo o que o Kardecismo propõe, nem quer ser um crédulo reverso, recusando acriticamente tudo o que o mesmo Kardecismo propõe, bem como não aceitando acriticamente tudo o que o método científico propõe.

O fato de haver falhas no método científico Kardecista, o que COM CERTEZA HÁ! Não implica que automaticamente tudo esteja errado. Por isso ele pode acusar os pontos falhos e concordar com os pontos melhor estabelecidos, não tendo problemas em reconhecer personalidades que, segundo ele, respeitaram certos critérios de coerência.

Em Uma Análise simplificada do Erro o autor explica isso com grande maestria. Gostaria inclusive de destacar uma parte: "Mesmo não concordando com muitas das conclusões de Kardec, e de kardecistas posteriores, quanto à interpretação dos fenômenos mediúnicos, vejo muito valor no kardecismo e no espiritismo de uma maneira geral. E a existência de erros, ao invés de me levar a abandonar o estudo desses fenômenos, me leva, paradoxalmente, a ter um maior interesse nesses estudos."

Ele defende uma das mais sensatas posições que já vi, e que está muito em falta na atualidade, que é a valorização do erro como um sinal da tentativa de acerto. Ora, para errar, é fundamental tentar acertar. Quem não erra é só quem nem tenta o Acerto, e dessa forma não vai acertar nunca!

Na verdade, eu passei a ver naquilo que nós chamamos de "erro" algo de quase divino ou potencialmente divino. Penso que muitas vezes o erro já é um acerto, e que apenas devido a falhas perceptivas nossas, nós não o percebemos assim.

É algo também muito claro no método científico. A Ciência evolui em cima de uns poucos acertos e uma imensa infinidade de erros, pois como dizia Aristóteles, a flecha disparada só possui um único alvo no qual pode acertar, e inúmeros não-alvos onde pode errar. Errando, já aprendemos pelo menos um modo de evitarmos o erro, e nos aproximamos mais do acerto. Dessa forma, o autor se coloca, como ele mesmo diz, numa posição sui generis, meio que na contra mão do esmagador senso-comum que se adapta bem a formas grosseiramente simplistas de ver o mundo, evitando se confrontar com suas próprias crenças.

Quanto ao comentário "...não chega a ser exatamente um exagero dizer que os cientistas não têm a rigor a menor idéia do que diabos a ciência pode ou não provar...". Discordo largamente. É sim um tremendo exagero. Mas deve-se considerar que isso foi dito num contexto bem menos formal, no Debate com o Ronaldo Cordeiro.

É certo que não há certezas sobre a validade Epistemológica das Teorias Científicas, mas creio que há um boa margem de elementos que a Ciência pode sim, relativamente, provar. Creio que essa afirmação do autor não esteja exatamente errada, mas dá muita margem a má interpretação.

Esse ponto eu comentei mais acima. Essa afirmação precisa de fato ser vista com cautela. E para qualquer acadêmico que resolva repeti-la irrefletidamente é um passaporte seguro para o "olho da rua"...

Isso tudo denuncia que ele é muito cuidadoso e imparcial com o que examina, sem tomar um lado para si e automaticamente rotular o lado oposto de errado.

Por último, gostaria de reforçar que para uma devida apreciação do site deste autor, não se pode jamais perder de vista o fato de que a crítica em questão se concentra quase especificamente sobre a "Pretensão Científica" do Kardecismo. E não a religião em si. Como ele mesmo insiste em reiterar, a Religião é uma forma válida de ver o mundo, e a existência de erros na doutrina Kardecista não significa que a doutrina não tenha valor.


Também percebe-se que, boa parte do conteúdo , embora envolto de aparente lucidez e clareza, tem como objeto a crítica descompromissada e, principalmente, a má fé. Vejam o que diz o autor no final de sua dissertação, onde diz encontrar uma contradição e até debocha sobre o que chamou de " símbolo material do Espiritismo". Esclarecendo: "Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque REPRESENTA O TRABALHO DO CRIADOR ... " (Prolegômenos, O Livro Dos Espíritos). Como claramente vemos, a cepa fac-símile desenhada pelos espíritos representa o trabalho de Deus, e não a Doutrina dos Espíritos. Quanto à descrição do licor e do álcool, na questão 196, trata-se de um exemplo que não necessariamente tem relação com a descrição de Prolegômenos. Basta consultar O Livro Dos Espíritos para facilmente se observar que houve má vontade do autor, estabelecendo uma relação obrigatória.

Ok. Vamos ver. Lembrando que está passagem está ao final do texto "Erros" em Kardec 1. Vamos reproduzir o trecho em questão.

Mas há de fato muitos erros no espiritismo kardecista, em especial erros científicos...

No Livro dos Espíritos há, logo no início (nos "Prolegômenos"), um desenho curioso que teria sido publicado por "ordem" dos "Espíritos Superiores" como uma metáfora do "Trabalho do Criador". É o desenho de uma videira, ou de uma parte de uma videira, contendo uma "cepa" (caule) com um cacho carregado de "bagos" (uvas). Os "espíritos" assim explicaram o desenho:
"Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos."

De imediato, já notei que o autor usou uma tradução diferente da minha, que é a da Opus Editora - SP. Na minha versão realmente não há o termo "Licor", mas sim "Seiva", como disse o Paulo César, o que tem uma implicação diferente. Nem sequer consta a incomum palavra "Prolegômenos" na minha versão, mas sim seu equivalente "Exposição Preliminar". Sigamos.

Achei estranho o fato de haver traduções usando o termo "seiva" em prolegômenos. O termo original francês é de fato "liqueur", tanto na primeira edição do Livro dos Espíritos de 1857 quanto na segunda edição de 1860. Consultei a ambas (originais franceses), conforme exposto na bibliografia. (o uso do termo "prolegômenos" é mais descartável, já que há de fato sinônimos mais modernos para tal termo). Existe uma diferença muito grande entre "seiva" e "licor". Existe até uma imensa diferença entre "seiva" e "suco" (ou seja, entre a seiva do caule da videira e o suco do interior das uvas).

Na pergunta de número 196 (que só aparece da segunda edição do Livro dos Espíritos em diante, a partir de 1860), é usado o termo francês "suc", que é traduzido por "suco" (suco da vinha) nos textos brasileiros. E aí é dito claramente que há neste "suc" uma determinada quantidade de "liqueur" que é conhecida também como "espírito" ou "álcool" (em inglês ainda se usa o termo "spirits" para se referir à bebidas alcoólicas em geral).

O texto em francês desta pergunta de número 196 é:

Nous trouvons une comparaison matérielle des différents degrés de l'épuration de l'âme dans le suc de la vigne. Il contient la liqueur appelée esprit ou alcool, mais affaiblie par une foule de matières étrangères qui en altèrent l'essence ; elle n'arrive à la pureté absolue qu'après plusieurs distillations, à chacune desquelles elle se dépouille de quelque impureté. L'alambic est le corps dans lequel elle doit entrer pour s'épurer ; les matières étrangères sont comme le périsprit qui s'épure lui-même à mesure que l'Esprit approche de la perfection. - retirado de: perso.wanadoo.fr/charles.kempf/Livres/LE6.pdf

O texto em francês de prolegômenos da segunda edição (1860) é:

Tu mettras en tête du livre le cep de vigne que nous t'avons dessiné1, parce qu'il est l'emblème du travail du Créateur ; tous les principes matériels qui peuvent le mieux représenter le corps et l'esprit s'y trouvent réunis : le corps, c'est le cep ; l'esprit, c'est la liqueur ; l'âme, ou l'esprit unis à la matière, c'est le grain. L'homme quintessencie l'esprit par le travail, et tu sais que ce n'est que par le travail du corps que l'esprit acquiert des connaissances. perso.wanadoo.fr/charles.kempf/Livres/LE6.pdf

E o texto em francês da primeira edição (1857) é:

Tu mettras en tète du livre le cep de vigne que nous t'avons dessiné (1), parce qu'il est l'emblème du travail du Créateur; tous les principes matériels qui peuvent le mieux représenter le corps et l'esprit s'y trouvent réunis : le corps c'est le cep ; l'âme c'est le grain ; l'esprit c'est la liqueur ; c'est l'homme qui quintessencie l'esprit par le travail, et tu sais que ce n'est que par le travail du corps que l'esprit acquiert des connaissances. (O Primeiro Livro dos Espíritos de Allan Kardec, 1857 - Texto em Fac-Simile Versão em Face, Primeiro Centenário, 1957. tradução de Canuto Abreu. 1a edição. Companhia Editora Ismael. São Paulo. 1957.pag 30)

Pessoalmente, considero um grave erro de tradução se usar o termo "seiva" ao invés de "licor" em prolegômenos.

Kardec ainda explica essa metáfora mais a fundo na página 132-133 do Livro dos Espíritos, em nota após a resposta dada à pergunta número 196:
"O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem que entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição."

Desta vez, na minha versão, há sim a palavra "Licor" sendo usada para se referir ao Espírito. Concordo com você, não há uma relação necessária entre essa última passagem e a anterior. Apesar de em minha versão haver uma foto de um ramo de Uvas. Talvez, devido a tradução que o Júlio usou, que usa o termo Licor em ambas as ocasiões, e talvez devido a ambas usarem a figura das Uvas, e o assunto ser semelhante, ele tenha feito essa associação precipitada.

Conforme disse mais acima, no trecho onde eu respondia ao André, na verdade a pergunta 196 nos ajuda a entender a metáfora de prolegômenos.

Mas mesmo com tudo isso creio que a analogia no segundo caso vai numa direção muito diferente do primeiro caso. Realmente não vejo justificativa em relacionar as duas. Concluo, concordando com você, que foi um equívoco infeliz. A não ser que haja na tradução de referência usada por ele algo que justifique essa confusão.

Daí para a frente, o raciocínio subsequente do autor perde a validade, pois a analogia da depuração do espírito não se refere ao cacho de uvas, mas ao alambique onde o suco é introduzido, da mesma forma que o corpo onde o espírito é introduzido.

No texto do Kardec, na pergunta 196, de fato Kardec fala do alambique. Acredito que Kardec achasse que o que ocorre em um alambique de vinho é meramente uma "depuração" (destilação) de algo (depuração do licor, ou "álcool", no caso) que já estava presente no suco da uva antes mesmo dele ir ao alambique. Kardec, creio, desconhecia a participação de microorganismos (leveduras ou bactérias) nos processos de fermentação alcoólica. A partir do momento em que o álcool esteja presente no suco, como fruto da fermentação alcoólica microbiana, aí sim a metáfora passa a ter valor. Retire os microorganismos do alambique, e nenhuma "destilação" produzirá jamais vinho ou qualquer outra bebida alcoólica. Estou me referindo nesse caso à metáfora do Kardec na pergunta 196.

Só concordo com ele, porém, que a analogia inicial por si só é um pouco estranha. Comparando o Corpo com o Ramo da Videira, e o Espírito com a "Seiva", pois ambas se desenvolvem conjuntamente no crescimento do vegetal. Mas símbolo é símbolo. Não creio que isso mereça ser considerando como um "erro científico".

O problema é o seguinte: há erro científico de Kardec na metáfora dele na pergunta 196 se (e somente se!) Kardec achava que o suco da vinha tem algum álcool prévio a ser destilado. Mas o que é realmente importante, e altamente significativo, é o erro inequívoco dos "espíritos superiores" na metáfora de prolegômenos, pois ali, ou seja, no desenho da videira com uvas, definitivamente não há licor algum (ao contrário do que imaginam os "espíritos superiores"). A metáfora é cientificamente inválida, e os "espíritos superiores" não perceberam isso. Ela é, conseqüentemente uma metáfora inválida para embasar o espiritualismo ou o espiritismo. Ela é, contudo, uma excelente metáfora materialista, pois no materialismo o "licor" (ou seja, a consciência ou "alma" humana) não está presente na matéria infuso como algum tipo de "fantasma dentro da máquina" a ser depurado. No materialismo, a consciência (ou "alma humana", como talvez diria Freud) é uma característica emergente, assim como é o álcool etílico, que emerge da fermentação alcoólica da frutose efetuada pelos microorganismos.

E, repetindo os meus próprios termos em kardec1.htm, considero uma fantástica ironia do destino que o único símbolo que uma doutrina altamente não-simbólica como o kardecismo aceitou colocar em um de seus livros, "abrindo" por assim dizer a obra mais importante da Doutrina Espírita, o Livro dos Espíritos, símbolo este aí colocado por "ordem" dos "Espíritos Superiores" e com a supervisão e revisão do "Espírito de Verdade", não seja um símbolo espírita, e nem sequer um símbolo espiritualista: Seja, isso sim, um símbolo materialista! Acho que nesse ponto, de alguma maneira, o Universo quis "conspirar" para nos legar uma enorme lição de humildade e de respeito para com as idéias diferentes das nossas.

Encerro nesse ponto meus comentários. Acredito que haja de fato boa intenção em André na análise dele, e que ele seja guiado por um espírito de zelo para com uma doutrina que ele sabe ser edificante e digna de respeito.

Um grande abraço para todos,
Julio Siqueira.
_________________

Crítica Original de André

Livro de Visitantes
CRITICANDO KARDEC