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A VOLTA DO TERROR

Hane entrou numa das muitas centrais da Defesa Planetária e pôde acessar alguns dos líderes por telepresença. - Não adianta. - Disse. - Ele arrancou rumo ao mar. Parece ter enlouquecido, tentei seguí-lo mas não posso alcançá-lo. E ele não está respondendo.

- Será isso então?! - Perguntou uma das cientistas que falava com um jovem alto. - Isso o quê?! - Indagou Hane.

- Senhor Hane. - Disse por telepresença um dos dirigentes maiores da Defesa Planetária. - O comportamento de Luri hoje foi sem dúvida extravagante e incomum, e sinceramente nenhum dos especialistas aqui conseguiu me explicar como ele foi capaz de disparar aquele raio quase matando civis! Mas o que me preocupa agora no momento é outra coisa!

Enquanto isso do outro lado da comunicação, o dirigente estava ao lado de Seki e Doni, que aguardavam impacientes as decisões sobre o que deviam fazer. A notícia que trouxeram caiu como uma bomba. Vários cientistas entraram em contato e fizeram diagnósticos preocupantes da situação, e Seki estava aliviado porque ninguém parecia desconfiar de nada suspeito, mas sim se concentravam nas possibilidades de funcionamento da nova tecnologia.

Enquanto isso o dirigente continuava a falar com Hane. - Mal terminamos de decifrar o código da sonda e as micro frequências específicas e já captamos uma nova mensagem.

- De onde?! - Perguntou Hane pelo telão.

- Isso é estranho. Saiu daí mesmo, dos arredores da Segunda Cidade. Mas o mais preocupante é o conteúdo da mensagem. - E apontou para um dos auxiliares que comandou o sistema e expôs a mensagem decifrada, que dizia:

“RY-3 desativado”!

- O quê?!?! - Exclamou Seki. - Luri!?!? Como... Desativado?!?!

- Com essa nova tecnologia de transmissão a mensagem já deve ter cruzado os limites do Sistema Orizon. - Acrescentou um técnico.

Doni podia jurar que os olhos de Hane expressariam uma emoção terrível caso o visor não os cobrisse, e foi o primeiro a captar uma mensagem urgente da estação de defesa espacial.

- Como é que e?! - Exclamou um dos cientistas.

- Ponha na tela! - Gritou o dirigente e de repente uma breve oscilação de energia ocorreu, uma onda eletromagnética se fez sentir.

- Uma explosão nuclear... - Sussurou Seki ao sentir a onda. - No cinturão de asteróides 5-6!

Foi um verdadeiro alvoroço, e subitamente as piores perspectivas dos cientistas pareciam se confirmar. - Oh não... - Disse o próprio Xistus por uma das telas. - Não pode ser o que estou pensando!

Mas era, o satélite de defesa acabava de interpretar e triar os dados. Um imenso asteróide, que parecia ter urânio, acabava de explodir no cinturão entre Orizons 5 e 6, mas logo em seguida uma reação de energia ainda maior começou a atrair asteróides vizinhos, mais e mais até que uma nova e violentíssima explosão ocorreu.

Nas ruas das cidade todos perceberam os sistemas eletromagnéticos vacilarem, e então, em plena luz do dia sob o sol vermelho, uma estrela branca se acendeu ofuscando os céus.

- O que é isso? - Murmurou um dos dirigentes da Defesa planetária.

Os sensores demoraram a funcionar e serem capazes de dizer o que estava acontecendo, e bem antes disso, diversas outras mensagens começaram a chegar das sondas espalhadas por todo sistema estelar.

- Temos atividade em Orizon 3. Naves Ians estão emergindo do planeta! - Anunciou um dos técnicos.

- Aparição de naves de combate Ians confirmada em Orizon 10! - Disse uma das cientistas.

- Naves confirmadas também em Orizons 6 e 8! Vinte e três ao todo!

- Oh não. Isso não. - Disse o dirigente, e de repente toda a sala estava tomada de imagens e gráficos flutuantes em toda parte, mostrando diversas naves Ians em vários pontos do sistema estelar.

Compridas, transparentes, as maiores chegavam a passar de 80m de popa a proa, e quase todas em formas de foguete. Algumas brilhavam intensamente e ganhavam velocidade rápido. Em poucos minutos 47 naves inimigas de combate avançavam contra Orizon 5.

Apesar dos acontecimentos do dia e da estrela nova que ainda era visível e forte no céu, que alguns pensaram ser Orizon 2, muitas pessoas ainda estavam tranquilas nas praças das cidades quando de repente sirenes começaram a tocar.

Um senhor comentou com os companheiros. - Ei! Isso não parece treinamento! Ou é?!

- Não! - Exclamou outro.

- “Atenção cidadãos de Orizon! Isto não é um treinamento! Repito. Isto não é um treinamento! Dirijam-se para os abrigos subterrâneos através do acesso mais próximo. Sem pânico! Por favor sem pânico!” - Mas apesar desta última frase e do tom de frieza da mensagem que ecoava por toda cidade, a população não demorou a se desesperar.

- “Atenção! Todos os cidadãos devem se dirigir para os abrigos subterrâneos em no máximo 15 minutos! Isso não é um treinamento!”

Havia algo muito mais grave naquela situação. Algo que não foi vivido pela população nem mesmo no recente ataque de asteróide. O alarme era diferente, os próprios sons das sirenes eram distintos.

Alertas de asteróides eram recorrentes, e não se passou sequer dois anos sem que ao menos um ocorresse. E já há 8 anos nunca mais se convocou a população para os abrigos subterrâneos, nem mesmo no último ataque, mais por falta de hábito e tempo do que por subestimação do perigo.

Desta vez era diferente. Os sons das sirenes e o estilo do alerta não eram ouvidos há 15 anos, desde antes da guerra acabar. Desta vez não eram asteróides, era um ataque Ian direto! Com naves de guerra!

Ainda na praça, uma bela jovem segurava um carrinho de bebê, acompanhada de uma criança um pouco mais velha. Ela ficou ouvindo as sirenes e os avisos imóvel, como se não acreditasse no que ouvia. Olhou para suas filhas e começou a chorar. Demorara 9 anos para se convencer que a guerra nunca mais ia voltar, e então ter suas filhas de consciência tranquila, segura de um mundo melhor para viver. De repente, ao ouvir aquele sinal, ela abraçou sua menina mais velha, e começou a conversar com a bebê, lamentando que tivesse cometido tal erro. O erro de ter colocado duas inocentes num mundo perigoso, iludida pelo sonho da paz e da segurança, que agora acabava de desmoronar.

- Como estão nossas defesas? - Indagou Hane. - Acabamos de reativar nossos últimos robôs no cinturão 5-6, eles ficaram temporariamente paralisados pelo pulso da explosão. - Respondeu um cientista.

- Acionando cobertura de gás! - Anunciou uma das operadoras. E então, de várias torres das 5 cidades começaram a emanar grossas emissões de névoa que rapidamente cobriram todo o céu só não escurecendo ainda mais as ruas porque a nova estrela branca insistia em se infiltrar pela nuvens.

Visto do espaço, uma faixa da superfície de Orizon começou a ser coberta por densas nuvens ionizadas. O objetivo delas era dificultar a visualização por parte dos inimigos, que abririam fogo contra o planeta assim que estivessem no alcance de uma dezena de milhões de kms.

Ao mesmo tempo diversos satélites e antenas começaram a emitir pulsos eletromagnéticos de defesa, que prejudicavam os sistemas de pontaria inimigos e “distorciam” a posição do planeta em várias frequências de ondas.

- Canhões Nucleares de superfície ativos! - Anunciou outro operador. - Podemos começar a disparar quando os inimigos estiverem ao alcance de 12 milhões de kms!

- Doze?! - Indagou Seki. - Aumentaram tanto assim o desempenho!?

- Fizemos melhorias de emergência em todos os nossos sistemas! - Respondeu uma das dirigentes da Defesa Planetária.

- Infelizmente eles também fizeram. - Disse uma das cientistas, e logo em seguida num dos telões surgiu a imagem de pedaços derretidos que sobraram de uma das naves automáticas de combate de Orizon que montava guarda no cinturão 8-10. - Essa nave foi destruída por um disparo feito há quase 18 milhões de kms!

- Droga! - Irritou-se Hane. - Podem disparar contra nós com um minuto de antecedência! Já estão todos nos abrigos?

- Nem um quinto! - Respondeu um dos operadores. - Vamos demorar ao menos mais uma meia hora.

- As sondas!!! - Exclamou bruscamente Seki. - Se ainda houverem delas por aqui podem revelar com exatidão a posição das cidades!

- E aí os disparos deles serão certeiros. - Completou espontaneamente o dirigente da Defesa Planetária, acrescentando logo em seguida. - Seki! Doni! Usem o que já sabem sobre essas sondas e dêem uma busca ostensiva no entorno das cidades enquanto preparamos uma nave de transporte.

E os dois já estavam saindo da torre, em sentidos contrários, antes que o dirigente terminasse a frase. - E Hane! - Continuou - Melhor dar uma olhada nisto. - Disse passando a fala para um dos técnicos.

- Senhor Hane. Acabamos de isolar o ponto exato de onde foi transmitida a mensagem em código Ian. - E fez um breve suspense, como que tendo dificuldade em continuar, enquanto jogava no ar a imagem do local.

- Sim? Onde?! - Impacientou-se o herói.

- É... Na casa daquele especialista em Exo Comunicação que trabalhava no projeto Diplos. O Dr. Nani...

- Nani?!?! - Surpreendeu-se Hane.

- Policiais já estão no local. Ele está em casa, mas se recusa a atender. - Completou o informante.

Hane ficou perplexo, refletiu um pouco e decidiu. - Eu vou falar com ele pessoalmente! Me avisem quando a nave estiver pronta ou se chegar algum inimigo a menos de 10 milhões de kms! - E saiu pela janela.

Enquanto voava Hane tentava não se lembrar que sempre tivera algumas desavenças com o velho cientista. Paradoxalmente Hane simpatizava com a idéia de se tentar soluções pacíficas com relação aos Ians, porém era completamente intransigente quando qualquer tentativa pudesse implicar em risco. E essa era talvez a maior divergência. Nani sempre parecia disposto a arriscar, e Hane, por mais que admitisse a possibilidade, não arriscaria sequer por um segundo, afinal, pensava ele, era para isso que tinha sido criado, para isso estava programado nas profundezas de seu cérebro, com impressões informativas que colocavam a segurança da humanidade de Orizon em prioridade absoluta.

Um dos motivos que levaram a um desentendimento é que Hane esperava alguma compreensão por parte de Nani, alguém que conhecia melhor a natureza deles, dos Hiper Metanaturais, para o porquê dele possuir tal posição inflexível com relação a certos assuntos que levassem em conta a segurança do mundo. Pois Hane fora assim projetado.

Nani contra argumentava que o nível de liberdade dos Metanaturais, cria ele, era bem maior do que Hane pensava, ou talvez maior do que ele mesmo desejasse. E nesses momentos Hane levava mesmo em conta se em parte ele não estava apenas se acomodando numa posição confortável, se conformando com uma natureza inviolável.

Acabava de pousar em frente à casa do cientista, os policiais já estavam aguardando e o orientaram a se dirigir para a entrada que já tinha sido parcialmente aberta.

Hane entrou num corredor ainda tentando evitar pensar numa série de coisas, até se deparar com outra porta fechada. Pelo comunicador ele anunciou. - Nani!? Aqui é o Hane. Temos que conversar. Nani abra a porta agora! Por favor.

- “É o que eu esperaria de você Hane. Manda primeiro depois pede.” - Respondeu o cientista pelo áudio, e logo em seguida a porta se abriu, e Hane adentrou desconfiado de algo. Passou por um salão e chegou a uma pequena sala de trabalho, onde, sentado atrás de uma mesa, estava o cientista.

- Olá Nani... Não nos vemos há bastante tempo e lamento que tenha que ser nesta ocasião. Mas você me deve uma explicação sobre a mensagem em código Ian que foi transmitida daqui!

- Luri desativado!

- Sim. O que significa isso?

- Que temporariamente vocês não poderão contar com o RY-3.

- Sabe que seu aviso deflagrou um maciço ataque Ian?

- Uma movimentação Ian! Não irão atacar.

- Não irão atacar?! Como você sabe disso?!

- Por que não sou obrigado a ver tudo forma belicosa.

- Acabaram de destruir uma de nossas naves!

- Eles pretendem apenas fugir.

- O quê?!

- Desde que vocês destruíram a última base Ian, eles não tiveram como sobreviver a não ser se escondendo nas profundezas dos planetas jovianos ou espalhados pelo espaço. Derrotados, só pensavam em partir deste sistema estelar. Ir embora. Talvez voltar para casa. Mas vocês nunca permitiriam.

- Que estória mais ridícula é essa!?

- Fique calmo Hane...

- Nani! Eu não vim aqui para brincadeiras nem para ouvir suas teorias fantasiosas! Vou levar você para a central da Defesa Planetária agora!

- Não seja rude comigo.

- É uma situação de emergência Nani. Entre em seu veículo aéreo agora e me siga se não quiser que eu o arraste!

Nani se moveu na cadeira e sacou um estranho dispositivo. Parecia um antigo rifle Laser, embora não se usassem armas semelhantes desde antes da chegada da humanidade em Orizon. Apontou para Hane com tranquilidade, e o herói ficou tão surpreso que apesar de saber que aquilo lhe seria inofensivo, moderou o discurso com pena do cientista.

- Nani? O que pensa que está fazendo? Está me ameaçando? Sinto muito meu velho professor... Eu não sabia que você tinha enlouquecido.

- Não se aproxime mais Hane. Ou eu atiro.

Instintivamente, Hane acionou seu super metabolismo. Se fosse pego desprevenido, um disparo de mais de 500oC poderia ferir qualquer um dos heróis, pois o silicone fotoplásmico quando desativado não resistia a muito mais do que isso. Porém quando ativado como Hane estava agora, o que levava uns poucos segundos, seria necessário um raio 400 vezes mais potente do que isso, e Hane sabia muito bem que nenhuma arma com tal poder de fogo caberia naquela sala.

- Nani... Por favor... Não seja ridículo. Você muito mais que a maioria sabe que não há artefato em Orizon capaz de me ferir sem ao menos destruir tudo num raio de alguns kms. Porque está fazendo isso? - E Hane se adiantou como que prestes a tomar o artefato.

De repente uma breve luminosidade invadiu a sala, houve uma oscilação nos sistemas eletrônicos e a dor que Hane sentiu só não foi maior que a surpresa.

Subitamente, era como se todo o seu corpo começasse a formigar e ameaçar se expandir, seu “sangue” pareceu ferver como ferveria o sangue humano atingido por feixes de microondas, teve uma vertigem forte e mal percebeu seu baque no chão.

Nani se levantou, com expressão de nenhuma surpresa, deixou a arma, que só agora Hane via estar ligada por um cabo a uma fonte de energia na parede, em cima da mesa, e sentou-se ao lado dela.

- Hane... Hane... Porque tinham que fazer você assim? Quanto poder! Quanto potencial! E no entanto, tão arrogante e seguro de si que realmente acredita estar acima de tudo e de todos.

Hane não conseguia sequer articular uma palavra.

- Você sempre agiu como se estivesse além da sociedade, como se pudesse fazer o quiser, mandar e desmandar em todos e ainda exigir o reconhecimento de que está fazendo o que é melhor.

Embora mal tivesse ouvido o que Nani dissera, Hane entendia a situação. Tentava se mover mas não conseguia mais do que se encostar parcialmente na parede. Nani apontou para a arma.

- Sabe o que é isso? Não é capaz de adivinhar o que disparei em você? Pois vou te contar uma novidade. Há qualquer momento, se os dirigentes do planeta concordarem, podem destruir você ou qualquer um dos RYs com um só dedo. Isso é um emissor de Raio-Y! O mesmo sêmem divino que fecundou vocês no ventre de Orizon 9. A pura Força de Repulsão do Universo concentrada, a essência que, juntamente com a Força Fundamental de Atração, permeia todas as Forças da Natureza.

Hane demorou um pouco mas começava a entender.

- Se eu disparasse em qualquer pessoa carbônica, ela provavelmente nem sentiria, mas em vocês... Bastaria uma dose com o triplo da potência para provavelmente fazer seus organismos silicônicos explodirem. Claro! Levaria eu e metade da cidade junto! Pois colocaria toda sua energia em colapso. Talvez até levasse um pedaço do planeta. E sabe porque Hane?

- Porque vocês são uma espécie de violação ambulante das leis da natureza. Tiveram que forçar uma fusão de Mentons puros numa série de estruturas cristalinas que necessitaram de um quase Buraco Negro para convencer o Universo a deixar que passassem a existir. Vocês são instáveis! Um delicado equilíbrio de forças primárias que pode ser desestabilizado com a frequência certa. Não foi fácil achar essa frequência, admito. Afinal mesmo os seus criadores tem dúvidas sobre se isso realmente funcionaria. Mas o mesmo Raio que permitiu evitar o colapso da matéria para fazer vocês nascerem, caso contrário estariam agora em algum outro Universo atrás de um Buraco Negro, esse mesmo Raio pode, se colocado numa dosagem elevada, colapsa-los inversamente. E sabe o que é o mais interessante Hane?

- É que de vocês, Você! É o mais vulnerável a isso, pois você absorveu uma dose maior de Raio-Y quando foi criado, portanto, você explodiria antes de seus irmãos verdinhos sentirem o que você já sentiu, e antes do azulzinho do Luri sequer sentir o disparo. Muito interessante também é a desculpa que os físicos inventaram para só terem criado vocês em versões masculinas! A verdade é que eles não conseguiriam produzir versões femininas. O Raio-Y masculinizaria vocês todos obrigatoriamente. Bem! Mas nada disso vem ao caso. O que eu pretendo na verdade é apenas lhe dizer algumas coisas.

Fez uma pausa, respirou fundo e começou a falar como se desabafasse com um velho amigo.

- Eu sinto saudades Hane. Saudades de um tempo em que havia paixão pela descoberta, pela pesquisa e sobretudo pelas possibilidades. Houve um tempo que quase todos levavam muito a sério a possibilidade e a necessidade de desenvolver um modo de comunicação com os Ians, e tentar uma relação pacífica. Mas o triste disto tudo, e que esse tempo acabou no momento em que percebemos que não era mais preciso ter medo dos Ians. E sabe quando isso aconteceu? Quando vocês começaram a entrar em ação e praticamente varreram os Ians do sistema estelar. E aí... Perdeu-se qualquer interesse numa solução pacífica.

- Não é trágico? Que só tenhamos pensado em paz quando achávamos que nós podíamos ser destruídos? E acha que os Ians também não pensaram nisso quando começaram a ser derrotados? Eu tentei, tentei muito continuar o Projeto Diplos, e estabelecer comunicação com eles nem que seja para aceitar sua rendição, mas não interessava a mais ninguém, e por isso continuei minhas pesquisas sozinho, e às escondidas, e se antes tínhamos acesso a uns poucos Ians que pareciam ser dissidentes, ao final da guerra, todos pareciam dispostos a se comunicar.

- É por isso que fiz o que fiz.

Finalmente Hane conseguiu murmurar algo, embora incompreensível, Nani entendeu.

- Aquela estrela que está brilhando é uma fonte de energia, que trabalha no mesmo princípio do sistema de geração de energia microdimensional que alimenta as sondas sutis. Só que essa pode transmitir uma dose altíssima de energia, suficiente para fazer uma nave grande conseguir acelerar até a velocidade de salto para o Hiper espaço. E é só isso que os Ians pretendem. Ir embora deste sistema. Enquanto as naves de guerra distraem nossas defesas, atacando outras naves automáticas, eles vão embora. Mas não poderiam fazer isso se todos vocês estivessem operacionais. Por isso aproveitei a... Digamos, inédita e delicada situação emocional do Luri, devo dizer... Previsível em seus comportamentos! Para avisar os Ians o momento certo em que poderiam partir. Só isso! Eles não vão atacar, vão só nos distrair. Podem até destruir algumas de nossas naves automáticas, mas Orizon estará seguro.

Antes de conseguir falar, Hane já conseguia se comunicar por rádio, e reproduzia tudo o que ouvia de Nani direto para a Defesa Planetária, até que recebeu uma notícia que Nani precisava saber.

- N... Na-Nani... Escute... Ouça...

A mesma questão sobre Intencionalidade pode ser aplicada ao Universo. Considerando que este tem ordem, e que parte de sua complexidade pode ser considerada relativamente inteligente, haja visto os seres inteligentes que o habitam, resta saber se o universo em si possui intencionalidade em sua ordenção, um autêntico Desígnio, ou uma mera aparência de desígnio.
INCOMPLETOS

Quando as sirenes de emergência tocaram em todo o planeta, um avião hipersônico de passageiros saído da Segunda Cidade acabava de cruzar o pólo norte, estando a mais de meio caminho rumo a Quinta Cidade pelo alto mar, de modo que decidiram melhor seguir a viagem e recolher as pessoas aos abrigos da cidade destino.

Olhando pela janela Ange via o imenso mar violeta e imaginava que a qualquer momento Luri poderia aparecer ao lado do avião, pois se quisesse, com certeza saberia onde ela estava agora.

- “Onde está você Luri? O que foi que eu fiz?”

Por isso ela foi uma das primeiras a ver algo que viria infernizar os sentimentos da maioria dos 720 passageiros já nervosos pelo avisos de emergência.

O sol vermelho estava em parte encoberto por nuvens naturais, pois a névoa artificial ainda não cobrira o alto mar, mas tinha sua atenção roubada pela perturbadora pequena nova estrela que todos sabiam não ser Orizon 2.

De repente, um brilho ainda mais intenso surgiu obrigando Ange e outros passageiros das janelas a proteger os olhos com as mãos e ou virar o rosto. E logo em seguida um estrondo antecedeu uma violenta onda de choque que sacudiu o avião como uma das mais violentas tempestades.

Os operadores do avião, não exatamente pilotos, só não tomaram um susto maior graças ao sobreaviso e por que alguns deles eram veteranos, tendo trabalhado nos tempos de guerra. A fuselagem do avião resistiu e nenhum dano maior ocorreu, mas a aeronave perdeu kms de altura e chegou a se desviar do curso por alguns minutos.

O céu agora estava encoberto pelo vapor da água marinha, gerado pelo calor do raio que veio do céu e elevou colunas de água fervendo a kms de altura. Se o raio tivesse atingido diretamente o avião, ninguém sequer perceberia a própria morte dada a desintegração instantânea.

Agora as últimas dúvidas e incredulidades dos passageiros se dissipavam. Aquilo não fora um meteoro, fora um disparo direto de uma nave Ian, daqueles que já haviam matado milhares de pessoas e arrasado cidades. E Ange em especial começava a se sentir ainda mais culpada pelo que ocorria a Luri, e sabia que ele estava tão perturbado que poderia faltar ao seu dever como defensor do planeta, deixando os super heróis de Orizon incompletos.

Tomou coragem e voltou a pensar novamente sobre Nani, e agora, com a mente menos anuviada, admitiu que ele fizera algo muito estranho. Deveria ser óbvio a ambos que Luri, uma vez não sendo capaz de ferir ninguém, canalizaria seu sofrimento de um modo introvertido, se tornando ainda mais fechado. Nesse nível, ele deveria estar agora tão arrasado que provavelmente não seria capaz de agir. Por que então justo agora tinha que ocorrer um ataque Ian maciço depois de quase 12 anos?!

Seria possível que Nani, como um especialista em comunicação com os Ians, estivesse em contato com eles? Seria um traidor de sua própria espécie? Ou apenas acreditaria em algum tipo de acordo pacífico que implicasse em neutralizar um dos Hiper Metanaturais? E se fosse assim, esse acordo acabava de ser descumprido com aquele disparo.

- Nani... Ouça... - Murmurava Hane ainda no chão, mas já melhor acomodado na parede e se preparando para tentar se levantar.

- Os Ians... Já estão nos atacando.

- Estão atacando nossas naves no espaço! Eles não irão atacar o plan...

- Nani! Ouça! - E então Hane emitindo um sinal de seu próprio cérebro, acionou o computador central que reproduziu uma mensagem sonora que era transmitida ao vivo.

- “...eiro disparo direto bem sucedido contra o planeta. O Primeiro tangenciou o pólo norte queimando apenas a atmosfera, e destruindo dois satélites de comunicação. O Segundo atingiu uma ilha deserta 1400 km ao norte da Terceira Cidade. A Defesa Planetária afirma que...”

- O que é isso?!- O velho cientista empalideceu.

- Eles enganaram você Nani. Não pretendem fugir. Querem nos destruir. - Completou Hane com sua voz que já voltava a ser forte e imperiosa.

- Não! Mas... Ele disseram que... Talvez... Foram apenas disparos em áreas inabitadas e...

- Eles ainda estão há 14 milhões de kms! Dessa distância não dá pra fazer disparos precisos devido aos nossos sistemas de despistamento. Estão disparando aleatoriamente. - Hane começava a se levantar e Nani rapidamente empunhou a arma.

- Fique onde está! - Disse enquanto acionava um monitor de vídeo onde viu que um avião quase foi atingido pelo último disparo.

- Pare com isso Nani! Eu tenho que ir agora! Já estamos sem o Luri! Vai ser difícil salvar esse planeta desta vez!

- Deve haver algum engano. Eles me garantiram que... Que havia motivos para... - E Nani quase embargou a voz. - Para uma operação pacífica.

- Nani... Você nunca foi nem capaz de entender os motivos para guerra! Ninguém foi. Como espera entender os motivos para a paz?!

- Eu... - O cientista voltou a encarar Hane com a arma apontada, e recuou, tirando rapidamente o cabo de força da parede e fugindo para um outro cômodo, trancando a porta logo em seguida. Hane não pôde, e nem tentou seguí-lo. Se sentou na mesa tomando fôlego para se recuperar, e ordenou a polícia que entrasse na casa.

Nani acessou os sistemas de informação tentando obter algum indício de que os disparos contra o planeta pudessem não ter sido com intenções letais. Mas suas esperanças foram imediatamente frustradas quando um quarto disparo evaporou toneladas de água do mar a menos de 300 km da Primeira Cidade.

- Não! Não pode ser... Isso não pode estar acontecendo! - Foi até a parede e acionou dispositivos ocultos que revelaram uma abertura. Dela ele tirou um estranho aparelho transparente, ativou diversos comandos e enviou uma nova mensagem codificada aos sistemas Ians exigindo saber porque estavam atirando contra o planeta. Nem precisou esperar resposta, percebeu que logo em seguida o canal de comunicação fora cortado.

Bateram na porta e anunciaram no comunicador. Era a polícia intimando o cientista a acompanhá-los. Nani se sentou na escrivaninha com as mãos na cabeça. - Por quê!?

Procurou no sistema de informação se havia algum indício de que uma nave grande Ian estivesse acelerando rumo à estrela mais próxima, mas não havia nenhum. O que era estranho pois a nave demoraria alguns dias para atingir a velocidade necessária para o estado ultra vibracional molecular e acelerar até a velocidade da luz, e mais alguns dias para entrar no Hiper espaço. Eles deveriam estar se movendo desde já.

Sendo assim para quê a fonte de energia que acabaram de ativar no cinturão de asteróides? - Oh não... Será que... - Ligou umas idéias a outras, e concluiu algo que fez seu sangue gelar.

- Quase no alcance! - Anunciou um dos operadores da Defesa Planetária. - Dispare assim que puder. - Ordenou um dos dirigentes e pouco depois o imenso canhão nuclear residente numa ilha 600 kms ao sul da Segunda cidade finalmente abriu fogo. Em todo o planeta foi possível perceber o disparo quando um pulso eletromagnético interferiu em todos os aparelhos eletrônicos por alguns instantes.

O intenso raio branco sumiu no espaço e somente um minuto depois veio a confirmação de que o disparo foi bem sucedido. Uma das naves Ian, que já tinha disparado duas vezes contra o planeta, foi destruída. Porém ainda haviam outras duas há menos de 12 milhões de kms, e os Ians foram pegos de surpresa, pois provavelmente não esperavam que os canhões defensivos do planeta já fossem capazes de atingi-los a aquela distância.

O canhão era uma estrutura cilíndrica branca de quase 100m de altura e mais de 40 de diâmetro. Vários anéis giraram ao longo de seu cumprimento e ele se movia lentamente num ângulo discreto até que parou, concentrou energia e novamente uma luz que cegaria qualquer pessoa que não tivesse protetores oculares cortava os céus.

Mas mal houve tempo de se comemorar o sucesso do segundo disparo, pois um raio intenso vindo do espaço desintegrou o canhão antes que ele pudesse atirar contra a terceira nave, ao mesmo tempo que outras 3 naves, conseguiam passar pelas defesas externas e se aproximar pelo lado oposto do planeta. Por sorte aquele era o único dos canhões que era fixo. Outros dois estavam no mar em plataformas flutuantes e se moviam assim que disparavam. Um outro, de alcance menor, estava de prontidão no espaço em órbita do planeta.

Enquanto isso Hane seguia para uma das bases espaciais da cidade de carona num veículo aéreo da polícia, porém logo percebeu que não estava tão abatido, descendo da nave e passando a voar por conta própria.

Só então entendeu que na verdade ele não tinha ficado enfraquecido, mas sim, de certa forma, embriagado. O Raio-Y hiper excitou seu sistema nervoso e o deixou descontrolado, mas agora que a desorientação passava, ele sentia-se até mais forte.

Voou direto para o espaço e convocou Seki e Doni para fazerem o mesmo. Mais por hábito do que por esperança, chamou também por Luri.

Não houve resposta.

Mais naves Ians chegavam agora ao alcance de tiro do planeta, e no momento 6 delas disparavam contra Orizon. Não só a Defesa Planetária como a própria população civil pôde ver pela TV quando um disparo atingiu o mar. As densas nuvens artificiais se abriram violentamente com um estrondo, abrindo passagem para o feixe de luz cegante que não durava mais do que meio segundo. Uma imensa coluna de água se elevou kms de altura e uma onda de choque de dezenas de metros se expandiu violentamente.

O disparo ocorreu perto de um dos canhões marítimos, a massa de água levada pela onda atingiu um deles e o emborcou totalmente. Os sistemas automáticos foram afetados de modo que o canhão não conseguiu se renivelar e apesar de, junto com o outro, já terem disparado 7 vezes, ainda não haviam destruído uma só nave. Logo em seguida porém o outro canhão vingaria seu companheiro, ao desintegrar justamente a nave que o deixara fora de ação.

Algo estranho estava ocorrendo, como notavam os estrategistas da Defesa Planetária. Os Ians haviam subestimado o alcance dos canhões, o que já lhes custara 3 naves. Porém seu alcance de disparo continuava sendo maior. Porque então não recuavam para além de 12 milhões de kms e continuavam atacando a distância?

- Eles continuam avançando! - Confirmou uma operadora. - Nave mais próxima na posição 1137, 4912 a 7 milhões de kms!

- Estranho... - Comentou um dos dirigentes. - Eles não demorariam tanto para desacelerar.

- “Estranho ou não vou tirar proveito”. - Disse Hane já em órbita do planeta. Olhou para o profundo espaço aparentemente vazio, pois as naves eram ainda invisíveis mesmo para a visão telescópica de seu visor.

Agora era hora de justificar mais uma vez o imenso investimento que os cientistas de Orizon fizeram nos super humanos. Diferente de sistemas automáticos, eles não só sondavam o espaço eletromagneticamente. Usavam uma das maiores virtudes da mente humana, a intuição. Aliado a uma alta capacidade de concentração e afinadíssimos sentidos, eles nunca erravam um disparo.

Após concentrar energia e brilhar como um sol, Hane disparou rumo ao espaço profundo. Nem precisava tentar confirmar o resultado. Sabia que tinha acertado.

Da mesma forma que eram mais eficientes no ataque, eram também na Defesa. Ao ter mais uma de suas naves destruídas os Ians, responderam fogo contra o mesmo local de onde viera o disparo, mas era inútil, Hane simplesmente pressentia o disparo e se antecipava.

Era uma das grandes vantagens de manipular diretamente as forças fundamentais do Universo, através dos Mentons, ao invés de fazê-los indiretamente como as máquinas normais. Mais um disparo de Hane aniquilou outra nave, e Seki e Doni, que não haviam descoberto sonda alguma no planeta, chegavam também ao espaço, do outro lado de Orizon.

Hane podia acertar alvos a quase 10 milhões de kms, os outros tinham alcance menor, portanto aguardaram quando naves inimigas chegaram a cerca de 7 milhões de kms para destruí-las também.

O canhão marítimo se encarregara de destruir a última em alcance perigoso e durante alguns minutos todos puderam respirar mais aliviados.

- “Hane!” - Chamou a Defesa Planetária. - “O Dr. Nani está morto. Suicidou com veneno antes que a polícia entrasse em sua sala. Mas antes de morrer nos enviou um enorme volume de dados de pesquisas pessoais e algo nos deixou muito preocupados.”

Por uns segundos Hane teve pena do velho cientista, que no fundo apenas fizera o que pensava ser o certo, e acabara sendo mais uma vítima dos Ians. Não que estes fossem maus. Hane não fazia nenhum julgamento ético sobre eles. Apenas eram seres incompreensíveis que provavelmente julgavam agir em prol de sua própria sobrevivência. Mas isso agora não importava mais. - “O que é afinal?” - Perguntou.

- “É quanto ao último robô fotônico que nos atacou há 12 anos. Nani achou indícios de que os Ians podem ter aperfeiçoado um que se utilize de fonte de energia remota tal como as sondas sutis. Aquele robô possuía um padrão holográfico de construção subatômico impresso em cada partícula, de modo a sempre se regenerar. Mas vocês o destruíram por exaurirem suas fontes de energia. Se esse novo robô de fato existir, seria para isso que acenderam aquela estrela de fusão quárkica no cinturão 5-6.”

Hane não pode deixar de sentir um arrepio. Isso significaria que não importava quantas vezes destruíssem o robô, ele sempre se recomporia, extraindo energia da pequena fonte de energia sub sub nuclear! Seria simplesmente indestrutível enquanto a estrela permanecesse acesa, o que fatalmente demoraria muitos dias, talvez semanas.

- “Temos que destruir a estrela!” - Confirmou imediatamente Hane. Mesmo que isso significasse abandonar o planeta por uns instantes.

- “Temos que arriscar. Melhor fazer isso agora enquanto temos uma trégua.” - Respondeu a Defesa Planetária. - “Não há naves grandes há menos de 37 milhões de kms. Temos pelo menos meia hora. Estamos enviando uma nave para pegar vocês, Seki e Doni já estão indo em sua direção. Ainda não conseguimos resposta do Luri.”

Minutos depois uma nave metálica, em forma de míssil, 60 metros de comprimento, passava rente aos heróis que a alcançaram e entraram num compartimento especial. Junto a outras naves arrancou rumo à estrela recém surgida numa aceleração além da capacidade de resistência de qualquer ser vivo conhecido não Hiper Metanatural.

- “É tão estranho sem o Luri.” - Pensou alto Seki, e seus colegas ouviram. No passado, quando eles saíam em naves para locais distantes no espaço, pois as grandes naves ainda podiam se mover mais rápido do que eles individualmente, era comum que deixassem alguém no planeta como garantia de segurança. No caso era sempre Doni ou Seki que ficavam, de modo que Hane e Luri sempre estavam presentes.

Era quase a única vez que eles 3 estavam juntos numa nave, que agora já ultrapassava 15 mil km/s. Hane tentara nem tocar no assunto, foi porém inevitável. - “Mas então foi o Nani que arquitetou tudo.” - Disse Seki.

- “Não interess...” - Responderam Doni e Hane quase ao mesmo tempo. E um ficou esperando o outro falar. Hane se adiantou. - “Independente disso não consigo acreditar que a Ange tenha sido tão estúpida a ponto de se deixar cair numa armadilha destas! Devia ser óbvio para uma mulher tão perspicaz. Além disso o que custava ao menos tentar manter a ilusão do cara, uma vez que já estava criada, por uns tempos, e ir desfazendo aos poucos?! Não seria o fim do mundo!” - E fez um pausa, continuando depois. - “ Isso é o fim do mundo!”

Então foi a vez de Doni. - “Eu não entendo o Luri! Como é que um cara pode ser tão... Frágil?! Isso chega a me irritar! Independente de Nani ou Ange... Droga!!! O cara tem que saber quando... Tem que ter força!”

- “Ah Doni. Não seja tão duro. Você não é tão diferente.” - Interpelou Seki, e Doni reagiu. - “Eu enfrento e venço minha timidez! Luri nem tenta enfrentar a dele!”

Então foram interrompidos pela Defesa Planetária.

- “Está confirmado! Acabamos de detectar um robô fotônico de aparência similar àquele de 12 anos atrás, mas sem geradores próprios de energia. Ele realmente está puxando energia da estrela! Nani estava certo!”

- “Onde ele está?!”

- “Emergiu de Orizon 7! Mas não tínhamos como detectá-lo antes! Ele estava em forma líquida espalhado pelo planeta! Quando a estrela se acendeu ele começou a se constituir e está vindo na estupenda velocidade de quase 50 mil km/s! Estará aqui em meia hora!”

- “Há mais naves?!”

- “Nosso canhão no espaço acaba de destruir mais 4 que tinham entrado no alcance, mas o robô acaba de destruir o canhão! Também destruiu todas as 9 naves que tínhamos próximas a Orizon 7 em menos de um minuto. É foi totalmente insensível a nossos disparos! ”

- “Temos que voltar!” - Disse Doni

- “Temos que destruir a estrela primeiro!” - Insistiu Hane.

- “Só é preciso dois de nós para realizar fusão Sub Nuclear! Um de nós tem que voltar para deter a coisa antes que ela alcance Orizon!” - Retrucou Doni.

- “Infelizmente não será assim senhor Doni.” - Respondeu a Defesa Planetária, passando a voz para o próprio Dr. Xistus. - “Pessoal! Acabo de concluir a análise da reação ocorrida no núcleo da estrela. Ela está protegida por uma camada reativa de fissão protônica, Fusão Sub Nuclear não vai adiantar! Tem que ser fissão de anti-matéria! É preciso vocês 3!”

- “Estamos chegando.”- Disse Hane.

- “Atenção, acabamos de detectar concentração de naves Ians em torno da estrela. Preparem-se para enfrentar resistência.”

Mal a Defesa Planetária terminou de transmitir a mensagem e a nave foi sacudida por um disparo. Desta vez não eram os grandes cruzadores capazes de disparar contra um planeta a milhões de kms de distância. Eram dezenas de naves pequenas que se dispuseram em torno da nuvem gasosa e brilhante que começara a envolver a estrela há alguns minutos.

A nave reagiu no automático, disparando contra os inimigos, e então lançou os 3 heróis como se fossem mísseis. As naves robôs Ians esperavam enfrentar apenas outra nave, e já tinham destruído todas as naves que acompanhavam o transporte dos heróis, ao vê-los, assumiram nova estratégia.

Submergiram dentro da nuvens de gases e rochas caóticas que se formava em torno da estrela. Visto de Orizon, a estrela já não mais iluminava como antes, pois uma verdadeira barreira de fragmentos se acumulava em seu redor, parecia um mini planeta gasoso.

Os heróis não demoraram a começar a destruir as naves uma a uma, e logo notaram que centenas de outras surgiam de esconderijos nas rochas. Seki, que havia aprendido a diferenciar asteróides com mais eficiência, disparou numa pedra com Urânio causando uma onda de choque que destruiu 8 naves ao mesmo tempo.

A batalha se tornara barulhenta. Dentro da espessa camada de nuvens o som podia se propagar. Estilhaços voavam em todas as direções e até um vórtice começou a se formar.

Doni ia varrendo a dianteira com seus braços canhões, destruindo robôs e rochas ao mesmo tempo. Hane se dedicava às naves maiores, e a nave de transporte que os trouxera pôde ficar em paz do lado de fora na nuvem.

Entre estrondos e ondas de choque, continuaram avançando rumo ao foco de luz branca, embora estivessem cercados de focos de luz avermelhada e amarelada em toda a parte. Era como voar no meio de uma tempestade, de onde a qualquer momento surgia uma nave inimiga.

Um disparo atingiu Seki mas ele se recuperou logo, e por um instante pode sentir algo muito estranho, a corrente de energia intensa que cruzava o espaço micro dimensional e alcançava o robô. A mini estrela criava uma reação capaz de fazer desabar matéria colapsada para o interior de átomos pesados até atingir um massa tão compacta e um tamanho tão pequeno que escorregava para intervalos micro dimensionais imperceptíveis para quase qualquer outra forma de matéria ou energia. Toda a estrutura foto celular do robô possuía uma sensibilidade na mesma frequência, e por isso captava a energia cujo fluxo não podia ser detido por nenhuma barreira. Mas Seki logo se apercebeu de uma coisa. Se a matéria escorria para as microdimensões a nível sub nuclear dentro de uma camada de Anti-Matéria protetora, destruir a camada não adiantaria, pois ela também se reconstituiria rapidamente

O Robô fotônico acabava de chegar em Orizon. Todos os disparos do último canhão nuclear marítimo foram inúteis, pois erraram o alvo ou ao atingir não fizeram mais do que consumir alguns segundos de recomposição de seu corpo, até que num único disparo ele destruiu o canhão.

A situação era muito grave. Este robô não estava preocupado em arremessar asteróides contra o planeta, ele tinha poder de fogo para destruí-lo pessoalmente. Ao entrar na atmosfera aniquilou em segundos todas as naves que foram enviadas para detê-lo e logo em seguida partiu em direção à base de lançamento mais próxima.

A Defesa Planetária mal teve tempo de fazer decolar todas as naves automáticas guardadas na base, o robô as destruiu tão rápido que nada pôde ser salvo. Logo em seguida alcançou o canhão que estava emborcado no mar e o destruiu também, e então rumou para a Quarta Cidade.

Durante muito tempo imperaram certezas de que o universo fora intencionalmente produzido, por uma entidade vulgarmente chamada 'Deus'. Porém, as características deste ser jamais foram devidamente apresentadas. Por outro lado teorias científicas que dispensavam tal idéia costumavam ser altamente convincentes. No entanto atentavam contra as intuições da maioria das pessoas.
NÃO HÁ ESPERANÇA

Finalmente, após muita luta conseguiram destruir as últimas naves que protegiam a estrela, a pararam diante de um cenário espetacular.

A grande esfera branca brilhante era apenas uma camada externa. Para ultrapassá-la tiveram que ampliar um campo aniquilador em torno do corpo, que agia como um escudo, penetrando na barreira de alta energia. Agora estavam dentro de um oceano de nuvens luminosas e coloridas. Ventos fortíssimos corriam em todas as direções e explosões de todos os tipos ocorriam dentro da esfera.

Bem ao centro havia uma pequenina fonte luminosa branca, onde ocorria a reação, então Hane e Doni se prepararam. Dispararam cada um uma emissão nuclear que consumia parte microscópica de seus próprios corpos, e parte da matéria a sua volta. Ao se cruzarem os raios de fissão causavam uma reação de fusão nuclear, então Seki disparou o último raio no centro da reação, um raio de anti prótons capaz de desencadear uma violenta fissão de Anti-Matéria.

O raio de anti-matéria atingiu em cheio o pequenino núcleo da estrela brilhante e uma onda de choque sacudiu todo o interior da grande esfera gerando uma oscilação que foi sentida em Orizon.

O problema dos super raios nucleares é que eles só atingiam seu desempenho máximo alguns milhares de kms após sua fonte de disparo. Ao saírem do emissor, normalmente as partículas ainda não tinham reagido, demorando alguns décimos de segundo, o que fazia com que a liberação de energia intensa necessitasse de uma distância mínima de neste caso, uns 200 mil km.

Por isso o robô não pretendia disparar raios nucleares de alta potência direto contra a Quarta cidade onde acabava de chegar, teria que subir até o espaço para isso. Procurou então destruir os emissores de fumaça e os geradores de interferência com raios não muito mais poderosos do que o que os heróis acabavam de usar contra sua fonte de energia, e então convocou a última nave Ian de ataque, que estava a poucos milhões de kms do planeta, dizendo exatamente onde disparar.

Do espaço a nave lançou seu raio nuclear que atingiu em cheio o centro da deserta Quarta Cidade. Em segundos a onda de choque aniquilou completamente o resultado de décadas de trabalho. Arrasando tudo num raio de dezenas de kms.

Mas o objetivo não era esse. O Robô procurava a população, que estava protegida a milhares de kms no subterrâneo. O raio nuclear não era tão potente a ponto de perfurar a densa camada de rochas do planeta e atingir os abrigos, mas o calor gerado podia inviabilizar a sobrevivência humana em pouco tempo.

No interior dos abrigos subterrâneos o desespero foi geral. Era impossível não sentir o tremor e o calor a se espalhar por todo o ambiente. Os refrigeradores se ativavam a potência máxima, mas eram ocasionalmente interrompidos pelos pulsos eletromagnéticos causados pelos disparos e pelo Robô.

Diante disto, muitos se perguntavam: Onde está Luri!?

Disse um dirigente da Defesa Planetária. - Mas que estranho. Os rapazes estão prestes a destruir sua fonte de energia e o robô parece não se importar. Ele não deveria sentir qualquer oscilação por mínima que fosse?!

- Com certeza! - Respondeu Xistus. - E poderia alcançar a estrela em 15 minutos! Porque ele não corre para protegê-la?!

- Vocês não entenderam! - Interrompeu uma nova telepresença. Era Ekzar, que só agora conseguira acessar a Defesa Planetária de um dos abrigos da Primeira Cidade. - O escudo de Anti-Matéria que protege o núcleo da reação é um efeito colateral espontâneo da reação em si! Ele vai se reconstituir quase instantaneamente! E preciso de um só golpe destruir o escudo e jogar uma rajada de Anti-Quarks no núcleo.

Houve um breve suspense. E então uma das cientistas concluiu.

- E preciso uma Fusão Sub Nuclear Reversa?!

E uma tensão geral tomou conta de todos, dando pouco a pouco lugar ao desespero.

- Pelo Universo... - Engoliu em seco a governadora triunvirata, que por enquanto apenas acompanhava os eventos. - Onde está o Luri!?

Os rapazes haviam tentado de novo, mas fora inútil. Apenas uma onda de choque irritante capaz de fazer eles serem jogados para todos os lados após cada explosão.

Lá dentro, era impossível que captassem qualquer mensagem da Defesa Planetária, é já era difícil conversar entre eles dado a interferência, o que os fazia gritar e mover amplamente os lábios para facilitar o entendimento.

- Não adianta! - Gritava Seki. - O escudo de anti-matéria se refaz instantaneamente, tentar destruí-lo é inútil!

- Mas sem destruí-lo não dá para atingir o núcleo! - Interpelou Hane.

- Temos que fazer os dois ao mesmo tempo! - Interrompeu Doni. - Se gerarmos Anti-Matéria, o núcleo pode ser destruído com Anti-Quarks e...

O suspense se instaurou. - Oh não! - Disse Seki.

Hane ficou em silêncio, pasmo, e sua mente quase mergulhou em desespero.

- Então é isso! - Disse Doni. - Agora tudo faz sentido! RY-3 DESATIVADO!!! É isso! Foi pra isso que tiraram o Luri da jogada!

- Porque temos que fazer uma Anti-Fusão Sub Nuclear! - Disse Hane.

E Seki completou quase emudecendo. - E com apenas 3 de nós... Não dá pra fazer Fusão Sub Nuclear Reversa.

- Convoquem essa mulher!!! - Gritaram os triunvirantes. - Localizem o abrigo onde ela está e convoquem-na. Ao que tudo indica só ela pode convencer o Luri a voltar!

Os operadores tentaram mas havia muita confusão nos registros e nos sistemas de comunicação agravados pelos eventos que acabavam de ocorrer, quando a nave Ian disparara contra o planeta.

- Não dá pra saber se ela está nos abrigos da Quarta ou da Quinta Cidade! - Disse um dos operadores. - Se estiver na Quarta já pode até estar morta.

E de fato na Quarta Cidade dezenas de pessoas já haviam perecido, vítimas do calor insuportável que se instaurou num dos abrigos quando um raio nuclear liquefez a rocha a algumas centenas de metros acima e os refrigeradores pararam de funcionar.

Enquanto isso num abrigo da Quinta Cidade Ange acabava de se acomodar às pressas. Vendo pelos monitores o que acontecia no planeta, e sabendo, mais por intuição do que por informação, que Hane, Seki e Doni estavam no espaço, sentiu pela primeira vez a desagradável sensação que a maior parte da população tinha.

Onde estavam os Heróis? E ela pensou em voz alta.

- Ah... Deusa... Luri! Onde você está?!

Cinco aviões automáticos de combate se lançaram contra o Robô. E embora seus disparos destruíssem mais a cidade do que o invasor, conseguiram retardá-lo de modo a dar uma trégua para os cidadãos no subterrâneo. Enquanto isso no espaço a nave Ian se aproximava, e diversas naves menores entravam na atmosfera em pontos distintos do planeta.

- A nossa nave de transporte conseque?! - Indagou Doni.

- Não! - Respondeu Hane. - E mesmo que pudesse gerar disparos na intensidade necessária ela não poderia entrar aqui dentro!

- Tem que haver uma solução! - Gritou Doni. - Luri não vai aparecer!

- Seki! - Disse Hane. - Vá lá fora e comunique a situação à Defesa Planetária. Veja se podem enviar alguma nave capaz de gerar raios nucleares nesta configuração. - E enviou um padrão que representava as características necessárias que a arma deveria ter para simular certos disparos que qualquer um deles poderiam fazer.

Aparentemente o Robô abandonava a Quarta Cidade. Talvez por pensar que o último raio nuclear tivesse matado a maior parte dos habitantes, o que só não foi verdade, porque o raio destruíra um pseudo abrigo isca.

Na atmosfera é impossível desenvolver as altíssimas velocidade que pode-se atingir no espaço, mesmo assim o robô acabava de ultrapassar 12.000 m/s voando no interior de uma imensa bola de fogo resultante da fricção do atrito com o ar. Logo se aproximava da Terceira Cidade.

Ele desistira de lutar contra os aviões de combate e partiu assim que o último raio nuclear atingiu a cidade. Mesmo sem poder alcançá-lo, os aviões o seguiram, e do espaço os últimos satélites defensivos se viraram contra o planeta e passaram a atirar contra o Robô sem muito sucesso em danificá-lo, mas com algum sucesso em atrapalhá-lo.

Ao mesmo tempo em vários pontos do planeta combates eram travados por naves robôs defensivas e invasoras. Algumas delas perseguiram o último veículo aéreo que transportava pessoas rumo aos abrigos.

Um diretor de uma das maiores cadeias de TV, Liano, ainda se sentia culpado por ter compactuado com Seki em promover aquele show que quase resultara num cataclisma, e não pensou duas vezes em ordenar que algumas de suas câmeras voadoras automáticas se chocassem contra as naves inimigas surpreendendo-as e destruindo-as. Salvando a nave de passageiros.

- Atenção todas as emissoras e entidades dos planeta que possuam robôs voadores! - Ordenou os dois membros do Triunvirato de Orizon. - Enviem todos os seus robôs para o ar e choquem-se contra as naves inimigas em qualquer oportunidade.

Os diretores das TVs e outros responsáveis não hesitaram em acatar a ordem, afinal todos estavam em perigo e a população de Orizon nesta última década de paz não perdera sua capacidade de mobilização. Pouco tempo depois mais de um milhão de veículos automáticos aéreos faziam mais do que filmar os eventos. Agiam como baluartes de defesa, mas não demorou para que as naves Ians percebessem seu comportamento e passassem a evitá-las, voando mais alto e mais rápido e destruindo-as sempre que possível, embora preferissem concentrar seus disparos em outros alvos.

Quando correlacionamos as questões a respeito da mente humana, com as questões do universo, fica mais evidente o dilema no que diz respeito ao enigma existencial. Temos Intencionalidade porque esta já pré-existe no universo exterior? Ou projetamos a idéia de intencionalidade no universo porque a temos em nosso interior? A mente gera o mundo, ou o mundo gera a mente?
ÚLTIMO RECURSO

Enquanto isso Seki acabava de voltar para dentro da estrela.

- A situação é péssima! O Robô já está atacando a cidade e já matou centenas de pessoas! E há diversas outras naves atacando o planeta! Temos que vol...

- Podem nos mandar uma nave!? - Interrompeu Hane.

- Não! Não sobrou nenhuma nave de combate que possa nos ajudar, e preparar uma nova vai demorar um dia inteiro!

- Então somos só nós! - Disse Doni.

- Só nós 3 não podemos gerar uma Anti-Fusão Sub Nuclear! - Gritou Hane e todos entraram em silêncio por uns instantes.

- Só tem um jeito! - Disse Seki. - Um de nós tem que explodir.

Outro estrondo percorreu o planeta quando mais um tiro da nave Ian no espaço ferveu o mar. Desta vez seu alvo eram os 5 aviões que perseguiam o Robô invasor, que foram evaporadas.

A Terceira Cidade Porém tinha uma surpresa. Quando o Robô se aproximou dela um mecanismo de defesa detonou uma bomba nuclear de fusão pura. Pego desprevenido o Robô foi derrubado e ficou seriamente avariado.

Mas pouco adiantou, suas peças luminosas e transparentes simplesmente começaram a se regenerar e em pouco segundos ele se reconstituía novamente.

Outra bomba nuclear de fusão pura detonou, o Robô foi vaporizado.

Inútil. A Defesa Planetária assistiu em pânico ele se reorganizar em outro lugar e ressurgir em perfeito estado.

Outra bomba detonou, e mais outra, e mais outra, e por fim fizeram o que as naves Ians ainda não haviam conseguido, destruir a Terceira Cidade. A população pelo menos ainda estava a salvo e fugia para níveis mais profundos enquanto o Robô ao menos era detido por algum tempo.

Muito abalado, Hane admitiu. - Acho que não temos escolha. - E após alguma pausa acrescentou. - Eu faço. Só eu tenho energia suficiente.

- NÃO!!!- Gritaram Seki e Doni ao mesmo tempo, e no fundo Hane sabia que eles estavam certos.

- Você representa uma especialidade Hane! Não podemos te perder! Não tente bancar o mártir numa hora destas! Não é hora para heroísmos insensatos!!! - Gritou Seki. E estava certo. No fundo Hane estava agindo pelo seu impulso de grande pai responsável, que deveria dar a vida pelo mundo que jurou defender.

- É evidente que quem deve fazer isso é um de nós! - Disse Doni. - Somos mais dispensáveis! E... Eu vou!

- Nada disso!!! - Gritou Seki.

Profundamente amargurado Hane gritou. - LURI!!!!!!! AAARRGGHHH!!!! DECIDAM LOGO!!!

- Você é o único de nós que é perfeito Seki! Eu sou defeituoso! Sou mais dispensável!

- NÃO!!! - Gritou Seki.

- Ele tem razão Seki! - Gritou Hane.

- Eu sou o mais defeituoso de todos!!! - Retrucou Seki, e conseguiu tirar uma expressão de espanto e incompreensão de seus companheiros. Porém, ao olhar para Doni, este entendeu o que ele queria dizer, Hane porém continuava a esperar uma explicação.

- Fui eu Hane! - Disse Seki.

E Hane, embora já desconfiasse, insistiu. - O quê!? Fale!!!

- Eu enviei aquele asteróide contra nosso planeta! Eu criei aquele espetáculo estúpido! - E abaixou o rosto de vergonha. Doni começou a puxar os cabelos.

- Eu juro que não sabia do maldito urânio nas rochas, achei que ia ser moleza! Dar um showzinho na TV para animar as coisas! Mas mesmo assim foi uma insanidade imperdoável. Eu sou o mais defeituoso de todos nós! Não consigo levar nada a sério! Nem a função para a qual fui criado... Eu vou explodir!!!

Doni começou a chorar, e Hane tentava se controlar para não gritar de ódio. Com muita dificuldade murmurou.

- Droga Seki... Eu... Tinha a esperança de passar o resto da vida... Te dando o benefício da dúvida.

- Não temos escolha Hane. É minha forma de me redimir. Você tem esposas. Doni também terá! Eu não! Nunca terei ninguém comigo! Ninguém vai sentir minha falta!

- Cale a boca! - Gritou Doni chorando em desespero. - Não diga isso Seki... Por favor. - O olhou com o mais triste dos olhares.

- Você é nosso irmão! É o único que me entende... Por favor irmão... Amigo... Eu não sei se vou conseguir viver sem você. - Disse a frase desabando de chorar, e então começou murmurando e acabou gritando. - Luri... Maldito Luri! Onde Você está?!? Eu nunca vou te perdoar por isso!!!

Seki encarou Hane, que já se conformava. - Não temos mais tempo irmão. Tenho que ir agora.

Mas de repente um raio azul cortou a névoa atingindo direto o núcleo da estrela. Se não estivessem tão desesperados, teriam percebido antes. Doni, com os olhos inchados e rosto ainda desfigurado pelo sofrimento, mal conseguiu pronunciar. - Luri?

E o vulto na névoa se tornou visível, enquanto disparava um intenso raio nuclear, e então gritou. - Andem logo!!! O Robô está devastando Orizon!

Seki apesar dos segundos de susto, foi o que reagiu mais rápido, abriu distância e disparou um raio verde que cruzou com o raio de Luri. O cruzamento gerou a Fusão Nuclear.

Doni ainda incrédulo demorou mais a se mover, mas por fim chegou até a distância adequada e disparou um raio de Anti-Matéria, que cruzou no mesmo ponto onde se cruzavam os raios de Seki e Luri, formando com cada um deles o mesmo ângulo.

Eram 3 raios que se encontravam como a ponta de uma pirâmide onde o vértice reagia estrondosamente com uma Fissão de Anti-Matéria, que produzia entra outras coisas Anti-Quarks.

Por fim Hane se posicionou entre os 3 e se afastou, e num grito de fúria disparou um intenso raio de Anti-Quarks exatamente no centro da pirâmide de luz, ao atingir o vértice explosivo acontecia a Fusão Sub Nuclear de Anti-Matéria, ou Anti-Fusão Sub Nuclear, ou Fusão Sub Nuclear Reversa.

E efeito era devastador, os Anti-Quarks livres se fundiam gerando um fluxo de partículas subatômicas de vários espectros. Anti-Quarks de altíssima energias que só ocorriam em situações muito especiais como na própria criação do Universo, atingiram em cheio o núcleo da estrela.

O efeito foi assustador, a onda de choque empurrou os 4 heróis para fora da estrela branca, porém ela continuou ativa, mesmo assim, após se recuperarem do choque, Seki anunciou.

- Uau... Per... Perfeito! Ela está entrando em colapso. Mas segundo os cientistas vai demorar mais ou menos uma hora para desabar por completo! Pra nossa sorte! Ou nem sei se sobreviveríamos à explosão.

- “Bom trabalho rapazes! Agora venham imediatamente para cá! Deixem a estrela que ela deve se auto destruir em cerca de 40 minutos. Precisamos de vocês agora!”

E a nave de transporte não demorou a passar ao lado dos heróis que emparelharam com ela e se agarraram aos suportes guias, escorregando depois para o compartimento onde se acomodaram e menos de um minuto após os impulsores nucleares funcionavam a potência máxima, sobrecarregando o sistema de tal forma que esta seria provavelmente a última viagem da nave. Isso aliado a uma energia extra que os heróis deram jogou a nave a mais de 20 mil km/s.

Lá dentro, Seki não conseguia conter a alegria. - Luri! Legal Luri! Eu sabia! Você mostrou pra eles cara! Pensaram que iam acabar com você! Pensaram que você não tinha fibra pra enfrentar a situação! Se ferraram! Você venceu cara! Você mostrou pra eles!!!

Mas Luri, sem expressar emoção, se limitou a dizer uma impactante frase, não apenas pelo modo como disse.

- Eu sou uma máquina Seki. Meu programa me determinou a vir aqui. Só isso. - E estragou o clima festivo. Seki apenas ficou triste, Doni ficou irado. Hane, que ninguém saberia para onde olhava, parecia uma estátua, sem qualquer expressão.

Quando havia certeza da existência do 'espírito/alma', costumava-se admitir que era constituído de substância diferente da matéria, a isso chamava-se Dualismo de Substância. Porém essa doutrina jamais conseguiu esclarecer como tais substâncias interagiam, visto que não tinham propriedades em comum, pois se tivessem, poderiam ser reduzidas a este único elemento em comum.
ATAQUE TOTAL

A primeira coisa a fazer era destruir a nave no espaço que atirava contra o planeta, e que já estava a quase meio milhão de kms de Orizon, a distância ideal para os raios nucleares de alta potência atingirem seu máximo desempenho.

A nave de transporte chegou à cena imprimindo uma dolorosa curva e consumindo uma energia tão monstruosa nos motores que o simples campo de interferência impedia sua identificação. Com isso as naves Ians que escoltavam a nave maior de ataque nem conseguiram atingi-la.

Luri saltou para fora na nave como um míssil aproveitando o impulso original e acelerando ainda mais, já enfrentando as dificuldades de distorção de matéria, energia e espaço-tempo que a estupenda velocidade causava.

Enquanto a nave transporte fazia a curva rumo a Orizon, Luri se distanciou um pouco e intensificou o halo de energia em torno de seu próprio corpo. Atirar naquela velocidade era difícil, preferiu colidir com a nave.

A delgada estrutura cristalina estava prestes a realizar mais um disparo contra a Terceira Cidade, que desta vez poderia ser definitivo. Mas não teve tempo, um facho azul atravessou-a pelo meio partindo-a em duas e inutilizando-a totalmente.

Luri desprendeu um tremendo esforço para corrigir o curso e voltar para a nave transporte, não conseguiu, e nem foi necessário. Menos de um minuto depois estavam entrando em Orizon, num esforço ainda maior para reduzir a velocidade e não se chocar contra o planeta mais devastadoramente do que qualquer asteróide conseguiria.

Os outros 3 heróis saíram da nave, e notaram que ela não ia conseguir parar, mas curiosamente foram os próprios Ians que resolveram a situação, ao aniquilar a nave transporte com um disparo de uma das naves invasoras que entrava na atmosfera.

A onda de choque iluminou a parte escura do planeta e só depois as naves inimigas perceberam os 4 super humanos caindo sobre elas. Era tarde, em segundos foram todas aniquiladas e os 4 entraram na atmosfera.

- “Muito bem pessoal!” - Disse Hane. - “Há naves em toda parte! Vamos nos separar e destruí-las no caminho e depois nos encontramos com o Robô do outro lado do planeta.”

- “É isso ai! Como nos velhos tempos!” - Disse Seki.

Cada um voou num rumo diferente e após algumas centenas de kms Doni mergulhou e voou em rasante perseguindo um grupo de naves que em pouco alcançaria a Quinta Cidade. Numa só rajada de energia varreu-as do ar.

No sentido oposto Seki teve que subir para interceptar 5 naves que se preparavam para abrir fogo contra instalações automáticas de defesa que também serviam de abrigo a algumas pessoas. As naves o perceberam tarde demais, um delas ainda escapou da primeira onda de ataque que pulverizou as outras. Fez meia volta e atirou nas nuvens de onde os disparos vieram, mas Seki havia baixado seu nível de energia se tornando indetectável, quando a nave estava prestes a entrar nas nuvens ele emergiu e com um soco partiu-a no meio, seus pedaços se auto destruíram depois.

Hane destruía naves inimigas antes que elas pudessem se aperceber de sua presença, e uma delas foi desintegrada pouco antes de uma câmera de TV atingi-la num ataque suicida, sendo poupada e logo em seguida filmando a passagem do herói queimando o ar rumo a outras naves inimigas.

Finalmente então a população soube que os 4 Hiper Metanaturais estavam de volta. As TVs de imediato se reorganizaram e começaram a alterar o teor das transmissões. Logo em seguida avistaram Doni destruindo mais um grupo de naves Ians e então a esperança e euforia voltou a todos.

Para o grupo de abrigados num dos subterrâneos da Primeira Cidade essa esperança conseguiu aliviar o desespero advindo dos estrondos de perfuração da Terra que um outro robô Ian promovia na tentativa de abrir uma passagem para acessar o subterrâneo.

Uma das câmeras internas podia focar o robô transparente se aproximando por um orifício de rocha derretida enquanto sistemas de defesa tentavam inutilmente detê-lo.

De repente todos se espantaram quando ele simplesmente sumiu, sendo arrebatado para cima. Então uma recém chegada câmera voadora registrou a impressionante imagem. Luri o arrastava pelo topo até alguns kms de altura quando então o arremessou para cima e o destruiu num disparo. Depois desceu rumo a outros dois robôs que se aproximavam, abalroou um esmagando-o e inutilizou o outro com um raio elétrico.

Mais naves Ians se aproximavam do planeta. Hane, quase na superfície, destruiu todas as que estavam em seu campo de visão, se houvesse outras teriam que esperar, o Robô fotônico, agora sem a ajuda da nave no espaço, perfurava a terra tentando alcançar uma das bases subterrâneas na Terceira Cidade.

Luri foi o primeiro a chegar, mas teve que enfrentar um grupo de dezenas de naves pequenas, do tamanho das câmeras de TV, que eram muito rápidas e ágeis. Demorou minutos para eliminar todas e então finalmente entrar no buraco que o Robô abrira no chão.

O RY-3 mergulhou num túnel sinuoso, pois o Robô evitava os trechos mais duros de rocha, até que avistou a luminosidade avermelhada e se deparou com um artefato que ele jamais vira. Chegou a hesitar por uns instantes e então mergulhou e deu a ele o mesmo tratamento que dera ao robô anterior.

O Robô pareceu pego de surpresa, se deixando arrastar sem reagir até a superfície, porém mal Luri chegou ao ar livre e foi atingido por uma onda de energia que há muito ele não experimentara.

Perdeu altura e caiu no chão, que ainda fumegava, desorientado. As câmeras de TV captaram o momento em que Luri foi arremessado ao céus por um disparo do Robô que explodiu o chão.

Então chegaram Seki e Doni quase ao mesmo tempo e pararam em frente ao seu novo inimigo. Não puderam evitar uma expressão de espanto. O Robô era impressionante. Não era muito grande. Ligeiramente antropomórfico, tinha cerca de 3m de altura por uns 4 de largura.

Era todo translúcido, embora perfeitamente visível, como uma escultura de vidro luminosa e reluzente. Os braços eram enormes, lembraria um gorila da velha Terra, embora ainda mais exagerado. As pernas bem curtas, eram na verdade dois potentes propulsores que se direcionavam com alta manobrabilidade. Mas o mais estranho era o que parecia ser a cabeça, larga, colada ao tórax. Parecia ter dois olhos de expressão maligna, embora nada que lembrasse nariz, boca ou orelhas. Era como um capacete em delta, afiado como uma lâmina.

Houve uma hesitação de ambas as partes, que as câmeras de TV captaram e as emissoras souberam explorar sensacionalmente. O planeta inteiro via a tensão crescer no local.

De repente Seki e Doni sumiram de vista atingidos por dois intensos raios disparados pelo Robô num movimento tão rápido que eles não conseguiram reagir. As pessoas levaram um susto, gritos de horror ocorriam em todos os abrigos.

Então, por trás do Robô uma luz azul começou a se formar. Ele se virou, era Luri concentrando energia e logo em seguida disparou um raio azul claro que era como um relâmpago.

O Robô se desviou, mas não adiantou, o raio o acompanhou e o atingiu em cheio. O campo eletromagnético era tão intenso que neutralizou todas as câmeras por um tempo, quando voltaram a transmitir, o Robô havia sumido e Luri vasculhava o desolado cenário atrás dele.

Então um raio veio do céu e Luri só não foi atingido por ter se desviado por intuição. O raio veio cortando o chão tentando atingi-lo, ele acelerou e o raio continuava atrás dele, então driblou num ousado movimento e contra atacou.

O Robô deteve o ataque após ser atingido para se desviar da linha de fogo, Luri o perseguiu da mesma forma, mas ele subiu aos céus tão rápido que Luri o perdeu por uns instantes.

O Hiper Metanatural estava impressionado. O Robô parecia ter a habilidade de ficar ocasionalmente imperceptível. Quando finalmente o detectou ele já descia num mergulho rapidíssimo e uma onda de energia varreu o solo empurrando Luri para longe.

Mal teve tempo de se recuperar e o Robô o agarrou com um imenso gancho de 3 dedos. A mão mecânica cristalina passou a girar rodopiando Luri numa velocidade enorme. Girando, bateu seu corpo, que brilhava intensamente, no chão várias vezes, arrancando pedaços das rochas e por fim o arremessou como uma bala disparando um raio logo em seguida. Houve uma explosão e Luri desapareceu dentro de uma das poucas ruínas reconhecíveis de um prédio.

Um cone de luz envolveu o Robô, era Doni, que descia disparando raios nucleares que derretiam o solo. Brilhando como um sol o Robô escapou para o alto e contra atacou. Doni resistiu ao disparo e atirou de volta, o Robô se desviou e atacou de novo.

Durante alguns segundos os dois duelaram como pistoleiros no ar, trocando tiros que queimavam os céus. Então outro tiro atingiu o Robô pelas costas. Era Seki.

Aproveitando a distração do inimigo, Doni voou ao seu encontro e o agarrou tentando esmagá-lo, mas ele era muito mais resistente do que qualquer estrutura Ian que ele já tocara. Seki fez o mesmo pelo outro lado e logo ambos se viram medindo forças cada um com um braço do Robô.

O Robô girou para tentar se livrar, mas acabou por agarrar cada um dos oponentes em uma das mãos. Chocou um contra o outro e disparou de seu toráx um raio diretamente em seus rostos. Eles dispararam de volta uma rajada que destruiu o emissor de raios do Robô e este os arremessou longe, desorientados.

O Robô esperou alguns segundos para que seu emissor de raios do toráx se regenerasse. Seki ainda estava tonto, Doni já atirava. Então o Robô, inesperadamente brilhou como uma estrela e emitiu uma onda de choque que arrasou kms do que sobrara de ruínas da Terceira Cidade. Doni e Seki caíram desmaiados e todas as câmeras de TV das proximidades foram desintegradas.

Logo outras chegaram e puderam ver o Robô investindo contra Seki, ainda desacordado. De repente um facho de luz vermelho rosado atingiu o Robô jogando-o para o lado com um impacto ensurdecedor.

Era Hane, que teve que deter um ataque contra a base principal da Defesa Planetária na Primeira Cidade.

Teve a oportunidade de acompanhar tudo o que a TV enviava pelo seu visor, e já compreendendo a estratégia do oponente, agarrou-o levando para fora dos limites da cidade e o jogando numa barreira de pedras sobre o mar. A barreira foi desintegrada quando o Robô, arremessado, a atravessou e ainda entrou no mar com um impacto capaz de elevar colunas de água a centenas de metros.

Então Hane disparou um raio nuclear que evaporou indiscriminadamente rochas e água e resultou num autêntico cogumelo de fumaça que se elevou aos céus.

Hane sabia que aquilo não destruiria o Robô, mas ele queria analisar seu processo de regeneração, e se possível obrigá-lo a puxar mais energia da estrela, provocando um colapso antecipado.

Quando a nuvem nuclear se dissipou, a geografia estava mudada, o mar ainda fervia e as poucas rochas que despontavam ainda fora da água brilhavam incandescentes.

Não havia nenhum sinal do Robô, e Hane percebeu que tinha cometido um erro. Não tinha como prever onde o Robô iria se recompor. Olhou para todos os lados, selecionando frequências de onda diferentes em seu visor para rastrear alguma coisa.

Notou então ao longe uma nuvem energética se recompondo e partiu em sua direção, de repente foi agarrado por trás. O braço do Robô ainda em recomposição o segurava tentando esmagá-lo. Notou parte do tórax surgindo logo acima enquanto tentava se livrar do agarrão, e quando se preparava para emitir uma onda de energia a mão o soltou.

Confuso, demorou a perceber onde afinal o Robô planejava se reconstituir, e foi atingido por um raio que veio de baixo.

Perdeu altura e caiu na praia. Quando olhou para cima, um Robô totalmente reconstruído caiu sobre dele, afundando-o na areia. Um raio de calor então fundiu a areia aprisionando-o numa bolha de vidro incandescente.

O Robô removeu a bolha brilhante recém formada, e a arremessou no mar. Hane não demorou a se soltar, mas não pode evitar ser atingido por outro intenso raio nuclear, que o fez afundar desacordado.

O Robô curiosamente deteve o ataque, saindo do local e voando de volta ao buraco onde antes tentava alcançar as pessoas abrigadas.

As câmeras vasculhavam e não conseguiam encontrar Hane ou Luri, ao passo que Seki e Doni ainda jaziam desacordados em remotos locais desolados de onde fora a Terceira Cidade.

Os refugiados entraram em desespero quando o Robô voltou a perfurar a rocha, e agora todos sabiam que restavam alguns poucos metros para o abrigo ser invadido.

Porém, de repente, tudo se apagou.

Na Defesa Planetária, mesmo às escuras por breves segundos, os cientistas respiraram aliviados. - Até que enfim. - Disse um dos dirigentes.

No céus, a recém surgida estrela anã deu seu último pulso de agonia. E apesar de seu brilho já nem mais estar tão intenso, sua ausência deixou os céus de Orizon escurecerem. Hane conseguira, ao forçar uma regeneração completa do Robô precipitou o colapso sub nuclear, e a fonte de energia que abastecia o Robô através das micro dimensões se aniquilou.

Quando a energia voltou as pessoas no abrigo tentavam entender o que acontecera. Foram os heróis? Pensaram elas.

Minutos depois Hane levantava Seki e dizia. - Vamos! A estrela foi destruída, agora nós podemos acabar com ele!

Doni chegou logo depois. - Para onde ele foi? Fugiu?!

Hane olhou para o céu escuro por uns segundos e captou imagens das câmeras de TV que registravam uma aparente retirada do Robô.

- Não! Não Fugiu! - Disse Hane. - Essa Não! Eu já sei para onde ele está indo! Ele quer destruir tudo!!! Vamos!!!

O Monismo, a idéia de que o universo é constituído de uma única substância, passou a prevalecer, mas admite-se que essa substância tem ao menos duas propriedades, a material, e a mental. Com o universo reduzido a um Monismo com Dualismo de Propriedades, restava saber qual propriedade era primordial. A matéria, ou a mente? Que surgiu primeiro? O objeto, ou o sujeito?
REVANCHE

Uma câmera conseguia captar bem de frente a imagem quando no ar, Luri surgiu por trás e se juntou aos outros 3 heróis que voavam ao encalço do Robô. Seki e Doni tinham as roupas bem danificadas, pois eram de um tecido que apesar de ultra resistente não suportava muito muito mais que 7 mil graus, mas ainda assim estavam compostas.

Luri ainda apresentava danos no rosto, que pouco a pouco ia se regenerando, e Hane perdera parte dos cabelos, além de que seu visor não estava funcionando muito bem.

- “O que ele está fazendo afinal!?” - Perguntou Seki.

- “Julgando pela rota está indo pro eixo!” - Respondeu Hane.

- “O que é isso?” - Insistiu Seki. Hane fez uma pausa e respondeu.

- “No período de terraformação de Orizon precisaram reduzir a massa e a rotação do planeta. Então fizeram um furo de ponta a ponta que atravessa toda a crosta no sentido equatorial. Através dele expulsaram matéria e energia das profundezas rumo ao espaço, ao mesmo tempo que canalizaram a emissão de modo a frear a velocidade de rotação. Tudo isso para deixá-lo mais parecido com a velha Mãe-Terra.”

- “Mas eu pensei que esse túnel tinha sido fechado!” - Disse Doni.

- “É! Mas não foi! Foi apenas escondido e mantido em segredo! Pois se os Ians soubessem poderiam tentar atacá-lo.” - Respondeu Hane.

- “Quer dizer...” - Disse Seki. - “Que o Robô pretende entrar no centro do planeta e tentar destruí-lo?”

- “Para isto basta provocar uma explosão de Anti-Matéria. O núcleo do planeta é tão quente que produz Fusão nuclear, a reação seria instantânea e Orizon seria rachado no meio!” - Respondeu Hane.

- “Mas se sabiam porque nunca tentaram antes?” - Perguntou Seki.

- “Ao que parece os Ians nunca pretenderam destruir Orizon, pretendiam tomá-lo. Ninguém sabe porquê. Mas agora, como tudo parece estar perdido para eles, talvez tenham decidido acabar com tudo!”

- “Por que não nos matou?” - Perguntou Doni.

- “Talvez nos quisesse vivos!” - Respondeu Seki.

- “Temos que ir rápido!” - Interrompeu Luri. E começou a se adiantar aos colegas.

- “Espere Luri!” - Ordenou Hane. - “Ele não sabe a localização exata da entrada, sabe apenas mais ou menos onde é. Vai acabar achando mas vai levar tempo. Não tente enfrentá-lo sozinho. Temos que chegar todos juntos!”

Oportunamente a Defesa Planetária interpelou. - “Acabamos de calcular a condição do Robô. Apesar do fim da fonte de energia ele ainda tem energia acumulada no corpo para funcionar em plena carga ao menos por 32 horas! Sua capacidade de regeneração está limitada, mas ainda existe, e além do mais se tentarem destruí-lo totalmente ele pode colapsar o corpo e explodir, e a potência da explosão poderia abrir um buraco no planeta!”

- “Droga! Pensei que seria mais fácil!” - Irritou-se Seki.

- “Temos que levá-lo para o espaço!” - Disse Doni.

- “Peguem minha mão!” - Disse Luri estendendo os braços para Seki e Doni, que por sua vez estenderam os braços para Hane. E ficaram os 4 de mãos dadas formando um losango, uma corrente de energia fluiu entre eles e conseguiram aumentar a velocidade deixando as câmeras para trás.

O Robô chegara num arquipélago próximo à Primeira Cidade e começou a sondar o local. Lá ainda era dia, embora o sol vermelho já se pusesse no horizonte, emprestando ao céu uma coloração rosada. Além disso a névoa defensiva costumava apresentar um brilho branco próprio, resultando num cenário onírico.

Câmeras de TV o acompanhavam, ele as ignorava, e filmaram suas tentativas de achar algo, que a população mal desconfiava o que fosse, e a Defesa Planetária temia tocar no assunto para não dar pistas ao Robô.

O local era repleto de falésias e altas escarpas costeando o mar, e quanto o Robô pousou numa estreita torre de pedra, foi violentamente atingido por vários disparos, desabando no mar.

- É agora!!! - Gritou Seki.

O Robô não demorou a emergir da água e Luri, aparentemente ansioso para revidar, largou na frente e atacou diretamente com um potentíssimo soco que arremessou o Robô longe contra as rochas de um recife. Logo em seguida um raio rosa disparado por Hane provocou outra violenta onda de choque. O heróis então pararam e ficaram observando o Robô se regenerar, e tiveram uma surpresa.

- Mas que droga é essa!? - Irritou-se Doni ao ver o processo de reconstituição ocorrer tão eficientemente quanto antes. - Pensei que ele ia se remontar mais lent...

Foi interrompido por uma rajada de luz que espalhou os heróis pelo ar. Luri e Hane caíram no mar, Doni se chocou contra as rochas e apenas Seki conseguiu pousar acidentadamente sobre uma alta escarpa de Terra, e de pé ficou a observar o Robô se aproximar lentamente como se apreciasse o momento.

Em base de luta Seki ficou na expectativa, concentrou energia além do necessário, criando um campo de interferência e ficou como se desafiasse um oponente emotivo.

O Robô disparou um raio do tórax que Seki absorveu com as mãos convertendo em formas menos ofensivas de energia, então girou para direita e revidou com um disparo que atingiu o tórax do Robô em cheio destruindo seu emissor de raios mas por tão pouco tempo que quase não fez diferença. Seki voou em sua direção e começou a golpeá-lo furiosamente.

Pela primeira vez o Robô se comportou como se apreciasse a luta física, revidando golpes e se defendendo com os próprios braços. Por segundos uma verdadeira troca de socos ocorreu, Seki acertava vários golpes para cada um que levava do Robô, porém rodopiava no ar várias vezes sempre que atingido.

Num dado momento Seki se afastou e começou de novo a gerar energia interferente. Deu certo, distraiu o oponente enquanto Doni chegava por trás e lhe dava um violento golpe na cabeça.

Desorientado e na descendente, o Robô não conseguiu evitar quando Luri o atingiu com o próprio corpo arrancando-lhe uma das pernas e logo em seguida Hane arrancou-lhe vários pedaços em outro soco devastador.

O semi destruído Robô Fotônico se chocou contra a terra de vegetação rala desastradamente e logo em seguida foi vaporizado por raios de Hane e Doni.

As câmeras de TV filmavam tudo, eram agora mais de 30 espalhadas em vários pontos, e mais estavam chegando ao mesmo tempo que ocasionalmente algumas eram destruídas pelos efeitos da luta. Os sistemas de mídia mais sofisticados podiam montar até representações tridimensionais da batalha e mesmo nos abrigos havia aqueles que podiam selecionar quase qualquer ponto de vista.

Ver o Robô se reconstituir tão rápido era sempre um motivo de preocupação para os espectadores mais sensíveis. E desta vez antes que o Robô estivesse completo, seu braço ainda separado do corpo atingiu Hane com um raio que o fez cair no mar em chamas.

Os outros 3 abriram fogo novamente e logo em seguida partiram para a luta franca. Seki e Doni foram simplesmente rebatidos com potentíssimos golpes que o fizeram se estatelar numa parede rochosa e causar um desmoronamento que os cobriu.

Luri se desviou dos contra ataques e atingiu o Robô mais uma vez jogando-o no mar. Mergulhou na água e saiu ao seu encalço, agarrou-o e achou melhor subir para a superfície, temendo que submerso o Robô tivesse oportunidade de procurar pela entrada oculta do eixo.

Voando fora d’água travavam outro combate feroz, enquanto Seki e Doni se desvencilhavam das rochas que os soterravam até conseguirem emergir dos escombros.

Seki tinha um aspecto medonho, o rosto todo deformado e o queixo totalmente fora do lugar, porém já em franca regeneração como denunciavam a luminâncias verdes que revelavam a transparência de seus ossos.

- oin... sirub zin... dak mez a rirrizar... - Balbuciou para Doni, que se virou perguntando. - O quê?!

Então Seki agarrou o queixo e o colocou no lugar, acelerando a regeneração. E repetiu.

- Eu disse... Que esse robozinho tá começando a me irritar!

E no mesmo momento viram Luri ser jogado contra o mar aparentemente desacordado. Não hesitaram, logo em seguida gritando de fúria Seki atingiu o Robô bem no meio do corpo e foi perfurando sua estrutura com golpes energizados. Doni manteve os enormes braços ocupados e Seki conseguiu então partir o Robô em dois. Uma parte contendo metade do tronco, a cabeça e o braço direito, a outra contendo outra metade do tronco, o braço esquerdo e as pernas.

Doni agarrou a parte de baixo e Seki a de cima, enquanto gritava.

- Agora!!! Se afaste! Não vamos deixar ele se juntar. - E voaram em sentidos opostos continuado a golpear a parte que carregavam.

Doni começou a subir, lutando para enfrentar a resistência da pernas propulsoras do Robô. - Vamos levá-lo pro espaço! Eu juro que destruo esse desgraçado nem que tenha que jogá-lo em Orizon 2!

Enquanto isso Hane emergiu da água, sem a camisa, que havia sido totalmente destruída, e com a calça rasgada, só restando intactas as botas. O visor apesar de semi destruído ainda funcionava precariamente. Então recebeu uma mensagem da Defesa Planetária.

- “Reavaliamos a situação. Apesar da destruição da estrela ainda há energia vagando nas micro dimensões em quantidade suficiente para abastecer o Robô por pelo menos 20 horas, mas achamos que pode ser bem mais, talvez por vários dias. Provavelmente por isso ele não perdeu os poderes de regeneração!”

- “Então porque mudou de tática? Porque decidiu atacar o eixo? ” - Indagou Hane enquanto via seus companheiros arrastarem os pedaços do Robô para o alto, já sabendo que não iria adiantar.

- “Não temos certeza. É certo que o poder de regeneração dele agora é limitado, mas não temos como saber quanto mais ele aguenta além de 20 horas. A estrela gerava muito mais energia do que o Robô podia acumular. Foi sorte terem-na destruído logo, se permanecesse por muito mais tempo poderia estocar energia suficiente para o Robô funcionar por meses!”

- “Uma coisa é certa.” - Disse Hane. - “Ele vai aguentar muito mais do que nós.” - E então dois sois brilharam nos céus ofuscando o poente sol vermelho. As partes do Robô se desintegraram numa explosão nuclear. Seki e Doni perceberam antes e se afastaram, e agora se juntavam a Hane e a Luri que acabara de emergir das águas.

- Droga! Foi por pouco! - Esbravejou Seki.

- Por pouco a gente não morreu! - Retrucou Doni.

A energia liberada na explosão silenciou as câmeras, por sorte muitas ficavam a baixa altitude de modo a não sofrer quedas muito danosas, e puderam se recuperar pouco tempo depois. A comunicação com a Defesa Planetária foi interrompida.

- O que vamos fazer?! - Gritava Seki.

- Ele ainda pode se regenerar por dias. - Respondeu Hane, e logo em seguida puderam pressentir a energia do Robô se concentrando alguns kms a frente deles.

- Temos que dar um jeito de destruir sua capacidade de regeneração! - Disse Doni. - Mas como? - Completou ao mesmo tempo que Hane. E ficaram esperando uma idéia surgir.

- Eu sei como! - Disse Luri. Todos olharam para ele, que apesar de parecer forte e resoluto, hesitava em falar.

- Raio positrônico. - Continuou. - Modulado a nível fotônico. - E deu outra pausa. - Dose alta. Pósitrons escapam para as micro dimensões. Destroem as partículas de contato sutil.

- E ele perde o contato com a energia nas micro dimensões. - Completou Hane. - Tem razão. É possível. Mas como? Pode fazer?

- Posso! - Respondeu Luri. - Mas tenho que concentrar muita força eletromagnética e invertê-la toda de uma vez.

- Quanto tempo precisa?! - Indagou Hane.

- Pelos menos uns dois minutos! - Respondeu Luri. - E não posso ser interrompido. Tenho que me dedicar totalmente. Por outro lado não posso me afastar muito, ou não poderei atirar no Robô. Alguém tem que dar cobertura.

- Seki! Doni! Protejam ele enquanto reúne a força necessária! - Ordenou Hane, enquanto descia rumo ao Robô em reconstrução.

- Ei! - Interrompeu Seki. - Você vai enfrentar essa coisa sozinho!?

- Não temos escolha! - Respondeu. - Se eu tombar. Um de vocês toma meu lugar. - E então pousou numa ampla falésia, uma ilha torre de dezenas de metros de altura, onde o Robô já estava quase pronto.

Rasgou o que restava das roupas só restando parte da calça e as botas, e ficando com o tronco todo nu, exibindo uma atlética musculatura.

- Comecem logo! - Insistiu. E olhando fixamente para o Robô, tirou o visor do rosto, perdendo totalmente sua visão mas intensificando suas percepções eletromagnéticas, e seus olhos brilhavam como dois sóis, iluminando por dentro parte de seu crânio.

Encarou o Robô que acabava de concluir sua reconstrução e curiosamente devolveu a pose de desafio. Primeiro Hane murmurou.

- Agora é a minha vez. - E logo em seguida gritou avançando contra o Robô.

Alguns kms distante e bem mais altos, estavam Seki e Doni servindo de escudo para Luri, que estendia os braços e pernas e fechava os olhos, liberando toda a percepção para sentir todas as formas de ondas eletromagnéticas do cosmo, e as canalizando, brilhando com uma sutil aura azul e emanando discretas chispas elétricas.

Seki e Doni acompanhavam a luta, prontos para desviar ameaças que pudesse atrapalhar o companheiro. Viram, assim como as câmeras de TV, quando Hane agarrou o Robô em cheio e começou a esmagá-lo.

Fisicamente Hane era o mais forte dos RYs, embora não necessariamente o mais poderoso. No confronto corpo a corpo pegou o inimigo de surpresa, desferindo-lhe socos tão violentos que arrancavam pedaços que mal tinham tempo de se restituir.

O Robô agarrou Hane com uma das mãos e começou a girá-lo como fizera com Luri, mas Hane intensificou sua impulsão e conseguiu fixar sua posição devolvendo o rodopio ao Robô e jogando-o violentamente no chão.

Voou um pouco para o alto e desceu atingindo o Robô e afundando-o na terra. Abraçou a parte mais fina de seu tronco com as pernas e foi arrancando seu pedaços e arremessando longe.

Com os dois braços o Robô o agarrou e tentou rasgá-lo ao meio, ele revidou e puxou os braços do Robô de volta para dentro, se aproximou mais e começou a chutar-lhe a cabeça.

- Como está indo Luri!? - Perguntou Seki.

- Difícil... - Respondeu. - Pouca matéria prima. Menos ondas eletromagnéticas que o normal.

- Claro!!! - Gritou Doni. - Todas as comunicações civis estão interrompidas.

- Preciso dessa energia. - Murmurou Luri. - Ou vou demorar demais.

- Droga! Mas como? - Perguntou Seki.

- Peça a Defesa Planetária para liberar as transmissões! - Gritou Doni. - Vá! Agora! Fale com as câmeras de TV e peça para toda a população usar seus comunicadores pessoais, ativarem comunicadores caseiros, ligarem TVs e tudo o que puderem! Anda Seki! Use seu carisma! Eu seguro a situação aqui.

E Doni disse a última frase no momento em que teve que desintegrar algumas pedras que vinham em sua direção lançadas pela última explosão que Hane provocara.

Seki se afastou do grupo e mergulhou rumo a algumas câmeras de TV, e a população não ficou menos surpresa do que os editores das emissoras. Seu conhecido rosto apareceu em todas as telas, e misturando como ninguém seu charme e simpatia com uma seriedade nunca vista, iniciou seu discurso.

- “Atenção população de Orizon! Precisamos de sua ajuda para destruir esse inimigo ou ele vai acabar conosco! A Defesa Planetária deve liberar TODOS o canais de transmissão imediatamente e todos os cidadãos devem ativar seus comunicadores pessoais!”

Na sede da Defesa Planetária, que não estava conseguindo se comunicar com os heróis devido a interferência gerada por Luri, finalmente alguns cientistas entenderam o que se passava.

- Sim! - Gritou uma das cientistas! - Querem sobrecarregar o ambiente de ondas eletromagnéticas para canalizá-las contra o Robô!

- Mas como? - Perguntou um dos governadores por telepresença.

- Convertendo em anti eletricidade! - Respondeu a cientista.

- Pode dar certo! - Apoiou Ekzar. E os dirigentes não demoraram a agir, liberando imediatamente todas as transmissões e enviando para todos os abrigos a confirmação para seguirem as instruções de Seki.

As pessoas ainda demoraram a reagir. Foram pouco a pouco ativando seus comunicadores pessoais meio sem saber para quem ligar. Os abrigos também precisaram abrir canais de comunicação, mas Luri não demorou a sentir as ondas eletromagnéticas aumentarem.

- Está funcionando! - Disse ele.

Enquanto isso Hane não dava trégua ao oponente. Desmembrava-o sempre que possível e acabava de arrancar-lhe a cabeça pela segunda vez, porém não conseguiu evitar um golpe que o arremessou além da falésia para o mar derramando seu sangue luminoso para todos os lados.

O Robô se levantou e apontou o braço para Luri disparando um raio. Doni serviu de escudo e desviou a energia protegendo o colega e logo em seguida Hane voltou a cena atingindo o Robô por trás, que pareceu reagir com fúria tentando acertá-lo de volta.

- Ainda é pouco! Está longe de ser como sempre! - Reclamou Luri.

- SEKI!!! - Gritou Doni. - Precisamos de mais! MUITO MAIS!!!

- “População de Orizon!!! Por favor! Precisamos de toda a energia possível! Ativem imediatamente TODOS OS SEUS COMUNICADORES! Liguem para todos! Não economizem!!!”

Percebeu-se então que boa parte da dificuldade se dava devido ao fato de que quase toda a população de Orizon estava no subterrâneo, o que prejudicava as transmissões.

- “Atenção Defesa Planetária e abrigos de TODAS AS CIDADES!!! Enviem imediatamente a população para a superfície para que possam usar seus comunicadores! RÁPIDO!!! NÃO TEMOS MUITO TEMPO!!!”

E então os portais dos abrigos começaram a se abrir, o que já desobstruía boa parte dos canais de comunicação, e os elevadores se preparam para subir. Só a idéia de voltar à superfície já causaria uma euforia na população e todos ficaram subitamente mais animados.

Uma violenta explosão desintegrou a falésia onde Hane e o Robô lutavam. Rochas voaram para todas as partes obrigando Doni a se desdobrar para desviar todas de Luri, que brilhava intensamente e já começava a atrair relâmpagos das nuvens.

Um verdadeiro vendaval se iniciou e uma das rochas destruiu a câmera para a qual Seki falava, outra imediatamente substitui-a, e ele insistiu.

- “POPULAÇÃO DE ORIZON!!! AGORA!!! ENVIEM TUDO!!! SE FALHARMOS VAMOS TODOS MORRER!!!!!!!!!”

E do meio do fogo e do caos Hane emergiu para atacar o Robô novamente desta vez com uma fúria ainda mais intensa. Todo o seu corpo se tornara transparente e brilhante como se fosse uma escultura viva de cristal avermelhado. Arrastou o Robô para o fundo do mar, de modo a tentar diminuir a interferência que os disparos trariam a canalização de Luri, e fez evaporar toneladas de água quando atirou mais uma vez contra ele.

Depois saiu golpeando-o de toda a forma que podia até arremessá-lo ao alto novamente, seguindo-o e atingido-lhe de novo até faze-lo sumir nas rochas. Hane não teve dúvidas de que o Robô estava reagindo de modo aparentemente emotivo, antes considerava a possibilidade óbvia de um simulador emocional, mas de repente, quando o Robô agarrou novamente, ele percebeu uma frequência de onda específica entrando em seu cérebro que o deixou tão surpreso que a distração o permitiu ser atingido duramente.

Uma parte da população acabava de chegar à superfície e ativaram não só seus comunicadores pessoais como ordenaram a seus sistemas de mídia em casa que ativassem todos os canais. Várias sugestões boas surgiram e logo em seguida o ar não só estava repleto de transmissões como até os eletrodomésticos estavam sendo ativados.

Entre elas estava Ange, que aproveitou para se comunicar com Lence, e no meio da confusão geral conseguiu chegar até um veículo aéreo público e voar para casa, aproveitando-se da liberação quase total dos sistemas de segurança.

- PREPAREM-SE!!! - Gritou Luri de dentro de uma imensa bola de energia canalizada, que reunia raios cósmicos, ondas das estrelas, o próprio sinal da estrela Orizon, além do mar de frequência de TVs, telefones e redes de comunicação.

Seki se afastou das câmeras e se juntou a Doni, enquanto Hane travava o duelo final se perguntando como era possível que o Robô fotônico parecesse não só saber como irritá-lo, mas também parecesse irritado. Então intuitivamente abriu um canal de comunicação e “falou” com ele, emitindo mensagens em vários tipos de códigos.

Mesmo assim não vacilou, num descontrole do Robô ele acertou um golpe direto empurrando-o mais uma vez contra as rochas.

- ESTÁ PRONTO LURI?!?!? - Gritou Doni “olhando” para a imensa bola de energia. Mas Luri ainda estava terminando de canalizar a força e não tinha como responder.

Seki e Doni cada vez mais apreensivos, não sabiam mais o que fazer, mas estranhavam o modo como a luta se desenrolara, o Robô parecia perder a objetividade e agir de modo nervoso.

Quando o Robô vaporizou mais uma montanha, Hane, que estava com o canal de comunicação aberto à várias frequências, pode jurar que ouvira um insulto. E então, finalmente, se rendeu a uma possibilidade perturbadora.

- “Pelo Grande UNIVERSO!!! Esse Robô tem uma Mente!!!”

E foi logo em seguida golpeado, mas conseguiu resistir ao impacto segurando a enorme cabeça do inimigo, e então “falou” diretamente com ele numa linguagem que ele nem se lembrava qual era.

- “Você tem uma mente?! Você é um ser Sensciente?!”

- “sIM.”

- “Pare de nos atacar! É inútil! Vocês perderam!!!”

- “nÃO.”

- “Para quê essa guerra insana!?!?”

- “nÓS éRAMOS aNTES.”

- “O quê?!

- “eSTE sISTEMA pLANETÁRIO eRA nOSSO. nÓS o dESCOBRIMOS. vOCÊS vIERAM nOS iNVADIR.”

- “Isso não é verdade! Nunca pretendemos atacar vocês!”

- “oS dA sUA rAÇA qUE vIERAM aNTES dE vOCÊS dESTRUÍRAM nOSSA eSPÉCIE.”

- “Quê?! Nunca estivemos antes neste sistema estelar!”

- “sIM. eSTIVERAM. dIFERENTES. mAIS pODEROSOS. mAIS tECNOLOGIA. dESTRUÍRAM tERCEIRA eSTRELA. nOSSA fONTE dE fORÇA.”

E Hane ficou pasmo, tanto que vacilou e num golpe inesperado foi arremessado longe, e o Robô não demorou a avançar contra o imenso sol elétrico que Luri produzia.

- “É agora ou nunca!” - Pensou Doni, desviando logo em seguida outro raio que poderia atingir Luri e logo em seguida juntamente com Seki avançou contra o inimigo, ambos o agarraram alguns metros antes dele se chocar contra a bola de luz, e o arrastaram para baixo.

Hane voltou a tempo de impedir que o Robô disparasse de seu tórax um raio contra Luri, e se juntando aos companheiros ajudou a segurar o Robô e voltou a insistir no diálogo.

- “Esqueça o passado Por que não podemos viver em paz agora?! Você é um ser sensciente! Não é uma máquina!!! Seja razoável!!!”

Seki e Doni se entreolharam surpresos, e ficaram ainda mais quando também perceberam o Robô responder.

- “iMPOSSÍVEL. nECESSIDADES mUTUAMENTE eXCLUSIVAS. nÓS. oU vOCÊS.”

E num movimento espantosamente violento se desvencilhou dos 3 oponentes ao mesmo tempo imediatamente disparando contra Luri.

No centro da bola de luz Luri já tinha concentrado energia mais do que suficiente, mas tinha dificuldades para inverter a polaridade da matéria. Foi uma surpresa quando foi atingido por um raio de anti energia e então percebeu um caminho se abrir para o alvo.

Sintonizado com o Robô inimigo, e com o auxilio da energia que recebeu, inverteu toda a energia em eletricidade de Anti-Matéria, e disparou o raio positrônico exponenciado diretamente no centro do Robô, de onde viera o ataque.

A descarga demorou vários segundos. O Robô fotônico foi sendo preenchido de energia até brilhar intensamente e ficar sobrecarregado, os heróis mal tiveram tempo de guardar uma distância segura e então a explosão varreu centenas de kms cúbicos de área com uma violência apocalíptica.

Uma nuvem de energia arrastou cada um deles para uma direção e todas as câmeras de TV do local foram instantaneamente vaporizadas. Um dos pouco satélites sobreviventes no espaço, que possuía um sistema de filmagem químico independente de energia elétrica, pôde registrar a cena quando todos os sistemas de Orizon foram silenciados, e muitos dos quais destruídos.

Uma parte do planeta foi coberta por uma luz tão intensa quanto o fora a breve estrela que brilhara no campo de asteróides. Por sorte não havia praticamente nenhuma liberação de radiação letal.

Um breve furacão se formou no local, e a luz da explosão pôde ser vista pelos habitantes da Primeira Cidade, onde já era noite, que sentiram alguns de seus comunicadores simplesmente derreterem.

Na Quinta Cidade, onde o dia amanhecia, Ange teve uma sorte que outros não tiveram, e no momento da explosão seu veículo caiu quando já estava quase pousando no pátio da casa que Lence construíra para eles. Ela tomou apenas um susto e o veículo ficou levemente avariado.

Quase 5 minutos depois o pessoal da Defesa Planetária, após varrer todas as frequências possíveis, não teve mais dúvidas, e anunciaram em voz alta para todo o planeta.

- “Nossos rapazes conseguiram! Nós conseguimos! A ameaça foi neutralizada! ACABOU!!!”

E no planeta inteiro gritos de alegria se misturaram com silêncios de alívio. Lágrimas de tristeza pelos que morreram, e de esperança pelos que viviam, irrigaram o mesmo solo. Vozes se uniram em coro e até orações de religiões antigas da velha Terra foram recitadas.

Orizon sobrevivera.

Mais uma vez.

O universo poderia existir antes como pura matéria, e então, com o advento da crescente complexidade, emergiu um sistema mental, advindo do caos neurológico, ou outra matriz possível de inteligência. Ou a mente poderia ser o que pré-existisse, e então gerou o mundo a sua volta. Essas hipóteses, de um modo ou de outro, sempre se confrontaram ao longo da história filosófica.