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PELO CENTRO DE FOGO

Já era noite quando a luta terminou, mas entre seus efeitos estava a luminosidade branca da névoa que dominava o cenário, tornando impossível para alguém que não soubesse a hora ter certeza que não era dia.

Após emergir das águas Seki flutuava lentamente, tentando focar a percepção e achar seus companheiros, ao longe sentiu a presença de Doni antes de sentir a de Luri, que estava bem mais perto.

Por fim os 4 se reuniram quase acidentalmente sobre uma fina falésia alta com quase um km de altura, que milagrosamente sobreviveu à onda destruidora que reformara o relevo do lugar. Demoraram a ter certeza da situação, mas Seki e Doni começaram a rir discretamente quando o sorriso de Luri parecia confirmar a ausência de qualquer sinal do Robô.

- Vencemos? - Perguntou Seki. Luri fez que sim com a cabeça.

Ao mesmo tempo os 4 desabaram de exaustão caindo sobre a pequenina porção de terra que parecia ter sido feita sob medida para eles.

Se deitaram, olhando para o céu, com as cabeças juntas, formando uma cruz. Todos pareciam felizes com a exceção de Hane.

- Ha ha ha ha... Foi demais! DEMAIS!!!! - Gritou Seki.

- Pode ter certeza. – Respondeu mais calmo embora sorridente Doni.

Seki deu alguns gritos de alegria erguendo os braços para o céu, e perguntou ainda meio ofegante. - Uau Luri! Como você teve essa idéia?! Como sabia a frequência exata do canal sutil do Robô para gerar um raio com tanta precisão?!

Luri guardou um breve silêncio, e respondeu. - Eu conhecia a frequência dos sinais sutis das sondas. Foi fácil perceber a do Robô.

Doni levantou o tronco e olhou para ele. - Você sabia das sondas?!

Mais um breve silêncio de Luri. - Sim. Há algum tempo. Desde que vocês começaram a pesquisar. - E Doni se sentiu até meio tolo em perguntar. Já devia saber que o universo eletromagnético não escondia nada de Luri.

- Qual o problema Hane? - Perguntou Seki.

Hane, ainda um pouco amargurado por ter destruído um ser senciente, replicou o breve diálogo que teve com o Robô.

- Então era isso! - Comentou Doni. - Por isso ele se regenerava tão rápido! Ele era como nós! Devia controlar forças a nível mentônico!

- Acreditou nesta estória Hane?! - Indagou Seki.

- Não sei. Mas faz um certo sentido. Há muitos segredos que nunca nos contaram.

- Mas quem podia ter vindo aqui antes dos primeiros colonos há quase 500 anos? - Perguntou Doni.

- Sei lá? - Respondeu Seki.

- Zenitrons. - Sussurou Luri.

- Ah...

Do outro lado do planeta o Sol vermelho nascia e nesta época do ano Orizon 2 estava quase eclipsada, porém forte o suficiente para amarelar um pouco a vermelhidão do nascente, e o cenário, uma bela casa sobre uma falésia em frente ao mar, lembraria um nascer do sol na velha Terra.

- Lence! Está tudo acabado! Graças a eles! - Disse Ange pelo seu comunicador pessoal a seu noivo que estava a caminho.

- Já estou indo querida! Acabo de conseguir um veículo! Estarei aí dentro de uns 10 minutos! Eu te amo.

E Ange caiu no sofá respirando aliviada, não só por estar viva quanto por estar finalmente em sua nova e tão bela casa.

Ainda olhando para o céu Seki parecia disposto a conversar, ao passo que Doni e Hane pareciam querer dormir.

- Sabe pessoal... Acho que depois dessa podemos nos aposentar. Duvido que ainda haja Ians neste sistema estelar. Eles gastaram tudo que tinham desta vez.

- Pode ser... - Murmurou Doni.

- Acho que agora podemos nos casar. Quero ter muito mais esposas que o Hane.

- Você?! Casado?! - Respondeu Doni. - Ha ha ha ha ha ha...

- Ah... Não amole... Aquelas tietes já estão me enchendo o saco!

Hane interrompeu. - Também não acredito que os Ians ainda nos incomodem. Mas isso não quer dizer que daqui pra frente tudo vai ser só maravilhas. Essa galáxia está repleta de seres perigosos. Seres como nós. Que invadem sistemas estelares e destroem seus habitantes!

- Que nós o quê?! - Interrompeu Seki. - Ah Hane não estraga!

- Vencemos! - Gritou Doni. - Meio que para levantar novamente o astral. - Garantimos a vida de 53 milhões de pessoas! Isso é o que importa agora!

- É isso aí!

Continuaram ali, os 3, deitados, de olhos fechados, Hane com sua percepção abaixada, então Seki emendou.

- Mas o herói mesmo foi o Luri! O cara não só se superou! Mostrou pra todo o mundo que não é qualquer armação que pode derrotá-lo! Não é Luri!? Luri? Ei!? Cadê o Luri!?

Só então perceberam que o companheiro os abandonara há algum tempo, escorregara discretamente e se deixou cair, só passando a voar suavemente quando estava perto da água, e então sentiram a arrancada, e viram um raio azul se distanciar a 45 graus de inclinação.

Hane se levantou assustado, sem o visor, não olhava diretamente, mas percebeu o ambiente, e sussurou. - Oh não... Luri... Por favor... Não!

- O que foi?! - Perguntou Doni.

- Quem de vocês tem voado mais rápido!? - Perguntou Hane.

- O quê?

- Quem de você é mais rápido?!?!

Doni ficou meio espantado e respondeu. - Eu... Mas não muito.

- Vá atrás dele!

- Não vou alcançá-lo!

- Vá! Agora!

E Doni, captando a seriedade da situação partiu na trilha de Luri, deixando Seki para trás, que perguntou. - O que foi?! Qual o problema desta vez?! - E Hane ficou se concentrando, procurando algo em seu cérebro.

- Aqui! Ouça isto! - E reproduziu dos arquivos do sistema de gerenciamento de telecomunicações o telefonema de Ange para Lence, enviando-a também para Doni.

- “Ah não... Tá de brincadeira!?” - Perguntou Doni, já há vários kms de distância.

Hane se lançou no ar, no momento em que câmeras de TV se aproximavam. - Seki! Venha comigo!

- Essa mensagem terminou há exatos 97 segundos. Foi quando ouvi um barulho estranho que não dei importância, mas era Luri saindo escondido!

- Ele vai atrás da Ange!?

- Pode apostar! Ele não está bem Seki. Está ainda muito perturbado. Temo que ele faça alguma besteira!

- E o que vamos fazer?!

- Ele está indo a toda velocidade! Não temos chance de alcançá-lo. Doni é mais rápido que nós mas mesmo assim não creio que chegue a tempo.

- E nós?!

Hane conduziu Seki por alguns caminhos confusos e então se orientou. - Achei! É aqui! - E acompanhado por seu companheiro mergulharam na água do mar.

- “A Quinta Cidade é exatamente do lado oposto do planeta. E para ir mais rápido Luri terá que subir e sair um pouco da estratosfera! Isso dará cerca de 18 a 20 mil kms para ele percorrer! Você pode chegar antes dele se tomar um caminho mais curto!”

- “O quê?! Vamos cortar caminho pelo eixo?!”

- “Exatamente! São só 10 mil Kms passando pelo núcleo!”

Então chegaram numa da montanhas de um vale submarino, Hane abriu um buraco na rocha e eles entraram numa caverna subaquática. Percorreram alguns caminhos sinuosos e chegaram numa imensa galeria onde havia uma grande estrutura cilíndrica que emergia da rocha.

Hane guiou Seki até uma pequenina e imperceptível porta, que se abriu a força de um empurrão, entraram junto com a água e a porta se fechou, percorreram uma túnel semi inundado e então Hane abriu outra porta e por fim chegaram a um imenso abismo cilíndrico que descia para as profundezas aparentemente escuras do planeta.

- Vá! O mais rápido que puder! - Disse Hane. - Eu estarei logo atrás!

E Seki acelerou para baixo.

- “Pode arrebentar a saída do outro lado! Deixe que eu conserto! Não perca tempo!” - Transmitiu Hane ao companheiro, e também acelerou o máximo que podia dentro do abismo.

- “Luri!? Luri responda! Aonde você está indo?! - Perguntava Doni mesmo sabendo que não teria resposta. Já estava quase na estratosfera seguindo exatamente a trilha de Luri que de fato equilibrava o melhor resultado entre longitude e altitude para diminuir a resistência do ar.

- “Luri! Pelo Universo! Eu não acredito que você vai atrás daquela mulher! Por favor! Você acaba de salvar o planeta! Não estrague tudo!”

Doni dava o máximo de si, o que não era nada fácil dado ao esforço que acabaram de fazer destruindo o Robô. Estava a quase 11 km/s, um feito naquelas condições. Mesmo assim insuficiente. Doni sentia Luri continuar a se afastar.

Equanto isso, Seki caía numa velocidade que nunca experimentara. O mergulho inédito para as profundezas do planeta, num ar estranhamente rarefeito, ajudado pela gravidade, lhe garantira passar de 13 km/s. Mais do que ele conseguiria na atmosfera.

Hane por sua vez também poderia quebrar um recorde naquelas condições, se aproximando de 10 km/s. Mas ainda era pouco. Todos sabiam que Luri poderia atingir 20 km/s quando entrasse na descendente.

Hane não teve tempo de explicar à Defesa Planetária o que estava acontecendo, e de dentro do eixo isso era impossível, por isso eles perguntavam agora a Doni, e juntavam um pouco de dedução.

- Veja senhora. - Comunicou um dos dirigentes à governadora triunvirata. - Ele partiu, ao que tudo indica rumo à Quinta Cidade, logo após esta comunicação. - E reproduziu a conversa de Ange e Lence.

- O que você acha? - Perguntou a governadora.

- O RY-2, que o está seguindo agora, acha que ele está fora de si. Se manteve no controle durante a batalha, mas depois que tudo terminou, se deixou dominar novamente pela mágoa...

- E pelo ciúme. - Completou um auxiliar.

- Um semi deus enciumado... - Comentou a governadora. - O que vamos fazer? Podemos confiar nos inibidores de comportamento?

- Depois do que ele fez na Segunda Cidade? Quase matando civis num disparo de pura raiva? - Disse o dirigente. - Eu não estaria tão confiante. Temos que admitir que o RY-3, Luri, ficou perturbado a ponto de faltar com o dever! Ou pelo menos se atrasar!

- Eu devia saber que era má idéia essa terapia com uma psicóloga tão bonita! - Comentou Ekzar por telepresença.

- Mas que coisa... - Disse a governadora. - Tudo parecia ter acabado tão bem. Ah menino... Não estrague tudo.

Após um abraço interminável, Ange tivera que conter a empolgação do companheiro, pois antes de tudo ela precisava desabafar. Sentaram-se no sofá e ela dera início a um monólogo tão envolvente que quase fez Lence chorar.

Contara tudo, sobre Nani, Luri, e tudo o que acontecera. Sobre seu sentimento de conflito, e sobre o reforço da certeza de que ele, Lence, era mesmo seu grande amor. Com uma habilidade linguística impressionante ela expusera em menos de 10 minutos uma história que a maioria das pessoas não conseguiria contar em uma hora.

Lence, que era homem muitíssimo sensato e sensível, perdoara e compreendera a companheira, mesmo tendo admitido a mágoa, e por fim, trocaram novamente as ingênuas mas irresistíveis juras de amor eterno.

- Ah meu amor... - Disse ele. - Você sabe que eu nunca condenaria você por isso, mesmo porque não posso ser falso a ponto de dizer que também não tive algumas aventuras. Doeu... Um pouco, mas sei que isso não vai prejudicar nossa relação. Pode ficar tranquila quanto a nós. -

Diante de tanta compreensão, Ange desatou a chorar. - Eu te amo! Eu sabia que podia contar com você meu amor... Obrigada.

Em outras circunstâncias Lence teria mais coisas a dizer, talvez uma cena a fazer, um choro piedoso, mas sua intuição lhe dizia que não era hora para isso. Sabia que a situação requeria concentração especial.

- Claro... Mas agora o que está me preocupando é o Luri.

- O Luri?

- Sim! Pois por tudo que você me falou... No que se refere a relacionamentos afetivos esse Luri, parece ter a mente de um guri de 12 anos! Não deve estar sendo nada fácil pra ele.

- Eu sei... Mas eu fiquei confusa...

- Meu amor... Me perdoe mas esse tal de Dr. Nani te deu um péssimo conselho! Se estivéssemos lidando com um garoto qualquer tudo bem, mas estamos falando de um cara que pode varrer uma cidade do mapa só com um olhar! Não é a desilusão amorosa de um adolescente qualquer! Estamos falando de um Semi Deus! Não se brinca com os sentimentos de um cara assim. E por falar nisso, pelo que entendi, foi ele que salvou o dia.

- Eu entendo meu amor... Juro. Mas e agora? O que vamos fazer? -

Lence tentou ser o mais espontâneo possível, mas não evitou uma expressão de optar por um mal necessário. - A primeira coisa que temos que fazer é... Você vai ter que falar com ele de novo. Tente tranquilizá-lo. Depois eu quero conhecê-lo. Talvez ele esteja precisando de uma conversa de homem pra homem, ou melhor, de homem para super homem.

- E quando devíamos fazer isso?

- Com certeza não agora. Temos que esperar a poeira baixar e... -

De repente foram interrompidos por uma comunicação que dada a procedência anulou o protocolo de não interferência que Ange havia determinado para conversar tranqüilamente com seu amado.

- Senhora Ange, Senhor Lence. Aqui é a Governadora Triunvirata! -

Foi um susto para os dois, receber, de repente, um comunicado da governadora do planeta, mas conseguiram responder.

- Não temos tempo a perder, ouçam. - E então surgiu a imagem de uma das emissoras de TV mostrando um raio azul voando na estratosfera do planeta, um trecho de transmissão da reportagem que acabara de ir ao ar.

- “O fato é que até agora ninguém disse o que Luri pretende fazer na Quinta Cidade, que é para onde ele parece estar indo após abandonar inexplicavelmente o local onde venceram a luta contra o Robô Fotônico Ian. Mas algumas fontes indicam que ele poderia estar indo atrás de sua...”

- Senhora Ange e Senhor Lence. Temos motivos para crer que Luri está indo diretamente para onde vocês estão. Ele partiu nessa direção imediatamente depois de captar um telefonema pessoal entre vocês. Doni o está seguindo e pedindo para ele parar, mas ele não responde. Hane e Seki aparentemente desapareceram!

Ange pôs as mãos na cabeça. - Ai... Pela Deusa! Como pude ser tão ingênua! É claro! Eu nunca mais vou poder usar um telefone em paz!

- O que sugere que façamos? - Perguntou Lence.

- Aconselho-os a saírem daí... Por via das dúvidas. Estamos transmitindo um protocolo de segurança a seu veículo que o permitirá voar sem ser rastreado pelo sistema, isso dificultará que Luri o siga. Mas mantenham a calma. Eu não acredito que ele lhes fará mal. - Disse a governadora meio que sem convicção. - Eu só quero... Evitar causar mais sofrimento a nosso rapaz. Ele acaba de nos salvar!

- Certo governadora. Eu entendo. - Acatou Lence.

- Vão imediatamente. Boa sorte. - Disse a governadora e desligou.

Menos de um minuto depois Lence e Ange entraram no veículo que decolou seguindo uma rota pouco comum para carros aéreos. Ange estava apreensiva. - Não sei se é certo fugir. Talvez eu devesse enfrentá-lo agora!

- Calma querida. Fique tranquila.

O caminho era clareado apenas pela luminância esverdeada que emanava de seu próprio corpo, até que Seki avistou finalmente algo que achava que deveria ter avistado muito antes. Uma discreta luminosidade, denunciando o centro incandescente do planeta. Ao se aproximar mais notou então uma névoa negra, incrivelmente densa, na qual adentrou como se mergulhasse em líquido.

Percorreu menos de um km e finalmente teve toda a luz que desejava. Penetrou nas chamas do coração de Orizon 5, tendo que intensificar o halo de energia em torno de seu corpo para não ficar sem roupas. Mais e mais sentia o calor crescer, mas a resistência sólida da rocha derretida aliviava progressivamente, pois era cada vez mais liquefeita pelo calor. Até que entrou num verdadeiro sol. Para todos os lados sentia explosões nucleares ocorrendo. A visão normal era inútil no local, e seus sentidos eram perturbados pelas miríades de interferências causadas pela atividade nuclear.

Sentira também a força da gravidade diminuindo cada vez mais, mas agora era mais evidente, e logo deixou de se beneficiar da ajuda da queda, notando que estava no centro de atração do planeta, e que logo depois passaria a subir.

Então temeu algo sobre o qual não tivera tempo de conversar com Hane. Se fosse desviado da rota pela força das explosões, como acharia o local correto para subir?

Era impossível se orientar, estava num caos de luz e calor que não permitiam o uso efetivo de quase nenhum sentido. Sentiu que passara pelo núcleo e que já subia, mas tinha um forte receio de que tivesse perdido a direção certa, e ele poderia até ficar preso no interior do planeta, com grandes chances de jamais conseguir sair e acabar morrendo.

Foi uma das poucas situações em sua vida que sentiu um quase terror, mas confiou em si mesmo, e na sorte, e à medida que sentia o sutil mais crescente referencial da gravidade lhe dizendo que subia mais e mais, passava a sofrer menos interferência em sua percepção. Finalmente entrou na névoa negra, na verdade um tipo de selador de matéria escura e densa, e logo depois subia pelo túnel oposto, não tendo mais a gravidade como aliada.

Sua velocidade agora mal passava de 11km/s, e minutos depois Hane passaria pelo núcleo do planeta, e sentiria o alívio de ver que o companheiro não havia se desorientado como temia.

Enquanto isso Doni agora descia, entrando na parte mais densa da atmosfera do planeta. Em torno de seu corpo uma forma ovóide de energia lhe dava o aspecto de um meteoro, rompendo o amanhecer daquela região.

Mal podia crer que estava a quase 15 km/s, um recorde naquela altitude na atmosfera de Orizon 5, e ainda mais impressionante pelo fato de que há pouco quase se esgotara na luta.

Fizera várias tentativas de comunicação com Luri, todas inúteis, mas já percebia que ele reduzia de velocidade, e enquanto isso tentava imaginar onde estariam Seki e Hane, que simplesmente desapareceram do planeta.

- “Será que esses caras entraram no eixo?”

Há uma grande vantagem na hipótese Materialista. Ela é amplamanete suportada por praticamente todos os dados científicos, mas há também uma grande desvantagem, que é a larga dificuldade em explicar o mais importante, que é a própria mente. Como ele emerge do físico? Pode ser explicada por leis naturais? Por mais que a ciência avance, a mente permanece um mistério inviolável.
ACERTO DE CONTAS

A Governadora acompanhou o Dirigente da Defesa Planetária e alguns outros cientistas e líderes rumo a uma sala secreta. O clima era depressivo, contrastando com a anterior alegria.

O Dirigente, e alguns outros, após acionarem vários comandos e fornecerem várias senhas de protocolo e identificações, apontou para uma figura azulada que brilhava num painel, entre outras 3 que estavam ocultas.

- É isso Governadora. - Disse o Dirigente em tom sério e tristonho.

- Sempre foi acordado que jamais poderíamos permitir que nenhum dos RYs saísse de nosso controle. Eles devem ser totalmente sãos! RY-3 está ensandecendo, ele agiu de modo inaceitável na Segunda Cidade, pondo em risco a vida de vários cidadãos, e agora muito provavelmente está prestes a colocar mais pessoas em perigo.

- Eu sei! Eu entendi. - Respondeu a Governadora. - Tem certeza de que isso funciona?

- Não. Não temos. Mesmo porque nunca pudemos experimentar. Mas acionando esse comando, uma dose intensa de Raio-Y localizará o RY-3 em qualquer lugar do planeta. Tudo indica que ele não sairá ileso. O que não sabemos exatamente é o resultado. Ele pode apenas sofrer um choque temporário, um desmaio ou entrar num estado de coma. Mas também pode colapsar o corpo e explodir. E não temos uma noção exata da potência da explosão.

- Pelo Universo! - Exclamou a Governadora. - Senhor Dirigente! Tem idéia do que está propondo?! As vezes nem parece que estamos falando da destruição de um de nossos heróis! Tenha consideração! Luri acaba de salvar o planeta!

- Eu sei Governadora. Mas ele apenas seguiu seu programa, o que não está acontecendo agora. E isso foi um acordo assinado por todos os envolvidos no projeto, se qualquer um dos RYs escapar do controle e ferir qualquer cidadão, deve ser imediatamente neutralizado!

- Por enquanto ele não feriu ninguém!

- Sim. Por sorte. Mas eu temo pelo pior. E sinceramente... Não gostaria de arriscar. Se acontecer uma tragédia, estaremos em situação extremamente delicada. A população não pode aceitar que teremos um super humano instável e perigoso à solta! Senhora. O RY-3 pode invadir a privacidade de qualquer um! Nenhum sistema eletromagnético, comunicações e computadores, está a salvo dele. Se ele enlouquecer pode arruinar nossa civilização em questão de horas! Seria muito pior que os Ians.

- Senhor Dirigente... Não posso concordar com isso. Além do mais... Precisamos dele! Os Ians podem voltar!

- Sinceramente acho que não. Eu também não proporia tal coisa diante de uma perspectiva de novo ataque inimigo. Eu só o faço porque temos fortíssimas razões para crer que os Ians estão definitivamente derrotados.

- Quer dizer que agora que não mais precisamos dele... Ele se torna dispensável?

- Lamento muito Senhora.

A governadora olhou para todos a volta. Estava em desvantagem. Recém empossada no cargo, não tinha acesso a muitas das informações que os cientistas naquela sala possuíam, e eles pareciam estar todos de acordo. Era fato, ela sabia, que um Hiper Metanatural insano era uma ameaça tão grande ou pior que os Ians. Mas não se convencia de que Luri fosse tão perigoso, como mesmo que fosse, no fundo, preferia que ele matasse a psicóloga do que ter que matá-lo, embora até pra si mesma não ousasse dizê-lo.

- E se não funcionar? Pense bem. Talvez Luri não esteja de fato tão perturbado, mas e se tentarmos destruí-lo e não conseguirmos? Ele com certeza saberá de nossa tentativa. Talvez seja isso que de fato o enlouqueça.

- Eu entendo o risco senhora. Mas temos que tomar uma decisão. Se não o fizermos agora teremos que contar com a sorte. O RY-2 não vai alcançá-lo a tempo, e duvido que RY-3 não localize o veículo onde a psicóloga e seu companheiro fugiram.

A Governadora ficou calada, e o Dirigente ficou na expectativa.

- Senhora? Esta decisão ter que ser unânime. O Primeiro Governador me delegou a responsabilidade, e o Terceiro continua desaparecido. Só resta a Senhora.

- ...Não! Não aceito! Eu prefiro arriscar, e assumir a responsabilidade de Luri causar algum mal a eles... Além do que... Se o matássemos agora, a população jamais nos perdoaria.

E subitamente o Dirigente pareceu aliviado. - Tudo bem Senhora. Como quiser.

A Governadora porém ficou mais apreensiva. - Senhor Dirigente? Por via das dúvidas... É só pressionar este ícone?

Ainda não convencida de que fugir fosse a melhor opção, Ange tentava não se sentir tão culpada em ter sido tão ingênua a ponto de se deixar manipular por Nani, fato que viera a se confirmar assim que ela acessou informações de que ele cometera suicídio antes de ser preso pela polícia sob acusação de traição.

Teve pena do velho professor. Ele não parecia mau de modo algum, mas era sem dúvida excessivamente apegado a uma idiossincrasia que ela própria tinha dificuldades em entender.

Lence tentava consolá-la. - Você não teve culpa meu amor. Pare de se achar a responsável por todos os erros dos homens que a cercam! Você tem dom notável, é certo, para perceber as coisas. Mas isso não a obriga a ser perfeita! -

Ela olhava para as ondas do mar batendo nas rochas, e pela primeira vez não imaginava em como seria banhar-se em água salgada como se fazia nas praias da velha Terra.

- Eu não sei Lence... Querido... Acho que estava tão empol... -

Então sentiram o estrondo, o carro foi balançado no ar e perdeu umas poucas dezenas de metros de altura. O susto os deixou paralisados, então mais uma vez sentiram outro baque, e de repente o teto do veículo foi totalmente arrancado revelando o céu aberto sobre eles, e o vento frio da manhã gelou ainda mais o calafrio que percorreu Ange e Lence.

No automático, o veículo passou a descer imediatamente, buscando o local mais próximo e seguro possível de pouso. Mesmo assim, uma força muitíssimo maior que a dos motores o empurrava para baixo além do limite de uma descida segura.

Não adiantou os sistemas de segurança alardearem e tentarem remediar a situação, somente a poucos metros do chão é que a espantosa aceleração se reduziu, e o veículo pousou, ou melhor dizendo, foi pousado.

Luri chegara a casa de Ange, entrara em contato com o computador local e soubera que haviam saído logo depois de receberem a mensagem da governadora, que ele também pôde captar. Tentara rastrear o veículo e percebera que de fato ele estava oculto do sistema de tráfego aéreo por protocolos de segurança. E isso o deixara muito irritado.

Nem se dera ao trabalho de penetrar o sistema para localizá-lo embora fosse capaz de faze-lo, apenas ampliara sua visão além do espectro visível e avistara o rastro iônico do veículo. Uma pista que poderia ser seguida por qualquer um dos RYs, quanto mais por ele.

Agora flutuava a frente do veículo pousado numa falésia coberta de areia fina e vegetação rasteira, diante dos dois pálidos passageiros. E estava muito magoado pela tola tentativa de fuga.

Tinha muita, muita coisa para dizer, mas não conseguia articular uma só palavra, e talvez nem precisasse. Sua expressão denunciava um sofrimento tal que partia o coração do casal a ponto de os fazer esquecer do susto, e descerem do veículo.

- Luri! Oh Luri... - Iniciou Ange, juntando as mãos e chorando. - Por favor... Eu sinto muito... Me perdoe... Eu... -

Mas a reação de Luri não parecia ser a de quem viera oferecer perdão, ele queria ouvir explicações, ou dá-las, ou sermões ou seja lá o que for. Mas apesar de estar antes disposto a longas falas, sentia sua capacidade de comunicação recentemente expandida sumir de novo, e desta vez levando até mesmo sua habilidade facial de expressar sentimentos, fazendo um tremendo esforço para conseguir dizer algo.

- Não! Eu não quero... Ouvir... Eu... Eu só quero... - E pôs a mão no rosto agonizando por não saber o que dizer, e nem o que pensar. Pousando no chão como se o sofrimento o fizesse ficar mais pesado.

- POR QUÊ!!?!!?!!?!!?!! - E o grito quase ensurdeceu o casal.

- Luri... - E Ange tentou abraçá-lo. Mas ele recuou e a empurrou, e embora não o fizesse violentamente, ela se desequilibrou e caiu.

Lence então se colocou a frente dela. Ele era maior que Luri, e de físico atlético e bem mais avantajado, mas não era estúpido a ponto de achar que poderia oferecer qualquer resistência física. Portanto com os braços em sinal de rendição, e com um sorriso que tentava conquistar simpatia, suplicou.

- Calma rapaz... Luri... Por favor... -

O Hiper Metanatural recuou com um olhar desconfiado, e que animou Lence a prosseguir. - Eu sei como é isso. Acredite! Também já sofri muito com uma situação destas. Eu sei o que é crer que tudo parecia estar perfeito e de repente... - Não conseguiu completar a frase, mas a interrupção pareceu ter melhor efeito.

Se aproximou mais e Luri passou a recuar tentando olhar para Ange, que se levantava um tanto assustada, mas Lence estava na frente, falando algo que de repente não mais interessava ao herói. Tentou contorná-lo mas Lence parecia agir com o impulso espontâneo de proteger a companheira. Isso só irritou Luri ainda mais, e num ímpeto descontrolado e inconsequente empurrou Lence para o lado, sem ter qualquer idéia de quanto aplicara de força e nem interesse em olhar o resultado.

Dos céus, a única cena distinguível era um carro aéreo semi destruído, uma mulher recurvada perante um aparentemente furioso super humano, e um humano normal sendo arremessado rumo a um abismo estreito, entre duas falésias.

Lence se segurou a uma rocha após voar algumas dezenas de metros, abaixo dele, uma queda provavelmente fatal o aguardaria se caísse, e mesmo que a queda em si não o fosse, ele seria queimado pelas águas do mar, especialmente ácidas nesta região.

Seki teve que tomar uma decisão, e optou por dar prioridade a Lence, que ademais era o inocente naquela história. O aparou antes que ele perdesse a força e caísse, e o depositou do outro lado do abismo, uma porção de terra mais baixa. - Fica calmo aí! - Disse ao homem, e voou rumo a Luri.

Ange ficara apavorada com a cena e tentara correr para socorrer Lence, Luri a segurou pelo pulso mais uma vez com força mal medida quase torcendo o braço da psicóloga. Somente ao se virar percebeu que Lence parecia ter caído no abismo, e que segurava Ange com força exagerada.

Já estava soltando o pulso dela quando foi empurrado vários metros e posto contra uma rocha.

- Ficou louco meu irmão?! O que pensa que está fazendo!? -

Luri mudou subitamente de expressão. - Vai embora Seki!!!

- Luri! Você viu o que fez?! Você quase matou o cara! -

Por um instante ele parecia que iria se acalmar, fechou os olhos e virou o rosto e de repente olhou com mais impaciência ainda. - Me solta!!!

- Fica calmo primeiro!

- Me solta Seki!!!

- Luri... Você acabou de salvar o planeta! Não estra...

- ME SOLTA!!! - E numa pancada empurrou Seki ao alto.

- Você não sabe de nada!!! NADA!!! - Gritava para Seki enquanto flutuava em sua direção! - Isso é entre mim e ela! Não se meta!

- Sinto muito cara. Vai ter que se acalmar primeiro se quiser chegar perto desta mulher.

- Ela não é pra você!!!

- O quê?!?!

- Eu vi como olhou para ela!!!

- Luri! Pare com isso! Isso é ridículo! Eu nunca... Ei volta aqui! - E Seki agarrou Luri mais uma vez quando ele rumava em direção a Ange, e mais uma vez Luri reagiu violentamente jogando Seki contra o chão.

Ange correra para a beirada do precipício, e constatou que ao longe Lence estava bem, ficando mais calma, quando se virou Luri já estava sobre ela, e então ouviu Seki gritar. - Abaixa!!! - O que fez imediatamente e logo em seguida Seki agarrou Luri pela terceira vez levando-o para o alto.

Um estrondo seguido de uma descarga de energia jogou Seki mais uma vez no chão, ao lado do veículo pousado. E logo em seguida Luri investiu contra ele.

Outro estrondo e desta vez Luri foi rebatido e jogado contra uma rocha. Se recompondo, brilhou e seu esqueleto se fez notar, disparou então um raio que derreteu o veículo caído logo atrás de Seki.

Os dois heróis então subiram e ficaram frente a frente se encarando.

- Luri! Que idéia é essa?! Não seja...

Mas Seki foi atingido por um soco, voando para trás, Luri começou uma sequência de ataques. Seki defendeu-se do primeiro soco, do segundo, desviando-os com técnicas básicas de artes marciais. Bloqueou o terceiro, se esquivou do quarto.

Tomou o quinto recuando mais um pouco. Desviou o sexto e o sétimo, bloqueou o oitavo e o nono, e então Luri o atingiu com um chute que o fez rodopiar no ar.

Luri avançou mais uma vez e Seki bloqueou mais dois golpes e finalmente contra atacou com um soco que empurrou Luri longe. Então os dois se atracaram, girando no ar, desferindo golpes curtos numa luta fechada e brilhando cada vez mais. Se separaram mais uma vez e quando se chocaram de novo Seki mandou Luri contra as rochas num soco luminoso.

Luri disparou um raio que Seki resistiu, depois subiu de volta e lutaram mais uma vez num feroz combate fechado, e então desta vez foi Luri quem jogou Seki no mar com um golpe recheado de luz.

Depois de ter saído do eixo e entrar na água fria do mar, Seki achara que já se molhara demais por um dia, ficando um pouco irritado, e emergiu imediatamente. Se desviou de um raio de Luri e avançando contra ele foi driblando o feixe azul até acertá-lo com um soco devastador que o arremessou contra o solo onde o veículo pousara, fazendo-o deslizar na areia deixando um sulco no chão.

Seki não demorou a perceber o erro, por pouco não acertara Ange. Voou rapidamente para o local mas Luri se recuperara rápido, recebendo-o com outra saraivada de golpes que logo o jogou no chão.

Luri caiu em cima dele e o chutou para o lado, agarrou a carcaça flamejante do veículo e acertou Seki em cheio. Mas era como golpear uma pessoa normal com uma almofada e Seki apenas defendeu com o braço deixando o que restara do veículo em frangalhos.

Se atracaram de novo, desta vez no solo, e então voaram.

O problema é que Seki estava se contendo. Apesar de tudo, ainda não estava lutando como se o fizesse com um inimigo. Ele não gostava da idéia de atacar o próprio irmão, e de certo modo tinha pena dele, que por sua vez não parecia ter a mesma preocupação.

Essa desvantagem acabou por ser decisiva, e Ange assistiu espantada quando Seki foi jogado ao chão de modo tão violento que quicou várias vezes caindo inconsciente do outro lado do precipício.

Luri então flutuou em veio em sua direção, quando de repente, um raio verde o tirou da vista dela.

Mal o agarrara, Doni descarregou uma rajada de energia em Luri que o deixou desorientado, e aplicou uma sequência violenta de golpes até por fim jogá-lo na areia.

Diferente de Seki, Doni não estava nem um pouco disposto a aliviar seus ataques, e foi acertando Luri seguidamente de vários modos até obrigá-lo a se afastar dele.

Luri deu meia volta rumo ao local onde estava Ange e Doni veio ao seu encalço disparando com seus braços canhões. Mas Luri não estava exatamente fugindo, numa freada girou e acertou Doni violentamente fazendo-o sumir nos céus.

Luri partiu em seu encalço mas Doni não tardou a voltar e no ar os dois entraram numa violenta luta fechada.

Enquanto Ange assistia quase paralisada o furioso duelo, Lence observava Seki desmaiado e quase exatamente no local onde ele antes fora jogado. Seki estava na beirada do precipício, a ponto de cair na água ou nas rochas, dependendo da sorte.

Lence até já ouvira falar sobre o fato de que os organismos silicônicos dos heróis serem muito mais resistentes que o das pessoas normais independente deles usarem seus poderes, mas por outro lado sabia que era exatamente neste estado que eles eram vulneráveis.

E se Seki caísse? Poderia morrer? Na dúvida Lence preferiu agir, e com medo mas determinação e cuidado, foi escalando as escorregadias rochas rumo a onde Seki estava.

Luri agora parecia recuar, enquanto Doni parecia querer abrir uma espaço para falar, e na primeira oportunidade gritou. - Luri! Pare com isso!!! Não estrague tudo! Você foi o he...

Tomou um soco que o empurrou longe e logo em seguida um raio. Meio desorientado Doni revidou com disparos potentes que Luri se esquivou com muita dificuldade. Avançou contra Doni atingindo-lhe mais uma vez.

Lence agora estava quase tocando em Seki, que após uma pequena escorregada, já deixava um braço e uma perna pendendo rumo ao abismo, finalmente num movimento ousado agarrou o metanatural, sem conseguir se decidir se ele era mais leve ou mais pesado do que parecia.

Doni mergulhou no mar para despistar Luri, penetrando o mais fundo que podia. Luri sobrevoava as águas a sua procura e foi surpreendido por manobra semelhante a que Doni usara para capturar a sonda espiã Ian. Se atracaram e ficaram medindo forças enquanto Doni tentava falar com Luri.

Então Lence deixara Seki num local seguro do outro lado do abismo, já começando a despertar, enquanto Ange, ousadamente, caminhava a passos lentos, se aproximando da luta.

- Luri!!! - Gritou ela. - Pare por favor!!! PAREM!!!

E coincidentemente ou não os dois heróis se soltaram e abriram uma distância, mas logo em seguida Doni avançou e acertou um soco em Luri que o arremessou para baixo, fazendo-o se chocar contra o chão próximo a Ange.

Ela correu em sua direção e Doni percebeu o erro que cometera, ao mesmo tempo Lence tentava subir as rochas mais rápido, ainda sem saber direito o que acontecia mas bastante apreensivo, e Seki acabava de acordar, entendendo logo de imediato o que havia acontecido.

Luri emergiu da terra brilhando como um sol, mas a luz não parecia ofuscar Ange, que o olhava fixamente. - Luri! Por Favor! Me ouça!

Doni se interpôs entre os dois o que enfureceu Luri novamente, e ele se preparou para atacar.

Então...

- LURI!!! PARE!!! - Era a potentíssima voz de Hane.

A vantagem da hipótese Mentalista é que ela elimina a problema de explicar o surgimento da mente, mas isso é trocado pelo problema de explicar como surge então a matéria, embora haja a vantagem de nesse caso não haver um salto de qualidade ascendente. É mais fácil explicar como o superior gera o inferior, do que o inverso. Tal vantagem, no entanto, ainda é pouco.
POR QUÊ?

Flutuando logo acima deles, usando apenas o que sobrava da calça e sem o visor, Hane tinha um aspecto sinistro. Luri olhou para ele e hesitou, Doni também.

- Não importa o que tenha acontecido Luri! Acabou! - Continuou Hane. - Você não pode fazer isso! Nenhum de nós pode! Nossa função é proteger a humanidade de Orizon! Fizemos isso! Agora chega!

Luri, ainda flutuando e brilhando, tentava dizer algo, mas mal balbuciava, enquanto Doni se afastara deixando que Hane assumisse a situação, e Seki e Lence, caminhando lentamente, se aproximavam.

- Luri... - Continuou Hane. - O que ela fez com você pode não ter sido bom, mas o que você está fazendo é muito pior. Por favor Luri... Não estrague tudo.

E Ange, tentava se aproximar, olhando para Luri com tanto sentimento que seus olhos não se importavam com a luz muito mais forte que a da estrela Orizon. - Luri... Por favor Luri... Eu juro que não queria... Eu juro que eu faria diferente se...

E ainda tenso, Luri foi pouco a pouco se desarmando, e perdendo altura lentamente ao mesmo tempo que diminuía a luminosidade. Antes a “carne” brilhava, mas logo só os ossos, e ele aos poucos ficou de joelhos, e a gravidade a sua volta ainda era mais baixa, e seus cabelos foram pouco a pouco deixando de ser cianos, brilhantes e transparentes, se tornando opacos e negros a medida em que iam caindo sob o efeito da gravidade do planeta que pouco a pouco se fazia sentir.

Por fim, o Hiper Metanatural perdia totalmente sua luz, e passou a chorar, a lágrimas porém, escorriam brilhantes, e queimavam o chão.

- P-por quê? - Murmurava ele.

Hane pousou, e Ange se aproximou mais, tentando dizer algo, mas de repente, Luri, num grito, afastou-a.

- POR QUÊ?! Por quê?! Eu estava em paz! Estava sozinho! Podia não ser perfeito mas pelo menos estava em paz! Por que você tinha que aparecer!? Por que tinha que insistir tanto até me seduzir?! Por que tinha que me enfraquecer até me enfeitiçar para depois... -

E soluçou, abaixando a cabeça, e murmurou. - ...Pra depois me abandonar... Você podia nunca ter aparecido... Por que você apareceu? Por que o Universo me traiu? Por quê? Por quê? Por que simplesmente não me deixaram em paz... -

E desabou a chorar, sem conseguir dizer mais nada, e Ange aos prantos também, se aproximou e se ajoelhou perto dele, e tentou tocá-lo.

Mas agora era tarde, mesmo que ela mudasse de idéia, mesmo que de repente Lence desaparecesse e ela se esquecesse dele, Luri não a queria mais, e quando os dedos dela tocaram seu rosto, ele simplesmente empurrou sua mão num grito de autêntico pânico, e então em outra onda de choque e luz que empurrou Ange, ele disparou rumo aos céus, e em pouco segundos, um minúsculo ponto azul sumiu na imensidão avermelhada.

Doni olhou para Hane, como perguntando se devia segui-lo, mas num gesto Hane o desaconselhou, e Doni finalmente pousou, e parecendo exausto, sentou no chão se encostando em uma pedra.

Seki e Lence acabavam de chegar. - A propósito cara. - Disse Seki. - Eu não ia morrer se caísse, você não precisava ter se arriscado, mas mesmo assim obrigado. Vou considerar que você salvou minha vida!

Lence, que numa caminhada ao lado de Seki de menos de uma centena de metros já se sentia seu amigo, retribuiu. - Você salvou a minha primeiro.

- Só fiz minha obrigação. Você foi além da sua.

Então Ange abraçou Lence, chorando muito, por muito pouco, não desejando morrer, e enquanto Seki sorria, tentando fingir que tudo estava bem, Lence olhou para Hane, sentindo imediatamente o ar de autoridade que ele tinha sobre os outros, e perguntou. - E agora?

- E agora?! - Respondeu Hane, enquanto Lence fingia não se impressionar com os olhos brilhantes e perturbadores do RY-1. - Eu não sei o que vai acontecer agora? Não sou dono do futuro! Nem acredito no destino como ele acreditava! - Apontou para o céu onde Luri sumira. - Nem tenho brilhantes e perturbadoras intuições capazes de violar os sentimentos de qualquer ser humano. - Disse olhando para Ange, que finalmente teve coragem de levantar a cabeça para encará-lo.

- A única coisa que sei... - Continuou Hane enquanto começava a levitar. - E que você teve tudo para conseguir o que ninguém antes conseguiu, mas jogou tudo fora como se fosse lixo! - Disse fitando Ange que subitamente se sentiu atemorizada desviando o olhar. - Ele estava certo! Antes você nunca tivesse aparecido. Você conseguiu tirá-lo de seu mundo particular só para estragar tudo, e agora ele vai voltar para esse mundo. E agora ele vai ficar ainda mais fechado, ainda mais inacessível. -

E finalmente Hane flutuou mais alto e passou a brilhar. E completou num tom de voz assustador. - E Eu Nunca Vou Te Perdoar Por Isso!!!

E disparou rumo aos céus no sentido contrário ao de Luri.

Seki também ficou arrepiado, flutuou logo em seguida, se virou para o casal e, meio sem jeito tentou remediar a situação. - Não o leve tão a sério... Ele diz muita coisa... Só da boca para fora. - Embora não estivesse muito convencido disso, se despediu deles e mais uma vez agradeceu Lence, que como qualquer outra pessoa, independente do que havia acontecido, não tinha como não simpatizar imediatamente com o cativante Seki, que então perguntou a Doni. - Vamos?

- Vou esperar um pouco. - Respondeu Doni aborrecido, e completou num tom meio que de ironia meio que de revolta. - Pro caso do Luri voltar.

Seki não levou a sério e então voou atrás de Hane.

O casal permaneceu ali, abraçado, Ange quase em choque, e Doni, sentando um pouco distante, com uma expressão que praticamente proibia qualquer aproximação.

Finalmente chegaram câmeras de TV, que estavam praticamente todas do outro lado do planeta, várias delas posicionaram-se em volta de Doni, que numa inédita reação de aborrecimento vaporizou-as numa varredura de energia que assustou Lence, mas não Ange, que parecia inerte, insensível a qualquer coisa a sua volta.

Há outra vantagem no Mentalismo. É ao menos teoricamente testável. É possível experimentar se mentes devidamente treinadas poderiam de algum modo produzir diretamente eventos materiais. Mesmo sendo experiência dificílima, é plausível. Nada similar é possível ao Materialismo. Vem exatamente daí todo o mistério da mente, podemos criá-las artificialmente? Antróides tem mente?
NUNCA MAIS OUTRA VEZ

Os dias seguintes se passaram agitados, com extensos trabalhos de reconstrução e recuperação de feridos. Ao todo 2.317 pessoas morreram ou ficaram seriamente feridas, quase todas na Quarta e Terceira Cidade, e os danos materiais eram incalculáveis.

Mas algo tranquilizava o planeta, de fato os Ians pareciam definitivamente banidos do sistema estelar. Com as novas frequências de rastreamento a Defesa Planetária conseguiu detectar restos de bases que jamais conheceram, mas todas abandonadas e inoperantes. Desde o último grande ataque anterior há mais de uma década, sabia-se que os Ians ainda tinham algumas naves espalhadas e escondidas, e que possivelmente guardassem trunfos, nunca esperaram que fossem tantas, mas o ataque não fora algo tão inesperado.

Agora parecia evidente que a guerra estava definitivamente encerrada, tanto que inúmeras informações começaram a ser liberadas, permitindo a muitos interessados estudar melhor os eventos.

Hane passou a se interessar cada vez mais por certos assuntos sobre o passado de Orizon, e o que descobriu terminou por lançá-lo numa crise moral. Embora fosse duvidoso saber exatamente quem ou porquê exatamente havia começado a guerra, e embora soubesse que provavelmente o robô fotônico estava certo sobre a impossibilidade de coexistência entre Ians e humanos, Hane não podia deixar de considerar que Orizon não passava de mais um capítulo do interminável hábito das raças humanóides de invadirem redutos alheios, se instalarem, e sutil ou bruscamente, dominar ou exterminar a população original.

Os Zenitrons, antigos humanóides ancestrais, haviam visitado o sistema há milhares de anos, bem antes da humanidade terrestre começar a se lançar ao espaço, e ao que tudo indicava haviam destruído a terceira estrela e arruinado uma antiga civilização aparentemente pacífica.

Para sobreviver, os habitantes originais, seres transparentes de fotoplasma biológico, desenvolveram novos corpos artificiais e se adaptaram à vida no espaço, mas com o tempo o processo terminara por destruir sua originalidade e sensciência natural, tornado-os então em máquinas.

Imbuídos do propósito meramente lógico de sobreviver embora destituídos daquilo que chamaríamos de alma, os Ians, ou o que restara deles, acabaram por expulsar os Zenitrons mas quase a custo da própria existência, saindo da guerra ainda mais arrasados do que antes, e num estado ainda mais acentuado de degenerescência.

Como os Zenitrons entraram logo em seguida em extinção, a guerra findou, até que mil anos mais tarde Orizon seria novamente invadido por uma nova geração humanóides, que pouco ou nada sabia da história anterior, apesar de o sistema estelar possuir um nome de catálogo de linguagem claramente Zenitron.

Os Ians, que estavam em estado de hibernação períodica esperando uma nova fase da estrela branca ocorrer, despertaram após um certo período, e identificando os visitantes como Zenitrons, o que seria no mínimo compreensível dado a similaridade física e tecnológica, retomaram a guerra antes dada por encerrada.

Era em parte o conhecimento deste passado que dava aos humanos a certeza de que a ameaça estava terminada, conhecimento que também permitiu progressivamente um resgate de várias informações sobre o que fora outrora a civilização luminosa do Ians.

Hane não pôde conter as lágrimas ao tomar conhecimento da riqueza e beleza da cultura Ian, tão incompreensível e ao mesmo tempo tão fascinante. Planetas inteiros recheados de seres vivos e de máquinas transparentes, estações espaciais espalhadas por todo o sistema. Dezenas de bilhões de indivíduos, amplos domínios em física, em especial óptica. Comunicação e engenharia totalmente baseada em luz e ao que tudo indicava Arte e Mística que renderiam milênios de estudo e investigação. Tudo devastado pelo radicalismo tecnocêntrico dos Zenitrons.

Hane quase se envergonhava de sua espécie ao ver a futilidade e o vazio em que a maioria dos habitantes de Orizon 5 levava sua existência. Apesar disto porém, a fase de alienação de massa em Orizon começou a se encerrar, e as novas gerações trariam de volta o progresso e o avanço científico.

Pouco mais de um mês depois o planeta já havia se acostumado a uma rotina quase nada diferente da anterior, embora envolvendo um rápido processo de reconstrução da Terceira Cidade, e uma nova onda de gestações já estava sendo esperada.

Com a vida quase normalizada, a mídia retomou suas atividades não sem um certo avanço em termos de qualidade de informação. Porém os heróis continuaram sendo o assunto principal, e o caso Ange recebeu atenção massiva de toda a imprensa.

De início Ange foi crucificada, a situação chegou a ponto de ela não poder sair em público, até que após muita insistência de amigos aceitou conceder uma série de entrevistas ao vivo.

Com seu carisma ela acabou invertendo a opinião pública a seu respeito, e acabou sendo reconhecida como mais uma vítima de uma incontrolável tragédia que se abatera como um destino inevitável sobre todos, e que rendeu livros, filmes e novelas.

Acabou se tornando muito popular, como uma pessoa sábia e respeitável, mas assim que pôde sumiu dos noticiários, e se jamais concluiu seu trabalho original sobre os Hiper Meta Naturais, desenvolveu outros trabalhos que tiveram notável repercussão, ocasionalmente trazendo-a de volta à popularidade por breves períodos.

Quanto aos heróis, Seki e Doni passaram a aparecer menos em público. Doni nunca mais se fixou em outra parceira, e Seki, ao contrário e para a surpresa de todos, começou a apresentar uma inédita regularidade em seus relacionamentos.

Doni parecia cada vez mais sério, e começou a praticar com mais frequência um hábito que já o identificava, o de expressar intelectualismo, em especial passando a debater conceitos filosóficos, e já havia quem visse nele um guru em potencial.

Hane se tornou ainda menos acessível ao público, passando a se concentrar cada vez mais na pesquisa histórica e posteriormente passando a se dedicar à pesquisa científica, tendo entre seus objetivos principais o futuro projeto de desenvolver novos Hiper Meta Naturais foto silicônicos.

Apesar do fim da ameaça Ian, o planeta retomou programas de Defesa a longo prazo. Notícias oriundas de outros sistemas estelares justificavam preocupação.

Enquanto informações sobre o fim da guerra foram enviadas ao espaço profundo, esperando com isso gerar tranquilidade em sistemas estelares e colônias humanas vizinhas, ficou-se sabendo que na Velha Terra parecia estar prestes a eclodir uma guerra de proporções inter estelares, em que até mesmo o lendário DAMIATE parecia estar envolvido, enquanto em vários pontos distintos e opostos da galáxia vinham notícias de uma estranha civilização humana ginocrática que parecia enfeitiçar e controlar sistemas estelares inteiros, e ainda que muito longe de Orizon, não deixava de despertar inquietação uma vez que parecia ter estendido seus domínios num raio de milhares de anos-luz.

Embora distantes, estes eventos poderiam ter repercussões a longo prazo. Como Hane dissera, a Galáxia ainda tinha muitos mistérios e perigos. Era melhor estar preparado para o futuro.

E quanto a Luri, ele nunca mais foi visto.

O 'problema de outras mentes' associado a incerteza do mundo material pode resultar no temível 'Solipsismo'. A possibilidade de que somente uma única mente seja real, e o resto mera ilusão inconsciente. O solipsismo é intestável e irrefutável. Mas o mentalismo pode neutralizá-lo. Que diferença haveria entre uma mente simulando várias, ou várias simulando uma?
PARA ONDE VAIS?

Os outros heróis e várias sondas espaciais vasculharam tudo o que puderam, mas ninguém sabia dizer onde Luri estava. Era quase certo que estava, ou frequentava ainda o planeta, pois ocasionalmente se podia detectar um ou outro rastro que só poderia ser explicado por sua presença, porém dada a facilidade de Luri de se ambientar ao espaço, onde estaria livre do alcance do Raio-Y, sabia-se que poderia também estar habitando qualquer ponto do sistema estelar, e temia-se inclusive que estivesse construindo uma nave interestelar, a julgar por certos materiais que haviam desaparecido de certos locais, com o objetivo óbvio de abandonar o Sistema Estelar de Orizon.

Com isso ele se transformou numa espécie de lenda viva, um mito. Nunca antes fora tão comentado, e muitos se empenharam seriamente em encontrá-lo, chegando-se até a realizar uma campanha apelativa tele rádio difundida clamando por seu retorno, contendo inclusive declarações apaixonadas de milhares de pessoas.

Mas nada adiantou. O raio azul nunca mais foi visto no céu.

A noite era estrelada e escura como na Antiga Terra. Da janela, por entre sedosas cortinas brancas, Ange contemplava as constelações que aprendera a nomear, e tentava imaginar quais seriam os sons das estrelas, e que harmonias elas podiam produzir.

- “Que desperdício.” - Pensava ela. Imaginando como um tesouro como Luri poderia estar perdido. Que imensidão existencial! Que potência humana e divina ele era! Era tão triste que toda aquela riqueza não estivesse ao alcance do restante da humanidade.

Ela estava grávida, de sua primeira filha com Lence. E as vezes ela sonhava que um dia Lurian iria em busca do antigo e breve amor de sua mãe.

- “Devaneios”. - Pensou ela. Lence já estava dormindo, mas ela não conseguia aquietar a mente, e em seu ventre Lurian parecia agitada, como se também olhasse para o céu e ouvisse as estrelas, e tentasse entender a música que elas diziam, tentando falar com os astros.

Por vezes Ange pensava ter visto uma luz no céu. Depois se desiludia, e se era verdade que amava seu companheiro, também era que jamais esqueceu-se de seu amante divino, e não raro sonhava que ele aparecia-lhe na janela, flutuando, sorrindo, como antes, estendendo-lhe a mão convidando-a para voar, e dizendo que a perdoava.

Lamentou-se que a vida lhe tivesse que ser tão breve, e tão limitada. Desejou poder se dividir e que metade sua pudesse estar com Luri. Mas isso agora só seria possível numa outra vida. Talvez daqui a alguns séculos ela renascesse em algum outro lugar e se reencontrasse com ele, que provavelmente não teria morrido nem envelhecido, e cumprisse o destino que ele havia previsto, e que ela, de alguma forma, por vezes acreditava que cedo ou tarde deveria mesmo ocorrer.

- “O Universo não pode ter mentido! Ele saberia.”

O que mais ele sabia? O que mais Luri conhecia que nunca tivera tempo de lhe contar? E que talvez, nunca ninguém mais viesse a saber.

Guardaria ele seus segredos para sempre?

Ele podia ouvir a voz das estrelas, dos planetas, das galáxias distantes. O eco da criação. Podia captar os gritos do parto do Universo, e ouvir o choro nascente de cada supernova, assim como a silenciosa agonia dos buracos negros.

Poderia ouvir tudo ao mesmo tempo, como o som do Universo? Ouviria ele a voz da Deusa? Ouviria ele agora seus pensamentos?

Não fora uma única vez que ela transmitira mensagens sem destino aparente, na esperança de que ele pudesse ouví-la. Ela pedia perdão, e tentava lhe dizer o quanto o amava, e queria que ele soubesse de Lurian.

- “Me perdoe...”

Ela queria que ele ao menos mostrasse que ainda estava atento, ouvindo tudo e todos. Gostava de pensar que toda a sua vida, e a de todas as pessoas de Orizon, eram livros abertos para ele, assim como o próprio Universo lhe parecia por vezes um livro aberto, embora nem sempre de fácil interpretação.

Olhou novamente para estrelas, e novamente pensou ter visto um raio azul cruzar os céus, e quis se convencer de que era verdade.

Recitou então uma oração, não apenas dedicada, mas que suplicava a ele. E pediu que ele nunca os abandonasse, que os protegesse, e que aceitasse seu amor.

E mais uma vez olhou para o céu escuro e estrelado.

- “Onde estais?”

Mesmo assim, o mentalismo não é capaz de derrubar o materialismo. Temos um perpétuo impasse. E é bom que seja assim. É da dinâmica entre possições diferentes e plausíveis que advém toda a riqueza do pensamento humano. Se descobríssemos A Verdade, a existência perderia o sentido, a liberdade seria destruída. A Dúvida é o preço da vida, as Certezas são impossíveis. Amen.