PLANETA FANTASMA - Capítulo 03 - Marcus Valerio XR
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A INVISIBILIDADE E A LUZ

O Campo de Invisibilidade possuía um princípio muito simples. Tratava-se de gerar uma esfera hiperdimensional, que agia como um portal de transição instantâneo de um ponto a outro do espaço, com a capacidade de transportar tão somente um amplo leque de frequências eletromagnéticas. Qualquer onda eletromagnética que atingisse um ponto qualquer da superfície externa do campo, era imediatamente transportada para o pólo oposto da esfera, sem sofrer qualquer alteração.

Dessa forma, a luz que entrava em "frente" ao planeta era imediatamente transportada para "trás", saindo incólume, e portanto não sofrendo qualquer absorção, reflexão ou refração. Como isso ocorria com todos os raios de luz em qualquer direção, luz alguma atingia o planeta, e assim este era completamente invisível.

E não era somente a luz, mas várias ondas eletromagnéticas. Todas as frequências de rádio conhecidas também eram incapazes de penetrar o campo, a não ser frequências tão extremas que seriam inúteis para telecomunicações. Outra consequência é que o planeta, obviamente, ficava em escuridão total, pois não recebia luz alguma vinda de fora.

Muitos dos cientistas concordaram que ter um céu absolutamente negro durante todo o tempo, a exceção das nuvens iônicas, era um fator que contribuía para o baixo desenvolvimento cultural da espécie sensciente aparentemente dominante no planeta. Sem astros para contemplar não se desenvolve a curiosidade sobre o que está acima, é impossível construir calendários precisos e compreender ciclos sazonais, não há base sequer para um pensamento mágico voltado ao céu. Esse também era um dos motivos pelo qual estes seres contemplavam as áreas das tempestades de um modo aparentemente religioso.

Era evidente, porém, que aquelas criaturas não tinham acesso ao interior das nuvens. Ainda que fossem fisicamente muito competentes, as áreas nebulosas eram cercadas por paredões imensos de rochas constantemente úmidas, impossíveis de serem escaladas sem equipamento adequado ou configurações corporais até agora não encontradas naquele mundo. Mesmo os poucos seres alados também não se atreviam a se aproximar da área das tempestades. Era muito possível então que em todo aquele planeta, aquele seres não tivessem idéia do que havia além do limite daquelas montanhas iluminadas por raios e névoas luminescentes.

A milhões de kms do planeta, a bordo da IANTIS, os habitantes estavam então separados do fundo daqueles vales tempestuosos por duas barreiras aparentemente inexpugnáveis. As nuvens iônicas e o escudo de invisibilidade. Só podiam contar então com o precário sistema de transmissão de dados via ondas gravitacionais, bem como os relatórios periódicos enviados pelos ZIGs que saíam frequentemente do interior do campo.

Entre os espectadores havia um especial. Quieto no interior de seus aposentos, ele havia deixado suas funções de segurança informática mais cedo para se dedicar totalmente a assistir a operação. Ele tinha sim um interesse científico, mas não era esse seu maior motivo para aquela atenção tão intensa.

Podia-se notar em todo o seu aposento dezenas de fotos e imagens em movimento, algumas tridimensionais, por toda parte. E todas essas imagens tinham apenas um único tema.

A seilan. Lunis.

Ela era uma total obsessão para ele. Ele a observava todos os dias, dia e noite, por meio das diversas câmeras espalhadas pelo interior da IANTIS.

Obter tais imagens era, então, fácil. Ainda mais para quem tivesse familiaridade com sistemas visuais. A dificuldade real era fazê-lo sem que ela, ou quaisquer outros, percebesse.

Jerok ainda não estava preparado para se aproximar dela, pois sentia que o dia que o fizesse, seria totalmente irreversível. Se ela não o aceitasse como um de seus servos, ele preferiria morrer.

Mas naquele momento, uma coisa apenas importava. Ele queria ver sua heroína. Saber o que ela faria, o que ela pretendia. E ele a seguiria a qualquer momento, para qualquer coisa, assim que ela desse algum sinal.

PAUSA

No negrume de um espaço absolutamente sem estrelas, a seção principal da GENIUS girava, simulando gravidade por centrifugação como todas as naves da frota, exceto a Espada Espacial. A escuridão envolvente tornava o longo momento de silêncio ainda mais dramático.

Por minutos, toda e qualquer forma de contato com os exploradores foi cortada. Então, de súbito, Velek inspirou profundamente após uma longa pausa em silêncio, onde sequer respirara. Quando ele se virou para o restante da tripulação, sua expressão era de um certo tipo de êxtase.

- O que houve?! - Perguntou Taulin.

- Eles estão bem. - Respondeu o híbrido. - Eles... Pousaram em segurança abaixo das nuvens, em perfeita calmaria. O local é claro, apesar de nebuloso, e bastante úmido. E eles...

- ?Eles... - Indagou Filia, amargando uma espera angustiante até que Velek finalmente respondeu.

- Eles acharam uma cidade.

A CIDADE FANTASMA

Eli, um dos cientistas a bordo da GENIUS, se aproximou dos dirigentes "trazendo" um pequeno gráfico flutuante sobre sua mão, e então o ampliou. - Já temos os primeiros sinais do transmissor gravitacional.

Fez surgir no ar, acima de todos, uma imensa e distorcida imagem. Desfocada e nebulosa, mas que permitia ter alguma idéia do que a voz da seilan dizia,

- É certamente... Uma cidade. Imensa! Muitos dos prédios tem mais de 400m de altura! É totalmente construída em... Material de aparência rochosa, aparentemente cristalizado e muitíssimo resistente.

Entrou então a voz do andróide. - Até onde nosso limite visual alcança, a cidade se estende. Tem ao menos 52 mil kms2. Parece completamente deserta de qualquer forma de vida superior, e não apresenta qualquer leitura energética. A densidade atmosférica e 1,3 vezes maior que na superfície externa do planeta, a temperatura é de 42oC, com umidade de 97%. Há oxigênio suficiente para respiração, 12%, e não há indícios de gases tóxicos, mas a taxa de nitrogênio é de menos de 0,2. Seria impossível qualquer forma de vida tipo "C" sobreviver por mais do que 7 biociclos. A dobuk pode respirar livremente, já a seilan prefere manter sua máscara.

- O ar me dá náuseas, há um cheiro ácido desagradável... Eu. Nunca vi nada parecido. Nem SEILA possui cidades tão gigantescas! É provável que os construtores fossem fisicamente bem maiores do que nós.

- Confirmo. - Completou Dalmana - É possível observar estruturas semelhantes a escadarias, e portais que sugerem usuários de dimensões ao menos duas vezes maiores que as nossas.

Lunis retomou. - Mas não é só isso que sugere obra de uma raça muito diferente de nós. Existe uma... Arquitetura, aparentemente incoerente. É como se... Grande parte da cidade fosse uma obra de arte abstrata. Há grandes esferas posicionadas sobre alguns dos prédios, com cortes transversais em diagonal que não apresentam nenhuma função específica dedutível. São maciças!

Então, as imagens subitamente se tornaram mais nítidas, o sistema de comunicação conseguiu o ajuste ideal e por um momento foi como se todos a bordo da GENIUS tivessem mergulhado dentro do impressionante cenário. Ao lado deles surgiu a imagem dos 3 exploradores, em tamanho real, como se todos estivessem juntos, de pé sobre um dos altos edifícios.

O céu acima era completamente encoberto por grossas nuvens de kms de altura, porém sua luminosidade constante era tal que o resultado era como o do um dia nublado muito claro, quando não é possível sequer saber em que posição o sol está devido ao brilho homogêneo das nuvens.

A nebulosidade do cenário impedia que se avistasse os prédios mais distantes com nitidez, mesmo assim era óbvio que a cidade era imensa. As 4 câmeras flutuantes portáteis, que registravam e enviavam as imagens com as quais o processador holográfico da GENIUS construía o cenário virtual, pareciam insuficientes para abarcar a vastidão daquele cenário ao mesmo tempo magnífico e perturbador.

Ansiosa para voar Viuik tomou a iniciativa. - Acho que podemos começar uma exploração mais direta. - Os outros assentiram e ela abriu suas compridas asas, ruflou por alguns momentos, dando pequenos pulos e então se lançou confiante sobre o vazio, de início caindo rapidamente algumas dezenas de metros, mas logo em seguida planando e ganhando altura graciosamente.

Com o rosto livre, respirou o estranho, mas ainda assim agradável, ar daquela cidade aparentemente fantasma. Voou por entre prédios altos até chegar a uma espécie de praça, onde formas de pedra aparentemente artísticas se revelavam como que em saudações sombrias.

Dalmana vinha logo atrás dela, flutuando com seus geradores antigravitacionais embutidos e impulsionado por artefatos iônicos. Lunis flutuava mais ao alto, agora sem a bolha, e ainda usando uma máscara completa além de sua viseira, o que lhe cobria totalmente a cabeça. Mesmo assim seus sentidos ficavam inalterados, e nem precisou do telecomunicador para ouvir o andróide dizer: - Devemos procurar o local onde o ZIG deve ter caído. Fica 8km à frente.

A feiticeira assentiu, mesmo porque já estavam naquela direção e a dobuk voava rápido, empolgada. Puderam contemplar ainda mais o monumental cenário. Os prédios eram em geral cinzentos, numa textura que lembraria um granito fino, porém sob uma camada aparentemente vítrea que os protegia. Em todas as direções havia nítidas ruas, com passarelas, pontes, ocasionais praças vazias incrivelmente vastas. Tudo era de um silêncio sepulcral. O céu acima deles, de um branco nebuloso quase homogêneo, não permitiria sequer desconfiar que havia uma tempestade constante em alta altitude.

No entanto, assim que sobrevoou um prédio especialmente alto e sinistro Lunis sentiu um abalo mental. Quase uma vertigem, era como se uma voz soasse em sua mente, ele vacilou e oscilou no ar por alguns instantes, mas tão discretamente que sequer chamou atenção do antróide. Então, por reflexo obtido de anos de treinamento, ela acionou uma barreira mental de proteção, o que resultou no corte imediato de sua ligação com Velek.

Já estavam quase acima do ponto onde o ZIG deveria estar, mas a seilan pousou num dos prédios mais baixos e se concentrou. Fechou os olhos tentando captar novamente algum sinal telepático. Ampliou suas percepções e começou a rastrear o plano astral, mas este era tão estéril quando o plano físico. Vasculhou mais sinais mentais, mas só obteve "silêncio" apesar da incômoda sensação de que o lugar estava repleto de entidades escondidas.

Enquanto isso Dalmana rastreava o local com seus sensores, procurando também sinais diferentes mas só obtendo quietude e tranquilidade. No entanto, algo também o incomodava. Sua verve poética quase o fazia descrever o local como uma imensa necrópole de onde emanavam gargalhadas distantes e insanas, que ecoavam longinquamente. Então, quase tão em transe quanto a seilan, também foi surpreendido pelo chamado de Viuik.

- Vejam! Eis porque o ZIG não mandou notícias! - Quando eles olharam viram a delgada fêmea alada apontar para um elemento de cenário que ainda, surpreendemente, lhes passara desapercebido. Era como um imenso espelho d'agua. Retangular, com cerca de meio km de comprimento por 1 de largura. Ficava em uma das praças especialmente grandes, e a massa de água era cercada por uma pequena mureta de pedra, que impedia que transbordasse, visto que o nível da água estava quase 1m acima do chão da praça.

Se aproximaram então do local, se deparando com uma água turva, esverdeada, impossível de se enxergar sequer a um metro de profundidade. A dobuk, sem cerimônia e um tanto sorridente, colocou o dedo nu na água, retirou-o gotejando e o lambeu. - Água pura. Quero dizer, tem uma alta concentração de algas verdes, comum em situações como essa, longe de luz estelar. Nada diferente das concentrações de algas verdes em qualquer planeta que já visitei. Mas ainda assim inofensiva, embora não deva ser saudável bebê-la em quantidade.

- Ainda assim da próxima vez examine a água antes de experimentar! - Repreendeu Lunis num tom um tanto irritado. Dalmana interveio. - Ela não é uma dobuk comum. É genônica, possui olfato e paladar altamente sensíveis e especializados. É mais eficiente que os sensores químicos que me forneceram.

Lunis não parecia nada convencida, então olhou com mais atenção para a água e expandiu sua percepção até ver o campo vital. De fato, nada parecia haver na água que oferecesse risco imediato, mas mal ela comunicou isso a seus amigos e sentiu um abalo perceptivo ainda mais forte do que antes. Quase um choque. Olharam para ela, mas ela preferiu disfarçar, enquanto pensava o que poderia ter ocorrido. Era como se houvesse alguma coisa na água, distante.

- Qual a profundidade disso? - Ela perguntou. Dalmana lançou uma pequenina esfera na água que desapareceu quase instantaneamente mesmo emitindo uma intensa luz branca. E então se virou para suas companheiras. - Logo saberemos.

- De acordo com os dados que recebemos... - Começou a dobuk. - O ZIG veio caindo nessa direção. Se não foi desviado tem que estar nessa área. Como não há sinal dele aqui em volta... Desconfio que deva ter afundado aqui.

- Concordo. - Completou Dalmana. - Ele foi envolvido numa grossa esfera protetora e programado para só se ativar e rompê-la após parar de cair. Como bateu na água, continuou caindo.

- O que nos leva a crer que isso deve ser bem fundo. - Concluiu Lunis. Ao que o andróide respondeu. - Só até agora a sonda já conta 120m. Melhor transmitir mais um relatório.

Apesar de uma constante transferência de dados por via gravitacional, acharam melhor enviar outro relato mais organizado, visto que as falhas de comunicação eram inevitáveis e que a comunicação telepática de Lunis com Velek também estava prejudicada. Porém, foram surpreendidos pelo som de algo caindo na água e quando olharam viram a dobuk sumir nas profundezas.

- Mas o quê ela está fazendo?! - Irritou-se a seilan. Mas logo em seguida Viuik saltou para fora da água. - É segura! Posso respirar tranquilamente nessa água!

Lunis continuava olhando atônita para a atitude pouco prudente da dobuk, mas logo se apercebeu que era ela que parecia demasiado tensa. Então Dalmana exclamou. - Pela Deusa-Mãe Xantai... Já está a mais de um km de profundidade! Não pensei que seria tão fundo! E agora está caindo ainda mais rápido. Muito mais rápido!

Lunis hesitou, pensativa. - "Xantai? Um andróide que acredita em Xantai?!" - Mas logo voltou a se concentrar no que Dalmana apontava. Da superfície até cerca de 300m de profundidade havia água quase pura, mas a partir daí até cerca de 900m havia uma densa camada de um tipo de lodo viscoso, que retardou a queda da sonda. Daí para o fundo, porém, a água voltava a ser mais pura, e a sonda agora despencava para o fundo já chegando a quase 2km de profundidade.

- Isso só pode significar uma coisa. - Disse o antróide, e a dobuk logo adivinhou. - Há um mar subterrâneo, como alguns dos geólogos haviam desconfiado.

- Sim. Concordou Dalmana. - Foi possível notar que a relação entre o tamanho e a gravidade do planeta exigia uma certa densidade, no entanto a análise do solo por toda a superfície revelou uma crosta rochosa muito mais densa do que se esperava.

- Então abaixo desta crosta, deve haver uma faixa de menor densidade. - Completou Lunis

De fato essa era uma hipótese levantada por parte dos cientistas da Pastor-6, o problema é que a densidade do solo era tal, além do fato de conter vastas quantidades de ferro, níquel e urânio, que inviabilizava que os sensores fossem muito mais longe do que cerca de 40km abaixo com precisão.

- Então talvez o ZIG esteja ativo, mas suas mensagens não chegam devido ao bloqueio da litosfera. - Sugeriu Lunis, no que os outros concordaram, principalmente ao ver a sonda acusar quase 4km de profundidade.

- Vou examinar essa camada de lodo. - Disse Viuik logo se atirando na água. Lunis Olhou para o antróide com olhar indagador, e então se deu conta de que em momento algum havia sido designado um chefe daquela expedição. Era um mau hábito de Madre-Terra não especificar os líderes e deixar o grupo se dirigir espontaneamente, mas agora a seilan sentia que isso era cada vez mais impraticável.

- Não creio haver motivo para apreensão. - Disse Dalmana. - Acredito que esta dobuk genônica seja capaz de suportar profundidades de até uns 2km, pelo menos.

Lunis aproveitou então para tocar noutro assunto. - Ouvi você falar em Xantai. Antróides acreditam em deuses?

Dalmana fez um certo suspense, com um discreto e insistente sorriso. - Acredito que o Universo deve ter um princípio. Uma causa além de si próprio. Creio que Xantai seja essa causa.

- Nunca esperei que antróides pudessem pensar desta forma analítica e chegar a posições subjetivas.

- Não somos meros computadores. Somos humanos. Artificiais, mas humanos!

- Mas suas habilidades racionais expandidas deveriam inibir sua intuição mística.

- Não necessariamente. Você também não acredita numa deusa?

- ...SEILA tem muitas deusas. SEILENIA LUNAX, deusa da luz, SAMARA LAKSI, deusa da gravidade, DRAKI SILA ZEA, deusa maligna do fogo... Mas a elite sacerdotal tem uma visão mais impessoal do universo.

- Sim. Vocês acreditam numa força primordial, chamada SAAM.

- Basicamente. Mas SAAM não é um nome, é apenas um suave sopro vibratório, que representa nossa incapacidade de nomear o princípio básico de tudo.

- Ah... O velho mito do inominável?

- Ou o conceito imbatível de incognoscível. Como podemos dar nome, e características, àquilo que, por definição, não deveríamos ser capazes de entender?

- Compreendo. Mas Xantai não é um princípio incognoscível. É um ser pessoal, mutável, dinâmico. Ela evolui, como todos nós, aprende, se aperfeiçoa, se espelhando no universo que ela própria criou.

- Sim, já li sobre isso. Madre-Terra parece ter passado 3 milênios se apegando a idéia de um Ser Supremo Perfeito, curiosamente masculino, que seria eterno e autosuficiente, mas que, curiosa e inexplicavelmente, criara um universo imperfeito!

- Superar essa insustentável contradição foi um dos passos mais importante do Xantaísmo. Aceitar a imperfeição evolutiva da Deusa, aceitá-la como Deusa! Como Mãe! Foi algo que ajudou a elevar a civilização madre-terrestre à Era Dourada.

- Curioso é que enquanto o deus era masculino, era perfeito, quando passou a ser feminino, se tornou imperfeito.

- Pela não necessidade de declarar presunçosamente a absurda perfeição.

- Bem, de qualquer modo fico feliz que haja esta...

Foi interrompida pela Dobuk, que emergira subitamente da água com uma expressão empolgada. - É incrível! A água é totalmente estéril até a camada de lodo, que por sua vez é rica em proteínas. Mas abaixo dela, a vida explode em uma riqueza fantástica! Há milhares de criaturas luminosas, umas belas, outras horríveis. Mas todas fascinantes!

- Conseguiu atingir o mar subterrâneo? - Perguntou o antróide. - Não. As paredes se prolongam para o fundo bem abaixo do onde atingi. Quase um km. Mas não creio que vão muito mais longe. O modo como a vida vai se diversificando sugere uma comunicação com uma ambiente bem mais amplo. Pretendo descer até mais fundo, mas preferi voltar logo e transmitirmos essas informações.

- Muito bem. - Disse a seilan, um tanto ainda pouco à vontade com a espontaneidade e quase irreverência da Dobuk. Realizaram a transmissão pelo sistema gravitacional, que enviou belas imagens de criaturas aquáticas luminosas, em geral brancas, mas algumas das mais diversas cores. Muita brilhavam de modo incrivelmente intenso, mesmo assim, não pareciam capazes de enfraquecer a tenebrosa escuridão que impressionara Lunis fazendo-a imaginar como seria possível que a Dobuk não se incomodasse.

As novas informações foram recebidas com entusiasmo na GENIUS. Apesar de algumas deficiência nas imagens, foi possível contemplar sobretudo o impressionante espetáculo de formas de vida luminosas, o que logo chamou a atenção dos cientistas Klumans, que eram familiarizados com criaturas luminiscentes.

A Terra-Filha KLUMA, para onde foram levados amplos contingentes populacionais originários do continente africano, mergulhava periodicamente em escuridão devido a intermitência de sua estrela, que se apagava temporariamente, as vezes por anos, embora continuasse a emitir calor e radiação. Isso levou ao desenvolvimento de uma formidável fauna e flora luminosas, das mais diversas cores, produzindo uma miríade de tintas naturais fosforescentes que os Klumans não demoraram a dominar.

Mesmo nos primórdios da civilização, quando os habitantes descendentes da Mãe-Terra ainda não eram muito diferentes de seus ascendentes terrestres, as tribos aprenderam a se pintar com as tintas luminosas típicas facilmente encontradas no planeta, mesmo nas épocas em que a estrela brilhava com força tão intensa, que provavelmente causaria câncer de pele em qualquer pessoa de cútis clara. Esse fora, provavelmente, o motivo pelo qual os extraterrestres selecionaram populações africanas para povoar o planeta.

A medida que a civilização evoluiu, se tornando uma das mais avançadas da galáxia, muitos hábitos mudaram, mas os motivos luminosos nas roupas dos klumans permaneceram. Irig se vestia com um traje colante de aparência metálica cruzado por diversas linhas e detalhes luminosos em intenso magenta, que era a cor utilizada em geral pelos homens. Por sua vez sua irmã, em parte também "esposa", Cemilion, usava numa roupa similar faixas luminosas amarelas.

Não demoraram a ficar intrigados com aquela curiosa biodiversidade. Algumas criaturas pareciam emitir muito mais luz do que deveriam, devendo possuir fontes de energia biológica notáveis. Não fora encontrado nada parecido na superfície do planeta, o que seria de se esperar visto que foi exatamente a escuridão que levou KLUMA a desenvolver a biosfera luminosa. Os klumans se lançaram ávidos no estudo do fenômeno, e puderam esquecer a seilan.

SEILA e KLUMA tinham um passado terrível. KLUMA já fora dominada pelas seilans. Posteriormente, ao voltar a ser independente, viria a destruir diversas colônias seilans em outros pontos da galáxia. As seilans também foram especialmente hostis com klumans em qualquer lugar que os encontrassem. Somente a intervenção constante de Madre-Terra, e a ameaça de DAMIATE, impediram que as tensões degenerassem para uma guerra total de extermínio. Lamentavelmente, as questões étnicas, raciais, que haviam sido superadas há séculos na Mãe-Terra, ressurgiram no espaço com força devastadora.

Era bom poder esquecer isso por alguns momentos.

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES

Uma coisa curiosa sobre a história dinâmica da idéias, é que muitos defensores de uma postura específica costumam ficar mais à vontade com os defensores de uma postura totalmente oposta, do que com os que promovem posições neutras. Essas situações costumam ser simples de entender. Quando se tem forte convicção de uma visão de mundo, e encontra-se uma visão oposta também fortemente convicta, e ambas são obrigadas de alguma forma a conviver e se tolerar mutuamente, fica explícita então uma situação de que tentar convencer o ponto de vista oposto é uma batalha perdida, e a previsibilidade da situação acaba se tornando pacífica.

Mas quando se descobre uma terceira posição mais próxima, que poderia, em tese, ser mais facilmente convertida, mas que no entanto insiste em se manter neutra, pode haver então uma estranha sensação de desespero e decepção, pois aqueles potenciais futuros aliados se tornam extremamente irritantes por permanecer "em cima do muro".

Isso explica porque posturas neutras, céticas e sintéticas não costumam ser numericamente populares como as posturas radicais e extremistas. Durante muito tempo, a galáxia ficou dividida num debate a respeito da estrutura do universo. Parecia ponto pacífico que tudo o que existia era constituído de uma única substância fundamental, que quase todos chamam de Menton. Também era largamente aceito que no entanto, tal substância assumia duas manifestações fundamentais distintas: Material, e Mental.

Então, todos aceitavam um dualismo de propriedades, onde existe o mundo material, mas também um mundo mental, onde ocorre a consciência, a inteligência, as emoções superiores, os domínios mentais independentes, como o plano astral, e por onde se entende a natureza dos poderes Metanaturais.

Mas toda essa concordância cai por terra quando se coloca a questão de, o quê precede o quê. Foi o Plano Mental que criou o mundo físico, ou do mundo físico emergiu um Plano Mental?

De um modo simplificado, isso poderia resumir a inconciliável diferença filosófica entre SEILA e ZENITRON, que embora, como civilizações, jamais tenham se relacionado diretamente, como sistemas de pensamento se defrontaram homericamente por séculos.

Madre-Terra tinha representantes de ambas as linhas de pensamento. Os Xantaístas evidentemente estão de acordo com SEILA no que se refere a o quê é primordial. Para eles, de um plano mental original, quer seja SAAM ou Xantai, foi gerado o plano físico. Mas a filosofia Zenitron também é forte na Terra, lembrando o velho materialismo da virada do século XX porém com um grau de sofisticação incomensuravelmente maior.

KLUMA, no entanto, era neutra. Algo raro, tal qual a terceira via de pensamento de DAMIATE, que verdade seja dita, quase não é compreensível para a maioria dos antropônicos. Isso decorria, sobretudo, da coisa mais notável que se pode dizer sobre KLUMA, a existência de O LIVRO.

Quando foram deixadas em seu novo mundo, as tribos africanas de origem terrestre também receberam O LIVRO. Curiosamente, nenhuma destas tribos tinha escrita, e portanto, aprenderam-na nas páginas de O LIVRO, que era um compêndio estupendo de ciência, metafísica, ética e futurologia.

Conhecimentos que os klumans demoraram milênios para dominar já estavam previstos em O LIVRO, acontecimentos que foram preditos dezenas de séculos antes também, bem como diretrizes éticas, sociais e políticas avançadíssimas, que garantiram a KLUMA uma das sociedades mais notáveis da galáxia. Enfim, O LIVRO de KLUMA é tudo o que os cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e sikhs gostariam que seus livros sagrados o fossem.

É claro que O LIVRO foi escrito por uma civilização ancestral com conhecimentos compatíveis à sua capacidade de se deslocar no Hiperespaço, e então foi legado a sociedades primitivas que ainda não conheciam sequer a roda. Evidentemente, durante muito tempo O LIVRO não foi aceito por muitas tribos, sendo até mesmo perseguido, mas sua capacidade de prever com exatidão quando exatamente a estrela de KLUMA iria se apagar, e por quanto tempo, bem como antever eventos astrofísicos como passagem de cometas e chuvas de meteoros, foram algumas das características que não demoraram a fazer com que fosse visto como uma obra divina, sendo então respeitado como tal.

Quando tomaram conhecimento de O LIVRO, as seilans ficaram muito impressionadas. Havia ali conhecimentos sobre a natureza que até agora são obscuros para os grandes cientistas. A parte que descrevia o universo físico, o fazia com uma precisão jamais sonhada por qualquer mentalidade pré-científica. No entanto, por mais que tenham tentado encontrar, O LIVRO não faria referência alguma a algo que pudesse ser comparado a SAAM, a matriz primordial que, segundo as seilans, dava origem a tudo.

Não que o livro fosse materialista. Ele de fato até pareceria à primeira vista, mas uma abordagem mais atenta mostrava que não havia qualquer aprofundamento, ou posicionamento sobre a precedência da matéria ou da mente, ainda que em geral O LIVRO pareça bem mais compatível a um posicionamento materialista, ou melhor dizendo, fisicalista.

Com tantas e poderosas informações ali contidas, mas um total silêncio a respeito de um significado maior do UNIVERSO, algo também comum à filosofia ZENITRON, as seilans passaram a considerar O LIVRO como uma das maiores ameaças ao seu sistema de pensamento. De modo similar ao que o fundamentalismo religioso terrestre outrora declarou a ciência uma inimiga, por que acrescentava um vasto conhecimento à humanidade, mas não reforçava suas convicções religiosas.

Para piorar, O LIVRO também pregava uma sociedade perfeitamente igualitária entre os sexos, com extremo equilíbrio de direitos e ajustes de deveres. SEILA, por outro lado, é uma sociedade total e completamente Ginocrática. Sem exceção, todas as posições de poder estão com as mulheres. A grande maioria das metanaturais são mulheres, praticamente todas as Supermetanaturais também, e inequivocamente todas as Hipermetas. Isso estava de acordo com sua visão religiosa de universo.

Ao contrário do que muitos pensam, etnias nunca se hostilizaram devido a diferenças de aparência física, a começar por cor de pele. O que causa os embates étnicos é a diferença cultural, de pensamento, de religião, que são, então, confundidas com posições inferiores, quando não correspondem as expectativas de uma cultura específica, que então, numa hipersimplificação destrutiva, resume tudo a uma mera questão de "cor".

As Seilans não se consideram fisicamente brancas. Elas são brancas em sua filosofia, em sua mística, dita luminosa, feiticeiras de luz, que costuma misturar o aspecto literal de luminosidade com os aspectos simbólicos de superioridade moral e elevação espiritual. Mas fisicamente, elas se definem como amarelas, visto que em sua maioria são loiras, havendo uma parcela menor de ruivas e uma bem menor de morenas claras.

Mas a segregação social também está presente na própria SEILA. Embora todas as cidadãs tenham direitos e deveres iguais, os cargos de poder estão praticamente todos nas mãos das arianas loiras, principalmente porque as ruivas e as morenas são em geral descendentes de subetnias ancestrais com peculiaridades culturais distintas.

Kluma, por sua vez, gerou uma notável variedade de sub etnias de pele escura, mas sem qualquer privilégio específico, embora haja, é claro, nichos culturais típicos. Mas a diferença entre qualquer kluman e qualquer seilan é flagrante.

Temendo o poderio tecnológico de KLUMA, as próprias seilans admitem que deram início às hostilidades em uma relação que foi brevemente promissora. Apesar da questão étnica, klumans e seilans ainda são antropônicos, pertencem à mesma espécie, e podem se misturar.

Tentativas de reinterpretar O LIVRO não deram resultado, e então procuraram banir todo o conteúdo desinteressante, até por fim descobrir que só seria possível rejeitar o conteúdo em total. O LIVRO passou a ser proibido em SEILA e em todas as suas colônias, e aos poucos as feiticeiras seilans foram dominando as lideranças kluman, que sendo humanos são totalmente vulneráveis ao seus irresistíveis poderes de sedução, especialmente os homens.

Durante muito tempo as mulheres klumans lideraram a resistência, até se instalar um clima de hostilidade generalizada. Foram essas líderes kluman que construíram as precursoras das Espadas Espaciais. Como a tripulação sempre era vulnerável ao encanto sereiano das feiticeiras, somente máquinas podiam fazer frente à aproximação de suas naves, porém durante muito tempo KLUMA ainda insistiu em construir naves automáticas com sistemas de inteligência artificial real, que sempre, de um modo ou de outro, desenvolvem algum tipo de mente.

Ocorre que, se há uma mente, ela é vulnerável à telepatia, o que permitia às feiticeiras neutralizar a tecnologia superior das naves automáticas klumans com ataques telepáticos.

Foi Madre-Terra que desenvolveu a alternativa inevitável. Naves de combate automatizadas sem inteligência artificial, usando somente computação pura, bruta, baseada em supercomputadores poderosíssimos que os engenheiros do século XXI jamais puderam contemplar. Processadores holográficos descomunais, programas de complexidade lógica inacreditáveis, memórias quânticas vastíssimas permitiram que sistemas de puro cálculo conseguissem tomar decisões complexas a ponto de se sair bem contra inteligências humanas.

As Espadas Espaciais madre-terrestres são então invulneráveis à telepatia, e totalmente insensíveis a qualquer investida das feiticeiras. Com elas Mãe-Terra impediu que a poderosa cultura de KLUMA sucumbisse ante o devorador domínio matriarcal das Seilans.

Após se libertar da dominação seilan, KLUMA não foi condescendente, perseguiu e baniu seilans de todos os seus domínios. Expulsas, as seilans se vingaram de modo ainda mais terrível. Muitos do que foram antes seduzidos foram abandonados e rejeitados. E ser seduzido e rejeitado por uma feitceira seilan é algo que faz qualquer homem se matar, e ou promover uma destruição digna de DAMIATE.

O ressentimento se agravou tanto, que se relações íntimas de seilans com outros antropônicos não seilans, em especial miscigenações, eram em geral apenas um desvio social constrangedor, relações com klumans passaram as ser crimes puníveis com a pior punição seilan, o exílio. E todos os descendentes desta mistura deveriam ser sistematicamente caçados e eliminados.

SEILA possui orgulho de seu patrimônio genético, e de fato os humanos seilan possuem uma bagagem genética invejável. Há milênios erradicaram qualquer tipo de doença ou imperfeição física, são fisicamente muito vigorosos e possuem corpos perfeitos para o desenvolvimento de metanaturalidade. Portanto, permitir que estas linhagens se misturem com outras linhagens passou a ser considerado equivalente a revelar segredos estratégicos. Se misturar com klumans, passou então a ser visto não só como traição, mas como roubo de patrimônio que posteriormente poderia ser usado contra SEILA.

Embora o metabolismo kluman também seja avantajado, é notório que a metanaturalidade é escassa, por isso, as seilans consideraram legítimo que qualquer material genético seilan que fosse encontrado em klumans devesse ser destruído, e em parte tinham um bom motivo para isso. Nesta época, estavam em plena desavença com DAMIATE, que vinha destruindo qualquer civilização que o impedisse de manter o contigente populacional humano galáctico proporcionalmente mínimo com potencial de desenvolver a superhumanidade. Para SEILA, a manutenção de seus contingentes metanaturais contra os poucos mas poderosos Hipermetas de DAMIATE se assomava como vital para a sobrevivência.

Por fim, somente após a trégua definida por Madre-Terra, as diversas outras terras-filhas, o pouco que ainda restava da Hexaliança, KLUMA, SEILA e DAMIATE decidiram cessar todas as hostilidades. Vale lembrar que DAMIATE sempre teve boas relações com KLUMA, embora nem sempre os tivesse exatamente como aliados factuais. Todas as partes cederam. KLUMA abdicou de sua perpétua vingança, SEILA deteve seu expansionismo e DAMIATE suspendeu seus planos de transformar a galáxia e produzir condições de desenvolver em massa a superhumanidade, resultando o período de trégua que já vinha durando 300 anos, e que, embora tivesse ocasionais escaramuças, evitava o clima de hostilidade generalizada.

Estava proibido a DAMIATE abandonar o sistema estelar ao qual se recolheu, nos confins da galáxia, e a SEILA e KLUMA qualquer retaliação mútua declarada. Essas instruções, evidentemente, se aplicavam a todos os seus cidadãos, em qualquer lugar, mas evidentemente não evitavam o constrangimento. Hospedar seilans e klumans num mesmo estabelecimento sempre foi visto como algo no mínimo incômodo.

Que Irig e Cemilion tivessem em Lunis sua antagonista natural, não era de se estranhar.

NAS PROFUNDEZAS

Apesar da similaridade, a metafísica Seilan e a Xantaísta possuem muito o que debater. Era o que agora entretia Lunis e Dalmana, enquanto esperavam Viuik retornar de outro mergulho nas profundezas, e depois que a homogeneidade e tensão da cidade fantasma arrefeceram a curiosidade e a empolgação inicial.

- Essa é a vertente Neutralista, que prega que Xantai é um ser neutro, mas deve ser visto como feminino por uma questão de adequação histórica e científica.

- E não é a versão predominante?

- De modo algum. A versão Feminista é muito mais comum em Madre-Terra, afirmando que a divindade é sim um ser feminino. Já em SOFISTIA, e suas colônias adjacentes, a versão Trinitarista, que é a minha favorita, é mais difundida.

- Que é A versão que mais se aproxima de nossa idéia de divindade. SAAM não tem gênero, evidentemente, mas possui manifestações feminina e masculina.

- Ah, sim. SAMBA é a força masculina, SAMLA a feminina, e estranhamente, SAMLA deve dominar.

- Não é estranho. SAMBA é uma força incontrolável, destrói tudo se não for contida. Só o domínio de SAMLA pode acalmá-la e torná-la canalizada para algo construtivo. Entenda, Dalmana, que podem dizer o que quiser de SEILA. Mas nós já não tínhamos pobreza, criminalidade e nem convulsões em nossa sociedade milhares de anos antes de Madre-Terra sequer reconhecer direitos humanos fundamentais.

- Certamente. E esse extraordinário grau de estabilidade só pode ser obtido mediante a ginocracia matriarcal das feiticeiras?

- Temos forte evidência em nosso favor. A última vez que houve um exílio em SEILA, que é a mais grave punição para uma cidadã, foi antes de meu nascimento. Madre-Terra pode dizer algo similar? Ou SOFISTIA? KLUMA? DOLFUS? EKZANDRIA?

- Não. De certo que não. Mas isso, é claro, não resume o supra sumo da condição humana.

Lunis acabava de se dar conta que estava gostando muito de conversar com o antróide, e rapidamente concluiu o porquê. Não só sua aparência era masculina, mas ele simulava praticamente todas as características de um homem real. No entanto, não era vulnerável ao encanto involuntário de uma feiticeira, e se mantinha todo o tempo sóbrio, controlado, capaz de ser dono de seus atos mais sutis.

Ela jamais dialogara de igual para igual com um homem, mesmo que não fosse seilan, pois eles sempre ficavam terrivelmente perturbados com ela, tendendo a uma submissão espontânea, lutando para se controlar. Percebeu então que aquilo era muito satisfatório, e aliviava a tensão daquele sinistro local.

- Boa parte do potencial criativo humano provém de algum grau de tensão, de um nível mínimo de caos. A transformação, que é atributo fundamental de SAMBA, fica diminuída sob as condições estabilizantes de uma supremacia quase total do feminino. Não é a toa que a tecnologia SEILA praticamente não evoluiu desde que temos notícia.

- E ela precisava evoluir? Há situações onde a estagnação pode... Ser... Mais...

Por um instante a seilan fraquejou, como se sentisse uma vertigem, então se recompôs, mas não disfarçou uma expressão de forte apreensão.

- O que houve?

- Eu... Estive tentando me convencer de que só estava tendo alguns estresses telepáticos mas... Definitivamente, tem algo neste planeta.

- Algo? Mentes poderosas?

- Difícil dizer... A dobuk... Ela já não deveria ter voltado?

- Tem razão. Está demorando muito.

Se aproximaram do espelho d'água, cuja reflexão era curiosamente forte considerando o grau de escurecimento da superfície. Dalmana rastreou transmissões, mas Viuik nada tinha enviado, e também não respondia. Lunis ampliou ainda mais sua telepatia.

- Tem algo errado. Não sinto a mente dela! Não está em lugar algum. É como se tivesse adormecido.

- Algo grave pode ter ocorrido?

- Creio que não. Eu teria sentido. Mas ela simplesmente apagou. Deve ter desmaiado.

- Meus sensores dizem que ela está a cerca de, 2km de profundidade!

Ela havia passado do limite previsto. Alguma coisa devia ter acontecido. Comunicaram o fato à GENIUS, mas não obtiveram resposta, e como agravante, a comunicação telepática com Velek se tornara quase impossível. Após uma breve deliberação, a feiticeira tomou uma desagradável decisão.

- Eu vou descer. Tenho que trazê-la de volta!

Após uma hesitante pausa, Dalmana comentou. - Eu posso ir com você?

- Um tanto imprudente, não? Se algo me acontecer, você deveria estar na retaguarda.

- Não creio ter condições de submergir neste meio aquático com a sua eficiência. Creio poder ajudar mais se formos juntos.

A seilan levou em consideração, mas logo após recusou a proposta. - Entenda, tenho que ter soberania na decisão de como irei proceder essa abordagem com meus próprios recursos, minha decisão é não. - O andróide não insistiu, mesmo porque, contrastando com o tom amável com que já se acostumara por parte da seilan, ela agora relevara um tom bastante autoritário. Com um toque em seu cinto, Lunis desencadeou uma emissão gasosa e luminosa sutil que a envolveu suavemente a medida que foi levitando, até estar totalmente no interior de uma bolha de aparência vítrea. Ele sobrevoou por alguns instantes o espelho d'água, e após um tempo de observação, mergulhou.

Por um instante, ela própria se impressionou com sua disposição. Mergulhar naquela densa escuridão era algo extremamente desagradável para qualquer seilan, quase fóbico. Elas eram acostumadas à luz. Cresciam num ambiente repleto de iluminação, a ponto de sua visão ser menos sensível, o que era compensado por suas percepções metanaturais. A idéia de escuridão era sempre associada em medo, ao desespero, à tristeza, de modo ainda mais intenso do que nas culturas terrestres ancestrais, embora, deve-se lembrar, não tivesse a mesma conotação essencial de 'mal'.

Mesmo assim, logo que o ínfimo resquício de luz natural se extinguiu, a poucos metros de profundidade, a seilan se viu como que desafiando o próprio terror, mergulhando num umbral que parecia conduzir a um inferno sombrio. A luz que ela emanava, tanto da própria bolha, quanto de cristais, acessórios, roupas e de sua própria aura, parecia ser rapidamente engolida por uma escuridão que sugava a luminância, como se a neutralizasse.

Ela se aproximou da parede, e pode notar sua superfície rugosa deslizar para cima a medida que os fachos luminosos a interceptavam. Chamava a atenção o fato de ser uma textura bem homogênea e limpa, como se o lodo esverdeado não fosse capaz de nela se afixar. Não havia também qualquer linha que sugerisse partes encaixadas, mas sim uma continuidade interminável, como se toda a peça, de kms de extensão, fosse inteiriça.

Mas isso era o que menos capturava seus sentidos, e sim o tenebroso silêncio, e notória escuridão sufocante do ambiente. Só de imaginar perder a proteção da bolha e se ver diretamente em contato com aquela água, era de causar um calafrio congelante. Por instantes ela se envergonhou de se sentir tão vulnerável, como não convinha a uma feiticeira-guerreira seilan.

Se a dobuk podia enfrentar aquele desafio, era obrigação de uma seilan fazer muito melhor. E quando a sensação desagradável foi sendo superada, subitamente, ela começou a sentir a presença de formas de vida, inferiores, mas ainda assim vida. E logo, para sua surpresa, a escuridão arrefeceu, e ela se viu imersa em um universo de entidades luminosas.

Havia superado a imensa camada de algas lodosas, e por instantes, ela ficou maravilhada. Eram legiões de seres brilhantes, em sua maioria transparentes, e de diversos tamanhos, embora nenhum se aproximasse a sequer metade do tamanho de um corpo antropônico médio. Também não aparentavam ser perigosos ou ameaçadores, pelo contrário, apesar de suas formas simples, a maioria tinha um aspecto amistoso.

Ela permitiu-se distrair um pouco, logo após verificar que já estava a quase 1 km de profundidade. Comunicou-se então com o antróide, informando-lhe do que contemplava, a sua versão das imagens que haviam visto antes na gravação da dobuk. As criaturas, de diversos tons de azul, ciano ou branco, em alguns casos amarelo, se desviavam despreocupadamente do avanço da bolha, e não demonstravam qualquer interesse por aquela aparentemente estranha criatura esférica. Lunis tinha consciência de que era perfeitamente visível a qualquer ser que tivesse aparato óptico similar, de certo, aqueles seres podiam detectar luz, e assim, percebê-la. Mas pareciam desconhecer qualquer perigo.

Lunis diminuiu a velocidade assim que percebeu que as paredes estavam se tornando menos lisas, e apresentando cada vez mais saliências, se tornando cada vez mais próximas a estruturas naturais, até que simplesmente desapareceram.

Ela acabara de entrar num espaço aberto, com um imenso orifício acima que se destacava num vasto teto rochoso. Agora, a concentração de seres luminosos era menor. Alguns solitários, e alguns cardumes, se espalhavam em pontos esporádicos. Os mais próximos do teto permitiam perceber os detalhes da rocha cavernosa, mas era impossível distinguir o fundo, ou os limites horizontais.

A vastidão do cenário a impressionou tanto que ela demorou a responder o comunicado de Dalmana, que ouviu, paciente, sua descrição hesitante sobre o que via. Então voltou a si, e se concentrou rastreando a dobuk. Não demorou a localizar uma impressão vital, porém, ofuscada por uma súbita inundação de formas de vida que pareciam estar longe de seu alcance visual.

Mais por intuição do que por dedução, começou a se mover lentamente numa direção, desafiando as partículas em suspensão naquele universo aquático. Sentia que a sua frente estavam formas de vida não luminosas, aparentemente quietas, o que poderia incluir a dobuk.

Um súbito aumento de apreensão a envolveu, fazendo-a se mover mais lentamente. Tanto intuitiva, quanto instintivamente, se aproximou do teto, que era a única coisa que poderia fazer o papel de uma base segura. Suas luzes foram revelando as estruturas rochosas e escuras, desta vez, de aparência totalmente natural.

Adiante, percebeu uma concentração de estalactites, e pensou ter visto alguma coisa não luminosa por lá. Ampliou sua percepção e rapidamente confirmou sua suspeita. Era Viuik, desacordada, flutuando inerte, amparada pelo teto, que não a permitia subir. Pela aura, não sofrera injúria física severa, mas parecia ter tido um choque emocional.

Sentiu novamente um arrepio quando adentrou uma "depressão" no teto, e a bolha parou rente ao corpo inconsciente. Embora Lunis não conhecesse muito sobre aquela anatomia, achava que o corpo estava intacto, salvo algumas aparentes escoriações na pele, de aparência estranha, provavelmente por estarem em baixo d'água. Mesmo assim, ela se sentiu muito preocupada. Tinha agora a nítida sensação de que caíra num tipo de armadilha, ou ao menos que fizera algo que algum desconhecido esperava que fizesse. O fato de aquele pequeno cercado rochoso impedir a visão ao seu redor só piorava o incômodo.

Procurou agir rápido. Tocou a superfície da bolha transparente e se concentrou, e esta ligeiramente se liquefez, permitindo que sua mão a atravessasse, embora sem permitir entrada de água. Foi um choque sentir a resistência da água diretamente sobre sua roupa protetora, e embora estivesse protegida da temperatura, tinha a impressão de que sentiu frio.

Apanhou o braço da dobuk, e a puxou lentamente para o interior da bolha. Era uma operação delicada. Bolhas como aquela eram projetadas principalmente para vôo atmosférico e espacial, e embora pudessem enfrentar aquela situação sem problemas, a seilan não estava acostumada a puxar alguém inconsciente de um meio externo tão mais denso. Foi preciso ampliar a área de liquefação da bolha, e o comprido corpo de Viuik foi sendo acomodado no interior, trazendo consigo uma inevitável quantidade de água que estava muito impregnada para ser filtrada pela repulsão da bolha.

Finalmente, com o corpo da companheira totalmente inserido, a bolha se enrijeceu totalmente, e insistentes gotículas de água permaneceram flutuando ao seu redor. Ela então desceu lentamente para sair daquele pequeno cercado.

E então, todos os seus sentidos, inclusive o sexto, sétimo ou qualquer outro, pareceram ser totalmente sobrecarregados por uma devastadora explosão sensorial.

E após serem forçados ao máximo, subitamente desligaram.

Marcus Valerio XR

A Invisibilidade é uma técnica extremamente desafiadora mesmo para as mais avançadas tecnologias e mais poderosos metanaturais. Embora haja muitas formas de gerar sistemas de camuflagem ópticas, produzindo distorções que conseguem tornar um objeto sólido visualmente sutil, conseguir atingir uma invisibilidade total continua sendo impossível para a maioria dessas tecnologias. Madre-Terra, SOFISTIA ou mesmo ZENITRON jamais conseguiram produzir uma tecnologia 100% eficiente de invisibilidade, embora possam gerar campos de distorção óptica bastante sofisticados, suficientes para uma invisibilidade parcial altamente eficiente, embora não total. A civilização que domina a invisibilidade mais avançada conhecida é SEILA, por meio de metanaturalidade. A maioria das supermetas seilans conseguem se tornar oticamente imperceptíveis para qualquer sistema que opere no espectro normal. Há no entanto outras formas de detecção, por meio de comprimentos de ondas acima ou abaixo do espectro visível. A quantidade de feiticeiras seilans que conseguem ser imperceptíveis mesmo para essas detecções mais amplas é mais restrita, mas ainda assim se conta na casa dos milhares. Uma quantidade bem menor é capaz de uma técnica ainda mais extrema, conseguindo esconder até mesmo a aura, o que aliado a um bloqueio telepático silencioso, permite total imperceptibilidade até mesmo para os mais sensíveis metanaturais. Em rivalidade às seilans, um único supermeta madre-terrestre conseguiu desenvolver uma técnica fabulosa e praticamente perfeita de invisibilidade, que impressiona as próprias seilans. Trata-se do supermeta de BEL-LAR conhecido como Traigon.

Idade Arcônica é o período histórico madre-terrestre referente a cerca de 17000 e 9000 AeC, o que inclui parte da Era Transicional. É caracterizada principalmente pela presença frequente de visitantes extra terrenos interferindo diretamente nos rumos do desenvolvimento nativo. A Aliança Hexagonal coordenava essas visitas de modo a não haver danos no desenvolvimento natural dos terrestres. Posteriormente, de cerca de 9000 até 0 AeC, essa atividade foi drasticamente reduzida, e tomou-se diversas medidas para remover evidências da presença extraterrestre. Depois, do ano 0 até 2040 DeC, imperou uma radical postura de não interferência, e toda e qualquer visita ostensiva foi total e definitivamente proibida, permitindo-se apenas incursões furtivas para estudos, e punindo severamente incursões não autorizadas.

A espécie senciente DOBUK é encontrada em diversos sistemas estelares, tal como a espécie Antropônica, porém, sua origem exata é desconhecida, havendo teorias radicalmente diversas sobre seu planeta original, que inclui o planeta NEPTUNIA, do lendário sistema SOLARNIA, e até mesmo o sistema SOL. Como seria de se esperar, é muito diversificada, mas seus representantes são principalmente caracterizados pela capacidade de respirar mais de uma substância (Grupo B e C, de acordo com a classificação da Hexaliança.), o que inclui no mínimo Oxigênio e Água. Sua constituição física sempre privilegia capacidade de deslocamento subaquático, e em alguns casos deslocamento aéreo. A maior parte dos Dobuks, no entanto, possui uma anatomia endomórfica, corpo volumoso e membros grossos.

XANTAI, além do nome de uma das 4 grandes Cidades Utópicas da Mãe-Terra, e originalmente o nome da Deusa Suprema da religião Xantaísta, que ocupa o primeiro lugar no número de adeptos entre os antropônicos espalhados pela Galáxia, embora se concentre evidentemente no planeta Mãe. Surge como uma religião organizada por volta do ano 2400 DeC (-860), no sudeste asiático, em especial na Índia, e em menos de um século se espalha por todo o globo. Trata-se do último estágio da tradição médio oriental, que inclui as religiões abraâmicas, mas transcendendo em muito as tradicionais religiões baseadas em livros, trazendo uma interpretação totalmente revolucionária, e tendo como uma das maiores fontes de sucesso a capacidade de prever com muita precisão os eventos que se sucederam logo após seu surgimento. Diferente de suas mais expressivas antecessoras, a religião xantaísta legou um código de comportamento que conseguiu eliminar qualquer possibilidade de justificar ações violentas, e graças a sua capacidade sincrética, foi um pilar decisivo na pacificação definitiva do planeta, que na época redescobria uma onda de violência religiosa e clima de Jihads que não se via desde o Período DAMIATE, que praticamente tinha extinto os conflitos entre grupos religiosos por meio do extermínio sistemático de populações religiosas e destruição ostensiva de locais sagrados, fazendo com que os conflitos do terceiro milênio se concentrassem exclusivamente em polaridades político ideológicas e econômicas. O Xantaísmo chegou a possuir poder político significativo em meados do Terceiro Milênio, o que acabou por polarizar o planeta em dois blocos, o Xantaísta e o não Xantaísta, se opondo de forma relativamente pacífica até a Terceira Guerra Celestial. Assim, o Xantaísmo tem papel central na constituição da Era Dourada, visto que seus predecessores são datados em 160 anos precedentes, visto que por volta de 2240 DEC estão registrados os primeiros textos, orações e poesias reconhecidamente xataístas, mas que tiveram baixa repercussão até que uma profetiza criança, conhecida como Xantania, se tornou famosa por seus poderes metanaturais e sua capacidade mental privilegiada, o que incluia o dom de prever eventos com grande precisão, bem como propor soluções de grande eficiência, chegando a ser indicada para altos cargos administrativos mesmo antes da puberdade, que, no entanto, jamais aceitou, se dedicando a pregar a nova religião até os 182 anos de idade. Apesar disso, o Xantaísmo não tem exatamente um livro sagrado, mas sim uma série de tratados filosóficos, em parte poéticos, que constituem um núcleo doutrinal suficientemente coeso para se manter estável pelas milhares de variações que apresentou ao redor do planeta, e para fora do planeta. Algumas dessas doutrinas nucleares são a característica feminina da divindade, quer seja essencial ou fenomênica, a sacralização dos impulsos vitais perfeitos, isto é, que não só se relacionam com a vitalidade imediata (alimentar, sexual, sensorial etc), mas com a vitalidade extendida (longevidade, saúde, perpetuação etc), e as múltiplias possibilidades de meta existência, que prega que após o falecimento do corpo, a mente pode ter os mais diversos destinos, se dissolver, se fechar num universo interno, permanecer no plano astral de forma estável ou mutável, ser puxada de volta para outra existência física, quer de forma reencarnatória ou por ressurreição. As possibilidades são classificadas em acordo a uma série critérios em sintonia com o estado mental e a viabilidade factual do plano físico em torno do qual o plano astral envolve. Evidentemente, o Xantaísmo prega um universo monista, Mentônico, mas com dualismo de manifestação, Mente e Matéria, sendo Mentalista, isto é, a Mente tem precedência sobre a Matéria.

Os Metanaturais são divididos em 3 grupos básicos, os Metas, os Super-Metas, e os Hiper-Metas, que estão em ordem crescente na escala de poder, e decrescente na escala de quantidade. Madre-Terra, por exemplo, tem cerca de milhares de metanaturais, dos quais cerca de 300 são Super Metas, embora destes, só uns 15% tenham poderes realmente efetivos para missões perigosas, combate ou ação de risco qualquer. Normalmente há somente um Hiper Meta na Mãe-Terra, embora já tenha havido muito mais. Alguns Super Metas, também, podem estar no limiar da Hiper Metanaturalidade. O que caracteriza principalmente um Hiper Meta, é a capacidade de manipular de forma profunda todas as forças naturais conhecidas, ou totalmente algumas delas, em especial, Gravidade, Eletromagnetismo, Forças Nucleares, Força Vital, "Força" Y (Espaço-Temporal), Força Mental pura, e outras. Todo Hipermeta é capaz de voar a velocidades atmosféricas limítrofes, isto é, até onde a resistência atmosférica permitir o vôo com consequências toleráveis. Também são capazes de voar no espaço, em velocidades indefinidas, embora certamente subluminais, exceto quando utilizem dispositivos de Indução de Hipervibração molecular. São capazes de descarregar doses de energia suficiente para gerarem raios nucleares, ou o equivalente, e produzem escudos mentônicos suficientemente potentes para suportar disparos de alta energia equivalentes.

São considerados 4 tipos básicos de HiperMetas antropônicos:

- - Anjos Estelares - -
Foram Criados por DAMIATE, durante o Período DAMIATE, em Madre-Terra por meio dos "Moduladores de Força Mentônica", uma tecnologia supostamente ZENITRON. São somente 12, que vão se renovando de tempos em tempos, quer devido a morrerem, ou cederem espontaneamente seus moduladores a outras pessoas originalmente normais, mas de características psicológicas muito especiais. No entanto, mesmo após se despojarem dos moduladores, é comum os ex-anjos ainda conservarem poderes que os permitam se manter no nível da Super Metanaturalidade. Por tradição, eles sempre usam nomes de estrelas. Os anjos posteriores são envoltos em mistérios, mas os 12 originais foram bem estudados. Provavelmente nenhum ainda vive, teriam quase dois mil anos, e eram, de acordo com o Espectro de Aura:
Branco-Ciano
TAU, SAIF, RIGEL, HADAR
e DENEB
Branco Puro
SIRIUS, SHERATAN e PROCION
Branco-Amarelo
HAMAL, ERIDANI
e CANOPUS
Branco e Vermelho ANTARES

- - - - RYs - - - -
Antróides fotosilicônicos desenvolvidos originalmente no sistema estelar de ORIZON, por volta de mil anos passados. Não se sabe ao certo a quantidade exata, mas ao todo foram provavelmente menos numerosos que os Anjos Estelares, e quase certamente imortais por causas naturais, embora alguns sejam dados como mortos por causas não naturais. São, segundo a ordem de criação:


RY-1 Haneander Orizon 5
RY-2 Doniander Orizon 5
RY-3 Luriander Orizon 5
RY-4 Sekiander Orizon 5
RY-5 Distroia Orizon 5
RY-6 Xisroia HaneDist
RY-7 Buneander HaneDist
RY-8 Seliroia / Seinel

Os que estão sublinhados são os únicos cujo paradeiro é conhecido, sabendo-se que estão vivos. Os em cor cinza, são dados como certamente mortos, e os demais, mais especificamente os RY-2 e RY-3, tem o paradeiro desconhecido. Há ao menos 3 relatos não confirmados de possíveis outros RYs, que provavelmente seriam de SEGUNDA GERAÇÃO, isto é, resultado de reprodução sexuada de RYs originais, isto é, de PRIMEIRA GERAÇÃO, que são criados a partir da fusão de matrizes mentônicas com estruturas genéticas zigóticas silicônicas por meio de colapsos de massa de alta intensidade, em geral no interior de planetas jovianos, comprimidos até o limiar do raio de Schwarschild, contrabalançados com disparos de Raio-Y para evitar o surgimento de um Buraco Negro. Dado ao altíssimo custo de produção, a dificílima engenharia necessária, e a quase ausência de cientistas qualificados para sua concepção, a criação de RYs de Primeira Geração é inviável para a quase totalidade da civilizações conhecidas. Já os de Segunda Geração dependem basicamente da disponibilidade reprodutiva de dois RYs de sexos opostos. Entre os mais recorrentes relatos existentes a respeito de outros RYs, estão um plausível RY-9, de sexo desconhecido, o improvável e misterioso RY-X, que seria filho da ainda mais improvável RY-0, tida como lendária exatamente porque seria, por definição, de Primeira Geração.

Feiticeiras-Guerreiras
Estima-se ao menos em 200 o número de feiticeiras seilans que sejam Hipermetas, ou estejam muito próximas do limiar da Hipermetanaturalidade, motivo pelo que SEILA é uma preocupação constante para as demais civilizações. Mesmo que os números fossem comparáveis aos demais grupos de hipermetas, isso ainda não garantiria o equilíbrio, pois embora fisicamente a maioria das Hipermetas Seilans sejam normalmente menos poderosas que os Anjos ou os RYs, elas poderiam derrotá-los não pela força, mas pelos irresistíveis encantos de atração sedutora, razão pela qual o trunfo das civilizações adversárias ainda reside em Espadas Espaciais ou em metanaturais de outras espécies, ou, inclusive, em outras feiticeiras-guerreiras de outras civilizações, de poderes equivalentes, que ocorrem em número significativamente menor.

- Outros Potenciais -
Neste grupo enquadram-se aqueles supermetas que estejam no limiar da Hipermetanaturalidade, e não possam ser enquadrados nos grupos anteriores. É um grupo quase teórico, uma vez que é difícil determinar exatamente se algum metanatural está de fato nesse nível. O perigoso Supermeta madre-terrestre conhecido como Kaosmos, é especialmente temido exatamente por aparentar estar nessa condição. Razão pela qual é constantemente mantido aprisionado, hibernando num estado de suspensão temporal, desde que foi detido por Zentaris, que é tido como o maior Hipermeta antropônico existente, e é da classe dos Anjos Estelares. Tendem a ser agrupados aqui quaisquer outros Hipermetas de ordem desconhecida.

Fora estes, há Hipermetas de outras espécies, como Metiats, Arios ou híbridos como Deomi-Zats, Bahamuts, Leviatans e outras criaturas por vezes tidas como monstruosas. DAMIATE não tem um classificação definida por não ser claro que tipo de metanaturalidade ele possui. Em geral é considerado um híbrido, com a raríssima capacidade de teletransporte, completamente imune ao poder sedutor das seilans e telepata de nível inclassificável, embora alto.

A Telepatia é um dos dons mais fundamentais da Metanaturalidade, embora possa se dar em níveis muito discretos. Tradicionalmente é entendida em 4 Tipos.
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Um Telepata de TIPO 4 é aquele capaz de "ouvir" pensamentos "orais", ou seja, do tipo que se "fala" mentalmente, e também capaz de transmitir pensamentos "falados" para um outro telepata, ou potencial telepata. Nesse caso, o inter domínio do idioma em que se pensa é determinante, pois tal nível de pensamento é considerado como Agregado Mentônico de Quarta Ordem.
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No TIPO 3 temos os telepatas que lidam com Intuições, Racionalizações Abstratas, e Intenções Cognitivas, Secundárias, que são Agregados Mentônicos de Terceira Ordem. Podem parcialmente ser afetados pelo idioma, de modo que um pleno aproveitamento da comunicação telepática pode exigir ao menos similaridade inter idiomática
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No TIPO 2 ocorrem aqueles que enviam e captam Agregados Mentônicos de Segunda Ordem, independentes da estrutura linguística idiomática. São estados mentais de base sensorial, como "imagens", "sons" e sensações em geral.
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Agregados Mentônicos de Primeira Ordem são as Intenções Primárias, puramente volitivas, bem como a própria Vontade em si. Assim, um telepata TIPO 1 lida diretamente com a Essência Mental Pessoal do invidívuo, permitindo inclusive alterar sua natureza intrínseca, ou compartilhando sua mais profunda interioridade.
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A comunicação de conteúdos emocionais é comum aos Tipos 3 e 1, embora por vezes os demais tipos também permitam percepção de estados emocionais, embora de forma indireta. Não há exatamente uma hierarquia entre os tipos, exceto o Tipo 1, que evidentemente remete direto à fonte de todo fenômeno mental. Também é difícil especificar qual o tipo mais comum, embora o mais óbvio seja seguramente o Tipo 4. Principalmente porque esses Tipos costumam ocorrer misturados. É muito raro um Telepata Tipo 1 não possuir também telepatia de outros tipos, embora seja comum os Tipos 4 e 3 ocorrerem de modo isolado. Alguns telepatas são exclusivamente emocionais, possuindo uma condição que costuma ser denominada de Telempatia, que costuma ser uma mistura parcial de tipos 3 e 1. Além disso, é comum os telepatas possuírem níveis de captação e emissão diferentes, podendo ser, por exemplo, mais sensíveis à percepção dos conteúdos mentais alheios de que capazes de emitir seus próprios conteúdos, ou vice-versa. Cada Tipo pode ser dividido em 2 a 5 níveis, dependendo da tradição filosófica e viés científico, exceto o Tipo 1, que é tido como indivisível ou de mensuração impossível. Um Telepata Tipo 2, por exemplo, pode ter um Nível 3 de emissão de "imagens" mentais, mas 1 de captação de imagens. Conseguir o equilíbrio de níveis é uma das disciplinas mais tradicionais praticadas pelos telepatas. Enfim, a indução de estados sensoriais alheios à vontade do indivíduo é um dom complexo, sendo de Tipo 2 e Nível elevado. E normalmente proibido pelas legislações que regulamentam a atividade telepática.