AMEAÇAS
O alarme provocou um pulo em Taulin, que por um segundo se arrependeu de ter exigido que fosse estabelecido um para qualquer sinal de teleporte no interior da IANTIS. - É Ele! - Gritou um dos operadores, alertando
sobre a presença inesperada e não autorizada de DAMIATE.
- Onde!? - Perguntou o líder. - Nos aposentos da dobuk! - Respondeu o operador, enquanto Taulin corria porta afora de seu quarto, se ajeitando como podia rumo ao jardim interno da IANTIS,
e exigindo saber. - De onde ele veio? - Pensava na afirmação de Zentaris de que
DAMIATE só poderia se teleportar se sua nave estivesse relativamente próxima, e a Pastor-6 estava em alerta total
ante a aproximação de qualquer nave.
- Só agora percebemos senhor! A nave parece ter surgido do nada, e está entrando no hangar!
- Impeça-a!
- Não podemos! Algo se apoderou de nossos sistemas, provavelmente a mesma coisa que impediu que víssemos a aproximação
da nave! - " Luriander", pensou Taulin, mas nem teve tempo de
dizer, pois quando estava prestes a tomar o elevador acompanhado por dois robôs de combate, ouviu o operador novamente.
- E a frota seilan chegou! Isto é, a detectamos! Está desacelerando à cerca de 40 mil km/s diretamente rumo ao
Planeta Fantasma!
"Tudo de uma vez!" Pensou o líder, e por pensar em pensamentos, assim que saiu do elevador se encontrou com Velek, que nem precisou usar telepatia para dizer o que seu co-líder diria. - Justo agora que estávamos prestes a convencer os Klumans...
- Uma Espada Espacial está atirando contra as seilans!!! - Gritou o operador em visível desespero. Os dois líderes se entreolharam, Taulin quis saber onde estava Eli e
Filia, pelo comunicador, sugeriu que as outras espadas neutralizassem a ORORO, que ao disparar
contra as naves seilans podia consumar definitivamente o fim da trégua galáctica.
Então Eli se juntou aos líderes que rumavam para os aposentos da dobuk, de onde DAMIATE saía carregando-a nos braços e tranzendo alguns outros objetos. - Ele não pode se teleportar com ela, por isso precisa da nave para sair daqui. - Disse o híbrido cinzento. Eli, por sua vez, respondia à líder.
- Faz parte do programa principal das E.E.s enfrentar seilans, elas não irão considerar isso totalmente fora do
padrão a ponto de decidirem impedir a companheira! Mais fácil se juntarem à ela! Além do mais, se TARANIS neutralizar ORORO,
Luriander passará a controlar TARANIS, e se ZABURI neutralizar TARANIS, ele passará a controlar
ZABURI ou qualquer outra, assim por diante, até só restar uma!
- Vamos deixá-las destruir a frota seilan então? - Respondeu Filia, surpresa consigo mesmo por estar, naquele momento, defendendo as feiticeiras.
- Lorde Mestre DAMIATE!!! Pelo Universo!!! O que está fazendo!?!? - Gritou Taulin quando finalmente pode avistá-lo levando Viuik rumo a uma das torres que subiam até o eixo central do
mundo invertido. Foi solenemente ignorado, bem como também o foram os dois robôs de segurança que se aproximavam dele.
Enquanto isso, Velek estava tão quieto que por um instante Eli e
o líder esqueceram que ele estava ali.
- Não podemos deixar isso acontecer... Eli. Preciso que confirme minha ordem.
- Para quê?
- Robôs, detenham DAMIATE! Eli! Confirme! - Ordens de ataque naquela situação exigiam a confirmação de pelo menos uma outra pessoa responsável, os demais líderes ou os dirigentes secundários. Diante do silêncio,
Taulin repetiu, agastado, mas Eli...
- É... Senhor... Eu não quero estar envolvido num ataque direto contra DAMIATE.
Só então o líder se lembrou do outro líder ao seu lado. - Velek! - Mas esse continuava
em transe. - Filia! Preciso que confirme minha ordem!
- É... Tem certeza Taulin? - Enquanto isso, DAMIATE começava a subir a longa escada em espiral que o levaria ao eixo, visto que o elevador fora prontamente desativado. Os robôs o seguiam cautelosamente, aguardando instruções.
- Como podemos permitir que alguém sequestre passageiros de nossa frota!?!? - A líder hesitou, até que chegou ao local onde os outros líderes estavam contemplando a cena diretamente. DAMIATE subia a escadaria com paciência e traquilidade, mas notória ligeireza e elegância. Apesar de carregar mais de 80kg de peso, a cada passo a gravidade simulada diminuía, visto que quanto mais para o centro, menor a velocidade angular da rotação e menor a força centrífuga.
Quanto estava a meio caminho, finalmente a ordem foi confirmada, os robôs aceleraram o passo, mas de repente, dois técnicos que estavam flutuando no eixo central foram violentamente "empurrados" para fora do centro, em direções opostas. Era evidente o que aconteceria: A medida que fossem se aproximando do "solo" rotativo, seriam pegos gradativamente pela resistência do ar e postos em movimento, e seriam puxados rumo ao chão, a princípio lentamente, mas cada vez mais rápido, até um impacto que poderia ser fatal, visto que seria equivalente a não só atingir o solo na vertical em velocidade considerável, mas também em fazê-lo em movimento horizontal, como se tivessem sido arremessados de um avião em pleno vôo rasante.
Era uma situação raríssima de se ver, porque aqueles que ficavam flutuando no eixo central evidentemente não podiam cair, e mesmo que o fizessem, em geral isso aconteceria de forma tão lenta que havia tempo para outras providências, e havia chance até da queda não ser fatal. Mas eles foram arremessados bruscamente por uma força invisível, e os robôs de segurança não tiveram outra escolha a não ser cancelar o ataque e voar, com seus pequenos propulsores, cada qual em uma direção rumo aos técnicos que caíam, para salvá-los.
DAMIATE então chegou ao eixo central e graciosamente flutuou rumo ao hangar. Passou por algumas pessoas que foram instruídas por Taulin a fazer alguma coisa para detê-lo, mas nenhuma delas teve coragem. Os robôs acabavam de deixar os técnicos em segurança, mas mal retomaram a perseguição e outras duas pessoas foram empurradas.
- A frota seilan alterou o curso e está vindo em nossa direção! - Comunicou o operador. Era esperável. Ser atacado na
perpendicular deixa qualquer nave em posição mais vulnerável do que ser atacado frontalmente. Por isso as seilans, em apenas 3 naves, decidiram rumar para a frota formada pelas 6 naves da Pastor-6, E.E.s inclusas, e as 5 naves da frota Kluman, contando também suas E.E.s, que havia aguardado impacientemente qualquer notícia de Zentaris antes de se aproximar do Planeta Fantasma.
A primeira e menor nave seilan era uma escudeira. Já havia desviado um disparo nuclear que teria atingido em cheio as naves maiores, e talvez ainda aguentasse mais alguns disparos, cuja maioria era evitada pela micropremonição das feiticeiras. No entanto, a Espada Espacial subitamente parou de atirar, emergindo de seu estado anômalo e fazendo o típico relatório de sua disfunção. Ao mesmo tempo, a nave de DAMIATE deixava o hangar, abrindo à força de teletecnopatia as comportas da IANTIS.
Acelerando rumo ao Planeta Fantasma, a nave escapou incólume, enquanto as Espadas Espaciais agora precisavam se preocupar com a ameaça muito maior que vinha em sua direção. Estando a par da situação, os Klumans concordaram em não atacar enquanto a frota seilan avançava, transmitindo mensagem de desculpas e tentando explicar a situação. A resposta entretanto veio na forma de um raio que atingiu em cheio a E.E. que havia disparado, ORORO, que ficou avariada, à deriva, incapaz de contra atacar e dependendo agora de reparos.
As frotas já estavam a menos de um 1 milhão de kms uma da outra, o que seria vencido em cerca de 20 minutos a meia hora. Da segunda nave seilan, de tamanho médio, emergiram 4 minúsculos pontos de luz. Bolhas de cristal.
- As feiticeiras-guerreiras! - Disse Eli. - Mas estão em formação defensiva. Acho que só voltarão a atacar se dispararmos de novo.
- Continue transmitindo. - Disse Taulin enquanto todos se encontravam num mirante do cenário interno da IANTIS, em frente a um hemisfério holográfico que surgiu envolvendo um de seus lados. Então, em telepresença, as comandantes da frota Kluman surgiram como se tivessem adentrado aquela reunião em exótico cenário.
- Saudações Pastor-6. Estamos informadas da situação e recomendamos aguardar que elas façam contato. - Disse
Jalani, a comandante da frota, uma mulher alta, cuja forma voluptuosa era evidente sob a roupa colada com linhas luminosas amarelo alaranjadas. Seus olhos amendoados eram penetrantes e a pele escura perolada, como ônix
reluzente, lhe davam uma presença, no caso virtual, marcante.
- As seilans geralmente não usam sistemas eletromagnéticos de transmissão. - Disse Matua,
sua segunda comandante, que, ao contrário, era vigorosamente atlética, ligeiramente musculosa, com uma tez marrom suavemente dourada. - É provável que estejam surdas para tudo o que dissermos.
Finalmente Velek emergiu de seu transe. - Elas estão chegando...- E antes que qualquer um tivesse a chance de perguntar algo mais, notaram uma luz surgindo sobre o jardim da IANTIS.
Não era uma luz real. As câmeras, os robôs, os computadores, nada viam. Mas todos os seres senscientes viram. Uma feiticeira
em astral se manifestava a nível mental, de modo que até não metanaturais podiam "ver" com clareza. E o que "viam", com a visão da mente, era no mínimo esplendoroso e arrebatador.
É certo que Lunis era linda, mas aquela feiticeira que estava à frente deles era simplesmente divinal. Seus loiros cabelos flutuavam assim como suas vestes brancas, como se estivessem sob água invisível. Alguém poderia
achar que tal se devia ao fato de ser uma ilusão, mas quem conhecia, sabia que ao vivo seria ainda mais intensa a sensação de deslumbramento e quase espontânea tendência à submissão. Quando falou, sua voz sereiana era tão bela e sensual que chegava a doer, num encanto que não foi quebrado nem pelo tom autoritário e agressivo da voz.
- Exigimos saber por que nos atacaram!
Todos demoraram a reagir, o que não impressionou a feiticeira, que acostumada a essa reação, esperou pacientemente por alguns segundos. Quando Velek, o único não vulnerável à magia daquela presença, se preparou para falar,
Taulin se adiantou. - Não... Não atacamos! Aquela Espada Espacial agiu à nossa revelia, controlada pela nave do Lorde Mestre DAMIATE que acabou de sair de nossa frota e ruma para NOVITA-5.
- DAMIATE está neste sistema estelar?!?!
Taulin capitulou ante um olhar discreto de Velek, a pergunta era estranha, como se ela já soubesse e apenas quisesse uma explicação. Ou sabia, ou estaria para saber, pois a nave logo cruzaria com a frota delas a qualquer momento, certamente sentiriam sua presença. Mas o que mais preocupou o líder era o fato óbvio de que negar seria provavelmente interpretado como uma tentativa inútil de esconder a verdade, mas confirmar poderia ser muito pior, pois consumaria a quebra do Acordo Galáctico, e assim nada mais impediria as seilans de atacarem e dominarem, ou destruírem, as frotas de Madre-Terra e de KLUMA.
Nessa fração de segundo de reflexão, o líder da frota cedeu à possibilidade que no fundo não acreditava. - Não temos certeza! É possível que seja um clone.
- Um astroclone de DAMIATE não é estável num somaclone sem a presença da mente!
- Mas ele alegou que sua mente não está inteiramente aqui, e sim controlando o corpo remotamente de EXARIA!
Para a surpresa de todos, a feiticeira ficou surpresa, claramente pensativa, e então desapareceu, sem dizer nada. Foi inegável que todos respiraram mais fundo quando ela sumiu. E um incômodo silêncio se impôs de tal forma que alguém fez o gracejo sobre o temido e antigo supermeta Sailens, quebrando um pouco o clima de incômodo. Até que Velek falou.
- Acho que DAMIATE tem razão. A dobuk é a única que pode ajudar.
REVELAÇÃO NA ESCURIDÃO
Sabia que estava acordado, finalmente. Tateou o próprio corpo a procura de seus equipamentos, mas quase nada restara. A luz de sua roupa intensificou-se com o movimento, e não demorou a começar a distinguir o lugar em que se encontrava, uma sala escura rochosa, ciclópica, mais rústica do que os cenários virtuais que ele vira da Cidade Fantasma.
Um pouco longe, desacordada, notou Cemilion. A luz amarela da roupa quase apagada. Chegou perto dela e a agitou, ela se moveu o suficiente para fazer a luz dobrar de intensidade, e então acordou. - Ouh... O quê...
I... Irig? O que aconteceu. - Ela parecia mais desorientada do que ele.
- Não me lembro direito. Nossa nave caiu, saímos com o robô e entramos na caverna, então... Não sei. Minha cabeça dói.
- A minha também. E... O que é aquela luz ali?
- Ah... Eu estava prestes a ir verificar.
- Sei. Ai! Me dá uma mão. - Somente ao estar de pé e levar às mãos à cabeça, se deu conta do fato perturbador. -
Meu capacete!!! Sumiu!
- O quê?!?! Mas... O meu também! Não deveríamos ser capazes de respirar aqui. Não sem máscara!
- Tem alguma coisa... Errada. - Cemilion parecia ter dificuldade até mesmo para se manter de pé, mas decidiu que era melhor verificar a estranha luminosidade que vinha à frente, e que parecia se intensificar. Foram caminhando com cuidado até adentrar uma sala imensa, abobadada, com uma fonte de luz forte e indefinida do topo. Abaixo do cone de luz havia alguns pedestais. Três deles estavam adiantados, um quarto, maior, estava mais atrás, envolvido por outro cone de luz que parecia não vir de lugar algum.
Sentiram um súbito calafrio, como se um ar gelado tivesse soprado por eles, embora tudo estivesse tão imóvel que até mesmo o seu caminhar lento parecia escandalosamente frenético em relação a quietude do lugar, bem como sua respiração e batidas do coração pareciam inundar o silêncio da sala. Se aproximaram dos pedestais.
- Mas... Parecem...
- O LIVRO! - Irig avançou. A frente deles estavam os 3 volumes de O LIVRO de KLUMA, e mais adiante, dentro do cone de luz, algo indefinido. O coração dele bateu tão forte e rápido que por um instante chegou a doer. Seria o que pensava? Poderiam eles estar diante também da Quarta Revelação?
- Tem algo errado.- Disse Cemilion, começando a folhear as páginas duras, de pedra, do exemplar do Livro do Passado, também conhecido como Livro do Universo, ou da Natureza. - Há trechos faltando. - Irig se adiantou para examinar o Livro do Presente, ou dos Humanos, e confirmou que também havia trechos faltando, mas não apenas isso, pareciam estar estrategicamente posicionados, como se esperando ser preenchidos.
- Claro! Cemilion! É um teste! - E correu para o Livro do Futuro, o único que só possuía um nome. Pra sua sorte, o trecho que lhe interessava estava intacto. - Aqui diz claramente que a Quarta Revelação só será dada a quem tiver conhecimento do LIVRO, então provavelmente teremos que... Preencher esses trechos. Eu acho.
Só então ela notou que abaixo do livro havia uma pequenina caixa, de onde pôde retirar um pequeno bastão de pedra, com a ponta suavemente luminosa. - E acho que sei como. - Perceberam finalmente que aqueles exemplares eram feitos do mesmo material de O LIVRO original, uma rocha cristalina lisa e escura, como granito, onde estavam marcados os caracteres antigos sobre os quais a civilização kluman construiu toda sua escrita. Esses caracteres haviam sido feitos na forma de sulcos para que se pudesse depositar sobre eles uma camada de líquido luminoso, e após raspar o excesso, poderem ser lidos com clareza, mesmo no escuro.
Percorreram então as páginas do Livro do Universo e chegaram num dos trechos faltantes. Então foram relembrando o que sabiam sobre O LIVRO. Embora não fossem especialistas, conhecimento básicos de O LIVRO eram parte do ensino fundamental dos klumans, e Irig já havia sido um pesquisador mais interessado no tema, em sua juventude, antes de se decidir de vez pela biologia.
- O verso 28 é sobre a vinda dos ancestrais. Lembra? "Houve um tempo em que este mundo não possuía os humanos, então os grandes...", bem aí escreva "...antigos vieram de outros mundos distantes trazendo os primeiros humanos a habitar o mundo."
- Tem certeza?
- Sim!
- Está bem. "...de outros mundos..." e aqui é, ah, "primeiros humanos", claro! Muito bem. E aqui? No final?
- "...muitíssimo mais longe do que podem alcançar os olhos normais."
Cemilion então completou a lacuna, como o irmão sugerira. Não demoraram a preencher todos os pequenos trechos com espaços vazios. Era fácil localizá-los. Os capítulos de O LIVRO eram bem homogêneos em tamanho, promovendo uma luminosidade bem regular. Bastava se deter nas páginas mais escuras. Ao terminar, Irig preferiu não comentar a sorte que estavam tendo. Embora ele tivesse estudado os textos, não tinha tudo decorado, mas providencialmente todas as lacunas pareciam ter sido selecionadas dos capítulos que ele conhecia melhor.
Passaram então para O LIVRO DO PRESENTE, ou dos HUMANOS. Que era o tratado de ética e política que edificou a cultura Kluman.
Irig ficou apreensivo por ser exatamente o livro que ele conhecia menos, mas desta vez foi Cemilion que não demorou a notar a sorte.
- Que ótimo! Justo o capítulo que sempre mais me interessou. "Mas a diferença pode ser em quantos, ou em quais. Aquele que corre mais rápido que o outro, é certamente..." Eu lembro! "...melhor em quantidade..." de... como é mesmo? "...quantidade de velocidade!" Mas aquele que corre mais rápido não é melhor que..." Que o quê? O que fala? Não. Canta! "... que o que canta mais alto! Pois..." - Por um instante ela vacilou. Então relembrou a frase toda, desde o começo, e completou triunfante. - "Pois cada qual é diferente, e não podem ser comparados em suas quantidades!" É isso!
Satisfeita, passaram para o próximo capítulo, e notaram que, mais uma vez, pareciam ter sido selecionados para eles, especialmente para Cemilion, que sempre estudou mais a parte do livro que versava sobre as diferenças de gênero, e que pregava que embora houvesse superioridades quantitativas, não havia qualitativas entre homens e mulheres, o que justificava uma divisão de papéis de equivalência, e reprovava a dominação de um gênero pelo outro. Não a toa, eram as passagens que mais incomodavam as seilans, e por isso mesmo ela gostava de decorá-las.
Quando passaram para o LIVRO DO FUTURO, mais uma vez Irig tomou a liderança, pois lembrava com precisão a maior parte das passagens em falta, e as outras foram prontamente preenchidas por sua irmã e esposa. Mal puderam acreditar no que acontecia. Era como um sonho. Por vezes até tentavam acordar por conta própria, temerosos de serem acordados justo quando acreditassem por completo que estavam superando desafios que pareciam levar-lhes a um objetivo perseguido por sua civilização desde antes de conhecerem as outras civilizações antropônicas.
Quando finalmente o cone de luz que envolvia o quarto pedestal desapareceu, viram uma das coisas mais lindas que já puderam conceber.
ENCONTRO ASTRAL
A imensa nave esférica estava agora estacionada, a uma distância segura da frota Pastor-6 e da frota Kluman. Era como uma gigantesca pérola, ligeiramente esmeralda, de textura homogênea e sem qualquer emenda, janela ou saliência visível. Por dentro, porém, era muito diferente. As feiticeiras podiam ver com clareza o espaço estelar, e as outras naves companheiras, cujas estruturas variavam principalmente pela forma ovalada, e menor estatura.
Uma linda mulher loira caminhava a passos rápidos sob o teto cristalino. A nave era como um mini planeta, com gravidade artificial que atraía tudo para o centro, mas com a curvatura claramente notável. Todas estavam acostumadas a caminhar sem ter visão de alguém que estava a menos de uma centena de metros adiante, até que via seu corpo surgir aos poucos, de cima para baixo, a medida que avançava e diminuía a curvatura que as separava.
As duas feiticeiras então se cumprimentaram, e então mudaram de direção entrando por uma porta e juntando-se a um pequeno grupo de outras mulheres arianas que as esperavam. Uma delas, com vistosa aura de autoridade, anunciou para as outras.
- Nossa irmã, a Feiticeira-Guerreira Senhora Sanalunisim Krala Flexia, que está no Planeta Invisível, fez contato com nossa mensageira, e estamos prontas para recebê-la em forma astral, agora. Porém, lembrem-se, que ela não tem conhecimento de alguns detalhes de nossa operação, e que nós não temos conhecimento de alguns dos motivos que a levaram a abandonar nosso mundo e seguir para a Terra Ancestral. Ela sofreu investidas das entidades do planeta, e dos telepatas da frota, e sua situação é diplomaticamente delicada, estando sob risco de punição pelas leis da Terra Ancestral. Peço que sejam compreensivas, e que SAAM nos ilumine em nossa conferência.
As seilans eram extremamente ritualísticas, fizeram uma série de gestos sincronizados, reunidas em círculo, que pareciam ensaiados, e após um breve transe, relaxaram, e então uma imagem astral começou a se formar no meio do círculo. Para elas, a visão da mente era tão espontânea que praticamente não davam importância à diferença de uma imagem física e uma mental. E então, era como se à elas tivesse se juntado ninguém menos que Lunis.
A feiticeira se curvou num gesto profundamente respeitoso. - "Senhoras Sacerdotisas Mestras Lunaxias. Sou Sanalunisim Krala Flexia, a viajante que ruma para a Terra Ancestral, e venho irmanalmente à sua presença, sob a graça da deusa SEILENIA e sob a luz de SAAM, oferecer todo o meu conhecimento sobre a situação."
Finalmente Sanalunisim, Lunis, estava entre suas iguais. Todas eram tão radiantes e esplendidamente belas quanto ela. Na verdade, algumas eram mais, dentre as quais a loira mais alta e esbelta que estava à sua frente, cujos cabelos desciam numa curiosa espiral em torno do corpo quase até os joelhos, e que lhe dirigiu a palavra.
- Seja bem vinda irmã Lunaxia. Pela graça da deusa SEILENIA e sob a luz de SAAM. Eu sou a Sacerdotisa-Mestra
Dafinaia Zelana Xuni, líder dessa frota. E a primeira e mais importante pergunta que devo lhe fazer é: É verdadeiro que DAMIATE está neste Sistema Estelar?
- "É incerto senhora. Ele alega ser um astroclone num somaclone, harmonizados remotamente por uma projeção mental oriunda do sistema EXARIA."
As feiticeiras não puderam deixar de se entreolhar, algumas surpresas, outras francamente indignadas. Uma delas proclamou.
- Isso é impossível! Uma mente não pode se projetar numa distância de tal magnitude!
- O grau de estabilidade mental... - Iniciou outra feiticeira, com um profundo olhar de curiosidade. - ...parece suficiente para garantir a fusão astral físico indefinidamente?
- "Não senhora. Há uma nítida instabilidade em sua mente, que ele mesmo confessou. Pela minha avaliação, parece-me que ele não poderia se manter nesse estado por mais do que 3 ou 4 biociclos."
- Então pode ser verdade. - Admitiu a mesma feiticeira, e completou. - DAMIATE já demonstrou habilidades mentais além de nossas expectativas. Ademais, podemos testar essa hipótese. Se sua conexão mental está de fato instável, devido a distância do composto corpo, astral e mental original, então provavelmente é possível interrompê-la com um ataque telepático coletivo diretamente no sincronismo de aura. - Algumas feiticeiras expressaram discreta concordância, mas não a líder, que pronunciou de forma taxativa.
- Não! Isso está fora de questão. Se for verdade que seu controle mental é remoto, e de fato conseguirmos romper o sincronismo, o astral começará a forçar o físico de acordo com sua própria configuração, e ele corre o risco de se transformar num DEOMI-ZATE.
- É verdade. - Completou outra feiticeira, que estava atrás de Lunis. Ela aparentava ser a mais idosa do grupo, o que só impressionaria ainda mais observadores não habituados, pois mesmo transmitindo uma aura de experiência e maturidade superior, ainda era linda, sem qualquer sinal de degeneração. Ela fechou os olhos por alguns instantes, estendeu a mão à frente, e então uma bola de cristal surgiu. Brilhou suavemente e gerou uma imagem, envolvendo toda a esfera e se expandindo quase até o tamanho do próprio corpo da feiticeira.
Era uma cena impressionante. Diversas feiticeiras guerreiras sobrevoavam um cenário desconhecido, desolado, aparentemente por uma batalha. Abaixo, ao centro, havia uma estranha criatura, 3 a 4 vezes maior que um antropônico, peluda, e de aspecto horrivelmente ameaçador. A feiticeira então falou.
- Estudei por muito tempo os eventos ocorridos há mais de 150 mil biociclos em SELERIA 4, quando um grupo avançado de Feiticeiras-Guerreiras enfrentou DAMIATE diretamente, e após sofrer um ataque telepático coletivo, ele se transformou nessa criatura, dezenas de vezes mais poderosa. Nesse caso, ele ainda tinha grande parte de autocontrole, mas já sabemos que no caso de haver ruptura na conexão mental, a criatura se torna instável, irracional e extremamente violenta, passando a causar danos ao meio ambiente em que se encontra, e aparentemente fora de controle. Na ocasião, ela matou centenas de antropônicos sem nenhum motivo aparente.
- Exatamente. E por isso mesmo não podemos assumir esse risco. Um Deomi-Zate neste planeta poderia ser cooptado pelas criaturas já existentes, podendo resultar num inimigo incalculavelmente mais perigoso. É preferível lidar com DAMIATE em seu estado normal. Por sinal, senhora Lunaxia Sanalunisim, os eventos ocorridos em SELERIA 4 deveram-se a uma disputa pela posse do Hipermetanatural conhecido como RY-3. É verdade que ele também está neste Sistema Estelar?
- "Sim senhora. Assim como Zentaris. Estão todos no Planeta Invisível."
- De Zentaris já sabiamos. Assim como de dois klumans perdidos no planeta. Bem como do antróide e da dobuk. Senhora Sanalunisim. Pode nos dizer por que DAMIATE teme tanto nossa presença no Planeta Invisível?
- "Ele alega ter receio que a entidade nomeada como KUTLIU consiga, por meio de nossas mentes, criar uma vasta rede telepática, bem como a entidade XUBNIGURAT, que tem uma inegável afinidade feminina, consiga nos colocar sob seu controle.
Isso não aconteceria, é claro, ele subestima nosso poder, e também creio que ele esteja escondendo um objetivo mais pessoal. Mas de qualquer modo também não podemos subestimar aquelas criaturas. KUTLIU principalmente. É um coletivo de mentes muito poderosas, e creio que nem todas estão despertas ainda. Se baixarmos a guarda telepática por um breve instante, ele pode nos atacar, e aí é difícil se libertar. Fiquei presa numa persistente ilusão que não creio que qualquer uma de nós, seilans, fosse capaz de criar. Não fosse por Zentaris, creio que eu ainda estaria presa."
- E qual a importância da dobuk?
- "Viuik. Ela foi a primeira mente que KUTLIU teve acesso pleno, de modo que quando a atacou, ele configurou grande parte de seu padrão mental de acordo com a mente dela, afetando todos os seus contatos subsequentes. A afinidade se tornou irresistível, mesmo que KUTLIU já tenha absorvido todo o conteúdo da mente de Viuik, eles continuam ligados. DAMIATE acredita, e eu e Zentaris concordamos, que por meio da mente dela podemos acessar essa configuração mental de KUTLIU, neutralizá-la e enfraquecer seu contato com mentes senscientes similares às nossas."
- E quanto aos klumans? Ainda estão vivos?
- "Acredito que sim, mas estão sob domínio mental de KUTLIU, sonhando."
- Eles são resistentes? - Perguntou outra das feiticeiras, cujos cabelos eram tão claros que pareciam brancos.
- "Sim. Acima da média já alta dos klumans. Eles não permitiriam uma penetração muito grande sem danos que poderiam destruir os conteúdos. Por isso pensamos que estão sendo levados a crer que podem obter a Quarta Revelação. Se eles acreditarem nisso, tenderão a ficar muito mais receptivos, permitindo que níveis mais profundos de suas mentes sejam explorados."
Houve uma pausa após a fala de Lunis, e a feiticeira líder, Dafinaia, deu um discreto sorriso que transmitia satisfação com as informações que sua conterrânea trazia. Ao mesmo tempo, também sugeria que haveria uma última pergunta, quase um teste, e ela questionou.
- Senhora Sanalunisim. Qual o seu propósito? Por que está indo para a Terra Ancestral, e o que pretende fazer agora? - Não houve uma espera dramática, Lunis respondeu quase imediatamente.
- "Eu busco nossas origens, senhora. Sempre sonhei em ver o mundo de onde nossa deusa SEILENIA veio. Sempre quis encontrar a Terra-Mãe SAMTARA. E creio que o melhor caminho para isso é voltar à Terra Ancestral. E ainda que eu jamais alcance SAMTARA, acredito que a Terra Ancestral seja mesmo o berço de nossa espécie. E se assim for, devemos levar algo de nós para lá. Ela não se submeterá a nós pela força. Devemos nos aproximar aos poucos. Conhecê-la. Não serei a primeira seilan lá. Mas serei a primeira feiticeira. E aqui, quando descobrimos esse Planeta... Talvez tenha sido a providência de SAAM que nos trouxe para cá. Ainda não sabemos se tudo o que há lá é ameaça, ou se podemos usufruir de alguma coisa, mas seja como for, foi uma benção que eu tenha sido uma das primeiras a pisar nesse mundo. E também não me esqueci que Zentaris e Luriander estão aqui. Creio que já conquistei a confiança deles, assim como conquistei a de meus colegas exploradores, e de parte da frota. Infelizmente não pude dominá-los. Não houve oportunidade. DAMIATE está quase sempre por perto, ou os dois estão juntos, e não posso seduzir ambos ao mesmo tempo. Enfim, quero que saibam que tudo o que ocorreu em nada afetou meu compromisso absoluto com nossa nação. Eu sou uma Sacerdotisa Lunaxia. Filha de SEILA, serva de SEILENIA, herdeira de LUNAX."
Ela convenceu suas colegas. Até mesmo a inconfessável suspeita de que tivesse sido definitivamente prejudicada pelo ataque das entidades do planeta fora afastada. As feiticeiras, todas telepatas, haviam sondado sua mente. Duas em especial, telepatas de nível muito mais elevado, haviam penetrado em níveis mais profundos, e percebido que dificilmente a entidade que a aprisionara conseguira se apoderar de informações que justificassem maior preocupação. Sentiram que podiam confiar nela, e assim, sabiam que estavam um passo à frente de seus adversários.
Após reverências e cumprimentos, a imagem de Lunis desapareceu, e a líder então proclamou. - Muito bem. Vamos prosseguir com a operação.
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ESPAÇO INVERTIDO
Dentre todas as surpresas que o Planeta Fantasma reservava, aquela bem poderia ser a maior. Zentaris e Luriander voavam num 'universo' de branco! Eram planícies intermináveis de neve, interrompidas por ocasionais montanhas, sob um teto imenso e altíssimo de nuvens ionizadas muito similares às que cobriam as cidades mortas.
Como aquelas nuvens conseguiam gerar tanta luz branca era no momento um mistério, pois os dois Hipermetas estavam mais preocupados em alcançar MIGO, a serpente crustáceo, o mais rápido possível. Para isso sobrevoavam geleiras esperando chegar a um local que DAMIATE indicaria. Então quebrariam o gelo, entrando no mar submerso, e localizariam a criatura com o objetivo de destruí-la.
Ocorrera antes que, ao procurar os klumans, o anjo estelar detectara um local muito provável, após navegar pelos oceanos subterrâneos. Seria uma espécie de ilha sob uma imensa caverna que aparentemente também ocultava uma cidade escondida, embora menor do que as necrópoles da superfície. Quando se preparava para abordá-la, ele foi surpreendido pela criatura, que simplesmente atravessou uma parede de rocha sólida, como se fosse um fantasma, sensação realçada pelo seu brilho etéreo e transparência espectral.
Não foi um ataque telepático, mas físico. Como uma enguia, a criatura eletrificou tudo a sua volta, matando instantaneamente milhões de formas de vida subaquáticas, e obrigando Zentaris a gerar um escudo defensivo que por pouco não impediu que fosse atingido. O monstro então investira fisicamente contra ele, nadando numa velocidade incompatível com seu imenso tamanho. Ele parecia piscar, como se num momento estivesse sólido, noutro não, e assim que aparentou perder a corrida para o anjo, simplesmente 'soprou' água com um raio, enviando Zentaris violentamente contra uma estalagmite.
Ele contra-atacou, mas a criatura tinha a habilidade de se tornar ausente aos disparos, simplesmente, o anjo percebeu, vibrando suas partículas numa frequência específica que o tornava fluído, de modo a sofrer pouco dano. Mesmo assim, não pode evitar todos os raios, e em mais de uma ocasião emitiu gritos aterrorizantes de sugeriam dor e ódio, seguidos de contra ataques devastadores.
DAMIATE pedira ao anjo que saísse de lá, visto que outras criaturas se aproximavam. Zentaris concordara, e desde então aceitara o plano do Lorde Mestre. Ele e Luriander seguiam agora para outro local do planeta, para pegar a criatura de surpresa, e, de preferência, desacompanhada. DAMIATE queria, no momento, evitar a todo custo enfrentar diretamente KUTLIU, XUBNIGURAT e NIARLATOTEP.
O que dava a sensação de espaço invertido era que o tom luminoso de branco era frequentemente interrompido por pontos negros, além de manchas escuras, como se voassem no espaço com as cores trocadas. Até mesmo algumas rochas que constantemente surgiam entre as nuvens se assemelhavam a asteróides.
- "É agora! Desçam no centro da próxima lagoa congelada, ele está lá! Ataquem com força total!" - Ouviram a 'voz' telepática de DAMIATE, e logo adiante notaram a placa de gelo ligeiramente mais escura, quase circular. Quebrar a camada de água sólida de alguns metros de espessura não foi problema, e de imediato avistaram a criatura. Os dois dispararam ao mesmo tempo, e dois raios branco azulados iluminaram a escuridão, atingindo o mostro que, no momento, estava apagado, quase imperceptível.
O raio elétrico do RY-3 atingiu a serpente pouco abaixo da cabeça, o raio nuclear do anjo atingiu-o no meio do dorso. A criatura brilhou, e emitiu um grito absurdamente alto. A geleira acima deles trincou, estalactites foram feitas em pedaços, rochas foram trituradas pela vibração destruidora. Os ouvidos de Zentaris estouraram, mas seus ossos e dentes resistiram, apesar de vibrarem como se ele fosse um diapasão vivo. Luri tapou os ouvidos, num reflexo instintivo causado pela dor lancinante que sentiu. Reagiu de imediato, mas ao invés de disparar novamente, o que seria dificultado pela velocidade e distância, decidiu acelerar rumo à criatura, e atingiu-a com o próprio corpo no exato ponto onde o disparo do anjo fizera seu estrago.
MIGO foi partido ao meio emitindo outro grito pavoroso, e enquanto o RY fazia a volta, o Anjo Guardião Estelar regenerava seus ouvidos, e concentrava energia em torno de si numa esfera luminosa. Quando disparou novamente, Luriander foi frustrado pela intangibilidade da criatura, que fez seu raio passar direto sem o menor efeito. Ao mesmo tempo que, para ainda maior espanto, na metade cortada do monstro começou a surgir outra cabeça!
Quase instantaneamente ela se desenvolveu e se tornou uma cópia menor do monstro original, o mesmo aconteceu com a metade frontal, e agora tinham duas versões menores de MIGO se preparando para contra atacar. Zentaris finalmente atacou de novo, e desta vez seu disparo foi repentino demais para ser evitado, baseado na micropremonição que anteviu a defesa da criatura e previu o momento em que ela não conseguiria se tornar etérea novamente. O monstro, que era o que tinha a cabeça nova, o MIGO 2, foi atingido em cheio e pareceu ter desfalecido. Então algo ainda mais estranho aconteceu.
Ele subia, ou parecia cair pra cima, como se sugado por uma forte correnteza. Só então os hipermetas perceberam que havia algo anormalíssimo ocorrendo. A água do oceano estava sendo sugada para cima, pelo buraco aberto na camada de gelo. Não haviam notado antes porque é difícil perceber detalhes aparentemente pouco importantes quando se está sob ataques titânicos de monstros hiper poderosos, mas agora se deram conta de que estiveram o tempo todo com os referenciais de cima e baixo trocados.
Não haviam descido para o oceano, mas subido. Por sorte, a sucção, que gerou um redemoinho, desorientou o monstro original, que então foi atingido em cheio por outro disparo do RY-3, passando a também ser puxado pela correnteza. Quando o MIGO 2 finalmente se chocou com a já debilitada camada de gelo, despedaçou-a, e despencou rumo aos 'céus' brancos luminosos.
O MIGO 1 se recobrou, e começou a lutar contra a sucção violenta, mas os hipermetas, acelerando a velocidades de ataque, aproveitaram a corrente de água para se chocarem com ele, e levá-lo para o universo branco gelado. Embora a água despencasse como uma cachoeira gigantesca, o congelamento se fez notar de forma impressionante, e não só as bordas começaram a se solidificar novamente, como a própria água foi se convertendo de estado líquido para uma queda de flocos de neve e pedras de gelo, tão baixa era a temperatura daquele local, que só não beirava o zero absoluto devido à luz e calor das nuvens elétricas que, agora perceberam, estavam abaixo.
É comum para quem está acostumado a ignorar a gravidade e a voar livremente, ocasionalmente, perder o referencial. Por isso os hipermetas, após tantos giros e rodopios dentro de intermináveis túneis subterrâneos, não haviam percebido antes que as geleiras nevadas eram o teto, e não o chão, e que as nuvens estavam no "chão". Mas mal se deram conta dessa revelação e tiveram uma ainda mais estranha. À medida que caíam, junto com as criaturas, foram se aproximando das nuvens de tempestade, até que, de repente, estas simplesmente sumiram.
Continuaram descendo rumo à escuridão, embora não tão escura assim devido à luminosidade refletida pela superfície gelada. Caíam agora os 4 hipermetas, dois antropônicos e dois monstros, se aproximando de algo que, agora começava a ser notável, era outra camada de nuvens ainda distantes, aparentemente tranquilas.
- "É a chance! Acabem com eles agora!" - Ouviram. E então perceberam que os monstros caíam desorientados.
Luriander concentrou uma dose colossal de energia e focalizou numa rajada intensa, acertando em cheio o MIGO 2, que como previam, era mais fraco. A criatura explodiu em luz, e não ocorreu o que temiam, que ela se regenerasse. O MIGO 1 reagiu, tentando se articular para um contra ataque, mas seu grito, agora no ar, foi pouco efetivo, e o mesmo se deu com sua descarga elétrica, que na verdade só fortaleceu o RY-3.
Mas foi Zentaris quem o atingiu em cheio desta vez, com um disparo fulminante na cabeça. Tomaram o cuidado de desintegrar todo os pedaços significativos da criatura, até só restar pó luminoso. Finalmente, reduziram a velocidade e se detiveram, ainda surpresos com a estranha geologia.
Ficaram parados, olhando para cima, as geleiras, e para baixo, uma camada de nuvens cinzentas e discretas, sem descargas elétricas. E então após pensar um pouco Luriander explicou. - É isso! Finalmente descobrimos para onde vai a luz emitida pela superfície do planeta. Elas não chegam ao espaço exterior, portanto são teletransportadas. A luz exterior é transportada para o lado oposto, mas e a interior? Não podia ser também para o lado interno oposto, pois isso faria com que fosse notada do outro lado do planeta. Ela é transportada para cá.
- E depois rebatida de novo. Pelas geleiras invertidas, rumo ao centro. - Concluiu o anjo estelar.
- "Saiam daí agora!"
Eles obedeceram, subindo rumo às "montanhas" nevadas invertidas. - É o NIARLATOTEP? - Perguntou o anjo.
- "Pelo menos! E ele está furioso."
Zentaris preferiria enfrentá-lo também, mas sabia que se o destruíssem, as possibilidades de salvar os klumans diminuiriam, pois era ele que os estava guardando, movendo-os de lugar ocasionalmente. Subindo, passaram do limiar da esfera de invisibilidade interna, e então puderam ver abaixo a imagem das nuvens iônicas que certamente seria a da cidade logo acima deles. Cruzaram com um imenso "cone" de gelo, como uma montanha maior em cima do que embaixo. Era naturalmente a água que caíra do mar subterrâneo e congelara.
Foi mais difícil furar o gelo por causa disso, mas nada que disparos de calor de milhares de graus não solucionassem.
O inimigo chegou a se aproximar, mas tão logo eles atravessaram o mar e subiram por um túnel rumo a ilha que DAMIATE usava como base, pareceu desistir.
- "Esse foi só o segundo. Parabéns hipermetas."
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EXTERMÍNIO
Algumas nuvens de alta altitude e algumas montanhas nevadas refletiam parte da luz vinda de uma das tempestades iônicas, a centenas de kms, o que aliviava um pouco da escuridão daquele vale. No seu fundo havia um rio de água quente que permitia a existência de uma notável comunidade das criaturas senscientes do planeta. No momento a maioria parecia tranquila, afora uns poucos mais próximos do rio que pareciam envolvidos numa luta, e se reuniam em grupos esparsos, alguns com quase uma centena de integrantes.
Rio acima, para além de uma vistosa cachoeira, podia-se notar uma montanha baixa, que recebia um pouco mais de luz, revelando algumas das estruturas rústicas daquela que era a maior aglomeração já descoberta pelos cientistas da Pastor-6. Possuía ao menos 700 mil indivíduos, muitos dos quais "filhotes", e utilizavam alguns recursos relativamente sofisticados, como domínio de fogo, confecção de roupas e armaduras e até já tentavam forjar alguns artefatos de metal. Os pesquisadores haviam estimado que aquelas criaturas, as mais avançadas do planeta, estavam naquele estado tecnológico há cerca de dois séculos, tendo levado ao menos 2 mil anos para atingi-lo.
Mas a história deles acabaria ali. Do fundo do vale, algumas das criaturas mais curiosas interromperam uma feroz disputa por algum misterioso objeto, que por sinal parecia chocante a julgar pelo modo como os maiores não tinham condolência com os menores. Então puderam notar ao alto, por entre algumas nuvens repentinamente iluminadas, um pulso de luz branca que caiu como um meteoro bem no centro da cidade escavada na pedra e ornada com diversos artefatos.
O pulso de luz ofuscou os monstros do vale, e o som estrondoso foi sentido logo após a vibração do solo. Então veio o vento, e os destroços. Quando alguma coisa começava a poder ser melhor distinguida em meio à coluna de fumaça luminosa que subia, puderam ver novos pontos de luz rapidíssimos voando em rasante sobre o vale, e disparando nos grupos mais expressivos, vaporizando-os instantaneamente. As Zarpias cruzaram o vale em segundos, dissolvendo a maior parte dos grupos grandes. Algumas circularam montanhas destruindo tocas que abrigavam outros grupos de criaturas.
Os poucos sobreviventes mal tiveram tempo de ir longe quando um enxame de ZIGs apareceu para a terceira onda de ataque, atingindo um por um, infalivelmente. Bem mais precisos e metódicos, alguns até mesmo adentravam acidentes rochosos que permitiam alguma proteção para as criaturas. Um deles parou diante de uma pequena caverna, dentro da qual fez inúmeros disparos enquanto seus colegas eliminavam outros monstros que corriam velozmente por toda parte. Um deles ao ser atingido praticamente explodiu expelindo um líquido viscoso que atingiu o ZIG e o desorientou tempo suficiente para que outro monstro pudesse pular quase em cima dele, agarrá-lo e despedaçá-lo contra as rochas, para ser logo em seguida fulminado pelo raio vermelho de outro ZIG.
Por fim, outra Zarpia surgiu, dessa vez voando exatamente em cima do rio fumegante, cujo vapor agora se misturava com a fumaça do fogo da onda de destruição. Ao contrário de suas predecessoras, veio congelando tudo, instantaneamente petrificando os pedaços do que havia sobrado, e porventura matando qualquer criatura que com muita sorte pudesse ter escapado.
Ao todo, ao menos 720 mil haviam sido exterminadas. Em cerca de 112 segundos.
Minutos depois, 60 kms acima, uma grande aeronave em forma de bumerangue pairava, e em seu interior, um antróide lamentava.
- Deusa-Mãe Xantai... Pobres criaturas. Ao menos a morte parece ter sido rápida. - Foi interrompido por um gemido estranho, e então correu e entrou num pequeno quarto, onde a dobuk, que parecia acordar de um longo período de desmaio, se esforçava para abrir seus grandes olhos.
- Calma. - Disse Dalmana. - Não se esforce Viuik. Levante a cabeça devagar... Isso. - Limpou a cabeça dela com um pano, e aplicou um suave spray, enquanto segurava suas pálpebras. Enfim, ela se sentou, e olhou para o interior do quarto, que começou a se iluminar suavemente.
Teria achado o local muito bonito se pudesse se esquecer de onde estava. Embora tivesse ficado inconsciente, e só agora acordasse, sabia o que havia acontecido. - Dalmana... - Ela tomou a mão dele, como se fosse alguém muito íntimo. - Estamos de volta. Não é?
- Sim minha amiga. Lamento lhe dizer que sim. - Ela apenas se resignou. Parecia de certo modo conformada com a situação.
Então, com uma ponta de esperança, perguntou. - E aquelas... Criaturas? Elas estão mortas? - O antróide ficou surpreso. - Bem... Se isso a faz se sentir melhor... Sim. Estão sendo exterminadas. É uma boa notícia?
- Ele me prometeu que o faria! - Respondeu ela, de modo meio brusco, e como se precisasse se explicar. - É menos pior sem elas por aqui. - Dalmana capitulou, finalmente disse, após um breve conflito interno e uma resignação. - Essa nave tem sobrevoado as maiores concentrações e as destruído. DAMIATE acredita que as criaturas serviam de reforço mentônico para KUTLIU, ampli...
- Quem?! - Espantou-se a dobuk, em seguida fazendo uma expressão de quem se desculpava pela interrupção, deixando-o continuar. - ...É o nome que demos para ele. KUTLIU. Parece que as mentes das criaturas ampliavam seus poderes telepáticos. Por isso ele as está destruindo.
- O que acrescenta mais alguns milhões de seres senscientes na contagem de vítimas de DAMIATE! - Era a voz de Lunis, ainda antes de entrar no quarto. A dobuk sorriu para ela, como se sua simples visão fosse um alívio. A feiticeira tentou sorrir de volta, mas não conseguiu.
- Não notei que você já havia despertado do transe astral. - Disse o antróide. - Como foi a reunião?
- Excelente. - Respondeu brevemente a feiticeira, dando a entender que não diria mais nada. Dalmana não insistiu, mas por um lado se sentiu melhor que alguém mais compartilhasse de alguma reprovação ao massacre que DAMIATE vinha promovendo, embora soubesse que a feiticeira sentia muito mais raiva de DAMIATE que piedade das criaturas.
- Ele também me prometeu... - Começou Viuik, mas engasgando-se, o que resultava num estranho som similar ao de um golfinho. - ...ele me prometeu que não iríamos entrar em nenhuma das cidades. O que me faz sentir melhor. Aliás... Me sinto melhor!
- Estamos sob uma forte proteção telepática. - Disse a feiticeira. - Tenho que admitir que as habilidades de DAMIATE são impressionantes. Principalmente se for verdade que a mente dele foi projetada de EXARIA até aqui. - Ela se deteve. Pensativa, começando a conjecturar algo que não lhe havia ocorrido antes, e que sentia que deveria ter dito à suas conterrâneas. Ao mesmo tempo, pensava no que iria dizer à DAMIATE, a respeito de não ter dito a elas nada do que ele lhe pedira.
Então uma estranha melodia soou. Um alarme, e o computador de bordo indicou a presença de naves se aproximando. Eles estavam dentro de uma aeronave que havia deixado a nave de DAMIATE, que estava em órbita, e se sentiam seguros porque a proteção telepática que ele gerara parecia impenetrável. Mas e agora? Pelo alarme não eram naves exatamente amigáveis.
- Naves Marous! De combate! - Disse o antróide. - Chegaram antes do que esperávamos! -
Ao todo, 6 naves acabavam de cruzar o escudo de invisibilidade, e somente uma delas não aparentava ser ameaçadora.
Dalmana perguntou ao computador se DAMIATE havia sido avisado, mas a seilan respondeu, como se isso não fosse necessário. - Ele já sabe.
UM POUCO ANTES...
Num planalto gelado e escuro, ele tomou um profundo fôlego em seu respirador, depois o retirou, encarando seus companheiros.
- De qualquer modo até agora não percebi qualquer ameaça potencial imediata de DAGON. Creio que devemos nos concentrar em nosso próximo alvo, XUBNIGURAT.
- Por que não enfrentamos esse NIARLATOTEP primeiro? O que ele tem de tão perigoso? - Perguntou Luriander
- O problema é que não sei exatamente o que ele pode fazer. Ele é um Hipermeta como vocês, mas possui um elo especial com algo ainda mais profundo, quase certamente a sétima criatura. AZATOT. Temo que se o atacarmos agora, todos os outros se organização para uma reação conjunta.
- E AZATOT teria controle sobre os demais? - Perguntou Zentaris
- Provavelmente. Tanto a minha leitura do campo mentônico quanto os mitos lovecraftianos sugerem isso. Posso sentir as mentes dos outros claramente, mas não a de NIARLATOTEP, que parece um Caos Mentônico. Mas dele posso ao menos saber a posição. Já AZATOT, só penso que está no centro do planeta porque os símbolos que o antróide desvendou também sugerem isso, além do fato de que NIARLATOTEP frequentemente vai ao núcleo, e parece ficar girando em torno dele. Se o atacarmos, creio que incomodaremos AZATOT, e não sei qual seria sua reação. Parece-me completamente imprevisível. Também não quero enfrentar KUTLIU antes de destruir suas bases mentônica na superfície do planeta. Preciso enfraquecê-lo primeiro, e depois usar a dobuk. Luri? O que houve?
- Seis naves acabam de atravessar a fronteira invisível do outro lado do planeta. Há 7 segundos. Aparentemente são Marous.
- Chegaram cedo!
- E agora sua nave está comunicando o fato, com 13 segundos de atraso.
Zentaris quase disse algo, mas preferiu guardar pra si a pergunta de como Luri conseguia captar tudo aquilo tão rápido. Estava bastante impressionado com seu novo companheiro. Entendia plenamente porque DAMIATE investira tanto tempo e esforço em conquistá-lo. Então, apenas focou sua atenção em DAMIATE.
- Sim meu precioso Zentaris. Confesso que também não esperava que eles chegassem tão cedo!
- Há duas madre-terrestres na frota. Exoarqueólogas que trabalham em intercâmbio com os Marous. Elas estão sendo as porta vozes. Mas a configuração da frota é claramente hostil.
- Eles irão reclamar a posse das descobertas arqueológicas. Provavelmente fazendo alguma proposta inaceitável como se fosse irrecusável.
Por um momento DAMIATE pareceu soturno, e depois de dar outra profunda respirada em sua máscara de ar, revelou em tom que injetava preocupação. - NIARLATOTEP parece nervoso. Deu várias voltas em torno de AZATOT, no centro do planeta, e agora está voando rumo às naves!
- KUTLIU sentiu suas mentes. Creio que ele irá capturar alguns.
- Creio que ele vai destruí-las!
- Devo ir?!
- Sim! "Mas nem você poderá chegar a tempo." - O RY-3 já estava sumindo de vista. Quando então DAMIATE se virou para o anjo estelar. - Isso é péssimo Zentaris. "Vai precipitar o confronto." - Disse ao mesmo tempo que o anjo decolava, o que não os impedia de continuar conversando telepaticamente.
- "Por que está tão preocupado?" - Perguntou o anjo enquanto já atravessava as nuvens.
-"O problema é minha nave! Se NIARLATOTEP vê-la, minha cobertura telepática será inútil. Ele poderá atacá-la!"
Então, mesmo a distância, o anjo guardião estelar pode sentir que DAMIATE desaparecera, deixando o planalto gelado totalmente deserto.
MAL VINDOS
- LEPTA-27? Está nos ouvindo controle da Lepta-27? - Nenhuma resposta. - Pastor-6? Expedição Especial Kluman? Aqui falam as exoarqueólogas Madre-Terrestres Keiko Xasanaia e Xang Hitleria, à serviço da frota marou Lepta-27. Podem nos ouvir? - Ela aguardou o tempo necessário para que a mensagem fosse e pudesse voltar até as frotas mais distantes e se conformou, e olhando para a colega concordou. - É. Impenetrável Xang! Não passa nenhuma frequência por essa esfera de ocultamento. Impressionante!
- Não pensou que passaria, não é? Principalmente para as frotas mais distantes, se nem a nossa conseguiu captar. Achou que eles teriam superado essa barreira?
- Não. É que... Eu tinha que testar por mim mesma. - Admitiu, e flutuando, se afastou rumo a uma janela. Na verdade uma projeção holográfica que as fazia parecer estar dentro de um aquário sobrevoando o Planeta Fantasma. Seus longos cabelos negros e lisos atrapalhavam, pois ela se esquecera de prendê-los antes de abandonar a nave-mãe da frota, que tinha gravidade artificial. Sua colega, que tinha cabelos bem mais curtos, ainda assim não quis lhe emprestar um de seus prendedores, pois não abria mão de suas duas pequenas trançinhas laterais. Ademais, queria punir a amiga por ser tão distraída.
Isso nunca seria um problema para Klubis, que como todo marou, não tinha cabelo algum. Era uma, ou um, Noxi, isto é, um 'gênero' neutro, nem masculino nem feminino, que embora consistisse minoria populacional entre sua espécie, cerca de 12%, eram detentores da maioria dos postos de poder. - Isso é intolerável! - Disse a Noxi.
- Aquela espécie é sensciente! Primitiva, mas plenamente sensciente! Não pode ser exterminada dessa maneira brutal!
- Já enviamos um ZIG para fora da esfera de cobertura, a frota Pastor-6 já será informada.
- Acha que tomarão alguma providência Xang? - Perguntou Keiko.
- Seria uma omissão se não o tomassem. Mesmo o criminoso sendo DAMIATE.
- E eles fariam o quê?!
- Não sei! Mas tem que ao menos nos autorizar a fazer algo. DAMIATE não pode violar o tratado e voltar a seus genocídios insanos impunemente!
- Tem certeza de que essas criaturas merecem ess...
- Ah! Por favor! Não acredito qu...
- Paciência minhas amigas. - Interrompeu Klubis, cuja voz lembraria um timbre masculino antropônico, mas os trejeitos eram graciosos, efeminados em geral, e mesmo quando ocasionalmente masculinizados, conservavam uma elegância difícil de descrever. - Acho que temos preocupações mais urgentes no momento. O campo telepático deste planeta é realmente espantoso, embora bem diferente do que os telepatas da frota madre-terrestre descreveram. Esse massacre que DAMIATE está promovendo tem o objetivo claro de perturbar o campo mentônico. Posso sentir o caos mental se instaurando.
Mas isso é o que menos me assusta.
- O que menos Assusta!
- Prezada Senhora Xasanaia. Vejam aquela nave lá embaixo, que está promovendo os ataques. Estamos nos comunicando com ela e sabemos que há 3 indivíduos lá dentro. O antróide talvez não possua mente, mas por que eu não estou sentindo as mentes da seilan e da dobuk?
- Devem estar protegidas por alguma barreira telepática. - Xang falou como se estivesse aborrecidamente dizendo o óbvio.
- Gerada por DAMIATE. É claro!
- Exatamente minhas amigas! E porque ele faria isso?! A seilan não poderia proteger a si e aos demais? Pode ter sido pega de surpresa uma vez, segundo o registro, mas não creio que acontecesse de novo. Por que ele próprio está se esforçando tanto para manter proteções tão ostensivas? Além desses, protege o seu hipermetanatural, e ainda assim prefere causar esse morticínio, mais uma forma de ajudar na proteção. E se ainda for verdade que ele está realizando uma projeção mental de 70 mil anos-luz de distância, então deve estar desesperado!
- É. O que poderia justificar isso?
- Eles responderam! A nave de DAMIATE respondeu! - Keiko Xasanaia, segurando os cabelos, deslizou para mais perto dos outros quando a imagem de outro marou surgiu diante deles. Era uma fêmea, corpulenta e de olhar feroz. Dizendo no típico timbre de voz marou feminina, que reverberava como se falasse numa concha acústica de madeira. - Ele está exigindo que nos retiremos imediatamente. Está implorando! Está ameaçando! Diz que seremos destruídos de não o fizermos o mais rápido possível!
- Destruídos por quem? Por ele?
- Não! - Respondeu a marou. - Ele diz que seremos atacados em breve por forças do planeta, e dificilmente ele poderá nos ajudar. Eu quero muito ver quem se atreverá a atacar nossa frota! Nossos emissores nucleares estão carregados em potência máxima e mais de 200 ZIGs estão...
- Não confie tanto nisso! - Interrompeu o noxi, que tinha notável aura de seriedade, imediatamente calando e assustando a marou, não pela autoridade hierárquica, mas pelo peso que sua sabedoria conseguia por nas palavras.
- Há forças poderosas nesse planeta. Posso senti-las. Na realidade...
- Klubis?! O que foi?! - Xang ficou apreensiva pela expressão do noxi, que fechou os olhos e se concentrou em algo que o espantava e desagradava. Eles 3 eram amigos há bastante tempo para que as mulheres fossem capazes de perceber por si próprias quando a situação era grave, só pelo modo como o colega marou agia. Finalmente, ele abriu os olhos. - Tem algo vindo para cá! Uma força... Hipermetanatural. Sua mente é... É como se o Caos mental que se espalha pelo planeta se concentrasse em torno dele. Está vindo rápido!
O noxi ainda não havia saído do semi-transe quando vários outros tripulantes marous, de naves diferentes, começaram a surgir no ambiente, telecomunicando de suas naves.
- A Pastor-6 declara que não tinha conhecimento das ações de DAMIATE, e também não aprova o exterminío dos nativos. Acreditam que trata-se de alguma manobra para distrair a atenção de algo mais importante.
- A comandante Jalani em nome de Kluman protesta contra nossa proposta de exigir exclusividade sobre 50% do patrimônio arqueológico, e sobre nossa presença no Planeta. Sugerem que nos retiremos imediatamente, e que façamos uma proposta mais modesta.
- A Sacerdotisa Mestra Dafinaia Zelana Xuni, da frota Seilan, pergunta porque avançamos sobre o planeta ignorando as restrições da frota de Madre-Terra. Nas palavras dela... 'Se elas próprias atenderam o pedido da frota Pastor-6, como podemos nos atrever a não fazer o mesmo?'
- DAMIATE avisa que irá adentr...
Subitamente, o pulso de luz rosa deu lugar ao Lorde Mestre, que flutuava à frente dos 3 únicos habitantes reais daquele recinto. Sobrepujando-se às holografias.
- Senhor Noxi Klubis da frota Lepta-27 de Marou! É absolutamente urgente que suas naves se retirem imediatamente! Uma ameaça hipermetanatural já está a caminho e os meus aliados hipermetas não chegarão a tempo para ajudá-los!
A presença de DAMIATE gelou as exoarqueólogas. Keiko, que lutava para manter o rosto livre dos cabelos, tinha uma ojeriza especial por ele. Mas por não estar realmente no local, um dos hologramas, de um marou masculino, foi insensível à intimidação, e reagiu de imediato. - Não aceitamos imposições de traidores! Estamos preparados para avançar!
DAMIATE ignorou completamente, dirigindo-se ao noxi presente, que parecia ainda imerso num transe. - Se é assim, nada mais posso fazer por vocês. Que morram! - Desapareceu.
- O comando da frota nos autorizou a avançar, e receberemos reforços caso haja algum imprevisto.
- Deveríamos ter retornado. - Disse calmamente Klubis. - Temo que agora seja tarde. -
Ainda assim, ele ordenou que sua nave parasse, deixando as demais avançarem à frente. Estavam na única nave que não era de combate, e não tinha aspecto ameaçador. Em formato cônico, lembraria a forma de uma imensa cenoura, até pela cor bege ligeiramente dourada.
As demais já penetravam mais fundo na atmosfera. Três delas eram ligeiramente similares a Espadas Espaciais, porém mais robustas, e continham sempre um poderoso telepata Noxi, exatamente para compensar a vulnerabilidade dos computadores mentais.
Tinham armas muito poderosas, canhões nucleares, LASERs de alta potência, e um potente Canhão de Gauss capaz de disparar esferas de metal pesadíssimas a velocidades assombrosas. As outras duas, com alguns tripulantes a mais cada, eram maiores, e na verdade eram como colméias, produzindo ZIGs e Pseudo-ZIGs às dezenas, além de serem dotadas de imensos canhões elétricos bem diferentes dos EletroLasers comuns.
Todas eram protegidas por escudos esféricos de energia, e confiantes em seu poder de fogo, avançaram intemeratas rumo ao Planeta Fantasma.
FORMAÇÕES DE COMBATE
- Não temos muito tempo! - Disse DAMIATE imediatamente depois de aparecer no interior de sua aeronave perante os 3 exploradores. Lunis pensou em dizer algo, mas não teve chance. - Eles estão movendo uma contra ataque total. NIARLATOTEP chegará em menos de 4 minutos, XUBNIGURAT e KUTLIU enviarão suas peças logo em seguida.
- Que... Peças... - Hesitou Dalmana.
- Os Klumans! - Respondeu a feiticeira.
- Eles agora estão sob controle total. XUBNIGURAT confere à Cemilion poderes da mesma ordem dos que conferiu à Selia. E KUTLIU canaliza seu poder telepático em Irig.
Teremos que lutar em 3 frentes!
- Eu cuidarei da mulher. - Disse a feiticeira.
- Certamente. Mas saiba que ela será muito mais poderosa do que foi quando Selia estava possuída. XUBNIGURAT tem um poder de domínio sob a mente feminina que escapa à minha compreensão. A coerção é irresistível, e é principalmente por isso que eu gostaria muito que tivesse tentado convencer suas conterrâneas a se manter longe do planeta.
- Acha que não podemos enfrentá-la?!
- XUBNIGURAT tem uma habilidade que inicialmente interessaria muito à qualquer uma de vocês. Faz parte de uma disciplina primordial que já dominava o poder feminino de dominação em suas dimensões físicas e psicológicas milhões de anos antes das seilans. Mas se pensa que se trata de algo similar ao que vocês fazem, esqueça! Vocês dominam pela sedução, beleza e desejo. Ele é o contrário. Inverte totalmente a feminilidade e domina pelo terror, pela repulsa e rejeição! É a reversão total do poder de vocês, ainda que oriundo de uma mesma fonte!
A feiticeira ficou repentinamente chocada. Fazia sentido! Agora ela entendia melhor o que acontecera com Selia. As seilans tinham poderes principalmente sobre mentes masculinas, embora também pudessem dominar os elementos masculinos de uma mente feminina. XUBNIGURAT tinha poder principalmente sobre as mulheres, embora esse poder também fosse de origem feminina. Por isso a inversão! Ela reprimiu, por um instante, o asco que sentiu por aquela criatura.
- KUTLIU não tem esse poder de dominação. Ele ilude, engana, confunde e controla pelo delírio. Mas sua capacidade de manipular conteúdos profundos está além de qualquer coisa que eu já tenha visto. Eu terei que enfrentá-lo por meio do kluman. E espero que NIARLATOTEP demore algum tempo destruindo a frota marou enquanto Luriander e
Zentaris chegam. Eu gostaria de ter feito isso de modo diferente. Mas agora é tarde demais.
A nave já mergulhava rumo à superfície, com o objetivo de sair do campo visual do local onde a frota marou seria atacada. E rumo ao local por onde os klumans se aproximavam. Telepaticamente, DAMIATE se comunicou. - "Luri! Qual sua estimativa de chegada?"
- "Cinco minutos e 27 segundos! Zentaris precisará de mais uns 168 segundos."
- "Mais rápido do que esperávamos!"
- "Descobri um ângulo nessa camada da atmosfera que oferece menor resistência, e a rotação do planeta está a nosso favor."
- "Luri! Eu não poderei ajudar! Estarei ocupado com o kluman que está sendo manipulado por KUTLIU. Não subestime NIARLATOTEP! Repito! NÃO O SUBESTIME! Se possível, espere Zentaris e o enfrentem juntos! Deixe a frota marou ocupá-lo. Talvez eles possam oferecer resistência prolongada.
- "As naves de ataque já estão se organizando defensivamente, acobertando a nave líder, que está se afastando, vou seguir na direção dela e se possível tirá-la do campo de invisibilidade."
- "Perfeito! Talvez seja nossa chance de confirmar que NIARLA não pode sair do campo. Estou partindo agora, temos que restringir ao máximo nossa comunicação."
- "Certo. Boa sorte!"
Bem longe dali, as 3 naves da frota seilan guardavam respeitosa posição em relação às frotas Pastor-6 e Kluman, nem muito próximas para sugerirem ameaça, nem muito longe para sugerirem movimentos suspeitos rumo ao planeta. Na sala de reunião da nave maior Dafinaia Zelana Xuni estava prestes a decidir as atitudes em relação à frota marou que havia decidido adentrar o Planeta Fantasma. À sua frente estava a projeção astral de uma Feiticeira cujo corpo não estava em qualquer das 3 naves da frota, e que emanava uma aura de poder que levaria ao desmaio quase qualquer pessoa sem uma boa defesa metanatural.
- "Estão assumindo posição defensiva. Ao que parece estão prestes a sofrer um ataque pelas forças do planeta. As demais 12 naves da frota Lepta-27 estão espalhadas em torno do planeta enviando ZIGs para sondagens. E não estão aparentando considerar os apelos da Pastor-6 ou dos klumans." - Revelou a presença astral visitante, num tom que parecia aborrecido, depois continuou. - "E nossa irmã Lunaxia está prestes a enfrentar novamente a entidade que nomearam de XUBNIGURAT, que desta vez possuiu uma kluman."
Em volta de Dafinaia, outras feiticeiras não fizeram muito mais do que lançar olhares de confirmação de expectativas, e a líder logo decidiu. - Então não há mais motivo para esperar, entrem imediatamente, mas por enquanto evitem qualquer contato e se mantenham permanentemente ocultas exceto para a Senhora Sanalunisim, caso ela precise de ajuda. Em breve nos juntaremos a vocês! - Então a presença astral fez uma reverência e desvaneceu.
Ela se virou para suas companheiras, e uma delas, num tom irritado, disse. - Como previ, eles não respeitam nenhum tratado no que se refere à exploração arqueológica.
- Mas de qualquer modo estamos à frente. Agora não podemos ser acusadas de ter a iniciativa de qualquer violação. - Disse outra feiticeira. E completou. - Ademais, sua precipitação obrigou nossa irmã a essa profana aliança com DAMIATE.
- Foi ótimo termos nos antecipado. Agora vamos nos juntar à nossas companheiras. - Disse a própria Dafinaia.
- O que diremos à Pastor-6? - Perguntou outra feiticeira. Uma expressão de que isso não importava no momento, foi a resposta da líder.
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EVENTO BRANCO
Luriander tentava se comunicar com a parte da frota Lepta-27 que estava fora do escudo de invisibilidade, pois ainda não havia desistido de tentar furar o bloqueio, mas agora sentia claramente sua transmissão voltando, terrivelmente enfraquecida, das profundezas do planeta. Tentava apelar ao comando superior, visto que as naves que desciam pareciam ignorar seus apelos.
Zentaris, por sua vez, estava mais preocupado com a situação do plano astral. Com o massacre de nativos promovido por DAMIATE, não apenas o campo mentônico, e mental, estava confuso, mas o surgimento repentino de milhões de fantasmas daqueles seres, muitos dos quais vagando sem sequer saber que haviam sido fisicamente destruídos, começava a desenhar uma situação que só agora ele começava a perceber, e que poderia alterar drasticamente os planos do Lorde Mestre.
Lunis voava para a superfície, já sentindo a presença de sua inimiga que se aproximava rapidamente. Nem sequer precisaria sondá-la em detalhes para saber da gravidade da situação. Antes, ela enfrentara uma mulher que estava possuída, mas não nutria em si própria qualquer sentimento hostil em relação a ela. Sem colaboração da vítima, XUBNIGURAT despendia esforço maior para obrigá-la a agir. Mas agora seria diferente. A kluman tinha notável repúdio às seilans para que atacar uma feiticeira fosse um ato quase voluntário, o que facilitava muito o trabalho da entidade controladora.
Dalmana, a bordo da nave de DAMIATE, voltou ao que estava fazendo antes da dobuk despertar, tentar compilar e interpretar os novos dados das duas outras cidades fantasmas que visitara, com o auxílio generoso do Anjo Guardião Estelar. Tentava, a pedido de seu anfitrião, desvendar mais algumas informações a respeito das criaturas, seu propósito, e o significado daquele estranho mundo. À medida que trabalhava, começava a notar que a situação poderia ser bastante diferente da que interpretavam até agora. Enviou uma mensagem para a frota através de um ZIG, que saiu do campo de invisibilidade, e esperava obter ajuda dos especialistas da Pastor-6, ou quem mais se dispusesse a ajudar.
Viuik fora submetida a uma breve sondagem telepática de DAMIATE, que a recomendou repousar e dormir, se possível. Em sua mente poderia estar a chave para neutralizar KUTLIU. Porém, ela não conseguia relaxar, e começava a ter uma sensação de que havia algo de errado naquele procedimento todo. Achava que o Lorde Mestre havia conseguido extrair algumas informações de sua mente, algo que ela não se lembrava, e desconfiava cada vez mais que as garantias dadas por ele eram bem mais do que modestas, e que ele tentara suavizar perspectivas pessimistas. Sentia-se, porém, aliviada pelo extermínio das criaturas da superfície. Tinha até mesmo vontade de voar livremente sobre o planeta, assim que toda aquela confusão terminasse.
Keiko Xasanaia estava apreensiva com a situação de aparente conflito iminente. Sua nave se posicionara próxima ao escudo de invisibilidade, envolta por dezenas de ZIGs, e com os escudos em máxima potência, e com isso ela torcia para não serem vítimas de um ataque, e caso fossem, não ter que contar com a ajuda dos aliados de DAMIATE, personagem que ela considerava horrivelmente desprezível.
Xang Hitleria, sua colega, convencera alguns dos outros membros da expedição, por telepresença, a responder ao chamado do hipermeta que tentava lhes comunicar. Agradeceu o conselho e disse que aceitaria de bom grado qualquer ajuda, mas não acreditava que seria necessária. Ao menor sinal de perigo, a nave fugiria para fora da área invisível e seria imediatamente recolhida por uma nave maior, que escoltada, os levaria à nave-mãe da frota Lepta-27.
Klubis acabava de sair de outro transe, visivelmente nervoso, respirou fundo antes de dizer algo que sabia ser terrivelmente preocupante, quase desesperador. - Não poderemos sair! Elas vão estragar tudo!
A frota seilan não era constituída de apenas 3 naves, havia uma quarta, que se mantivera completamente invisível, com um escudo tão ou mais eficiente que o do próprio Planeta Fantasma. Essa nave há muito deixara as outras e se aproximara do planeta, onde, com extrema discrição, suas feiticeiras fizeram reconhecimentos. Agora receberam ordens de entrar, uma vez que os marous o fizeram, mas ainda deveriam se manter totalmente ocultas.
Na superfície do planeta, perante um imenso lago salgado cuja água resistia ao congelamento, DAMIATE pode observar calmamente
uma luz emergir das profundezas e subir ao céu. Eram eles, os klumans. Cemilion, investida de poderes assombrosos, transportava seu irmão Irig, que embora não gozasse de tantos dons metanaturais emprestados, canalizava a poderosíssima arquitetura mental de KUTLIU.
Não queria que ambos se juntassem a NIARLATOTEP, era impostergável separá-los. Por isso, enviou um ataque mental direto contra eles, em tom de desafio. O simples fato da luz parar por um momento, e descer lentamente em sua direção, mostrou que o desafio seria aceito. DAMIATE, pela primeira vez, denunciava claramente sua posição, se expusera de modo deliberado, capturando a imediata atenção dos klumans. Embora, é claro, não fossem exatamente eles.
Quando os dois pairaram à sua frente, flutuando, ele novamente se telecomunicou com a mente da kluman, mostrando que sua adversária seilan estava a caminho. Ela não hesitou, disparou rumo aos céus deixando seu irmão ali, diante de DAMIATE.
Frente a frente, o Lorde Mestre e o Kluman, podia se entreolhar, mas isso nada era comparado ao modo como suas mentes se conectaram. Pela primeira vez DAMIATE e KUTLIU estavam "frente a frente" telepaticamente. O mestre dos sonhos do Planeta Fantasma, e o autor de grande parte dos pesadelos da galáxia, se preparavam para descobrir do quê, afinal, o outro era feito.
O cenário à volta era fundamentalmente escuro, pois estava distante das nuvens luminosas de qualquer cidade fantasma. Somente a suave aura dos dois personagens iluminava fracamente o ambiente, bem como a já distante luz da kluman que sumia céu acima.
De repente, um fenômeno luminoso estranhíssimo e deslumbrante surgiu nos céus. De um ponto próximo às naves marous, uma onda de luz branca começou a se espalhar por toda a parte, iluminando todo o planeta. Todos, sem exceção, pararam para prestar atenção, até mesmo NIARLATOTEP, que pareceu subitamente paralisado. Apenas Luriander não deteve seu formidável avanço, embora tenha se virado e observado atentamente o fenômeno, que desafiava sua compreensão.
Era como se surgisse um novo céu, de intenso branco embora ornamentado por ocasionais "auroras" coloridas e por pontos negros pulsantes. A superfície, que parecia receber luz intensa pela primeira vez, revelava-se ainda mais sinistra, visto que sua constituição rochosa acidentada, escura e ameaçadora finalmente se tornara nítida.
Enquanto contemplava o impressionante evento, o antróide não conseguia concluir se as pobres criaturas nativas ficariam maravilhadas ou aterrorizadas com o fenômeno, e a bordo da nave marou que se distanciava, os 3 tripulantes descobriam que o escudo de invisibilidade do planeta parecia ter enlouquecido, e que cruzá-lo seria, agora, no mínimo imprudente.
No momento em que a nave invisível seilan cruzou o limiar da fronteira fantasma, seus escudos de teletransporte de luz se estranharam. Por uma fração de segundos, ondas eletromagnéticas foram disputadas, e então o escudo do planeta reagiu de um modo que jamais fizera, se invertendo, e devolvendo parte da luz que capturara para o centro do planeta. A nave seilan, que trazia duas hipermetas e 8 supermetas, pôde reagir de forma mais produtiva, simplesmente remodulando sua frequência de modo a não mais teleportar luz, e sim, apenas absorvê-la.
E agora, o outrora trevoso Planeta Fantasma tinha um céu brilhante, com discretas nuvens cinzentas, estrelas pulsantes que se moviam e faixas espectrais suaves que dançavam exoticamente, tudo servindo de fundo para os pequenos pontos escuros que eram as naves que o sobrevoavam.
E a outrora invisível nave seilan, por sua vez, e para a mais irônica inversão da imagem que as feiticeiras possuem de arautos da luz, pairava no zênite como um sinistro Sol negro.
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Marcus Valerio XR
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As Terras-Filhas
Dividem-se em
Arcaicas e
Galácticas/Douradas, sendo as primeiras colonizadas ainda na
Era Transicional por volta de
10 mil anos no passado, por espécies senscientes em geral Cinzentas ou Híbridas, que levaram alguns grupos étnicos humanos
para planetas específicos. As segundas foram colonizadas a partir da
Era Galáctica (2040-2240) e ao longo da
Era Dourada (2240-3260), por iniciativa de administrações da própria Mãe-Terra.
Em geral, planetas colonizados por descendentes de Terras-Filhas são consideradas Terras-Netas ou Filhas de Segunda Geração,
mas normalmente costumam-se ignorar essa sutileza e generalizar a todos como Terras-Filhas. Não são consideradas como tal
planetas onde a população antropônica seja inferior a 12 milhões de habitantes ou com menos de duas gerações nativas.
Terras-Filhas
ARCAICAS
Consideram-se basicamente 5, ainda que estejam envoltas em muitas incertezas. Seguem-se pela ordem decrescente da solidez
com que são conhecidas, bem como da importância em relação à Madre-Terra.
Obs:
Rt (rotação planetária) BC (biociclo) G (Gravidade).
EKZANDRIA
(Polaiga 2)
(9B630-POLAIGA)
91563-B692-3011
Rt: 1BC, G:10,8 ms2
Sede da civilização Gaiol, de onde vem o idioma mais difundido entre os antropônicos da Galáxia. Fica no mesmo sistema
estelar que ZENITRON, que foi colonizado posteriormente por seus imigrantes. Mantém boas relações diplomáticas com Madre-Terra,
embora haja pouco intercâmbio. A civilização Gaiol é fortemente marcada por costumes e tradições bastante distintos dos da
Mãe-Terra, e embora seja muito mais antiga, acabou científica e tecnologicamente estagnada, sendo por muitos considerados
uma civilização decadente. Os Gaiois foram os primeiros visitantes interestelares a se apresentaram aberta e oficialmente
à Madre-Terra, com quem mantiveram relações respeitosas por mais de um milênio e meio, até que uma guerra civil ameaçou a
estabilidade política do planeta e prejudicou suas relações diplomáticas, gerando uma crise sem precedentes que só foi
atenuada graças a participação direta de Lorde Mestre Xuminis de Nova Acrópolis. Uma de suas características curiosas é
serem incapazes de distinguir a maior parte dos tons de Azul e Verde, mas perceberem parte do espectro infravermelho.
KLUMA
(Klum-A 4)
(3A527-KLUM-A)
30034-A511-2733
Rt: 1BC, G:9,1 ms2
'KLUM-A' é o nome da menor de 3 estrelas intermitentes próximas cerca de 6 anos-luz uma das outras, formando um triângulo,
conforme o declara O LIVRO, 'MA' é '4'. Portanto, trata-se do planeta da quarta
órbita de KLUM-A, por vezes também chamado apenas de Estrela KLUMA. Os Klumans mantém ótimas relações com Madre-Terra,
e péssimas relações com SEILA, resultando possivelmente na maior tensão sócio política interestelar entre antropônicos na
Galáxia.
HAUTA 6
(6A211-HAUTA)
60302-A231-1111
Rt: 3BC, G:11,2 ms2
Jamais foi estabelecida relação diplomática com a Mãe-Terra, principalmente porque a civilização foi praticamente extinta
há mais de um milênio. Chegou a possuir cerca de 9 bilhões de habitantes, que foram exterminados num brutal ataque promovido
por DAMIATE, que em menos de 3 biociclos quase erradicou a existência antropônica do planeta. Entre os poucos milhares
de sobreviventes, o Anjo Guardião Estelar Antares reuniu um forte grupo de Supermetas
que num contra ataque lendário conseguiu expulsar DAMIATE do sistema e obter um parco ressarcimento. Mesmo assim, o planeta
não foi recolonizado, e os sobreviventes migraram para a Terra-Filha Dourada SOFISTIA. A herança de HAUTA é bastante lembrada
por uma peculiaridade de uma das culturas dominantes: o hábito de ilustrar a posição social pelo comprimento dos cabelos,
desde os escravos (geralmente criminosos condenados) que mantinham a cabeça raspada, passando pelas classes mais pobres,
com cortes de cabelo curto, até as elites, que mantinham longos cabelos que podiam passar da cintura, no caso dos expoentes
mais ricos, famosos e ou poderosos.
KERENA
(Xaris 1)
(PB229-XARIS)
P2972-B225-2945
Rt: 2BC, G:8,8 ms2
Embora a civilização seja grande e avançada, devendo ter ao menos 2,5 bilhões de habitantes, é completamente fechada,
praticamente não tendo relações diplomáticas com outros sistemas estelares. Na verdade até a aproximação de qualquer
frota interestelar é geralmente proibida, podendo mesmo ser destruída. Foi colonizada a partir de etnias asiáticas e possui
uma das mais curiosas características entre as espécies antropônicas. Só há mulheres! Elas se reproduzem espontaneamente
a partir de certa idade produzindo clones de si mesmas, numa gravidez resultante de autofecundação, ou através de
troca de material genético, numa fecundação mútua cruzada entre duas mulheres por meio de Partenogênese. O resultado dessa
peculiaridade somada a cultura que se desenvolveu, faz com que o tipo de visita menos tolerada pelas habitantes de KERENA
sejam os antropônicos masculinos. Pouquíssimos homens já estiveram no planeta, e garantiram perceber nítida hostilidade
e mesmo repulsa das mulheres nativas. Por outro lado, um número bem maior de mulheres kerenans já emigraram do planeta,
algumas vivem em Madre-Terra. DAMIATE chegou a ameaçar o planeta uma vez, mas as kerenans formaram um acordo com SEILA, por
qual nutrem profundo respeito ainda que quase não se relacionem, de modo que qualquer ataque contra o planeta fosse visto
como um desafio ao império das feiticeiras. Em retaliação DAMIATE fez o mesmo pacto com KLUMA. As seilans estão entre as
poucas visitantes interestelares admitidas com alguma regularidade, e estudam a cultura de KERENA com muito interesse.
Embora tal sentimento não seja exatamente recíproco, as kerenans absorveram parte dos costumes seilans, conseguindo inclusive
desenvolver metanaturalidade. É provável que o Sistema XARIS tenha sido interligado ao Sistema Solar por outro Portal
Espacial Natural, única forma de viabilizar o contato com um sistema tão longínquo, por sinal a mesma distância em relação
ao Sistema SOLARNIA, 85 mil anos-luz, embora em outra direção. Curiosamente, XARIS é interligado ao sistema VELGA
(C4899-A121-2892), próximo de SEILA, por outro portal espacial natural, permitindo que outros exatos 85 mil anos-luz sejam percorridos com facilidade.
SAMTARA
(Solarnia 2)
(IB628-SOLARNIA)
I2208-B697-2830
Rt: 1BC, G:7,9 ms2
É a mais misteriosa da Terra-Filhas Arcaicas, principalmente pelo fato de que sua mera existência jamais foi esclarecida,
embora o Sistema SOLARNIA seja bem conhecido, tendo sido ligado ao Sistema SOL por um portal natural semi-estável.
A obra clássica As Senhoras de TERRANIA, do lendário 'Bentom de LAKSI', narra com
muita precisão as características astronômicas, geológicas e ecológicas do planeta SOLARNIA 2, no entanto, jamais foi
achado qualquer vestígio da civilização das supostas ancestrais das Seilans, o que é muito estranho, visto que o planeta é
descrito como tendo sido habitado por cerca de um Bilhão de antropônicos, possuindo imensas cidades e edificações colossais.
Como o Portal Espacial foi praticamente destruído, devido a uma tentativa de estabilizá-lo com uma promissora mas desastrosa
tecnologia de Anel Espacial de longa distância, a continuidade dos estudos por parte de Madre-Terra ficou impossibilitada,
visto que Solarnia fica a 85 mil Anos-Luz de distância, impossibilitando qualquer esperança de comunicação, e isolando
irreversivelmente os pesquisadores que lá estavam, bem como no planeta NEPTUNIA
(Solarnia 4), que tem 98% de terras submersas. As Seilans, embora provavelmente
detenham informações que poderiam esclarecer o mistério, propositalmente as escondem, preferindo antes contribuir para
aumentar a aura de mito e incerteza. Alguns estudiosos chegam até mesmo a negar por completo a existência de SAMTARA,
enquanto outros apenas crêem que sua localização seja distinta do Sistema SOLARNIA. Alguns até identificam SAMTARA com
SEILA, acusando as feiticeiras de esconder informações sobre seu passado por questões estratégicas. Por isso, o estatuto
de SEILA como Terra-Filha ou Terra-Neta é até hoje disputado, embora a vontade das feiticeiras costume ser respeitada,
levando SEILA a ser considerada como uma Terra-Filha indefinida.
Terras-Filhas
GALÁCTICAS
São poucas porque apesar de ter havido muitas migrações espaciais na Era Galáctica, poucas de suas colônias atingiram
a estabilidade necessária para constituir grandes civilizações. Seguem-se em ordem provável de surgimento.
ARTIA
(Xatram 1)
(7B327-XATRAM)
71194-B332-2738
Rt: 1BC, G:9,7 ms2
Possivelmente a primeira Terra-Filha galáctica, foi colonizada por volta de 2150 por expedições majoritariamente formadas
por falantes do antigo idioma Inglês, e rebatizada de seu nome original para um que remetia à antiga palavra 'Earth'.
Com cerca de 1,7 bilhões de habitantes, é bastante reclusa, pouco participando de explorações espaciais e decisões de âmbito
galáctico. Bastante pacífico, o planeta é mais conhecido por suas belezas naturais, em especial suas praias, com faixas
de areia cristalina que podem ter kms de largura banhadas por mares de baixíssima salinidade e em geral potáveis.
Seus terraformadores também rebocaram um asteróide a fim de construir uma lua artificial, que é chamada de MUNO, numa
evidente referencia ao termo inglês 'Moon'. Durante quase meio século foi completamente dominada pelas Seilans,
mas estas se retiraram cumprindo uma das condições do pacto galáctico. Mesmo assim, muitas ainda vivem no planeta, e vários
hábitos adquiridos nessa fase jamais foram abandonados. É questionável que tenha recuperado sua antiga autonomia.
BENAX 7
(7B328-BENAX)
77991-B301-2859
Rt: 2BC, G:8,9 ms2
Embora haja alegações de ter sido colonizada antes de ARTIA, é mais provável que isso tenha ocorrido por volta de 2170,
o que é difícil de ser decidido devido ao problema da relatividade temporal envolvida. Foi a primeira, e ainda uma das
poucas, colônias planejadas para abrigar partes proporcionais de todas as etnias humanas. Embora o planeta seja vastamente
coberto por desertos rochosos, tendo poucas águas emersas, há imensos mananciais de águas subterrâneas vulcânicas,
suficientemente quentes para permitir amplo fornecimento de energia natural. A atividade vulcânica porém é constante,
já tendo ocorrido diversas explosões que causaram grandes perdas de vidas e de materiais. Sua população se mantém estável
com cerca de 250 milhões de habitantes, há mais de um milênio, devido principalmente ao domínio Seilan, que se instalou
por volta de 2980 controlando o planeta totalmente.
ZOLAN
(Xanzen 6)
(5A434-XANZEN)
54092-A432-3412
Rt: 1BC, G:9,7 ms2
Colonizada por volta de 2195 com expedições provenientes de países do leste asiático, necessitou de vasta terraformação,
incluindo alteração da atmosfera original. Experimentou grande prosperidade
inicial, sendo depois vítima de uma chuva de meteoros que por pouco não inviabilizou a sobrevivência da colônia.
Há fortes suspeitas de que tenha sido um desvio artificial de asteróides provocado por DAMIATE, que já realizou operação
similar contra diversos outros planetas, incluindo Madre-Terra, mas ele próprio jamais assumiu tal ato, o que normalmente faz. O planeta se recuperou rápido, desenvolvendo notável tecnologia medicinal e tendo apresentado os primeiros sinais de
metanaturalidade entre as Terras-Filhas. Sua população já ultrapassou 10 bilhões de habitantes, mas depois se estabilizou
por volta de 7. Possui uma lua com quase metade da massa do planeta, sendo então um sistema duplo, que já foi também
colonizada.
ORIZON 5
(7A519-ORIZON)
79112-A560-1992
Rt: 1BC, G:10 ms2
A expedição chegou ao sistema por volta de 2350, mas partiu da Mãe-Terra em 2240, num evento conhecido como Grande Êxodo,
onde ao todo 21 expedições deixaram o planeta, algumas para as colônias já estabelecidas, mas a maioria desaparecendo
por completo. Com um contingente populacional miscigenado e originalmente oriundo do Médio Oriente e Sul da Europa.
Os exploradores viveram por quase um século em estações espaciais e bases-domo planetárias antes de conseguirem terraformar
o planeta para torná-lo habitável, o que exigiu também alterações genéticas adaptativas nos habitantes. Alguns outros
migraram para sistemas estelares próximos. A civilização de ORIZON enfrentou uma ameaça que quase os levou a extinção,
após despertar inadvertidamente a reação de uma antiga espécie fotossilicônica sensciente que antes habitava o sistema.
Parte de sua história está registrada em
Raio-Y, tendo sido eles os criadores dos Antróides Hipermetas Fotossilicônicos.
Orizon tem população aproximada de 270 milhões de habitantes.
Terras-Filhas
DOURADAS
As mais conhecidas, visto terem sido construídas num período de crescente integração galáctica, e sido, em sua maioria,
devidamente planejadas
DAITA
(Ioxita 5)
(4A347-IOXITA)
47011-A322-4789
Rt: 1BC, G:9 ms2
A mais populosa de todas as Terras-Filhas tem diversos problemas sociais e econômicos que afligem seus mais de 13,7 bilhões
de habitantes, embora mais de 22% não sejam antropônicos. Num planeta com menos de metade da área habitável de Madre-Terra, é inevitável que ocorram problemas de
tensões urbanas, salubridade e desigualdade. No entanto, os índices de criminalidade são surpreendentemente baixos em
relação à quantidade de habitantes por metro quadrado, principalmente por que a liberação sexual em DAITA é tão grande
que parece eliminar a maior parte dos atritos interpessoais, o que por outro lado é o principal fator da transmissão de
doenças apesar do avançado sistema de saúde. Em compensação costuma ter pessoas extremamente hospitaleiras que recebem muito
bem os viajantes principalmente em seus pontos turísticos, em geral focados em esportes e espetáculos artísticos.
Foi colonizada por volta de 2278, e em parte devem a SEILA muitas das melhorias que implementaram durante um período de
intercâmbio que por pouco não evoluiu para uma dominação completa (como é comum com os planetas que SEILA se relaciona)
devido principalmente a intervenção constante de Madre-Terra.
GEMULA 3
(6A132-GEMULA)
68112-A128-3156
Rt: 1BC, G:8,1 ms2
Desde meados da década de 2650 começou a ser povoado este que é seguramente um dos planetas mais exóticos conhecidos.
Praticamente todo coberto por um contínuo oceano, apresenta um fenômeno geológico aparentemente absurdo. Em alguns pontos
os mares escoam por imensos 'ralos' naturais que podem ter mais de 1km de diâmetro e dezenas de profundidade, descendo até
rios subterrâneos que circulam o núcleo, sendo então expulsos por imensos gêiseres em outros pontos. Muitas dessas
"cachoeiras circulares" possuem cavernas habitadas, de onde pode-se ver as gigantescas quedas d'água marítimas que escoam
para as profundezas. Não raro tais bases e habitações necessitam de sistemas de neutralização sônica para deter o barulho
ensurdecedor das cachoeiras. Os cerca de 200 milhões de habitantes, parte deles não antropônicos, também habitam cidades
flutuantes e domos submersos. Durante muito tempo foi um dos trunfos de DAMIATE, que possuía bases secretas a partir dos
quais lançava ataques contra outros planetas relativamente próximos, até que o pacto galáctico obrigou que ele as
revelasse, o que finalmente permitiu um maior desenvolvimento do planeta.
LAMA 3
(6A523-LASA)
60011-A511-2303
Rt: 1/3BC, G:6,6 ms2
É um satélite do planeta joviano LAMA. Sua translação dura apenas 6 biociclos com uma fase clara, onde gira entre a
luz da estrelas e a luz refletida do planeta, que tem cerca de metade da luminosidade, e a fase escura, na sombra, onde
alterna a total escuridão e a luz das estrelas e ocasionais reflexos dos outros satélites do planeta.
Alcançado simultaneamente por duas frotas colonizadoras, aproximadamente em 2800. Uma de Madre-Terra, outra composta de
imigrantes de outras Terras-Filhas diversas, principalmente IOXITA. A falta de entendimento terminou numa guerra civil
que se estendeu por praticamente um milênio, que só não exigiu intervenção externa devido ao baixo número de mortes, visto
que a quase totalidade dos combates foram totalmente travados por robôs. Mesmo assim as civilizações viveram em clima de
constante apreensão, só amenizando quando a superioridade populacional dos descendentes diretos de Madre-Terra acabou
absorvendo os demais descendentes por meio de uma miscigenação propositalmente estimulada. O legado da guerra perpétua
porém jamais foi superado, e até hoje o planeta é pouco receptivo a visitantes. Além disso, foi por muitas vezes visitado
pelas Seilans, vivendo constante ameaça de virar palco de conflito entre as feiticeiras e os Klumans, que possuíam algumas
instalações autorizadas não só em LAMA 3, mas em outros satélites. Até a comunicação é parca. Estima-se que possua cerca
de 600 milhões de habitantes.
CALTA
(Xivatsa 5)
(3A537-XIVATSA)
37012-A502-3731
Rt: 2BC, G:8 ms2
Marcado por imensas geleiras, somente a estreita faixa equatorial de Calta é habitável, com florestas de clima temperado
que abrigam a maior parte dos 320 milhões de habitantes em cidades esparsas em meio a selva. As geleiras porém escondem
vastas riquezas minerais, de modo que parte da população habita zonas perpetuamente nevadas. Imigração em massa só ocorreu
a partir de 2620, porém já havia bases e mineradores desde a era galáctica. Durante séculos foi disputado por duas outras
forças, uma raça híbrida cinzenta e uma espécie silicônica que jamais permitiu qualquer tipo de comunicação, numa
guerra de 3 forças distintas que nunca conseguiram se entender. Ao que tudo indica, os cinzentos terminaram por exterminar
os silicônicos e depois desapareceram misteriosamente. Devido a vastas minas de cristais, o planeta também já foi
por várias vezes visitado por Seilans, sendo constantemente ameaçado de domínio. Provavelmente foi palco de conflitos
envolvendo ZENITRONS, visto terem sido encontradas instalações abandonadas e devido à resquícios da civilização silicônica
aparentarem ter capturado naves zenitrons, bem como terem sido algumas destruídas por artefatos similares aos usados pelos
zenitrons.
SOFISTIA
(Epistis 3)
(TB319-EPISTIS)
T0983-B303-1911
Rt: 1BC, G:8,2 ms2
Seguramente a mais desenvolvida das Terras-Filhas pelo padrão de Madre-Terra, mais até do que a própria. Com 3,6 Bilhões
de habitantes, possui os mais avançados laboratórios, naves industriais e produção científica, filosófica e artística.
Bem como avançados centros de treinamento metanatural para a maior população de Supermetas antropônicos da galáxia.
Único planeta que conseguiu reproduzir a tecnologia Madre-Terrestre das Espadas Espaciais, tem conseguido se manter estável
e pacífico por quase toda sua história, iniciada em torno de 2560 por várias migrações organizadas. Seu grande
desenvolvimento, porém, foi obtido após o Pacto Galáctico, visto que antes temia atrair atenção da Seilans, e também tiveram
algumas tensões iniciais com os Marous, que jamais resultarem em conflito factuais. Especialistas acreditam que SOFISTIA
deverá assumir o papel da Mãe-Terra como planeta líder dos antropônicos em menos de 300 anos, se as tendências forem
mantidas.
PINGTAU
(Riander II 4)
(5A430-RIANDER II)
58732-A401-3001
Rt: 4BC, G:7,7 ms2
Desde 2525 recebeu várias ondas de imigração, que se espalharam para planetas próximos e satélites naturais tornando-a
famosa como um sistema estelar turístico, com cidades inteiras dedicadas ao lazer e imensas ilhas de repouso. Uma temporada
em PINGTAU ou algum dos outros planetas menores de RIANDER II é um programa quase obrigatório para qualquer pessoa que
faça viagens espaciais apenas por prazer, o que aliás é raro. As naves que transportam viajantes de Madre-Terra para
Riander II costumam ser gigantescos e luxuosos centros de relaxamento e diversão, de modo que a mais breve viagem demore
ao menos 3 meses de lazer. Mas o planeta é famoso também por seu sistema de geração de energia, totalmente solar, com 27
imensas torres de kms de altura que tem seus sensores sempre em cima das nuvens, e que se interligam por feixes de energia
que transmitem constante força da parte iluminada para a parte escura, garantindo fornecimento ininterrupto para os 700
milhões de habitantes do planeta principal, que somado ao restante do sistema, atinge cerca 820 milhões.
Praticamente não há reatores no planeta, e nem qualquer outra forma de usina energética.
VERINA 6
(SB126-VERINA)
S0113-B112-2665
Rt: 1/4BC, G:7,9 ms2
Não possui atmosfera respirável para qualquer forma de vida conhecida, possuindo então imensos domos sobre as cidades,
bem como cidades subterrâneas e submersas. No entanto os amplos recursos naturais permitem a extração de gases e minerais
vitais com relativa facilidade e abundância.
Originalmente habitada por Cinzentos, possui uma longa história de relações com os Zenitrons. Posteriormente, as colônias
Madre-Terrestres, iniciadas por volta de 2720, excederam populacionalmente e terminaram por dominar o planeta, atingindo
pouco mais de 1 bilhão de habitantes. Um dos poucos planetas a possuírem uma embaixada Seilan autorizada a movimentar
forças de combate, que formam a base de apoio que garante a segurança do sistema XARIS, à pedido de KERENA.
Casos obscuros
NEPTUNIA
(Solarnia 4)
(IB628-SOLARNIA)
I2208-B697-2830
Rt: 1/2BC, G:12,8 ms2
No mesmo sistema estelar de TERRANIA (que supostamente foi SAMTARA), este é um caso à parte, visto que embora não fosse colônia, tinha amplas bases de pesquisa e população transitória de cientistas, funcionários e exploradores, e acabou se tornando, com quase toda a certeza, uma colônia forçada devido ao desastre com o portal espacial, que isolou cerca de 320 mil pessoas no sistema, praticamente todas no planeta. Com mais de 20 mil km de diâmetro, o planeta possui 92% de sua superfície permanentemente imersa em imensos oceanos de água doce ou de baixa salinidade, que podem atingir 25 kms de profundidade, caracterizados por uma coloração esverdeada e uma transparência cristalina, que permite visibilidade nítida em profundidades inferiores a 100m em dias claros. Cerca de 4% das terras ficam submersas intermitentemente, de acordo com as marés, por mais ou menos tempo de acordo com a época do ano. Somente 2% das terras são permanentemente emersas, sendo porém, praticamente inabitáveis, devido as altas temperaturas da superfície, e o constante açoite de tempestades, por vezes furacões supersônicos capazes de derrubar montanhas e provocar terremotos apenas pela vibração sonora. As habitações no planeta são normalmente em domos subaquáticos, ou em gigantescos submarinos. Algumas áreas de clima mais tranquilo possuem cidades flutuantes, embora protegidas por domos principalmente devido ao extremo calor. Algumas regiões de NEPTUNIA tem uma espécie sensciente nativa, muito similar e possivelmente aparentada aos dobuk, que se relaciona amigavelmente com os antropônicos. Estima-se que a população total do planeta esteja por volta de 5 milhões de habitantes, que, por sorte, podem contar com vastos recursos naturais. No entanto, é possível que sejam muito mais, caso tenha havido uma política organizada de reprodução, ou possíveis outras imigrações. Há também a suspeita de que parte da população antropônica seja remanescente de SAMTARA, cujos habitantes teriam se escondido e se infiltrado entre os recém chegados madre-terrestres. A distorção temporal causada pela distância também dificulta muito estimar o tempo decorrido no sistema estelar de SOLARNIA em relação ao sistema SOL, por sinal bastante parecido.
DOLPHUS
(Zentaris 4)
(XA629-ZENTARIS)
X3868-A615-2915
Rt: 1/3BC, G:13 ms2
Habitado originalmente por uma raça dobuk que habita os grandes pântanos equatoriais, este planeta teve várias ondas de colonização incertas, no entanto, por fatores nunca devidamente esclarecidos, a maior parte da população, estimada em cerca de 70 milhões, decidiu se esconder em cidades subterrâneas e se isolar de qualquer contato interestelar e mesmo quase todo contato interplanetário. O mesmo aconteceu com grupos que migraram para outros planetas próximos, como PROMENON (Zentaris 3) ou GALVANIAN (Zentaris 6). Após o conflito que ficou conhecido como Colapso de Zentaris, que não se sabe se foi causado por uma invasão inter ou intraestelar, houve uma quantidade indefinida de mortes cujos números variam de 5 a 50 milhões. É possível que tenha sido visitado pelas seilans, ou suas ancestrais, que possivelmente lhe teriam deixado descendentes, visto que o sistema é conectado, por um portal espacial semi-estável, a CA128-VELGA, que por sua vez é relativamente próximo ao sistema MAUTERIA (B1291-B402-2798), onde fica SEILA. (Embora o sistema tenha recebido esse nome, não há qualquer registro que tenha sido sequer visitado pelo Hipermetanatural Zentaris, e ele alega desconhecer por completo o motivo dessa suposta homenagem, que alguns consideram mera coincidência.)
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