INTRODUÇÃO
A exploração espacial Madre-Terrestre no ano 672 seguia em ritmo acelerado, após lenta recuperação da
grande retração
dos séculos anteriores, quando os Madre-Terrestres tendiam a se voltar cada vez mais para si mesmos, e seu
próprio planeta, num misto de síndrome do pânico hiperespacial e sentimento de interioridade.
Nada mais restava da antiga Aliança Hexagonal além do imenso patrimônio cultural legado à toda Galáxia. Os ZENITRONs
eram memória ainda mais distante, apesar de não tão extintos quanto. DAMIATE continuava oculto e quieto como vinha
fazendo nos últimos 300 anos e as SEILANs, em parte graças a Ele, haviam dado uma notável trégua à maior parte
dos setores da Galáxia que antes assediavam.
Foi nesse cenário de considerável tranquilidade que se desenrolou um dos mais notáveis capítulos do desbravamento
do espaço. As sondas automáticas Madre-Terrestres, espalhadas por quase 1/3 da Galáxia, frequentemente enviavam fartos
dados sobre as mais longínquas e inexploradas regiões, das quais nenhuma das potências citadas acima tinha muita
informação. Os dados eram triados e analisados, e Madre-Terra e as Terras-Filhas, organizavam expedições mais incisivas
para os sistemas estelares mais interessantes.
O Sistema Estelar AB328, ainda sem nome, chamou atenção graças a uma curiosa anomalia orbital que permeava alguns
de seus planetas, cujo motivo desafiava a astrofísica. Como diversos outros sistemas aparentemente tão ou mais interessantes
deixaram de ser prioridade por motivos diversos, e nenhum deles científico, uma expedição que retornava à
Madre-Terra após uma missão mais curta que o previsto, e que inclusive amargava uma certa decepção, foi
então designada para investigar o tão estranho comportamento dos planetas que giravam em torno de uma estrela
branca de Terceira Grandeza, e para o qual registro algum da Aliança Hexagonal apontava qualquer conhecimento prévio.
Já há um ano e meio no espaço, a maior parte dos 232 tripulantes da frota conhecida como PASTOR-6 aceitou de bom grado
a nova missão, desviando seu curso rumo ao desconhecido para uma viagem que duraria ao menos mais um ano, mas que
se bem sucedida, seria profissionalmente benéfica para todos os envolvidos.
Composta por apenas 5 naves base, a PASTOR-6 vagou vários meses pelo Hiper Espaço até emergir para o espaço normal,
já na altura da órbita do Sexto Planeta a partir da estrela, que batizaram de NOVITA. Era NOVITA-6 o planeta cuja
disfunção orbital menos se acentuava, sendo esta especialmente notável nos NOVITA-4 e NOVITA-5, cujos caminhos das
órbitas eram inexplicavelmente distorcidos, como se de fato houvesse um outro planeta entre ambos.
Embora a sonda automática que investigara o sistema NOVITA houvesse enviado muitos dados, somente a menos de
60 milhões de km do foco da anomalia ficou evidente o fato de que a sonda deixara de detectar um planeta.
Imediatamente foram renomeados os planetas posteriores a NOVITA-4, sendo um NOVITA-5 recém adicionado e ainda não visualizado,
em contraste com os demais cujas fotos eram de ótima qualidade, embora nenhum deles de fato interessante.
Quando, quase 10 dias depois de emergir do Hiper Espaço, a comitiva PASTOR-6 estava a menos de 1/20 da velocidade da Luz,
foram lançadas novas sondas, por sinal 700 anos mais avançadas que a antiga sonda que outrora estudara o sistema e que
já ia longe, próxima de um outro objeto de estudo.
Porém, não demorou para que se acumulassem dados contraditórios e perturbadores, que a princípio faziam tão pouco sentido
que alguns dos pesquisadores já estavam a cogitar a possibilidade de se estar em um Sistema Estelar cujo grau
de distorção das Instantes Naturais era acima do normal.
As sondas enviadas varreram totalmente a deduzida órbita onde deveria estar NOVITA-5, cuja estimativa previa uma massa de
ao menos 7x1027 toneladas e uma gravidade de ao menos 12m/s2. No entanto, nada acharam.
Desconfiados de estarem diante de um minúsculo e extremamente denso planeta escuro, ou mesmo de um anormal
buraco negro, novas sondas foram lançadas, mas mesmo quando a PROMINUS, a nave batedora da PASTOR-6, se adiantara
e alcançara a altura da órbita em questão, as sondas continuavam a falhar em localizar o planeta.
Finalmente, usando poderosos rastreadores de gravidade, os pesquisadores acharam uma localização quase exata, por
sorte bem próxima da PROMINUS, que com seus 13 tripulantes, alcançou o destino.
O MISTÉRIO
Ele estava diante de uma bela e imensa cachoeira, com fulgurante vapor d'água se agitando para todos os lados.
Sentado sobre uma rocha, via os peixes exóticos na água abaixo de seus pés quando subitamente um cubo luminoso
se materializou a sua frente, anunciando a chegada ao destino.
Por uns instantes Taulin, um Madre-Terrestre de 72 anos mas cuja aparência os antigos Madre-Terrestres do século XXI
não dariam sequer 50, até se esquecera de onde estava, e por uma fração de segundo lembrou de quando era criança,
em Madre-Terra, e sonhava que um dia viajaria pelo espaço distante.
Voltou a si e prestou atenção na imagem que o cubo flutuante projetou, mostrando os dados de aproximação do
local onde deveria estar o planeta NOVITA-5. Com um certo desgosto, Taulin requisitou o fim da simulação, e então
o belo cenário a sua volta desapareceu, dando lugar a uma sala escura, onde ele flutuava, até que pouco a pouco
seus olhos se acostumaram ao familiar cenário de seu quarto pessoal.
Taulin ativou sua tela de comunicação e contactou Filia, a Cientista Chefe da expedição PASTOR-6, e logo em seguida
Velek, um híbrido Terrestre-Cinzento que era uma das maiores autoridades galácticas em Arqueologia Espacial.
Os 3 formavam a tríade responsável pela PASTOR-6. Taulin, um experiente navegador e explorador, questionou seus
colegas se preferiam trabalhar por tele-presença ou se reunir em presença real, e todos concordaram com a segunda
opção.
O desenho das naves da frota não apresentava as típicas "Pontes de Comando" tão idealizadas pelos antigos autores
de Ficção Científica Clássica, mas sim possuíam meras salas de reunião, com não muito mais que uma dezena de pessoas.
No entanto, dada a qualidade das projeções holográficas que os circundavam, era possível se sentir quase que
diante do próprio espaço, ou como que flutuando livres na imensidão, manipulando habilmente as imagens e sistemas
gerenciadores da nave, quer fosse em comandos manuais, vocais ou meramente mentais.
Com tal tecnologia, parecia que os presentes voavam em pleno vazio espacial, rodeados pelas estrelas a fitar
um local indicado por um deles e assinalado por um círculo gráfico.
- Aqui está! - Disse Eli, o responsável pela procura do planeta misterioso.
Quase todos fizeram alguma expressão de incompreensão, e esperaram uma explicação.
- Seja lá o que for que procuramos, está ali! - Insistiu Eli, apontando para o vazio assinalado pelo círculo.
Se apressou então em apresentar os dados, que surgiram ao lado da área assinalada. O planeta possuía cerca de
15mil Km de diâmetro, e massa e gravidade de acordo com o previsto. Porém, não havia planeta algum ali.
Eli, em seguida, executou as primeiras gravações emitidas pelos observadores.
- Tem certeza que estão na posição certa?
- Absoluta.
- Só Xantai tem certeza absoluta.
- Posso garantir que nossa posição é correta! Mas não há planeta algum!
- Aumentem o leque de frequências das varreduras! Tem que estar aí!
- Já usamos todas as frequências possíveis! Não tem planeta aqui! Deve haver algum defeito nos rastreadores de
Gravidade! Eu sempre disse que eles não são muito confiáveis em Sistemas Estelares deste tipo. A sonda 3 está agora
repetindo a varredura num ponto mais próximo ao... O quê?!?!
A imagem da simulação rapidamente mostrou a sonda simplesmente desaparecer, instantaneamente. Numa fração de segundo
a sonda sumiu da existência. Suas transmissões emudeceram, os rastreadores das outras sondas e da PROMINUS
automaticamente intensificaram as varreduras, mas a sonda simplesmente parecia ter sido removida da realidade.
Os espectadores, mesmo os que já haviam visto a reprodução, continuavam atônitos, quando de repente a sonda reapareceu
junto com todas as transmissões, e rapidamente começou a enviar uma saraivada de novos dados, revelando em obscuros
detalhes sua nova descoberta.
As sondas eram programadas para, em qualquer evento estranho, imediatamente retornarem a seu grupo. E foi o que aconteceu.
Nos breves 21 segundos em que a sonda desaparecera ela captara várias imagens de várias frequências enquanto promovia
a manobra de meia-volta. Esses poucos dados foram suficientes para tornar inegável que se estava diante de uma das
maiores descobertas da Exploração Espacial. Ainda assim, as demais sondas foram instruídas a fazer manobras semelhantes.
Adentrando a área na qual desapareciam, cada vez em incursões mais longas, e depois retornando com mais e mais informações
assombrosas.
O PLANETA FANTASMA
- Está lá. - Disse Taulin. - Simplesmente está lá, mas...
- É invisível. - Respondeu Filia.
- Como pode ser possível um campo de invisibilidade desta natureza? - Insistiu Taulin.
- Checamos vários arquivos. - Interviu Eli. - Mas não descobrimos ainda quem poderia nos auxiliar a elucidar esse
mistério. Pelo menos ninguém Madre-Terrestre.
Então a estranha voz de Velek interveiu. - E com sua licença, gostaria de acrescentar que não tenho conhecimento de
qualquer civilização que domine tal tecnologia. Nem mesmo os ZENITRONs. Porém, tal campo de... Ausência, se assemelha
a técnicas mentônicas relacionadas às SEILANs.
- Era o que eu ia dizer. - Eli retomou. - Talvez o SuperMeta da Terra, Traigon Bel-Lar, ou o Senhor Xuminis
possam nos ajudar. Mas só poderão nos responder em no mínimo uma dezena de dias. Portanto, nossa melhor chance é
mesmo... Ela.
- Era isso que eu temia. - Disse Filia. - E se elas estiverem envolvidas?! Ela pode ser nada menos que uma espiã!
- Pouco provável. - Disse Taulin. - Quando ela veio a nós, não tínhamos a menor idéia de que viríamos para cá.
Talvez ao invés de vermos isso como mais um preocupante sinal de que não podemos confiar em nossa ilustre passageira,
possamos ver como uma benção providencial.
- Devemos consultá-la. - Sugeriu Velek, e obteve o consentimento de Eli e da maioria dos outros ali presentes, mas não o de
Filia, e de alguns outros.
Taulin decidiu. - Que seja. Mande-a vir até aqui. Mas não diga nada sobre o que se trata! E observem cada sutileza.
Se ela estiver escondendo algo... Temos que ter todo o cuidado possível.
- Eu não daria as costas para ela. - Insistiu Filia. - Em hipótese alguma devemos deixar de vigiá-la.
Mantenha nosso melhor telepata perto dela o tempo todo.
- Sim. Assim será.
A FEITICEIRA
A última nave da frota era a IANTIS, não por acaso a maior e mais luxuosa, pois abrigava a maior parte dos integrantes
da PASTOR-6. As demais naves sempre seguiam à frente para protegê-la de qualquer incidente, que era potencialmente perigoso
quanto mais rápido se viajava pelo espaço.
Com mais de 1.800m de comprimento por 300m de diâmetro médio, girava inabalavelmente, simulando gravidade por centrifugação
e permitindo a seus integrantes desfrutarem de ambientes que imitavam biosferas planetárias. Dentro destas, havia pequenas florestas,
rochedos, lagos e uma cidade, com a surreal característica de, sendo construídas nas paredes internas da nave, curvarem-se
sobre si mesmas.
Algumas pessoas demoravam dias para se habituar a olhar para o "horizonte" e vê-lo subir, se curvando para cima até
o topo, e então voltar pelo lado oposto. Ver rios "subindo", ficando invertidos e "descendo de volta" era o tipo de
coisa que fazia os nervos mais sensíveis terem vertigens.
Num dos prédios mais afastados do interior da nave, bastante isolado até mesmo para os alojamentos mais reclusos,
havia uma estrutura cônica baixa metálica, com uma porta semi-oval cinzenta de aspecto odiado por sua ocupante.
À frente desta porta estavam 3 emissários.
O primeiro era um Antróide, pouco de mais de 1m de altura, e cuja aparência frágil não enganaria
qualquer pessoa mais avisada. Seu corpo metálico escuro e sua anatomia meio antropomórfica, interceptado por alguns
dispositivos de design arrojado e intimidatório, revelavam uma máquina potencialmente perigosa quando programada
para atacar, fazendo uso de armas elétricas, LASERs e lançadores de micro mísseis.
Tais robôs eram atualmente obsoletos na maioria dos planetas, tendo sido substituídos pelos ZIGs, robôs esféricos flutuantes
que eram empregados nas mais diversas tarefas. No entanto, os ZIGs flutuavam graças a dispositivos antigravitacionais que
funcionam apenas no campo gravitacional real de um planeta. E este não era o caso no interior daquela nave, onde a
força centrífuga que simula a gravidade não poderia ser driblada por antigravidade.
Ao lado deste antróide vinha uma mulher, alta, forte e de olhar penetrante, mas que não escondia um certo medo. Seus
olhos escuros contrastados com sua pele rosada, já de uma idade bastante avançada embora ainda vigorosa, lembravam uma
típica senhora britânica do século XXI, daquelas que ainda conservavam uma tez vitoriana. Já tendo passado dos 100 anos,
Sonija era uma figura étnica cada vez mais rara na cada vez mais miscigenada Madre-Terra.
Ao lado dela havia um Cinzento, de enorme cabeça calva e grandes olhos negros. Um pouco mais baixo do que ela e vestindo
finas túnicas prateadas, ele era o maior telepata de toda a frota, e tinha sido especialmente designado para vigiar bem
de perto a hóspede daquela construção metálica.
Embora soubesse com muita antecedência que a comitiva chegaria naquele horário, a hóspede se demorou vários minutos, e
quando a porta se abriu, saiu por ela um belo jovem rapaz loiro ariano, de corpo atlético, olhar meigo e face juvenil.
Cumprimentou Sonija, que era bem mais alta, com reverência muito convincente, e o telepata cinzento de modo bem menos
autêntico. Naturalmente, ignorou o antróide. Com gestos simples, pediu a todos que aguardassem mais um pouco, e logo
outro rapaz loiro saiu, ligeiramente mais alto e mais esbelto, e de olhar mais maduro, que rapidamente repetiu os cumprimentos,
dirigindo-se a Sonija, que ainda era a mais alta, de um modo estranho, visto que parecia encarar-lhe mas ao mesmo tempo
não se atrevia a fitá-la diretamente nos olhos. Esse misto de respeito e cortesia aumentou a atração que a mulher sentiu pelo
rapaz, por um instante, quase irresistível.
E então, imediatamente depois, surgiu a feiticeira.
Sua saída foi precedida de um notável calafrio, misto de temor e fascínio, que Sonija já sentira antes. A feiticeira era
bem mais alta que seus servos, embora pouco mais que Sonija, seus cabelos de um loiro luminoso, olhos verde acastanhados que
pareciam emitir luz como dois faróis, e uma pele indescritivelmente pura e bela. As formas de seu corpo poriam a nocaute
a quase totalidade dos homens, e a maioria das mulheres. Não era à toa que os 3 responsáveis pela expedição proibiram
qualquer homem de se aproximar dela sem estar devidamente acompanhado por um telepata. E a proibição também se
estendia a qualquer mulher homo ou bissexual, esta última categoria abrangia mais da metade das mulheres da
PASTOR-6.
Mas era claro que a feiticeira não estava a usar sua capacidade de sedução, especialidade das SEILANs, à toda carga.
Este fora um dos termos, e o mais rígido, de sua admissão na frota. Única forma que ela conseguira de viajar para
Madre-Terra.
Pedira a todos que a chamassem de Lunis, e não fizera questão de tratamento especial, mas sim somente que pudesse trazer
certa quantidade de seus pertences, mais seus dois servos pessoais. E frisou que preferia não sair de seus alojamentos,
o que também era preferido pelo comando da frota
- Saudações... Senhora Lunis - Disse Sonija, ainda sem muita certeza de que usara a linguagem mais adequada,
no caso o Gaiol, que era o idioma antropônico mais usado pela Hexaliança. E de fato Lunis fez uma expressão de que
havia entendido perfeitamente, mas que não responderia naquele idioma.
- Estou à vossa disposição. - Disse ela enfim, de um modo um tanto ríspido, num dos idiomas de seu planeta natal
e que tinha já notável repercussão em outras partes da galáxia.
Sonija preferiu não dizer mais nada, e acompanhou sua incômoda hóspede, que trouxera um de seus servos, pelo jardim rumo
ao elevador que os levou ao eixo central, por onde foram até a doca e numa nave seguiram rumo à PROMINUS.
E embora a seilan tomasse cuidados até mesmo exagerados para evitar possíveis "estragos" sentimentais na tripulação, ela
não foi capaz de perceber que, a algumas centenas de metros dali, um homem solitário a havia observado o tempo todo,
absolutamente deslumbrado.
O ANJO GUARDIÃO ESTELAR
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A milhares de Anos-Luz dali brilhava um sol vermelho, e em torno deste girava um planeta habitado por uma minoria
de Filhos de Madre-Terra e seus descendentes, e uma maioria de outras espécies senscientes. Bem longe das cidades,
em uma grande ilha marítima banhada pela luz escarlate e enfeitada pelos gradientes de cores do céu, vivia um
único homem.
Gostava de pensar que se aposentara, e gastava seu tempo construindo artefatos em material natural, semelhante à
madeira. Suas barbas e cabelos negros ficaram por um tempo coberto de um pó bege, resultado de um trabalho manual
provavelmente prazeroso, visto que ele poderia ordenar a um robô para fazê-lo com superior eficiência e velocidade.
Sua pequena oficina ficava por entre árvores exóticas de um visual que muitos considerariam paradisíaco, ainda que
pintado por tonalidades fortes como vermelho, laranja, rosa e similares. O distante ruído das ondas do mar era
abafado pelo irritante som do instrumento que desgastava o material similar à madeira. Mas o homem nada ouvia, pois
se concentrava em coisas que nada tinham a ver com aquela ação, e que se para ele pareciam agradáveis, talvez não
fizessem sentido para a maioria dos outros membros de sua espécie. A espécie Antropônica.
Então ele parou, fitou o vazio por uns instantes. Se abaixou para depositar seu instrumento e então se ergueu.
Ficou vários minutos à fio como se escutasse uma interessante palestra, e então, com um misto de preocupação e
decepção, foi andando lentamente até sua casa.
Se livrou do pó, tirou a camisa branca, revelando um físico perfeito, e se sentou numa poltrona. Com comandos
vocais simples fez surgir diversos diagramas de dados à sua frente, e começou a estudá-los.
Horas depois já estava completamente arrumado para viajar. Vestia roupas pretas e folgadas, trajando também uma capa
com capuz, o que aumentava ainda mais seu visual de monge, ainda que seu olhar fosse tão penetrante que parecia ir
muito além disso.
Então saiu de casa para a praia. Olhou para o céu uma última vez, e então, suavemente, suas roupas começaram a se iluminar
até se tornar de um branco brilhante. O mesmo aconteceu com seus cabelos e barba, e em grau menor com todo o seu corpo.
Ele flutuou, de início devagar, sobre as ondas, brilhando divinamente, e então, foi subindo e acelerando, cada vez mais.
Quando uma bolha oval de energia envolvia seu corpo, ele já voava a não menos que 3 Km/s, velocidade com a qual
não demorou muito a chegar a uma das cidades, onde num alto prédio em que muitos já o conheciam, pousou. E quando a
energia luminosa se dissipou, sua roupa, cabelos e barba voltaram a ser pretos.
Além de já ser relativamente famoso, era difícil que não chamasse ainda mais atenção, pois o Vôo Metanatural não era dom comum
mesmo para os Super Metanaturais. E ele era bem mais que isso.
Trocou breves palavras com amigos e conhecidos, deixando algumas instruções, e enfim, após um breve período pôde adentrar
seu veículo que lá ficava guardado, equipá-lo com poucas coisas
e logo em seguida sua nave sobrevoava os mares subindo cada vez mais. Demorou bastante tempo para explicar ao tráfego
planetário porque estava saindo e onde iria, mesmo assim, conseguiu em poucas horas entrar na fila de espaçonaves
que se preparavam para cruzar um dos Anéis Espaciais.
Depois de quase meia hora na fila, sua nave cruzava o Anel para um sistema estelar 37 Anos-Luz distante, e enfrentou
ainda mais tráfego para pegar outro anel para outro sistema, perfazendo um total de 69 Anos-Luz. De lá, partiu
para regiões mais remotas do sistema estelar e começou a acelerar, numa medida espantosa mesmo para um veículo capaz
de atingir o estágio de Hiper Vibração molecular e penetrar para o Hiperespaço.
Era evidente que aquele passageiro possuía uma resistência física muito superior à de qualquer outro ser vivo, caso
contrário, a nave demoraria dezenas de dias para poder promover o salto para o Hiperespaço com segurança e conforto
para seus passageiros. Com ele, levou apenas três.
Mas a viagem no Hiperespaço seria bem mais longa.
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A EMIGRANTE
GENIUS era aquela que poderia ser chamada de nave capitã da Pastor-6. Era nela que ficavam, na maior parte do tempo,
os 3 dirigentes da frota.
Taulin, Filia, e Velek aguardavam com
indisfarçada ansiedade sua hóspede, que acabara de embarcar e agora estava prestes a entrar na pequena sala
de reunião, que graças aos sistemas holográficos parecia ser uma imensa sala circular, com vastas janelas que davam para
o espaço. Em alguns pontos estavam outros membros da tripulação, alguns em presença real, outros em telepresença.
- Ainda acho que não devíamos consultar esta mulher. - Disse
Filia desanimada.
- Há muito tempo não a vejo assim tão reticente. Por favor! Seja menos pessimista. - Protestou
Taulin com o claro apoio de Velek.
- Desculpem. Não estou num bom dia hoje. Tive sonhos... Tão estranhos. - Ela respondeu
aguçando de imediato a curiosidade dos outros, mas antes que a interrogassem uma passagem no cenário que simulava
o espaço estrelado se abriu e a feiticeira Seilan, ainda acompanhada por Sonija, pelo telepata e pelo antróide,
adentraram. O rapaz ariano que servia a feiticeira ficara numa ante sala. Uma rápida troca de pensamentos entre o telepata
cinzento e Velek, que lhe era
meio semelhante e também telepata, bastaram para que ele convencesse Filia a ficar mais calma,
pois não fora identificado nenhum sinal suspeito na feiticeira. De fato, Lunis dirigiu-se a
eles de modo mais cortês do que esperavam.
- Saudações meus caros anfitriões. Estou sinceramente esperançosa que possa vir a lhes ser útil.
- O tom polido, por um lado, quase destoava da fama das Seilans, por outro lado persistia ainda um "quê" de ardil em seu
penetrante olhar.
Taulin bem que tentou, mas teve dúvidas de que tenha sido capaz de ocultar
sua perturbação ao se dirigir à feiticeira de um modo amistoso mas ao mesmo tempo senhor da situação. Explicou-lhe em
linhas gerais do que se tratava, do planeta oculto por um impressionante sistema de invisibilidade, e depois reproduziu
várias gravações de análises e comentários.
- Seus especialistas tem razão. Essa tecnologia tem alguma semelhança com uma técnica seilan
clássica de esfera de invisibilidade. No entanto, está além de meu conhecimento o que exatamente poderia gerar um
campo de tal magnitude. - Ela se aproximou de uma das telas flutuantes que exibia um gráfico de simulação do planeta.
- Se quiserem que os ajude mais, é necessário que eu me aproxime fisicamente deste campo. O máximo possível.
- Não pode ir em forma astral? - Perguntou Filia, num tom que
parecia querer ser hostil, prestes a colocar a Seilan em alguma situação constrangedora. No entanto, ela misturou
alívio com conformismo, quando a feiticeira respondeu: - Trata-se de um campo meramente físico. Não afeta o plano
astral ou o mental. Seria inútil me aproximar dele pelo astral inferior, eu não teria dados suficientes para qualquer
investigação relevante.
Houve um tempo de confabulações sobre o estranho fenômeno, no qual Velek
fizera o possível para atenuar o clima tenso. Então, eles requisitaram à sua hóspede que lhes desse licença, e seguiram
para uma parte mais distante da sala, que se isolou do restante por artifícios que faziam parecer que haviam se movido
milhões de kms para longe.
Lunis seguiu então para uma outra parte, onde uma simulação holográfica
a permitia contemplar a imensidão espacial que servia de moldura para a IANTIS, que mais parecia um luminoso planeta
azulado a tomar todo o horizonte visível lançando luminosidade celestial nas frias trevas do espaço. Seu servo
veio acompanhá-la, e eles ficaram de mãos dadas, lado a lado.
Ela sentia clara e duramente a hostilidade predominante da tripulação. Hostilidade esta que era
quase sempre à distância, pois os poucos dos quais ela se aproximara não foram insensíveis a seu terrível poder
de atração. No momento em que a viam, em especial os homens e as mulheres não heterossexuais, se mostravam incrivelmente
receptivos, com raras exceções. No entanto, ela sabia, muitos passavam a temê-la ainda mais quando se afastavam.
Ela, apesar de chateada, no fundo não podia culpá-los. Nos últimos séculos SEILA se tornara a maior ameaça da galáxia.
Chegaram a controlar com "mão de ferro", e também com "mão de seda", 30 outros sistemas estelares, dominando totalmente
suas populações senscientes. Inúmeras colônias terras-filhas foram escravizadas pelo imenso poder das feiticeiras, gerando
uma revolução cultural comparável à do próprio DAMIATE, quando, em sua terrível cruzada, seguiu arrasando civilizações
inteiras que demonstrassem vieses religiosos suficientemente fortes para impedir seus planos.
Religião. Era exatamente esse o problema. As Seilans acreditavam num modelo rígido de universo, onde tudo devesse
existir em função de um espelhamento do universo físico em um conceito ideal de universo espiritual. Acreditavam na brevidade
da vida biológica como uma mera passagem existencial que visava um mundo maior, e isso se refletia em toda a sua
concepção social pretensamente utópica. Era verdade que onde quer que dominassem, as Seilans acabavam com as guerras,
a pobreza e demais perturbações sociais, no entanto, o preço costumava ser considerado alto.
Exigia-se uma total entrega ao modelo religioso político, que moldava com pressão radical toda a produção artística,
científica, filosófica e mística, convergindo-as para uma ideologia tão específica que não havia lugar para peculiaridades
culturais autóctones. Mas o dano maior não era social ou coletivo, era sim individual. Quando escravizada pelas seilans,
qualquer criatura sensciente perdia toda a sua vontade original, se tornando completamente serviente, viciada nas doses
de êxtase que elas lhes forneciam. Sem vontade própria, chegava a ser discutível sua condição sensciente.
Algo disso incomodava Lunis de um modo que ela não sabia explicar. Não que fosse exatamente
piedosa, mas ela tinha certa aversão pela submissão. Mesmo seus servos pessoais, quando excessivamente submissos, lhe
eram desagradáveis, embora isso não significasse exatamente que eles tivessem uma autonomia. Por vezes, ela própria
pensava em si como detentora de uma certa perversão. Era fato que os escravos das seilans eram, podia-se dizer, felizes.
Tanto quanto um animal irracional sem qualquer necessidade de realização autônoma pode ser feliz tendo plenamente satisfeito
todos os seus apetites. Sendo assim, por que a idéia de que alguém resistisse à dominação, mesmo que isso implicasse em
sofrimento, lhe parecia preferível? Por que esse apego a uma autonomia que não poderia trazer felicidade?
Ela contrabalançava esse sentimento com a postura de que não apoiava a política expansionista, conquistadora e dominadora
de sua raça, mas por outro lado ela também não tinha grande apreço pelas outras culturas. Em suma, ela era um oceano de
contradições internas que lutava para se entender. Percebera isso quando notou que tais contradições eram inerentes também
na cúpula mística de sua civilização. Se por um lado as seilans pregavam uma pureza racial, e eram de um etnocentrismo
e orgulho incomparáveis, elas também costumavam promover certas misturas com outras raças antropônicas, ainda que num viés
curiosamente científico. Era fato que tais misturas eram restritas aos planetas onde ocorriam, e nenhuma mestiça, mesmo
feiticeira, jamais fora admitida em SEILA. Mas, por outro lado, o nível de dominação das seilans sobre tudo o que viam,
o modo como penetravam e se apossavam dos outros planetas, levava a uma inevitável mistura com culturas invariavelmente
consideradas inferiores.
Algo nisso enojava Lunis, ela era tão etnocêntrica e orgulhosa quanto qualquer uma boa seilan,
mas era exatamente por isso que achava que não deveriam estar se alastrando por outros planetas. SEILA deveria ficar em
casa, seguramente o mais magnífico planeta da galáxia para qualquer seilan, e se preocupar com coisas mais elevadas do que
se apossar de planetas medíocres e raças degeneradas! Era assim que ela pensava! Mas então por quê? Por que ela partira?
Por que estava agora a caminho da Mãe-Terra?
Mãe-Terra... Era por isso que estava ali. Ela queria conhecer o berço das antropônicas, o útero da espécie que viria
a evoluir e se transformar nas Seilans, as descendentes das Deusas dos confins sagrados e proibidos da galáxia.
Já que ela não poderia nunca achar o planeta do qual um dia partiram suas ancestrais divinas, que fundariam SEILA, ela
iria então fazer melhor, iria conhecer o planeta de onde as ancestrais destas ancestrais vieram. No fundo de tudo, ela
estava voltando à sua origem, ao ventre de sua criação.
Madre-Terra, ela sabia, não era parecida com Seilan. A sociedade, a civilização, o governo, eram completamente diferentes,
mas a maior parte de sua população ao menos professava uma Deusa, e um dia, quem sabe, ela fosse uma das precursoras de
uma nova ordem em Madre-Terra, restaurando ao planeta mãe primordial sua divindade suprema.
Mas, com certos telepatas ali perto, era melhor nem pensar nisso.
A FROTA
A PASTOR-6 era composta pela PROMINUS, a nave batedora, com poderosos sensores e sistemas de reconhecimento, e bem mais
rápida que a GENIUS, que formava com a IANTIS uma espécie de núcleo. Esta última era como se fosse a cidade, e a primeira
o prédio do governo. Além delas havia a ANGRA, que era polivalente, podendo assumir a funções de qualquer uma das outras
em casos de emergência mas sendo especializada em ser um tipo de fábrica, produzindo todos os engenhos necessários.
Mas além de todas estas havia a SEDNA, a Espada Espacial.
Diferente de todas as outras, era totalmente automática, sem qualquer tipo de sistema que pudesse permitir abrigar um
ser vivo. Precisava ser assim, pois sua manobrabilidade permitia movimentos extremamente bruscos e rápidos, que mesmo
compensados pelos abafadores de inércia, seriam letais para a grande maioria dos organismos vivos. Era a protetora da
frota, armada com poderosos Termolasers, Eletrolasers e canhões nucleares. Pronta para entrar em ação sempre que necessária.
Por sorte, não houve qualquer incidente tipicamente bélico ao longo da viagem da PASTOR-6, somente a destruição rotineira
de pequenos corpos espaciais inertes que poderiam colocar em risco a frota, como pequenos asteróides e fragmentos de
cometas.
As Espadas Espaciais eram engenhos típicos de Madre-Terra, tendo sido copiadas por vários outros planetas. Sua
operacionalidade completamente automática desempenhava um papel vital no equilíbrio de forças na galáxia, visto que eram
as únicas coisas capazes de fazer frente às Seilans. Sendo máquinas, não tinham qualquer vulnerabilidade, o que mesmo
os HiperMetaNaturais tinham. Dessa forma, Mãe-Terra podia manter a ameaça Seilan longe de si própria e de seus aliados.
Sendo assim, era evidente o que Filia tinha em mente quando exigiu que a SEDNA acompanhasse
uma pequena nave de transporte que levava Lunis e algumas outras pessoas rumo à PROMINUS,
que estava em órbita do Planeta Fantasma.
Mas a cientista chefe não era a única a não confiar, e a temer, a seilan. À bordo da própria GENIUS, em posição de relativo
poder, havia um casal que era, por legado histórico-cultural, muitíssimo mais hostil à feiticeira. Formavam um belo par,
e de fato eram "casados", segundo a tradição de KLUMA, seu planeta natal, que era mais uma das Terras-Filhas, embora
não tivesse sido uma colônia "fundada" por Madre-Terra, mas sim resultado de transporte de antigos terrestres por
intermédio de tecnologias e culturas extra-terrestres, em tempos remotos da Idade Arcônica.
Eram negros, como todos os demais antropônicos de seu planeta, altos, fortes e muito inteligentes. E sabiam que em sua
posição, compartilhar preconceitos de legados antigos não era uma boa conduta. Por isso, apesar de tudo o que acontecia,
preferiam, por hora, deixar aquele assunto intocado.
UM REMOTO OBSERVADOR
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A maioria das pessoas em toda galáxia jamais veria aquelas imensas cachoeiras. Quilométricas! E de onde estava,
no topo rochoso e delicadamente ajardinado de uma delas, o observador, com sua visão natural, sequer podia avistar
o fundo onde as águas se chocavam com outras águas. E não somente devido à arrebentação vaporosa que se espalhava
e subia centenas de metros, produzindo espectros luminosos de diversas matizes.
O céu rosado acobertava a vasta vegetação insólita, cultivada por uma criatura muitíssimo antiga e poderosa, ainda
que tivesse passado a maior parte de sua vida hibernando, e que vinha de um planeta extremamente longínquo, do qual
a jardinagem era o único hábito que conservara.
Pequeninas criaturas, como fadas, voavam em todas as direções, com indescritível graça e traquinagem. Elas por vezes
perturbavam alguns dos poucos moradores daquele longínquo planeta, com suas bem-humoradas peraltices. No entanto,
não se atreviam a perturbar a tranquilidade do observador que ali contemplava as cachoeiras, e que esperava algo
acontecer, com um pressentimento de que estava prestes a tomar conhecimento de um fato extra ordinário.
Não ficou muito surpreso quando sentiu que era procurado. Levantou-se, se concentrou brevemente e todo o cenário à sua volta
mudou. Não era mais a bucólica paisagem púrpura e rósea, mas o interior de uma construção violácea, ao mesmo tempo de
aparência antiga, mas de linhas que sugeriam sofisticação sobre humana. Em passos suaves e inaudíveis ele chegou a uma
ampla sala acolchoada e se sentou confortavelmente. Uma larga tela luminosa surgiu à sua frente trazendo numa voz
feminina, jovem, a notícia e um gráfico.
- ...e ao tomar conhecimento desta transmissão da frota de exploração Madre-Terrestre Pastor-6, que investiga um sistema
estelar que apresenta uma anomalia gravitacional, ele partiu imediatamente rumo ao sistema, recém batizado de NOVITA.
Neste momento já está no hiperespaço.
- Então vejamos o que chamou tanto a atenção de nosso amigo.
- Sim Lorde Mestre. Trata-se de um desvio anormal nas órbitas do quarto e quinto planetas, que não é
explicada por nenhum de nossos modelos gravitacionais.
De repente, com majestade divinal, uma belíssima mulher ruiva adentrou a sala. Belíssima seria pouco, pois sua aparência
magnífica simplesmente enlouqueceria qualquer homem normal, não somente pela aparência em si, mas pela energia que emanava,
e que drenava de tudo à sua volta. Mas o observador a fitou somente com a discreta fascinação e afeição que lhe era
natural, e sabendo que nada precisaria dizer, apenas pensou:
- "Poderiam ser elas?" No que a mulher pensou em resposta: - "Eu ficaria muito surpresa. Não me parece que elas
teriam interesse em um sistema tão remoto."
- Não recebemos mensagem alguma dele?
- Não senhor. E se ele tivesse nos enviado enquanto ainda estava em MANTIS, certamente já teríamos recebido.
- "Porque acha que ele não nos avisou?"
- "Ele não tem plena confiança em mim. Confiava apenas em você, não em nós."
- "Ele já devia ter superado isto."
- "Apesar de tudo, ele no fundo ainda é apenas um homem."
- "Não. Ele é o mais próximo que já cheguei de alguém como você."
- "Tenho alguns milhares de anos de vantagem."
- "Neste nível, não creio que o tempo importe tanto. Não sou muito mais antigo do que ele."
- "Mas você não é um homem. Você não é humano! Por mais que às vezes pense que seja, que queira ser. "
- "Eu sou uma criança."
- "Mas seguramente não humana."
- "Creio que se ele achasse que fossem elas, teria nos avisado. Ele não se atreveria a enfrentá-las sozinho."
- "Sim. Tem razão. Curiosamente há uma delas na Pastor-6."
- Qual a melhor estimativa de tempo até NOVITA?
- Cerca de 2818 horas, Lorde Mestre.
- "Acha mesmo que deve ir?"
- "Isto é muito mais importante do que parece."
- Qual a estimativa de chegada dele ao destino?
- Seria cerca de 1903 horas, Lorde Mestre, caso estivesse rumando pela rota mais próxima, no entanto pelo registro
de sua entrada no Hiperespaço é altamente provável que ele esteja rumando para outra direção, talvez até oposta!
Pelos nossos cálculos ele não está nem perto da rota para NOVITA.
O observador sorriu por um momento, entreolhou sua companheira e olhou novamente para a tela.
- No rol de destinos prováveis, há alguma estrela altamente similiar à estrela NOVITA?
- Sim senhor. No caso a estrela XINLENG, em 2B931. Mas não é um sistema estelar habitado.
- Quanto tempo até XINLENG?
- Cerca de 285 horas Lorde Mestre.
- "Evidentemente, ele tem seus próprios meios. Meios que nos escapam."
- "Sim. Ele estará lá antes de qualquer um. Antes de Madre-Terra, e antes delas."
- "Também antes de nós."
- "Mas não muito. Também tenho meus meios."
- "Devo acompanhar você?"
- "Não. É imprudente revelar nossa aliança."
- Minha jovem criança...
- Sim Lorde Mestre?
- Prepare uma de minhas Hipernaves o mais rápido que puder.
- Eh... Eu... Sim senhor! Providenciarei imediatamente!
Há milhares de kms dali, a jovem operadora desligou a comunicação intrigada. O Lorde Mestre iria deixar o planeta?!
Mas e o pacto multilateral? Há séculos ele se comprometera perante Madre-Terra, Seila, Kluma, Sofistia e diversos outros
domínios estelares que ficaria recluso no distante sistema estelar de EXARIA. Violar esse trato poderia pôr a galáxia
em colapso! Uma idéia detestável, ela pensava, pois amava viver naquele mundo, e qualquer coisa que remotamente
ameaçasse essa tranquilidade era profundamente temível.
Mas não seria ela a questionar o Lorde Mestre, e assim que repassou as instruções, nem precisou dizer nada a não ser
encarar o olhar de surpresa de todos os que souberam o que iria acontecer. Aquele mundo era isolado, não se comunicava
com nenhum outro planeta da galáxia, era um mundo proibido, para o qual nenhum Anel espacial apontava, e que exigia
longas viagens para ser atingido. Portanto ninguém na galáxia saberia que o Lorde Mestre deixaria o sistema, o que sem
dúvida faria já que requisitara uma Hipernave, ou seja, capaz de viajar no Hiperespaço.
Foi em total alívio para ela, e para todos os demais, quando descobriu que o Lorde Mestre não iria partir, mas sim, somente,
enviar uma carga. O que era aquele estranhíssimo contêiner grande e vermelho e cheio de medidas de segurança, inclusive
vigiado por poderosos telepatas, ela nem quis saber, mas o despachou alegremente, numa das naves mais rápidas da galáxia,
que em poucos dias romperia os limites do exílio. Ninguém ainda era capaz de suspeitar o que isso tinha a ver com
o anjo que devia estar indo a caminho de NOVITA, quando o Lorde Mestre parecia achar que ia para XINLENG. Mas para
onde quer que ele fosse, de certo aquela carga demoraria mais de 100 dias para chegar até ele.
Pouco importava, voltou para sua casa, onde se sentou relaxada contemplando as telas de trabalho que mostravam nada mais
que paisagens bonitas e gráficos corriqueiros. Nada com que se preocupar. Ficou tão aliviada que nem sequer enxotou a
fadinha que sempre a perturbava pelas manhãs, e que parecia fazer disso a sua vida.
Longe dali, a bela feiticeira fitou seu aliado, que se preparava para entrar num tipo de câmara de hibernação.
E desta vez, mesmo para não deixar atrofiar a voz, preferiu falar em alto e bom som.
- Não tem a minha aprovação. O que há lá não compensa o risco de expor um AstroClone.
Pacientemente, e com um súbito sorriso, ele respondeu.
- Aquela anomalia não pode ser subestimada. É óbvio que há um planeta oculto ali. A essa altura a PASTOR-6 já deve
tê-lo descoberto e a mensagem já deve estar chegando à Mãe-Terra!
- E se não forem elas, em breve elas também saberão.
- E eu já sei que aquilo certamente não é um fenômeno natural, há uma avançada tecnologia ocultando
aquele planeta! Se forem elas, eu tenho que ir. Não passei os últimos séculos reunindo uns poucos dos maiores
HiperMetaNaturais da galáxia para deixar logo Ele cair nas mãos delas outra vez. E como você mesmo disse,
há uma delas na Pastor-6.
- Apenas uma dissidente que jamais seria capaz de dominá-lo.
- Eu sei. Mas mesmo assim pode ser perigosa. Pode ser uma espiã.
- Duvido.
- Posso estar errado. Há uma certa margem de erro, mas se não forem elas... Se eu estiver certo. Pode ser uma
coisa muitíssimo mais fantástica.
- E o que seria?
Ele saiu de perto da entrada da câmara, e se aproximou dela, olhando-a de baixo, pois ela era,
naquele momento, mais alta. E sorriu ainda mais.
- Ah... UNIVERSO... Até havia me esquecido do que mais me fascinava em vocês. No fundo, você é como elas.
Tão poderosas, tão presunçosas, tão sábias mas... Há coisas que sempre parecem lhes escapar. Coisas que até os
mais medíocres místicos da antiga Mãe-Terra sabiam, e que vocês, tão mais avançadas, parecem ser totalmente
incapazes de ver. Forças muito mais antigas e potentes moldaram esta galáxia centenas de milhares de anos atrás,
talvez milhões. Vocês sabem disso. Mesmo assim agem como se fossem o estágio final da evolução desta galáxia.
- Você mesmo achava que nós éramos.
- Talvez ainda ache. A ponte que tanto procurei entre os humanos e as divindades, e que já me custou 80 bilhões de
seres senscientes. Sim, ainda pode ser. E se forem,
talvez eu esteja atrás de revelar uma das últimas coisas que vocês ainda precisam aprender.
- Que a Luz de SAM o encaminhe. Tenho um jardim planetário para cuidar, mas estarei atenta aos acontecimentos.
Marcus Valerio XR
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Madre-Terra, Terra-Mãe ou similares: Nomes usados para designar a Terra original, berço da espécie Antropônica,
outrora conhecida como Homo Sapiens.
Ano 672 da era Pós-Dourada, data da Mãe-Terra, equivale ao ano 3932 EC (era comum) do sistema antigo. Era
Pós Dourada é o período após o fim definitivo da Terceira Guerra Celestial, que encerrou a Era Dourada.
Terras-Filhas e similares, são nomes usados para planetas habitados por descendentes de terrestres, no caso
antropônicos.
Aliança Hexagonal, ou Hexaliança, é o nome dado a uma união de diversas nações representadas por 6 espécies
senscientes. A espécie Antropônica, a Aria, a Marou e Cinza (pertencentes ao Grupo "C"), Dobuk (misto de grupo
"B" e "C"), e Metiat (misto de Grupo "A" e "C"), que são normalmente tidas como a espécie viva mais inteligente e avançada
da galáxia.
Instantes Naturais são um conceito científico que substitui as "Constantes", uma vez que descobriu-se que
estas não existem, pois variam ao longo do espaço e tempo.
A Hexaliança classifica em 3 grupos as formas de vida conhecidas na galáxia. O Grupo "A" são as baseadas em
Silício, Grupo "B" são baseadas em Carbono não Oxigênicas, C são as baseadas em Carbono Oxigênicas,
que respiram Oxigênio. A maioria das formas de vida conhecida, em biomassa, pertencem ao grupo B, cerca de 62%,
o grupo C conta com 36%, e A com 2%. No entanto, mas de 84% das espécies conhecidas Senscientes ou no limiar da Sensciência,
pertencem ao grupo C, os silicônicos abrangem 12% e o grupo B 3,2%. Os 0,6% restantes pertencem a espécies de
natureza desconhecida mas de existência inconteste. Estes grupos porém não são exclusivos, há espécies mistas tanto
em constituição orgânica quanto na capacidade de respirar mais de uma substância. As espécies da aliança hexagonal
eram todas capazes de respirar oxigênio.
SEILA é um planeta quase certamente Terra-Filha que abriga uma civilização Ginocrática com avançado nível de
Meta Naturalidade e de espécie Antropônica. Regido por uma casta de etnia ariana religiosa de postura etnocentrista
e radical, espalhou suas forças por vários pontos da Galáxia dominando diversas culturas menos avantajadas,
ou derrubando culturas tão ou mais avantajadas. As Feiticeiras SEILANs são vista como a maior ameaça conhecida
da Galáxia, e ainda que diversos pactos de não agressão tenham sido feitos com diversas outras civilizações,
sua presença e atividade é motivo de tensão constante para diversos domínios como Madre-Terra, Kluma e Polaiga.
Os fenômenos naturais em geral são consequências diretas de uma cadeia de outros fenômenos naturais, numa
progressão de causa e efeito normalmente detectável por meio de outros fenômenos naturais. Quando um fenômeno
natural detectável qualquer não tem uma causa natural detectável, esta é considerada de ordem Meta Natural.
A única causa Meta Natural admitida é a de ordem Mental, de modo que um fenômeno Meta Natural é entendido como
uma atividade Mental, fisicamente indetectável, que desencadeia diretamente um fenômeno físico detectável.
ZENITRON foi uma recém extinta civilização que desenvolveu as mais avançadas tecnologias mecânicas, eletrônicas
e espaciais atualmente disponíveis. Outrora fora um império que dominava diversos setores da Galáxia, sendo também
motivo de diversas tensões sócio políticas e religiosas. Dentre os fatores que contribuíram para sua derrubada estão
a atividade das SEILANs e o desenvolvimento de tecnologias Fotosilicônicas e Mentônicas que se baseavam em princípios
contrários ao de sua cultura dominante.
XANTAI é uma divindade monoteísta remanescente da antiga tradição abraâmica mas que incorporou diversos elementos
de outras religiões mundiais Madre-Terrestres, em especial Hindus e Neopanteístas. O Xantaísmo é a maior religião
da Mãe-Terra e tem também forte presença em várias Terras-Filhas. Xantai também é nome de uma das Cidades-Utópicas
Madre-Terrestres.
Para facilitar o acesso entre sistemas estelares, algumas civilizações avançadas criaram os Anéis-Espaciais, que além
da viagem pelo Hiperespaço e dos Portais Naturais, são outro e mais fácil meio de cruzar distâncias de até 42 Anos-Luz.
Redes de Anéis de diversas procedências se espalham pela Galáxia resultando em caminhos que permitem cruzar distâncias
de milhares de anos-luz em poucos dias. Estão disponíveis em cerca de 14% dos sistemas estelares conhecidos.
Zenitron Intarita Glopa é uma sigla em linguagem Gaiol que significa "Globo de Funções Automáticas
Zenitron". Em geral são esferas voadoras de cerca de 1m de diâmetro, capazes de desempenhar uma série de papéis.
A maior parte das concepções sobre o Universo concorda que há uma entidade fundamental denominada Menton, que permeia
toda a matéria. Os Mentalistas acreditam que o Menton é a unidade Mental fundamental, que por sua vez projeta fenômenos
mentais em escala crescente de complexidade, até projetar a Matéria.
Os Fisicalistas crêem que o Menton é a unidade Material fundamental, que por sua vez se organiza em níveis
crescentes de complexidade até resultar nas Mentes.
Podemos chamar de "Barreira da Luz" o limite físico para a velocidade de deslocamento em nosso Continuum Dimensional,
que é de aproximadamente 300 mil km/s. No entanto há entidades que se movem a velocidades aparentemente maiores, e que por outro
lado jamais se movem em velocidade inferior a este mesmo limiar, e habitam um Continuum existencial distinto do nosso espaço
tempo normal,
que pode ser chamado Hiperespaço. Para uma nave se deslocar no Hiperespaço ela deve se comportar como um feixe de energia,
beirando o limiar em nosso espaço normal, e então "Saltar" para o Hiperespaço onde compulsivamente passará a se deslocar
segundo a natureza deste outro nível de continuum, cuja "velocidade" de deslocamento em seu limite máximo em relação ao
nosso espaço normal é de aproximadamente o quadrado da velocidade da luz, ainda que essa seja uma forma simplificada e
imprecisa de descrever o fenômeno. Esse procedimento de passagem para o hiperespçao só é possível mediante um dispositivo
denominado Indutor de Hiper Vibração Molecular, que torna mais elástica as ligações eletromagnéticas da matéria, permitindo
acelerações centenas de vezes mais rápidas reduzindo a inércia na mesma proporção.
A Mãe-Terra "nesta" época tem cerca de 4 bilhões e 200 mil habitantes. Sendo 9% da população de origem extraterrena, ainda
que a maioria deles de origem das Terras-filhas e geralmente Antropônicos.
Terra-Madre estima que existam ao menos 40 bilhões de Antropônicos espalhados pela Galáxia em ao menos 6 planetas largamente
habitados e dezenas de outros com pequenas populações. Embora descendentes dos
terrestres, muitos deles estão isolados de seu planeta de origem há mais de 15 mil anos. Porém o nível de compatibilidade
genética ainda é suficientemente alto para serem considerados todos da mesma espécie.
SENSCIÊNCIA, combinação dos conceitos de Senciência e Consciência. Denota a capacidade mental de auto-consciência,
reflexão e senso de identidade. É atributo fundamental de todos os seres tidos como "inteligentes", embora este último termo
também possa ser aplicado a sistemas computacionais sem mente.
Madre-Terra tem conhecimento de 85 planetas habitados ao longo de 67 sistemas estelares. Mais da metade deles fazem
parte da comunidade galáctica, estando em contato com os demais.
Na velocidade máxima em nosso espaço normal é possível cruzar todo o diâmetro da galáxia em cerca de 120 mil anos.
Na velocidade máxima no Hiperespaço o mesmo pode ser feito em cerca de 300. No entanto nenhuma nave conhecida consegue
atingir tal velocidade.
As leis naturais sofrem variações ao longo da Galáxia. Em alguns sistemas até a velocidade limite da energia sofre
pequenas alterações. Uma das alterações mais significativas é a relativa ao campo mentônico local, que pode facilitar
ou inviabilizar o desenvolvimento da Metanaturalidade.
Segundo dados da Aliança Hexagonal, a Galáxia possui ao menos 64 Bilhões de anos.
Ninguém conhece meio algum de cruzar distâncias intergalácticas. E nem é necessário, visto que 78% da Galáxia ainda é
desconhecida, e a maior parte dela ainda demorará milênios para ser alcançada.
As Espadas Espaciais medem cerca de 50 a 240m de comprimento, e sempre são batizadas com o nome de divindades, personagens
mitológicos, folclóricos, literários ou em homenagem a Metanaturais.
KLUMA é uma Terra-Filha localizada em (3A527) 30034-A511-2733, cerca de 24 mil anos-luz do Sistema Sol. Foi colonizada
por terrestres oriundos do continente africano, levados em estado neolítico, numa das várias viagens promovidas por
raças extraterrestres afim de promover experiências colonizatórias. Lá, foram deixados com seus costumes inalterados exceto
por terem recebido um avançado texto que fundamenta toda a civilização KLUMA, conhecido como "O Livro de KLUMA" ou
simplesmente como "O LIVRO".
Dividido em 3 partes: 1-O Livro do Passado (ou do Universo), 2-O Livro do Presente (ou da Humanidade) e 3-O Livro do Futuro,
trata-se de um tratado filosófico e científico completo, que orientou os klumans a construir uma das mais avançadas
civilizações tecnológicas da galáxia.
O planeta KLUMA orbita uma estrela branca intermitente, que se apaga em períodos regulares deixando o planeta por
décadas na escuridão, no entanto, a biosfera natural desenvolveu diversos meios de lidar com esse ciclo, resultando na
maior diversidade de formas de vida fosfoluminiscentes conhecida em toda a galáxia, bem como tendo ciclos vulcânicos
auxiliares que permitem a permanência da vida. Os klumans também se adaptaram bem a esse ciclo, transportando os antigos
costumes de aplicar pinturas sobre o corpo num sofisticado método de se revestir com ornamentos e vestimentas luminosas.
Kluma é um dos maiores aliados de Madre-Terra e foi também, em parte, de DAMIATE, e por outro lado talvez o planeta mais hostil
à SEILA, contra o qual travou uma guerra devastadora, tendo sido inclusive escravizado por alguns períodos de tempo.
DAMIATE é Terrestre.
O sistema galáctico de coordenadas mais usado não é de origem da Hexaliança, mas de origem ZENITRON. Divide a Galáxia
em 3 coordenadas básicas em relação ao centro luminoso, raio, inclinação e afastamento. As medidas são arbitrárias, sendo
32 raios a partir do centro, tendo como referência inicial o sistema estelar mais afastado, EXARIA, cuja coordenada
é 10000-B512-4000, ou abreviada como 1B540, ocupando então o raio de número 1, alinhada longitudinalmente a 0 graus,
o que corresponde ao ângulo de inclinação 512, numa variação que vai de 1 a 1024, e com o afastamento máximo do centro, 4000.
Assim, algumas posições notáveis são:
6A529-SOL 60625-A502-2992
XA629-ZENTARIS X3868-A615-2915
9B630-POLAIGA 91563-B692-3011
BB427-MAUTERIA B1291-B402-2798
AB328-NOVITA A1091-B331-1456
3A527-KLUMA 30034-A511-2733
Para efeito psicológico, mede-se os "dias" com o conceito largo de Biociclo, o tempo médio em que uma
espécie sensciente demora para completar um período de vigília e sono. Como todas essas espécies dormem, ou
ao menos a maior parte de seus representantes tem o potencial de utilizar ciclos de sono, costuma haver uma notável
e convincente correspondência entre seus biociclos mesmo em planetas com geociclos diferentes. Em geral rotação.
Assim, um biociclo em Madre-Terra é de aproximadamente 24 horas, e a maioria das espécies conscientes consegue se adaptar
a biociclos de 16 a 52 horas. Em períodos menores o biociclo costuma abranger dois ou mais "dias", em períodos maiores
pode haver dois ou mais biociclos por "dia", entendendo dia, é claro, como um período de rotação, ou outro fenômeno
planetário que o valha, como pulsação de camadas atmosféricas luminosas, ou regularidade de atividades vulcânicas.
Curiosamente os biociclos tem tamanha capacidade de determinar o metabolismo dos organismos que a média de vida
das espécies costuma ser estável independente do ciclo do planeta. Ou seja, os antropônicos que vivem em média
230 anos em Madre-Terra, ou seja, cerca de 84 mil biociclos em 84 mil "dias", continuam vivendo em média 84 mil biociclos
mesmo em planetas cuja a duração do "dia" seja diferente. Mesmo que quantitativamente um tenha vivido mais que o dobro
de tempo que o outro, para qualquer efeito de disposição física ou psicológica a quantidade de biociclos é que determina
a equivalência. A maturidade costuma ser atingida em média aos 20 biociclos quer na Mãe-Terra, quer em planetas cujo
"dia" seja muito menor ou muito maior.
Já, para efeito de quantificação mais exata de tempo, os biociclos costumam ser padronizados em torno de 32 horas,
que são os "dias" em questão. Mesmo assim a exatidão é muito menor do que se pode pretender, visto que as viagens
pelo Hiperspaço e o cruzamento de Anéis Espaciais costumam distorcer o tempo físico em escalas de até mais de 20%, e o mesmo
ocorre de acordo com a ocorrência de maior ou menor gravidade. O tempo no espaço, é curiosamente inexato.
SOFISTIA é um planeta no sistema estelar TB319-EPISTIS ( T0983-B303-1911 )
apontada como a mais desenvolvida Terra-Filha diretamente colonizada pela Mãe-Terra. Futurólogos apontam Sofistia como a
sucessora de Madre-Terra, visto que esta última tem entrado num declínio relativo ao gerenciamento da comunidade galáctica
antropônica, se voltando mais para si própria, desde a Guerra Celestial.
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