Universidade de Brasília, Janeiro de 2005
Departamento de Filosofia
Disciplina de História da Filosofia Contemporânea
Professor Miroslav Milovic








RELICA
&
ETIGIÃO

Desfazendo a Confusão

Aproximadamente 63.200 caracteres (sem espaços).







Marcus Valerio XR
FREE MIND!!!
www.xr.pro.br
Graduando em Filosofia
Matrícula: 02/98255



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INTRODUÇÃO

De todos os ramos da Filosofia, nenhum me parece mais contundente do que a Filosofia Moral, ou Ética, no que se refere ao impacto pragmático sobre nossa civilização. Apesar da insensata opinião de que Filosofia é uma área meramente abstrata e sem aplicação prática, a discussão sobre Ética, os modelos e formas de compreendê-la, bem como as possibilidades de realizá-la, têm tido resultado direto e decisivo em nossas vidas, uma vez que nossos modelos jurídicos e políticos estão completamente impregnados de conceitos advindos dessas reflexões teóricas, desenvolvidas ao longo da história da Filosofia e com mais determinante influência dos períodos Moderno e Contemporâneo.
Qualquer estudante de direito, inclusive os que meramente estudam para concursos, podem conferir isto na introdução ou parte teórica de seus livros. Não só pela recorrência de nomes de filósofos famosos, como mesmo por certos conceitos comuns na Filosofia, como "Bem-Comum", "Igualdade de direitos" e etc. Nossas concepções legislativas contemporâneas, a exemplo da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, refletem claramente o Iluminismo, tem forte teor Consequencialista, embora ainda tragam alguns conteúdos dentológicos e muito poucos Perfeccionistas. Envolvem até mesmo quantificações Utilitaristas, ainda que intuitivas, e dessa forma, é obvio, estão fortemente influenciadas, se não determinadas, por concepções advindas da Filosofia.
De fato, a Ética parece ser, de todas as vertentes da Filosofia, a que mais está envolvida com o mundo. Sua discussão é e sempre será atual, seus problemas são os nossos problemas. Ela sem dúvida possui uma dimensão mais abstrata, onde pode-se alegremente enveredar-se e perder-se nos labirintos metafísicos, mas isso não tira sua dimensão concreta. Por isso tudo, é um ramo que não pode pretender estar "fora do mundo", questiono até mesmo se é um ramo do "Ser" ou mais do "Devir". Nossas relações com outros seres humanos são a nossa vida, e essas relações são Éticas, e a pergunta se algo é Certo ou Errado, o que é Bom ou Mau, nem em sonho seria um privilégio dos eruditos. Com tudo isso, creio ser inadmissível pretender que a Ética seja restrita ao abstrato.

ÍNDICE
Introdução e Índice---------------------------------------------------Página 02
O que é Religião------------------------------------------------------Página 04
O que é Ética; O que é Moral-----------------------------------------Página 06
Explicando a Confusão------------------------------------------------Página 08
Separando os Conceitos----------------------------------------------Página 14
Conclusão e Bibliografia-----------------------------------------------Página 22

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Nesta disciplina de Filosofia Contemporânea, um dos módulos apresentados foi exatamente o da relação entre Ética e Religião, com textos dos autores Kierkegaard, Schopenhauer e Levinas. Não obstante, ainda que tenha lido os dois primeiros, como bem Nietsche e Mill, não pautarei esta monografia em nenhum deles. Aliás como sempre faço.
Ainda que deva admitir uma forte influência do Utilitarismo em minhas concepções morais, farei como de costume uma abordagem livre, construída o mais autonomamente possível, sendo um desenvolvimento natural de meu modo de pensar e de minhas próprias convicções filosóficas, ainda que sempre fazendo referência aos grandes autores.
Que me perdoem os que preferem desenvolver seus trabalhos sob as sombras de gigantes, mas eu me sentiria extremamente frustrado se me tornasse um filósofo de notas de rodapé, meramente comentando obras de outros autores. Ao invés disso, prefiro não pensar os Problemas das Filosofia, mas pensar os Problemas do Mundo por mim próprio, chegando às minhas próprias conclusões a partir de minhas próprias observações, mesmo correndo o risco de trilhar caminhos muitíssimo similares aos já trilhados, pois tenho certeza que mesmo submetido aos mesmos estímulos de algum outro pensador famoso, e com a mesma bagagem, eu produziria resultados diferentes.
Neste texto lançarei mão de uma série de conceitos por mim há muito desenvolvidos, em especial meu conceito de Religião, que pode ser visto em Psicogênese da Religião, onde dediquei um capítulo inteiro sobre Ética e Moral
Minha tese é simples, e nada original. A idéia de que Ética e Religião são coisas totalmente independentes. A Ética pode e deve ser completamente laica, como tem sido, e sem qualquer fundamento religioso. Por outro lado a Religião possui, e deve possuir, elementos Éticos, mas o que acrescento é que na realidade, e ao contrário do que muito se pensa, a Ética não é um fundamento da Religiosidade! É uma mera contingência, que como tal pode ser, e tem largamente sido, totalmente dispensável, infelizmente, como qualquer observação do mundo e da história pode demonstrar.
A justificação desta monografia é baseada na tese de que o nível de independência entre Ética e Religião, em especial desta última em relação a primeira, tem sido subestimada até mesmo pelos anti-religiosos, mas que no entanto temos atualmente uma gama imensa de pessoas, com poder de voto, que realmente acredita que a Ética só é possível em bases religiosas, apesar da estrutura de nossa civilização e da história em explicitar dramaticamente o contrário.
Essa mentalidade é potencialmente perigosa, se não realmente daninha, uma vez que estando atrelada aos fundamentos religiosos, a Ética perde sua essência principal, que penso eu, é a auto suficiência. Um ato ético deve ser justificado por si mesmo, deve ser reflexivo, e não uma mera exigência de um sistema divino de prêmios e punições. E o que é realmente pior, que quando subordinada à Religião, a Ética pode ser distorcida a níveis ilimitados, uma atitude pode mesmo ser completamente invertida enquanto mantém o rótulo de Benéfica, de um modo evidente para qualquer pessoa que não esteja sob o efeito do dito viés religioso.
Em resumo, o que pretendo fazer aqui, além de satisfazer a disciplina de Filosofia Contemporânea e de dar meu primeiro passo mais amplo na temática Ética, é uma reflexão que mostra o porque da confusão entre dois temas totalmente independentes, como sair desta confusão, e porque devemos fazê-lo, pois não me parece haver mistura mais demonstradamente nociva de que subordinar um tema que diz respeito unicamente à nossa relação com o outro, enquanto seres humanos, a uma noção de relação com o intangível e abstrato.
E finalizo esta introdução com a frase:
"Talvez a maior tragédia da história humana tenha sido o sequestro da moralidade pela religião." Arthur C. Clarke

Marcus Valerio XR
Janeiro de 2005

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O QUE É RELIGIÃO?

Esta é uma questão que espero já ter respondido, não no que se refere a solucionar o problema, mas em mostrar o que entendo por Religião. É muito recomendável a leitura prévia de meu texto Psicogênese da Religião, mas tentarei tornar este trabalho o mais independente possível dele.
Em poucas palavras, entendo por Religião:

"Qualquer sistema de pensamento que proponha ligar o Ser Humano com um possível Plano Místico, tendo como um dos principais objetivos e/ou pressupostos a superação vitoriosa da mortalidade."
Essa concepção está melhor explicada no texto citado, mais especificamente no capítulo Definições, onde explico também o que entendo por Místico e por Espiritualidade, que não pode ser confundida com Religiosidade, pois a Espiritualidade satisfaz somente a primeira parte desta definição. Sendo assim, Religião é necessariamente Espiritualismo, mas Espiritualismo é mais amplo que Religião. Além do que é possível aceitar o pressuposto do plano espiritual sem a preocupação de se ligar a ele.
Como digo neste mesmo texto, justifico esta definição pelo simples fato de ser impossível encontrar qualquer sistema reconhecidamente religioso que não possua os seguintes 3 elementos:

1 - Pressuposição Espiritualista. Que exista um "Plano Místico", "intangível" mas causalmente relacionado como Mundo.

2 - Pressuposição de alguma forma de superar a inegável perspectiva de Não-Existência futura, Morte, e oferta de um meio vantajoso de fazê-la.

3 - Sistema de preceitos que visa relacionar o Humano com o Místico, visando obter uma série de resultados. (Em especial uma Transcendência vantajosa da Morte física.)
Excetuando isso, tudo o mais é secundário num sistema religioso. Pode ser facilmente extraído, e tem sido. Mas esses 3 elementos são absolutamente fundamentais. Denunciar excessos comportamentais de praticantes ou mesmo fundadores de uma Religião muito pouco ou quase nada a abala, apontar falhas em seus meios de transmissão ou suas visões de mundo também. Mas por em dúvida qualquer um desses pressupostos, inclusive o terceiro, de que a religião em questão seja de fato o meio correto de se interligar o Místico ao Humano e ou conquistar a Meta-Existência, são totalmente inaceitáveis para um sistema religioso, e este irá reagir imediatamente. Como também está explicado neste texto anterior.
Algo porém, que não está no mesmo texto, é o esquema das 3 relações possíveis entre esses 3 elementos fundamentais.

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A única relação obrigatória é que o Sistema de Regras, se bem observado, levará à Meta-Existência benéfica. Já o Plano Místico pode garantir a Meta-Existência, mas nem sempre é dele que emana o sistema de regras (Budismo), como por vezes dele emana as regras, mas não é exatamente ele que garante a Meta-Existência (alguns politeísmos). Mais comum é dele derivar ambos (Cristianismo).

Baseio meu conceito de religião nessa síntese, ela não só satisfaz a etimologia do termo, como a todas as designações claramente reconhecidas como tal, ao mesmo tempo que impede que outros tipos de atividades humanas como política, ciência, ideologia e etc, possam ser consideradas legitimamente religiosas. Também neutraliza o uso de termos "seita", "Heresia" e similares, dando a todos estatuto de Religião.
É evidente que o que entendemos como ético nas religiões, só poderia advir do conteúdo deste sistema de regras, que poderia conter elementos suficientes para se elaborar uma ética, onde estaria contido por exemplo uma série de preceitos que devem ser observados para se conseguir obter os benefícios legados pela divindade, ou pela ordem meta-natural.
De imediato, já notamos que mesmo neste caso, o comportamento ético seria um meio, não um fim, e um meio para um fim bastante diferente daquele que entendo como sendo o fim da ética. Por outro lado, o sistema religioso pode muito bem derivar regras que nenhum de nós, ao menos hoje em dia, consideraria como eticamente aceitáveis, como sacrifícios humanos ou incitações à guerras. Ou, o que é mais comum, misturar todos, ora apresentando conceitos reconhecidamente "bons", ora conceitos questionáveis, de acordo com certos contextos.
Essa é a primeira pista que sugiro para defender minha tese de que uma ética com base religiosa sempre será pouco eficiente. Antes de desenvolver melhor esse tema, devemos examinar melhor o que estou entendendo por Ética.

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O QUE É ÉTICA? O QUE É MORAL?

Não vejo muita necessidade de dizer especificamente o que é Ética, mesmo porque sou contrário às infrutíferas insistências em definir coisas que são intuitivas, tão facilmente compreensíveis, embora difíceis de explicar. Mas digo que entendo por Ética qualquer pensamento sobre o BEM, como buscá-lo, o que ele é, e evidentemente sob seu antônimo, o MAL.
Portanto a definição cai sobre a idéia de BEM, que muito mais do que Ética, me parece ainda mais difícil de explicar, e ainda mais intuitiva e óbvia.
O BEM é um conceito final, é uma idéia em si mesma, não pode ser explicado, analisado nem definido mais do que já é. Qualquer agente racional logo forma uma idéia de BEM, e que em geral não é muito diferente da idéia de qualquer outra pessoa. O que costuma diferir é O QUÊ pode ser considerado BOM ou MAL, e não a idéia de BEM em si. Creio que todos sabemos o que é o BEM, e isso só não é mais óbvio pelo fato de que é difícl explicar o termo, criando a ilusão que possuímos noções de Bem diferentes.
Portanto, o que quero dizer é que o conceito de BEM é Auto-Evidente. É axiomático. Tão logo seu oposto.

E quanto a Moral? Considerando que as palavras Moral e Ética são sinônimos oriundos de idiomas diferentes, compreendo que muitos prefiram trabalhar com sua equivalência, no entanto são muito populares as iniciativas de tratá-las de modo distinto.
Pessoalmente defendo uma distinção operacional entre Ética e Moral, de modo a tornar certos conceitos mais facilmente compreensíveis. Há muitos modos de fazer esta distinção, mas no caso, creio que a mais útil é a que estabelece como ÉTICA o UNIVERSAL, e MORAL o PARTICULAR.
Sendo assim, digamos que um preceito Ético é aquele que é onipresente em qualquer cultura, e imediatamente aceito por qualquer ser racional. São exemplos as restrições contra o Assassinato, o Roubo ou a Mentira. Não é sequer possível conceber um grupo humano que não possua algum modo de estabelecer critérios onde tais atos são ou não aceitáveis, mesmo porque seria simplesmente impossível a mera convivência entre dois humanos se não houvesse ao menos pactos implícitos, como o de não agressão por exemplo.
Da mesma forma, um preceito Moral é aquele que se aplica apenas a certos contextos. Proibição do ato sexual antes do casamento, formalidades de saudação, uso de tais ou quais roupas e etc, fazem sentido numa cultura mas não em outra.
Com isso estabeleço a Segunda Tese Principal deste trabalho, que é a idéia de que: Da Religião não é possível derivar uma Ética Legítima, mas sim somente uma Moral.
Caso não tenha ficado claro, a Primeira Tese é a de que: Ética e Religião são totalmente independentes. E como Terceira, podemos considerar que: Tentar derivar um sistema Ético de uma Religião traz resultados contraditórios, como mais adiante pretendo demonstrar com alguns exemplos históricos e factuais escolhidos dentre miríades de outros.

Mas uma coisa é dizer o que é o BEM ou a Ética, outra é propor uma Ética funcional, não só um modo de entender a natureza do Bem e dos atos éticos, mas também derivar uma forma melhor de normatização. Tivemos uma série de sistemas ético filosóficos que se preocuparam não só em explicar, mas em propor uma ética, nenhum deles porém foi sucifiente, e mesmo assim temos uma civilização com fundamentos éticos bem estabelecidos.
Uma das primeiras coisas que salta aos olhos é que parece haver um certo desencontro com o domínio teórico da ética, e sua dimensão atual, onde todos a sentimos no dia a dia. Temos leis e princípios jurídicos, e uma série de posturas sociais carregadas de valores. Podemos entender isso como o simples resultado da coexistência de uma série de teorias e concepções distintas, com maior ou menor grau de disseminação.

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Em especial gostaria de destacar que identifico ao menos 3 grandes grupos de concepções éticas que podem ser encontradas em nossa sociedade hoje. O Primeiro Grupo é o Acadêmico, onde encontramos as mais avançadas teorias éticas, e o que em geral mais está distante do Segundo Grupo, que é o Religioso, muito popular. Mas o Terceiro Grupo é Jurídico. Nossas leis tem base numa série de concepções Éticas que se comunicam com o grupo acadêmico, mas que atingem toda a sociedade, incluindo todo o grupo religioso. É importante acrescentar que há um número majoritário de cidadãos que não tem grande ligação com as noções religiosas de ética, mas este em geral aceita sem grandes problemas uma ética secular, de senso-comum, de certo modo relacionada com a influência dos fundamentos da ética jurídica, ou ao menos uma imagem dela.
Mas o que quero extrair disso tudo é que apesar de uma larga parcela da população ter concepções éticas de viés religioso, e nesse sentido, moral, nosso sistema jurídico tem concepções mais ligadas ao mundo acadêmico, onde a ética é estabelecida muito mais filosoficamente.
De fato, é comum vermos em livros de direito a idéia de que os princípios éticos que fundamentam as leis emergem espontaneamente da experiência social, mesmo porque sem ela, é impossível que a sociedade se sustente.
Não se pode negar que algo de Contratualismo está presente nessa concepção, bem como noções de que haveria um tipo de "Estado Natural" que por essência seria não necessariamente Anti-Ético, mas onde a Ética não parece discernível, em geral por falta de necessidade.
No entanto tal "estado" só seria possível ao indivíduo isolado, e os seres humanos tendem a socializar-se. Havendo tal sociedade, pode-se inferir que haveria no mínimo um tipo de "pacto" implícito, pelo óbvio fato de que nenhum ser racional se juntaria a um grupo que não aumentasse suas chances de sobrevivência e bem estar, e para isso deve haver a pressuposição de que em tal grupo haveria maior segurança. Isso então, exigiria no mínimo algum nível de restrição contra a violência. Lembrando que na realidade normalmente não ocorre a um ser humano a "decisão" de socializar-se, ele já nasce numa sociedade.
Pode-se é claro, apelar também para a idéia de uma "natureza" humana intrínsecamente altruísta, o que levaria ainda mais automaticamente ao despertar dos fundamentos éticos na sociedade primeva. Mas mesmo apelando-se para o inverso, de uma maldade intrinseca do Ser Humano, a hipótese do "pacto espontâneo" não é afetada, pois os indivíduos se uniriam num grupo cada qual com seus imperativos egoístas, que para serem satisfeitos exigiriam, como disse Hobbes, que se abrisse mão de uma série de posturas possíveis em "Estado Natural", em prol de obter as vantagens de estar unido a um grupo.
Sendo assim, não importa a natureza humana, uma sociedade só é possível com algum tipo de legislação, que evidentemente tem premissas éticas quer sejam vistas como "essenciais", "Naturais", "operacionais" e etc. A noção Ética surgirá de algum modo, mesmo que meramente instrumental.
Isso, por si só, aniquila a pretensão de que seja necessário que haja um tipo de saber superior que se revele aos humanos para lhes dizer que devem assumir tal ou qual conduta, como se sem isso não fosse possível desenvolver tal noção. É comum nas religiões a pressuposição de uma natureza humana essencialmente corrompida, mas como vimos, mesmo que isso fosse verdade, não impediria que as sociedades surgissem com suas regras próprias, suas proibições e permissões.
No entanto, isso na verdade levaria a uma mera Moral, respeitando minha discriminação conceitual. Portanto, parece claro que ao menos a Moral, ainda que possa ser religiosa, tanto pode ser também a-religiosa. Moral e Religião também são totalmente independentes.

No entanto isso ainda é muito pouco para descartar a hipótese de que haja uma ÉTICA, "Superior" que só seja possível mediante a intervenção de uma divindade. Pois mesmo que surgissem as sociedades relativamente organizadas, elas poderiam ser essencialmente voltadas a atos anti-éticos, como de fato parece ter sido em muitos contextos, onde grupos se reunem de modo internamente harmônico, mas com o objetivo explícito de atacar outros grupos. Desse modo o grupo se uniria por conveniência para aumentar suas chances individuais de sobrepujar outros indivíduos e outros grupos. Esse grupo certamente exerceria uma Moral, mas não uma Ética.
O resultado é o evidente estado de guerra entre nações e tribos que tem caracterizado a história humana. Seria possível que a onipresença de tal padrão denunciasse a essência egoísta e perversa da humanidade? Essência essa só compensada mediante a interveção de um poder superior que indicasse o caminho para um estado altruísta e sublime?
Será que enquanto a Moral tanto pode ser Secular ou Religiosa, a Ética só possa ser Religiosa?
Esse será nosso próximo tema.

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EXPLICANDO A CONFUSÃO

Como disse antes, um sistema moral necessariamente deve emergir de qualquer agrupamento humano, digo que ele espontaneamente refletirá conteúdos Éticos, ou seja, Universais. Mas mesmo não sendo assim será impossível encontrar qualquer experiência social humana sem ao menos Moral.
Da mesma forma, como sempre insisti, não existe qualquer experiência humana conhecida que também não apresente o fenômeno religioso, que é completamente intrínseco à humanidade. Ou seja, considerando que a Ética e a Religião parecem completamente essenciais à humanidade, estando presentes nos mais primevos estágios sociais, é então perfeitamente compreensível que haja uma certa sobreposição destas estruturas.
Defendo inclusive, como está bem explicitado em Psicogênse da Religião - Da Casualidade à Causalidade, que o Ser Humano em si surge com o advento de fenômenos psíquicos fundamentalmente ligados à religiosidade. Na verdade ouso afirmar que o surgimento da humanidade é o surgimento da religiosidade. Ou seja, a religião, ainda que como um subproduto da Intuição, é que desperta o humano, sendo o diferencial que o separa do reino animal.
Com isso, parece até ficar difícil defender a tese de que a Religião não tenha algo haver com o surgimento da Ética. Mas apenas parece, por ao menos 3 motivos.
O primeiro, é que ainda que assim seja, não incorre em que um deva originar o outro, podendo ser fenômenos puramente paralelos, e nossa experiência histórica nos mostra a independência destes conceitos, uma vez que é perfeitamente possível viver sem qualquer religiosidade, sendo-se perfeitamente ético. Mas com ou sem religiosidade, é impossível viver sem alguma Ética, por mais travestida que esta esteja na Moral.
Segundo, por que nossas religiões foram hábeis em demonstrar posturas nitidamente antiéticas. Para não nos perdermos em exemplos mais exóticos, basta mostrar que apesar dos 10 mandamentos do Êxodo, tais aplicavam-se somente ao grupo dos hebreus, e que o comportamento destes em relação aos demais grupos, isto é, nações e tribos, é fundamentalmente anti-ético, como evidenciam as passagens bíblicas onde as nações de israel, à mando de Deus, arrasam, exterminam e escravizam nações adversárias, não raro não poupando nem crianças.
Terceiro, porque fazendo jus a minha afirmação de que a Ética é Universal, detecto que na realidade ela é mesmo anterior a própria humanidade. Ou melhor, os fundamentos da ética de fato parecem emergir nas formações sociais dos próprios animais, ainda que de modo incipiente.
Sendo assim, quando a religião, ou melhor, a Espiritualidade, fez emergir a humanidade, ela apenas percebeu e mistificou uma ética imanente à suas estruturas sociais mais primevas. Esse emergência é melhor explicada em Da Casualidade à Causalidade. Idéia que desenvolvi bem antes de tomar conhecimento do capítulo "Da Religião" no Leviatã de Thomas Hobbes, com o qual guarda muitas semelhanças.
Todos esses 3 elementos acima serão melhor explicados, mas devo fazê-los não exatamente na ordem, mesmo porque se misturam. Primeiramente então irei apresentar uma argumentação que visa esclarecer o que parece ser o principal e maior motivo para haver tanta confusão entre Religião e Ética.

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A REGRA DE OURO

Todos os grandes sistemas religiosos do mundo apresentam algum preceito similar à "Não faças aos outros o que não gostar que façam a você", ou seu inverso equivalente "faças aos outros o que gostaria que fizessem a você."
Essa é a famosa Regra de Ouro das religiões, que está explícita em conceitos como: "Não firais aos outros com o que vos fere" Budismo "Nenhum de vós sois um crente até devotar pelo próximo o amor que devota a vós mesmos" Islamismo "Não façais aos outros o que se fosse feito a vós, vos causaria dor" Hinduísmo "O que não queres que vos façam, não façais aos outros" Judaísmo "Ame a teu próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas" Cristianismo “A Natureza só é amiga quando não fazemos aos outros nada que não seja bom para nós mesmos” Zoroastrismo “Considera o lucro do teu vizinho como teu próprio e o seu prejuízo como se também fosse teu” Taoísmo “Julga aos outros como a ti mesmo julgas. Então participarás do Céu” Sikhismo “Na felicidade e na infelicidade, na alegria e na dor, precisamos olhar todas as criaturas assim como olhamos a nós mesmos” Jainísmo “Não faças aos outros aquilo que não queres que eles te façam” Confucionismo.
A Regra de Ouro me parece a melhor candidata, se não ours concours, ao cargo de essência da Ética, talvez até mesmo possa constituir algum tipo de definição de BEM.
O motivo é simples. Não me parece haver Ser Humano que não a reconheça, e ela por si só parece não só resumir tudo o que se pode dizer de realmente válido sobre a Ética, como se fosse devidamente observada por todos, parece que seria capaz de estirpar o Mal do mundo num passe de mágica. Claro que, não esquecendo de avaliar esse Bem, de uma forma mais global, pois o masoquista pode desejar sentir uma dor que sabe que outro não desejaria sentir, mas no fundo apenas porque essa Dor para ele traz algum Bem Estar, que não traria a um não masoquista. O que deve então estar em vista e um Bem "final" mais amplo.
Mas não deixa de ter seu exagero essa visão da Regra de Ouro, apenas quero explicitar como a humanidade sempre soube tudo o que realmente precisava saber sobre o assunto, num sentido mais simples. Assim, por que então o mundo é tão permeado pelo que chamamos de mal?
Evidentemente, porque apesar de conhecida, a Regra de Ouro não tem sido devidamente observada, a começar pelas próprias religiões. Como eu disse em meu texto anterior, as religiões tem sido famosas por desobedecer o preceito que elas tem de melhor, e se ater ao que menos importa. Fiéis são capazes de comparecer em massa a seus rituais, se vestir conforme sua moral religiosa, entoar seus cânticos religiosamente e etc. No entanto, é evidente a total impossibilidade de respeitarem a Regra de Ouro em tempo integral, e em muitos casos, em tempo algum.
Cruzadas, Jihads, Inquisição, intolerância, terrorismo e etc seriam completamente impossíveis se a Regra de Ouro fosse observada. Sendo assim, o que há de errado?
Creio que a resposta não poderia ser mais simples: PORQUE ELA NÃO É ESSENCIAL ÀS RELIGIÕES!!!

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Pode ser, e tem sido, facilmente dispensada. E o que fica então? Aqueles 3 elementos que citei em O Que é Religião?, incluindo o Sistema de Regras, que é observado apenas na medida em que garanta o prêmio oferecido pela religião. Religioso nenhum deixa de observar as regras que estão direta e inequivocamente comprometidas com a superação positiva da mortalidade, e muitas vezes sua observação pode ir diretamente contra a Regra de Ouro, como no caso de uma Jihad.
Da mesma forma o fiel não pode abrir mão do pressuposto Espiritualista, é claro, nem da premissa que a Sua religião É o sistema correto. Qualquer evento que abale qualquer um destes 3 elementos necessariamente derruba o sistema.
As religiões então, dispensam facilmente este preceito Ético Universal. No entanto, sua ocorrência em seus cânones dá a impressão de que tal percepção é inerentemente religiosa.
Em resumo, vejo a presença da Regra de Ouro nos sistemas religiosos como a principal responsável pela ilusão de que a Ética seja em essência religiosa. Porém, como um pouco mais de reflexão pode demonstrar, esta Regra de Ouro parece muito mais uma contingência, apreendida de uma percepção simples da presença de uma ética oculta e intrínseca ao social. Dessa forma, como disse Arthut C. Clarke, as religiões nada mais fizeram do que se apropriar deste conceito, que é originalmente independente, dando depois a impressão de serem suas autoras.
Por fim, há mais sobre esse tema em Psicogênse da Religião - Ética e Moral.

EMPATIA

Mas se a Ética não é essencial à Religião mas mesmo assim ela a percebe, como o faz? De onde a Religião "tirou" a Ética? Qual seria então o fundamento da Ética.
A resposta também é simples, a Regra de Ouro poderia derivar da mera percepção e experiência humana da dicotomia Dor e Prazer, Mal-Estar e Bem-Estar. Algumas coisas são tão óbvias que parece estranho que não sejam ditas com mais frequência. Se eu agredir alguém, aumento exponencialmente a possibilidade de que este alguém também deseje me agredir, e é evidente que eu não quero ser agredido. Isso resulta num intuitivo, fundamental e claro juízo de que eu não devo fazer ao outro o que não quero que façam a mim.
No entanto o mundo está cheio de ações perpetradas por pessoas que não gostariam que estas se voltassem para elas mesmas. Isso evidentemente pode ser explicado porque o agente pressupõe que seu ato não incide em risco significativo de gerar seu oposto equivalente. Geralmente alguém que se lança a uma agressão espera que o prejuízo maior seja do outro.
Isto é então aquilo que, em contrapartida à Regra de Ouro, mais acho adequada ao título de definição essencial do Mal: Praticar um ato que sabemos que o próximo não irá gostar, e sabendo que nós também não gostaríamos, no entanto contando com a suposição de que escaparemos ilesos da reação.
Portanto um Ato é Bom ou mau na medida em que observa ou não a Regra de Ouro, porém deve-se logo acrescentar o elemento complicador, que é o fato de que muitas vezes agimos não sob um mero impulso "mau", mas sim sob um impulso de revanche, em geral com a pressuposição que foi o outro que violou o preceito ético inerente, e então partimos para a retaliação que achamos que temos direito.
Os motivos e complicações subjetivas são infindáveis. Alguém pode achar que o modo como um outro fala ou se mexe, justifica uma agressão, outros justificam-se em situações que a grande maioria das pessoas concorda que é válido, como defender-se de um ataque aparentemente despropositado, ou vingar-se do assassinato covarde e hediondo de um ente querido inocente.
Na verdade, na maioria das vezes a maioria das pessoas justifica seus atos, não admitindo para si uma essência anti-ética para os mesmos. De uma certa forma, quase ninguém faz o que realmente considera errado.

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Se então raramente alguém age num impulso assumidamente Mau, decorre que todos acreditam estar agindo eticamente, por motivos justificáveis. Mesmo que tenham consciência de que estão infligindo um mal estar a outro que não gostariam de sentir, reconhecendo o ato como um "mal necessário".
Aqui temos então o resultado óbvio do aumento de complexidade da Ética. Devemos pesar e ponderar uma série de dados a fim de concluir se o resultado final de nosso ato será Bom ou Ruim. Se castigamos uma criança, pressupomos que aquilo será bom para sua educação, se nos vingamos de um ato cruel, pressupomos que estamos restaurando um equilíbrio, punindo um agressor por vezes com vista até mesmo ao "melhor" para ele em longo prazo, ou simplesmente trocando um Mal maior por um mal menor, como eliminar o risco de um criminoso reincidir em seu crime, livrando a sociedade deste às custas de seu sacrifício.
Temos então duas dimensões básicas do dilema ético. A Primeira é uma linha unidimensional entre o a Dor/Mal-Estar/Sofrimento e o Prazer/Bem-Estar/Felicidade. A Segunda é uma outra linha, que forma um plano com a primeira, onde notamos haver várias formas de Bem e Mal, Prazer e Dor, de curto e longo prazo, de maior ou menor duração ou abrangência. E estamos sempre pesando uma ou outra. É comum sacrificarmos um bem temporário, como horas de lazer, por um mais duradouro, como dinheiro. Ou aceitamos sentir dores, como no caso de exercícios físicos puxados, em prol do prazer maior de ter mais saúde e vigor físico.
E enfim, somamos isso à todas as implicações relativas a nossos semelhantes, que estão sempre envolvidos conosco numa coletividade. Em suma essas duas dimensões podem ser resumidas na percepção simples de Dor e Prazer e na percepção, mais complexa, de toda as variáveis envolvidas em vários níveis diferentes de bem ou mal estar para o coletivo. Ou seja, UTILITARISMO.

No entanto, até aqui, temos uma série de limitações típicas do Utilitarismo. Mas se mantivermos em mente a Regra de Ouro, notamos que há uma noção inata no Ser Humano de que aquilo que lhe faz bem ou mal costuma ser muito similar ao que causa bem ou mal a outro.
É aqui então que pretendo recorrer a um termo pouco explorado pelos filósofos: A EMPATIA.
Embora esse termo não seja raro na literatura ética, creio que tem sido largamente subestimado, pois ele pode explicar não só a emergência da Regra de Ouro como pode ser o verdadeiro fundamento de toda a Ética.
EMPATIA é a capacidade que temos de nos "sintonizar" com outros seres. De algum modo, somos afetados emocionalmente por eventos ocorridos à outras pessoas mesmo que eles não nos tenham nenhuma consequência direta, mesmo que sequer conheçamos tais seres.
É claro porém que a intensidade da EMPATIA é diretamente proporcional ao nível de aproximação que temos com alguém. Quando mais próximos, mais íntimos, mais tendemos a compartilhar os sentimentos de um outro Ser.
As raízes deste sentimento, me parecem, devem estar também no biológico. As mães são instintivamente programadas a se "apiedarem" de suas crias por exemplo. Porém, tudo indica que a capacidade humana para a Empatia é incomensuravelmente maior que a de qualquer animal. Chega a ser um autêntico diferencial cognitivo.
Minha proposta, é que se adicionarmos a EMPATIA como uma terceira dimensão junto as duas anteriores de um modo devidamente interrelacionado, teremos além da chave da compreensão da Ética, o melhor meio de racionalizar sua normatização.
É claro que isso de certa forma já foi feito, mas curiosamente nenhum dos grandes sistemas éticos filosóficos deu a devida importância a tal elemento, o que mais uma vez, espero, explique porque muitas vezes a Filosofia Moral parece ter tantas dificuldades.

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ÉTICA E FILOSOFIA

Ao mesmo tempo que temos várias religiões que explicitam, embora em geral pouco sigam, a Regra de Ouro, e portanto se envolvem com a Ética, também temos vários sistemas filosóficos que propõem-se a explicar e normatizar a Ética.
Normalmente as religiões não se preocupam em explicar a "Ética", se contentando com argumento simples do tipo, "devemos ser bons porque Deus assim o deseja". No entanto, elas claramente normatizam. Só volto a lembrar que na realidade, apesar das aparências, as Religiões produzem sistemas Morais, não Éticos, uma vez que sempre são culturalmente condicionais.
Já a Filosofia não só se preocupa em normatizar, mas também, e normalmente até mais, em compreender a "essência" da Ética, e sendo assim, obviamente, visa o Universal.
Pode-se identificar também a Regra de Ouro nos sistemas filosóficos, no entanto com maior dificuldade, pois dada sua pretensão Universal e sua tendência a transcender o Óbvio, os sistemas filosóficos tendem a não explicitar as coisas tão claramente para os não eruditos. Isso pode gerar a clara impressão de que elas não contemplam a Regra de Ouro.
Ademais, parece ter sido uma tendência geral dos filósofos fazer pouco caso do óbvio, e buscar fundamentos transcendentes e herméticos que por algum motivo deveriam estar bem escondidos em algum lugar do Universo. Provavelmente por isso mesmo enveredaram-se por labirintos ontológicos difíceis de se sair sem um bom fio de Ariadne.
E por este motivo que não pretendo discorrer mais que superficialmente sobre obras específicas de nenhum pensador em especial, pois estes já iniciaram seus sistemas com um pecado terminal, que é o de ir buscar em outros mundos aquilo que está aqui e agora, à nossa frente.
Talvez seja uma influência de posturas que tendem a situar qualquer tipo de verdade ou conhecimento como além de uma capacidade mediana de reflexão, fazendo pouco caso do senso-comum e de axiomas intuitivos. Por isso mesmo os ingleses, que desprezam menos o óbvio, parecem ter obtido os melhores resultados no campo da Filosofia Moral, haja visto o Utilitarismo e Consequencialismo em geral. Ao passo que os alemães, os mestres da obscuridade, legam Éticas simplesmente inaplicáveis à realidade e por isso mesmo comprometidas em qualquer ensejo de compreensão. Outros, a exemplo de Espinosa, também insistiram demais em ver no Metafísico as soluções de uma disciplina que está essencialmente ligada à nossa experiência concreta.
Notaremos que destes sistemas, aqueles que mais se aproximaram de pressupostos religiosos ou meramente metafísicos tendem a ser os mais distantes de nossa experiência jurídica. Ainda que haja alguns elementos Deontológicos em nossas predisposições por certas regras, ou mesmo interferências perfeccionistas em nossas visões de atos éticos, ainda predomina em nossa civilização um posicionamento Consequencialista.
Um dos motivos para isso é a impossibilidade factual de avaliarmos objetivamente as autênticas intenções dos indivíduos em suas ações, nos restando muito mais os resultados delas e por meio dos quais, tendo em vista uma série de parâmetros, inferir subjetivamente seus objetivos.

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Dessa forma o único parâmetro objetivo é a Consequência, o que favorece éticas Consequencialistas, em especial o Utilitarismo.
Não obstante esse também apresenta uma série de problemas e distorções, em especial os problemas de quantificação que embora permitam situar algumas situações complexas num cálculo moral relativamente convincente, por vezes permitem distorções bizarras, como no famoso caso da multidão sádica que deseja ver o sofrimento de um indivíduo. Posteriormente pretendo demonstrar que adicionando-se o conceito de Empatia, pode-se eliminar todas essas distorções.
Também não podemos negar os teores Deontológicos e Perfeccionistas de nossa experiência cotidiana, uma vez que parece ponto pacífico que num nível mais íntimo, o valor de uma ação depende mesmo de nossas intenções. Como já diz um famoso dito popular.
Outras perspectivas éticas menos comuns, como a Ética do Cuidado, em geral defendida por feministas, podem ser também largamente contempladas adicionando-se o conceito de Empatia, bem como, em parte, até mesmo o Eudaimonismo.
Mas o objetivo neste trecho é simplesmente esclarecer porque as religiões parecem levar vantagem, no imaginário popular, do que o pensamento secular no que se refere a Ética. Pois elas explicitam a Regra de Ouro, coisa que nem mesmo nosso sistema jurídico costuma fazer.

ÉTICA E VIRTUDE

Não pretendo aqui me referir ao Perfeccionismo Moral, mas sim a um dos fatores mais interessantes a ocorrer com pessoas de forte comprometimento religioso.
Há muitos exemplos de pessoas eticamente louváveis que são religiosas, e é notório a boa conduta dos praticantes de muitas religiões, que não podem ser maculadas pelos maus feitos de certos religiosos, bem como pelos desmandos das instituições religiosas.
Muitos poderiam então afirmar que a religião neste caso melhora o Ser Humano, e desperta ou mesmo cria tais nobres sentimentos responsáveis por tão veneráveis exemplares de dignidade humana e compaixão.
Minha afirmação é que na realidade, não é a Religião que torna as pessoas melhores, mas sim que boas pessoas costumam se identificar com sentimentos religiosos e procurar religiões. Bem como pessoas de impulsos éticos fortes, mas que não conseguem pô-los em prática, assim como pessoas que querem se livrar de seus maus hábitos, conseguem nas religiões encontrar o incentivo necessário para uma transformação positiva.
Defendo esse ponto de vista primeiro pela constatação de que a Religião não tem sempre um efeito positivo, e nem é o caso da maioria das pessoas sempre apresentarem melhoras comportamentais ao abraçá-las. Segundo porque temos vários exemplos de pessoas não-religiosas que também dão exemplos de conduta ética, bem como temos no meio religioso maus exemplos, assim como nos meios não-religiosos.
Ou seja, mais uma vez parece evidente a ampla independência entre Ética e Religião.
No entanto por vezes argumentos pró-religiosos tem teores que se aproximam ao da Ética das Virtudes, alegando que os atos éticos só são possíveis à indivíduos comprometidos com tal ou qual religião. Destes argumentos, o mais significativo é o que apela para a Justificação pela Fé, muito comum entre os cristãos protestantes, e que será abordado no próximo capítulo.
Finalizando este módulo, gostaria de destacar que em momento algum afirmei que a Religião é incompatível com a Ética, e nem pretendo afirmar. Até pelo contrário. As Religiões podem e devem abraçar os preceitos éticos como o tem feito, mas resta elevá-los a níveis de maior respeitabilidade. Com isso, elas se tornariam de fato auxiliares na construção de um mundo melhor.

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SEPARANDO OS CONCEITOS

O filósofo contemporâneo Soren Kierkegaard escreveu um texto denominado "Temor e Tremor", que trata da relação entre a Fé e a Ética. No entanto, apesar de ser cristão, ele não defendeu uma Ética Religiosa, quase pelo contrário, afirmou haver uma independência, senão uma tensão, entre o comprometimento religioso, por meio da Fé, e a Ética.
O exemplo escolhido não poderia ser mais ilustrativo. Ele lembra o episódio bíblico do Gênese 22, onde Abraão estava disposto a sacrificar o próprio filho em obediência a Deus. Trivial que não foi necessário fazê-lo, poir era um mero teste de fé, no entanto, tudo indica que ele iria mesmo fazê-lo, sem questionamento, em total submissão.
Kierkegaard então lança a questão de como devemos avaliar Abraão eticamente. É mais do que evidente que degolar uma criança inocente é Anti-Ético, no entanto, no tal contexto religioso, seria ainda pior não seguir o ditame divino. Fora do âmbito religioso não há discussão, o ato é anti-ético, mas e dentro do âmbito cristão? Como ficaria então o Quinto Mandamento? Ainda que este só viesse a ser revelado posteriormente ao tempo de Abraão.
Mas hoje, como julgar Abraão?
O que seria então mais importante, respeitar o preceito ético universal de que não devemos cometer o infanticídio, ou obedecer cegamente a uma divindade? Isso traz uma série de dilemas terríveis, entre eles, agora já além da obra de Kierkegaard, o que indaga que espécie de seguidor esse Deus prefere, o que apenas lhe obedece cegamente sem questionamento, ou o que tem autonomia e bom senso para decidir por si próprio?
Se aceitarmos a segunda opção, Abraão teria falhado em seu teste, talvez Deus quisesse um homem que questionasse o porquê de tal ato, e ou se recusasse a fazê-lo em nome da compaixão. Mas muitos religiosos dirão que isso seria um orgulho inapropriado ao ser humano, que deveria na verdade se submeter ao poder divino superior. Isso também destruiria a base da Fé, pois a subordinaria à razão. Lembrando que já não mais estou me atendo ao livro Temor e Tremor.
Se admitirmos a primeira opção, teremos então que o perfil psicótico de um terrorista religioso suicida seria o modelo ideal de seguidor de Deus. O indivíduo que obedece acriticamente, sem hesitação. É comum reforçar-se ao longo de toda a Bíblia, bem como do Corão, a importância da entrega total à Deus, o Temor e obediência como as maiores virtudes. Mas a questão inevitável fica ainda mais aterrorizante, e leva àquele que é talvez o maior e mais decisivo dilema ético da religião.
COMO PODEMOS SABER QUE ALGO VEM DE DEUS?
No caso, como saber que a instrução que o profeta recebeu era mesmo de Deus? Não poderia ser também do Diabo? Ou espíritos diversos com poderes sobrenaturais? Anjos caídos? Super Paranormais? ETs? X-Mens?
Com essas opções acima, a simples apelação a uma mera demonstração de sobrenaturalidade é infrutífera, então, como saber?
Se decidirmos apenas por confiar numa autoridade, como Abraão fez, lembrando novamente que aqui estou além da obra do filósofo, então qualquer coisa que vier desta fonte é necessariamente BOM, por ser divino. Então assassinato, roubos, estupros e escravização TAMBÉM PODEM SER BONS! E sendo assim, a Religião não só fica independente da Ética, mas se tornam mesmo antagônicas. Nessa opção, teremos que reconhecer que o fundamentalista islâmico que se explode e mata dezenas de vítimas, bem como os que atiram aviões contra prédios, podem muito bem estar certos, ou ao menos agindo de modo autenticamente religioso. Nesse caso, a Religião seria uma terrível ameaça à Ética, à Paz e à própria Humanidade.
Mas e se optarmos por, ao invés de confiar numa autoridade, julgarmos por nós mesmos se tal ordem de fato deriva de Deus? Então poderíamos dizer que qualquer instrução que violasse o bom senso ético necessariamente não poderia ser divina, mas talvez um demônio tentando nos enganar. Poderíamos então afirmar que ordens advindas do divino seriam imediatamente reconhecidas como justas, sábias, fundamentalmente éticas.
No entanto essa opção apesar de inegavelmente mais sensata, não só declara ainda mais a independência entre a Ética e a Religião, como ainda resulta que a religião de fato é dispensável, que no caso não precisamos da divindade para saber o que Certo ou Errado. Sendo assim, no que se refere a Ética, religião é completamente dispensável.

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Portanto espero ter demonstrado definitivamente a total independência entra Religião e Ética. A religião pode continuar sendo necessária por ser talvez uma forma de compreender o mundo e superar a mortalidade, mas não como parâmetro de orientação ética.
Embora não desenvolva essa reflexão, Kierkegaard obtém um resultado semelhante ao isentar Abraão de culpa, declarando que ao entrar num estado de Fé, o humano religioso se coloca fora do âmbito ético. Com uma brilhante explanação, ele sugere que o "Cavaleiro da Fé" é alguém isolado do mundo, num estado psíquico de arrebatamento que o deixa além da moralidade, no caso da ética. Seria como alguém que não estivesse em condições mentais normais. Isso, claro, pode isentar Abraão de culpa, mas não livra a religião de seus dilemas.
Na realidade basta avançar mais na leitura da Bíblia para conferir diversas ações divinas reconhecidamente atrozes, como a morte dos primogênitos do Egito no livro do Êxodo, e ainda mais adiante em Deuteronômio e Josué as tribos de Israel massacrando nações adversárias, exterminando inclusive bebês, fazendo escravos, pilhando riquezas e destruindo a religiosidade alheia, e tudo isso é feito sob ordens diretas de Deus, que também os auxilia com armas de destruição em massa, como chuvas de pedras contra o exército inimigo que bate em retirada. E tudo isso muito depois da promulgação dos 10 mandamentos. Mesmo se avançarmos para o Novo Testamento, veremos atitudes estranhas mesmo para Jesus Cristo, como amaldiçoar uma figueira ou atirar a criação de porcos de um homem precipício abaixo. Nestes casos todas parecem ser melhor interpretadas como alegorias e símbolos bastante instrutivos e éticos, alguns deles até mesmo sugerindo a independência entre a Ética e a religiosidade, como na parábola do Bom Samaritano. E mais adiante nas epístolas paulinas, há até mesmo lugar para a posição de quem um homem não cristão pode ser salvo mediante suas ações em respeito à própria consciência. Mas mesmo assim ainda temos a idéia da punição perpétua no Inferno, uma idéia indefensável sob qualquer parâmetro ético concebível.
Ou seja, tudo isso é Bom do ponto de vista da Fé. São atos e pontos de vista morais, "éticos", por alguns considerados como ditames de sabedoria e bondade infinitas!
De fato, pela minha definição, são sim atos e posturas morais. Pois defendo como Moral um âmbito relativo e contextual, e neste caso obedecer a Deus é a maior virtude, sendo o Bem em si. No entanto como podemos ver esse mesmo raciocínio não funciona em outros contextos, outras culturas e mesmo numa civilização que se desenvolveu tendo a idéia que a Bíblia é a palavra de Deus.
Por outro lado, chamo de Ético tudo aquilo que é espontaneamente reconhecido por qualquer ser humano. Nenhum de nós quer sofrer, mesmo o masoquistas apenas tem uma noção de prazer diferente. Sendo assim a Regra de Ouro se aplica universalmente, e com ela a restrição do assassinato, pois ninguém quer ser assassinado, geralmente. Também a restrição do roubo e da mentira, pois ninguém quer ser roubado ou enganado, bem como a restrição da agressão, da perversão, do abuso e etc. Pois ninguém quer sofrer tais coisas.
Isso então é Ético e é totalmente independente da Religião.

ÉTICA E NATUREZA

De onde mais poderia derivar a Ética que não do próprio Ser Humano?
Como vimos, a idéia de que é necessária uma divindade, um poder super humano, para nos ensinar o óbvio, é no mínimo tremendamente confusa e contraditória. Então de onde mais poderia vir a Ética? A Regra de Ouro?
Minha resposta se mantém: do próprio Ser Humano, mais especificamente da EMPATIA, ou de um casamento entre a Empatia e o desejo de Bem-Estar.
Muitos no entanto não pensam assim. O dogma da maldade intrínseca do Ser Humano é largamente difundido, e o mais curioso, por pessoas que muitas vezes consideram-se não-cristãs, ou mesmo anti-cristãs.

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Os motivos para isso podem ser infindáveis, inclusive a incômoda hipótese de que um indivíduo que se considere ruim sem dúvida deve ter dificuldades em reconhecer a bondade nos demais, e prefere generalizar seu estado para toda a humanidade.
Mas independente disso, essa noção é evidentemente contraditória, pois para considerarmos uma coisa Má, necessariamente temos que ter uma noção de Bem, sendo assim, de onde vem essa noção?
Pode de um ser inerentemente mau derivar a idéia de Bem?
Num sistema religioso isso é até mais defensável, porque pode-se argumentar que a idéia de Bem vem da divindade, mesmo assim, como já vimos, essa argumentação também não se sustenta, e de qualquer modo, a contradição sempre é inevitável, pois mesmo que não fosse capaz de produzí-la, poderia um ser mau, reconhecer a idéia de Bem?
Notemos inclusive que os filósofos que colocam a fonte da ética no próprio ser humano não compartilham da idéia da maldade humana inata, como Kant, Rosseau e Marx. Mas é curioso que haja não-religiosos, incluindo opositores do cristianismo, que compartilham de seu dogma fundamental, que é a natureza maligna humana.
Alguns no entanto colocam que a fonte do Bem não é a divindade, mas a própria Natureza, supondo que existe uma Ética intrínseca no mundo. Assim o pensava Schopenhauer, inclusive considerando que a suposição de que o mundo não tivesse uma natureza moral era uma execrável postura.
Hoje em dia tal noção é muito popular, aparecendo nas mais diversas roupagens. As mais comuns são as que declaram que não existe o mal na natureza, que apesar das aparentemente violentas relações entre os seres vivos, não ocorre nada que possa de fato ser considerado mais do que uma luta intrínseca pela sobrevivência, onde não há lugar para a perversão.
Algumas pessoas inclusive gostam de afirmar que não existe o assassinato, o roubo ou o estupro na natureza, e sendo assim a conclusão é inevitável. Todo o Mal deriva da Humanidade.
Não irei apelar para as miríades de dados que os zoólogos podem nos fornecer para por em cheque tal noção, que podem ser vistas inclusive em obras de Darwin, Richard Dawkins, Stephen J. Gould, este último curiosamente entretanto, apesar de agnóstico, compartilha de uma noção de que a Ética é domínio da Religião. Mas mais uma vez esta pressuposição da maldade originada do Ser Humano cai na mesma contradição, e como o dizia Feurbach, e só mais uma forma de projetar o que temos de humano, fora do humano, insistindo em ver no externo aquilo que só existe em nós mesmos. Neste caso a bondade.
Minha posição é que o Ser Humano é intrinsecamente ambíguo, mas com uma tendência inata para assumir que o Bem é o caminho que deve ser seguido. Sendo assim, embora eu prefira não usar esses mesmos termos, não seria errado dizer que o Ser Humano é por Natureza Bom.
Mas em termos de melhor precisão filosófica, posso trabalhar com a hipótese da neutralidade humana, mas nunca com a hipótese da maldade inerente. Alguns poderiam argumentar de forma inversa, como um ser Bom poderia ter uma noção de Mal? Mas creio esse argumento facilmente refutável, pois parece um ponto pacífico que o Bem é um conceito positivo, assim como a Luz, e o Mal somente sua ausência, tal como a Escuridão. E sendo assim é o conceito positivo que de fato constitui a definição, e a noção.
Além do que um ser inerentemente mau seria auto destrutivo, suas tentativas de socialização rapidamente seriam frustradas pelas guerras entre as nações, e no entanto, apesar dos pesares, a história da civilização tem sido uma história de integração de culturas e fusão de tribos e nações.
Por fim, quero apenas defender que a Ética é intrinsecamente humana, e só faz sentido em termos humanos, ainda que possua alguns fundamentos aparentes na natureza. Mas ao que tudo indica a Natureza, o Universo, são fundamentalmente a-éticos.

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ÉTICA E RELIGIÃO NA HISTÓRIA

Comprometi-me em fornecer muitos exemplos de como as religiões promoveram ações antiéticas ao longo da história. Alguns já foram citados, mas é algo que não é necessário mais do que algumas palavras para qualquer um com um mínimo de conhecimento histórico.
Cruzadas e Guerras Santas em Geral, Inquisição e Caça às Bruxas, Conversões Forçadas, e diversas outras coisas, perpetradas por grupos de praticamente todas as religiões, são mais do que suficientes para nos convencer disso.
Muitos hão de alegar não sem razão que tais eventos se deram pela negligência da observação das próprias normas religiosas. Algo difícil de defender quando vemos diversas passagens na Bíblia ou no Corão que de fato apregoam tais posturas, ainda que sejam contrabalançadas por outras diametralmente opostas. Mas mesmo fora disso, nada muda o fato de que os sistemas religiosos parecem incapazes de deter tais processos.
Alguns podem se surpreender, mas defendo a posição de que não existem, nunca existiram, guerras de causas religiosas. Mas as religiões legitimaram muitas guerras e atrocidades, cujos verdadeiros objetivos eram políticos, e econômicos, sociais ou étnicos. Mas o raciocínio em si pouco muda, dada a já referida incapacidade das religiões de se oporem fortemente, como modos de pensar coesos, contra esses já referidos processos, muitas vezes os sacralizando.
Já forneci minha explicação básica, de que a Ética é para a religião inessencial, portanto a recorrência de posturas antiéticas em seus cânones, instituições ou membros muito pouco pode fazer para afetar suas estruturas fundamentais.
No entanto permanece na mentalidade popular a muito difundida idéia de que a Ética só é possível em bases religiosas. Pesquisas recentes inclusive tem apontado essa opinião como majoritária nas américas, destaque para a nação que recentemente reelegeu um presidente antes "eleito" num processo de votação fraudulento e que demonstrou várias posturas antiéticas em seu governo, mas que no entanto, apresenta uma imagem de homem religioso e acabou sendo acolhido pela maioria da população como um representante da moralidade.
Fenômenos como esse denotam uma tensão em nossa sociedade, um conflito de concepções morais distintas, que envolvem de um modo ou de outro as diversas tradições que a humanidade desenvolveu em termos de noções morais e éticas.
Na tradição filosófica distinguimos várias correntes de pensamento ético, em especial o Consequencialismo, o Deontologismo ou Ética dos Deveres, o Perfeccionismo ou Ética das Virtudes, o Eudaimonismo ou Ética da Felicidade, e a mais recente Ética do Cuidado. E é claro, temos as Morais Religiosas e o Sistema Jurídico.
Gostaria então de simplificar esses sistemas e estabelecer uma dicotomia de modo a explicar melhor nosso dilema contemporâneo. Num esquema que já apresentei num furioso ensaio denominado 50 MILHÕES DE CRETINOS!

Num primeiro grupo estou reunindo o Consequencialismo e boa parte do Deontologismo, bem como elementos dispersos de outras éticas. Chamo esta de ÉTICA DA FINALIDADE.
Ela propõe que o valor de uma ação está na Consequência que se tem em vista. Ou seja, não numa mera consequência ainda que acidental, mas naquilo que o agente tinha a intenção de promover. Desta forma unimos elementos de Intencionalidade presentes nas Éticas de Deveres, que ainda que subjetivos, são normalmente aceitos por todos como relevantes para avaliar o valor de uma ação ao menos num nível íntimo.
Digo que é mais ou menos essa linha de pensamento que impera no senso-comum secular.
Em contrapartida estou agrupando outra parte do Deontologismo, especificamente a parte de maior ênfase em deveres imperativos, e o Perfeccionismo, ou sua maior parte, para explicar a Moral Religiosa. Chamo a esta ÉTICA DO PRINCÍPIO.
Nesta estaria inclusa a mentalidade de senso-comum religiosa, que estaria envolvida em posturas como a que descrevi mais acima.
Como podemos ver, estou estabelecendo uma dicotomia, ou melhor, estou criando um sistema explicativo dual para entender nosso dilema contemporâneo e extremamente atual. E que no entanto, pode ser utilizado para entender todo o dilema histórico a qual tenho me referido.

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Considerando que o que está em julgamento é o valor ético das ações humanas, digo que a Ética da FINALIDADE crê que o valor da ação deve ser medido no Objetivo que se quer alcançar, independente do Meio que se use. Como diria o Utilitarismo, que se lance mãe de procedimentos essencialmente anti-éticos, como o assassinato, pode ser que o resultado final possa justificar os meios, como no caso de eliminar um perigoso infanticida.
Por outro lado, a Ética do PRINCÍPIO supõe que o valor ético da ação é determinado pelo seu ponto de partida, ou seja, a ação será Boa caso se baseie numa fonte Boa, no caso Deus, ou o homem virtuoso, que é aquele que está comprometido com a religião, que está, em termos cristãos protestantes, justificado pela Fé.
Creio que o dilema atual pode ser visto assim.

O que pretendo demonstrar é que, apesar desta ÉTICA DE FINALIDADE possuir problemas, a ÉTICA DO PRINCÍPIO é contraditória, e tem como resultado as mais diversas distorções possíveis, explicando o que tem ocorrido historicamente e justificando minha Terceira Tese, que afirma que tentar derivar a Ética da Religião é extremamente problemático, se não suicida.
O motivo é simples. Enquanto a Ética da Finalidade tende a definir o Bem como aquilo que é universalmente aceito, como a Regra de Ouro, uma vez que se preocupa com o Bem Estar geral visado, a Ética do Princípio não tem como definir o Bem de nenhum modo compreensível. Ou seja, enquanto a definição de Bem da Ética de Finalidade, que seria o Bem-Estar, prazer, felicidade e etc, é meramente discutível, a definição de Bem na Ética de Princípio é simplesmente inexistente, ou quando parece existir, é fundamentalmente contraditória e vazia.
Pois se uma ação é Boa devido a partir de uma Origem Boa, como então sabemos que tal origem é de fato Boa?
Voltando ao dilema da religião: Como saber se uma instrução divina é de fato proveniente de um Deus Bom?
Se é pelo seu conteúdo, então quem define o conteúdo além de nós mesmos?
Se é pela autoridade da fonte, como então entendemos que ela é de fato Boa?
Não há resposta! No máximo pode-se dizer que tudo que vem de Deus é Bom, ou que somente o homem renascido em cristo pode agir eticamente, ou somente o que se faz justificado pela Fé. Mas nada disso explica o que é o Bem. Apenas usa a palavra como mais um sinônimo para aquilo que é determinado por um imperativo religioso inexplicável.
Posso ser acusado de estar criando uma versão espantalho da noção ética religiosa, mas tenho uma larga experiência em diálogos com religiosos, em geral protestantes, que representam muito bem essa linha de pensamento. Em especial, a idéia da Justificação pela Fé funciona como um identificador de Virtude. O "Cavaleiro da Fé", como diria Kierkegaard, é um Homem Virtuoso, e capaz de fazer o bem, ainda que Kierkegaard não ponha dessa forma. Por outro lado, nada do que a pessoa não religiosa fizer terá valor, pois neste ponto de vista as "obras são inúteis", e portanto não importa a dimensão do benefício e bem estar geral promovido por uma ação de uma pessoa não justificada pela Fé. Ela simplesmente será sem valor algum, se não fundamentalmente maligna.
Partindo do dogma fundamental do cristianismo, que é a maldade intrínseca do Ser Humano e sua incapacidade de se salvar por si próprio, adicionando-se o elemento Calvinista da Depravação Humana total, decorre que o Bem só pode advir da divindade. E finalmente cai-se então no dilema de o quê afinal define o Bem nessa linha de pensamento. A resposta que tenho colecionado é, ou o silêncio, ou a repetição do dogma.
No entanto é essa linha de pensamento que elegeu um presidente tido como virtuoso por ser religiosamente comprometido, apesar de ter protagonizado posturas eticamente inaceitáveis como mentir em assuntos de geopolítica para justificar uma guerra, e ainda promovê-la sonoramente declarando ter apoio de Deus.
Com essa mesma linha de pensamento, se uma instrução supostamente derivada da divindade apregoar que devemos atirar um Boeing numa torre matando milhares de pessoas, essa ação será considerada Boa e justificada. Se apregoar que deve-se bombardear, invadir e pilhar um país "pobre", mesmo que não exatamente em nome de Deus mas em nome de Virtudes como Democracia e Liberdade, também será considerada Justa e Boa.
E assim, a Ética se auto destrói sob a Moral religiosa, cujos valores são tão permanentes quanto uma bolha de sabão, e os piores tipos de inversão podem ser feitos, esquecendo-se completamente da Regra de Ouro e perpetrando qualquer tipo de ação em benefício dos mais diversos interesses sob a máscara da moralidade.

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EMPATIA: UMA NOVA DIMENSÃO DA ÉTICA

Apesar de incomensuravelmente mais defensável que a Ética de Princípio, esta Ética de Finalidade também não escapa de problemas típicos do Utilitarismo e Deontologismo. Creio eu, que tais podem ser tranquilamente superados com o uso adequado do conceito de EMPATIA.
Ela satisfaz também apelos da Ética do Cuidado, e se harmoniza perfeitamente com a Regra de Ouro, pois qualquer ação que crie um desnível de bem estar entre os envolvidos tende ao mal. Ou melhor, as ações teriam seu valor ético ampliado na medida em que contribuem para o máximo bem estar médio, respeitando a sensibilidade de cada um, o que ecoaria em parte no antigo Eudaimonismo grego.
De certa forma é isso que doutrinas de Compaixão e Caridade sugerem, inclusive a Cristã. Qualquer nível de contato entre dois indivíduos deveria considerar o sentimento de Empatia, de modo a inibir qualquer ação deliberadamente anti-ética.
Em termos práticos, isso significa estimular o sentimento de Empatia que todos temos, que pode estar adormecido mesmo por uma questão de auto defesa emocional. A dessenssibilização é um perigo para toda a sociedade, pois é fato notório que a maioria dos humanos tem uma resistência natural contra atos homicidas por exemplo. Há uma comprovada dificuldade em cometer um primeiro assassinato, no entanto uma série de fatores podem reduzir essa resistência, adormecendo a empatia. Há exemplos históricos grotescos, como os treinamentos de exércitos espartanos ou nazistas, que visavam estimular ao máximo a agressividade, reduzindo ao mínimo a sensibilidade.
Tivemos também ao longo da história uma cultura de apreciação do sofrimento alheio, como as vias-cruxis, esquartejamentos e torturas em praças públicas, podendo ser vistos inclusive por crianças, incinerações ao vivo e sessões de humilhação pública. Todos fatores socialmente estimulados que não faziam outra coisa que inibir ao máximo nossos impulsos altruístas espontâneos.
É uma grande conquista da civilização contemporânea ter abolido esses comportamentos hediondos, ainda que muitos deles restem. Temos estendido nossa empatia não só para outros povos, mas até mesmo para animais e plantas. É inegável que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas hoje em dia em nosso contexto cultural já não mais é admissível uma sessão de chibatadas em praça pública.
Dessa forma, considero qualquer proposta no sentido de instituir punições cruéis e públicas uma afronta às conquistas éticas de nossa civilização contemporânea. É totalmente inaceitável que alguém hoje em dia proponha que o estado aplique castrações para estupradores, linchamentos ou punições que inevitavelmente viriam a dessenssibilizar os cidadãos. Por mais terríveis que sejam os crimes praticados pelos algozes da sociedade, esta tem que estar acima deles, e não agir com impulsos vingativos e métodos brutais.
Uma coisa é que alguém tenha um forte sentimento de revanche. Algo aceitável no Ser Humano, mas isso não pode ser institucionalizado como era antigamente. Fazê-lo seria uma porta aberta para o retorno de todas as formas de perversões que hoje em dia tanto nos envergonham que tenham ocorrido no passado.
Também não estou apoiando a estúpida máxima ingênua que muitas vezes vemos afirmar que o indivíduo que se vinga de um agressor na mesma moeda é tão ruim quanto o agressor. Longe disso. Praticar uma agressão equivalente por revanche é muito menos ruim do que praticar a mesma agressão por motivo fútil. O próprio judiciário reconhece isso. No entanto, concordo sim que tal ação vingativa é menos boa do que uma postura de superação e indulgência.
A temática da Empatia, ademais, permite não só uma descida da teoria ética de pedestais metafísicos para um plano material e tangível, como permite também soluções dos problemas típicos dos modelos éticos mais entrelaçados com nossa experiência concreta, como o Consequencialismo, bem como satisfaz perspectivas deontológicas de intenção.

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Em termos de quantificação utilitarista, ela permitiria eliminar todas as distorções. Pois além de um valor teórico de quantidade de Bem a ser mensurado para cada indivíduo envolvido, deveria ser medido também um Índice de Empatia entre cada um dos envolvidos, e mais especificamente, o nível de diferença entre o Bem estar de cada um, dessa forma, notaremos que qualquer evento que consideramos intuitivamente como anti-ético, invariavelmente dará um resultado de valor negativo.
A fórmula para esse cálculo seria:

Onde VE é o Valor Ético. B a "Quantidade" de BEM de uma pessoa envolvida na ação, e E o nível de EMPATIA, ou no caso, o desnível entre a Quantidade de Bem de um indivíduo e a de um outro.
Citarei apenas 3 exemplos simples. Consideremos que o Bem Estar de alguém pode variar de +10 a -10, sendo este último o pior mal-estar possível. E é claro que devemos lembrar que isso se refere apenas a um valor teórico, que não poderia ser usado para finalidade práticas mas sim para compreensão de elementos da uma teoria Ética. Esse valor também é subjetivo, pois estaria levando em conta não um simples prazer imediato, mas também as perspectivas de bem-estar futuros relativos em seus mais variados níveis.
Vejamos primeiro, em cada um dos 3 exemplos, uma quantificação utilitarista simples.

1 - Casal tendo relação sexual Harmoniosa.

"Quantidade de Bem" do Homem = digamos, +7.
"Quantidade" de Bem da Mulher = +8. O Resultado seria a soma dos valores, +15, o que resulta numa ação boa.
Mas adicionemos um terceiro indivíduo, no caso um bebê cuja necessidade alimentar está sendo no momento negligenciada enquanto o casal faz amor. A criança estaria num estado de Bem de -3, por exemplo. Nesse caso, o resultado final da quantificação continuaria positivo, +12. Ou seja, apesar de sabermos que há algo eticamente errado nessa situação, a quantificação utilitarista simples ainda lhe dá um valor positivo!
Agora vamos adicionar a medida de Empatia. Esta seria nada menos que a soma da diferença de Bem entra cada um dos envolvidos.
Entre a Mulher e Homem = 1; Entre o Homem e o Bebê = 10; entre a Mulher e o Bebê = 11.
Basta agora somar todos esses valores e dar-lhes um total negativo, no caso -22. Então somamos este ao nível de Bem estar da quantificação simplificada, que era +15, o resultado é -7. Ou seja, o ato, intuitivamente anti-ético, passou a ser também teórica e matematicamente anti-ético!
Se removermos o bebê da equação, veremos que o resultado anterior diminui em um grau, caindo para +14. Essa desvaloração se dá devido ao desnível de bem entre o casal, mas o valor continua sendo positivo.

Essa desvalorização devido ao adicionamento do cálculo de empatia me parece um preço pequeno a pagar pelo ganho de compatibilização do cálculo com nossas intuições éticas fundamentais com base na regra de ouro, como poderemos ver nos próximos exemplos, e lembrando de que é necessário somar as relações "empáticas" entre TODOS os envolvidos, numa análise combinatória de pares.

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2 - Grupo de 5 pessoas se divertindo.

Digamos que os valores de Bem sejam +6, +5, +4, +8, e +7 e ou seja, numa quantificação simples seria +30 o resultado final. Se adicionarmos o cálculo de empatia, o que nesse caso poderia até ser dispensado, o valor irá cair para +10. Pois seriam 10 relações entre os indivíduos. Entre +6 e +5, +6 e +4... Depois entre +5 e +4, +5 e +8... Até totalizar a soma dos desníveis em todos os pares possíveis, no caso -20. O Valor Ético continuará muito positivo, mas havendo um desnível empático entre alguns indivíduos, talvez o excesso de euforia de um incomode o outro. Vê-se logo que uma maior harmonia na relação empática elevaria o nível do ato. Se todos estivessem na média, nível +6, o resultado final se manteria +30.
Se destes, 4 estivessem num nível +9 e um deles num nível +1, o resultado simples seria +37, mas o resultado considerando as relações empáticas seria +5. Talvez caso os demais estivessem a se divertir as custas da ridicularização do outro.
Mas se examinarmos casos mais extremos, onde os demais se divirtam as custas do intenso sofrimento do outro, mesmo que seus níveis de Bem estivessem muito elevados, o ato seria fundamentalmente anti-ético. No caso de valores +8 +9 +10 +9 e -4, para uma quantificação utilitarista simples haveria o resultado ainda positivo de +32, mas adicionando-se os valores de empatia o Valor Ético do ato cairia para -26.

Portanto essa fórmula impede as falhas típicas de quantificação utilitarista, pois onde seu modelo falha, deixando atos claramente anti-éticos receberem Valores Éticos teóricos positivos, o cálculo envolvendo Empatia sempre deixará valores claramente negativos.
Passemos para um exemplo ainda mais amplo, e sempre lembrando que esses cálculos não tem pretensões normativas pragmáticas, mas sim devidas ilustrações que simbolizem como o conceito de empatia tornaria nossas noções teóricas de ética muito mais precisas e próximas da realidade.

3 - Batalha entre dois exércitos. Consideremos 200 envolvidos, metade de cada lado.

Digamos que 50 destes indivíduos, guerreiros natos e habilidosos, estão num estado de larga euforia, o dito clangor da batalha, eles tem em média +6.
Destes, 120 estão num estado de tensão devido ao perigoso combate, numa oscilação entre a excitação da ação e o medo de serem feridos ou mortos, sua média seria 0.
E 30 "levaram a pior", sendo mortos ou gravemente feridos, ficando em estágio de sofrimento. Sua média seria -7.
Numa quantificação simples basta multiplicar e somar os valores:
50x6 + 120x0 + 30x-7 = 300 + 0 + -210 = +90.
Ou seja, a quantificação utilitarista simples daria um valor positivo de +90 a essa barbárie! Apesar do que nos dizem nossas intuições.
Agora adicionemos novamente o cálculo de Empatia. Para cada indivíduo seria necessário avaliar o desnível de bem relativo a cada um dos outros. O cálculo é muito trabalhoso sem fórmulas mais precisas, mas é evidente que o resultado é largamente negativo, pois seria avaliada a diferença entre os extremos. Num cálculo simplificado teríamos a mera diferença entre 300 e 210, que é -90, que deveria ser somada ao resultado final. Como vemos, na melhor das hipóteses o resultado seria 0! Mas na verdade seria muito menor, pois o desnível de empatia sempre traz um resultado negativo, mesmo que os dois valores sejam positivos. O somatório de todas as combinações, que para duzentos são nada menos que 19.900, seria então um número negativo extremo, a ser adicionado à equação.

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Na mesma linha, observemos que uma das maiores críticas à quantificação utilitarista cai por terra com essa dimensão de Empatia. O famoso exemplo do Coliseu, onde uma grande platéia sente um imenso prazer ao ver uma pessoa ser açoitada, torturada e morta. Na quantificação utilitarista simples, o resultado dessa ação é inegavelmente bom, basta somar os índices de Bem pessoal. O do indivíduo sofredor seria desprezível comparado ao somatório do de milhares.
John Stuart Mill tenta contornar situações como essa adicionando conceitos confusos como a distinção entre purezas do prazer, ou apelando a estranhos "Juízes Competentes", uma espécie de apelo ao Perfeccionismo, que afinal não conseguem contornar devidamente o problema sem cair em discussões metafísicas, ontológicas ou no mínimo semânticas.
Mas se simplesmente considerarmos a Empatia, teríamos que adicionar uma relação empática de cada um dos indivíduos com a vítima, ou seja, seriam milhões de valores negativos a serem considerados, que não poderiam ser compensados pelos somatório dos valores entre cada membro da platéia, pois o desnível sempre dá resultados negativos. No caso de duas pessoas em estado de Bem positivo, a diferença é pequena e não influi significativamente, mas entre a de estado positivo e a negativo, e valor aumenta largamente, passando a ser significativo.

Muito mais poderia ser dito sobre esse tema, mas na verdade tenho pretensões de trabalhá-lo num Mestrado, dado sua importância e amplitude. Espero que este trabalho sirva como uma introdução a algo muito mais amplo, um projeto literário e filosófico de largas proporções no tema da Ética.
Áqueles que não se sentirem à vontade como minha distinção operativa de Ética e Moral, basta ignorá-la, embora me pareça incômodo ter que me referir às mesmas idéias com termos como "Ética mais abrangente", ou "Moral mais restrita".
Também espero ter esclarecido minhas predileções filosóficas pelo Consequencialismo e parte do Deontologismo, em geral em detrimento de maior parte do Perfeccionismo, ainda que não tenha explanado mais claramente, especialmente sobre o Eudaimonismo e a Ética do Cuidado. Esses temas ficarão para um futuro tratamento, mas eu precisava tratar logo, aqui e agora, alguns temas introdutórios para esta disciplina de Filosofia Contemporânea, uma vez que tal assunto é extremamente contemporâneo, e sempre será. Mesmo porque no período medieval por exemplo seria impraticável defender uma ética não religiosa, com risco de vida envolvido, e a dificuldade permaneceu até boa parte da Idade Moderna.
Isso não faz com o que o tema não fosse importante antes, mas somente aqui, na Contemporaneidade, parece ser possível tratá-lo com mais segurança e profundidade, livre de certas limitações históricas.
Afinal, já disse e repito. Ética, ou Filosofia Moral, por sinal nomes que sugerem tratamento diferenciado para os termos "Ética" e "Moral", ao menos nunca vi os termos "Filosofia Ética" ou simplesmente "Moral", para se referir à disciplina filosófica.
Voltando. Ética é para mim o tema mais contundente e impactante da filosofia em termos práticos. A maioria de nós pode viver sem nada saber de Epistemologia, Ontologia, Lógica, Teologia ou Teoria da Ciência.
Mas não podemos viver sem Ética.

Marcus Valerio XR
20 de Janeiro de 2005

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BIBLIOGRAFIA

ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL (ENCYCLOPAEDIA BRITTANICA DO BRASIL)

KIERKEGAARD, SOREN. Temor e Tremor. Coleção Os Pensadores - Ed. Abril, São Paulo 1974

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WRANGHAM, Richard & PETERSON, Dale. O Macho Demoníaco. - Ed. Objetiva, São Paulo 1995.

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---------------------------- 50 Milhões de Cretinos www.xr.pro.br/ENSAIOS/50MILHOES.HTML
---------------------------- Religião – Em Busca da Transcendência www.xr.pro.br/Religiao.html

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