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26 de Março


15 de Março

Em 26 de Outubro de 2021 publiquei minha crítica ao filme DUNA Parte 1 de Denis Villeneuve, e agora, finalmente, tendo visto a Parte 2, posso confirmar que o saldo é positivo, e se mantém como a melhor versão cinematográfica do livro original de 1965, ainda que com MUITOS problemas. O principal motivo dessa superioridade, porém, é técnico e estético. Há elementos poucos inspirados, como as humildes lápides dos Atreides em Caladan, ainda no primeiro filme, num cenário pobríssimo, quando seria de se esperar uma monumental necrópole, ou mesmo um apagamento de Arrakeen, que é melhor retratada na série de TV de 2000. Mas alguns aspectos são impressionantes, como as naves imperiais, os "ornitópteros" (que apesar do nome, parecem insetos, e não pássaros), e um figurino espetacular.

Mas tudo o que apontei de problemas maiores, até dizendo que não teriam como ser solucionados, se mantiveram. Quem vê apenas esses filmes de Villeneuve, não faz a menor ideia do que é a Especiaria, os Mentats, a CHOAM, por que não se usa Lasers o tempo todo, o Jihad Butleriano e porque não há robôs ou computadores.

Aliás, toda a estrutura do poder do universo na série pode ser sintetizada em Landsraad (poder político Imperial baseado num "feudalismo" de grandes casas), CHOAM (poder comercial exercido pela corporação que monopoliza as viagens espaciais) e Bene Gesserit (poder religioso exercido exclusivamente por mulheres que dominam os corações e mentes das massas por meios de técnicas obscuras, crenças míticas e engenharia genética).

Por sinal, como toda grande saga de Fantasia e Ficção Científica que se preze, não há, estrito senso, Capitalismo em Duna, mas algo mais próximo de um "Metalismo" Mercantil, ou no máximo, alguns semi-capitalismos locais brutalmente controlados por poderes políticos. Até a CHOAM acaba funcionando mais como um poder político paralelo.

Mas voltando, Feyd Rautha não apareceu, como eu disse, apenas nos 45 do segundo tempo, e sim aos 35, e apesar de ter recebido um desenvolvimento até interessante, ainda não ficou clara sua verdadeira importância.

Explico. O plano milenar das Bene Gesserit era que o Kwizats Haderach fosse filho de Feyd com a menina que seria gerada por Jéssica. Só que ela desobedeceu e teve um menino, Paul, para surpresa e fúria das Reverendas Madres. Ocorre que o significado de Kwizats Haderach é "o que encurta o caminho", que seria um ser que uniria os poderes das mulheres com as habilidades dos homens. E de fato, Paul acabou encurtando o caminho demais e usurpou o poder manipulatório das Bene Gesserit.

Isso acaba sendo inferido agora devido a uma trama paralela parcialmente inventada para este último filme, com um foco inédito em Lady Margot Fenring, ausente em quaisquer versões anteriores e discretíssima até nos livros, e serve basicamente para tentar levar adiante justo o plano que é frustrado. Mas antes de sequenciar nesta longa lista de alterações visando "adaptadar a obra para os "novos" tempos", leia-se se, submetê-la aos caprichos ideológicos da elite financeira ocidental, permito-me uma rasgaçãozinha de seda básica.

O visual de Geidi Prime na cena do duelo de Feyd é UMA DAS COISAS MAIS LINDAS que já vi no cinema! Aquela ideia da luz solar eliminar as cores... MINHA DEUSA! Vale os dois filmes inteiros! Essa ideia é tão maravilhosa que, por mais aparentemente impossível que pareça (Uma luz branca que resiste ser decomposta em cores?) estou disposto a aceitar qualquer explicação para justificá-la.

Lamentavelmente, foi menos explorada do que devia. Percebe-se sim que nos ambientes interiores, apesar de escuros e repletos de preto, as poucas cores são preservadas, e que quanto mais se aproxima do ambiente externo, mais elas vão esmaecendo até que a exposição direta à luz da estrela neutraliza toda variância cromática, restando o "Preto e Branco". Mas é o tipo de revolução estética tão sublime que merecia ser muitíssimo mais explorada! Nas cenas externas, enquanto ainda na sombra e recebendo iluminação indireta, deveriam ser mantidas resquícios notáveis, embora sutis, das cores, para só eliminá-las completamente ante a exposição direta à luz estelar.

Mais. Deveriam ter feito transições mais longas onde percebêssemos o efeito da ida e vinda das cores. Por exemplo, imagine, após vencer a luta, que Feyd empunhasse a lâmina com o sangue que mais pareceria um óleo negro devido a monocromia, fosse então caminhando rumo as sombras tornando o sangue mais corado, até que assumisse o vermelho intenso no ambiente interno.

Mas decaindo do campo do sublime, voltemos às divergências em relação ao original. Inverteram a relação, pois no livro é Feyd que vive tentando matar o tio, no que é tolerado, mas repreendido, nas palavras do Barão Vladimir Harkonen "pare com esses ridículos atentados contra a minha pessoa", pois ele realmente tem planos grandiosos para o sobrinho. Aliás, o Barão nunca esperou que Rabban prosperasse em Arrakis, seu plano era que fosse um tirano brutal e incompetente, e depois Feyd tomaria seu lugar com uma governança muito mais benevolente. Feyd nos livros poderia até ser um psicopata, mas um elegante, bonito, cativante, que fascina as mulheres inclusive.

Se na versão de David Lynch ele é o histriônico mas divertindo Sting, e na versão de John Harrison (a mini série de TV de 2000) ele é mais simpático e diplomático, aqui temos uma Feyd mais soturno, assustador e efetivamente psicopata nas palavras das próprias Bene Gesserit. E a questão é... ELE DEVIA JÁ TER APARECIDO NA PARTE 1! Aquela sequência inteira deveria ter sido no primeiro filme! Feyd merecia muito mais desenvolvimento, mesmo nos livros!

Já que resolveram inventar, e decidiram aplicar o teste da caixa nele, o que eu mais queria é que Feyd fizesse o que Paul bem poderia ter feito: tirar a mão da caixa ao mesmo tempo de que rebatia a mão da Bene Gesserit que segurava o Gom Jabbar (a lâmina envenenada), e já que no caso de Feyd não era a Reverenda Madre, poderia até tê-la matado! Provavelmente Paul não teria conseguido, pois além de na época mais jovem e inexperiente, a Reverenda Madre era muito mais poderosa, e as Bene Gesserit, apesar de sempre femininas, são altamente treinadas em combate também. Mas do modo como a nova versão se encaminhou, poderia tê-lo feito!

É nos Harkonen também que temos o pior da saga, mesmo no livro, e muito mais nos filmes. Um maniqueísmo infantil, repleto de clichês "malvadões" do tipo sair matando os próprios subalternos ante o mínimo deslize, ou pior, sinal de bom senso. No mundo real, uma elite assim não duraria muito tempo em grandes cargos de poder. Tragicamente, isso é tão massificado na Cultura Pop que consegue fazer uma horda de panacas jurarem que coisas assim acontecem no mundo real nos desafetos políticos dos EUA por exemplo.

Por outro lado, Villeneuve atenuou a correlação dos Harkonnens com os russos, pois agora não dá mais pra considerá-los ruivos, e outros elementos visuais foram omitidos. O que não impede de haver imbecis por aí chamando essa família feudal metalista de "comunista".

E o Barão VLADIMIR Putin Harkonnen, no livro, além de implicar em "gordofobia", também implica em "homofobia", visto ser um nítido pederasta tarado. Vulnerabilidade que é usada inclusive por Feyd ao tentar infiltrar assassinos entre seus "amantes".

E não dou a mínima para a eliminação de sua homossexualidade. Por mim retirariam até mesmo a obesidade mórbida. Afinal, estamos falando de um mundo com recursos medicinais e genéticos formidáveis.

Saindo disso, eu havia dito no texto anterior que invés de mudar sexo de personagens (Liet Kynes) poderiam simplesmente explorar melhor personagens femininas já existentes na série. E a que mais sempre se destacou em minha mente foi a Princesa Irulan. Portanto, parabéns, deram a ela um desenvolvimento melhor, que aliás no livro, é fraquíssimo. Até o filme de David Lynch lhe dá mais destaque. Mas... transformá-la numa Benne Gesserit plena não fez o menor sentido! Muito melhor seria se ela ainda estivesse no poder político e não no religioso! Visto que a essência do método das Bene Gesserit reside na discrição!

Elas são o poder feminino em sua expressão maior, usam tanto a beleza e a sexualidade como arma, como a astúcia manipuladora, controlando os homens sutilmente, fazendo da máxima "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher" algo ainda mais radical, pois na verdade estão acima manipulando-os como marionetes. No livro é dito que enquanto esposas dos grandes líderes, elas podem sussurrar nos ouvidos deles, enquanto dormem, instruções que são executadas inconscientemente.

Na verdade, no original é dito que Irulan é sim treinada em alguns técnicas prana-bindu, das Bene Gesserit, como o foi sua mãe. Mas isso jamais é enfatizado, e na verdade ela é até mesmo vista como... "burra", num sentido interpessoal, e tratada até mesmo com “pena” pelos outros personagens e pelo narrador em si. Sou 100% favorável a mudar isso, mas colocar uma Bene Gesserit plena no papel de filha do imperador destoa da tripartição de poder no universo. Irulan deveria receber uma nova dimensão política! Aliás, seria ela que merecia assumir o papel que, desastrosamente, tentaram empurrar para Chani, o que nos leva à pataquada pessimamente sucedida que promoveram, e que provavelmente será ainda mais catastrófica no terceiro filme: a CHANI FEMINISTA!

Pela Biblia Católica Laranja! Esse pessoal realmente leva o Feminismo Intersexoanal Interseccional à sério! Acham mesmo que sociedades tradicionais, quer sejam indígenas na Amazônia, Tuaregs do Deserto ou Beduínos nômades seriam algo minimamente compatível com "Igualdade de Gêneros". A nova Chani Zendaya chega ao ponto de dizer que entre os Fremem homens e mulheres são iguais, mesmo com o filme mostrando o tempo todo o contrário!

Totalmente apartada da personagem original no livro, Chani encabeça a recém inventada ala dos Fremem laicos que entendem a religião como manipulação dos estrangeiros, o que é acentuado inclusive na figura da Bene Gesserit Lady Jessica, e sua maquiavélica manipulação das massas. Foi estabelecida até uma interessante divisão entre os Fremen do Norte e os do Sul, muito mais fundamentalistas religiosos, vivendo numa "região inabitável", nas palavras dos próprios Harkonnen onde "nada sobrevive sem fé" nas palavras da própria Irulan.

Só que essa "lacrada" terminou engolida pela própria essência da obra, que apregoa justo que mil e uma manipulações humanas de milhares de anos engendradas pelas melhores mentes acabam caindo diante de forças além da humanidade! Como é explicitamente dito no livro ao explicar como é possível que as Bene Gesserit tenham perdido o controle.

Sim, uma mensagem fulcral em Duna é que não importa o quanto os humanos tentem manipular, ou mesmo criar, o divino! O controle sempre lhe escapará e serão açoitados por forças além de sua capacidade. Isso faz com o que o Feminismo de Chani termine derrotado, mesmo com direito a cenas onde É ELA, onde antes era Paul, que aparece numa visão com direito a sequência de luta que chegou a ser parodiada como se fosse Power Rangers. E nada mais apropriado que ela, única a não se ajoelhar quando Paul termina se tornando imperador, que decida fugir sozinha para o deserto, para uma vida estéril em todos os sentidos, enquanto Paul irá se casar com Irulan e certamente engendrar descendentes.

Só nesta versão aqui, claro, pois nos livros Chani é a mãe dos filhos de Paul, incluindo Leto II que será o Imperador-Deus. Mas sendo a essência do Feminismo a negação essencial da Feminilidade, e consequentemente da reprodução, uma Chani feminista jamais poderia ser mãe! Tem mais é que ser empoderada num sentido inverso ao da essência verdadeiramente Femista da obra, dando inclusive tapa na cara do protagonista. Por isso esse papel caberia muito melhor a Irulan, que nos livros de fato nunca se reproduziu, vivendo um casamento de fachada. E sendo ela da nobreza exterior, seria a figura perfeita para encarnar o papel da Feminista que viria trazer o "progresso" a Duna e libertar as mulheres da opressão da Religião e do Patriarcado.

Mas não! Os antas tinham que empurrar isso em Chani, o que só não foi pior porque, sabe-se lá como, parece ter dado tudo errado, me deixando a mesma sensação de Mad Max Fury Road, o pretenso filme feminista, também ambientado num deserto, que funcionou ao contrário! E mais uma convergência, parece que teremos Anya-Taylor Joy no papel de Alia, assim como teremos no papel principal do vindouro Imperator Furiosa, o inevitável próximo grande flop feminista do cinema. (Não me culpem! Eu pretendo ir ver no cinema, assim como fui ver as Marvels e ao menos tentei ver Madame Teia.)

Aliás, Alia... Raios! Porque ele não nasceu. Em todas as versões prévias, quando a batalha final chega, Alia já está com 5 ou 6 anos, e aqui, fizeram toda a estória correr em uns 6 meses, antes dela nascer!

Querem colocar mais protagonismo feminino, e cortam justo a Alia! Que com 6 anos já uma das mais poderosas Bene Gesserits, com memória genética, domínio da voz e do Gom Jabbar, sendo inclusive ela que mata o Barão Harkonnen?!

E que raios irão aprontar com ela no próximo filme?

Bem, eu mão me importaria se o arco dela fosse diferente. Sempre achei muito triste o jeito como ela se degenerou no terceiro Livro. Mas não me esqueço que este segundo filme terminou com um close interminável na rosto de Zendaya entregando que pelo jeito o protagonismo vai pra ela! Numa corrupção absoluta do material original.

Pelo jeito estão tentando, mais uma vez, entregar gata por lebre atraindo os espectadores aos cinemas com uma promessa de uma saga mais tradicional, para entregar tudo desconstruído. Ainda não conseguiram desta vez. O Feminismo está lá, mas até meio que bem comportado.

Mas o que será do futuro? Considerando a rima narrativa os dois filmes se encerram com uma briga de faca, será que teremos o mesmo mas, desta vez, com Chani e Alia?

Chega, já são quase 12 mil caracteres, e deixo como recomendação, para aqueles que não conseguem ler livros, que ao menos assistam a série televisa de 2000, que é a mais fiel. Pois a versão de David Lynch de 1984, embora mais fiel que a atual, ainda assim inventou demais.

Fechando esse texto, desta vez, com mais um elogio, é preciso celebrar a dimensão mítica que se deu ao elemento crucial da saga, e contrariando temores anteriores, ao peso da simbologia religiosa. É impossível não ver a clareza da metáfora islâmica!

Muitos tem criticado a ideia de um “europeu” cair dos céus para liderar um povo autóctone oprimido, mas isso é estrutura mítica clássica quase onipresente. E não serve, de modo algum, como corroboração de qualquer imperialismo da realidade, pois uma versão Duna no nosso mundo exigiria um Norte Americano que fosse para o Oriente-Médio, realmente se convertesse ao Islã, usurparia o controle do petróleo dos EUA, colocaria a Casa Branca de joelhos, humilharia os plutocratas, fundaria o Estado Palestino e daria fim a hegemonia ocidental.

Tem algum candidato a isso lá? Eu autorizo!

12 de Março

Em 2002 M. Night Shyamalan lançou seu 3° blockbuster (embora 5° filme), que arrecadando mais de U$ 400 milhões, até hoje em termos de bilheteria só perde para o O Sexto Sentido, sucesso "inaugural" que marcou para sempre o diretor.

Embora agrade a maior parte do público e da crítica, com aprovação que fica por volta de 2/3 a 4/5 dos avaliadores, uma aparente falha conceitual bem específica apontada por simplesmente TODOS, independente do quanto tenham apreciado a obra, com certeza foi o maior obstáculo a uma avaliação ainda maior.

"Como raios uma espécie inteligente extraterrestre vulnerável a simples água vem invadir um planeta repleto dela, e ainda por cima, sem roupas?!"

Eu próprio, que sempre fui um grande apreciador do filme, não pude escapar dessa questão, e reconhecendo essa deficiência estrutural, ainda assim preferi focar em outros aspectos, valorizando mais o simbolismo apontado.

Mas eu, e todo mundo, estávamos errados. Pelo simples fato de ignorarmos, ou não atentarmos o suficiente, para a essência do filme, que está ostentada no título, por sinal, um forte candidato ao título mais perfeito já dado a um filme. Ocorre que os invasores em questão Não São ETS! SÃO DEMÔNIOS! E que a água que feriu a criatura na sequência final era ÁGUA BENTA!

Pode parecer chocante a princípio, mas uma vez que se presta real atenção aos "sinais", na verdade fica até óbvio! Eu já havia visto o filme várias vezes, tenho o DVD até hoje, mas somente após isso me ter sido apontado, decidi rever ontem e confirmei. Sim, aquelas criaturas não são aliens, trata-se de uma invasão de demônios, e as luzes que aparecem nos céus também não são OVNIs, SÃO ANJOS!

Agora procedo minha demonstração, um pouco diferente da maioria das que vi por aí, e não são poucas. E sinceramente, tal demonstração soa quase "matemática"! E ainda que o próprio Shyamalan, aparentemente, não tenha se manifestado sobre essa “teoria de fãs”, ele próprio aventa que seus filmes são abertos a múltiplas interpretações, e dá lugar a que pensemos que, se não foi intencional, então ele agiu de forma inconsciente no sentido de deixar o filme assim.

Em 1° lugar, é preciso entender que não foi a primeira vez que Shyamalan enganou a plateia. The Sixth Sense (1999) foi um sucesso tão estrondoso que ofuscou não só seus filmes subsequentes mas até mesmo o fato de que ele já tinha feito dois filmes anteriores, e o marcou com um cineasta dos plot twists e finais surpreendentemente arrebatadores. E lá ele já havia executado a técnica de causar distrações deliberadas no espectador para distraí-lo dos indícios que levariam à reviravolta final, para então derrubar todo mundo da cadeira nos minutos finais. (Só posso lamentar pelos infelizes se deram conta do fato logo no começo.)

O que de fato acontece em 'Sinais', é que diferente do primeiro caso, aqui Shyamalan não revelou abertamente o real significado, deixando por conta do público que demorou anos para compreendê-lo. Seria como se em O Sexto Sentido ele tivesse encerrado o filme sem a revelação final, o que já teria sido altamente satisfatório! E então deixasse que os espectadores se virassem para descortinar o mistério final da obra.

Temos então, a mesma coisa: uma narrativa que ao mesmo tempo deixa indícios claros do real significado (por sinal, em inglês 'signs' é ainda mais rico e multi significativo que 'sinais' em português), mas ao mesmo tempo acrescenta várias distrações que impedem a maioria de percebê-lo. E só peca, talvez, na dosagem, visto que a maioria, eu incluso, deixou que algumas dessas distrações dessem a impressão de uma falha na premissa do filme.

Mas tal falha não há. Os invasores não são ETs vulneráveis a água, mas demônios que só puderam ser "exorcizados" por métodos tradicionais. Ao final do filme, o rádio informa que no Oriente Médio foi descoberto um método "ancestral" para derrotá-los, e na sequência final, o demônio é derrotado não apenas por Água Benta, mas sobretudo pela redescoberta da fé.

Para falarmos nas distrações que impedem que isso seja óbvio, primeiro vamos considerar que é comum que o autor inclua em sua narrativa alguns personagens, em situações especiais, que efetivamente revelam a verdade de sua premissa, enquanto outras servem efetivamente para ocultá-la. Afora as que apenas ambientam melhor a trama.

O principal protagonista é o fazendeiro e ex-pastor anglicano Graham, interpretado maravilhosamente por Mel Gibson (que como sabemos, é um cristão fervoroso). Ele vive ainda o luto da perda de sua esposa num trágico acidente de carro ocorrido seis meses antes, e a tragédia o fez perder sua fé e se revoltar contra a religião em si, o tornando um tanto errático. Por isso, ele irá tanto revelar acertadamente aspectos cruciais da trama, quando também irá ocultá-la, pois sua inconstância em perceber os sinais é justamente o tema principal. Seu irmão Merrill (Joaquim Phoenix), embora mais centrado do que ele, não tem a sensibilidade necessária, e por isso suas percepções são praticamente todas equivocadas.

Mas quem mais cumpre o papel revelador do filme é Morgan, o menino, filho mais velho de Graham. (Vamos deixar Bo, a irmãzinha, para o Gran Finale.) A primeira frase dita por ele, se levada literalmente a sério, nada menos que revela o fato de que os sinais nas plantações foram feitos por Deus! E apesar do filme brincar com a temática dos "círculos" nas plantações cujas explicações são monopolizadas pelos ufólogos, um olhar mais cuidadoso nos símbolos em si revela que eles são muito parecidos com a Escrita Angélica, ou Alfabeto Celestial criado por Cornellius Agrippa no Século XVI, que baseado no hebraico, reivindicava literalmente ser baseada em sinais enviados por Deus por meio dos anjos. A única diferença é que nesta versão, para não ficar óbvio demais, os círculos são maiores e os símbolos aparecem sobrepostos.

A isso se soma o fato de que em momento algum no filme se vê qualquer nave espacial, disco voador ou qualquer resquício de tecnologia alienígena. O que vemos são apenas luzes, que curiosamente se concentram em cidades onde a religiosidade costuma ser maior, como México ou Cairo. E mais: assim que são vistas pela TV, naquilo que o próprio diretor considera o núcleo do filme, Graham engata um discurso sobre as pessoas de fé, que veem aquelas luzes literalmente como sinais divinos, no entanto, como ainda está "brigado" com a fé devido a ter sido feito viúvo, termina declarando que ele próprio se tornara alguém que acredita no acaso.

Porém, além desses elementos que revelam a premissa real, temos também os distratores. O dono da loja que diz que tudo não passa de uma campanha de marketing para vender refrigerantes por exemplo, loja na qual Morgan adquire um livro de ufologia que irá inspirá-lo, mas na maior parte do tempo, confundi-lo. Ou o próprio Merrill, que num momento conta que viu na TV a cena de um pássaro se chocando com uma barreira invisível, insistindo se tratar de naves espaciais ocultadas por um escudo. Porém, isso em momento algum é mostrado, apenas relatado, e parece ser mais um resultado do modo confuso com que tanto a mídia quanto Merrill tem percebido os fenômenos.

Também a TV e o Rádio em geral tanto informam quanto desinformam, gerando um certo caos, mas no geral, à medida que o filme avança, vão dando informações cada vez mais acertadas, em especial após os invasores começarem a ser derrotados. Num momento, o rádio informa que eles não vieram atrás do planeta, como o próprio livro que Morgan comprou dizia, mas sim atrás das pessoas. Tal qual os demônios, do ponto de vista teológico e mitológico, jamais se interessaram pelos bens materiais ou recursos naturais, mas tão somente pelas "almas".

Ademais, absolutamente nenhuma arma de destruição impressionante é apresentada. As cidades não são devastadas, aliás, não sofrem dano algum! Não! A única arma mencionada é um gás venenoso que os supostos ETs expelem em pequena quantidade e curtíssima distância em suas vítimas, como vemos na sequência final, sendo soprado diretamente no rosto de Morgan.

Mas se refletirmos com cuidado, é exatamente assim que o ato de tirar a alma, ou o sopro de vida, de suas vítimas é retratado nos mitos demônicos. O 'espírito' é exatamente um sopro, algo que se inspira, ou se suga, para ser levado. E a asma de Morgan cumpre não apenas o papel de, no momento, impedir que ele respirasse o veneno, mas também, enquanto uma doença respiratória, está simbolicamente associada a noções antigas de ataques demoníacos. A Morte súbita, especialmente em crianças, por exemplo, era vista exatamente como uma ação sobrenatural que puxava a alma, e portanto, o sopro da vida.

E aquela família estava sob ataque exatamente por que Graham vivia uma crise de fé, e todo o filme é, afinal, sua luta para se reconciliar com o divino. Os eventos vão afligindo aquela família progressivamente, mais e mais terríveis, até o momento crucial onde Graham diz a Deus que o odeia. Um fato curioso, considerando que no momento em que faz isso, ele sai da descrença, sendo o seu primeiro passo para redenção.

A partir daí as coisas começam imediatamente a melhorar, até que o demônio reaparece subitamente para o confronto final. Mas é aí que ao relembrar os sinais dados pela sua esposa, na hora da morte, que ele finalmente se dá conta que aquilo não pode ser coincidência, e a frase que anteriormente parecia totalmente desprovida de sentido "swing away Merrill" (bater com força usando um bastão) de repente se revela no momento em que todos estão paralisados ante a criatura que toma Morgan nos braços não somente para matá-lo, mas sobretudo, para aplicar o teste final na fé de Graham.

Só então Merrill, que era um recordista de tacadas de Baseball, pega o taco que está ao seu lado na parede e, vencendo o medo, parte para o ataque contra o demônio, ocasião na qual finalmente, os copos d'água espalhados em toda parte por Bo, e menininha, se revelam a arma definitiva: água benta.

Mas antes, mais uma distração. Ray Reddy, o veterinário interpretado pelo próprio Shyamalan, que acidentalmente atropelou e matou a esposa de Graham, diz que fugirá para perto do lago, porque aparentemente os "aliens" não parecem gostar dele. Até hoje isso é tomado como prova contrária à interpretação de que não foi água comum, e sim abençoada, que feriu o demônio. Ocorre que Ray, tal qual a maioria dos personagens do filme, está confuso e assustado, e embora diga isso, essa informaçã em momento algum é confirmada. E mesmo que fosse, não seria incompatível com essa interpretação da obra, pois os demônios poderiam apenas estar se precavendo contra a possibilidade de que alguém benzesse a água do lago.

Mas na realidade é Morgan que mais uma vez refuta essa afirmação, no momento em que seu pai sugere que façam a mesma coisa, o menino, totalmente assertivo, se levanta e se impõe, estando certo de que isso seria um erro. Note que Morgan está sempre hesitante quando fala de ETs no livro que lia, chegando até a levar a sério a famosa ideia do chapéu de alumínio, cena imortalizada em memes. Mas quando ele pensa, e age por si próprio, ele acerta.

(Obs: O IMBECIL do Facebook CENSUROU essa imagem!)

Vemos isso logo no começo, quando o cão da família é basicamente possuído e ataca Bo, obrigando Morgan a agir e abater o animal. Morgan é, na realidade, O SÁBIO da família! É ele que sabe o que está acontecendo. O tio dele termina sendo o Guardião que efetivamente combate a criatura, mas apenas porque é graças ao conhecimento dado por Morgan que Graham enfim compreendeu os sinais e efetivamente assumiu a liderança.

E por fim, e o mais importante, o que é graciosa menininha, Bo?

BO É O ANJO!

Isso é explicitamente dito quando, ante ao que parecia o desespero final, e sem saber o que fazer, Graham decide revelar a ela, e ao espectador, o seu nascimento milagroso. A bebê que não só não chorou, mas sorriu para o pai ao nascer, deixando os médicos perplexos.

Ela possui o estranhíssimo hábito de "batizar" a água, pegando um copo, bebendo um único gole, e deixando-o em algum lugar aleatório para em seguida, dando alguma desculpa esdrúxula, pegar outro, espalhado copos de água abençoada pela casa inteira! Um momento interessante é quando Morgan se mostra o único a saber lidar com isso. Ele explica à incauta senhora da loja que nada há de errado com a água que ela deu a Bo, que as rejeita, mas nunca as joga fora. Mas ao mesmo tempo ele lida com esse hábito com perfeita naturalidade.

Mesmo na tradição católica, benzer a água não é uma possibilidade exclusiva do clero, um leigo pode fazê-lo, em especial sob orientação de um clérigo, e Bo nasceu e cresceu num casa religiosa, com um pai padre, que mesmo após perder a esposa e a fé, não removeu essa fé de sua família, como fica totalmente evidente em várias ocasiões.

Juntando todos esses sinais, o que temos não é, de forma alguma, uma tentativa desastrada e irracional de invasão extraterrestre. Sequer um alien estúpido que agiu apenas por vingança e ficou segurando um menino desmaiado invés de matá-lo logo. É uma invasão de demônios, que no entanto é imediatamente confrontada por uma intervenção celestial. Tal intervenção, porém, se dá de forma sutil, talvez obedecendo ao critério de que o afastamento humano voluntário do divino lhe impede uma intervenção mais direta. Mas como o próprio Graham revela em seu discurso, são os claros sinais de que alguém "lá em cima" está zelando pela humanidade, dizendo-lhe o que fazer, para o que ela só precise, nas palavras da falecida esposa de Graham: "Ver!"

Por fim, há um outro distrator muito mais profundo e onipresente que, felizmente ou não, o torna mais ambíguo: o fato de que os demônios estão completamente nus. Pois lamentavelmente, os mitos ufológicos modernos também sacramentaram a imagem do ET nu, em geral o Grey ou o reptiliano, visto que tais mitos não passam de versões modernas dos mitos tradicionais.

Mesmo assim, há uma crucial diferença entre os demônios aqui, e os tradicionais aliens da cultura ufológica popular, que podemos ver desde o longínquo Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), passando por séries dos 90 como Arquivo-X, Roswell ou Dark Skies, até filmes mais recentes como o homônimo Dark Skies (2013), que nada tem a ver com a série, Proximity (2020) ou o recente Ninguém Vai Te Salvar (2023), que é insistentemente comparado com Sinais. O fato é que os tradicionais ETS Greys que todos retratam, embora nus, são inexpressivos, tendo rosto com típicos olhos enormes e vazios, e em geral sequer movem a boca.

Por outro lado, os poucos demônios que vemos em Sinais tem uma expressão maligna, feroz e muito expressiva, e nossas retratações tradicionais de demônios sempre os viram assim! Claro que sofremos mais ruídos causado tanto pelas variações sobre o mesmo tema que a ufologia foi submetida, quanto os próprios mitos demônicos, inclusive na sua versão ufológica, gerando uma área cinzenta. Cinza, por sinal, que não é a cor dos demônios de Signs.

Essa confusão, por outro lado, elimina a força de possíveis contra provas, como por exemplo o uso de um receptor de rádio para captar a comunicação dos supostos ETs. Qualquer um familiarizado com o conceito parapsicológico de Transcomunicação Instrumental sabe que também há alegações de comunicação com demônios, espíritos e mesmo fantasmas dos mortos por meio de dispositivos de rádio comum.

Ou o fato de que os mitos de demônios mais populares atualmente são de entidades imateriais. Mas isso apenas porque os ETs tomaram o imaginário popular no que se refere a alegadas manifestações materiais não humanas. O fato é que temos um pano de fundo enormemente complexo de referências e símbolos que se confundem, o que permite a Sinais não apenas se inspirar nessa confusão, mas até mesmo utilizá-la como elementos de distração. E que, provavelmente, pode ter confundido o próprio Shyamalan.

Ainda, um outro aspecto interessantíssimo é a música, de James Newton Howard. A hipnotizante melodia principal, na maioria de suas variações, remete a temas que estão consagrados no imaginário popular como sendo ufológicos. A principal característica é a ocorrência de dissonâncias de sexta diminutas, como por exemplo, Dó, (Mi ou Mi bemol) Sol e Sol bemol. Essa dissonância, cuja representação é uma das deficiências do método de cifras, especialmente quando na forma de arpejo, produz uma sonoridade... “misteriosa”, e ao mesmo tempo grandiosa, “abissal”.

No entanto, as notas iniciais da abertura de Sinais são daquele famosíssimo intervalo de seis semitons, o dissonantíssimo Trítono, apelidado, há séculos, literalmente de “O Som do Diabo!” Que não! Nunca foi proibido pela Igreja Católica coisíssima nenhuma! Dizer que alguém que o tocasse numa igreja enfrentaria um processo inquisitorial é pura bobagem repetida à exaustão sem qualquer simulacro de evidência. Mas que sua sonoridade é esquisita e evitada a qualquer custo, é fato. Ou, no caso de bandas de Black Metal e filmes de terror, buscada.

Daí, variações de dissonâncias que remetem ao supracitado som “ufológico” se alternam com a do som “diabólico”, e portanto, até na formidável música, essa ambiguidade está presente.

Mais de 22 dois anos depois de seu lançamento, é incrível como o terceiro blockbuster de Shyamalan permanece atual, e essa nova leitura permite revisitá-lo de forma completamente diferente. Tal qual o filme, essa interpretação não é perfeita, mas não há uma única fraqueza nela que não seja claramente pior na interpretação convencional de que tenhamos uma atrapalhada invasão extraterrestre.

Por fim, não me parece um filme necessariamente religioso no sentido estrito, visto que ele próprio sugere que experiências similares à daquela família foram vivenciada em várias partes do mundo. Mas certamente é, se não espiritualista, ao menos de fortíssima carga simbólica, remetendo uma profunda busca por significado existencial.

Seguramente, o mais importante sentido do título SIGNS.

10 de Março

uma semana atrás falei que diria algo sobre isso, mas talvez nem o fizesse se o Anderson Oliveira não tivesse jogado essa imagem na minha cara, portanto, lá vou.

PLANETA DOS MACACOS (1968) é um daqueles clássicos da Ficção Científica que embora suscite reflexões interessantes, não faz jus ao gênero nem tanto pela total implausibilidade física, mas sobretudo por não ter pé nem cabeça em todos os aspectos relevantes, só podendo impressionar contando com a absoluta ignorância do espectador sobre tudo o que importe.

Isso não impediu de ser um sucesso de crítica e público, engendrando 4 sequências diretas (vi todos, e fiz um brevíssimo comentário sobre o segundo), duas séries de TV, uma animada, uma refilmagem de 2001 por Tim Burton, tão ou mais sem sentido, e por fim um reboot de 2011 que já vai para 4 longas. Isso sem contar documentários, quadrinhos e livros. (O filme original é vagamente baseado num livro de 1963, de Pierre Boulle.)*

De certa forma, é como se a força do Non Sense do primeiro filme fosse o que há de mais canônico, como explico em minha crítica à versão de Tim Burton. E até dei uma chance ao reboot com James Franco, mas ficou difícil de levar a sério quando vemos um cientista fazendo experiências controladas com uma chipanzé em um rico laboratório, de repente ser pego totalmente de surpresa com o fato dela estar grávida! É sério! Ao ponto de estar ministrando uma série de drogas experimentais, SEM LEVAR EM CONTA as alterações hormonais!

Mas voltando ao clássico com Charlton Heston, começamos em uma daqueles naves especiais de concepção infantil como de praxe, viajando para o futuro numa missão evidentemente sem volta cuja experiência de dilatação temporal que performava jamais poderia ter seus resultados conhecidos pelos seus planejadores que ficaram no passado. E fazendo um log, temos o astronauta fumando o maior charutão, num tempo que tinha gente que parecia realmente achar ser uma boa ideia aumentar o risco de uma tragédia em mil por cento para sustentar um mau hábito.

Como rumavam ao desconhecido, o único destino plausível da tripulação seria estabelecer uma nova colônia humana em algum lugar, mas levam 3 homens e uma única mulher, que convenientemente morre durante o mesmo hipersono que permitiu aos homens que a barba crescesse.

Então, DOIS MIL ANOS DEPOIS de partirem, veja só, a nave CAI em um planeta! Sim, porque nessa já tradicional seara da Space Opera, uma nave pode estar "voando" no espaço, e de repente... cai num planeta assim como um avião cai na terra ou um um navio naufraga no mar. E esse planeta é considerado desconhecido apesar de ter a mesmíssima gravidade, composição atmosférica, temperatura, pressão, litosfera e ciclos de dia e noite da nossa querida Terra, sacramentando em definitivo um clichê absolutamente tosco mas até hoje exaustivamente explorado na FC. Não bastasse isso, ainda encontram humanos, completamente iguais a eles próprios apenas com o diferencial de não falarem.

Meu Deus! Em que planeta será que eles estão?!

Então, num milharal idêntico aos terrestres, finalmente encontram os temíveis macacos humanoides, montando cavalos também idênticos aos que temos na Terra, e que, por acaso, falam não apenas inglês, como O MESMÍSSIMO INGLÊS norte americano destes astronautas sem que sequer haja diferenças de vocabulário.

CÉUS! Que planeta misterioso será esse?!

Dois dos astronautas são mortos, ou coisa que o valha, e só resta George, o personagem de Charlton Heston, que por pura conveniência, tem sua garganta ferida passando boa parte do tempo incapaz de falar igualzinho os demais humanos semi inteligentes, que no entanto usam roupas.

Daí temos a trama, as intrigas, a paródia com a crítica a Evolução Biológica por meio do fundamentalismo religioso, e uma série de elementos que não convém abordar aqui.

O fato é que com todos esses fatos escancarados, ainda assim, Deusas! Ainda assim eles acham surpreendente que, ao final de tudo, ora veja só, o personagem descubra, chocado, que está no seu mesmíssimo planeta Terra?! É sério!?

E o conclui porque, por acaso, se depara com a estátua da Lady Columbia semi enterrada, mas, DOIS MIL ANOS DEPOIS exposta aos elementos sem manutenção, só não está mais intacta do que o inglês norte americano falado pelos macacos.

Esse é o grande Plot Twist, a chocante revelação considerada uma das maiores surpresas da história do cinema!

Mas sejamos justos, o filme respira um "Espírito de Época" que afetava não apenas a Ficção Científica e o Senso Comum, mas de certa forma, afetava até mesmo o senso "científico" que dominara os séculos anteriores, após meio milênio de "Grandes Navegações" que foram descortinando os confins do mundo achando humanos em toda parte.

Daí, num incrível salto imaginativo, pensava-se que após conhecer 0 , 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1‰ do Universo, o espaço era o pedacinho que faltava, a Fronteira Final, que certamente também estava recheado de humanos não importa a distância interplanetária, interestelar ou intergalática. Não só isso, falamos de humanos norte-americanos, que falarão inglês e viverão de forma muito parecida num planeta igual à Terra mesmo que se viaje milhares de anos-luz para um sistema estelar sem qualquer tipo de ligação imaginável com o nosso.

Planeta dos Macacos apenas não é capaz de ir além dessa mesma infantilidade conceitual, que permanece até hoje, apenas minorada (Abordo um bocado desse "antropomorfismo" extraterrestre neste vídeo. A Queda da Lua, Halo e Star Trek), e que se propõe a fazer um libelo pró-evolucionista mas não tem a menor noção de como a evolução biológica, ou mesmo as mais básicas noções de natureza, funcionam.

Mas o que mais choca é a incrível babação de ovo que praticamente todo crítico faz até hoje sobre o filme pelo simples fato de ser antigo. É como se o rótulo de "clássico" automaticamente anulasse todos os evidentes problemas que, se presentes num filme recente, tenderiam a ser muitíssimo mais percebidos e apontados exceto quando os produtores subornam a crítica mainstream.

Sem desmerecer virtudes estéticas e narrativas adjacentes, a ótima cenografia, figurino, trilha sonora etc, em sua concepção científica e mesmo filosófica, o filme é de uma imbecilidade simiesca não só hoje, mas desde sempre! E suas sequências não são muito melhores.

Isso não o torna ruim. Até pelo contrário. É um filme divertido e frequentemente eletrizante, mas desde que o espectador reduza seu senso crítico, especialmente no quesito científico, ao nível de um chimpanzé.

*Adendo: é possível ver neste verbete que o livro original, de 1963, embora conserve a essência, é bastante diferente das adaptações cinematográficas tanto em termos narrativos quanto numa consistência muitíssimo maior. Pra começar, sem o clichê de "cair" num planeta e muito menos o de todos falarem inglês. O plot twist final mais lembra o da versão de Tin Burton, e, de um modo geral, muito mais plausível.

3 de Março

Não, ainda NÃO VI o SPACEMAN que está na Netflix, mas não é a primeiro vez que comento algo sobre um filme que ainda não vi porque aqui o foco está justamente em coisas subjacentes a um contexto geral. (Por exemplo, minha crítica a Mulan (2020) não precisou sequer ver o filme porque a questão que abordei já era evidente nos trailers.) O fato é que o trailer, e o mínimo que se houve falar ao passar os olhos nos títulos do artigos sobre essa nova produção com Adam Sandler (por sinal vê-lo num papel não-comédia é um interesse por si), é se tratar de um filme sério, profundo, fora do escopo da ação e terror, e com um evidente foco no realismo, longe das absurdas naves espaciais mágicas e demais bobagens que infestam a Ficção Científica.

Mas, se é assim... como raios uma entidade alienígena com formato de aranha gigante foi parar dentro de uma nave espacial? E assim, juntando A com B, mais C, que é a ideia de se tratar de uma espécie de estória introspectiva, o resultado é óbvio! A tal aranha não é fisicamente real! Só poderia ser um delírio do personagem, ou a manifestação ilusória de uma inteligência extraterrestre, um sonho, ou algo que o valha. E como sequer vi o, nem ouvi falar sobre o final do, filme não posso ser acusado de Spoiler.

Se não for uma dessas coisas, quero muito ver que raio de explicação teriam para justificar que um ser inteligente, e pelo visto muito sensível e benevolente, iria ter a forma de um animal terrestre sem nenhum recurso do tipo necessário para o desenvolvimento de cultura e inteligência avançada, e que ainda por cima entra sabe-se lá como, sem qualquer tipo de roupa ou equipamento, numa nave espacial de uma espécie inteligente cujos indivíduos sequer precisam ter aracnofobia para ficarem aterrorizados com sua aparência.

Aí fica a questão: não estão querendo fazer um suspense com isso, estão? Seria uma tolice narrativa. E já vi algo assim ocorrer mais de uma vez. Por exemplo, eu descobri, vendo apenas o trailer, qual seria a "grande surpresa" ao final de Shutter Island (2010, no Brasil "Ilha do Medo") com Leonardo di Caprio.

Porém, é forçoso admitir que parte do público foi praticamente treinada para não se importar, ou até levar a sério, certos exaustivos clichês da FC: ETs inteligentes que evoluíram em planetas distantes e desconectados, mas são praticamente idênticos a nós; ou quando muito diferentes, nunca usam roupas nem mesmo em ambientes estranhos e hostis. Quando diferentes mas ainda antropomórficos, por mais distintos que sejam na aparência geral, são perfeitamente capazes de falar exatamente como nós, mesmo com uma anatomia que muda drasticamente o formato dos olhos, nariz e boca, mas nada altera as cordas vocais e todo o aparelho fonador necessário para falar nossas línguas, ou melhor dizendo, inglês. (Para longas reflexões sobre a infantilidade da concepção de extraterrestres, veja minha Live Avatar, Exoantropologia e Avatares)

É como aquelas crenças mágicas que se esquecem que tivemos séculos de desenvolvimento médico e científico, e acham que se um espírito possuir o seu corpo, você terá uma voz diferente como se não fosse sua garganta, pulmões, boca e aparato cerebral que definem sua voz. Isso quando não muda a cor dos olhos! Ou como se não houvesse um cérebro repleto de estruturas neurais com memórias e várias outras funções, que um espírito possessor não parece capaz de acessar embora consiga controlar o corpo completamente.

Assim, muita gente pode realmente achar que faça algum sentido um alienígena inteligente ter o formato de uma aranha, sem nenhum membro com polegar opositor, e que sequer utiliza um traje astronáutico para aparecer de penetra numa nave terrestre. Ademais, existe um motivo neuro evolutivo, além de puramente físico mecânico, para os animais superiores terem poucos membros, devido ao excessivo gasto de processamento de controlar, no caso 8 patas, para uma função que pode perfeitamente ser desempenhada com duas ou na pior das hipóteses, 4.

Mas, como dito, sequer vi o filme, talvez me surpreenda mesmo que meus prognósticos passem longe da verdade. Só não aposto mais nisso devido a péssimos precedentes de obras que se propõem a ser mais inteligentes e profundas, e nos entregam as tolices de sempre. (Um exemplo "doloroso" é o filme Ad Astra.)

Ia até falar algo sobre o festival de tolices trazidos por um dos maiores clássicos da FC, o Planeta dos Macacos (1968), cuja mera tentativa de fazer um final surpreendente já deveria ser constrangedora para qualquer um que pense um pouco sobre o assunto. Mas fica pra outra oportunidade.


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