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31 de Março de 2008
Meu período de descanso durou pouco. Comecei, no início deste mês, o Mestrado na UnB, e ainda por cima estou construindo
casa. Por isso, após um breve adianto nos sites, acabei caindo novamente no ritmo comum.
Devo agora comentar o livro de Richard Dawkins
DEUS - Um Delírio
(PROMOÇÃO IMPERDÍVEL neste link!), do qual passei um tempo evitando pelo simples fato de sempre ter dispensado as opiniões
teológicas de Dawkins, por mais que o admire como cientista e escritor.
No entanto, dou meu braço a torcer. O livro é ótimo! Não na parte teológica, que continua fraca, bem como sua acidentada e
equivocada crítica ao agnosticismo, mas principalmente no
enfoque político e sociológico que ele dá, que é brilhante. A tese principal é o modo como a Religião usa seus privilégios
desiguais para invadir todos os aspectos da vida social, não respeitando nem mesmo o que há de mais privado.
Em nossa civilização, as religiões gozam de uma imunidade que nenhuma outra manifestação cultural tem. Se você sair pela
rua defendendo a escravidão, argumentando em prol da desigualdade entre homens e mulheres ou afirmando que uma criança não
deve receber certo tratamento médico mesmo que esteja à beira da morte, tem ótimas possibilidades de ser preso.
O discurso, pura e simplesmente, não será aceito e ninguém vai respeitar sua opinião realmente.
Mas basta fazê-lo citando versículos da Bíblia, ou na condição de Russelita que não admite transfusão de sangue, e você
poderá invocar o privilégio constitucional que garante o livre exercício de crença religiosa, mesmo que seja às custas
do progresso social e da vida de uma criança! (Já saí do âmbito do livro de Dawkins.)
As religiões tradicionais, no nosso caso, as abraâmicas, podem se dar ao luxo de ser totalmente intolerantes com críticas,
mas não terem obrigação alguma de tolerar o que quer que seja, podendo não só opinar mas mesmo efetivamente controlar
aspectos da vida privada, determinar a educação de crianças, recusar benefícios governamentais enquanto reclamam privilégios,
se recusar a prestar serviço militar ou civil, etc.
Faça um filme anti-comunista, anti-capitalista, anti-nazismo, anti-ciência ou o que for, e o máximo que terá que enfrentar
são críticas públicas. Mas faça um filme que ouse meramente ter um ponto de vista diferente sobre um dogma religioso,
e pode esperar boicotes públicos, manifestações em massa, ações judiciais e quando não violência física.
Isso me faz pensar numa relação muito simples. Quanto mais uma idéia é irracional ou empiricamente frágil, mais ela tem que
ser emocionalmente defendida. Ora, se você negar que 4x3=12, o máximo que irá despertar é o riso, quem declarar não acreditar
atualmente no heliocentrismo, será antes motivo de piedade do que revolta. Isso decorre devido ao fato de que tais
"crenças" são fortemente justificadas racionalmente. Coisa ainda mais radical ocorreria com quem negasse que o fogo queima
ou que a água é vital para nossa vida. Nossa simples e trivial experiência confirma tais crenças tão fortemente que
defendê-las não é necessário.
No entanto, a religiosidade muitas vezes se baseia em crenças que não têm suporte evidencial algum, nem sustentação racional.
Então, como defendê-las? Com as unhas e dentes da passionalidade.
É a fragilidade racional e empírica das crenças em dogmas como imaculada concepção, ressurreição ou milagres, que faz com que
seja necessário defendê-las, por vezes, com rompantes de passionalidade. O medo da confrontação direta com a razão ou a
evidência se soma com o apego afetivo, algumas vezes, os pilares da fé, resultando numa força psicológica determinante.
Por isso o expediente mais comum do apologeta religioso ao ser exposto a críticas a suas crenças é fazer uso de ações
diretas não contra a crítica em si, mas contra quem o critica.
É por isso que no caso de filmes como
A Última Tentação de Cristo,
Stigmata ou
O Corpo,
não houve, ou houve em escala insignificante, qualquer tentativa de resposta direta às situações apontadas, e sim
pura e simplesmente um boicote que em geral nem quis saber o que o filme tinha a dizer.
Ou pior, no caso de
Je Vous Salue, Marie, uma deliberada e escandalosa
censura, fazendo uso do aparelho governamental de um país laico, para proibir vergonhosamente o filme em nossos cinemas
mesmo em 1986, uma era supostamente democrática!
Nossa constituição de 1988 impossibilitou posturas como esta, removendo das religiões, ou mais especificamente neste caso,
do Catolicismo, qualquer poder político oficial. Nesse caso, tal como em outras constituições similares que refletem os
valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, parece que a proteção à
liberdade religiosa, incluindo suas decorrentes imunidades e privilégios, são mais resultado de piedade do que qualquer
outra coisa, visto que sem alguma proteção legal ou cultural, as religiões rapidamente poderiam ser enfraquecidas devido
ao confronto direto com tradições muito mais fortes racional ou empiricamente, como a ciência e a filosofia.
Evitar esse confronto parece ser necessário à sua sobrevivência.
Depois volto a comentar o livro de Dawkins.
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