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29 de Fevereiro de 2024

Apesar da mitologia das súcubos, bem como a de Lilith, já serem bastante disseminadas nas mídias de entretenimento, ainda assim persistem mais como elementos secundários de ambientações fantásticas mais amplas, ou como personagens coadjuvantes. Mas há notória exceção, ainda que também pouco conhecida: a série de TV canadense cujo nada inspirado título é LOST GIRL (2010-2016), durando 5 temporadas que totalizaram 77 episódios de 45 minutos.

A personagem principal, 'Bo Dennis', interpretada por Anna Silk (o nome da atriz é muito mais interessante que o nome da personagem) é explicitamente uma "súcubo", ainda que de uma categoria bastante diferente das retratações mais disseminadas, sendo fisicamente uma mulher comum com algumas peculiaridades e poderes especiais.

Mais interessante é que, se as súcubos desta série nada tem a ver com as sucúbias de As 4 Damas do Apocalipse, curiosamente, elas são bastante parecidas justamente com o conceito de Absórvitas, visto serem basicamente mulheres com a habilidade de sugar a vitalidade humana, podendo facilmente levá-los à morte, e precisando se controlar para fazê-lo de modo seguro. E sua abordagem varia desde uma abordagem quase "oral" onde a vitalidade é sugada diretamente pela boca, tal como se viu em LIFEFORCE, quanto por meio de contatos sexuais. Além de possuíram poderes de persuasão, controle mental e vigor físico sobrenatural, também podendo recuperar-se de ferimentos graves em poucos minutos sugando a vitalidade alheia.

Importante notar, porém, que o autor de As 4 Damas do Apocalipse jamais teve conhecimento da existência desta série até menos de um ano atrás, quando toda a concepção das absórvitas já estava completamente consolidada.

É irresistível comparar Lost Girl a duas outras muito bem sucedidas séries de temática similar: Buffy, a Caça-Vampiros (Buffy, The Vampire Slayer 1997-2003) e sua spinoff Angel (1999-2004), sendo na realidade até mais assemelhada a esta última devido a sua característica mais “policial”.

No caso, temos em plena contemporaneidade um mundo oculto repleto de seres sobrenaturais que, em geral, passa desapercebido pela maioria das pessoas, mas que uma vez desvendado se releva extremamente vasto e complexo, o que torna a ambientação bastante inverossímil. Pois diferente do que ocorre em As 4 Damas do Apocalipse, onde o sobrenatural é radicalmente afastado no mundo normal por se dar no restrito Super Mundo de sociedades secretas raríssimas, ou nos confins isolados da Terra, nestas três séries, e em muitas outras, esse mundo oculto está embrenhado nas próprias grandes cidades, praticamente com uma criatura sobrenatural “a cada esquina”, e infindáveis ações dessas entidades cujos efeitos, embora não as causas, são direta e amplamente percebidos pela população comum.

Analisando apenas os 13 episódios da Primeira Temporada, Lost Girl, criada por Michelle Lovretta, fica bem aquém do “Buffyverso” criado por Joss Whedon, o que chega a ser evidente até mesmo nos efeitos especiais, o que só é minimizado devido a ela ser uma década mais nova e contar com novos recursos. A própria direção e edição dos episódios possuem uma narrativa rápida e bastante simplificada apesar de terminar retratando um universo razoavelmente complexo.

Basicamente, a série concebe os Fae, uma nome genérico para se referir a seres sobrenaturais, baseada numa concepção folclórica europeia mais antiga, que viria posteriormente a evoluir para faerie / fairy (“fadas”). Estes Fae incluem as súcubos, vampiros, lobisomens, gigantes de gelo nórdicos, tritãos, fúrias, duendes, e mais um sem número de criaturas distintas das mais variadas tradições, a maioria em forma humana e versões bem inusitadas. Se dividem entre os Fae das Trevas e os Fae da Luz, embora esse alinhamento não seja tão maniqueísta quanto o nome sugere. E grande parte da trama decorre justamente da recusa da personagem principal em se juntar a uma das duas facções, permanecendo como uma Fae independente.

O autor de As 4 Damas do Apocalipse confessa que se esforçou para terminar ao menos essa primeira temporada antes de escrever sobre a série, visto ser praticamente uma obrigação uma vez que envolve tema tão afinado. Mas ao final, apesar dos percalços que envolvem elementos bastante implausíveis além de uma certa fragilidade na mistura dos elementos dramáticos com os elementos cômicos, a séria acaba conquistando, como é comum, pelo carisma dos personagens, para o qual os atores cumprem papel crucial.

Ajuda bastante a beleza das atrizes, pois além de Anna Silk no papel da súcubo principal, sua companheira, Kenzie, é interpretada pela atriz de origem eslava Ksenia Solo, e apesar de sua personagen ser uma humana comum, os olhos da atriz são de um azul quase “sobrenatural” que custa crer que sejam, e de fato são, naturais! Kenzie é a principal responsável tanto pelo “alívio cômico”, frequentemente exagerado, quanto executa regularmente o papel de donzela em perigo, embora não raro, em rasgos de perspicácia, seja ela quem resolva algumas das tramas episódicas. Mas além de frequentemente a personagem ter comportamentos demasiado irresponsáveis num mundo tão perigoso, talvez fosse visualmente mais interessante se ela, que frequentemente muda a cor do cabelo, passasse mais tempo loira, a fim de causar um contraste com a perpetuamente morena Bo.

Outra personagem regular, Laurie, interpretada pela loira Zoe Palmer, também chama atenção como uma humana médica dos Fae, que tem um interesse em Bo que começa científico, mas se torna romântico. E a maioria dos episódios traz novas beldades ocasionais que não raro se envolvem em cenas um tanto sensuais com não raro lesbianismo.

Mas Bo, sendo bissexual, tem como interesse romântico maior outro dos personagens fixos, o policial lobisomem Dyson, interpretado por Kris Holden-Ried, também um personagem cativante, e do elenco masculino destaca-se também Trick, interpretado pelo ator Rick Howland, que mede apenas 1,37m de estatura, embora não sofra das formas mais comuns de nanismo. Evidentemente, seu papel é de uma criatura mística bastante intrigante, poderosa, mas simpática, sendo o principal aliado dos protagonistas. Por fim, dos seis personagens fixos da série, como se pode ver na imagem, o tritão Hale, interpretado por K.C.Hollins, completa o time como o policial parceiro de Dyson, mas traz um ponto baixo que é o fato de quase não utilizar seu formidável poder e nem sequer explorar sua natureza sobrenatural.

Destaque também para a voz inacreditavelmente máscula, misteriosa e fascinante do ator Clé Bennett, que interpreta Ash, o temido líder dos Fae da Luz. Embora apareça numa minoria de episódios, o simples timbre de sua voz é capaz de criar um imediato clima sobrenatural! Não é, porém, uma voz totalmente natural, pois embora ele possua sim uma voz grave e bem empostada, ele a modula de forma mais exótica para o personagem.

O ótimo elenco, então, é o ponto alto da série, além do mistério da origem da protagonista, que se arrasta ao longo de toda a primeira temporada tendo uma resolução bastante interessante. Infelizmente, a temporada não tem um fechamento, pois apesar do clímax, a trama passa para a segunda temporada como se esta fosse apenas mais um episódio, dificultando uma análise mais fechada.

Por fim, é interessante fazer uma comparação da concepção das súcubos de Lost Girl com as absórvitas de As 4 Damas do Apocalipse, visto que praticamente em nada se assemelham às sucúbias desta além daquilo que já se assemelham às absórvitas. Lembrando que aqui, embora exista uma distinção entre ‘súcubo’ e ‘sucúbia’ em As 4 Damas, usarei ‘súcubos’ para me referir somente às personagens “humanas” de Lost Girl, e ‘sucúbias’ para as demônias de As 4 Damas, bem como ‘absórvitas’ para as humanas desta mesma saga que possuem alguns poderes das sucúbias.

Como já dito, o único ponto em comum com a mitologia das súcubos é que as entidades de Lost Girl (tanto Bo quanto outra súcubo que aparece mais ao final da temporada) também sugam vitalidade, mas até o modo como isso ocorre varia.

- As absórvitas são capazes de sugar vitalidade de muitas formas distintas, desde um simples toque, ou um intenso contato corpóreo, mas a depender do nível de desenvolvimento, mesmo a distância. De início, apenas uns poucos metros, mas à medida que seu poder evolui, podendo alcançar dezenas de metros, e com pessoas em especial, seus consortes e irmãs de rede, podem compartilhar vitalidade mesmo a milhares de quilômetros, embora de forma mútua e interdependente. Ao menos na primeira temporada, nada sugere que as personagens de Lost Girl tenham capacidade semelhante, embora sua capacidade de expanda nas temporadas posteriores;

- As súcubos de Lost Girl, precisam de abordagem muito mais próxima e direta para sugar vitalidade, preferencialmente pela boca, mas possuem uma inegável vantagem, que é poderem usar seus poderes de dia, o que é impossível para as absórvitas, que só podem fazê-lo muito longe da interferência do Sol. Vale lembrar, que as sucúbias da obra também são absórvitas, mas devido a sua anatomia demônica raramente usam essa habilidade, podendo contar com seus vastos recursos fisiológicos;

- Em Lost Girl as súcubos possuem poderes de sedução bem mais invasivos, podendo, num simples toque, praticamente controlar uma pessoa, homem ou mulher. As absórvitas não possuem qualquer recurso similar (a Linguagem Primordial não é habilidade absórvita). As sucúbias, por outro lado, tem vários recursos físicos, como feromônios e drogas inoculáveis capazes não só de seduzir mas praticamente controlar exclusivamente homens, mas as absórvitas contam apenas com sua beleza e sensualidade para tal;

- De dia, as absórvitas são mulheres comuns, ainda que com capacidades físicas e mentais otimizadas, à noite, sua capacidade física se exponencia ainda mais, e mesmo não tendo exatamente super força, sua capacidade de recuperação é sobrehumana, podendo resistir e se recuperar rapidamente de ferimentos que incapacitariam qualquer pessoa normal. As súcubos de Lost Girl não diferenciam o dia da noite, e contam com força e resistência sobre humana constante;

- Lost Girl utiliza explicitamente o conceito oriental de “Chi” para se referir àquilo que em As 4 Damas é chamado de Vitalidade, mas nesta última suas aplicações são muito mais amplas que a mera manutenção da vida, podendo ser convertida, pelas absórvitas mais poderosas, em eletricidade, as permitindo até mesmo disparar raios, e nos casos mais extremos, criar um campo elétrico defensivo em torno do corpo e viabilizar inclusive levitação;

- Por fim, embora em Lost Girl exista também a contrapartida dos Íncubos, ambos não parecem demonstrar grande preferência entre homens e mulheres no que se refere absorver o Chi, enquanto as súcubos e os íncubos em As 4 Damas são exclusivamente focados no sexo oposto humano, ao passo que as absórvitas, embora também possam sugar vitalidade de ambos os sexos, também manifestam uma facilidade maior para sugar energia de homens que de mulheres. Finalmente, é bom lembrar que existem também absórvitas homens, mas em proporção em geral inferior a 10%.

Apesar de uma certa precariedade, Lost Girl é uma raridade que merece ser observada, não só por tocar num tema tão pouco explorado. (Dentre as infindáveis criaturas que se vê no Buffyverso, não há súcubos.) Também por refletir uma manifestação clara do arquétipo Lilith, retratando uma personagem sexualmente ativa e expansiva, mas, como diz explicitamente a autora “...sem cair em estereótipos básicos ou exploração misógina (ou misândrica)...” e que não define, por si, sua personalidade. Bo tem relações hétero, homo, e sobretudo relações humanas não sexuais, de modo a, mais uma vez nas palavras da autora “...desbancar o pânico clichê gay de que pessoas bissexuais sexualizam a todos e são incapazes de uma amizade platônica.”

Evidentemente, o fato da protagonista ser uma súcubo é o que de fato viabiliza essa abordagem, em contraste com o que vemos no Buffyverse ou outras séries que, apesar de terem sido muito criticadas por conservadores, são frequentemente, marcadas por um surpreendente moralismo subjacente.

Como também afirma o autor de As 4 Damas do Apocalipse, apelar a essa visão sobrenatural e mítica da sexualidade é uma ótima forma de abordar um tema tão sensível de modo diferenciado, sem incorrer em alguma forma de repressão sexual, nem numa sexualidade descontrolada.

27 de Fevereiro

Tendo terminado minha explanação preliminar sobre a nova série da Netflix, que iniciei no post do dia 24*, senti a necessidade de rever o filme de 2010 para confirmar o que declarei desde o começo: que gosto mais dele agora depois de ter visto a nova versão, que apesar disso, ainda considero melhor.

M. Night Shyamalan é um diretor que sofreu de algo que deveria ser chamado de "Maldição do Sucesso do Primeiro Filme", pois seu primeiro longa a atingir o grande circuito comercial, O Sexto Sentido (1999), parece ser até hoje seu maior feito, de modo a aparentar um declínio contínuo. Contribuiu para o isso o fato de seu segundo filme também estrelar Bruce Willis, deixando todo mundo com uma expectativa de "Sexto Sentido II", e embora Unbreakable (2000) também ser um ótimo filme, não superou o anterior.

Daí em diante, tivemos uma sucessão de bons filmes, mas todos cada vez parecendo menos inspirados que o anterior até que em The Happening (2008) já estava ficando difícil defender o diretor. E logo em seguida veio The Last Airbender, que muitos chegaram a dizer que sepultaria sua carreira, e é até hoje considerado o fundo do poço. Lembrando que ele so gozaria de amplo reconhecimento novamente com a dobradinha Split (2016) e Glass (2019), que por sinal ressuscitam seu segundo filme, e convenhamos, deve parte de seu sucesso àquele olhar hipotizante de Anya Taylor-Joy.

Mas verdade seja dita, deixando de lado os pontos pacíficos que irei abordar em seguida, e o fato do Avatar de James Cameron ter estreado um ano antes, não é tão fácil dizer porque a versão Live Action de Avatar - The Last Airbender foi tão repudiada. Em momento algum negarei que o filme esteja mais pra ruim que para bom, mas penso que esteja longe de ser tão ruim quanto fazem parecer, ainda mais quando comparado à versão da Netflix.

Vou repetir-me, por ser necessário. A Temporada 1 da adorável animação tem cerca de 420 minutos de conteúdo. Excluindo os fillers e com algumas economias narrativas, pode sim ser reduzida para bem menos da metade, mas ainda assim, teria que ser um filme grande. Aí já temos o primeiro problema: Shyamalan parece ter uma fixação por filmes "curtos", o único que excede duas horas, "Vidro", o faz por meros 9 minutos. The Last Airbender tem apenas 103 minutos. Considerando os créditos, temos pouco mais de uma hora e meia.

Estou certo que meia hora a mais faria muita diferença para melhor, pois o resultado parece ser que estamos vendo um resumo, com uma narrativa tão rápida que parece comprometida a mostrar que ele viu sim a série e se esforçou para colocar nela todo o essencial, E DE FATO O FAZ! Nesse sentido, Shyamalan fez o que a Netflix passou longe, manter a essência da premissa, argumento e roteiro da animação. Não a toa, merece ter como subtítulo "Livro I: Água", que é o nome da primeira temporada, que a Netflix teve que omitir porque perderia por completo o sentido.

Sendo justo, todo o essencial está lá. O modo como Aang é descongelado, capturado, escapa, inicia e conclui sua jornada é fidedigno. A evolução de Katara, que já começa com um controle bem melhor da dobra de água do que na atual série, e mesmo assim precisa se desenvolver muito, também. Até o modo como encontra o Waterbending Scroll é muito mais pareciddo e faz muito mais sentido.

Pena que isso não é suficiente para compensar a correria narrativa que obriga a algumas economias conceituais e o resultado termina sendo um trágico dilema.

Por um lado, o filme parece demandar do espectador um conhecimento prévio da série, pois o público iniciante fica um tanto perdido. Mas o público cativo não tem como não se indignar com algumas decisões, principalmente estéticas.

Primeiro, o elenco. Noah Ringer, o estreante, não está realmente bem no papel de Aang, e não me parece por culpa do ator. Shyamalan parece ter falhado até no momento da escolha, pois priorizou um jovem praticante de Tae-Kwon Do que já era apelidado de Aang pelos colegas (é sério), havendo então um elemento extra artístico pesando para sua decisão, pois, de certa forma, os talentos, aparência e até comportamentos do menino, o faziam publicamente reconhecido como um Aang da vida real. Só que não é isso que faz um bom ator. Inclusive, após seu papel de estreia, o rapaz só fez um outro papel secundário em Cowboys & Aliens (2011) e depois abandonou a atuação para se dedicar integralmente às artes marciais.

Mas não é nem possível culpar o menino porque acho mesmo que Shyamalan erra na direção. Ele parece exigir de Noah Ringer emoções erradas em relação ao momento. Ora, ficou claro que ele sabe fazer "cara de durão", pois as cenas em que ele se concentra e age assertivamente são ótimas, mas o diretor parece querer tirar dele frequentemente uma expressão de medo, tristeza, quase choroso, mesmo em momentos onde deveria ser mais sério ou concentrado, e o pior é que o ponto alto dessa dissonância dramática é justamente a cena final do filme, que termina fechada na cara do protagonista que mesmo após realizar um feito divino após o qual todos se ajoelham, até mesmo seus inimigos, ainda assim fica parecendo uma criança à beira de colapso emocional.

Sim! Aang é uma criança! Mas também é um monge que passou a vida inteira treinando, que possui talentos excepcionais, auto controle, e que, por deus... É o Avatar!

Certamente não é por acaso que a série da Netflix seguiu o caminho contrário, nos dando um Aang muito mais confiante, até arrogante em alguns momentos, e muito mais sério quando necessário.

Se o ator principal já não parece bem escalado e dirigido, o restante do elenco então beira à catástrofe. Jackson Rathbone é homem demais para representar um adolescente, tem corpo demais para retratar um jovem que deveria ser franzino e ainda está tentando ser adulto, e perde por completo qualquer veia humorística que sempre caracterizou Sokka.

Dev Patel é muito carismático e é o tipo de ator no qual eu me sinto representado. Sim, ele me lembra eu mesmo na adolescência. Mas apesar da boa atuação, e difícil ver o Zuko ali. Cliff Curtis como Ozai... não dá! Ainda mais porque ele sequer deveria aparecer no Livro da Água, o que é uma excelente decisão narrativa que ajuda a construir uma aura de mistério em cima do personagem. A versão atual pôde se dar ao luxo de mudar isso porque já tinha mudado tanta coisa que essa foi só mais uma, e admitamos, Daniel Dae Kim é perfeito como o Fire Lord.

Mas de todos, o pior seguramente foi o General Iroh. Por favor, chega a soar quase ofensivo colocar um ator magro para interpretar um personagem cujo excesso de peso faz parte de sua personalidade (Gordofobia?), e reserva uma brilhante surpresa na terceira temporada. A atuação até está boa, mas não dá pra ver o Iroh ali. Mais uma vez, ponto pra Netflix.

E sim, tudo isso tem a ver como fato de Shyamalan, na contramão de sua própria etnia, ter parecido ignorar o fato de que mudar a etnia de personagens só é permitido no sentido contrário ao branqueamento, e nesse caso, é forçoso admitir que foi inconveniente mesmo. Até porque todos os heróis são brancos, e os vilões são de aparência iraniana, indiana, oriental, ou melhor dizendo, nada brancos.

Como assim o fato de "Avatar ser ambientado numa espécie de Terra-Média ORIENTAL" Shyamalan não entendeu?!

Abro exceção para as atrizes. Malgrado o branqueamento, Nicola Peltz me parece uma Katara muito melhor que a recente, e já que é pra ser branca mesmo, gostei de Katharine Houghton em seu breve papel de avó. E por fim Seichelle Gabriel como a Princessa Yue me encantou de tal forma que foi difícil tolerar sua versão da Netflix, apesar de que nesta, o desenvolvimento da personagem é bem melhor.

Mudando de assunto, também é difícil aceitar a reformulação da magia elemental de fogo apresentada. Diferente da versão original, onde os dobradores criam o Fogo a partir do Ar (algo de acordo com as filósofos gregos e suas teorias dos 4 elemtnos), Shyamalan decidiu que eles só poderiam manipular fogo já pronto. Só que isso apresenta uma limitação extrema de um poder que, como podemos ver várias vezes, é difícil de crer que seria páreo para a dobra de terra, por exemplo.

Ora, tudo que os oponentes precisariam fazer é eliminar qualquer fonte de fogo, dobradores de água deveriam ser capazes de apagar grandes fogueiras inteiras fácil e rapidamente. Em um certo momento, isso é até mencionado, mas na hora da luta, ninguém parece se lembrar de jogar uma aguinha em cima das tochas e demais focos de fogo no local.

Pior, ante a aproximação de dobradores de fogo, a coisa óbvia a ser fazer seria apagar qualquer tocha, pira ou fogueira próxima. MAS NINGUÉM PENSA NISSO!

Considerando os problemas de elenco, tanto na seleção quanto na atuação, a alteração de concepção e a pressa narrativa em função do curto tempo de tela, só resta a inconsistência no modo de funcionamento das dobras, pois em alguns momento se produz efeitos drásticos com gestos simples e rápidos, e em outras ocorre uma dança interminável com dezenas de passos para se produzir um efeito básico.

Por fim, outro ponto baixo é o figurino. Alterações desnecessárias que tiveram impacto estético deletério. Erro que a Neflix não cometeu.

Dito isso, porém, é preciso voltar a apontar as virtudes do filme, que ficam muito mais evidentes quando comparadas à versão atual. Apesar de tudo, ele é muito mais fiel ao espírito original, pois o arco de Aang está lá. Ele aprende a dobra de água durante o processo, mesmo com dificuldade, Katara também. Desde o começo do filme, vemos que ela já consegue fazer uma bolha de água levitar, no entanto demora para conseguir os efeitos mais drásticos, com uma evolução gradativa. E não partindo de um estado onde mal conseguia fazer ondinhas na água, e após uma única frase motivacional, no dia seguinte ser capaz de erguer uma massa de água a um quilômetro de altura para executar uma manobra defensiva avançada que nem do ponto de vista do timing faz sentido!

As locações são ótimas, com muitas tomadas externas gerando resultados muito superiores aos da Netflix. Em nenhum momento temos a sensação de estarmos num pequeno cenário fechado com iluminação de novela. Até o CGI, mesmo 14 anos mais velho, parece melhor. E por fim, nada de rearranjar arcos e personagens tirando-os totalmente de contexto sem qualquer necessidade, visto que a Netflix teve basicamente o mesmo tempo de tela que a animação original, e poderia perfeitamente ter mais.

Como frequentemente ocorre, um segundo olhar num obra cinematográfica costuma ser mais conciliador, e espero que The Last Airbender de Shyamalan, que sequer foi um prejuízo de bilheteria, encontre alguma redenção póstuma. Alguns particulares tem feito reedições do filme, há muitas cenas deletadas e extras que não foram para a versão final. Uma versão do diretor poderia melhorar bastante o filme.

Não gosto de dar notas a filmes, principalmente em escalas de 1 a 10. Mas posso trabalhar com aquela escala de 1 a 5 estrelas.

Outrora, eu teria dados duas, hoje dou três.

26 de Fevereiro

E finalizando a sequência de posts iniciada no dia 24 e sequenciada no dia 25, tendo agora assistido a toda a 1a Temporada da nova série da NETFLIX, concedo que no geral ela é sim melhor que o filme de Shyamalan, o que por si não é lá grande coisa.

Vale lembrar que enquanto a série animada original tem nada menos de "100% / 99%" de aprovação no Rotten Tomatoes (queria pegar o responsável por esse 1% a menos), o filme de 2010 tem trágicos "5% / 30%" ( o que acho injusto da parte da crítica), ao passo que a atual série obteve 60% / 75% (o que já acho bastante apropriado).

Persistem os problemas de iluminação. Ainda que belas, as cenas fechadas da Tribo da Água do Norte frequentemente me tiraram do clima imersivo sempre que tentaram fazer retratar belos cenários internos ou mesmo externos. Em determinados momentos fiquei com imbatível sensação estética de 300, do Zack Snyder, inteiramente filmado dentro de estúdios com telas verdes, mas que ao menos além de ter a desculpa de ser 18 anos mais velho, deliberadamente não procurou ser realista, propondo uma nova visão artística.

Também as cenas aéreas, quando os protagonistas estão montados no Appa, o bisão voador, são do tipo que me deram sensação equivalente à das velhas técnicas de "rear projection" que simulavam um movimento de cenário enquanto os atores fingiam que dirigiam um carro nos filmes dos anos 60.

Via de regra, cenas assim costumam ser filmadas sob a luz solar real sobre fundos de tela verde, ou azul, mas parece que os produtores não tem coragem de deixar suas telas de LED expostas ao sol. E está pra nascer a luminária que simule com perfeição a luz solar.

Cenas escuras, por outro lado, ficam muito melhores, como se nota nas sequências noturnas tanto em ambientes internos, quanto nas ruas da cidade gelada sendo invadida pela Nação do Fogo, e ainda melhores nas cenas do Jardim Sagrado onde ocorre o atentado contra a vida do Espírito da Lua.

Mas há compensações: algumas tomadas, especialmente marítimas, ficaram belíssimas, mesmo não exatamente foto realísticas, e afinal, desta vez tivemos o admirável Koi-Zilla (ou se preferir Aquazilla) em versão bastante impressionante e fiel ao original.

Aliás, nesse sentido, fidelidade visual, os dois episódios finais estão excelentes. A luta de Katara e Pakku adaptou perfeitamente a mesma sequência da animação, coisa que no filme de 2010 ficou tão aquém, ainda que não exatamente ruim, que preferiram deletar a cena da versão final.

Já os episódios 5 e 6 trazem más surpresas, como personagens terciários se referirem a feitos do Avatar que só vimos na série animada, reforçando aquela sensação de que assistir a animação é obrigatória para compreender vários aspectos que são apenas vagamente sugeridos na série da Netflix, numa decisão narrativa, insisto, incompreensível para quem teve o mesmo tempo de tela que a séria animada ou poderia simplesmente omiti-los.

June e Naila, a criatura farejadora com focinho de topeira, estão mais uma vez fiéis ao original, mas o CGI deixa a desejar. Já toda a sequência envolvendo o Blue Spirit também é muito boa, mas aqui, devo insistir, perde pra do Shyamalan, ou na melhor das hipóteses empata. Aliás, a sequência dele resgatando Aang talvez seja a mais acurada em ambas as versões Live-Action!

Mas as radicais reformulações e rearranjos do roteiro original soam quase sempre desnecessárias, se não forçadas! Não havia necessidade de reescrever o caminho para chegar no mesmo lugar se não é preciso condensar tudo em uma hora e meia de filme. Fica aquela sensação de "mudar só por mudar" sem qualquer ganho estético ou narrativo.

E aí chegamos no ponto mais grave e que tem sido duramente criticado por muita gente boa: a perda de características essenciais da série original. Muita gente está acusando a Netflix de ter distorcido, se não até falsificado o que há de mais precioso em Avatar, que é o arco de desenvolvimento dos personagens que exige certos comportamentos bastante questionáveis no começo, mas que vão se engrandecendo.

De fato, essa percepção é minorada. Sokka parece mudar de ideia rápido demais com relação à missão, Aang não tem aquela jornada de redenção por ter fugido de sua obrigação, e o pior, NÃO APRENDE a dobra de água na temporada inteira! (Porque raios a Avatar Kyoshi deu uma bronca nele como se ele tivesse fugido tal qual no desenho?!) Sendo até mesmo justo que tenha eliminado os títulos originários que remetiam justamente a ele aprender a dominar um elemento novo por temporada. E Katara, se ainda resistiu a ser transformada numa plena Mary Sue lacradora que já sabe tudo com perfeição, ainda assim foi turbinada, de uma personagem que dá duro para dominar o seu elemento, para uma que aprende rápido demais, e praticamente sem ajuda!

E como alguns estão dizendo por aí, o fato de terem dando um Power Up em Katara muito precocemente, obrigou a fazê-lo também em Aang em relação à sua dobra de ar, exponenciando-a desde o começo da série para compensar o fato de que sequer tentou aprender a dobra de água.

No entanto discordo de muitos quando dizem que isso alterou significativamente a sequência final, onde na Tribo do Norte as mulheres são proibidas de usar a dobra de água de forma ofensiva. Apesar de algumas alterações pontuais, no final achei que a diferença foi pequena. Sem contar que o mestre Pakku está perfeito, nesse sentido ganhando muitíssimo da versão de 2010. Em compensação... colocar Amber Midthunder (de PREY) para interpretar a Princesa Yue, é, em relação a Seichelle Gabriel, mais que uma perda estética, já é uma queda ontológica!

Enfim, talvez até faça um vídeo a respeito no meu canal, mas só após rever ao filme de 2010 e ao menos toda a primeira temporada da animação original. Nada de mais, seria a quarta vez.

25 de Fevereiro

Continuando a análise iniciada no post de ontem, agora assisti aos 4 primeiros episódios, ou metade da nova série da Netflix, e como previ nada do que eu disse foi afetado. Embora aqui não caibam muitas comparações como filme de Shyamalan, que não adaptou as mesmas coisas retratadas agora.

No que já aponto uma questão intrigante: a série animada original é constituída de um total de 61 episódios de cerca de 22 a 23 minutos cada. Descontados as recapitulação, abertura e créditos, podemos dizer que a primeira temporada tem cerca de 420 minutos de narrativa total.

Boa parte dela é constituída daqueles episódios chamados de "fillers", que contam "side quests" que por vezes nada contribuem para a linha narrativa principal, sendo estórias praticamente isoladas que por mais que sejam interessantes, podem ser totalmente descartadas sem prejuízo do tema central.

Ainda assim, é compreensível a dificuldade que Shyamalan teve para adaptar a primeira temporada inteira para um só filme, razão pela qual omitiu diversos conteúdos que agora a série tem tempo de sobra para explorar, pois se tratam de 8 episódios (e poderiam ser mais) de mais de 50 minutos.

A Netflix poderia até mesmo refilmar integralmente a série, e excluindo os 'fillers', já seria suficiente para dar o maior desenvolvimento que um filme de tom mais maduro precisa dar às sequências dramáticas. No entanto, insiste em reinventar coisas sem necessidade.

O segundo episódio é até agora o meu favorito, principalmente devido às locações naturais, à fidelidade a trama original apesar de algumas alterações bem vindas. Algumas cenas, como Aang voando sobre o globo de ar, são idênticas ao desenho, embora, mesmo havendo mais tempo para desenvolvimento, fiquei com a impressão que o romance de Sokka e Suki acabou sendo apressado. Também achei demasiado longa, quase enervante, a sequência de Aang no mundo espiritual.

Mesmo assim, o resultado final foi bem positivo, especialmente a manifestação da Avatar Kyoshi. O ponto mais baixo foi o modo estúpido como o pergaminho da água foi parar na bolsa de Katara. Quer dizer que você pega um material sensível, altamente secreto e até perigoso, e enfia na bolsa de outra pessoa sem avisá-la!?

E os episódios 3 e 4 trazem de volta os problemas do primeiro episódio. As filmagens em estúdio voltam com força total, sendo evidente o quanto os cenários internos são pequenos, impedindo aquele espalhamento maior da luminosidade que atenua a artificialidade da luz. Como quase sempre acontece, vista de longe, a cidade de Omashu destoa das tomadas fechadas nas ruas. Mas até aí, trata-se de problema quase incontornável.

Pior foi terem misturado temas de outros arcos e até temporadas, em especial colocando Jet e sua gangue num ambiente onde sequer deveria haver florestas! O que destaca a disparidade de iluminação nos cenários naturais externos e nos cenários internos de estúdio, associado ao fato de que olhando Omashu de longe, fica evidente que não poderia haver florestas lá.

Também soam injustificáveis as alterações feitas no encontro de Bumi com Aang, pois algo que no original é muito mais espontâneo e com direito a reviravolta, aqui tem qualquer surpresa previamente cortada para ao final a sequência funcionar quase da mesma forma. Mas seria melhor comparar com as impressões de quem não conhece o material original.

Outro ponto incompreensível é fixar o visual dos personagens como se eles fossem cartoons. No flashback que fala sobre a morte de Lu Ten, o General Iroh está absolutamente igual! Sendo que sua barba, sendo evidentemente postiça, poderia ter sido mudada, ou totalmente retirada como conviria a um militar na ativa. Mas não! Simplesmente mudam a roupa do personagem e ignoram que a aparência das pessoas varia como tempo, algo que em homens é ainda mais fácil de simular simplesmente variando barba e bigode. O mesmo ocorre com Ozai.

Se bem que isso é uma infeliz constante na mídia audiovisual. É como se tudo tivesse que ser filmado no mesmo dia. Sokka, por exemplo, em momento algum apresenta qualquer variação na barba. Mas isso ocorre quase que na totalidade das produções. Mesmo quando temos fugitivos que precisam se esquivar de uma caçada ostensiva, eles parecem insistir em todos os dias fazer a barba à zero como se fosse um compromisso religioso! Curiosamente, quando vemos o desenho original, por outro lado, aparência de Iroh foi mudada sim!

Por fim, a sequência dos túneis foi verdadeiramente patética. Primeiro pelo imenso suspense que se faz perante um desafio letal e intransponível do qual ninguém volta vivo, mas que acaba sendo vencido com facilidade constrangedora, e ninguém se dando ao trabalho de explicar porque dobradores de terra não seriam capazes de superar aquele obstáculo, numa sequência de corredores que ainda por cima tem iluminação que dispensa o uso de lanternas.

Em compensação, o arco de Zuko e Iroh, mais uma vez totalmente fora de lugar comparado ao material original, acabou sendo uma das melhores narrativas.

Eu teria ainda muito a dizer, mas vou ficar por aqui e só escreverei de novo após terminar a série.

24 de Fevereiro

A triste verdade, é que o primeiro episódio de "AVATAR - THE LAST AIRBENDER" da Netflix, me fez gostar mais da versão do M. Night Shyamalan.

Antes de tudo, explico: considero a série animada Avatar (2005-2008) como a melhor... quero dizer, A MELHOR, sim, A MELHOR ANIMAÇÃO SERIADA já produzida nos EUA! (Deixo de lado o fato de imitar o estilo japonês, e que a série derivada, A Lenda de Korra, seja apenas... boazinha.) Assim, foi com algum receio, mas também muita expectativa, que recebi a versão Live Action, de 2010, do formidável diretor de ascendência indiana que, no entanto, decepcionou a todos.

Então, a versão da Netflix mais uma vez reacendeu a esperança de revisitarmos esse fabuloso universo em mais uma edição Live Action, e o último trailer foi arrebatador. E talvez, fosse melhor não tê-lo visto.

Friso que só assisti ao primeiro episódio, mas para o que tenho a dizer aqui, é mais que suficiente, pois me refiro ao modo como premissas e narrativa foram reestruturadas, bem como em questões técnicas e estéticas fundamentais.

Chocou-me a estética pobre da produção, inteiramente filmada em estúdio, com iluminação tão artificial que só falta vermos os refletores, arruinando qualquer sensação de imersão. Nesse sentido, o filme de Shyamalan, 14 anos mais velho, é incomensuravelmente superior. Não só utilizou locações reais, como nas cenas em estúdio os cenários são muito mais amplos, e não ficamos com aquela sensação de que a qualquer momento veremos um microfone aparecendo em cena. É a primeira vez que vejo cenas filmadas sobre telões de LED soarem tão artificiais.

Mas muitas das críticas sobre The Last Airbender (que teve também a infeliz homonímia com o filme de James Cameron de um ano antes) de M. Night Shyamalan, recaem sobre as reinvenções quase abusivas. A exemplo de enfraquecer muito os dobradores de fogo pela supressão de sua capacidade de criá-los do "nada", reduzindo-as ao nível do Piro do X-Men, bem como fazer o Aang ficar meia hora realizando Katas inteiros para conseguir produzir um soprinho.

Aqui vemos o oposto. Aang, pura e simplesmente, VOA desde o primeiro instante, lembrando o Zaheer de Legend of Korra ao final da série, tornando o uso do planador, que só aparece tardiamente em cena, incompreensível! Pior, retira discretamente o molho de chaves de um guarda de um modo impossível de compreender que apenas vento faria, parecendo muito mais uma telecinésia.

Mas nada disso seria um grande problema não fossem as questões narrativas, que mais uma vez, decidiram reinventar uma estória praticamente perfeita!

Desde o primeiro instante acrescentaram uma sequência que tem seu mérito em termos de ação, mas serve apenas para acrescentar uma elemento de ardil no plano da Nação do Fogo antes de explicá-lo detalhadamente. Só que essa explicação é repetida na vinheta de abertura da série, com visual e texto diferentes da série original, apenas para ser MAIS UMA VEZ repetida pelas palavras de uma anciã da Tribo da Água do Sul com AS MESMÍSSIMAS PALAVRAS da abertura da série original!

Sim, a trama é explicada TRÊS VEZES na primeira metade do primeiro episódio, coisa que no desenho original, além do resumo da abertura, só é plenamente compreendido alguns episódios à frente, e que Shyamalan também explana de forma calma ao longo do primeiro terço do filme. Aliás, são poucas as sequências que, quando presentes tanto no filme de 2010 quanto neste primeiro episódio da nova série, a versão de Shyamalan não ganhe. Embora nenhuma tenha captado a beleza singela de quando Aang desperta e seu olhar se encontra com o de Katara pela primeira vez.

Mas o pior, é que em nossa querida animação original, temos uma criança que, não preparada para assumir precocemente a função de Avatar, acaba sofrendo um "acidente" é ficando congelada por um século, sem saber o que aconteceu, quanto tempo passou e muito menos o que havia acontecido com sua nação dos Nômades do Ar, fato que só descobre, quase junto com Katara e Sokka, ao se deparar com as ruínas do local onde ele esperava reencontrar seu povo, ignorante do que tinha acontecido.

Mas agora tudo lhe é explicado didaticamente assim que chega na Tribo da Água do Sul, tornando o seu ataque de fúria e ativação involuntária do estado Avatar, quando chega nas ruínas do templo do ar, praticamente injustificável, pois o horror de contemplar subitamente o genocídio de seu povo inteiro é substituído por uma revolta meramente pessoal em relação a seu mestre, e amigo, Gyatso, que era óbvio desde sempre que só podia estar morto.

Falando nisso, é bom lembrar que a premissa de Avatar é nada menos que uma paródia da realidade, visto que recria de forma fantástica a infância de Tenzin Gyatso, que segundo o Budismo Tibetano reencarnou nada menos que o 14° Dalai Lama, e que na infância também teve que lidar com uma invasão, no caso chinesa. Lembrando que a Nação do Fogo é uma evidente paródia da China na Dinastia Qing, (da etnia invasora Manchu), ao passo que a Nação da Terra é paródia da Dinastia Han, mais antiga, e mais bem vista inclusive pela China atual.

Sendo os Nômades do Ar evidentemente os tibetanos, e deixando de lado a Ilha Kyoshi que é evidentemente uma retratação do Japão, apenas as Tribos da Água tem uma conexão mais frouxa com a realidade, visto que a do Sul remete a povos árticos de etnias Inuits vulgarmente conhecidos como "Esquimós", e a do norte é uma paródia muito mais fabulosa, com direito a castelos e de gelo que mais lembram os festivais de esculturas congeladas chineses.

Mas voltando à Netflix, outras más construções situacionais chegam a ser chocantes. Aang num momento fala abertamente que quer ficar em casa com seus amigos, mas em momento algum é mostrado ele brincando com qualquer outra criança, coisa que vemos largamente na série original e que de fato constroem a personalidade infantil do protagonista. Pior, no primeiro momento que sai de um dos iglus na Tribo do Sul, um grupo de crianças passa correndo por ele e... nenhuma... NINGUÉM... SEQUER OLHA PRA ELE! Como se ele nem estivesse ali!

HELLS!!! Crianças que nunca viram um menino careca, de outro povo, com roupas alaranjadas exóticas às quais elas certamente jamais tomaram conhecimento nem em livros, ainda assim, O IGNORAM COMPLETAMENTE!

DEUSA DA TERRA! Isso não é mera falha de roteiro, de argumento, de concepção, não! Isso é ignorar o básico da psique humana, é ser cego para a natureza mais fundamental, é esquecer-se de si mesmo!

Mas não vou negar méritos à série. Apesar de tudo, o criticável rearranjo étnico do filme de Shyamalan foi aqui minimizado. Ian Ousley tem o mérito de estar "a cara do Sokka" original, conseguindo aliar o tom mais adulto e responsável da versão de Shyamalan, com a pitada mais descontraída e infantil da animação. Mas... cadê o bumerangue?!

Apesar de bom, não achei o Zuko atual muito melhor que o do filme de 2010, mas o Tio Iroh está incomensuravelmente mais fiel. Também não vi muita vantagem neste Aang da Netflix para o do filme, que foi muito, e injustamente, criticado, mas há outros elementos promissores.

E assim, torço muito para que a série melhore, visto que o trailer, volto a dizer, é um deleite! E espero que desta vez tenhamos todas as temporadas. Pois por mais que eu também tenha duras críticas à versão de 2010, ainda assim eu preferia que ela tivesse sido um sucesso e engendrasse uma trilogia.

Mas como eu disse, ainda não vi os demais episódios. Vi o primeiro ontem à noite e estou de plantão agora, adivinhe o que farei quando chegar em casa?

12 de Fevereiro

Um cara da minha idade que se diz fã de Ficção Científica não tem o direito de errar sequer uma única dessas ridiculamente fáceis questões.

The Ultimate Sci-Fi Movie Quiz


4 de Fevereiro

Sempre digo que não gosto de compartilhar vídeos de canais muito grandes, mas este é impossível evitar! Que vídeo maravilhoso, e nesse caso só posso celebrar que já tenha mais de meio milhão de visualizações em um canal com mais de um milhão e meio de inscritos. Além do excelente conteúdo, a forma também é sublime, visto que o apresentador tem uma das melhores locuções que já vi, tão claro que qualquer entendedor mediano de inglês consegue acompanhar, e que facilita a vida da legendagem automática e consequentemente da tradução.

O único ponto estranho é que ele parece ter minimizado o número de vítimas no Vietnam, mas em compensação não só fala da Guerra da Coréia como diz porque ela é a "Guerra Esquecida" dos EUA, dando inclusive a cifra de 2 a 3 milhões de mortos e falando explicitamente em 20% da população liquidada.

Por fim, mesmo para quem está cansado de saber do assunto, o modo como o encadeia e excelente, sendo sempre útil e instrutivo para qualquer público.

3 de Fevereiro

Há muito me ocorre a intuição de que havendo um plano espiritual onde efetivamente sejamos postumamente avaliados, seríamos julgados por nós mesmos, ou de certa forma, já teríamos sido julgados por nós mesmos porém de modo indireto.

Por exemplo, cometemos no passado um certo ato específico, daqueles que todos concordam que seja um delito. E nosso julgamento seguiria nada menos que a "jurisprudência" que nós mesmos estabelecemos quando, em vida, julgamos mentalmente o mesmo ato em outra pessoa.

Isso significa que todas as nossas impressões, afetações, sentimentos e pensamentos que cultivamos em relação aos outros, seria voltadas contra, ou a favor, de nós mesmos, na medida possível da equivalência.

Quem passou a vida condenando os demais, se apressando a considerá-los imperdoáveis, tratando com rigor extremo o mínimo deslize, ou mesmo cultivando torpes pensamentos contra outrem, teria então, diante de si, um severíssimo, cruel e mesmo "injusto juiz". Mas aquele que sempre cultivou alguma tolerância, um perdão genuíno, evitando pensamentos e sentimentos vingativos, teria então um juiz benevolente.

Imagine, no "tribunal celestial", a sua conduta sendo avaliada da mesmíssima forma que você avaliou conduta similar em outrem? E note que não necessariamente a recriminação seria uma coisa ruim, pois talvez você tenha sido justo e racional na forma como avaliou tal fato, recebendo então o mesmo tratamento e portanto uma pena, caso haja, também devidamente razoável.

O que nos leva, por fim, àqueles que já julgam a si próprios em vida, o que também seria repercutido nesse possível além, tanto os lenientes demais com erros graves, tanto os rigorosos demais com erros leves, mas cruzando-os com o modo como aplicaram tais avaliações, mesmo apenas no íntimo de seus pensamentos, aos seus semelhantes.

Por fim, essa ideia em nada afeta a particularidade da crença pessoal de cada pessoa. Engana-se quem acha que seguir uma doutrina específica lhe permite saber exatamente como seria esse "julgamento", ou coisa que o valha, caso de fato exista uma avaliação transcendental.


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