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The Terminator, de 1984, mas cá exibido em 85 e conhecido como "O Exterminador do Futuro", foi marcante em minha adolescência. Ao ir vê-lo, já tinha ouvido me contarem a estória inteira, nessa época não se dava a mínima para aquilo que você encontrará neste texto, spoilers, e se você demorava para ver um filme famoso, tinha que ouvir gente te contando tudo quer quisesse ou não. Mas ouvir falar jamais tem o mesmo impacto que ver, e por isso assistí-lo foi uma grande experiência. Seus temas ficaram na minha cabeça, inspirando minhas brincadeiras e aventuras imaginativas por muitos anos. E por acaso, os protagonistas performaram a primeira cena de sexo, não explícito, que vi em toda minha vida.
Tal qual o primeiro Star Wars, o filme também faz sua transição de donzela em perigo para heroína de ação, visto que da premissa inicial, um herói que vem proteger a mulher que daria à luz a John Connor, futuro salvador da humanidade, Sarah Connor termina tendo que assumir a responsabilidade pela própria segurança, e a do filho, como o próprio Reese já antecipara, dizendo que queria conhecer a mulher que ensinara o líder da resistência a lutar. Não só isso. A ideia de que Sarah passaria da defesa ao ataque, tentando impedir que o Skynet viesse à existência, já tinha sido pensada, tendo inclusive sido gravadas cenas onde isso era planejado. Porém as cenas terminaram deletadas da versão final e esse tema adiado para o próximo filme.
A ideia de Sarah Connor tomar a iniciativa
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Um T800 reprogramado pela Resistência para proteger John Connor (Edward Furlong) enfrenta o T1000 (Robert Patrick), que é inteiramente constituído de um metal capaz de liquefazer e mudar de forma. |
E se o primeiro filme tinha apenas um loop causal, T2 viria a acrescentar um efetivo paradoxo de causa e efeito, pois embora, a tentativa de matar o próprio John Connor aos 12 anos tenha também falhado, aqui finalmente Sarah decide retaliar e fazer o inverso, "abortar" o nascimento do Skynet, tomando as providências necessárias para evitar que ele venha a surgir. Daí, fica explícito que além do loop causal Kyle Reese e John Connor, fica evidente também o loop causal T800 e Skynet, visto que é revelado que este último viria a ser desenvolvido com a tecnologia obtida do chip do T800 que veio do futuro.
Só que Sarah, John e o T800 heróico aparentemente conseguem destruir o futuro da Skynet, o que implicaria então num paradoxo causa e efeito real, visto que se Skynet nunca viesse a existir, jamais teria enviado um exterminador para o passado. Portanto, T2 agrava muito a inconsistência da estória, contrariando até o próprio título! Embora não muito mais que outros filme da mesma década como De Volta para o Futuro ou Star Trek IV.
Também por isso, acho que T3 - Rise of The Machines, 2003, desta vez dirigido por Jonathan Mostow, é tratado pela crítica com mais severidade do que merece. Ele acrescenta problemas sim, mas principalmente por ser obrigado a corrigir o erro cometido pelo filme anterior, justificando porque a ameaça não foi realmente eliminada, que é o simples fato de que a tentativa de eliminar o Skynet, tal qual as de eliminar John Connor, também falhou. Assim, ficamos livres da pior das contrdições, tendo que lidar apenas com o conceito de loops causais que demandam considerar a hipótese de um "super tempo" que dá sentido às viagens no tempo. Ideia que desenvolvi em Os Crononautas.
O modelo TX (Kristanna Loken) combina o endoesqueleto típico dos T800 a 900 revestido com o metal líquido dos T1000, com recursos adicionais como armas e meios para controlar dispositivos eletrônicos. Para sorte dos protagonistas, o T850, diferente dos predecessores, além de mais inteligente e mais forte, é capaz de resistir a disparos de plasma. |
Ademais, apesar de vários defeitos, como a injustificável ausência de Sarah Connor, supostamente morta, T3, além de corrigir a contradição do filme anterior, deixando claro que o sacrifício do T800 em T2 foi inútil, e pondo em cheque a frase de T1 de que "não existe destino", ainda acrescenta um final excelente, que leva adiante a franquia rumo ao futuro preconizado desde o primeiro filme. E Kristanna Loken como "exterminadora" está um arraso. Curiosamente, mais do que um "levante das máquinas", é aqui que de fato ocorre o "Dia do Julgamento."
Eu ainda concordo que, no geral, T2 é um filme melhor que T3, e Jonathan Mostow ainda demoraria 6 anos para lançar um filme de FC que realmente merece críticas duras, The Surrogates (que comento aqui, no finalzinho). Mas insisto que se exalta demais o The Judgment Day e rebaixa-se demais o Rise of The Machines.
Mas Terminator Salvation, 2009, agora dirigido por Joseph McGinty Nichol, é definitivamente o mais injustiçado de todos. A mim, em termos de argumento e roteiro é o melhor filme da franquia justamente por não ter que lidar com os paradoxos da viagem no tempo, retrata muito bem o futuro pós-apocalíptico e sobretudo consegue avançar a estória de modo consistente com todos os filmes anteriores. Ainda mais interessante a saga de Marcus Wright, que faz o caminho inverso, indo do passado para o futuro onde se junta à resistência sem saber que está sendo manipulado pela Skynet. O modo como se revolta contra os planos traçados para ele e decide tomar sua própria decisão à revelia de sua pretensa "natureza" é um de meus temas heróicos favoritos, como se vê em Total Recall.
Salvation é o único filme da fraquia que foge à fórmula repetida pelos demais, sendo totalmente ambientado no futuro pós-apocalíptico. Aqui vemos, Kyle Reese (desta vez intepretado pelo falecido Anton Yelchin) que viria a viajar para o passado para salvar Sarah Connor, bem como Marcus Wright (Sam Worthington). |
A mudança de atores de T3 para Salvation foi para melhor, John Connor (de Nick Stahl para Christian Bale) e Kate Brewster (de Claire Danes para Bryce Dallas Howard), e essa personagem mantém a importância da participação feminina na saga. Kate, que também desenvolve conhecimentos científicos relevantes, é o braço direito de John Connor na Resistência. O elenco também conta com a atriz Korinna Moon Bloodgood, no papel da Tenente Blair Willians, piloto de combate, que faz par com Marcus Wright na luta contra a Skynet.
Kate Brewster (Claire Danes) em T3, assume o papel feminino na ausência de Sarah Connor. |
Kate Brewster (Bryce Dallas), grávida de John Connor (Christian Bale), e Blair Willians (Korinna Moon), em Salvation. |
Enfim, em linha gerais, a saga estava se desenvolvendo como o previsto, mas com adendos e surpresas interessantes. Ainda acho que seria melhor que tivesse havido um filme intermediário, mostrando o começo da guerra, e que Salvation fosse um quinto filme, para enfim consumar tudo num sexto. Mesmo assim, o filme de McGinty foi bem e manteve o espírito da franquia.
Mas qualidade jamais foi sinônimo de sucesso comercial, e digo que o público falhou com Salvation, e tragicamente, ter feito menos sucesso que seus antecessores motivou os produtores a abortar o desenvolvimento da estória prevista desde o primeiro filme e apostar numa estranha mistura de sequência com reboot.
Terminator - Genisys, 2015, esse sim, um filme que não devia ter sido feito, ao menos da forma como foi. Tem seus méritos, principalmente no começo. É interessante ver algumas cenas revisitadas, algumas auto paródias que praticamente funcionam como um Fan Service, o envelhecimento do T850 é criativo e muito bem trabalhado. Mas o modo como decidiu subverter toda a estória fundamental, reformulando por completo a linha do tempo, arruinou o passado e o futuro, além de escolhas de elenco equivocadas onde apenas o bom e velho Arnold está no seu devido lugar.
Emilia Clarke como Sarah Connor... Dracarys!
Linda Hamilton, no T1 de 1984, Lena Haedey na série Terminator: The Sarah Connor Chronicles que durou duas temporadas de 2008 a 2009 , e Emilia Clarke em Genisys, 2015. Minha favorita, confesso, é Headey. E não só pela beleza. Na série a personagem pôde ser melhor desenvolvida. |
A estória começa bem, com uma batalha decisiva contra a Skynet, onde, diferente do filme de 1984, temos efeitos especiais quase totalmente digitais, e vemos John Connor (Jason Clarke) e Kyle Reese (Jai Courtney) cumprindo o que havia sido prometido desde o primeiro filme. Infelizmente, depois tudo se perde numa extrema distorção nos personagens originais. |
O "destino" da série previa a estória do futuro fosse integralmente contada, mostrando os primeiros e terríveis anos da guerra, Jonh Connor surgindo e liderando a resistência, e finalizando a saga com a derrocada do Skynet. Salvation mostra muito bem esse momento intermediário, e Genisys é bom em toda a parte futurista. Mas então a viagem no tempo, sempre as viagens no tempo... termina subvertendo ainda mais os já complexos paradoxos.
Nos quatro filmes anteriores, podíamos justificar as viagens no tempo por meio de um "destino" imutável. O surgimento do Skynet, bem como o Dia do Julgamento, como dito em T3, é inevitável, e todas as viagens para o passado, de certa forma, já estão previstas desde sempre, e são na realidade parte de um destino previamente traçado tanto quanto os eventos que correm dentro da linha do tempo normal. T3 deixa isso ainda mais claro com o papel crucial de Kate Brewster, que depois se revela a principal responsável pela reprogramação dos T800.
Mas essa premissa fica insustentável com Genisys, pois a Sarah Connor que lá encontramos não é a Sarah Connor original, mas sim uma moça, aliás antipática, que foi criada por um T850, que a conhece desde a infância, tornando a missão original de Kyle Reese totalmente irrelevante. Invés de salvador, ele é que tem que ser salvo por se deparar com uma situação totalmente diferente da que encontra no primeiro filme, ao ponto de ter que enfrentar até mesmo um T1000!
Se estão reclamando de Feminismo em Terminator Dark Fate, é bom lembrar que num certo sentido ele é intrínseco à série no que se refere a personagens femininas fortes e determinantes, no que James Cameron se destacou especialmente com a inesquecível Helen Ripley em Aliens. Mas é em Genisys esse Feminismo começa a assumir uma face mais hostil, e não apenas pelo simbolismo que Emilia Clarke trás de Game of Thrones. Abordaremos isso mais adiante, mas é importante frisar que além da diminuição do papel heróico de Reese, o próprio John Connor foi transformado em vilão! O que por si só, é uma subversão absoluta do fundamento da série.
Enfim, apesar dos percalços, a franquia Terminator foi concisa nos primeiros quatro filmes, bem como na primeira parte, a do futuro, do quinto filme, que no entanto, logo em seguida a subverteu totalmente.
Como solucionar isso então?
Confesso uma lacuna na minha "formação" sobre o assunto, pois nunca assisti toda a segunda temporada de Terminator: The Sarah Connor Cronicles. A primeira achei ótima, e muito mais compatível com a essência original dos filmes do que o ocorrido em Genisys. De qualquer modo, sei que não fazem parte do "cânone" cinematográfico, mas há muitas virtudes, e Lena Headey dá uma Sarah Connor infinitamente melhor que sua rival de Game of Thrones.
A ginóide Cameron (Summer Glau), modelo não identificado, enfrentando um T888, na Primeira Temporada. | A T1001 (Shirley Manson), versão mais avançada de metal líquido, na Segunda Temporada. |
Por ter falado em destino, agora num sentido mais literal, a franquia Terminator pressupõe uma visão filosófica que costuma ser chamada de Fatalismo, algo entre a Liberdade e o Determinismo, que pressupõe que todos os eventos do universo estão pré-determinados de modo que nada pode ser alterado. Isso em geral se dá de forma mecânica, tal qual a tacada de sinuca que, uma vez deflagrada, irá necessariamente deixar a mesa de bilhar com as bolas numa posição final específica, e isso se aplicaria até mesmo a nossas escolhas, que seriam em última instância disposições cerebrais de fundamento material, e por tanto sujeitas as forças causais que movem as partículas. Já o princípio da Liberdade, ou do Livre Arbítrio, pressupõe que temos espaço de decisão para definir o futuro de acordo com nossas escolhas. (Minha monografia Deus Me Livre discute extensivamente a questão Liberdade x Determinismo.) O Fatalismo, permite espaço para algumas escolhas, e não define previamente todos os eventos, porém, determina que alguns eventos tem que se dar, mesmo que admitindo formas diferentes. Assim, que a humanidade teria que ser fatalmente flagelada pelas máquinas seria um destino inescapável, mas como e quando isso se daria admtiria variações.
E aí... no ano de 2019, tivemos Terminator Dark Fate.
Vejamos, se aceitarmos a ideia inicial, o filme é aprazível, e discordo da maior parte das críticas que lhe tem sido feitas. A cena de abertura na areia da praia é genial, o fato de ser em parte ambientado no México e ter forte presença de mexicanos é perfeitamente harmônico à essência da série. Aliás, melhor seria se fosse integralmente ambientado ao sul da muralha do Texas. T1 termina com Sarah Connor no méxico, aprendendo a falar espanhol, onde, como vimos em T2, levou John Connor para uma autêntica peregrinação de treinamento de combate com guerrilheiros centro americanos. O filme termina com a icônica frase "Mira! Mira! Viene una tormenta!", que Sara reinterpreta como o vindouro apocalipse, e com tudo isso, o "Hasta la vista baby!" de T2 é só um ornamento a mais.
Sim! Tem tudo a ver o filme ter forte presença chicana! A versão da música tema em estilo viola espanhola que toca nos créditos é um primor!
Se aceitarmos a ideia inicial, tem tudo a ver termos uma heroína enviada do futuro, afinal já tivemos um homem, e exterminadores de aparência masculina e feminina, e Mackenzie Davis está uma "graça", já sendo fisicamente convincente como lutadora, e melhor ainda interpretando uma soldada biônica aprimorada. Seria ridículo colocar uma mulher comum para enfrentar o terrível Rev-9, só comparável, talvez, à T-X de T3, que aliás antecipou suas características ao fundir o endo esqueleto dos T-900 com o metal líquido dos T-1000. Kyle Reese não teria muita chance, a não ser... (Porque raios nunca tiveram a ideia de trazer armas do futuro escondidas dentro do corpo?)
Se aceitarmos a ideia inicial, a volta de Sarah Connor é muito bem vinda, apesar da péssima entrada em cena que viola até mesmo a premissa básica de sua atividade de "caçadora de exterminadores", visto que apesar de receber as coordenadas de onde estes surgirão, não estava presente em nenhum dos locais onde emergiram os viajantes do tempo, e aquele "I'll be back." do comecinho foi totalmente forçado. Mas depois melhora muito, e por fim, o tema do T-850 se humanizando foi excelente! O ponto alto do filme! Algo que merecia ser muito mais explorado. Eu trocaria metade daquelas cenas de ação por mais desenvolvimento dessa parte. Como diz este ótimo vídeo, melhor seria ter se concentrado nessa ideia e feito um filme baseado principalmente nisso. E se é verdade que o filme pode ter um alfinetada anti-Trump, Schwarzenegger, que é um político do partido Republicano, faz o contraponto com a ótima frase "afinal, aqui é o Texas", para justificar ter um arsenal em casa.
E é bobagem reclamar de ter sido colocado num papel caseiro onde até mesmo "troca fraldas sem reclamar". Isso pode soar ofensivo apenas para os pais contemporâneos, como eu, de contextos sociais muito mais liberais que nunca reclamaram disso. Mas... ali é o Texas!
Sim, Se Aceitarmos A Ideia Inicial, o filme tem muitos méritos que o tornam incomensuravelmente melhor que Genisys, talvez até mesmo que Rise of the Machines.
O único problema, é que...
Das muitas faces de John Connor, Michael Edwards, a mais antiga, apenas aparece brevemente sem falas num flashfuture em T1. Então temos Edward Furlong, interpretando o personagem aos 12 anos, T2, Thomas Dekker, da série The Sarah Connor Chronicles, Nick Stahl, T3, Christian Bale, Salvation (que mostra como ele adquiriu a cicatriz) e Jason Clarke, Genisys. Mais de 30 anos de um personagem suficientemente marcante para ser interpretado por seis atores, grandes astros inclusos. Não é algo que faça sentido descartar. |
Quando ouvi falar que John Connor morria nos minutos iniciais, pensei, "Então vão viajar no tempo para salvá-lo?" Ou seria ainda mais ousado? Que descobriríamos que na verdade o John Connor real seria substituído por um andróide? Ou teríamos um universo paralelo que restruturaria a estória toda?
Mas não. Além de terem decidido exterminar a estória original jamais levando-a ao seu devido final, decidiram iniciar outra. Mas não exatamente outra. A mesma! Mas não exatamente a mesma, e sim, com gênero trocado. Em suma, o mau e velho expediente feminista de "ocupar espaços" simbólicos masculinos, mas desde que sejam de destaque. As lideranças, os papéis heróicos, pois os "red shirts" que morrem aos quilos com requintes de crueldade, como se nada fossem, continuarão sendo homens. Nisso, o paralelismo com a realidade é mantido. E não é de hoje.
É dificil não se compadecer com a vida dura de Sarah em T2. Mas algo que chama atenção desde sempre é o modo diferenciado com que homens e mulheres são tratados em filmes de ação. Nessa sequência em T2 vemos Sarah Connor tentando escapar do sanatório onde foi internada, se assustando com o T800 antes de saber que desta vez era um aliado, para depois ser salva por ele da equipe do hospital. Repare que os homens, mesmo que não tenham efetivamente atacado o cyborg, são atingidos com muito mais dureza do que a mulher que efetivamente o atacou. Essa tendência se agrava em Dark Fate. |
E como se a ideia em si não fosse suficientemente trágica para invalidar todo um filme que no geral é até bom, ela também o contamina com uma série de outros problemas. Embora não tenha o maniqueísmo de gênero sugerido em Charlie's Angels 2019, nem tenha reduzido os personagens masculinos a vilões ou idiotas, como As Caçafantasmas, Thor Ragnarok ou MIB - International, é difícil não notar uma misandria na heroína do futuro, pelo modo como usa força desnecessária contra homens inocentes. Já no começo do filme, após nocautear os policiais, decide prejudicar, e humilhar, justo o homem que a ajudou, invés de pegar as roupas de um dos vários policiais abatidos. Até nocauteia uma mulher da segurança da fronteira também, mas aí você nota a diferença de tratamento daquele "tapinha" que deu nela para o modo como praticamente massacra os seguranças homens. Não é possível que os que não morressem não saíssem daquela com sequelas definitivas.
Os paradoxos se acentuam, pois já é estranha a simples presença do T-850 no começo do filme, sugerindo que havia chegado ao "presente" ainda antes que a destruição do T-800 em T2 surtisse o efeito de apagar o futuro da Skynet. No entanto, continuam regularmente vindo exterminadores do futuro, que só poderiam estar sendo enviados pelo The Legion, mas para quê? E por que tinham basicamente a mesma tecnologia da Skynet? Seria até interessante a premissa de que na realidade A Legião que destruiu Skynet, pois manteria a coerência, ou abraçaríamos a ideia de um futuro alternativo, mas o modo como a estória é contada não permitiria isso. Talvez tenham deixado esclarecimentos para futuros filmes, porque dessa forma tudo faz ainda menos sentido do que já fazia com a confusão desencadeada por Genisys.
De qualquer modo, a premissa está auto invalidada, pois a destruição da Cyberdine Systems de nada adiantou, a Skynet conseguiu, enfim, eliminar John Connor, o que era seu objetivo desde o início, mas... Se é assim, como ela desapareceu do futuro? Estamos amarrados num loop causal onde Connor e Skynet dependem um do outro? Sim, isso faz algum sentido, de modo que o sucesso em eliminá-lo, também elimina a Skynet. Mas isso deveria eliminar toda a viagem no tempo. E de qualquer modo, de que adianta? Salvar a nova salvadora hoje, com ficou evidente, em nada garante causalidade alguma no futuro!
Há um sintoma em franquias cinematográficas que, quando se manifesta, jamais vi não prejudicar seriamente um filme. O descarte do conteúdo de filmes anteriores, salvo quando foram absolutamente péssimos, como Highlander II, por exemplo. Esse problema já ocorreu no próprio "Universo", James Cameron, quando Alien 3, de outro diretor, decidiu jogar fora tudo que tinha sido feito em Aliens. O resultado foi um filme que até pode ser considerado bom se visto isoladamente, mas se torna revoltante dentro da franquia.
O mesmo acontece com Dark Fate.
O terceiro personagem humano mais importante da série, que natural e previsivelmente só poderia deixar de existir no processo feminista de exclusão masculina. Michael Biehn em T1, e que lamentavelmente tinha uma cena em forma de sonho em T2, mas que foi cortada da versão final. Antoni Yelchin, em Salvation ator promissor que infelizmente faleceu num estranho acidente onde foi "morto por uma máquina", no caso, seu carro automático, que mesmo com a marcha no P, avançou sobre ele quando abria um portão. E Jay Courtney, em Genisys, que também aparece brevemente como criança ao final do filme. |
Como se vê em T2, John Connor, aos 12 anos, além de já ter passado por algum contato com guerrilheiros, era capaz de hackear caixas eletrônicos e se manter fora do alcance da polícia. E as cenas estendidas deixam ainda mais claro o quanto ele já sabia de computação e engenharia. Ou seja, antes de chegar a idade adulta, John já tinha experiências e competências cruciais para se tornar o líder que viria a ser. Mas bem mais velha do que ele, o que tinha Dani Ramos?
Simpatizo muito com o papel dela como moça de família que ama seu pai e irmão, e assume o lugar da ausente mãe. E ainda mais com sua disposição a se posicionar em defesa dos operários, claramente encarnando uma liderança trabalhadora, possivelmente sindical. Mas nada disso seria útil para enfrentar a ameça de uma IA como a A Legião. A questão não era simplesmente liderar um exército, mas sobretudo saber lidar com recursos tecnológicos. E Dani, claramente, nada entendia do assunto. Aliás, não sabia sequer dirigir!
Ademais, como fica claro em Salvation, a resistência humana já existia e era grande antes de John Connor assumir a liderança. Mas Dark Fate dá a impressão que Dani Ramos construiu a resistência do nada! E em menos de uma década! Qual é a mensagem que querem passar? Que ela fez tudo apenas por ser mulher?!
Mas não se pode negar que o filme tem boas sequências de ação. |
Previsivelmente, temos uma mensagem anti natalista que menospreza o papel de Sarah Connor como mãe do salvador, para transferí-lo para Dani Ramos que, no mais intenso vibe feminista, não se torna mãe, e simplesmente se torna a salvadora ela própria. A perpétua mensagem subreptícia de que a mulher pode fazer tudo o que o homem faz, desde que se recuse a ser mãe. Mas numa ambientação pós apocalíptica como aquela, com a inevitável precariedade de condições materiais, o que nós veríamos é o exato contrário das ilusões feministas. A humanidade voltaria a papéis rígidos de gênero, dependendo tanto de alta taxa reprodutiva quanto de homens em armas para sobreviver. Numa ambientação como aquela, onde ir pro campo de batalha significa abandonar qualquer tipo de segurança e conforto, menos de uma em mil mulheres escolheria isso invés de assumir papéis tipicamente femininos e crucialmente importantes.
E se o contra argumento é a guerra ser muito rápida, não havendo tempo para que a reprodução fosse relevante, então fica ainda mais difícil engolir que desenvolveriam tecnologias como a do aprimoramento biônico humano em tão pouco tempo, nem mesmo de treinar mulheres em massa e muito menos de desenvolver uma cultura que endossasse e incorporasse esse comportamento na sociedade. E nesse ponto, embora em escala menor, esse problema já pode ser antevisto desde os primeiros filmes, ainda que não seja possível quantificá-lo, o que pode ainda torná-los verossímeis.
Aí, chegamos no ponto fulcral do Feminismo. Ele é uma ideologia essencialmente anti reprodutiva. Todas as suas bandeiras levarão, direta ou indiretamente, a supressão do papel reprodutor na mulher. Isso pode ser bem vindo em contextos de excesso populacional, mas num contexto onde a humanidade está ameaçada de extinção, ele estaria fora de cogitação. Não seria necessária qualquer campanha, instintivamente a humanidade reforçaria os papéis tradicionais de gênero e traria de volta todos os valores que hoje são considerados ultrapassados e frequentemente chamados de "machismo", homofobia, transfobia etc. Conceitos que só fazem sentido em contextos de alto desenvolvimento, conforto e fartura.
Não haveria essa de homens e mulheres lutando igualmente em tragédias apocalípticas!
Claro que o fato da resistência ser liderada por uma mulher não implicaria nessa equidade de gêneros em funções militares, aliás já tivemos em várias ocasiões reais mulheres liderando exércitos, masculinos. Mas o que está em questão aqui é o simbolismo perpetrado pelo filme, marcado pela maioria feminina no elenco de ação, ou totalidade, considerando que os personagens de aparência masculina não são humanos. Simbolismo esse que vem sendo alavancado numa miríade de filmes, que com notória frequência vem sendo rejeitados nas bilheterias. Além da ao menos aparente expressiva presença de mulheres na resistência contra A Legião.
A exclusão masculina símbolica nitidamente expressa num dos cartazes de divulgação do filme, algo que, aliás, tende a também excluir o público. É importante notar que ela é contraparte do antinatalismo, e que é sobretudo contrária à realidade factual. A história está repleta de exemplos de mulheres que assumiram papéis cruciais, inclusive tipicamente masculinos, sem jamais abdicar da função maternal e muito menos se apartar dos homens. Veja, por exemplo a brasileira Maria Quitéria (1792-1853) e a luso-brasileira Anita Garibaldi (1821-1849), que foram guerreiras quem enfrentaram homens em campos de batalha, e mães. Ao passo que na franquia Terminator, além do papel maternal crucial de Sarah Connor, lembremos que Kate Brewster é central à trama em T3 e Salvation, onde está grávida. Temos aí a maternidade incluída na série, como ocorre em toda a realidade humana. Mas eu apostaria que se Dark Fate prosperasse engendrando novas sequências, a maternidade seria totalmente excluída. |
Com o insucesso de bilheteria deste último filme, a pior da história da franquia Terminator, há quem diga que esta está... terminated. E não será exagero atribuir isso à nítida influência feminista abertamente assumida até mesmo por James Cameron.
Com base em informações do The Numbers, podemos avaliar o desempenho dos filmes ao longo de sua história. Costumo dividir a arrecadação mundial (Box Office) pelo custo de produção (budget), ignorando os custos com marketing por serem muito mais difíceis de contabilizar, mas sem jamais esquecer que um filme deve arrecadar no mínimo o dobro para cobrir tais custos. Daí se vê que o filme original, apesar de ser o que menos arrecadou, foi o mais lucrativo, visto que obteve mais de 12 vezes o que gastou. O orçamento 15 vezes maior de T2 também compensou, arrecadando mais de 5 vezes o investido e sendo até hoje um sucesso de crítica. O próximo passo já foi menos bem sucedido, mas T3 ainda obteve 2,5 vezes o que foi gasto, o que é suficiente para manter acessa uma franquia, até por não ser raro que as sequências jamais obtenham o sucesso dos filmes anteriores, mas ainda assim se mantenham. A tragédia veio em Salvation, pois o maior orçamento de todos resultou em apenas 1,8 vezes de retorno, o que, aí sim, embora ainda não possa ser considerado um fracasso, seguramente tem consequências, como por exemplo um orçamento menor no próximo filme. Aí, a tragédia piora, pois Genisys terminou arrecadando 2,7 vezes o investido, sendo mais bem sucedido que T3, e apesar de ter sofrido muito com as críticas, esse resultado é suficiente também para influenciar futuras decisões. Por fim, Dark Fate terminou se revelando o pior, 1,36 vezes o orçamento. |
É bom que isso aconteça, por dois motivos.
Primeiro pelo desrespeito ao legado da série. Se a segunda trilogia de Terminator tivesse sido concluída, poderíamos finalizar a estória com a derrota da Skynet com John Connor levando a humanidade à vitória. Aí teríamos um caminho aberto para novos arcos. Onde A Legião poderia ser a próxima ameaça, até de um futuro mais distante. Ou seja, a estória de Dark Fate poderia ser desenvolvida com poucas alterações sem jogar fora o passado dos filmes. Ou, na pior das hipóteses, poderia ter sido feito um total reboot, uma nova versão da estória original.
Mas optaram por pegar uma franquia bem estabelecida, de 35 anos, com espírito original dos 80, e onde mulheres sempre tiveram papéis relevante e cruciais, e decidiram erradicar os fundamentos que a construíram! Em especial, o fundamento masculino. Isso faz com que sim, Dark Fate seja um filme perfeitamente feminista, diferente do feminismo ingênuo do próprio James Cameron, como este artigo aqui denuncia.
Segundo, pelo recado dado pelo público, que quer se manter livre ao menos no terreno ficcional do irrefreável avanço do Feminismo em praticamente todos os espaços das sociedades ocidentais, por menos que compreenda o que isso realmente significa, o que envolve, curiosamente, algo análogo ao tema do filme. A postura de países orientais em rejeitar tal ideologia tem tornado Hollywood mais cautelosa com essa bandeira, e estamos falando de civilizações como China, Índia, África ou o "mundo muçulmano". Cada um deles, isoladamente, tem mais população do que tudo o que consideramos Ocidente, e este último, principalmente, tem invadido e transformado à Europa graças a sua baixas taxas reprodutivas, resultado direto do Feminismo. Não é preciso uma invasão de máquinas para ameaçar uma civilização!
Como a ilusão da igualdade de gêneros só pode ser mantida pela minimização, de preferência eliminação, da função maternal, o Feminismo não apenas ameaça exterminar o futuro da franquia Exterminador, mas o futuro de qualquer sociedade onde prospere.
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