OBLIVION

Refletindo sobre uma obra prima da Ficção Científica

Iniciado em Julho de 2014 - Finalizado em Junho de 2016

20.785 Caracteres


Embora com anos de atraso, finalmente reservo tempo para me dedicar a uma crítica, análise e reflexão sobre aquele que se tornou um de meus filmes favoritos em ao menos uma década. Por motivos bastante pessoais, é como se OBLIVION tivesse sido feito quase sob medida para mim. Uma estória que eu poderia ter escrito e que mesmo assim me surpreendeu.

São muitos os motivos, dos quais posso elencar.

1 - Aquele largamente reconhecido pelo público e pela crítica, mesmo a mais chata, que é o visual do filme. Mesmo os poucos que desgostaram não tem como negar que Oblivion traz imagens estonteantes, já valendo só pelo "cartão-postal", com uma direção de arte primorosa e alguns dos mais belos e impressionantes cenários naturais e pós apocalípticos já concebidos. E também há o design de produção que me agrada em especial, que é ambiente claro, branco, limpo e sofisticado onde boa parte da estória se desenrola;

2 - Outro complementar é a trilha sonora, e só não tão notado pelo triste fato de que a maior parte do público e da crítica seja incapaz de perceber diretamente as músicas de um filme. É curioso porque a trilha por vezes é sim notada, mas subjetivamente, influenciando de modo drástico a percepção geral que alguém pode ter. Mesmo a pessoa que jamais consiga reconhecer a música de um filme, pode ter sido fortemente influenciada por ela de modo a ter sua apreciação do mesmo fortemente determinada. Muitos não fazem ideia de que um poderoso motivador subjetivo que pode fazer alguém gostar ou não de um filme, ou de uma sequência, é a beleza e o modo como a música é encaixada na cena. Oblivion traz então uma trilha sonora maravilhosa produzida pela banda francesa M83 e que casa perfeitamente com a imagem. O Blu-Ray, por sinal, possui uma opção onde pode-se ver o filme somente com a música, sem as vozes e os sons;

2,5 - Assim, só pelo audiovisual, Oblivion é no mínimo um dos mais belos videoclipes de todos os tempos;

3 - Já um motivo mais pessoal é que este filme me tocou por trazer de imediato um tema que sempre me fascinou, mas que é raríssimo, se não inédito, de se ver na Ficção Científica. A ideia de se ter um planeta praticamente só para você. Um cenário vastamente natural e lindíssimo, ainda que pós apocalíptico, deserto, praticamente inabitado, mas no qual você pode explorar contando com avançada tecnologia. Note que em geral uma coisa exclui a outra na maioria das estórias de FC. Se é um mundo natural desabitado ou pós apocalíptico, tem-se tecnologia primitiva, e se há tecnologia avançada, em geral tem-se um mundo populoso e movimentado. Mas os protagonistas tem o melhor de dois mundos, espetacular conforto e recursos à disposição e cenário magnífico a seu dispor. Não consigo imaginar um emprego melhor que o do Técnico No 49 Jack Harper, ainda que, quando em campo, esteja sujeito a ameaças e perigos que no entanto só aumentam o clima de aventura. Parece a vida perfeita. Vivendo nas nuvens, com uma bela companheira que é ao mesmo tempo esposa e colega de trabalho, e como ela mesmo diz, a cada amanhecer "mais um dia no paraíso";

4 - Outro motivo pessoal é exatamente o modo como essa dinâmica do casal é retratada desde o início. A eterna e delicada relação entre o Feminino e o Masculino, nesse caso, perfeitamente representados pela Operadora Vika e o Técnico Jack. Relação harmoniosa mas ao mesmo tempo dissonante, mostrando a tendência feminina à conservação, a circunscrição do lar, à ordem, obediência às regras e por outro lado o impulso masculino pela exploração, pelo desconhecido, pelo desafio a regras e a busca de algo além de si mesmo. (Como jamais posso deixar de frisar, o Feminino e o Masculino NÃO PODEM ser diretamente traduzidos por Mulher e Homem, visto que ambos os gêneros possuem as duas características, ainda que com predominâncias. Mas NESTE CASO do filme, são representados de modo bem direto.) Posteriormente entra em cena a outra personagem feminina, Julia, que subverte essa estrutura e em parte sugere um típico conflito arquetípico Eva X Lilith;

5 - Dinâmica análoga pode ser vista na relação com a autoridade acima do casal, representada na figura feminina de Sally que simboliza perfeitamente uma relação corporativa não militar, mas sim empresarial. Apesar da situação de guerra sugerir demandar um comando miliciano tradicional, note que toda a operação parece muito mais uma atividade comercial de "mineração" cuja função do casal é dar suporte e manutenção. Até mesmo o bordão "Are you an effective team?" ressoa o espírito de corporações privadas visando incentivar e extrair ao máximo a produtividade dos subordinados, hoje chamados eufemisticamente de "colaboradores". Lembra minha própria profissão, onde o trabalho base, incluindo em campo e com certo grau de risco, é quase exclusivamente masculino, mas praticamente toda a hierarquia de comando é feminina! Isso gera alguns anacronismos curiosos que invertem a proporcionalidade entre o grau de hierarquia e o grau de liberdade, e risco pessoal. O técnico de campo Jack, apesar de ser a base trabalhadora do sistema, curiosamente goza de mais liberdade pessoal do que a operadora Vika, ainda que esta esteja muito mais diretamente ligada ao comando e tenha uma posição claramente gerencial.

6 - Por fim, o filme ainda trás algo que me é muito caro. O tema do "esquecimento de si", como o nome sugere, [E AQUI COMEÇAM OS SPOILERS] de que a realidade não seja o que parece ser, o que nos leva a questionar tudo o que pensamos saber e descobrir algo que desmente o que acreditamos. Isso tudo, sempre, conduzido por um chamado da inconsciência, das profundezas do ser, que insistem em nos mostrar de algum modo que há algo do qual não conseguimos nos livrar, que guia nossos atos de forma irresistível e nos obriga a tomar atitudes incompatíveis com aquilo que em tese deveríamos estar fazendo. Mas que, por isso mesmo, nos permite sermos tão eficientes, paradoxalmente, naquilo que enfim acabamos fazendo mesmo que contra a vontade desse nosso inconsciente.

É por esse ponto que é preciso começar.

Desde o primeiro instante já é mostrado que Jack Harper é um homem com uma forte estranheza sobre a realidade a sua volta. Ele tem sonhos que não parecem condizer com sua vida, e lamenta que sua companheira não os compartilhe. Diz "As perguntas que faço, ela não faz. As coisas que imagino, ela não imagina." o que posteriormente saberemos não ser verdade. Ela também tinha essa inquietude, mas se esforçava por silenciá-la e se convencer do que lhe era dado como real.

Mas diferente da maioria das outras histórias similares onde essa perda de memória também existe, Oblivion é mais verossímil, visto que os personagens sabem que tiveram a memória apagada, bem como entendem os motivos para isso, acreditando que é para um bem maior. Isso soluciona o problema persistente em outras estórias onde apenas há essa amnésia inconsciente, o que torna mais delicada a questão dos possíveis lapsos de memória dos personagens e poderia sugerir que mais provável seria tamanha confusão mental que deveria inviabilizar a eficiência do procedimento.

Mas se você sabe que sua memória foi manipulada, quaisquer reminiscências dissonantes, qualquer desconfiança, sonhos ou outros eventos que poderiam lançar dúvidas sobre a realidade, no mínimo, e mesmo enlouquecer, ficam neutralizados porque podem ser explicados pela apagamento reconhecido, ficando então aberta a possibilidade de que, após ter a memória recuperada, todas as questões serão explicadas.

OBLIVION X LUNAR

SPOILERS de ambos os filmes!

Isso, associado ao fato de termos uma tecnologia alienígena mais avançada, torna Oblivion muito mais coerente e plausível que outro filme de FC como o qual tem sido insistentemente comparado, o anterior Lunar, de 2009, filme que apesar de ter sido muito bem recomendado, a mim desagradou enormemente. É frequentemente dito que Oblivion copiou a ideia principal, mas mesmo admitindo isso, na verdade a aperfeiçoou e levou a um estágio incomensuravelmente mais plausível.

Em Lunar temos uma tecnologia terrestre pouco mais avançada que a atual, se tanto, exceto pelo fato insistentemente inexplicável de que a base lunar possui gravidade interna muitíssimo maior que a da própria Lua. Com tal tecnologia produz-se "clones" adultos de uma pessoa, com todas as memórias do anterior preservadas, para trabalhar por um certo período na base acreditando voltar à Terra após um tempo, aceitando uma "temporária" falta de comunicação com o planeta devido a uma suposta falha técnica, levando o solitário operador da base a apenas receber mensagens em vídeo de sua família.

Enfim, claro, descobre-se que essa família já ficou há muito tempo no passado, que o clone está destinado a morrer por ter um tipo de prazo de validade ao estilo replicante de Blade Runner, e que tudo à sua volta não passa de uma armação para que trabalhe na base sem qualquer perspectiva de ir embora, até morrer e ser substituído por outro clone. Sistema esse sujeito a falhas evidentes, como fica claro na situação que se desenrola na trama.

Afora os já problemáticos e inexplicáveis transplantes de memória, clones que ja nascem adultos e questões relativas a limitações tecnológicas, tem-se a fragilidade da questão ética envolvida. Como fica evidente no filme, tal procedimento é repudiado na Terra, e por isso mesmo feito em segredo, o que por si só implica não apenas numa horrenda atitude anti-ética, mas social e politicamente arriscadíssima, com consequências econômicas desastrosas. Os mais simples cálculos não parecem suportar a noção de que tal coisa seria sequer recomendável de um ponto de vista prático, a julgar pelo prejuízo terminal que seu desmascaramento causaria, como de fato termina acontecendo.


A entidade extraterrestre TET.

Voltando a Oblivion, notemos que seu tratamento muito mais sustentável elimina TODOS os problemas conceituais de Lunar. Primeiro, a inteligência artificial extraterrestre responsável pela situação não deve satisfações a ninguém, e evidentemente tem todos os motivos para agir de forma anti-ética para com os personagens sem correr quaisquer riscos políticos e sociais. Segundo, ela possui uma tecnologia mais desenvolvida, e em momento algum se fala em clonagem, de modo que podemos pressupor uma tecnologia de cópia integral do organismo original, que não tem os problemas da implausibilidade de replicação de memórias num clone. Terceiro, ela usa um recurso de contenção muito mais eficiente, o apagamento de memória cujos personagens estão cientes, e uma constante comunicação com um comando superior dando a nítida impressão de estarem lidando com outras pessoas, sem contar uma boa satisfação pela qual é preciso um isolamento da suposta humanidade restante.

Além de tudo isso, em quarto, há um mecanismo pronto de segurança contra falhas, onde ao devido sinal de que a equipe não mais seja eficiente, aciona uma pronta operação de eliminação, tudo isso a custo mínimo para a IA extraterrestre, que conta com vastos recursos para substituir as cópias defeituosas. O sistema é tão bem feito que, como se vê no filme, somente um evento altamente singular e significativo foi capaz de expor a realidade e frustrar o sistema, e não um imprevisto banal como se vê em Lunar.

Por fim, e em Sexto, os personagens de Oblivion vivem uma vida agradável, confortável, até luxuosa, tem um ao outro, e, voltando ao que comentei no início do filme, até mesmo motivos para querer estar ali. Em Lunar, por outro lado, trata-se de um trabalho tedioso, claustrofóbico, sem opções de lazer e por isso mesmo estressante, aumentando enormemente as chances de erro.

Em suma, só posso lamentar que alguém elogie um filme tão fraco em sua premissa e roteiro, como Lunar, e ao mesmo tempo critique Oblivion que utiliza premissa similar num nível incomensuravelmente mais plausível e elaborado.

PÓS INVASÃO

Há duas premissas básicas de estórias de Invasões Extraterrestres, numa a invasão é brutal e explícita e não há qualquer entendimento entre os invasores e os invadidos. Noutra temos o esquema de infiltração onde a invasão é sutil e há cooperação voluntária ou não entre as partes. A modalidade de Oblivion se dá num futuro pós invasão do primeiro tipo, mas em todos os filmes com essa premissa sempre a estória ocorre durante a invasão em si, onde os ETs são derrotados ou a estória ainda fica por ser continuada.

No cinema de grande repercussão, é o caso de War of The Worlds de 1953 e 2005, Earth Vs Flying Saucers de 1956, Indepence Day e Mars Attack ambos de 1996, Signs de 2002, nos quase simultâneos Skyline 2010 e Battle: Los Angeles de 2011, e em The Darkest Hour, de 2012, a estória fica por continuar. E no também estrelado por Tom Cruise Edge of The Tomorrow, 2014, há uma variação na qual, diferente de todos os outros, a invasão não é global, mas focada na Europa embora em constante expansão, permitindo que a maior parte da humanidade ainda continue com uma rotina pouco alterada enquanto a combate se desenrola numa área do planeta.

Afora a injusta acusação de plágio de LUNAR, fato é que Oblivion tem uma premissa praticamente inédita no cinema. Já são raros os filmes que retratam uma pós invasão extraterrestre, quer seja uma bem sucedida, como Battlefield Earth (2000) ou uma frustrada, como Ender's Game (2013). A Quinta Onda já é um exemplo que mistura as premissas de invasão violenta e explícita e a de infiltração.

Também a já citada ambientação pós-apocalítica com tecnologia avançada é inédita, com o toque evidente de uma hecatombe nuclear que teria enchido o planeta de radiação. Isso, por si só e para quem conhece a tradição de FC, impressiona pela ousadia em explorar algo novo. Depois, é claro, descobre-se que as coisas não são o que parecem e o enfoque do filme muda, porém para outra abordagem inédita. Ou seja, temos uma ambientação inicial já inovadora que depois é trocada por outra mais inovadora ainda, onde todos os papéis acabam se invertendo.

Ademais, o invasor no caso também é algo inédito. Invés de aliens biológicos temos uma única Inteligência Artificial extraterrestre, o que, convenhamos, ganha em plausibilidade uma vez que não precisa carregar consigo vastos sistemas de suporte de vida para manter tripulantes. Fica em aberto o motivo da invasão, mas aí já temos o distanciamento argumentativo necessário para que os propósitos de tal inteligência extraterrestre nos sejam obscuros.

Tal inteligência em si, chamada TET (cuja única explicação para o nome me parece o formato de Tetraedro), é particularmente interessante, e como já escrevi antes ao comentar outro excelente filme: "Chama atenção sua característica manipuladora, ardilosa, porém temperada por um terrível incompreensão da natureza humana, ainda que capaz de influenciá-la com alguma eficiência graças a vários recursos. É especialmente interessante o modo como, ao final do filme, o personagem usa uma "Meta-Mentira" capaz de enganar a IA mesmo que esta detecte padrões sutis que denunciam inverdades. Ele diz a verdade de uma forma indireta, que para efeito da pergunta, acaba sendo mentirosa, e termina a ludibriando." Pensando nELA

PROBLEMAS

Claro que o filme os tem, a começar pela bela casa nas alturas, o que sugere uma tecnologia muito estranha, uma vez que não parece haver recursos antigravitacionais em uso, a julgar pelos propulsores da nave bolha e dos drones. E além disso isso não soa nada recomendável num ambiente sujeito a tempestades. Faria mais sentido que a base fosse completamente flutuante e desconectada do solo. Infelizmente foi excluída da versão final a cena deletada onde é mostrado que a casa possui alguns recursos de mobilidade, que talvez atenuassem ou mesmo explicassem essa aparente implausibilidade.


Uma das cenas deletadas.

Também parece bastante improvável que a TET não teria meios de se comunicar com seus operadores e drones enquanto estivesse do outro lado do planeta. Mesmo apelando à única justificativa plausível, que o sistema funcionasse tão perfeitamente que jamais fora necessário tal contato permanente, ainda assim com a tecnologia envolvida colocar satélites retransmissores em órbita teria dificuldades irrelevantes. Mas em termos da narrativa é notório que isso é fundamental para o desenrolar da trama e é difícil oferecer uma alternativa plausível.

Considero a sequência de ataque dos drones na base da resistência excessivamente longa e angustiante. Poderia ser reduzida para metade do tempo sem prejuízo, liberando mais espaço para coisas mais interessantes. E nesse ensejo vou citar basicamente 3 coisas que, para mim, separam Oblivion de um filme praticamente perfeito.

1 - Mais clima inicial. Eu realmente gostaria que o filme fosse mais longo na primeira parte, na rotina diária de Jack, em especial explorando os magníficos cenários que acabam por ser insuficientemente utilizados. Ao menos um dia adicional onde ele visitasse Nova York devastada de um ponto de vista mais imersivo. Aproximadamente a 1:15:25' há uma brevíssima sequência onde se pode ver as ruínas da cidade. Isso deveria ser melhor explorado. No trilha sonora oficial há até mesmo uma ótima música intitulada Earth 2077 que simplesmente não está no filme, e que poderia ser aproveitada em cenas adicionais, e muitas das artes de divulgação do filme mostram cenas que não existem em momento algum. Em suma, gostaria muito que o filme fosse mais "enrolado", nos levando a sentir ainda mais, com o personagem, a tristeza por descobrir que nada era o que parecia.

2 - Vika merecia ser salva. Embora eu entenda a intenção dos produtores de delinear a personagem como um símbolo do conformismo e a resistência a encarar a realidade e mudar, não vejo porque a Vika esposa do Operador 52 não poderia ter, diferente da morte trágica da 49, um final redentor. Nada há que deponha contra a humanidade da companheira do "casal", como a sequência deles ainda astronautas humanos mostra. A mim, uma única cena de poucos segundos seria suficiente, mostrando ela, por exemplo, de mãos dadas com algum dos outros homens ao final do filme, quando Jack 52 acha a casa do vale, o que simbolizaria que ela superou o relacionamento incompatível e se integrou à humanidade.

3 - Alguns elementos da sequência final mereciam ser alterados.

Um deles já é, na realidade, praticamente uma tradição simbólica hollywoodiana, que é o desligamento imediato e desastroso dos drones assim que TET é destruída. Note que isso tem sido regular na cultura pop, quer na fantasia, como o desabamento imediato de Mordor com a destruição do Um Anel, ou a desativação imediata dos dróides de combate após a destruição do centro de comando em Star Wars Episódio I - A Ameaça Fantasma. Oblivion ficaria melhor sem esse clichê. Penso que faria mais sentido se os drones prosseguissem com sua programação, o que seria péssimo para os poucos sobreviventes, ou ao menos que parassem e ficassem de Stand By aguardando indefinidamente novas instruções. Note que era regular que ficassem sem contato com a TET quando esta estava offline. Porque então desabaram quando o sinal de repente sumiu?


É assim que uma imensa estação espacial deve explodir de forma convincente!

Na sequência final dentro da TET, após esbanjar realismo físico, o filme recorre ao velho clichê da gravidade artificial inexplicável, praticamente onipresente na FC. Tudo bem que demonstrou saber que não há gravidade notável no espaço na ótima sequência astronáutica passada na Missão Titan em 2017, e então é evidente que a tecnologia superior da TET é a responsável pela gravidade além da claramente anunciada "atmosfera providenciada". Seria muito mais interessante se a sequência fosse em microgravidade, ou ao menos, muito mais fácil que TET anunciasse "atmosfera E GRAVIDADE providenciada" pouco antes de Jack desembarcar, uma vez que a nave veio flutuando sem propulsão por boa parte do trajeto.

Por fim, a frase final de Jack é nada menos que "Fuck You Sally!" O que embora seja perfeitamente compreensível do ponto de vista psicológico do personagem, ficaria muitíssimo mais elegante e harmônico ao sentido do filme se fosse "Go To Hell Sally!", especialmente após ela dizer-lhe "I am your God!" Não é toda vez que um personagem tem a oportunidade de parodiar Conan - O Bárbaro, quando este manda seu próprio deus para o inferno.

4 - 2017? Há muito tempo venho notado que os filmes de FC hollywoodianos parecem obcecados com a própria obsolescência. Ou seja, ambientam estórias em futuros que em pouco tempo se tornam anacrônicos com a realidade que logo os alcança. Como por exemplo Real Steel, que prediz lutas de robôs avançados em 2016, após a proibição dos lutas de humanos! Isso, num filme de 2010, era já na época completamente insustentável! Oblivion, seguindo a tradição, concebe um missão tripulada a Titan no Ano 2017, mesmo quando já sabíamos que sequer missões tripuladas a Marte se dariam antes de ao menos 2025. Já a data onde se passa estória, 2077, não é problemática nesse sentido, de modo que poderia-se alargar a data inicial sem sequer mexer na data final, tornando, aliás, a estória até mais plausível, visto que a resistência humana teria tido que se virar por menos tempo.


Concepção perfeita exceto pela época incompatível.

5 - Redundância narrativa. Na abertura do filme a voz de Jack, em off, nos explica a premissa inicial. Na primeira vez, tendo ido ao cinema com noção mínima do que seria o filme, já achei a explicação excessivamente didática, embora logo após o filme tenha me conquistado. O problema é que praticamente a mesma explicação é repetida por ele mesmo quando dialoga com a "sobrevivente" que ele ainda não sabe ser sua esposa. Ainda que isso seja útil para espectadores menos atentos, me parece dispensável. Poderiam ao menos ter enfatizado pontos diferentes do historico da invasão.

AN EFFECTIVE TEAM

Oblivion é um filme que não espero ver outro similar. Poderei ver filmes melhores, mas a sensação que este me causou parece ser única. Também não é algo que deva ter qualquer tipo de sequência, até porque a estória não o permite a não ser mudando radicalmente os elementos básicos. Talvez uma "prequência", e mesmo assim sou muito receoso que alguém o estrague. Gostaria muito de ver a estória recontada numa série, explorando muito mais os detalhes, mas também não nos moldes típicos que tem sido comuns, onde inacreditavelmente consegue-e deixar coisas mal exploradas enquanto se perde tempo com irrelevâncias.

Um videogame poderia ser bom, ainda que eu pense que é mais comum fazerem um bom filme baseado num game que um bom game baseado num filme. Aliás Oblivion é um filme perfeitamente adaptável a um game. Infelizmente a única coisa realizada foi um minigame bastante simplório para mobile, Oblivion Drone Defender, como mera promoção do filme, e que inclusive se tornou difícil de encontrar. Por sinal, além de Tron Legacy, a única outra coisa que o diretor do filme, Joseph Kosinski, tem no currículo é o videogame Destiny.

Também não há uma obra literária prévia, exceto um livro ilustrado criado pelo próprio diretor e principal responsável por essa grande obra da Ficção Científica, mas que no entanto jamais foi publicado embora suas artes sejam fáceis de encontrar na web. Além de Kosinski, não se pode negar a importância de Tom Cruise, que já tem alguma tradição na Ficção Científica tanto no estúpido Minority Report quanto na boa refilmagem de Guerra dos Mundos, por sinal ambos os filmes dirigidos por Steven Spielberg.

Além dos extras do Blu-Ray, que fiz questão de adquirir, a única coisa que ainda espero ser lançada é uma versão estendida que ao menos integre as 4 cenas deletadas, que podem facilmente ser encaixadas dentro do filme enriquecendo ainda mais o conteúdo e preenchendo algumas lacunas. Penso eu mesmo em realizar essa edição, embora ainda tenho esperança que Kosinski lance sua versão do diretor.

Enfim, evitei tocar numa série de outros assuntos sobre o filme, de modo que quem porventura não o tenha visto mas tenha decidido ler este texto, apesar da advertência de spoilers, ainda terá muita coisa a descobrir por si. Sequer mencionei os demais personagens, deixando de fora especialmente Julia, interpretada por Olga Kurylenko, a rival de Vika, Andrea Riseborough, que é a força motriz da virada na narrativa. E falei bem pouco na perfeição musical que o filme possui, sendo um deleite musical do primeiro ao último segundo.

Com tudo isso, a presença de um astro consagrado como Morgan Freeman e o emergente mas já celebrado Nicolaj Coster-Waldau são adicionais quase luxuosos num filme de elenco tão pequeno, mas com um TIME EFETIVO de talentos tanto à frente quanto atrás das câmeras. Apenas 7 atores são citados nos CAST do créditos, uma das quais nem tem falas.

Oblivion é um filme que merece ser visto e revisto indefinidamente, que me surpreende a cada vez que vejo não importa quantas sequências eu já tenha memorizado. E que sei que dificilmente sairá do Top 10 de meus filmes favoritos.

Marcus Valerio XR

Iniciado em Julho de 2014
Finalizado em Junho de 2016

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