Sendo um feminista, sempre defendi o acesso das mulheres ao poder e de fato penso que nosso mundo seria melhor se recaísse sobre predominante controle feminino. Por isso mantive o otimismo sobre os rumos de nossa civilização, apesar dos percalços, e a crescente emancipação feminina.
Como sempre estudei ideologias contrárias as minhas, tenho examinado também o movimento Masculinista (ou Neo-Machismo), e outras formas de Conservadorismo, Reacionarismo e Anti-Feminismo em geral, e nunca me impressionei muito com seus argumentos, pois mesmo os que me parecem corretos, não constituem mais do que apontamentos sobre os naturais acidentes de percurso de qualquer progresso social.
No entanto, ao tomar contado com o termo HIPERGAMIA (propensão a se envolver com um par de status superior) 1, me deparei com um sintetizador conceitual capaz de dar uma maior coerência aos alarmes dispersos que têm sido disparados por aqueles que apontam uma insustentabilidade crescente das conquistas feministas 2. Não por essas conquistas em si, mas por um tema que parece ausente nas questões de gênero e que a meu ver, constitui sim um ameaça ao progresso feminino em nossa civilização.
Essa série de textos, que começou com preocupações distintas e desconectadas, acabou convergindo sob esse conceito unificador, e para isso, devo desde já comunicar que:
Estou utilizando HIPERGAMIA (e Poligamia) num sentido mais amplo do que o meramente sociológico, embora também mais rígido. Se aplicando não apenas ao casamento, mas à qualquer forma de relacionamento de ordem sexual, mesmo porque faço uma abordagem de base biológica. Ao mesmo tempo, não admitindo que se aplique à idéia de se associar a pares vistos como do mesmo "nível", mas sim, sempre superiores.
O mote central é que embora ambos possam se aplicar tanto a homens quanto mulheres, os instintos masculinos tendem à POLIGAMIA, mas os femininos à HIPERGAMIA, pois assim como a Poliginia é muitíssimo mais comum que a Poliandria, também a Hiperandria e muitíssimo mais comum que a Hiperginia. Assim, invariavelmente, Hipergamia estará sendo aplicada à propensão feminina.
Também estou usando os conceitos de machos ou fêmeas ALFA e BETA de uma forma focada na sexualidade. Alfa seria sempre o que tem a preferência sexual, independente de outras correlações, cobrindo então desde o nível pré-humano até o nível social, quer seja, no caso do Homem Alfa, essa prerrogativa obtida por meio da força bruta, da sedução ou do apelo social.
O objetivo principal dessa série de textos é refletir no quanto a falta de abordagem sobre o sentimento de Hipergamia, que parece tabu 3, pode sabotar as conquistas recentes da emancipação feminina, ameaçando nos levar a uma situação que forçaria uma reversão desses ganhos, ou poderia enfraquecer nossa civilização a ponto de torná-la superada por outras que não reconhecem conquistas feministas, principalmente o Islã.
Os textos são:
Esta introdução 27/09/2011 - 11.219 caracteres. Adicionada tardiamente, após o terceiro texto, como forma de introduzir a temática que ficou mais ampla do que eu esperava, e para de imediato estabelecer alguns parâmetros afim de prevenir mal entendidos.
HIPERGAMIA - Fundamentação 02/02/2013 - 43.581 caracteres. Na verdade o mais recente dos textos, um tipo de extensão da introdução que sintetiza a maior parte do conteúdo de minha palestra dada no dia 31/10/12, que não é mera repetição do conteúdo dos textos seguintes. Pode ser pulado para quem já está familiarizado com tema, mas é ESPECIALMENTE RECOMENDÁVEL a quem tem ojeriza à PSICOLOGIA EVOLUTIVA e qualquer forma de abordagem biológica, que costuma ser lamentavelmente confundida com a Falácia Naturalista e sua tola crença em Ordens Naturais do Mundo que não podem ser desafiadas. Também acrescenta um histórico pessoal do tema e alguns elementos adicionais que estão apenas implícitos nos demais textos.
Hipergamia I - Atração Fatal 08/09/2011 - 15.215. Que se foca no tipo mais primitivo de Homem Alfa, que se impõe pela força e violência, e em nossa civilização frequentemente se apresenta na figura de criminosos, e mesmo assim despertam impulsos hipergâmicos de ordem sensual e material. Esse texto originalmente não tinha intenção alguma de explorar o conceito de Hipergamia em si, sendo apenas uma reflexão despertada há muito tempo sobre as trágicas escolhas de algumas mulheres por tipos violentos, e que começou a ser concebida desde o Caso Eloá.
Hipergamia II - Atração Imoral 11/09/2011 - 17.400. Enfoca um tipo mais sofisticado de Homem Alfa, que conquista mulheres pela sedução. O típico "cafajeste", Dom Juan, Casanova, Serial Lover, etc. Despertando o tipo mais sensual, puramente "genético", de Hipergamia. O que já é um grande avanço em relação ao tipo anterior, mas que também promove um impacto negativo na sociedade.
Hipergamia III - Atração Social 14/09/2011 - 20.050 Aborda o terceiro e menos espontâneo tipo. O Beta que ascende à Alfa por meio de recursos materiais, passando a não apenas despertar a Hipergamia no nível mais sofisticado, o apelo material em benefício da descendência. Bem como aborda potenciais conflitos com o Alfa de tipo anterior.
Hipergamia IV - Atração Sublimada 27/09/2011 - 21.315. Versa sobre a desejável transformação da Hipergamia feminina em outras formas de manifestação, que prometem consolidar o poder das mulheres na sociedade e evitar uma possível reversão devido a incompatibilidade de impulsos hipergâmicos numa civilização rumo a plena equalidade, ou mesmo à uma ginocracia.
GINOTOPIA (Hipergamia V - Atração Transhumana) 03/05/2012 - 43.680. Especula sobre possibilidades futuras, flertando com a Ficção Científica e tentando antever sociedades Ginocráticas utópicas, distópicas e Equalocracias, se inspirando em Ginotopias lendárias e literárias. Apesar de enormemente maior que os demais, ainda assim não conseguiu esgotar o assunto. E parte do texto sobre Lesbianismo foi retirado dele, que era ainda maior.
Adendo 1 - Hipergamia 2.5 - Atração Idólatra 30/06/2012 - 28.730. Detalha mais um tipo de alfa que mistura características dos tipos 2 e 3, e que foi apenas brevemente comentado nos outros textos. Trata-se do ídolo que provoca euforia nas fãs. Também comenta a estranha insistência dos anti-feministas na tese de que o impulso sexual feminino seja muito mais fraco que o masculino, enquanto uma análise do conceito de Hipergamia tende a sugerir o contrário.
O tema ainda deve se expandir, e como última advertência, devo comunicar que sendo um pesquisador independente de
Biologia Evolutiva, como meu site EVOLUÇÃO BIOLÓGICA demonstra, não me é possível
compactuar como Determinismo Cultural reinante na Sociologia e Antropologia, e muitíssimo influente no próprio
Feminismo, sendo sempre minha preocupação demonstrar que, embora o Determinismo Biológico também não seja cabível,
a Cultura não poderia JAMAIS ser erguida sobre outra coisa que as bases biológicas instintivas, nunca podendo
ostensivamente se voltar contra elas exceto objetivando sua própria destruição. 4
Assim, já advirto que haverá notável rejeição por parte de qualquer pessoa que insista serem os comportamentos mais
fundamentais humanos construídos culturalmente, sem dar o devido crédito ao fundamento primário sobre o qual a cultura
se sustenta. 5 E principalmente para esses recomendo o texto
HIPERGAMIA - Fundamentação.
Marcus Valerio XR
27 de Setembro de 2011
1.
O conceito de Hipergamia não é facilmente encontrado na Biologia, mas sim na Sociologia. O Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas o define exclusivamente centrado em casamentos no sistema de castas indiano, admitindo a baixa precisão do conceito ao afirmar:
A. Hipergamia designa a forma de matrimônio em que uma mulher de status inferior se casa com um homem de status mais elevado. Não se deve entender hipergamia como categoria sociológica fundamental em si mesma, nem como simples forma de matrimônio, mas em relação a uma teoria de estratificação social.
Mais adiante, no entanto, após discorrer sobre o sistema de castas indiano, explica:
C. A instituição da hipergamia deu origem a uma série de especulações e explicações, mas não surgiu nenhuma teoria coerente e autorizada. Em primeiro lugar, parece não haver nenhuma explicação estrutural satisfatória para o fato de serem as uniões hipergâmicas encorajadas e aprovadas, enquanto as uniões hipogâmicas são condenadas quase universalmente na Índia. Dicionário de Ciências Sociais. FGV. Rio de Janeiro, 1987.
Como frequentemente ocorre, a Psicologia explica com facilidade o mesmo conceito quando este é trazido a luz da Biologia Evolutiva.
2.
Desses alarmes, chamou-me atenção o de uma blogueira americana que tem sido bastante repetido, dizendo:
A vida não é justa. Estar vivo não te qualifica a fazer qualquer coisa. As mulheres estão promovendo sua própria queda com comportamentos egoístas e visão de curto prazo. O homens são maiores, mais fortes e mais violentos que elas. No último meio século nosso sistema legal agiu por fora de seus interesses, e eles sofreram a maior parte do choque econômico na mais recente "recessão". Uma "contra revolução" (backlash) está chegando. O pêndulo está começando a voltar. O que você está fazendo para se preparar para isso? grerp The Lost Art of Self-Preservation (for Women) Embora eu não concorde com parte do enunciado, perturbou-me a parte grifada. Esse backlash poderá mesmo acontecer? Ou já está acontecendo? A julgar pelo recrudescimento de posições conservadoras e reacionárias em boa parte do mundo ocidental, parece haver motivos para preocupação.
3.
E até difícil achar abordagens acadêmicas, principalmente feministas, sobre o tema, exceto no sentido sociológico tradicional. Mas os anti-feministas tem feito largo uso do conceito, e devido à grande capacidade do termo expandido em sintetizar diversas idéias, inclusive algumas de puro senso comum, num denominador único, sugerem que essa palavra tem potencial para constituir noções e memes cognitivamente poderosos.
4.
Tem havido uma notável dicotomia entre Feminismo e Anti-Feminismo, o primeiro influenciado pelo Determinismo Cultural,
o segundo pelo Biológico ou por tradições teológicas conservadoras, que têm a notável convergência de sustentar uma
natureza humana inata, negada pelos culturalistas. Isso tem gerado tremendo desentendimento, e também uma situação
inusitada entre os anti-feministas. Como a maior parte da reação conservadora é de origem religiosa, esta oscila entre
abraçar ou rejeitar a Psicologia Evolucionista. Hora a incorporando para justificar posturas androcentristas, hora a
rejeitando para não entrar em conflito com o viés Criacionista da tradição conservadora. O exemplo mais dramático que
conheço é o de um certo site lusitano que, ferrenhamente anti-feminista e anti-esquerdista, sendo vítima da incrível confusão histórica entre darwinismo e marxismo, acaba flertando com o anti-darwinismo. Porém é entusiasta do conceito de Hipergamia, quase impossível de ser desassociado do darwinismo. (O
link comenta um post de uma blogueira que, confessando sua preferência pelos Alfas Tipo 2, confirma praticamente tudo o que eu digo em Hipergamia II - Atração Imoral, mas sem usar o termo Hipergamia, que é, porém, usado pelo anti-feminista que faz a crítica.)
5.
Há tentativas de diálogo entre Psicologia Evolutiva e Feminismo, apesar do patológico ódio que muitas feministas nutrem
por qualquer conhecimento advindo da Biologia. Ótimos exemplos são
Feminists And Darwin: Scientists Try Closing the Gap, matéria de 1994, faz um resumo sobre uma conferência
na Universidade Norte Americana da Georgia. Apesar da boa intenção e disposição, há que se notar nesse texto uma
aparente e absoluta ausência de prevenção contra a confusão entre Descrição e Prescrição, o que pode muito tem ter
efeito absolutamente oposto ao pretendido. Por outro lado
EVOLUTIONARY FEMINIST THEORY - Female Intrasexual Competition: Toward an Evolutionary Feminist Theory
talvez seja o mais conciso texto na web sobre o assunto, de 2007. Aborda praticamente todos os pontos chaves,
desde a denúnca da falácia naturalista, cujo uso irresponsável culminou na rejeição feminista precipitada à
Psicologia Evolutiva, até a exortação de que uma melhor abordagem da superação da desigualdade entre os sexos deve
levar em conta suas causas fundamentais, que estão impressas geneticamente em nossa espécie.
Também esboça os critérios avaliativos para testar a eficiência de teorias, apontando devidamente as falhas do ponto
de partida essencialmente sociológico do feminismo, e suas referências são as mais competentes possíveis.
Porém, por ser um tanto introdutório, acaba sendo um pouco resumido em alguns pontos importantes, e penso que poderia
se apresentar de um modo mais adequado para quem pretende conquistar um público ferozmente avesso à suas características
essenciais, visto que só explicita sua propensão a edificiar uma nova frente sexualmente equalitária mais adiante,
após expor pontos que frequentemente fazem leituras feministas evadirem-se. É altamente recomendável também o livro
de
Griet Vandermassen, filósofa que escreveu
Who's Afraid of Charles Darwin? - Debating Feminism and Evolutionary Theory, possivelmente a mais
proeminente obra sobre o assunto.