De volta ao guardião da eternidade
Ronald Rahal
Tempo Presente.
“Diário de bordo, data estelar 43001.3. Estamos nos dirigindo para a base estelar 109, atendendo a um pedido de socorro enviado pelo comandante da estação, tenente Sprwance. Ele solicitou a nossa ajuda para resgatar um membro da sua equipe que desaparecera juntamente com o corpo celeste mais restrito da Federação: o planeta do Guardião da Eternidade. Segundo seu relato uma dupla de cientistas havia sido enviada numa nave auxiliar para investigar um fenômeno que estava ocorrendo com a anã branca, em torno da qual girava o planeta do Guardião. Antes de retornarem, foi avisado de um problema que ocorrera durante a missão. O membro restante conseguiu voltar à base, mas o outro continuava desaparecido, juntamente com o planeta inteiro. Minhas instruções do Comando da Frota são para agir com extrema cautela devido à complexa entidade que habita o mundo designado como GW-01”.
Conforme instruções do Comando da Frota Estelar a Enterprise fora desviada da exploração que fazia para entrar num setor da Federação, considerado de segurança máxima. A base estelar Cento e Nove, estrategicamente construída próxima ao planeta, tinha como principal objetivo, policiá-la e evitar as intrusões principalmente dos romulanos e klingons, que eram os principais inimigos da Federação, na época da legendária nave Enterprise NCC-1701 comandada pelo não menos polêmico, capitão James T. Kirk. Numa data estelar posterior, a estranha entidade fora novamente visitada pelo seu antigo imediato, e hoje embaixador, Spock. O local onde se situava a entidade que se auto-intitulava o “Guardião da Eternidade”, era mantido secreto pelo alto escalão do comando, sendo apenas conhecido por alguns como o ponto GW-01.
Depois da visita exploratória da nave e da avaliação potencial de perigo, que quase mudara a história da terra pela intromissão involuntária do Dr. McCoy, a Federação seguindo uma recomendação do antigo imediato da Enterprise, proibira qualquer acesso ao setor e só abrira uma exceção para uma equipe de físicos que regularmente monitorava o engenho alienígena e reportava suas medições para a base estelar.
Picard assim que recebeu as novas instruções do Comando para desviar-se para o planeta, procurara se informar acessando os arquivos de uso exclusivo de altas patentes, para saber o que ocorrera com a antiga Enterprise. O que viu, deixou-o sobressaltado e apreensivo sobre qual a melhor maneira de cumprir a missão para a qual fora designado. Recebera uma vaga noção sobre a estranha entidade que foi deixada no planeta para o qual se dirigia. E fora alertado sobre as tremendas implicações temporais que qualquer ato não planejado poderia causar no contato com a entidade que se auto-intitulava “Guardião”.
Jean-Luc estava revendo os arquivos confidenciais em busca de informações que pudessem ajudá-lo na nova missão quando Worf o interrompeu, avisando que já era possível à comunicação visual com a base estelar Cento e Nove.
Ele agradeceu o oficial klingon, desligou o seu console e atravessou a porta da sua cabine para a espaçosa ponte de comando.
Sentou-se na poltrona de comando, ladeado pelo assento de seu imediato, o senhor Will Riker e fez um sinal para o klingon - Na tela senhor Worf.
A figura de um jovem tenente preencheu toda o campo da tela central. Os seus dois grandes olhos azuis denotavam uma certa apreensão e a ansiedade era evidente no tom de voz à medida que relatava os fatos para o capitão da Enterprise.
- É como lhe estou contado capitão. Observamos uma súbita irrupção de um jato de plasma na direção do planeta. A máquina-viva que o habita estava inerte fazia já um bom tempo. Os sensores repentinamente detectaram uma súbita emissão de ondas temporais, sinal de que alguma atividade estava em andamento. Por sorte não havia nenhum membro da minha equipe lá. A doutora Stevens foi voluntária para a missão de investigação e rumou para o planeta com o alferes Sunar, do planeta Vulcano. No percurso ela relatou problemas com a nave auxiliar e conseguiu ejetar o companheiro numa cápsula de fuga. Depois disto perdemos contato com a nave e o planeta desapareceu dos sensores. Resgatamos o alferes, mas devido à singularidade da entidade que o habita pedi instruções à Frota que me ordenaram a aguardar a sua chegada.
O capitão Picard ouviu atentamente o restante do relato do tenente, interrompendo-o às vezes com algumas perguntas sem, no entanto compreender o que exatamente estava acontecendo. Picard sabia os potenciais perigos que o planeta oferecia e decidiu fazer uma aproximação cautelosa. Assim, finalizou o contato com a base Cento e Nove, e mergulhou o vaso estelar para o interior da zona, confirmando, à medida que se aproximava da estrela, uma drenagem constante de plasma deste Sol para as coordenadas do planeta do Guardião.
As mensurações prosseguiram tranqüilamente, enquanto uma leve trepidação atingia a Enterprise em intervalos regulares, provocadas pelas ondas temporais que o desaparecido planeta do Guardião continuava emitindo.
À medida que se aproximava do objetivo a ansiedade de Picard aumentava fazendo-o caminhar para um lado e outro na ponte. Periodicamente interrompia a caminhada fazendo perguntas aos tripulantes que monitoravam as telas de sondagem.
Às vezes aproximava-se da tela e ficava observando-a em busca do planeta. Noutras pedia que aumentassem a resolução das telas para que pudesse localizá-lo.
Data foi o primeiro a chamar sua atenção.
- Alguma novidade senhor Data? – perguntou o capitão Picard, mantendo os olhos firmes na tela e esforçando-se para achar alguma coisa que pudesse identificar como o corpo planetário que procuravam.
- Não estou bem certo senhor. - respondeu Data prontamente. – Os sensores informam um forte fluxo de táquions.
- Do planeta do Guardião, presumo?
- Exato, mas há algo errado senhor. Se os instrumentos estão funcionando corretamente, o planeta não se encontra nas coordenadas conhecidas, registradas pela Enterprise NCC-1701.
O capitão Picard levantou-se de sua poltrona e resolveu pessoalmente checar os sensores que estavam no painel à frente de Data.
Caminhou até à posição do andróide, tocou alguns comandos, e seu rosto denotou um misto de espanto e curiosidade.
Voltou-se para a sua poltrona e enfaticamente ordenou a ampliação máxima da tela dianteira. Ela tremulou e teimosamente continuava sem dar sinais do planeta do Guardião.
Os experientes olhos de Picard ficaram observando por alguns minutos a paisagem, salpicadas de estrelas até que com um movimento brusco da mão direita, apontou para um pequeno objeto que eclipsava algumas delas em seu lento deslocamento.
-Vejam! Aqui! Bem aqui! O que os sensores acusam senhor Data?
O andróide manipulou alguns botões do painel e voltou-se para o capitão postado diante da tela.
- As coordenadas estão corretas senhor. Porém os sensores visuais nada registram. Nenhuma massa, nada. Apenas um fluxo de ondas temporais.
De repente o painel do tenente Worf foi ativado.
- Capitão! Estamos recebendo um pedido de socorro!
- Pode identificá-lo senhor Worf?
Data adiantou-se ao pedido do capitão.
- Com licença capitão.
- Do que se trata senhor Data?
Data olhou os sensores de longo alcance de navegação da Enterprise, e depois virou para o capitão Picard, num gesto que aprendera a imitar dos humanos.
- Estou captando também o sinal senhor. Mas há algo errado.
- E o que é senhor Data? – adiantou-se o primeiro oficial Riker.
- O sinal é de uma nave auxiliar e pela freqüência, trata-se da nave que levou a última equipe de físicos para o planeta. Diz estar com problemas nas suas naceles e pede para nos aproximarmos. Só que este sinal, senhor, segundo meu sensor, foi emitido há mais ou menos...Quatrocentos anos!
Picard virou-se na direção do senhor Worf e pediu-lhe que verificasse se os dados do sinal conferiam com os sensores do andróide.
- Perfeitamente capitão! É da nave auxiliar Kepler da base Cento e Nove e foi emitido há exatos... 430 anos!
Picard olhou para o seu imediato com uma expressão de assombro que apenas devolveu-lhe outro olhar interrogativo. Will ajeitou-se na poltrona e fez um pergunta ao andróide.
- Senhor Data. Poderíamos estar diante de um fenômeno relativístico?
O andróide virou-se novamente na direção dos dois, sem esboçar qualquer traço de emoção. – É provável que o fluxo temporal distorça a emissão do sinal causando sua dilatação.
- Muito bem senhor Data! – exclamou Picard. - Marque um curso na direção do sinal.
A nave acelerou na direção da fonte. Sem aviso algum ela adernou ao topar com um copioso fluxo de partículas, que jogaram ao chão todos aqueles que não estavam sentados em seus assentos. Em meio ao ensurdecedor sinal de alerta todos na ponte viram através da tela, partículas aglutinando-se num turbilhão de brilho azul-esverdeado chocando-se furiosamente contra os escudos frontais da nave. Era a energia deste campo que sacudira toda a Enterprise danificando os sistemas e por alguns instantes mergulhando todos numa escuridão indesejada até que as luzes de emergência avermelhada inundassem a ponte.
- O que estamos atravessando senhor Data? – gritou o comandante Will Riker, segurando-se na sua poltrona.
- Trata-se de um campo taquiônico nunca registrado antes senhor. Acabamos de passar por ele. Os sensores indicam também que o planeta desaparecido encontra-se à nossa frente.
- Alerta vermelho senhor Worf! Postos de batalha! – ordenou o imediato.
Em meio ao som estridente da sirene de alerta e o corre-corre dos tripulantes, o primeiro oficial Riker olhou para o capitão. – O que acha senhor? Poderia ser alguma manobra romulana? Ou de alguma raça hostil?
Picard meneou a cabeça e virou-se na direção do klingon. - Alguma interferência subespacial senhor Worf?
Worf não tinha condições de responder naquele momento, pois, não queria acreditar no que o seu painel indicava.
O capitão logo percebeu a hesitação de seu oficial. – Algum problema nos instrumentos senhor, Worf?
- Não capitão! É que simplesmente a base estelar Cento e Nove não existe mais. Os sensores não indicam sua presença.
Todos na ponte trocaram olhares interrogativos e consultaram seus instrumentos para certificaram-se de que a informação de Worf era correta, o que de fato era. A base deixara de existir assim como as comunicações com o Comando.
Enquanto examinava seu painel o klingon percebeu nova mensagem vinda da nave auxiliar.
- Senhor! É a Kepler.
Na tela! – ordenou o capitão Picard.
A princípio, os tripulantes na ponte viram a imagem de uma típica nave auxiliar, que logo foi substituída totalmente pelo rosto de uma jovem mulher.
- Capitão Picard? Jean Luc Picard?
- Doutora Stevens? Estou certo em presumir que estou falando com a doutora Stevens? A senhora está bem?
Picard perguntou-se mentalmente como ela sabia seu nome e o pronunciara de forma tão familiar. Tão íntima. - Já nos conhecemos, doutora?
- Sim capitão, eu sou a doutora Dora Stevens e estou bem. Quanto à sua pergunta se já nos conhecemos, digamos que de certa forma, sim capitão! Mas desculpe-me se quebro todos os protocolos da Frota. Mas eu preciso urgentemente ir a bordo da Enterprise falar com o senhor.
Picard refletiu por alguns segundos no pedido da mulher. – Doutora Stevens, a senhora sabe o que esta acontecendo?
- Perfeitamente capitão. Insisto que é urgente que me receba a bordo.
Diante da inusitada aparição da doutora e de sua insistência, deu autorização para que a nave Kepler adentrasse o hangar. Depois ordenou que substituíssem o estado de alerta vermelho para o amarelo e a engenharia restabelecesse as luzes normais. Acompanhou atentamente os monitores que transmitiam imagens das manobras de recolhimento da pequena nave e depois de trocar olhares inquisidores com os membros da tripulação, pediu que o imediato assumisse a ponte e dirigiu-se para sua cabine.
Quando a doutora Dora Stevens pediu permissão para entrar, o capitão esperava receber apenas uma visitante. No entanto, para seu espanto, duas mulheres adentraram-na.
Diante dele estavam a doutora desaparecida, agora reencontrada, acompanhada de uma jovem mulher que, se ele não estava enganado, vestia trajes típicos de algum período do século XX. Seu sorriso era enigmático e seu olhar curioso era indisfarçável.
Dora percebeu o constrangimento do capitão e procurou corrigir a situação rapidamente. – Oh! Desculpe-me capitão! Permita-me apresentar-lhe Edith Keeler. Edith, este é o homem de quem lhe falei: capitão, capitão Jean-Luc Picard, da nave estelar Enterprise.
Picard levantou-se sobressaltado, hesitando por alguns segundos em estender sua mão para a jovem. Precisou usar todo o seu autocontrole para sufocar toda a emoção e as implicações que este nome lhe causara.
- Edith! Edith Keeler! Como é possível... Como?
- Se nos permitir, eu e ela nos sentarmos, tentarei explicar ao senhor da melhor maneira possível. – disse a doutora Stevens calmamente.
Picard percebeu a sua falha na postura de capitão e fez um sinal rapidamente para que as duas mulheres se sentassem, deixando-se cair na poltrona em seguida.
Durante meia hora escutou atentamente o vívido relato da Dra. Dora Stevens, a brilhante astrofísica quântica, que estava sentada à sua frente.
- Resumindo tudo que lhe disse capitão, a Federação está em perigo e eu pedi para ser levada à sua presença, porque sei que é o único que pode afastá-lo.
Ele a olhou fixamente e procurou pesar cada palavra que ia dizer.
- Diante de tudo que fez, a senhora está ciente doutora de que violou várias diretrizes de segurança? E juntando-se a isso, quebrou também os protocolos da Frota Estelar, por tomar decisões que não lhe competiam?
Ela o olhou com um ar de súplica e fez um sinal afirmativo com um gesto de cabeça.
- Mas quero que entenda, capitão. Fiz tudo isto motivada pela compaixão. Sabia e ainda sei dos riscos e pretendo assumir toda a responsabilidade pelos meus atos. Mas, eu lhe suplico, na verdade eu lhe imploro: salve-a! Por favor, não a deixe morrer!
Picard a olhou friamente.
Edith que permanecera calada pediu permissão para falar, com o intuito de dissolver o clima pesado que se instalara entre o capitão e a doutora.
- Capitão se há alguém que deveria ser culpado, este alguém sou eu. Ela fez o que qualquer pessoa faria para salvar outra vida. É com seu eu fosse sua filha. De que crime ela pode ser acusada? De omissão ou de participação? O que faria o senhor nas mesmas circunstâncias? Deixaria uma pessoa que ama como se fosse sua filha morrer?
Ela levantou-se e o encarou firmemente. – No meu tempo eu tinha o dever moral de ajudar meus semelhantes. Seria mais fácil deixá-los à própria sorte. Mas cheguei à conclusão que eles não eram culpados por suas situações. Eram apenas vítimas de um sistema social que quase entrara em colapso. Então o destino me colocara ali para ajudá-los. Conheci muito sofrimento e como lhe disse era meu dever moral fazer o possível para amainá-lo.
O capitão por alguns instantes refletiu sobre as palavras de Edith e fez um gesto de basta com a mão.
- Verei o que posso fazer senhorita Edith. Pelo que a doutora me contou, devo ponderar cada passo à minha frente. Qualquer ação que tomar, deverá ser considerada em todas as sua implicações e creio que o único membro de minha tripulação que poderá computar todas as alternativas é o senhor Data. Agora, com a permissão das duas tenho que tomar algumas providências urgentemente.
Ele abriu a porta da cabine e deu ordens para que os oficiais de segurança escoltassem as duas mulheres até ao aposento que designara especialmente para elas. Foi bastante enfático quando lhes pediu que só as deixassem sair com sua expressa autorização.
Assim que as duas se retiraram ele marcou imediatamente uma reunião com os membros mais destacados de sua tripulação.
Tempo passado.
Era o dia tão ansiosamente esperado pela cadete Stevens. Todos os colegas que tinham conseguido passar as duras provas da Academia, também estavam ali junto com ela, aguardando impacientemente seus nome serem chamados. Apesar de todos estarem unidos na mesma cerimônia, na verdade cada um estava imerso em seu próprio mundo. O que iriam fazer a partir dali. Em que nave serviriam. E que aventuras o espaço lhes reservaria. Só despertavam deste estranho tipo de sonambulismo quando ouviam seus nomes para apresentarem à frente de seus instrutores, para receberem seus certificados simbólicos que lhes permitiria incorporarem-se à Frota.
Dora ouvia os nomes como se fosse um som distante, longe do próprio mundo que criara. Na verdade ela estava neste momento viajando em outro tempo, para o tempo do legendário capitão James Tiberius Kirk. Para o tempo que continha todos os outros tempos e que era proibido para a maioria dos mortais. A maioria dos oficiais da Frota nada sabiam sobre o planeta secreto onde hibernava a entidade mais misteriosa da Galáxia: o Guardião da Eternidade, apenas conhecido pela sigla GW-01. Com muito custo, conseguira obter esta informação que se tornara uma obsessão em sua vida.
Desde que o capitão Kirk descobrira na data estelar 30130.4, a origem de constantes ondas temporais emanadas de uma fantástica entidade que não era nem máquina nem ser vivo e ambas ao mesmo tempo, a Federação havia proibido o acesso a ele por temer as terríveis implicações que as mudanças no tempo poderiam acarretar. Só haviam feito uma única exceção: para o embaixador Spock, que o utilizara para resgatar seu filho. Mesmo assim a experiência que tivera foi arrepiante e ele pedira a proibição de visitas ao planeta.
Mas como tudo o que era proibido acabava tornando-se um imã para qualquer espécie senciente, Dora fora atraída por ele também. Ao longo dos anos, como aluna de astrofísica quântica na Academia, lera e relera muitos relatórios de capitães estelares sobre desdobramento temporais como parte de seu estudo no entendimento de linhas de tempo alternativas. Mas por mais que pesquisasse os relatos de diversos comandantes de naves estelares, sobre desdobramentos temporais, nada havia ali, que pudesse atrair sua atenção até que uma colega de quarto lhe falara sobre um mitológico lugar, conhecido apenas por alguns como o ponto GW-01. No principio pensara tratar-se de uma brincadeira, fato comum entre os cadetes até que, burlando a segurança, constatara que de fato tal ponto existia, mas pouco se sabia sobre ele. Foi então que começou a se sentir fortemente atraída por ele, como se de alguma forma seus destinos estivessem entrelaçados.
Em seus estudos, Dora nada pudera descobrir sobre este enigmático ponto. Todas as informações, mesmo depois de tanto tempo, ainda eram consideradas confidenciais e de extrema importância para o destino da Federação, a ponto de ser negada a sua existência. Ás vezes um ou outro cadete, tocava no assunto, mas nada mais era do que simples especulação. O que quer que fosse, estava envolto numa bruma de lendas e boatos e a verdade é que havia pouca ou quase nenhuma informação disponível a respeito. Dora insistira muito nos anos de Academia para ter acesso aos dados sobre a veracidade do ponto, como parte de sua formação em astrofísica quântica, mas em todas as ocasiões em que lutara por esse direito os instrutores a haviam demovido com a desculpa de que nada sabiam a respeito. Mas quando certa vez foi visitada por agentes do serviço secreto, alertando-a para não tocar mais no assunto, o fato tornou-se evidência de verdade.
- Dora Stevens! Dora Stevens!
Os membros da mesa já a haviam chamado diversas vezes e só agora, Dora se dera conta disso, imersa que estava em seus pensamentos, bem longe da realidade da formatura, que a envolvia neste momento.
Constrangida, ela levantou-se do seu lugar, passou por alguns dos colegas que a fitavam curiosos e dirigiu-se para a mesa, para receber o seu certificado de admissão à Frota e as congratulações de seus instrutores.
Foi cumprimentando um por um, até chegar ao seu melhor professor da Academia, o vulcano S’Par, a quem se afeiçoara, apesar de seu comportamento frio e distante.
Era hábito entre os vulcanos não se tocarem, mas nestas ocasiões cerimoniais faziam uma exceção à sua tradição e apertavam as mãos dos cadetes num gesto tipicamente humano, já que a sede da Frota em S.Francisco era frequentada por uma grande maioria de alunos terrestres.
Quando a saudou, S’Par olhou bem para a sua cadete enquanto a reverenciava com o tradicional “Vida Longa e Próspera” na Frota Estelar. Era esse o costume do instrutor vulcano, mas naquele dia, ele fizera outra exceção. Deduzindo um perigo latente a partir do comportamento de Dora, usara sua lógica impecável, para fazer-lhe uma branda advertência: “Deixe sua obsessão de lado. Ela só lhe trará angustia e desespero, emoções que mesmo os humanos não gostam de cultivar. Por isso esqueça-a. Que você tenha uma longa vida na Frota, cadete Dora Stevens, e prospere em sua carreira”.
Ela apenas o olhou de forma curiosa, sem entender muito bem o que ele quisera dizer com aquelas palavras enigmáticas. De qualquer forma, ele a tinha brindado com um raro momento do comportamento vulcano e respeitosamente respondeu, levantando a palma da mão com os dedos abertos. S’Par fez o mesmo e ela abaixou a cabeça, afastando-se em seguida.
Tempo passado. Alguns anos depois da formatura.
Aquela informação lhe custara muitos créditos. Mesmo no século XXIII a cobiça humana não cessara. Sempre havia alguém disposto a pagar por algo que considerasse valioso demais.
Já que Dora não pudera obter as informações do planeta GW-01 pelos canais normais resolvera optar por outros meios. Procurou agir de forma que ninguém suspeitasse de si.
Tinha sido difícil não despertá-la em vista do que procurava. Contatara aqui e ali, sem ter muita certeza se esse era o caminho para atingir seu objetivo. Nem tinha certeza também, se não se arrependeria mais tarde de tê-lo feito, da maneira que estava fazendo agora. A necessidade pela informação fora preponderante e lá estava ela, esperando ansiosa pela pessoa que viria lhe trazer as informações que comprara.
O local era esse e a hora combinada também. Começou a ficar nervosa com a demora e por mais que procurasse manter a calma, receava que o seu comportamento a denunciasse. Sabia que tinha infringido as regras, mas era tarde demais para voltar atrás.
Logo o informante chegou. Como combinado parou diante dela como se fosse pedir uma simples informação.
- Boa noite. É este o caminho para a o quartel-general da Frota?
Ela ficou aliviada porque era esta a senha combinada.
- Sim. O senhor está perdido? Posso ajudá-lo?
Dora respondeu com a contra-senha.
- Gostaria muito. Eu tenho aqui comigo um pequeno mapa que fiz e gostaria que a senhora me ajudasse a ver se está correto.
Dora aproximou-se dele e quando pegou o mapa, notou que junto foi-lhe passado um envelope. Disfarçadamente o pegou e ao mesmo tempo entregou-lhe outro com alguns cartões de créditos.
- Olhe senhor! O mapa está correto e basta seguir este caminho que logo chegará lá.
Teatralmente ela apontou na direção do quartel e a pessoa agradeceu, rumando para o local apontado.
Ela ficou mais um tempo ali, como se apenas estivesse apreciando a paisagem do agradável jardim e depois rumou para a sua residência, lutando contra a curiosidade de abrir o envelope ali mesmo.
Tempo passado. Superfície do planeta GW-01.
Ela já perdera a conta de quantas vezes o Guardião a trouxera de volta para a superfície desolada daquele planeta. A cada retorno seu desespero aumentava mais e mais.
Tentara inúmeras vezes salvar Edith, mudando o transcurso dos eventos aqui e ali, mas o resultado era sempre o mesmo. Ela tinha que morrer para que a Federação existisse. E ás vezes não! Um fator desconhecido constantemente modificava as alterações que fazia. Eram muitas as alternativas e estava cada vez mais convencida de que o seu plano precisaria de muitas mentes. Não era trabalho para uma só pessoa mesmo com a ajuda dos bancos de dados da Kepler. Era uma tarefa árdua imaginar as conseqüências de tantos eventos e influências aleatórias. Começava a se cansar e já não conseguia por ordem nas idéias. Pensou, repensou e decidiu tentar novamente.
- Guardião! Vamos tentar a série doze. Repasse o ano antigo terrestre de 1900. Ao meu sinal inicie a seqüência e depois nas coordenadas pré-estabelecidas faça-me retornar.
Ela esperou a imagem formar-se. Quando o antigo século XX iniciou-se ela aprontou-se para pular.
- Agora!
A imagem tão esperada passou pelos seus olhos e ela tomou impulso para dentro do guardião.
Tempo presente.
O capitão Picard continuou olhando para o estranho espaço esverdeado que podia observar das janelas da grande nave. Nenhuma estrela. Nada. Só a estranha névoa que envolvia o planeta em torno do qual estavam orbitando. Aguardou todos se ajeitaram em seus lugares. Como sempre, os tripulantes que sempre tinham dado sua contribuição nas mais diversas crises estavam presentes: o seu prestativo imediato Will Riker, o sempre curioso Data, o seu criativo engenheiro-chefe LaForge, o seu eficiente oficial de segurança klingon Worf, a inseparável betazóide Deanna Troi e a não menos inteligente e elegante, Doutora Beverly Crusher. Desta vez sentia-se um clima de urgência no ar e cada um tinha opinião própria de como resolver o problema.
Um tripulante a mais fora convidado para participar da reunião: o senhor West. Formado em geohistória e especialista no que agora era conhecido como época pré-federação, fora chamado para dar consultaria à equipe que o capitão queria formar.
Tempo passado.
Assim que chegou em seu pequeno aposento, Dora abriu o envelope. Até aquele momento não a tinham enganado. A ficha de informações que contrabandeara parecia ser material genuíno. Ele consumira bastante de seus créditos arduamente economizados.
A ansiedade ditou suas ações em seguida... Rapidamente colocou a ficha no aparelho de leitura e avidamente começou a ouvir e a ver as gravações originais do diário de bordo da nave estelar Enterprise na voz do legendário capitão James T. Kirk. Era o diário completo sem a censura que fora imposta pelo serviço de segurança da Federação.
- “Diário de bordo. Data estelar 30130.4. Estamos a caminho de um estranho fenômeno que os sensores da nave captaram. À medida que nos aproximamos dele toda a nave está trepidando por causa do impacto das ondas que emanam todas de um planeta que órbita uma estrela ainda não mapeada. O senhor Spock após alguns exames preliminares concluiu que são ondas temporais”.
Dora não conseguiu dormir naquela noite. Viu e reviu várias vezes o diário de bordo completo daquela antiga missão. Estava excitada demais pelo fato de ser proprietária do diário de bordo do que considerava a mais importante missão da antiga Enterprise. Encontrara ali muito material secreto que lhe revelara o que era até então o intangível ponto GW-01. Agora entendia porque havia censura sobre esta parte do diário de bordo. Mas ao mesmo tempo descobria algo que a atraiu como uma mariposa era atraída pela luz. A figura de uma mulher carismática: Edith Keeler. Naquela ocasião, preso na Terra do século XX, o tricorder do senhor Spock conseguira registrar um futuro alternativo da história da Terra onde a Alemanha conseguira vencer a II Guerra Mundial. Descobrira que o ponto focal desta mudança era Edith Keeler. De forma alguma ela poderia ter sobrevivido àquela noite na década de trinta do distante século XX, quando o doutor McCoy e o capitão Kirk haviam-se reencontrado.
Se tivesse sobrevivido a um banal atropelamento, nada do mundo que conhecia existiria. Quando ainda estavam à frente do Guardião toda a Federação deixara de existir graças à atitude ética do doutor McCoy que chegara antes e impedira sua morte. Na tentativa de corrigir o gesto do doutor, Spock descobrira o que teria de ser feito e friamente colocara a opção diante de seu capitão. Fora uma decisão dura demais até para um enérgico capitão de Frota Estelar que jamais se recuperara do que tivera que fazer.
Os registros do senhor Spock, que naquela época era o primeiro oficial e também o de ciências não mostravam muita coisa da imagem de Edith Keeler. Algumas referências ao seu trabalho de assistente social e uma pequena foto estampada num antigo jornal que mostrava uma moça muito bonita, de aspecto frágil e delicado, mas que escondia um forte caráter. O pouco que pudera ver desta mulher lembrava-lhe algo familiar e sua obsessão para encontrá-la e conhecê-la ainda viva começou neste dia. Dora dera-se conta que de alguma forma os dois destinos estavam entrelaçados, mas ainda tinha uma vaga sensação do que era.
O caminho para o planeta do Guardião não era fácil. Durante muitos anos a doutora Stevens tentara em nome da pura investigação científica obter permissão do serviço de segurança da Frota para poder viajar até o ponto simplesmente como GW-01. Pedira, implorara e até ameaçara deixar a Frota, mas tudo em vão. O comando central sabia do enorme perigo e por mais que lhes agradasse a idéia de mudarem o fluxo temporal em favor da Federação, as alterações poderiam seguir rumos aceitáveis no curto prazo e danosos numa perspectiva que uma vida humana não poderia abarcar. Portanto os pedidos que chegavam ao comando eram sempre submetidos à apreciação de um conselho que tendo em vista os acontecimentos danosos do passado sempre acabavam por vetar qualquer pesquisa científica.
A princípio Dora seguira à risca as recomendações da Academia e os regulamentos da Frota. Mas o acesso ao tal Guardião tornara-se uma obsessão e com o tempo tomara a decisão de seguir atalhos nada éticos para conseguir o que tanto desejava.
Servira em diversas missões, aproximando-se mais e mais da zona proibida. Durante anos planejara os passos que daria para aproximar-se do ponto secreto sem despertar suspeita.
Quando finalmente conseguiu ser designada para a estação Cento e Nove, ainda estava proibida de singrar o espaço próximo ao ponto GW-01. Mesmo os que lá trabalhavam pouco sabiam sobre o que ocorria nas proximidades com exceção de em pequeno grupo, que viajava constantemente para “estudos” mas que nunca revelavam o que estudavam. Então procurou colocar em prática o plano que acalentara a vida toda.
Seu plano era simples e engenhoso. Desceria no planeta secretamente com a equipe de estudos. Quando se afastassem acionaria o artefato alienígena, enviando as ondas temporais de volta no tempo para que os sensores da base às recebessem. Depois voltaria para o passado um dia, avisando seu outro eu do que deveria fazer e retornando ao seu tempo normal. Como o Guardião mantivera-se adormecido desde que o capitão Spock deixara o planeta, a base estelar acionada começaria a investigar seu aparente despertar, enviando uma equipe. Quando a nave auxiliar fosse autorizada a coletar dados sobre o Guardião, ela se adiantaria à seleta equipe. Desta vez partiria sozinha, enganando o controle central da base. Depois, já a bordo, simularia uma pane, cortando as ligações com a base.
Durante um bom tempo, apesar de sua função de física quântica, aprendeu tudo o que podia sobre a pilotagem e o funcionamento da única nave auxiliar da estação. Quando a base foi alertada, Dora avisada pelo seu outro eu do futuro era a única que sabia exatamente o que fazer antes mesmo de deixar a estação numa “missão exploratória”.
Todos estes fatos já estavam no passado. Ejetara seu colega vulcano desacordado pelo faiser de tonteio, que encontrara inesperadamente dentro da nave auxiliar, numa cápsula de escape e rumara sozinha para o planeta. E agora ela estava ali, parada, em frente ao portal, diante do que tinha almejado a vida inteira. Todas as lembranças tinham passado diante de seus olhos e agora ela saberia o que fazer. Deu alguns passos, refletindo sobre as ordens que daria em seguida ao Guardião.
- Guardião, pode mostrar-me a história da Terra, quando passou por aqui o capitão Kirk da nave Enterprise?
Fez-se um silêncio momentâneo, seguido de um estranho ruído.
- SIM. POSSO LHE MOSTRAR TUDO O QUE ACONTECEU DURANTE O TEMPO DO CAPITÃO KIRK DA NAVE ENTERPRISE. QUER VÊ-LO AGORA?
- Quem? O capitão Kirk? - perguntou confusa Dora.
- SIM. ELE ESTÁ AQUI. TODOS ESTÃO AQUI. O TEMPO É SEMPRE IGUAL PARA MIM. NÃO FLUI COMO VOCÊS ENTENDEM. VOCÊ TAMBÉM ESTÁ AQUI EM DIVERSAS SEQÜÊNCIAS DE TEMPO. QUER ENCONTRAR-SE COM UMA DAS SUAS VIAJANTES?
Dora estranhou um pouco as palavras do Guardião já que só viajara uma vez ao passado. – Não, não quero. Nem ela nem o capitão Kirk. Aliás, os registros dizem que ele foi resgatado do passado e acabou morrendo num planeta distante e foi enterrado pelo capitão Picard.
- O CAPITÃO KIRK NÃO DESAPARECEU. ELE ENCONTRA-SE NUMA OUTRA SEQÜÊNCIA TEMPORAL. QUER ACESSA-LO?
- Não Guardião. Talvez num outro dia. Minha prioridade é outra.
- QUAL É SUA PRIORIDADE?
Dora hesitou e acabou decidindo-se logo.
- Guardião gostaria que me mostrasse a história da Terra, trinta anos antes da chegada do capitão Kirk. Quando chegar nesta etapa, avise-me, pois entrarei nela.
- AVISO – pronunciou-se o Guardião. – PARA PENETRAR NO TEMPO É NECESSÁRIO INFORMAR COORDENADA DE ENTRADA E SAÍDA, PARA QUE O VIAJANTE DO TEMPO NÃO SE PERCA EM UM CICLO.
- Ah! Certo Guardião! Esqueci-me que da primeira vez pediu-me isto. O tempo de entrada é ano 1930, mês agosto, dia 16, hora quatorze horas conforme calendário cristão gregoriano. O retorno é 1930, mês agosto, dia 17, dezoito horas. Compreendido?
- PARÂMETROS TERRESTRES ESTABELECIDOS. ATENÇÂO À SEQÜÊNCIA.
A máquina-viva resplandeceu no seu interior e uma rápida tela leitosa, cedeu lugar a uma sucessão de imagens vívidas.
- Por alguns segundos Dora ficou olhando-as hipnotizada até que quando viu a imagem certa, deu um pequeno impulso e saltou na direção delas.
No interior do Guardião.
O estranho planeta que deixara com sua baixa luminosidade fez com que seus olhos lacrimejassem até acostumaram-se com a claridade provocada pelo sol terrestre.
Não estava bem certa se viera à época exata, apesar de saber que os construtores do Guardião primavam pela exatidão.
Por sorte o local em que se materializara era bem isolado e desta forma não teria que se preocupar com a reação de olhos que testemunhassem sua súbita aparição. Afinal ela estava no século XX e sabia que fenômenos deste tipo poderiam atrair a atenção da polícia, alertada por pessoas ignorantes.
Ela vira fotos antigas da cidade de São Francisco e jamais imaginara que um dia estaria dentro de uma delas. O local era ainda uma mescla de construções levantadas no século XIX e novas do século presente. Previdente, fizera um levantamento da rua onde estava situado o abrigo onde o capitão e o senhor Spock haviam encontrado um quarto, conforme as gravações secretas. Para orientar-se trouxera consigo uma versão mais sofisticada do Tricoder que possuía muito mais recursos que o utilizado no tempo do capitão Kirk. Olhou à sua volta e notou que as ruas eram realmente desertas e contrastava com aquelas onde multidões circulariam no futuro. Sentiu-se em paz com a tranqüilidade que a localidade transmitia.
Foi então que se deu conta que estava trajando vestimentas incompatíveis com a época que vivia agora e teria que arranjar roupas apropriadas para as mulheres deste tempo para não chamar a atenção. Lembrou-se do relatório do capitão Kirk que relatara ter roubado roupas num dos becos da cidade para melhor poder passar despercebido aos habitantes da cidade e esta agora, deveria ser sua primeira providência.
Como se materializara nos subúrbios da cidade, caminhou um pouco e logo deparou com várias casas que possuíam em seus quintais varais cheio de roupas. Ficou sem coragem para roubá-las. No entanto, à medida que caminhava, mais e mais chamava a atenção por causa do uniforme da frota. Logo, pensou, alguém a denunciaria. Ficou mais confiante quando passou em frente a uma pequena loja que expunha numa modesta vitrine um manequim vestido com as melhores roupas femininas da época. Como não dispunha de dinheiro teria que engendrar um plano para ficar com ela.
Entrou calmamente na loja e não deixou de chamar a atenção de todos que lá estavam. As mulheres quando a viram, cochicharam entre si e Dora fez de conta que não era com ela. Aproximou-se de um rapaz que lhe pareceu ser o ajudante da loja e pediu-lhe para ver a roupa exposta no manequim.
- Perdoe-me pela minha aparência senhor, senhor?
- Smith, madame. John Smith. Eu me dirijo a quem?
- Ãh? Dora, Dora Stevens. Como eu estava lhe dizendo, minhas roupas são originárias da Mongólia, onde meu pai era um missionário cristão. Eu e minha mãe moramos muitos anos lá até à morte dele. Que Deus o abençoe! Chegamos à América ontem e hoje saí para comprar novas roupas para mim e para ela, entendeu? Aquela exposta na vitrine esta à venda?
O rapaz olhou-a espantando e depois para o patrão, que aquiesceu com um gesto.
- Claro senhora Dora, deixe-me mostrar-lhe um modelo igual.
Dora ficou encantada com a atenção do rapaz e de certa forma deleitou-se em examinar pessoalmente a vestimenta entregue. Tinha observado-as em museus, mantidas em condições especiais e jamais imaginara que um dia poderia manipulá-las e sentir o cheiro de tecido novo, de uma vestimenta que para ela possuía mais de trezentos anos. As viagens no tempo tinham esta estranha característica de confundir a mente, oferecendo oportunidades únicas.
Depois de alguma hesitação decidiu continuar a farsa.
- Por favor, poderia entregar neste endereço?
Ela pegou uma antiga caneta tinteiro e rabiscou o endereço onde Edith Keeler trabalhava como voluntária.
O rapaz deu uma olhada e anexou o pequeno papel ao vestido.
- Senhora, assim que o nosso rapaz de entregas chegar, eu o enviarei ao local. A senhora fará algum adiantamento?
- Oh perdão! Não costumo andar com dinheiro! O senhor sabe esta cidade é muito perigosa, pois receio ser assaltada. Assim que o rapaz chegar no endereço eu lhe darei o dinheiro. Combinado?
O atendente apenas concordou com um movimento da cabeça e passou à cliente seguinte.
Ela agradeceu e saiu da loja com um plano em mente. Esperaria o rapaz das entregas sair e usaria seu faiser em tonteio. Doía-lhe a idéia de fazer isto, mas não tinha escolha.
Ela observara que a loja remetia as mercadorias pelos fundos e provavelmente seria dali que seu vestido sairia.
Posicionou-se num trecho deserto próximo aos fundos e como esperado os acontecimentos transcorreram como havia previsto.
O rapaz não se deu conta do que o atingiu. Dora aproximou-se dele para certificar-se de que não sofrera nenhuma lesão, pegou o pacote, olhou em torno e afastou-se rapidamente.
Agora seria mais fácil passar despercebida no século XX, enquanto planejaria seus próximos passos no sentido de evitar a morte de Edith Keeler.
Tempo presente. A bordo da Enteprise.
O capitão Picard, como sempre, se posicionara numa das extremidades da mesa e dirigia-se aos atentos membros da tripulação. Primeiro o capitão lhes contou o suficiente do que era permitido pelo Comando sobre o que acontecera na época do capitão Kirk somado ao relato da doutora Dora. As suas tentativas frustradas de salvar Edith Keeler, até que tomara a decisão radical de tirá-la de seu tempo. Com isso criara um tempo alternativo do mesmo tipo que o capitão Kirk tivera que corrigir. Num ato extremo de desespero pedira ao Guardião que mantivesse o planeta num êxtase temporal, numa espécie de pausa atemporal, mantendo-o envolto num campo taquiônico para que a radical mudança no tempo que fizera, não afetasse a Federação. Por desconhecer muito de seu funcionamento, a própria doutora não soubera precisar por quanto tempo o campo taquiônico se manteria estável, antes de entrar em colapso, arrastando com ele toda a realidade que conheciam.
Ela tinha também atraído a atenção da Enterprise, com o falso pedido de socorro que enviara através do tempo, para que a nave fosse envolta pelo campo e mantivesse sua existência, caso a Federação já não existisse mais devido à sua interferência. De qualquer forma a nave estelar já estava inserida nesta linha temporal artificial, pois ela relatara que membros da tripulação, a tinham ajudado a retirar Edith Keeler.
Depois de algum tempo os tripulantes haviam se agrupado em duas correntes contrarias. O primeiro oficial Will Riker liderava a primeira e opunha-se a qualquer tentativa de mudar os acontecimentos. No seu entender por mais difícil que a situação fosse era uma vida contra a de bilhões.
Picard liderava a outra que tentava manter a história da Terra sem o sacrifício de Edith. A discussão chegou a um impasse e só foi solucionada quando especialista West pediu a palavra.
- Senhores e senhoras. Ouvi atentamente o que disseram e creio que tenho uma idéia que possa mesclar as duas opiniões. O que acham de pensarem numa forma de Edith “morrer” de mentira para que os fatos aconteçam da forma que a história registrou?
Todos olharam para West e depois entre si.
- Então o que acham da idéia? Poderia ser posta em prática? O fluxo temporal não seria alterado?
Data pediu permissão para falar.
- A idéia do senhor West capitão, parece ser a mais viável para romper este ciclo temporal. No entanto não estou bem certo de como Edith Keeler reagirá a este plano. Não sabemos o que aconteceu ao corpo dela. Não sabemos para onde foi levado e onde foi enterrado. E então surge a questão: como contornaremos esta parte?
- Concordo com o senhor, comandante Data – disse West - mas temos que aceitar este desafio e solucioná-lo o mais rápido possível, antes que toda a trama do universo conhecido se desfaça, pelo colapso do campo taquiônico.
- Com licença senhor West – pediu LaForge. – Já que o Comando não disponibiliza muitas informações sobre este período, devemos concluir pelo relato da doutora Dora, que a nossa participação, o que fizemos em fim, de certo modo tornou-se parte da história.
- Está é uma probabilidade muito grande senhor LaForge.
- A chance é de 93,567566 % de certeza capitão, disse Data.
O capitão Picard os olhou firmemente e procurou ser bastante enfático. – Então senhores, devemos agir com rapidez, mas com cautela sem desprezar qualquer detalhe que possamos antecipar, deduzindo que nossos atos se incorporarão aos registros desta época. Sei que isto deve exigir muito dos senhores, mas quero que entendam que o que está em risco e muito mais do que uma vida. Trata-se de uma existência. Se realmente prezamos o mundo que conhecemos, da forma como o conhecemos, todo o sacrifico se fará necessário.
Depois se virou para o primeiro oficial. – Senhor Riker. Sei que não concorda com essa decisão e em vista das circunstâncias sou obrigado a lhe pedir que junto com o senhor O´Brien, estudem com todo detalhe o local onde ocorreram os eventos com o capitão Kirk, principalmente se há indicação do hospital e ou do necrotério para onde o corpo foi levado. Qualquer detalhe que conseguirem serão de extrema importância.
Riker manteve-se circunspeto. Podia não concordar com o capitão, mas sabia obedecer a uma ordem.
Picard levantou-se, deu uma volta pela mesa e apoiou-se no encosto de uma das poltronas. – Senhores, quero deixar bem claro que não quero despertar quaisquer suspeitas de nossos antepassados deste século quando agirmos e muito menos chamar a atenção do capitão Kirk. Nossa performance deverá ser perfeita.
Depois olhou para a doutora Crusher. – Doutora... Sei que o que vou lhe pedir e antiético, mas, diante das circunstâncias e para que o plano flua bem é necessário que a senhora prepare Edith Keeler para enfrentar uma morte simulada, de forma que não fique nenhuma seqüela de caráter físico ou psicológico. Não quero que esta simulação deixe pistas ou traços da nossa tecnologia.
A doutora Crusher não escondeu seu espanto com o pedido do capitão, mas ela sabia que o que estava em jogo era o destino de bilhões de vidas e não poderia entrar num dilema moral e filosófico com o seu capitão. – Entendo Jean-Luc. Compartilho a idéia do primeiro oficial, mas farei todo o possível com minha equipe. Mas como o senhor Data ressaltou, há detalhes que me escapam. Não estou ainda entendendo muito bem como substituiremos a Edith Keeler dos registros pela “nossa”. Não sabemos quem a socorreu, quem a levou para o hospital e assim por diante. Tenho medicamentos que podem baixar o metabolismo parecendo uma quase morte. Mas este não é o problema capitão. É submetê-la ao impacto do veículo sem sofrer lesões corpóreas.
O capitão apenas trocou olhares com ela, esperando encontrar ali um sinal de consentimento, pois para ele a idéia de usar a própria Edith para simular a sua morte também lhe soava repugnante. E alguns dos detalhes que foram levantados tinham que ser contornados para o seu plano dar certo e assim restabelecer o fluxo normal do tempo.
- Capitão! – Pronunciou-se por sua vez Deanna Troi que desde o início fora a favor da idéia. – Há um outro aspecto que não estamos considerando!
- Qual conselheira?
- É a afeição que o capitão Kirk sentia por ela e ela por ele. Como sabemos, foi muito difícil para ele aceitar sua morte. Spock teve de usar o elo mental para que o seu capitão superasse o trauma da perda. Não podemos precisar o que ela fará emocionalmente quando a trouxermos para aquele exato momento que precedeu sua morte. Ela poderia não colaborar e entrar em contanto com Kirk, criando uma nova linha temporal desconhecida.
- Todos têm razão. É por isso que decidi realizar este reunião com o objetivo de usar suas habilidades para superar quaisquer tipos de obstáculos. Creio que temos pouco tempo e por isso peço-lhe para me trazerem idéias ou soluções que encontrarem para os problemas citados. E agora senhores, ao trabalho!
Tempo passado. Dentro do Guardião.
A doutora Dora que agora viajava pelo tempo em períodos pré-estabelecidos estava começando a perder-se em meio a tantas variáveis que determinados fatos criavam a partir de uma condição inicial dada.
Era essa, de acordos com os registros do Tricoder, a vigésima sexta tentativa de salvar a mulher que se dispusera a salvar a qualquer custo. No entanto todas as vezes que assim procedia toda a trama modificava-se de tal forma que a partir de um núcleo central ela sofria desdobramentos inimagináveis e descontrolados e Dora tinha que partir da estaca zero novamente. E sempre aparecia uma força misteriosa alterando o que fazia. Estaria o tempo tomando suas próprias decisões apesar de sua interferência?
Em algumas situações ela quase que conseguira, mas um fator não computado acabava por mudar a história da Terra de tal forma que era inaceitável para ela. Com muito custo concertara as variáveis e quando o fazia a resposta era sempre a mesma: Edith Keeler tinha que morrer.
Foi então que imaginou algo nunca tentado antes. Raciocinara da seguinte forma. Edith Keleer não poderia viver o suficiente para criar o movimento pacifista que retardaria a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial e permitir a vitória da Alemanha. Ela não precisaria morrer, somente deixar de existir. Portanto se ela não nascesse deixaria de existir e o doutor McCoy não alteraria o rumo da história.
Fez então a última e desesperada tentativa de impedir que os pais de Edith Keleer se conhecessem e se casassem. Infelizmente eram escassos os registros do período anterior a ela e a vida dos seus progenitores não representava um ponto focal na história para que pudesse utilizar o Guardião da mesma forma como vinha fazendo.
Segundo o diário de bordo, uma única vez, Edith dissera ao capitão Kirk que sua mãe se chamava Melvy e trabalhava como enfermeira num grande hospital da cidade. Quanto ao seu pai apenas o detalhe de que ele conhecera sua mãe no dia do grande terremoto que abalara a cidade. Tentou obter informações pelo computador da Kepler e só obteve pequenas referências sobre o terremoto de 1906. Era muito pouco.
Neste ano a cidade de São Francisco fora arrasada por um terremoto no dia 18 de abril às 13:12. Poderia utilizar esta coordenada para tentar encontrar um deles e evitar que se conhecessem. Havia, é claro, o perigo representado pelo próprio terremoto. Teria que chegar lá antes dele começar, fazer o que se propunha e retirar-se antes do seu início. Estava ciente dos perigos e os dados que conseguiu do computador da Kepler eram insuficientes para uma empreitada deste porte. Mas teria de se contentar com eles, pois muitos dos registros oficiais anteriores à III Guerra Mundial tinham sido destruídos.
Ditou as coordenadas de entrada e saída para o Guardião e pulou para 1906. Ainda era de manhã e tinha algumas horas pela frente. Decidiu procurar o hospital principal da cidade valendo-se das informações de várias pessoas que encontrou pela rua. Gostaria de salvar todas da catástrofe iminente, mas alterar a linha do tempo, poderia trazer conseqüências inimagináveis.
Para encontrar a mãe de Edith, só indagar pelo primeiro nome poderia levar à pessoa errada, o que a faria perder tempo precioso. Mas a chance de uma Melvy trabalhando em um hospital reduzia as opções, facilitando o trabalho de busca.
Depois de vários dias, indo e retornando no tempo, para evitar o terremoto encontrou finalmente o hospital, onde trabalhava uma enfermeira com este nome.
A direção informou que ela começava o seu plantão às doze horas. Teria de esperar por ela ou voltar numa outra ocasião.
Dora decidiu esperar ciente de que uma hora e doze minutos depois o terremoto aconteceria. Instruíra o Guardião a removê-la antes disso, por isso teria que ser convincente. Não podia voltar um dia atrás, pois era nesta data que os pais de Edith se conheceriam. Havia muita coisa em jogo e teria de que agir de acordo com o que planejara.
Faltando dez minutos para o meio-dia, Dora foi avisada de que Melvy chegara.
Ela viu de longe quando o homem do balcão falou com a enfermeira e apontou o dedo na sua direção. A mulher ficou ali parada tentando reconhecer em meio às outras pessoas quem era sua prima. Então ela juntou forças e dirigiu-se na direção dela.
- Enfermeira! Enfermeira! Podemos conversar?
- Em que posso ajudá-la senhora? Senhora?
- Dora. Meu nome é Dora Stevens.
A mulher a olhou desconfiada. – A senhora disse que é minha prima? Por parte de quem? Do tio Joe de Arkansas?
Dora baixou a cabeça fingindo um certo embaraço – De uma forma sim! É que o tio Joe antes de se casar namorou uma outra moça e eu sou sua filha!
Melvy ficou surpresa. – O tio Joe! Quem diria?
- Eu preciso de sua ajuda. – disse Dora.
- Já sei. Precisa de um lugar para ficar até resolver sua situação, não é?
- Não! Não é isso. - disse Dora calmamente. – É a respeito da... Sua filha.
A enfermeira arregalou os olhos.
- Filha! Não sei do que está falando prima. Eu não sou casada!
- Escute Melvy pode parecer loucura... Mas o que trouxe até aqui é muito importante! Apenas me escute. Podemos ir para um lugar mais reservado?
A futura mãe de Edith concordou e a levou até uma pequena sala vazia. Dora antes de entrar observou veladamente o relógio do corredor. Em uma hora esgotaria o seu período de tempo e o Guardião a retiraria desta seqüência. Por isso tinha que ser rápida.
Melvy fechou a porta e a olhou atenciosamente. – Escute. Escute muito bem. Eu venho de uma outra época e no futuro você dará à luz a uma bonita menina.
A enfermeira continuou olhando-a cada vez mais desconfiada.
- Essa menina não pode nascer.
O que?!!!
- Como explicar isto de forma que entenda? – disse Dora ansiosa.
- Olhe... Ela não pode terminar a frase. Um estrondo forte cortou suas palavras e as duas olharam-se assustadas. Tudo começou a tremer e a cair.
Dora ficou surpresa. Os registros. Era uma falha dos registros. Um tremor precedera o principal que ocorreria em uma hora e não havia menção sobre isso. Tinha acertado as coordenadas de saída pelo que pudera obter e agora era vítima de sua própria decisão. Ela tinha que sair dali ou acabaria morrendo esmagada pelo desabamento do teto.
Tentou chegar à porta, sob uma chuva de detritos e poeira que caiam do teto. A mãe de Edith com o pavor estampado no rosto segurou-se nela e Dora era a única que ainda conseguia pensar como escapar dali.
O tremor logo cessou, mas um forte ranger de algo se partindo chamou sua atenção. Do teto uma enorme viga despencou e caiu na direção de Melvy. Dora com muito sangue frio atirou-se para perto da parede tentando empurrar a mulher na sua frente, para que a viga não a atingisse. Mas foi lenta demais. A viga estatelou-se no chão, esmagando o corpo da enfermeira. Mas o perigo não cessara. A outra viga estava suspensa, entrelaçada em duas madeiras menores e pendia num delicado equilíbrio momentâneo. Se não saíssem dali todo o resto do teto acabaria por desabar sobre sua cabeça, esmagando-a, como fizera com Melvy.
Ela tentou abrir a porta, mas ela estava emperrada. Desesperada forçou a porta com o corpo sem muito sucesso. Então começou a bater nela e pedir por socorro. Foi quando ouviu uma voz do outro lado.
- Vocês estão bem? Quantas pessoas estão ai?
- Eu somente. Pode-me ajudar a abrir a porta? O teto esta para cair!
Dora juntou o resto de força que tinha e com a ajuda do estranho deslocou a porta para fora, o suficiente para uma pessoa de cada vez passar.
Assim que ela passou para o corredor, o tremor principal começou e a outra viga cedeu e tudo veio abaixo num forte estrondo. Os dois se apressaram evitando os destroços e chegaram aos jardins que contornavam o hospital, repletos de pequenas escoriações e cobertos de pó. Dali olharam para trás e viram horrorizados, o restante da cobertura do hospital desabar, matando todos os que não tinham conseguido sair. Então em meio a todo aquele caos ela entendeu. Mais uma vez o que mudara não era exatamente o que tinha de acontecer. Não salvara a mãe de Edith o que não permitiria o seu nascimento. Indiretamente conseguira o que queria. Mas aos se lembrar da enfermeira e da futura Edith, uma sensação estranha a invadiu.
Resignada olhou em volta. A destruição era grande e muitos edifícios estavam em chamas. Olhou os arranhões e cortes que fizera nos braços, à procura de algo grave, mas felizmente não tinham sido graves. Depois voltou sua atenção para o homem que a salvara.
- Você está bem? Como se chama?
Ela virou-se para ele para lhe agradecer o ato de coragem que salvara a sua vida.
- Agradeço o que fez por mim. Meu nome é... D... Melvy. E o seu?
- Meu nome é John. John Keeler senhora. Às suas ordens.
Dora sentiu um frio no estômago e controlou-se para não perder o equilíbrio. Não pudera impedir o encontro dos pais de Edith. Na verdade, não poderia impedir o nascimento de Edith, já que ela seria sua mãe. Seus atos estavam inseridos na trama que permitira o contato de ambos e posterior desenrolar dos fatos que já conhecia e tentara evitar. Com a voz cansada dirigiu-se ao homem.
- Sabe? Foi um milagre o senhor ter aparecido. Não sei como me achou ali, mas sou lhe grata.
Ele a olhou curiosamente e fez um sinal afirmativo.
Dora, a futura Melvy se levantou e olhou para os dois e todo redor. Passou a mão pelos cabelos desalinhados e bateu na roupa para tirar um pouco do pó. E seguiu em frente sem olhar para trás aguardando o momento de ser removida pelo Guardião. Estava decidida a agir da única forma que lhe restara. Teria que voltar e dar prosseguimento aquele encontro. Teria que viver uma vida ao lado do homem que a salvara. Até que pudesse retornar e resgatar sua filha. Era o melhor que podia fazer. Jamais conseguiria salvar a enfermeira, mesmo que voltasse no tempo. Quem nascesse, mesmo que conseguisse salvá-la, não seria a Edith que conhecia.
Para John Keeler, a ida e o retorno de Dora, nunca ocorreu, tamanha era a complexidade do tempo e a sofisticação do Guardião. Mas assim que voluntários apareceram para prestar socorro à vítimas, ele afastou-se e tirou um pequeno aparelho do bolso e sorriu. Tudo estava correndo conforme o planejado. Encontrara a mulher que seria a mãe de Edith Keeler. A sua linha temporal estava garantida. A história não seria alterada e a Alemanha ganharia a II Guerra Mundial.
Tempo presente.
O capitão Picard aproximou-se da cabine da doutora Dora e pediu permissão para entrar. Assim que o fez seus olhos cruzaram-se com os de Edith.
- Doutora! Creio que encontrei uma solução para este dilema temporal. Pedi aos membros da minha tripulação que me ajudassem, mas sem o apoio de Edith ela não será viável.
- Por que ela capitão? Com qual propósito?
- Posso me sentar, doutora?
Dora olhou para ele envergonhada. – Desculpe-me a falta de educação capitão! É claro que pode. Perdoe-me se a esqueci, mas o senhor não faz idéia do que passei nestes últimos anos... Oh! É claro que estou falando de anos dentro de minha linha temporal, não da sua. Estou muito abalada pelo que fiz e pelo que ainda possa acontecer.
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