O Diário de Kalyn

Doce Olívia

O conto a seguir refere-se ao conteúdo extra do livro "O Diário de Kalyn - Maedro", que no futuro fará parte de uma coletânea chamada "Os diários do Maedro". O objetivo deste trabalho é trazer fatos, eventos e informações sobre o Maedro que não estão na obra original.

Lembrando que este conto está disponível também em sua versão E-book por apenas R$ 1,99 no Amazon.

Espero que gostem,

Atenção: 18+.

Envolve: Personagem machista, sexo, escravidão sexual, objetificação de figura feminina.

DRO: 1319

Data: 29/12/2148

Assunto: Doce Olívia

> Eu chego do trabalho, sento na cama e deixo mais uma vez, o vazio do quarto tomar conta de mim. O Maedro passa por um período de grandes descobertas e a tripulação está completamente eufórica, mas não consigo me animar.
Ela se foi há quinze dias e não penso em outra coisa. Então decidi fazer este registro como uma forma de honrar a memória de uma pessoa especial. Alguém que em tão pouco tempo, fez a minha vida valer a pena.

> Tudo começou há quatro anos, quando após ter saído de um relacionamento conturbado, procurei o meu grande amigo Claudio para desabafar.
Acontece que as mulheres da tripulação parecem viver em função do medo de perder os namorados, e como somos poucos homens a bordo, acabamos submetidos a inúmeras situações constrangedoras, com crises de ciúmes e brigas em público. Sem falar que elas nutrem um constante sentimento de posse em relação a nós. Ter um homem é o maior sinal de status para uma mulher.

> O Claudio sabia exatamente do que eu estava falando, e mencionou que no domo de reintegração havia um senhor que poderia providenciar uma experiência totalmente nova.
De início, achei aquela estória muito estranha, mas ele completou dizendo que eu deveria solicitar uma ramili doméstica, dando ênfase à palavra “carinhosa”.

> Não era segredo que alguns homens as compravam para satisfazer-se sexualmente. Para mim, aquele assunto era um verdadeiro tabu porque ramilis não são humanos, e foi um verdadeiro choque descobrir que o meu grande amigo era adepto de tais práticas questionáveis.

> Ele ainda tentou justificar e disse que, sabendo como fazer, poderia ter com uma ramili, uma sensação muito próxima do que seria transar com uma mulher de verdade. E ainda acrescentou que elas faziam qualquer coisa, que eram como verdadeiras “bonequinhas” e tudo mais.

> Com uma risada, fingi não ter acreditado no que acabara de ouvir. Com tantas mulheres sobrando, quem precisaria de uma ramili para fazer sexo? Imaginava que tais homens possuíam grande perturbação mental, ou eram, no mínimo, completamente fracassados.

> Contudo, aquela não era a imagem que eu tinha do Claudio, pois ele nunca havia deixado de namorar. Mesmo assim, mencionou o quão bom era manter relações com uma ramili. Passei então a reparar mais nelas, o que foi difícil, uma vez que a grande maioria era do sexo masculino. O máximo que consegui encontrar foi uma que trabalhava no berçário e a recepcionista da clínica, e não havia nada demais naquelas criaturas.

> Aquilo não saía da minha cabeça, então resolvi visitar o domo de reintegração apenas para matar a curiosidade. O doutor Ravid já era um homem velho e excêntrico. Fui direto ao ponto, pedindo um ramili doméstico do sexo feminino e, baixinho, falei a palavra mágica.
Ele expressou um leve sorriso indicando que parametrizaria aquela solicitação. O custo seria 50% maior, mas eu teria a “vantagem” de poder aplicar a aparência de qualquer mulher do Maedro.

> Por qual motivo um homem criaria uma ramili com aparência de uma mulher específica, podendo “pegar” a mulher real? As palavras daquele senhor me fizeram perceber que havia um verdadeiro submundo da “tara exótica”. Eu só queria uma transa rápida para saber o que é que uma ramili tinha de tão especial. Falei que ramilis eram todos iguais, e só pedi que me enviasse uma bem bonita e que não queria perder muito tempo com aquilo.

> O doutor demonstrou não ter gostado de minha atitude, mas àquela altura, já estava me sentindo um tarado fracassado que não “comia” ninguém. O problema é que, talvez por sacanagem, ele esperou que eu efetuasse o pagamento para informar que a encomenda só seria entregue dentro de quatorze meses. Após questionar, fui informado que a minha “menina” ainda era um embrião e levaria todo aquele tempo para crescer e receber o treinamento por indução neural.

> Claro que fiquei arrependido, pois nunca tinha gasto tanto dinheiro no que até então considerava uma verdadeira porcaria. O Claudio tentou me tranquilizar, dizendo que valeria a pena, mas tudo o que quis foi esquecer aquela estória, retomar a vida e dar um tempo nos relacionamentos.

> Passei alguns meses focado no trabalho e evitando novos casos com potencial problemático. O que foi difícil de fazer devido aos constantes assédios de mulheres muito lindas. Eu queria indiretamente, dar a mensagem de que não estaria disposto a entrar em qualquer relacionamento sério. Conforme o tempo passava, as coisas só se complicavam. Até que uma noite, voltava após trabalhar até tarde, quando fui surpreendido por uma mulher que queria me acompanhar até o distrito residencial. Falou ter feito hora extra na hidropônica e tinha medo de voltar sozinha. Pegamos o trem que estava vazio. Ela vestia uma saia curta e, ali na minha frente, tirou a calcinha.

> Por mais que tente, tem coisas que não dá para resistir, afinal, eu sou homem. Aquela mulher era muito bonita e sensual, e como já fazia um bom tempo que eu não transava, acabei cedendo e mostrei para ela que não havia enferrujado.

> Na hora foi muito bom. O problema é que ela pensou que passaríamos a namorar depois daquilo e começou a me perseguir durante meses. Tentei me envolver com outra pessoa na tentativa de mostrar que não a queria, mas as coisas só pioraram, já que as duas começaram a brigar com frequência.

> A situação se arrastou por mais alguns meses, até que recebi um comunicado do doutor Ravid, pedindo para buscar a doméstica. Ignorei os recados durante toda a semana, até que ele enviou uma mensagem final informando que não mais arcaria com a alimentação dela e que a enviaria direto à minha cabine.

> Eu estava completamente estressado, sendo perseguido por duas mulheres. A campainha soava incessantemente e corri para a porta, pronto para gritar, quando a vi pela primeira vez.
Com um inocente a amistoso sorriso, me desejou boa noite e se apresentou como Olívia, a minha nova assistente.

> Vestia um uniforme vermelho um pouco mais curto do que o normal. Temendo que a vissem, permiti rapidamente que entrasse.

> Curiosa e maravilhada, ela observava os menores detalhes da minha casa. Lá estava a prova concreta de que eu era um homem fracassado e incapaz de domar uma mulher. De fato, aproveitei para observar o excelente trabalho realizado pelo Ravid, já que Olívia era mais bonita do que muitas mulheres a bordo desta nave. Aparentava cerca de vinte anos, mas sua pele era bem macia e não tinha qualquer marca, cicatriz ou mancha. Típico de uma recém nascida.

> Eu estava decidido a devolvê-la. Poderia sofrer na mão de mil mulheres, mas até então, a ideia de manter relações com uma ramili soava humilhante demais para mim.
Sem nada falar, apenas a observei circular pelo recinto, só para lembrar da quantidade de dinheiro que tinha gasto naquilo e que, de forma alguma, passaria a custear a sua alimentação e vestuário.

> Ela então ficou de frente para a mesa e perguntou o que eu iria querer para o jantar. Só me veio em mente que teria no mínimo de fazer valer o investimento antes de mandá-la embora. Então respondi que, ela seria o meu jantar, e mandei que tirasse a roupa.
Pareceu assustada, mas após alguns segundos, atendeu a minha solicitação.

> Assim, coloquei-a sobre a mesa e rompi o seu hímen. Ela demonstrava estar bastante confusa enquanto fazia caras de dor sempre que eu ia cada vez mais fundo, explorando sua carne. Só me lembrei daquelas mulheres que tanto irritaram e do meu amigo que me convenceu a embarcar naquela palhaçada toda. E toda nova estocada fazia eu me sentir cada vez menos homem.

> O que uma ramili tinha, afinal? A resposta: Nada! Não senti o mínimo tesão e com raiva, não tive qualquer cuidado naquela primeira transa. Confesso que a fodi com muita força e só parei quando ela começou a chorar em desespero.

> Pediu desculpas, e mais várias vezes, pediu que a perdoasse. Na verdade ela pensou que estava sendo punida por ter me dirigido a palavra sem pedir permissão. Disse que havia entendido e implorou para que eu parasse.

> Senti-me mal com tudo aquilo, afinal, até então pensava se tratar de uma boneca incapaz de expressar qualquer sentimento. Eu deveria pedir desculpas, mas me limitei a dizer que aquilo foi apenas um teste para saber se era realmente boa. Ela enxugou as lágrimas e perguntou se havia sido aprovada, respondi que sim. Em seguida pediu permissão para vestir as roupas, e foi mancando até o canto do quarto, onde sentou e ficou esperando por novas ordens.

> Talvez por remorso, acabei desistindo de devolvê-la. Sabia que se o fizesse, ela seria descartada. Enviei uma mensagem ao Ravid para tirar algumas dúvidas. Ele informou que não gostou nem um pouco da minha atitude ao fazer o pedido e, por isso, havia usado as minhas características físicas para criá-la. Em resumo, ele “me transformou em uma mulher” e falou que o fez para que eu tivesse de amargar o fato de estar “comendo” a minha própria irmã.

> É claro que não entendi o que ele quis dizer. O cara acertou na altura e no peso. A Olívia era perfeita para mim e, modéstia à parte, a base em minha aparência explicava o fato de ela ser tão linda. Se isso faz dela a minha irmãzinha, então eu adorei.

> Os dias foram passando. Eu voltava do trabalho para encontrar tudo muito bem arrumado, e, sempre que percebia um olhar indiscreto da minha parte, ela tirava a roupa, colocava-se em posição e “dava” pra mim. Como era bom, comer aquela boceta.
Não havia cobranças ou reclamações. Sem falar que ramilis não menstruam, ou seja, sem TPM e total disponibilidade sexual a qualquer hora, dia ou semana.

> O único problema era que, durante os atos, ela sempre ficava quietinha, evitando demonstrar qualquer reação, com medo de me atrapalhar. Seu objetivo era apenas o de me servir. Eu sabia muito bem como dar prazer a uma mulher e tentei, de todas as formas, lhe causar uma boa impressão, mas ela não parecia me sentir em seu corpo, o que me fez questionar se realmente queria continuar com as relações. Olívia sempre respondia que queria o melhor para mim e faria qualquer coisa para que eu estivesse feliz.

> A verdade é que eu a adorava e estava sempre lhe procurando. Perdi a vontade de namorar qualquer mulher e, em pouco mais de seis meses, Olívia já estava dormindo em minha cama. Mas o melhor ainda estava por vir.

> Praticamente um ano após tê-la recebido, consegui tirar da Olívia, tímidos gemidos de prazer. Naquele momento passei a ter uma referência e assim fui, aos poucos, descobrindo como ela gostava de ser tocada. Minha Olívia estava amadurecendo e, após alguns dias experimentando diferentes estímulos, os gemidos se tornaram gritos e, por fim, consegui lhe proporcionar um belo orgasmo. Lembro como se fosse ontem. Ter conseguido fazer uma ramili gozar era o maior dos feitos que um homem poderia alcançar, e aquilo fez com que me sentisse muito bem.
Olívia, por sua vez, tentava recuperar o fôlego, sem saber o que havia acontecido. Olhou-me preocupada, provavelmente por acreditar ter feito algo de errado, mas antes que pudesse se desculpar, beijei-a na boca.

> Foi o nosso primeiro beijo.

> Não sei o que deu em mim. Estava me envolvendo cada vez mais com aquela ramili.
Contei ao meu amigo que, inicialmente, não acreditou, afirmando que ramilis não possuem libido, mas acabei convencendo-o e ele ficou doido para experimentá-la. Ofereceu a dele em troca por apenas uma noite, mas para o seu azar, a Olívia era única, e era minha.

> As semanas foram passando e eu me pegava comprando diferentes tipos de algas para que ela experimentasse. Também estava sempre de olho nas vitrines, a fim de ver que roupas ficariam lindas na Olívia.

> Aos sábados, costumava ir à ágora encontrar com amigos e, às vezes, a levava junto na “formação clássica”, com o humano à frente e o ramili atrás, de cabeça baixa. Pelo fato de não estar namorando, todo mundo sabia ou desconfiava que eu houvesse aderido a então chamada, “ramilifilia”. O Claudio olhava para mim com ar de inveja, mas tudo era levado como uma grande brincadeira a qual não podíamos expor, já que a maioria das pessoas em nosso círculo de amizades eram mulheres.

> É claro que a relação com a ramili não era apenas de cunho sexual. Eu queria lhe ensinar sobre o mundo que nos rodeava e, sempre que chegava do trabalho, contava uma nova estória a respeito do Maedro, as pessoas importantes e os trabalhos que realizavam. Ela não parecia entender muita coisa, mas sempre olhava para mim com um lindo sorriso. Ela adorava me escutar, então, contei a estória sobre a busca do Maedro pela terra prometida, que seria um planeta no qual poderíamos nos estabelecer e ter uma vida confortável.

> Aquela era a sua estória favorita. Todas as noites, pedia-me para repeti-la e perguntava se poderia ir comigo para a terra prometida. Sempre respondia que ela estaria comigo para todo o sempre. Eu estava completamente apaixonado pela Olívia.

> Sabia que a sociedade nunca iria aceitar, mas estava disposto a abrir mão de meu status para assumir o relacionamento. Assim, a levei ao restaurante e fiz questão de que sentássemos à mesma mesa. Disse-lhe que poderia escolher qualquer opção do cardápio. Ao sair, pedi que andasse ao meu lado e segurei a sua mão, mas ela continuou olhando para o chão. Então, levantei o seu rostinho e lhe convidei a conhecer o mundo da forma como merecia, de cabeça erguida. Por fim, beijei-a em público.

> Várias pessoas pararam para olhar. Algumas expressaram nojo, outras caíram na risada e houve as que tentaram não demonstrar qualquer reação. O importante é que aquilo, de uma forma ou de outra, chocou a tripulação.

> É importante mencionar que a palavra-chave “carinhosa” dada ao Ravid serviu apenas para que ele orientasse a criação de uma ramili mais afetuosa e meiga do que o normal. Se fosse possível inserir um código de treinamento especificamente sexual, todas as mulheres teriam os seus “ramilis especiais”. Como isso até hoje não se mostrou possível, as relações entre as espécies são vistas com maus olhos. Pura hipocrisia.

> Olívia havia sido treinada sobre como se portar em público, mas o programa de treinamento da época direcionava o comportamento unicamente em função do comprador. Assim, não se preocupando com o que os outros iriam pensar, e estando tudo bem comigo, me abraçou e beijou de forma apaixonada. Pude ver em seus olhos a sinceridade que teve ao dizer que me amava.

> A cena foi tão desconcertante, que uma oficial de segurança interveio e nos separou, mas o recado já estava dado. Levei-a em seguida, até uma loja para que experimentasse roupas e joias. Sob olhares dos curiosos, comprei tudo o que Olívia havia gostado. Imagino que muita gente escreveu a respeito daquilo em seus diários. Acontece que os assédios das mulheres diminuíram consideravelmente e, por um bom tempo, pude viver em paz com a minha “assistente”, conforme mencionavam.

> O Maedro é uma nave enorme, e lá fora existe todo o universo a ser explorado, mas tudo o que eu queria e me fazia feliz estava naquele quarto. A minha pequena ramili.

> Não tardou muito, até que começasse a receber mensagens contendo xingamentos e ameaças, mas foi fácil de ignorar. Passeava normalmente com a Olívia e, após alguns meses, a maioria das pessoas parecia ter ignorado nossa relação. Contudo, um grave problema surgiu quando ela passou a sair sozinha para fazer compras, pois em um dos passeios foi brutalmente agredida. Agonizou em um corredor até que fui avisado pelo Claudio e corri para ajudar.

> Ela estava desacordada. Claudio tentava checar-lhe o pulso e pedimos ajuda para quem passava. Todo mundo sabia se tratar da Olívia e ninguém se prontificou para socorrê-la.

> Cheguei à clínica com a Olívia em meus braços. Estava desesperado por atendimento e precisei forçar a entrada para falar com a bióloga de plantão que prontamente nos atendeu. Olívia havia sofrido várias fraturas, causadas por uma mulher que trabalhava na forja, e teria usado uma ferramenta ou barra de metal. A bióloga informou que o período de recuperação seria longo, de forma que o recomendado era descartá-la para comprar outra. Eu jamais a descartaria e exigi que fosse tratada, mas sendo um tratamento não autorizado pela clínica, tive que arcar com todos os custos.

> Ela foi induzida ao coma e sempre a visitava. Queria ser a primeira pessoa que ela visse quando acordasse. É claro que, naquele meio tempo, busquei justiça pelo que nos foi feito.

> Havia várias testemunhas, mas ataque a ramilis não é considerado crime. Porém, sendo um ramili doméstico, passa a ser tratado como uma agressão ao dono. O problema é que por uma falha na lei, o exame de corpo de delito teria de ser realizado em mim, e como resultado, o processo seria arquivado por falta de provas. A saída seria processar a agressora por danos materiais, mas neste caso haveria outro detalhe importante, pois, se a Olívia tivesse morrido, eu poderia abrir processo pleiteando uma indenização equivalente ao custo de aquisição de uma nova ramili, abatido o tempo de depreciação. Como a Olívia estava viva, a agressora poderia ser condenada, mas não seria punida, por conta da “imensuralidade do dano”. Sem falar que o caso seria julgado por cinco mulheres que, provavelmente, odiavam a minha assistente.

> Em resumo: A JUSTIÇA não me ajudaria em nada!

> Senti-me completamente impotente ao ver minha Olívia naquele estado e, temendo que algo mais acontecesse, passei a ficar na clínica durante todo o tempo em que não estava trabalhando. As biólogas ajudaram bastante.

> Após quase uma semana, a Olívia acordou e pôde ver que eu estava lá para protegê-la. Continuamos a nos ver na clínica por mais um mês, até que pudéssemos voltar para casa. Eu deixava o trabalho para levar comida e todas as noites lhe contava estórias antes de dormir. Voltava a falar sobre a terra prometida e jurei que ninguém a machucaria novamente, mesmo que tivesse de dar a minha vida para protegê-la.

> Então, as feridas foram curadas e Olívia voltou a exercer todas as suas atividades praticamente sem sequelas. E claro, voltamos a nos amar como antes. Tomando alguns cuidados, pudemos nos proteger de pessoas mal intencionadas. Minha namorada nunca mais saiu sozinha e as coisas voltaram ao normal.

> Assim se passaram mais alguns meses. Olívia ainda sentia algumas dores, principalmente quando o aquecimento apresentava problemas, e talvez aquilo tenha desviado a minha atenção de um novo grande problema que começou a surgir. Ela se sentiu indisposta durante semanas. Pensei que não fosse grave, mas certa noite, cheguei em casa e a encontrei desmaiada.

> Novamente, fui bem atendido na clínica. A bióloga plantonista fez os exames e me chamou para conversar, informando que a Olívia havia atingido a idade limite de um ramili, que varia de dois e meio a três anos. Não havia nada a ser feito a não ser encaminhá-la de volta ao domo de reintegração.

> Não era do meu conhecimento o fato de que os ramilis tinham tão pouco tempo de vida. Nunca perguntei por falta de interesse mesmo. Sempre os via trabalhando em diferentes oficinas, no restaurante e fazendo faxina na ágora, mas não havia percebido que todos mudavam a cada três anos. Talvez porque, na minha cabeça, eram apenas ramilis.

> Fui pego de surpresa quando aquela triste realidade bateu a minha porta. Perder Olívia era algo impensável e fiquei completamente desesperado ao ver a bióloga fechar as cortinas do cubículo onde ela estava, para preparar o “despacho”. Implorei por qualquer coisa que pudesse ajudar a minha amada a viver mais. A doutora se sensibilizou, provavelmente por ser lésbica, e mencionou sobre uma conhecida que estaria desenvolvendo uma cura para aquele tipo de problema, no laboratório biológico.

> Fiz a bióloga prometer que não despacharia Olívia até que eu retornasse, e corri para o laboratório. Lá chegando, encontrei dois ramilis trabalhando habilmente em diversos experimentos. Um deles se apresentou como Lúcio, parecia chefiar o laboratório, mas quando questionado, falou que aguardava sua chefe voltar do alto conselho. Então perguntei quantos anos ele tinha, e fiquei sabendo que havia nascido um mês antes da Olívia. O Lúcio parecia estar muito bem de saúde, provando que uma cura existia e que poderia salvar a vida da minha namorada.

> Esperei até que a doutora chegasse. Uma mulher baixinha, com longos cabelos negros, entrou e perguntou como poderia ajudar. Contei todo o problema. Ela informou não haver uma cura e disse que o “Jarbas” era o resultado de uma experiência para a qual não se havia provado a viabilidade, mas que trabalhava todos os dias para aumentar a longevidade dos ramilis. Aquela jovem doutora era a minha única esperança. Ofereci toda a ajuda que pude para o projeto em troca de inserir a Olívia no programa, mas a resposta foi extremamente grossa.

> Ela disse que não precisava de qualquer ajuda e ainda completou afirmando que não disponibilizaria o remédio, mesmo que estivesse sobrando, pois não iria contribuir para a “safadeza” de um homem que comprava ramilis fêmeas para estuprar.

> Aquilo me deixou profundamente ofendido. Ela sabia sobre a minha estória com a Olívia. Todo mundo sabia. Mas estupro? Nunca!

> Não tive mais a quem recorrer. Estava sozinho naquele mundo ingrato, imerso em um amor considerado abominável e sem ter para onde fugir. Voltei desolado para a clínica, e felizmente fui apoiado pela bióloga que me permitiu retornar com a Olívia para casa, prescrevendo e entregando alguns medicamentos que amenizariam a sua dor.

> Não dá para prever exatamente quando um ramili morrerá de causas naturais. Os domésticos costumam durar mais tempo, pois não são expostos às duras rotinas dos trabalhadores comuns. O tempo de vida pode variar, mas todos os ramilis são descartados após apresentarem os sintomas do chamado “prazo de validade”. Primeiro porque o estado de saúde não mais lhes permite trabalhar em segurança e, em segundo lugar, por questões sanitárias, haja visto que, dado o tamanho do Maedro, seria bem difícil encontrar todos os ramilis que caíssem mortos de forma aleatória.

> Eu havia livrado a Olívia do despacho, até então. Ela chegou a apresentar melhora após alguns dias. Levantou, comeu e pediu para dar um passeio, mas não poderia arriscar, pois o pessoal da clínica pegou o prontuário e estavam sempre batendo em minha porta para levá-la. Comecei a ficar paranoico e temia não encontrá-la ao retornar do trabalho, assim, a deixava trancada em casa.

> Contudo, sabia que aquilo não seria suficiente, já que bastaria um mandado de busca para conseguirem a senha da minha porta e, por conta disso, simplesmente deixei de trabalhar, ancorando a entrada com todos os móveis que pude. Olívia ficou preocupada e notava a minha apreensão sempre que escutávamos as pessoas do outro lado, tentando abrir.

> O Claudio foi um bom amigo, nos levando comida na calada da noite, para que pudéssemos aguentar por tantos dias quanto nos fosse possível. Apenas Olívia me interessava, mas ela não estava feliz por ver que eu não estava bem e, como resultado, seu estado de saúde só piorava.

> Eu recebia constantes mensagens contendo ameaças de processos por quebras de códigos sanitários, atos obscenos, abandono do emprego, entre outras coisas mais. Ficava louco sempre que tornavam a bater do lado de fora, exigindo a abertura imediata sob pena de prisão, aposentadoria e reintegração.

> Olívia chegou a pedir que as deixasse entrar, pois não aguentava mais me ver naquela situação e não queria ser responsável por me causar problemas. Eu disse que a amava, que prometi protege-la com a minha vida, e que ficaríamos juntos para sempre, como nas estórias sobre a terra prometida. Ficar confinado naquele quarto seria o suficiente para mim, desde que ela estivesse comigo.

> E só conseguimos resistir por mais três dias...

> Olívia pediu perdão por não termos conseguido chegar ao nosso tão esperado destino e completou dizendo que foi muito feliz ao meu lado, que foi uma privilegiada por ter vivido tão intensamente, e conhecido o verdadeiro amor. Esperava que, um dia, os ramilis e humanos pudessem conviver lado a lado, como iguais.

> Então, em meus braços, ela fechou os olhos. Pensei inicialmente que houvesse adormecido, e a sacudi de leve para que acordasse, mas não demonstrava qualquer reação. O meu coração disparou enquanto tentava reanimá-la. Tentei respiração boca a boca e massagem cardíaca, mas ela não voltou. Olívia se foi e a única coisa que pude fazer foi abraçá-la e chorar.

> Chorei o dia inteiro. Havia perdido a minha razão de viver e pouco importava o que fosse me acontecer dali em diante.

> O Claudio apareceu, me convenceu a abrir a porta e se deparou com o corpo da Olívia. Fui processado por diversas infrações, mas apenas recebi multas e pude voltar ao trabalho. Para a minha antiga e vazia rotina...

> Assim terminou a minha história de amor proibido. Ainda sofro ao lembrar-me de tudo e, às vezes, me pego pensando se não teria sido melhor se nada disso tivesse acontecido. Contudo, reconheço que todos deveriam encontrar, pelo menos uma vez na vida, o verdadeiro amor. O meu se foi, e faz parte das estrelas agora.

> E hoje eu vi, pelo telescópio, algo maravilhoso. Pois o Maedro finalmente chegou à terra prometida... E ela é azul.

> Deixo este registro como forma de honrar a existência de alguém que me foi tão especial, que apesar de não ter sido humana, foi uma verdadeira mulher...

> A minha doce Olívia.


Autor: Rômulo Barbosa

Revisão: César Costa

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