OS CRONONAUTAS
A Versão EXERIANA de
"A Máquina do Tempo" de H.G.Wells
CAPÍTULO XIII
Herbert e Wells ficaram um bom tempo em silêncio. Espantados pela súbita conclusão de George, ainda que
ansiassem por viajar com o amigo, não pensavam em ser naquelas circunstâncias. Wells foi o primeiro a quebrar o gelo.
- Suponho que não seja possível viajar para um momento anterior e tentar evitar essa situação, não?
- É impossível. - Responde de imediato George. - Uma vez estabelecida a ponte entre as duas épocas, a máquina não pode
mais recuar para um momento anterior, exceto é claro o ano 3009, onde já estabeleci outra ponte. Mas lá... De nada adiantaria.
- E mesmo que pudéssemos! - Interveio Herbert. - Isso causaria os estranhos paradoxos! Se tudo isso aconteceu é porque
ninguém viajou para evitar!
- Sim... Estão prontos?
Mais uma vez os dois se entreolharam, e já livre de toda a dúvida, não hesitaram. Herbert estava entusiasmado.
- Bem. Temos tempo não? Claro! Temos uma máquina do tempo! Enquanto os técnicos a consertam... Eu vou providenciar
algumas coisas. - E então se retirou. Wells, menos eufórico mas igualmente fascinado, foi mais cauteloso. - Só podemos
ir nós 3? Não é muito arriscado enfrentarmos sozinhos todos aqueles... Monstros?
- Sim. Arriscado é. Mas nós 3 já fomos! A além do mais é só o que cabe na máquina. E fazer várias viagens para levar
um exército esta fora de cogitação! Não temos tantos recursos assim.
- Mas não importa quanto tempo demoremos aqui. Podemos passar anos nos preparando e depois voltamos ao exato momento!
- Eu tenho dúvidas disso. Parece haver uma concorrência paralela entre as suas épocas, como se de um modo um período
muito longo em uma acabasse gerando um atraso na outra. Ou talvez... Mas não importa! Eu não vou mais conseguir dormir com isso
na cabeça, e nós já esperamos tempo demais. Por enquanto esses 3 dias devem ter resultado em apenas 3 segundos de atraso,
mas o que aconteceria se demorássemos semanas!? Eu não sei.
- Está bem. Também vou providenciar algumas coisas. - Wells se levantou, mas antes de sair virou-se de novo para
o amigo. - Quem diria... Os primeiros Crononautas da história... Têm uma missão de combate. Não é bem o que eu esperava.
- Nem eu. Quem me dera ter encontrado uma civilização pacífica e avançada, com a qual eu seria o primeiro diplomata
a intercambiar culturas separadas por um milênio! Mas... Ah meu Deus! Uiina. Ela vai ser perseguida também pelos anciãos
se... Se algo der... Meu deus...
Wells se aproximou dele, pôs a mão em seu ombro. - Não se preocupe amigo. Tudo vai dar certo.
CAPÍTULO XIV
George, agora mais revitalizado, não conseguia deixar de sentir uma estranheza por seu tempo original. Era como se, no
fundo, não pertencesse mais a aquele lugar. Mas afastou esses pensamentos e ajudou os técnicos a acertarem os últimos
detalhes da máquina. Ela sofrera uma série de danos na viagem de volta, pois a má qualidade dos reparos cobrou seu
preço em mais danos, porém, agora com os devidos recursos, consertá-la foi relativamente fácil, e em 3 dias
tudo estava pronto para a nova viagem.
Quando os amigos chegaram, George esvaziou o laboratório, mandando todos os funcionários e seguranças para casa.
Herbert demorara um bocado, mas quando voltou surpreendeu seus companheiros.
- Creio que precisaremos de toda ajuda possível, por isso providenciei isto! - E abriu uma imensa sacola sobre a
mesa, onde havia nada menos que 3 pistolas 9mm, todas com mira laser, duas carabinas calibre 12 e uma nada modesta
metralhadora MR-17 recém-lançada, que trazia um carregador com 70 cartuchos e um lança granadas. Várias granadas de mão
também estavam disponíveis.
- Minha nossa Senhora! - Exclamou Wells. - Eu havia pensado nisso, mas não pensei que você conseguiria tanto!
- Gostaria muito de não ter que usar. - Disse Herbert. - Mas não pretendo enfrentar um exército de mostros hostis
do futuro sem estar muito bem preparado.
George, curiosamente, nem havia pensado exatamente nisso. Estava tão absorto em pensamentos que precisou de tempo
para perceber o quanto seria imprudente voltarem para enfrentar os Morlok só com a coragem e um revólver que tinha
em sua gaveta.
- Só peço permissão para levar mais isto. - Wells mostrou uma câmera mista, que fotografava e filmava digitalmente
em alta definição e era suficientemente pequena para ser usada apenas com uma das mãos. - Não é uma arma, mas tem um
flash e uma lanterna bem fortes. Além da melhor visão noturna que já vi. Pode ser útil.
Os amigos concordaram. Herbert também providenciara vestimentas adequadas para todos. Flexíveis roupas de kevlar,
luvas, botas resistentes, e capacetes poderiam ser a diferença entre a vida e a morte naquele desafio. Tudo isto
e mais algumas coisas eles depositaram no apertado espaço de máquina, tendo que deixar muitos itens de fora sob pena
de não conseguirem sequer se acomodar.
Wells, que era o maior deles, teve o privilégio de sentar na cadeira do piloto, que merecia ser chamada de confortável,
Herbert e George alojaram-se nas laterais sentados sobre cadeiras improvisadas. George providenciou um suprimento extra
de oxigênio prevendo uma viagem demorada, embora mais rápida que a anterior, visto que não haveria paradas e que ele
poderia manter a nave sempre na velocidade máxima.
Mas essa última preocupação viria a se revelar desnecessária, pois assim que acionou a máquina e ativou o dispositivo
promotor de saltos no tempo, George não demorou a notar algo espantoso. O mundo em volta deles começou a mudar ciclicamente
a um ritmo muito mais brusco.
- Estranho, estamos indo mais rápido do que eu esperava! - Não foi necessário sequer um minuto para que a velocidade máxima
houvesse sido atingida, e a luminosidade do mundo externo ficasse estável, enfrentando apenas ocasionais variações.
Passaram pelas drásticas alterações geológicas em ritmo muitíssimo mais acelerado, e se antes a viagem de George tinha
levado mais de um dia, considerando somente os momentos de velocidade máxima, agora quase todo o trajeto já estava
percorrido em menos de 10 minutos, até que a velocidade de avanço começou a diminuir, lentamente, e então todos puderam
ver a movimentação dos Eloi em torno da nave, e, por um brevíssimo instante notar uma "outra" máquina do tempo,
que surgiu e sumiu num flash.
A viagem terminou, e os eloi, incluindo Uiina, aguardavam o retorno.
George foi o primeiro a descer da máquina, os outros hesitaram, ainda meio incrédulos e desorientados pela vertiginosa
viagem, que, segundo George, parece ter sido acelerada devido a afinidade entre os dois pontos no tempo, como se a
ponte uma vez estabelecida, atraísse a nave assim que ela se movesse no tempo. O ano de 3009 também excerceu uma breve
atração, como percebeu George, mas insuficiente para deter o avanço rumo a 82.701.
Após hesitar por um segundo, devido as estranhas novas roupas de George, Uiina veio correndo e o abraçou. Os outros
Eloi ficaram olhando num misto de admiração e espanto, e ficaram ainda mais impressionados quanto Herbert e Wells saltaram
da nave, parecendo dois soldados saídos de filmes de ficção científica.
George fez algumas perguntas aos Eloi, enquanto seus amigos vasculhavam o novo mundo à sua volta, ainda um pouco tontos.
Ficou sabendo que
diversos dos cães assassinos estavam à solta, mas por sorte evitavam o local da máquina do tempo, cujos estranhos
ruídos, flashes e desaparecimentos eram um tanto assustadores. Por sorte, as nuvens negras de fumaça não conseguiram
se tornar suficientemente densas para escurecer o dia. Não permitiriam a saída livre dos Morlok e nem chegavam a
atrapalhar a visão.
Mas as boas notícias acabavam aí. Enquanto muitos dos Eloi estavam refugiados nas árvores, os anciãos decidiram agir,
mais uma vez, contra seu próprio povo. Aterrorizados com a retaliação dos Morlok, decidiram recapturar os marcados e os
amigos de George que encontraram, e usando seus capangas, levá-los de volta ao mundo subterrâneo para aplacar a fúria de
seus senhores.
A primeira preocupação dos viajantes foi proteger a máquina. Algumas blingadens foram instaladas, e a máquina foi selada
de modo relativamente inviolável. Os 3 crononautas avançaram floresta adentro rumo à aldeia dos Eloi.
- Eu custo a crer que isso está acontecendo! - Gritou Wells, que filmava tudo a sua volta. - E como um sonho!
- Ou um pesadelo. - Disse Herbert, prestando atenção nas nuvens negras no céu, e com a calibre 12 em punho.
Por sorte Herbert tinha a condição física física de um playboy, malhado em academias e praticante de corridas nas
calçadas da cidade. Wells era menos ativo, mas fora um atleta nos tempos de juventude, além do que estava acostumado a
longas caminhadas. Mesmo assim ambos ficaram impressionados com a condição física de George, que voava por meio às árvores
quase deixando os amigos para trás.
De repente, ouviram um rosnado selvagem, e logo perceberam a horrorosa criatura canina à frente deles. Lembraria um
dogue alemão superdesenvolvido. Quase do tamanho de um cavalo, com dentes enormes arreganhados, e vindo pronto para
atacar. Herbert tomou a dianteira, apontou a carabina e de um só disparo pôs a fera à pique, gravemente ferida.
Ainda caminhou umas dezenas de metros e depois tombou. Só então os viajantes ouviram os gritos de alegria dos Eloi
acima deles, nas árvores.
Rapidamente desceram e cercaram os crononautas, em especial George, que tentou ser breve ao dar atenção a eles.
Retomando a marcha, quase na entrada da aldeia encontraram outra fera selvagem. Desta vez Wells apontou sua pistola,
e com a mira LASER foi fácil atingir em cheio a cabeça do cão, que teve o mesmo destino de seu companheiro.
Finalmente estavam na aldeia, quase deserta, um pouco destruída, mas ainda assim fascinante. Ao ouvirem os gritos de George e
dos outros Eloi, aos poucos as portas de algumas casas foram abertas e os habitantes saíram. No começo se assustaram com
os crononautas, mas então reconheceram George. Vários Eloi desceram das árvores e logo algumas centenas deles já se
reuniam em volta dos viajantes.
George apressou-se em dizer-lhes que a ameaça dos Morlok estava prestes a acabar, que os Eloi não mais deveriam ter
medo. Uns poucos dos anciãos ali finalmente começaram a ter esperança, e a acreditar em George, e aos poucos uma leve
euforia começou a tomar conta da tribo.
Mas George não tinha muito tempo, ficara sabendo que os outros anciãos e seus capangas já deviam estar prestes a entregar os
Eloi condenados às portas dos Morlok, e os 3 aventureiros não perderam tempo. Mal se dirigiram à floresta, dois cães surgiram,
e foram prontamente abatidos a tiros para o susto e posterior delírio dos Eloi.
George não gostava daquela situação. Se sentia como uma arauto da violência e da morte, mostrando brutalidade para aquelas
dóceis pessoas do futuro. Mas sabia que não tinha outra opção.
Desceram floresta a dentro rumo à estrada proibida que dava acesso ao antigo templo de pedra. Sendo seguidos por alguns Eloi,
incluindo um dos aciãos, em vários pontos do caminho se depararam com os cães mostruosos, que foram mortos ou afugentados
sem maiores dificuldades. Porém, a medida que se aproximavam da entrada do domínio dos Morlok, perceberam que o céu ficava
mais e mais escuro, pois as nuvens que emanavam das chaminés se concentravam naquele ponto, em alguns momentos foi
necessário o uso de lanternas.
De repente, se depararam com o outro grupo de anciãos, realizando sua nefasta tarefa de entregar os condenados aos Morlok.
Em meio às sombras causadas pela fumaça, puderam avistar o exato momento em que os Eloi recapturados eram arrastados de volta
à entrada do domínio subterrâneo, sendo puxados por uma horda de Morlok, incluindo alguns do tipo maior e aparência simiesca.
Do interior do templo vinha um forte vento, trazendo odores nada agradáveis e sugerindo, juntamente com os sons, que o
maquinário subterrâneo trabalhava a todo o vapor.
Apesar dos relatos precisos de George, e mesmo de algumas gravações que ele mostrara aos amigos, estes não conseguiram
evitar um espanto ao se deparar com os terríveis habitantes do subterrâneo. Um breve asco tomou conta de Herbert,
e Wells sentiu um súbito pânico. Depois viria a pensar o quanto George fora corajoso em enfrentar sozinho aquelas criaturas.
Mesmo assim, o espanto dos Morlok não foi menor, ao ver agora não um, mas 3 "outros" estranhos, pois provavelmente nem
reconheceram George.
Antes que os crononautas pudessem agir, os últimos Morlok adentraram e fecharam rapidamente a pesada porta, que com um
ruído dilacerante vedou a passagem de modo aparentemente intransponível. Era evidente que nem todos eles juntos conseguiriam
forçar aquela entrada. George se virou então para os anciãos e gritou com
eles, mas ao ver sua expressão de espanto e confusão, não demorou a sentir pena. Perguntou então quantos haviam sido
entregues e com alguma dificuldade os anciões contaram mais de 30, pois os Morlok acharam o tributo insuficiente, e acabaram
por capturar alguns dos capangas também.
- Desceremos pelas chaminés? - Gritou Wells.
- Impossível! - Respondeu George. - A fumaça está vindo de lá, acho que seríamos sufocados.
- Então vamos abrir essa porta. - Disse resoluto Herbert, retirando do bolso uma granada.
CAPÍTULO XV
A explosão mais uma vez espantou os Eloi, foi difícil para George convencê-los a ajudar a remover os escombros da entrada.
A porta não fora totalmente destruída, apenas parcialmente danificada, mas o suficiente para permitir que, com algum labor,
fossem pouco a pouco forçando uma passagem estreita. Pensaram em detonar uma segunda granada, mas logo viram que isso poderia
causar um desabamento que inviabilizaria a entrada. Mal pensaram nisso, um brusco desmoronamento começou, por pouco Wells
não foi esmagado por uma pedra, porém, após o susto e a poeira, uma ampla e generosa passagem ficou exposta, e o que era
antes uma entrada arquitetonicamente erigida revelou-se uma boca de caverna.
Foi um momento forte para George, de repente teve a impressão que todo o poder dos Morlok desabava, visto que no fundo,
apesar da aparência de alguma sofisticação, ainda eram meros homens das cavernas, possivelmente herdeiros dos resquícios
de uma civilização já decadente.
Com a longa abertura, e com uma breve folga nas nuvens no céu, a luz do Sol entrou nos corredores de um modo tão invasivo
que a até mesmo os Eloi se animaram a ir em frente. Só então George lembrou que havia uma entrada lateral que seria mais fácil de
forçar, porém pensou melhor e percebeu que por ali, onde já estavam próximos a chaminé por onde ele invadira anteriormente
o subterrâneo, ele seria capaz de se orientar melhor, e pela entrada lateral possivelmente se perderia.
Após um breve fôlego, avançaram túnel a dentro, ouvindo os sons do maquinário trabalhando. Rapidamente tudo escureceu,
assustando os poucos Eloi que tinham coragem de seguí-los.
O negrume não foi só por adentrarem mais profundamente, mas porque de súbito, as nuvens negras tomaram o Sol novamente.
Ativaram
potentes lanternas militares, e se depararam com um caminho livre. Não andaram muito para que George pudesse ver a saída
da chaminé por onde entrara antes, e então entendeu que a fumaça era gerada pela queima de alguns pacotes de um material
denso e mal cheiroso, que lembrava enxofre. O vento soprado das profundezas, provavelmente gerado pelas máquinas, impelia
a fumaça chaminé acima impedindo que adentrasse o domínio subterrâneo.
Herbert comentou sua preocupação de que as máquinas parassem, pois a fumaça entraria ambiente à dentro, mas não podiam
esperar mais, pois gritos pavorosos de Eloi ecoaram nos corredores, arrepiando a todos. Uiina, agarrou-se a George,
mesmo assim aparentava uma coragem que o surpreendia. Bem como eram surpreendentes também os outros Eloi, seus antigos
amigos. A coragem e força de vontade humana começavam a despertar naquele frágil povo.
Não demorou para chegarem ao local onde ficava o grande maquinário, que movido por um poderoso engenho a vapor, girava
uma imensa hélice que quase chegava e impedir o avanço. Graças àquilo, os Morlok das profundezas não podiam sentir o
cheiro dos invasores, e talvez nem mesmo ouví-los, e George ficou pensando se eles afinal ofereceriam alguma resistência.
Atravessaram então o local, onde braseiros vermelhos abundavam. George Sugeriu desligarem todas as luzes e acostumarem
a visão. Toda a breve coragem dos Eloi pareceu se esvanecer por completo, e não sem razão, pois por uns instantes a
iluminação vermelha só conseguia despertar as sensações mais sombrias. Foi uma breve visão infernal, no entanto,
aos poucos, a medida que avançavam com auxílio ocasional da câmera de visão noturna, foram se adaptando à
meia-luz.
Então voltaram a ouvir gritos dos Eloi e grunhidos e rosnados selvagens dos Morlok, e logo estavam no local onde antes
George presenciara o terrível ritual.
Mais uma vez, os Morlok pareciam em transe, olhando para o altar, onde um número bem maior de sacerdotes se preparava
para seu insano sacrifício. No entanto, havia algo diferente naquele ritual, os sacerdotes estavam, em sua maioria
voltados para as estátuas de divindades inumanóides. Mesmo sem quase nada saber sobre aqueles seres, parecia ser nítido
que invocavam a ajuda ou piedade de seus Deuses, e que o sacrifício maior visava compensar o fracasso do ritual anterior
Mas não era possível observar mais, pois o primeiro Eloi estava prestes a ser levado para o caldeirão, e desta vez
George não iria hesitar. Antes mesmo que gritasse, alguns Morlok já haviam percebido sua presença, mesmo assim se assustaram
como se somente com o som acreditassem no que viam.
Foi um pandemônio total. Foram cercados por uma horda de inamistosos mas hesitantes algozes, e os Eloi prisioneiros reagiram
com um brilho inédito no olhar. Quer fosse entedido ou não, George ordenou a soltura imediata de seus companheiros,
mas os sacerdotes apenas olhavam de modo incrédulo, com um misto de ódio ou frustração. Um deles se virou para as estátuas
de deuses, e por vários segundos reinou um silêncio total, então ele se virou e deu um grito que George jamais ouvira,
e que quase estourou-lhe os tímpanos.
Subitamente as hordas mostruosas avançaram contra o pequeno grupo, que de imediato abriu fogo. George e Wells atiravam com
pistolas, Herbert descarregou a calibre 12. Davam preferência aos monstros maiores, que vinham à frente dos demais,
mas os Morlok, porém, pareciam ser repelidos mais pelo brilho dos tiros do que
pelos projéteis, que não atingiam todos deles.
Ligaram então suas lanternas, e obtiveram um efeito mais efetivo do que com as armas. Mas foi por pouco tempo, com outro
grito ensurdecedor o sacerdote principal encorajou seu povo a avançar às cegas, e logo os aventureiros perceberam que
sua munição acabaria mais rápido do que o exército de inimigos.
Abandonando a carabina ao chão, Herbert empunhou a M-17, e finalmente obteve um resultado decisivo contra a horda de inimigos.
A metralhadora varreu a cena jogando dezenas de Morlok ao chão, enquanto George e Wells se embrenhavam num corpo a corpo
contra seus inimigos, usando facas e corronhadas das pistolas.
Mesmo com o estrago causado pela metralhadora, logo estavam novamente em desvantagem. Ainda que cada golpe certeiro de
George deixasse um Morlok ao chão, ainda que os movimentos meio desesperados mas possantes de Wells, que tinha braços
e pernas longos e forte, conseguissem manter os monstros à boa distância, era notável que estavam recuando mais e mais,
e se ao menos uma centena de Morlok jaziam mortos, um número ainda bem maior continuava a aparecer.
George já tinha um ferimento feio no rosto, e Herbert sentia um dor forte na perna, como se houvesse sido quebrada.
Os Eloi atrás deles também não estavam a salvo, no começo ficaram totalmente acuados, mas aos poucos começaram a atrever
seus primeiros tapas e pontapés nos inimigos, o que custou uma feia mordida no braço de Uiina, e um dos mais velhos,
quase um ancião, por pouco não fora arrastado pela horda.
Com o fim da munição da metralhadora, Herbert acendeu uma lâmpada de iodo cujo brilho foi tão forte que ofuscou mesmo
a eles próprios. Com isso os Morlok recuaram, pois sua pálpebras mesmo fechadas não pareciam capazes de deter a possante
luz, e então George, como que iluminado por uma revelação, teve uma idéia.
- Herbert! As estátuas! Destrua as estátuas!
Herbert então lembrou-se do lança granadas embutido na M-17, e então num disparo certeiro atirou bem na cabeça do
monstruoso ícone logo atrás e acima do sacerdote principal. A explosão reverberou em todo o ambiente, e além de ter o
rosto explodido, o ídolo de pedra oscilou, e então tombou, esmagando o pobre sacerdote que tentava apará-lo com as
próprias mãos.
A outras estátuas foram logo alvejadas também, mas logo percebeu-se que nem sequer seria necessário, as hordas de Morlok
ficaram paralisadas, incrédulas, como se toda sua força viesse de sua divindade, e por um momento pareceram esperar um
milagre, um ressurgimento trinfal de seus deuses, que lhe ofertavam apenas o silêncio e a inatividade.
O que sucedeu foi inacreditável, dezenas de Morlok correram para os escombros das estátuas, pareciam chorar, e então,
pouco a pouco, foram debandando em pequenos grupos, rumo à produndezas ainda mais densas das cavernas subterrâneas.
Mesmo assim muitos ainda ficaram, principalmente os sacerdotes, impotentes e derrotados, pois não somente seus deuses estavam
caídos, mas mesmo seus soldados mais fortes, os "gorilas" brancos, estavam agora todos mortos, bem como todos os grandes
cães pareciam estar na superfície, e os Morlok restantes estavam em sua maioria paralisados de medo, somente uns poucos
ainda arriscavam alguma movimento ameaçador, que era imediatamente detido por uma simples gesto dos crononautas.
George se adiantou e libertou os Eloi prisioneiros, que se juntaram a eles. As luzes mais fortes estavam desligadas,
mas havia fogo e brasas suficientes, avivadas pela batalha, para permitir visão clara.
Houve então um momento de incompreensível hesitação, e finalmente George pode notar um lampejo de humanidade no rosto
de um dos sacerdotes. Que o fitou com profunda melancolia e decepção, e após um longo e enigmático silêncio, que
captou a atenção hipnotizada de todos, falou em clara, ainda que grosseira, linguagem Eloi.
- Por quê?
Apresentação
Contos de FC & FF
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