OS CRONONAUTAS
A Versão EXERIANA de
"A Máquina do Tempo" de H.G.Wells

APRESENTAÇÃO
[aproximadamente 6.500 caracteres]

É com grande prazer que apresento esta obra, antes de tudo, uma homenagem ao grande Herbert George Wells, pai e mestre da Ficção Científica. Qualquer pessoa já ouviu falar em uma "Máquina do Tempo", e a grande maioria entende o conceito, bem como já viu algum filme em que uma delas seja utilizada. O que a maioria não sabe é que esta é uma invenção de Wells no longínguo ano de 1895, que em sua obra, A Máquina do Tempo, conta a aventura de um "Viajante do Tempo" que com sua invenção avança para mais de 800 mil anos no futuro, onde encontra descendentes da humanidade divididos em duas raças numa terrível relação de dominação.

É bom lembrar que a idéia de "Viagem no Tempo" já existia, mas sempre envolvendo noções mitológicas, casuais ou milagrosas. Wells foi o primeiro a conceber a idéia de um dispositivo construído por um ser humano para intencionalmente viajar no tempo, e é essa idéia, a da viagem voluntária, que se tornou um dos mais populares temas da Ficção Científica, captando a atenção de Bilhões de leitores e espectadores ao longo do século XX, nas mais diversas obras literárias, televisivas ou cinematográficas como Perry Rhodan, Túnel do Tempo, De Volta para o Futuro, Os 12 Macacos e um sem número de títulos que por vezes chamam-se simplesmente "Viajantes do Tempo" ou mesmo "Máquina do Tempo". Isso sem contar diversos outros filmes que inicialmente são sobre outros sub temas da FC, mas que não raro apresentam episódios de viagem no tempo, como as séries Perdidos no Espaço ou Jornada nas Estrelas. A temática de viagem no tempo se alastrou até mesmo por romances, como Kate e Leopold ou Em Algum Lugar do Passado, e já foi a explicação inclusive para a trama de uma novela brasileira, no caso Kubanacam.

Assim, se tantas pessoas puderam produzir estórias sobre tal tema, eu também não deveria ficar de fora, mas ao invés de, como a maioria faz, simplesmente lançá-la como se fosse algum tipo de novidade, preferi juntar minha admiração por Wells e meus próprios devaneios, produzindo uma versão de sua estória que seja mais adaptada ao nosso século XXI.

Verdade seja dita, Wells fez uso de uma das possibilidades de Viagem no Tempo, no caso, a Viagem para o Futuro. Seus sucessores viriam, em sua grande maioria, a explorar o sentido oposto, a Viagem para o Passado, e muitos lidando com os problemáticos paradoxos que isso causa. Tais temas estão abordados em meu texto Viagens no Tempo e Paradoxos Temporais.

Viajando para o futuro Wells pratica um outro tipo de ficção, uma Futurologia onde ele é livre para imaginar as consequências de nossas ações no presente, e à quê possibilidades isso poderia nos levar. Faz projeções sobre sociedade e evolução, e esboça não somente uma história do futuro humano, mas mesmo do futuro geológico, biológico e astronômico do próprio planeta. Isso tudo baseado em concepções científicas de ponta em sua época.

O livro de Wells também recebeu duas adaptações para o cinema, homônimas ao livro, uma de 1960 e a outra de 2002. Sem contar que o próprio Wells é retratado como personagem no filme Time After Time, que recebeu no Brasil o genial título de Um Século em 43 Minutos, numa alusão à velocidade de viagem da máquina que o próprio Wells construíra, e com a qual viaja para o então presente, ano 1979.

Ah... E é bom lembrar também, esse meu texto deve ser bem mais interessante para aqueles familiarizados com o livro original, ou ao menos com algum dos filmes.

O mais antigo destes filmes é bem mais fiel ao livro, mas já introduz conceitos de sua época, como as pausas que o viajante faz para presenciar a Primeira e Segunda Guerra mundiais, e uma "Terceira Guerra", nuclear, que se daria no então futuro ano de 1966, com direito a pessoas andando pelas ruas usando roupas prateadas. Ocorre também uma imperdoável licença poética, o absurdo fato dos Eloy, um loiríssimo povo de 802.701 anos no futuro, falarem um perfeito inglês britânico vitoriano! E a introdução de um sistema de gravação de áudio, onde o personagem central ouve, em inglês, é claro, a narração da recente história da humanidade.

A segunda versão é mais divergente, existe um drama romântico inicial, e uma pergunta a ser respondida, que envolve o paradoxo temporal, há uma parada no ano 2030 onde o viajante dialoga com um computador holográfico, em inglês britânico do século 19, e uma catástrofe que fez a Lua se despedaçar. O viajante encontra os Eloy, desta vez morenos e mais rústicos, e falando um idioma próprio, mas que também falam inglês por terem contato com o mesmíssimo computador holográfico que milagrosamente sobreviveu virtualmente intacto a uma catástrofe há mais de 800 mil anos! Introduz também uma divisão de castas no mundo dos Morlock, com direito a um telepata que explica ao viajante toda a situação, respondendo suas dúvidas, conserta e devolve sua nave e o libera, para depois ser violentamente atacado pelo protagonista num golpe eticamente bastante discutível.

Wells, evidentemente, produziu um trabalho bem mais coerente. O viajante tem que aprender aos poucos o rústico idioma do Eloy, e não há nenhum sistema automático que o explica o que aconteceu. Ele próprio faz suas conjecturas filosóficas sobre o que teria transformado o mundo daquela forma, o que constitui o maior brilhantismo do livro. Ao final, viaja ainda mais para o futuro, milhões, bilhões de anos, até ver o Sol morrer!

É bastante curioso notar que a viagem no tempo mais ousada e longíngua da ficção científica continue sendo esta, mas também considero que isso se deva à visão ingênua da época sobre Biologia Evolutiva. Naquele tempo ainda havia forte noção Lamarckista, e não se tinha uma noção tão clara das condições que podem levar as espécies a se estabilizarem evolutivamente. Também havia um estusiasmo desmedido sobre a Filosofia Marxista, e suas previsões sobre o futuro das relações sociais.

É exatamente sobre estas duas visões incipientes que Wells constrói sua fantasia, imaginando duas linhagens da raça humana evoluídas em condições muito distintas, associando isso a previsões sobre que tipo de estrutura social se daria num pós-comunismo utópico.

É em parte por isso que eu quis fazer uma versão própria, abordando tais idéias de um ponto de vista com um século a mais de conquistas do conhecimento. Aproveitei também alguns elementos interessantes vindos dos filmes e procurei construir uma versão que consiga reunir uma fidelidade maior ao espírito da obra, bem como uma certa modernização.

Decidi, em primeiro lugar, alterar a data da viagem, de 802.701 anos no futuro. Isso se justifica porque creio que Wells usou tão longínguo salto baseado na idéia de que a humanidade teria de evoluir em tempo tão longo. Hoje vejo que tal tempo não é tão necessário devido a mecanismos que possam acelerar a evolução, como mutações induzidas por radiação ou mesmo manipulação genética direta. Algo impensável no tempo de Wells, por outro lado, uma distância tão grande assim me parece um exagero. Podemos conceber coisas tão ou mais extraordinárias em tempos bem menores.

As brilhantes especulações sociais de Wells também não poderiam ser negligenciadas, e decidi além disso conservar o teor do final de ambos os filmes, inversos ao do original, porém não deixar de fora a espetacular sequência final do livro, ausente também nos filmes. E também, não pude deixar de incluir uma intensa dose de ação.

Dito isso, espero que esta leitura seja agradável aos fãs desta lendária tradição da Ficção Científica, e ajude a honrar o inventor da Máquina do Tempo, que curiosamente antes de batizar definitivamente sua obra com este famoso título, se referia a ela provisoriamente como The Chronic Argonaut.

Marcus Valerio XR
26 de Abril de 2006

Contos de FC & FF
Primeira Parte

Paradoxos das Viagens no Tempo

Parte
Número aproximado
de caracteres
Data de
Publicação
1a Parte - A Máquina do Tempo
18.700
16/08/2006
2a Parte - 800 Séculos em 43 Horas
24.200
16/08/2006
3a Parte - Os Eloi
18.300
16/08/2006
4a Parte - Os Morlok
25.150
02/09/2006
5a Parte - De Volta para o Futuro
18.600
02/09/2066
6a Parte - Evolução e Revolução
24.000
08/09/2006
7a Parte - 10 Anos por 1
19.400
30/09/2006
8a Parte - Ao Fim dos Tempos
25.650
21/12/2006
9a Parte - Ouróboros
18.850
22/02/2007
Total:
192.850
6 Meses