Esta hilariante estória foi originalmente postada no blog da fictícia Igreja Internacional, que realizava uma paródia das religiões neopentecostais, as vezes esdrúxula, as vezes tão aparentemente séria que frequentemente era tomada como sendo referente a testemunhos de fé autênticos. Nesse caso, a aventura mirabolante proíbe qualquer mente sã de não perceber o propósito meramente satírico, embora frequentemente genial, da narrativa. Entre outras coisas, combina uma refinada ironia sobre as opiniões mais radicais dos fundamentalistas cristãos bem como daqueles que, ao levar a religiosidade num sincretismo extremo, produzem algo que mal pode ser reconhecido como cristianismo. O blog, infelizmente, saiu do ar, e o texto não pode ser mais encontrado exceto por meio de sites de recuperação de páginas perdidas, como o deadurl.com. Também não sei quem é o autor, pois as postagens sempre foram por meio de pseudônimos. Com isso, tomei a liberdade de publicá-lo aqui, para que a internet não seja privada dessa incrível comédia fantástica, fazendo votos que um dia o autor apareça e eu possa lhe dar o devido créidito.

Marcus Valerio XR
20 de Janeiro de 2012

O Convento

Autor Desconhecido

Meu nome é Wenceslau, sou natural de Belo Horizonte e tenho 49 anos. Nos anos 60 anos, devido à falta de empregos no estado de Minas Gerais, meu pai (metalúrgico) resolveu mudar-se com minha família para a Bahia, mais precisamente para a cidade de Una, onde o plantio de cacau gerava muito lucro.

Logo na primeira semana ele estava empregado e recebendo seu salário semanal. Nossa vida mudou radicalmente (para melhor), ele pagava meus estudos, brinquedos e me dava do bom e do melhor. Éramos uma família feliz e repleta da graça do espírito santo.

Passado alguns anos, resolvi trabalhar. Eu era técnico em agropecuária e adorava tudo aquilo. Depois de algumas entrevistas, fui contratado para trabalhar na fazenda de um rico empresário baiano. Era bastante afastada da cidade, lá eu acordava às quatro da manhã, apartava os bezerros, tirava leite, dava sal ao gado, enfim, fazia todo o gerenciamento na área bovina. Fiz amizade com o capataz da fazenda, Celestino, que aparentava ter 65 anos, era negro, rosto enrugado e cansado, tinha os olhos amarelados, braços com veias saltadas pelo extenso serviço na roça, poucos dentes na boca e uma barba esbranquiçada. Era bastante educado, me cedeu sua casa para morar, apenas dividindo as despesas com alimentação.

Alguns meses passados, já bem integrado com os companheiros, fui chamado para uma roda de viola. Celestino sentou-se com a peãozada, próximo à fogueira e enrolou um cigarro de palha com o fumo da marca Trevo. Ele contava histórias das batalhas que ocorreram naquela região, enquanto os outros peões se embriagavam com a doce cachaça 29. No meio da madrugada, ele nos contou da existência de um convento que havia numa mata próxima à fazenda: Em 1789, um navio lotado de clérigos desembarcou em Porto Seguro, eram padres e freiras excomungados da Igreja Católica portuguesa por praticarem rituais pagãos. Buscaram então refúgio no Brasil – Colônia, onde poderiam começar nova vida. Foi em Una que, com 200 escravos negros, construíram o convento em estilo barroco, no meio da floresta. Após a construção todos os escravos e o mestre de obras e artesão francês, Jean-Claude de La Hoya foram mortos envenenados para manter em segredo a localização. Eu percebendo o alto nível de embriaguês, não levei a sério toda aquela lorota. Celestino era ateu convicto, freqüentava o centro espírita da cidade de Una e sempre batia um tamborzinho nas noites de lua cheia. Por isso ele não tinha credibilidade.

Já cansado e com sono, resolvi ir dormir. Entretanto, na madrugada, aquela história do convento não saía da minha cabeça. Passei três noites sem dormir só pensando naquilo. Não resistindo à curiosidade, na quarta noite resolvi ir tirar aquela história a limpo. Calcei meu coturno de borracha, coloquei um facão Tramontina 18 polegadas na cintura e vesti um chapéu bangora-western, estilo cowboy. Saí de casa na surdina e embrenhei na mata.

Após andar por aproximadamente 4 horas, exausto notei uma clareira na densa floresta, andei mais um pouco e não pude acreditar, era uma construção magnífica, com mais ou menos 20 metros de altura, uma torre bem fortificada, rodeada por uma alta parede. Aproximei-me do muro principal, quando me preparava para pular senti uma forte pressão na nuca, fiquei tonto e desmaiei. Não sei quanto tempo se passou. Quando recobrei a consciência, percebi que estava deitado, amarrado pelos pés e mãos, com uma venda nos olhos e completamente nu. Desesperado, comecei a gritar por socorro, gritos esses prontamente abafados por uma fita silver-tape. Estava sem reação. Era refém e nem sabia ao menos onde estava. Foi ali que começou o meu martírio…

Depois de algumas horas, percebi que o local onde estava preso estava repleto de pessoas, elas conversavam em voz baixa, quase sussurrando. Quando de repente uma pessoa com uma voz feminina começou a aproveitar-se do meu órgão genital. Inevitavelmente, tive uma ereção em seguida ejaculei. Depois daquele momento, foram surgindo mais e mais pessoas, parecia que havia formado-se uma fila. Todas praticavam sexo comigo. Depois de algumas horas cheguei à exaustão, e quando elas chegavam e não conseguiam resultado, me açoitavam com varas de fedegoso e bainha de couro cru. Eu, amarrado, vendado e exaurido apanhava de forma desumana. Por ser evangélico, eu apenas orava em voz baixa para que aquela situação terminasse. Após notarem que aquilo não ia dar mais resultado foram deixando o cômodo e fiquei ali, sozinho, nu e confuso.

Calmaria, comecei a tentar me soltar. Todo aquele labor na roça me rendera alguns músculos, forcei as amarras e depois de alguma luta soltei as mãos, com as mãos retirei a mordaça e me libertei. Olhei ao meu redor, era uma sala úmida, sustentada por grossas vigas de mogno, iluminada apenas por velas e candeeiros, repleta de pinturas obscenas, estátuas com conotações sexuais, santos, cordeirinhos, tudo em estilo barroco.

A ante-sala era forrada com belos tapetes e almofadas, talvez persas. Lá havia cerca de 50 mulheres despidas, todas velhas e acima do peso. Eram as freiras que abusaram de mim.

Ao longe vi a porta de saída. Com um golpe de vista mapeei a localização das freiras e marquei a rota de fuga. Com uma explosão digna do jogador Paulo Roberto Falcão na copa de 1982, saí correndo e driblando uma a uma. Aquelas mulheres despidas de suas túnicas, já com idade avançada, pernas cheias de varizes, seios já derrubados, algumas calvas, outras com unhas enormes e pretas, se amontoavam atrás de mim, numa tentativa de recapturar o ‘objeto’ de desejo e luxúria, que em disparada ia-se indo embora.

Tamanho meu desespero que pulei o muro do convento que estimo ter uns 3 metros de altura em apenas um salto, sem utilizar as mãos. Correndo no mato, no frio da madrugada, foi me cortando com os capins-navalha, pisando em espinhos, pedras pontiagudas, mas não parava de correr por nada, finalmente saí da mata e avistei ao longe a sede da fazenda e no alto do morro o velho galpão, ou mourão de pedra e o casebre de Celestino. Cheguei em frangalhos, esbaforido, sujo e suado.

Celestino, abriu a porta e me acolheu ainda bastante cansado e sob efeito do medo, tremia muito e mal conseguia contar toda a história. Ele me disse para tomar um banho primeiro e me vestir. Limpei-me, minha perna estava repleta de cortes, coloquei uma roupa bem aquecida, e, tomando um café e fumando um cigarro consegui colocar o ocorrido em palavras.

Após contar todos os fatos olhei pra Celestino e notei que ele estava com os olhos arregalados, ficara muito impressionado com toda a história. Com voz suave disse: “Wenceslau, eu te falei e você não acreditou. Você não deveria ter ido lá.”

- “É, Celestino, não acreditei em suas palavras. Mas agora não tem mais volta, minha honra foi perdida naquele local, agora pra mim só resta a vingança.” Respondi. Celestino tentou me convencer a não voltar, mas eu estava predestinado àquilo. Ele, que era quase um pai pra mim, se ofereceu para ir junto. Aceitei. Exausto, dormi.

Quinta-feira, às 17 horas, nosso serviço já estava todo feito. Armamos uma garrucha filombé 0.22 até o tucupi de bala e uma roçadeira de náilon à gasolina da Toyana. Fomos dispostos a colocar abaixo aquilo tudo. Eu, por Cristo. Celestino, acho que pelo carinho que tinha por mim, ou por viver uma triste e desoladora existência de um ateu, pois para quem não acredita em nada, não há nada a esperar a não ser a morte, então para ele, tudo valia a pena.

Chegamos então ao local, um silêncio fúnebre, o cheiro de morte rondava o ar, contornamos o muro até a porta principal e a mesma se encontrava aberta,de dava pra se notar os movimentos dos vultos lá dentro à luz de velas, promovendo uma grande orgia católica entre elas. Fomos entrando devagar, agora dava pra ver claramente, aquele ritual litúrgico, lésbico e geriátrico.

Minha ira só aumentava, gritei pra Celestino: -“É agora!”. Liguei a roçadeira, e as freiras todas se levantaram. Freira por freira, membro por membro, destroçados pelo poderoso fio de náilon cortante da máquina, que girava, estimo, em 12.000 RPM e emitia um assobio dissonante. Celestino, com a garrucha, atirava à torto e à esquerda, deixando o cano da espingarda reluzindo como brasa, vermelho como o sangue que lavava aquele chão de pecados.

Apesar das armas a luta não foi fácil, eram muitas. Cercavam-nos por todos os lados, tentando nos conter. Fiquei cercado, mas num giro rápido com a roçadeira decapitei 10 daquelas freiras. Elas começaram a recuar pela escaderia, que levava ao andar superior. No alto da escaderia uma grande porta de madeira aberta. Subimos.

Ao entrar pela porta, chegamos à um lugar que parecia um altar, com várias cadeiras e na frente uma imagem de Cristo nu, com o órgão em riste. As freiras se juntavam ao pé de uma figura muito alta. Era um homem, mais precisamente um padre que quando nos notou gritou com uma voz cavernosa e grutual: “Quem sóis vós!?”

“Somos os enviados de Cristo”, respondi num tom desafiador.

“Enviados de Cristo?” o padre gargalhou.

Num salto ele, que estava a uns 20 metros de distância, pousou na nossa frente. Ele era excessivamente velho, cabelos brancos compridos. Abriu a boca e pudemos ver suas presas enormes, dois caninos cor de marfim.

Aquela criatura hedionda, muito pálida e alta disse com sua voz grave e um carregado sotaque lusitano: “Como ousam entrar no meu convento, ó pá!”

- Quem é você?

- Meu nome é Pivomar, o padre de Queluz.

-O que são vocês?

-Nós? Nós somos os descendentes diretos do Papa Paulo, o papa hematófago. A Igreja tentou nos ocultar por muito tempo até a situação se tornar insustentável, por isso viemos ao Brasil.

-Hematófagos? Querem nosso sangue?

-Sangue? Não, nós somos diferentes, sugamos o líquido da vida, o sêmen.

-Sêmen?

-Sim, sêmen.

Ao concluir a sentença Celestino foi violentamente arremessado ao chão e eu ao tentar esboçar uma reação, tive os braços segurados por 4 freiras nuas.

Celestino foi despido e o padre começou a sugar seu pênis. Vi sua energia vital sendo drenada, e ele começou a secar até seus olhos ficarem brancos. Vi meu companheiro morrer na minha frente.

Pivomar então veio em minha direção e ficou cara a cara comigo, retirou minha calça e mostrou as presas. Era a minha vez.

Como num estalo, me lembrei dos programas de telecatch, com Ted Boy Marino, e rapidamente lhe apliquei uma tesoura com as pernas prendendo seu pescoço, e com um giro fantástico lhe ceifei a vida quebrando sua espinha cervical. As freiras todas cairam sem vida. Elas deviam ser ligadas espiritualmente à força vital de Pivomar.

Resolvi por um fim àquilo tudo, peguei um candelabro de velas e comecei a atear fogo nas cortinas. Não pude dar um enterro cristão à Celestino que foi queimado junto com todo o convento. Uma pena eu não poder ter salvo aquelas obras que estavam lá, algumas esculturas de Aleijadinho, livros inéditos de Gregório de Matos e uns tantos quadros Caravaggio.

Saí do convento com minha fé renovada. Foi naquele momento que descobri porque Martinho Luthero rompera com a Igreja Católica, uma instituição cheia de segredos e envolvida com o vampirismo. Depois daquele dia passei a me dedicar à glória do Senhor e hoje sou um conceituado pastor na Igreja Internacional.

Glória.

Autor Desconhecido


Essa entrada foi postada em Quarta-feira, Junho 10th, 2009 às 3:31 pm sob a(s) categoria(s) Testemunhos de Fé.



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