RÉPLICA AO TEXTO:
Criacionismo: Fatos e Fé - CONTINUAÇÃO

de Rafael Augusto Borges Pavani

Olá Rafael...

Finalmente, agora irei proceder a devida continuação de nosso diálogo, que infelizmente teve que aguardar muito tempo, inclusive com outros diálogos bem menos produtivos, devo admitir, mas aos quais não posso deixar de tratar.

Tentarei ser o mais suscinto possível, na esperança de evitar um texto demasiadamente longo, e reproduzirei apenas os trechos com desenvolvimentos relevantes. Portanto continuemos.

CRIACIONISMO: FATOS E FÉ - CONTINUAÇÃO
Rafael A. B. Pavani

(...)

Você também deve ser muito ocupado, respondendo com atenção a todos que lhe escrevem, e talvez este fato tenha prejudicado uma leitura mais cuidadosa de meu texto.

Primeiramente, o título tem um pequeno erro. Não é "fatos de fé", mas sim "Criacionismo: fatos e fé". Talvez isso esclareça uma impressão errada sobre o conteúdo do texto. Nada de mais, no entanto.

Peço Mil Desculpas por esse deslize. Sinceramente não sei como pude cometer tal gafe. Normalmente tenho um atenção acurada param detalhes. Mas já foi tudo corrigido. Obrigado pela compreensão.

Você disse que o criacionismo não é científico já que não podemos provar Deus. Sob o seu ponto de vista, a evolução também não é científica, pois ninguém conseguiu teorizar o que teria ocorrido nos primeiros instantes do Big Bang, nem como um amontoado de aminoácidos formou uma molécula replicável (DNA, RNA). Se esse princípio não é decifrável, então todo o resto deve ser descartado, segundo seu próprio raciocínio.

Veja só. Parece que tenho que admitir que deve haver uma falha metodológica muito séria na divulgação científica, e ou que a propaganda Criacionista é muitíssimo mais forte do que parece.

É estranho que você compartilhe tal visão, pois eu achava que somente os Criacionista menos informados, ou os menos bem intencionados, faziam essa confusão de Evolução com Cosmogênese.

O que estamos discutindo é a Evolução Biológica. Isso NADA tem haver com o Big-Bang. Não tem a mínima importância que o surgimento do Universo possa ser explicado ou não. Quanto à Biogênese, até tem muito mais relação com o tema, mas é realmente impressionante que as incansáveis advertências e lembretes dos Cientistas sejam sistematicamente ignoradas quando afirmam que Biogênese e Evolução, também tem alto grau de independência. Mesmo que a Origem da Vida permaneça um mistério, isso pouco ou nada afeta o estudo de Evolução.

É inteligível que Criacionistas preguem uma visão excessivamente Monológica da Ciência, mas isso não justifica exigir dos Evolucionistas e demais Cientistas, com inúmeros campos independentes de pesquisa, que forcem suas metodologias interdisciplinares a um arbitrário conceito Unidisciplinar onde cada campo deva explicações relativas a problemas de outros campos.

É certo que a Ciência busca o Universal, e que uma Teoria Única e Geral é o sonho de muitos teóricos. É certo que todas as áreas devem se comunicar harmonicamente, mas isso não significa que seja problema dos Biólogos arcar com as dúvidas dos Cosmólogos.

Na verdade nem sequer é certo que os primeiros instantes do Big-Bang não foram teorizados. Foram sim. Pode consultar qualquer livro de Astrofísica para ver que foram criados quadros de estimativas de eventos retrocedente a milésimos de segundos após o Big-Bang, e já há várias teorias para explicar até mesmo antes dele.

E isso é muitíssimo diferente da situação relativa ao Criacionismo. Para os Evolucionistas, o Big-Bang está 13,7 bilhões de anos no passado, nunca se repetiu nem se repetirá neste Universo. É algo definitivamente remoto e que em nada afeta o processo evolutivo.

Por outro lado, para os Criacionistas, a Criação está a menos de 12 mil anos no passado, e Deus está presente o tempo todo, em todo momento, e interferindo a cada instante! Nesse caso, é muito mais determinante que Deus, não podendo ser explicado, afete toda a estrutura do Criacionismo. O próprio Dilúvio é um fenômeno nitidamente sobrenatural. É mais que evidente que não há água no planeta para cobrir todas as Terras. Teria sido uma ação direta de Deus.

Aí pergunto novamente, como estabelecer uma ciência sobre algo que depende DIRETAMENTE de ações divinas de uma fonte impossível de ser explicada?

Portanto meu caro Rafael. Entenda que não posso aceitar essa afirmação. Não dá para igualar os problemas de uma vasta tradição multidisciplinar que trabalha sobre os mais diversos dados da natureza, com uma linha de pensamento isolada que tem como base um Livro sagrado escrito por um Ser que não pode ser entendido nem provado.

Você poderá vasculhar completamente muitas obras evolucionistas sem encontrar nenhuma menção ao Big-Bang, que está distante da origem da vida ao menos 9 Bilhões de anos, e mesmo poucas sobre a Biogênese. Mas você não lerá sequer um texto curto de Criacionismo sem alguma menção a Deus, e em geral muitas.

Como você mesmo afirma:

O objetivo do criacionismo não é provar Deus ou demonstrar como Ele criou tudo, mas sim descobrir evidências sobre tudo o que ocorreu logo depois, baseado nas Escrituras. Para esse fim, usamos a ciência. A sua segunda "dificuldade" não traz problema algum, uma vez que não pretendemos provar Deus, já que isso é impossível, pois Ele está fora da nossa esfera de alcance, ou seja, além do espaço-tempo.

Por outro lado, para o Evolucionismo, nada está além do Espaço-Tempo, de certa forma, nem mesmo o Big-Bang, que ainda pode ser entendido de modo naturalista. O Objetivo dos Evolucionistas é Entender a Evolução, e para isso é preciso lidar com fenômenos inteligíveis. Os Criacionistas estão elvolvidos com alegações de fenômenos inteligíveis, que se baseiam no Incogniscível em si.

São situações totalmente diferentes.

(...)Em todo caso, eu queria dizer que o criacionismo também não tem todas as respostas. E nem evolução nem criação as terão. Afinal, todas as coisas serão conhecidas no fim dos tempos, como Jesus nos prometeu.

Na verdade, o Criacionismo não tem resposta alguma. Nem mesmo para essas Questões Simples. Mas eu também duvido que um dia o Evolucionismo, ou qualquer ciência, terá todas as respostas. Quem quiser que acredite em promessas vagas que estão pendentes há dois mil anos.


Agora vamos ao que interessa.

I) Cor da pele, genética, etnias humanas, e distribuição das raças.

Vamos trabalhar então com a idéia de um período pré-diluviano de 1.656 anos, como você afirmou no Segundo Parágrafo. No Terceiro e Quarto Parágrafo, você fez boas digressões sobre algumas variações genéticas, mas sem entrar na questão em si, e permanece assim em praticamente todo o texto.

Ipsis Literis, a questão é:

COMO SE DESENVOLVERAM AS DIVERSAS ETNIAS HUMANAS EM TÃO POUCO TEMPO?

Onde exemplifiquei melhor com o dilema que diz: Se foi possível uma diferenciação étnica tão grande num período de tempo tão curto, porque não notamos variações menores em períodos proporcionalmente menores?

Nem importa muito o tamanho do período Pré-Diluviano, pois segundo o Criacionismo, a história humana teria no máximo uns 6 mil anos. Porém, como eu já disse, ao menos as etnias "principais", negróides, caucasóides e mongolóides, já existem desde onde a história pode nos contar. Usando a própria cronologia bíblica, podemos dizer que ao menos há 3 mil anos há diferença entre negróides e caucasóides.

Portanto, a humanidade teria que, partindo de um único tronco, gerar toda essa diversidade em cerca de 3 MIL anos. E então eu volto a minha pergunta:

Se em 3 Mil anos tal variação drástica é possível, por que há arianos habitando a África do Sul há cerca de 300 anos e não há nenhum indício de escurecimento de pele em seus descendentes não mestiços? Por que há negros habitando a América do Norte há quase 300 anos e não há nenhum indício de clareamento de pele em seus descendentes não mestiços?

Por que há japoneses habitando o Arquipélago Japonês há MUITO MAIS que 3 MIL ANOS, e jamais nasceu um Japonês Loiro, Negro ou Ruivo?

Todas as suas afirmações tangenciaram esse fato. Não adianta dizer: "O que importa é a percepção de que o tempo não é um entrave para a teoria.", sem dar um bom motivo para tal.

Você colocou "Portanto, é possível que os genes para todas as características estivessem presentes há cerca de 6000 anos sem diferença aparente entre as pessoas." mas sendo assim porque essas mesmas características não estão presentes atualmente nas etnias específicas? Ou melhor, onde podemos encontrar uma etnia qualquer que apresente o mesmo potencial de variação?

Não há evidência para nada disso. Por mais mestiço que seja, não sei que grupo poderia, em menos de 3 mil anos, gerar descendentes puramente Negróides, Caucasóides e Mongolóides. Um casal pode até ter características de todas as etnias, mas ele não gera descendentes tão distintos entre si a ponto de aparentarem ser "etnicamente puros". Como você disse:

Um exemplo prático é a da minha própria família. Eu e meu irmão, filhos de mesmo pai e mesma mãe, somos tão diferentes que muitos não acreditam que somos irmãos. Um tem a pele clara e olhos azuis e o outro pele bronzeada, quase parda, de olhos castanho-escuros. Meu pai e minha mãe têm constituição parecida entre si, "intermediária" entre eu e meu irmão. Conheço outras famílias com casos semelhantes, inclusive de casais morenos que tiveram filhos claros. Esses fatos podem até trazer problemas sobre paternidade, mas são explicáveis pela genética. No Brasil isso é tão comum que todos nós devemos conhecer esse tipo de situação. E sem precisar de milhares ou milhões de anos.

Todos conhecemos exemplos deste tipo. Mas o fato é que mesmo assim não há casos onde um filho é totalmente ariano, e outro totalmente negro. Nem mesmo quando temos um Pai negro e uma Mulher Ariana ou Vice-Versa.

Mas suponhamos que um casal como esses tivesse muitos filhos, e estes se agrupassem de acordo com suas características fenotípicas e passassem a se reproduzir entre si. Já seria difícil uma separação clara, uma vez que a tendência é haver várias nuances e gradações em cada um, mas mesmo que fosse, e mesmo que algo justificasse tamanha segregação, o fato é que mesmo muitas gerações depois os descendente deveriam continuar com o potencial para apresentar surpresas, como após séculos de uma etnia específica, nascer um que características radicalmente diferentes. Porém, como sabemos, isso simplemente não acontece.

Vejamos outras de suas afirmações.

------- Se você prestar atenção, Marcus, vai perceber que 1656 anos não é pouco. Olhe pela sua janela e imagine como era tudo ao redor 500 anos atrás. Menos ainda, imagine 200 anos atrás. Há 500 anos, o Brasil tinha no máximo 5 milhões de habitantes, e hoje tem mais de 180 milhões. O ser humano se reproduz rápido e espalha-se rapidamente, não precisaria de dezenas de milhares de anos para se distribuir e ser selecionado pelo ambiente.
------- Uma outra observação interessante é concernente ao descobrimento das Américas e ao choque de culturas. Lembre-se que 500 anos atrás não existiam mulatos nem nordestinos. Não lembro de qualquer povo com aspecto semelhante a eles em qualquer parte do mundo. Depois da miscigenação de diferentes povos surgiram esses biótipos que hoje já têm características próprias, diferentes daqueles que os originaram. A contribuição do ambiente também é muito importante, devido às diferenças na alimentação, moradia e outras condições de vida.
-------Como pudemos ver até agora, a variação de etnias é perceptível em menor escala.

Você citou uma variação em condições totalmente diferentes, que já pressupunha há existências de etnias diferentes. Os mulatos, caboclos e mamelucos JÁ SÃO o resultado de cruzamentos inter étnicos específicos, de Etnias Específicas Diferentes! O que estamos querendo saber aqui, É COMO SURGIRAM ESSAS ETNIAS ESPECÍFICAS?

Agora reproduzo a parte que me parece a mais importante de todo o seu texto, onde você começa com a colocação:

Sobre as perguntas: isso tudo faz sentido de alguma forma? É possível nos aspectos biológicos e sociais? Após refletirmos um pouco, descobrimos que tudo faz sentido e é possível.

Vejamos então.

------- Como já foi demonstrado, um casal ariano não deveria ter um filho moreno, assim como um casal de olhos azuis não teria um filho de olhos castanhos. Reveja a genética.
------- No caso de populações em migração, fator importante para a formação das etnias, a diferenciação deve ter sido lenta, e as modificações pouco perceptíveis individualmente. Se considerarmos que em 300 anos uma população migratória foi ficando com características específicas, poucos dariam atenção a esse fato. Além disso, quando os grupos começaram a registrar os fatos da população provavelmente a maioria das características já estivesse presente. As histórias passadas oralmente dificilmente continham descrições raciais, mais importando as histórias e características como "muito forte", "a mais bela", como vemos nos poemas antigos.
------- Nós temos, contudo, registros contemporâneos, como já foi citado. Os nordestinos e mulatos (e centenas de outras populações geradas pela miscigenação) surgiram há no máximo 500 anos. No entanto, não há registros específicos de mulatos ou nordestinos que nasceram diferentes de seus pais, senão histórias da miscigenação das outras raças que os originaram. Essa mistura nas Américas e em outros locais demonstra a existência da capacidade de diferenciação humana, e quando a população é estável ela ocorre mais imperceptivelmente por causa da semelhança genética. Se a comunidade é homogênea, não há motivo para nascer alguém tão diferente do restante, exceto no caso de problemas genéticos como o albinismo. Portanto a existência ou não de registros históricos não é conclusiva, mesmo porque nós dois não conhecemos sequer um ínfimo dos registros existentes.

O que noto é que só há um direcionamento possível para sustentar essa opinião, que é alegar que a humanidade possuia um alto potencial de diversificação que foi sendo perdido com o tempo. A medida que a história avançou, houve uma estabilização nas etnias que se desmembraram, e tal ocorreu antes do surgimentos dos registros históricos.

Dessa forma, Adão e Eva possuiam uma variadíssima bagagem genética, a maior que já existiu, produzindo miríades de nuances em seus descendentes. A medida que o tempo passou, esses potenciais foram se manifestando e se densificando em grupos, ao mesmo tempo que o potencial de cada indivíduo diminuiu. De certa forma, é como se toda a variabilidade genética que existe hoje, estivesse outrora contida em um único casal.

Essa alta capacidade de variação explicaria até mesmo outros mistérios bíblicos, como os Nefilins, Golias, o povo de Node e etc.

Racionalmente falando, nada me parece haver de absurdo nessa linha de raciocínio, a não ser nada mais nada menos, e mais uma vez, O TEMPO!

Pelo paradigma Evolucionista, é praticamente a mesma coisa. Toda a diversidade humana de hoje estava presente em potência genética num remoto grupo, ou mesmo num único casal, porém há cerca de 300 MIL ANOS! Havendo tempo de sobra para as mais ousadas variações.

Se adicionarmos o tempo evolutivo, as mesmas perguntas difíceis de serem respondidas pelos criacionistas, ficam fáceis. Em menos de 300 anos não deveria mesmo ser perceptível qualquer variação significativa, porque teríamos um parâmetro 100 vezes maior de comparação.

Numa escala de 300 mil anos, 300 é um milésimo, numa escala de 3 mil anos, 300 é um décimo. Analogicamente, é difícil distinguir uma milésima parte de uma coisa, mas é fácil destinguir uma décima. É por isso que o Evolucionismo é ao menos 100 vezes mais plausível que o Criacionismo.

Chamo também atenção para o modo acidentado com que você tratou o termo "Nordestinos", como se eles fossem uma única etnia específica.

Mas agora vamos ao final desta parte, onde você propõe respostas às questões que você mesmo colocou. Vou colocar este LINK DIRETO PARA ESTA PARTE DO TEXTO para que possamos observar atentamente o problema.

Você usou como exemplo a diferenciação de brancos e negros, o mesmo exemplo que eu mais comumente tenho recorrido. Agora vamos reler totalmente ESTAS RESPOSTAS, e vejamos se podemos concordar com sua afirmação final, que diz:

Aí estão suas respostas, e a meu ver, a sua "Questão" foi satisfatoriamente respondida.

Será? Estão vejamos novamente qual foi a QUESTÃO em questão, do mesmíssimo jeito que está no meu texto original, o Questões Simples.

- COMO SE DESENVOLVERAM AS DIVERSAS ETNIAS HUMANAS...
EM TÃO POUCO TEMPO?

Você não disse UMA ÚNICA palavra sobre o Tempo Envolvido! Você deu uma explicação completamente coerente, a não ser por um pequeno detalhe, que confesso, me deixou perplexo!

Você simplesmente afirma que não houve Evolução no processo citado!

Céus! Isso é espantoso! Pois tudo o que você descreveu É EXATAMENTE o que entendemos por EVOLUÇÃO no sentido mais pleno da Palavra! Não é preciso mutação. Somente Recombinação Genética e Seleção Natural, que você descreveu com Maestria.

Se você não sabe que é exatamente isso que é Evolução, então acho que deve começar a estudar o assunto do começo.

A sua explicação não é Criacionista, é exatamente o que os Evolucionistas explicam sobre a diferenciação das etnias. Ocorreu mais ou menos assim, com a diferença que o polo originário estava na África e não no Oriente Médio, e que o período envolvido abrange ao menos uns 200 mil anos.

Agora veja porque não posso aceitar sua resposta. Pelo mesmíssimo motivo de sempre.

Se tal processo pudesse ter ocorrido em menos de 3 mil anos...

Porque não ocorrem processos proporcionais em cerca de 300?

O Japão é um Arguipélago realtivamente isolado do continente asiático, tendo ficado praticamente incomunicado deste até o século V dEC, e tendo passado por vários períodos de isolamento culturalmente forçado. Os geólogos e historidores estimam que o arquipélago era inteligado com a Ásia na última era glacial, há mais de 10 mil anos atrás. Poranto, o Japão é um bom exemplo de uma linhagem étnica significavamente isolada.

Em termos históricos perfeitamente confiáveis, podemos dizer que são ao menos 2.500 anos de estabilidade étnica. Não existe nenhum caso de nascimento de um exemplar com fenótipo significativamente diferente. Isso é uma evidência clara de que a humanidade não tem tal potencial super acelerado de diversificação étnica.

Portanto mau caro Rafael. Agradeço muito sua colaboração e esforço, que inclusive me ajudou a compreender certos aspectos da Evolução.

Mas como eu poderia concordar que a questão foi respondida?

Lamento. Não foi.

Amigavelmente...

Marcus Valerio XR
14 de Agosto de 2004

II) Diferenciação dos animais e evolução.

Ok. Com mais de uma semana de atraso, vamos seguir em frente. De imediato, não posso concordar que a variação entre as diversas espécies animais não seja um problema maior do que entre uma única espécie, no caso a humana. Me parece óbvio que deveria ser preciso muitíssimo mais tempo para transformar a espécie "Gato" na espécie "Leão" do que a etnia humana negra na etnia humana branca, o que por si só já teria demorado, até mesmo pela chronologia bíblica, ao menos 3 mil anos. (Não vale citar o Michael Jackson!) O quanto não seria preciso para promover alterações evolutivas muito mais drásticas?

É certo que todos os humanos pertencem à mesma espécie, mas não é o caso dos felinos, que creio seja um exemplo mais relevante, devido a sua condição carnívora.

Como já foi largamente explorado, a Arca de Noé simplesmente não poderia ter levado casais de todas as espécies felinas que conhecemos hoje. As manadas de herbívoros não teriam sido suficientes para sustentá-os. E pouco importa que os carnívoros tenham hibernado ou não na arca, pois uma vez desembarcados, esses "poucos" casais de carnívoros teriam exterminado as pequenas "manadas" muito mais rápido do que sua capacidade de sobreviver e se reproduzir. E nem vou entrar na questão de o quê os herbívoros comiam.

O argumento mais tradicional do Institute for Creation Research é afirmar que havia na arca um único, ou poucos casais de animais "tipo felino", que mediante "Micro-Evolução" teriam dado origem a todas as espécies felinas conhecidas.

Aproveito agora para afirmar porquê também não gosto do termo "Micro-Evolução". Esse termo foi popularizado pelos Criacionistas para se referir à parte da Evolução que é impossível de negar, e então é estranhamento usado como se fosse algo fundamentalmente diferente da chamada "Macro-Evolução".

Seria como afirmar que há um "Micro-Crescimento", que se verifica de um mês ao outro em uma criança, e há um "Macro-Crescimento", que seria relativo ao processo que em dezenas de anos transforma um bebê num adulto. E depois insistir que ambos os processos não se relacionam, e que o último nem sequer existe!

Depois, como você mesmo percebeu, esses termos só pioram qualquer entendimento, e você na realidade é só mais uma vítima desta confusão, pois acabou acreditando que a Recombinação Genética nada tem haver com a Evolução, mesmo quando aliada à Seleção Natural.

Ora, em qualquer livro básico de Biologia fica claro que o que se entende po Evolução é nada mais que a Seleção Natural atuando sobre a Variabilidade Genética, e que esta última é resultado da Recombinação e da Mutação. Sendo ainda mais importante lembrar que qualquer biólogo sabe muito bem que a grande maioria das mutações são insignificantes, e das significantes, a grande maioria prejudiciais ao organismo, que em geral, já está adaptado ao ambiente.

A coclusão óbvia é que as Mutações tem um papel bem menos central para a Evolução do que fazem crer os Criacionistas. E porque o fazem? Porque é muito mais fácil criticar a evolução se pensarmos que ela depende da Mutação, que quando significativa é em geral daninha. E aí se usa a boa e velha falácia de que uma vez que não se verificam mutações vantajosas com frequência, o processo evolutivo estaria inviabilizado.

Talvez, muita coisa seria diferente se os criacionistas conhecessem a frase mais usada pelos evolucionista para definir EVOLUÇÃO, que é simplesmente DESCENDÊNCIA COM MODIFICAÇÃO.

Essa simples definição derruba de uma só vez qualquer tentativa de afirmar que recombinação, variação ou mesmo "Micro-Evolução" não sejam EVOLUÇÃO!

Outros biólogos gostam mais de usar a expressão "ACÚMULO DE PEQUENAS VARIAÇÕES SUCESSIVAS", que ao longo de grande períodos de tempo, finalmente resultam em GRANDE VARIAÇÕES.

Similar ao tópico anterior, o que você faz neste tópico é simplesmente citar exemplos evolutivos e dizer que eles não são "Evolução"! Como o exemplo do Salmão e do Pássaro Asiático. Você usou também o meu exemplo dos fictícios "GRIFONS". Aqui vão os links para a PRIMEIRA, e SEGUNDA partes. (Infelizmente estão um tanto difíceis de localizar. Darei um jeito nisso.)

Mas você termina afirmando que: "Como vimos, há uma tendência de as características mais vantajosas continuarem na população, enquanto as outras são suprimidas. Nenhuma evolução foi necessária, tudo já existia."

É uma típica afirmação Criacionista. O problema é que os Evolucionistas não vêem evolução dessa forma, a maioria deles sequer sabe o quê afinal os Criacionistas entendem por Evolução. Eu mesmo até hoje luto para entender, se é que de fato entendem alguma coisa.

Jamais foi dito que Evolução implica em surgirem coisas miraculosas a partir do nada, como insistem Gish e Morris. Nunca se afirmou que deveriam surgir novas e revolucionárias estruturas genéticas prontas para serem implementadas e conferirem vantagens seletivas.

Nos meus exemplos, saímos de um quadrúpede terrestre similar a um felino e chegamos a equivalentes a esquilos e ursos, e mais adiante, a mamíferos voadores e até mesmo a antropóides. Observe bem que há a mudança gradativa de estruturas orgânicas que num olhar mais descuidado parecem-se com estruturas novas. De certa forma, as "Asas" já estavam lá, as "Mãos" já estavam lá, porém em "Potencial".

TODO E QUALQUER tipo de estrutura biológica conhecida se baseia nas mesmíssimas e básicas estruturas fundamentais de DNA. Cérebros, olhos, corações, asas, antenas, cifres, sensores eletromagnéticos, secretores de teias, pólen, membranas celulares e etc!

A forma do DNA muda, mas a estrutura fundamental não! Afirmar que o olho humano seja algo sem paralelo na história evolutiva e que não possa ser explicado, é como dizer que uma novíssima Teoria Física Quântica não possa ser explicada em termos históricos. O olho se baseia no mesmíssimo princípio molecular Básico dos mais primitivos sensores de luminosidade das planárias.

Isso é ainda mais flagrante quando descobrimos que bastam alterações pequenas no DNA para produzir diferenças drásticas, ou seja, todo o potencial está lá. De certa forma, nada há de novo.

Nos meus exemplos não usei grandes mutações, mas elas existem e ocorrem, e aceleram ainda mais a variabilidade genética, impulsionando ainda mais rapidamente a Evolução. Portanto, num período de Milhões de anos, há bastante tempo para evoluírem, se não os "Grifons", os tigres, ursos, lobos-guará e toda a sorte de espécies.

Mas num período de poucos milhares de anos, não dá!

Pelo mesmo motivo do item anterior.

Se fosse possível em menos de 4 mil anos variações de descendência a ponto de transformarem gatos em tigres, porque não se observam ao menos Jaguatiricas darem origem a Onças em menos de um século?

Você, como todos os criacionistas, gosta muito de usar o exemplo dos Cães, que apresentam uma grande variabilidade fenotípica numa mesma espécie. O Problema é que os cães são artificialmente selecionados e cruzados. Você não vai encontrar na natureza nenhuma outra espécie que apresente tamanha variabilidade de "raças". Além disso, os Cães são um exemplo único. Até agora não se conseguiu tamanha variabilidade com gatos, cavalos ou gado por exemplo. E por fim, observe que na natureza não encontramos espécies caninas com a mesma amplitude de variação. Portanto, é uma comparação no mínimo frágil, principalmente levando em conta que diversas dessas raças caninas jamais sobreviveriam em ambiente Natural, a Seleção Natural jamais o permitiria, muito diferente da Seleção Artificial Humana.

Vejamos então sua conclusão:

"O ambiente natural é muito complexo, e a interação entre suas partes mais difícil de entender do que gostaríamos. Os conceitos podem ser simplificados, mas a compreensão depende do reconhecimento da totalidade e irredutibilidade dos sistemas naturais."

Desculpe se não foi isso que você quis dizer, mas me pareceu uma típica falácia de petição de princípio. Por que a Compreensão depende do reconhecimento da "irredutibilidade" dos sistemas naturais? Está se referindo ao princípio da Complexidade Irredutível? E como pode afirmar que a Compreensão depende deste obscuro conceito "Anti-Evolutivo"?

"Também vale lembrar que existem milhares (ou milhões) de espécies não catalogadas pelo ser humano, tanto nos locais inóspitos como naqueles já amplamente estudados. "

O que só piora a situação do Criacionismo, que se já não consegue explicar nem mesmo as espécies conhecidas, como explicaria outros nichos ainda mais exóticos?

"Novamente, me parece que a questão foi solucionada."

Novamente, como? E o tempo? Você teve em mente que esta explicação deveria dar conta da exótica situação de um Dilúvio Universal que exterminou tudo o que tem fólego de vida sobre a Terra? Que todos os animais não aquáticos teriam que ter ancestrais numa lendária embarcação mitológica de madeira com 150 metros de comprimento que navegou 150 dias sobre o Mar? E que tudo isso teria se dado a no máximo uns 5 mil anos?

Teriam os animais "Matrizes" da arca a mesma super capacidade de variabilidade genética que teriam possuído os pré-adámicos? Tendo seus descendentes posteriormente perdido tal capacidade?

Você fez boas abordagens, mas elas não são satisfatórias, podem ser resumidas basicamente numa apresentação de exemplos de variabilidade genéticas em certas espécies como forma de defender a idéia de que o potencial de variação é mais rápido do que se pensa, e então pressupor que isso pode dar conta da explicação de toda a variação de espécies ao longo de todo o globo! E isso sem sequer dizer como essas espécies se espalharam.

Como um bom exemplo dos problemas dessa argumentação, vejamos o tópico seguinte.

III) Pinguins

Mais uma vez, você faz uma excelente exposição, baseada numa geração de hipóteses que me surpreendeu. Eu, mesmo tendo sempre a mão um globo terrestre, nunca tinha pensado em reparar sobre certas correntes marítimas.

Você tem razão nesse ponto. A Corrente do Brasil seria desfavorável a viagem no sentido Sul-Norte, porém há correntes que saem diretamente da Antártida e vão até a Bacia Argentina, quase em Buenos Aires, e são correntes frias. Daí para a frente a Corrente do Brasil, que é quente, age em sentido contrário, bem diferente da costa oeste, onde as correntes, principalmente a do Peru, são todas favoráveis até Galápagos.

Isso explica porque os Pinguins são muito mais comuns na costa Oeste do que na Leste, e está em harmonia com sua distribuição geográfica. Há que se considerar porém que as correntes marítimas não são tão difíceis de serem vencidas, afinal eles chegam até o Rio de Janeiro.

Antes de retomar essa corrente de raciocínio, vou só comentar sua dúvida com relação a como podem ocorrer viagens em Icebergs. É simples. Eles podem agir como embarcações naturais e resistir em mares relativamente quentes por meses, dependendo do tamanho. Eles também podem ser levados por correntes submarinas, que não raro são mais fortes e se movem em sentido contrário ao das correntes oceânicas de superfície. Lembre-se que um Iceberg é muito maior "para baixo" do que "para cima", sendo mais sensível à correntes submarinas.

E voltando à superfície, afirmo que seu raciocínio apesar de brilhante, só possui uma única deficiência no que se refere a viabilizar a nossa questão, que é a possibilidade de Pinguins terem migrado do Mediterrâneo até a Antártida. Esse mesmo problema já está previsto em meu texto original das Questões Simples, na forma "Por que não há nenhum registro fóssil, histórico ou mesmo Bíblico de todas as milhões de espécies animais que pelo menos hoje, não mais existem no Velho Mundo?".

Essa questão pode ser facilmente adaptada para o caso dos Pinguins, como você mesmo notou.

Não posso negar que você merece o crédito por me convencer que tal migração é bem menos improvável do que eu pensava, mas ainda assim isso não constitui "...um exemplo de migração animal.", mas sim uma mera possibilidade.

Tal possibilidade ainda tem em contrário alguns fatores, além da ausência total de vestígios de tais migrações, como:

1-O Ártico é muitíssimo mais perto do mediterrâneo do que a Antártida, e há correntes favoráveis, como a Corrente Equatorial Norte, a Corrente do Golfo e a Corrente do Atlântico Norte. Seria muitíssimo mais provável que os Pinguins chegassem até lá do que até a Antártida. Por que então não há pinguins no Ártico?
Havendo pinguins na África so Sul, é pouco provável que eles tenham a alcançado costeando a África, pois como você mesmo notou a Corrente de Benguela é desfavorável. Na sua própria rota mais provável, assim que passasem próximos à Bacia do Cabo Verde, estariam muito mais sujeitos a correntes que os levassem para o Norte.

2-Mais uma vez, seu argumento parece funcionar bem quando levamos em conta períodos de millhões de anos. Onde haveria tempo para uma migração de tal magnetude, e onde a Evolução, mesmo a aceitável em termos criacionistas, poderia promover uma mudança significativa nas espéceis a ponto de apagar seus aparentes vestígios pelo caminho.
Mas tente adaptar essa mesma explicação para uma história geológica de menos de 4 mil anos. Verá que há ainda mais motivos para se esperar um vestígio fóssil pelo caminho. Além disso, numa Terra Jovem e de mudanças tão bruscas, não sabemos como as correntes teriam variado ao longo do tempo. Talvez fossem totalmente favoráveis ou não de acordo com o momento na história. Isso fica ainda mais grave quando levamos em conta o próximo tópico, da deriva continental super acelerada, que favoreceria ainda mais a similaridade entre espécies em ponto distintos do globo.
É curioso que você trabalhou com uma hipótese que se adequa muito mais a uma Terra Antiga do que a uma Terra onde os pinguins poderiam ter chegado até a Antártida simplesmente pegando carona na Deriva Continental.

3-Toda as suas observações reforçam o fato de que é muito mais fácil os pinguíns saírem do que chegarem à Antártida. Em termos evolutivos tradicionais é fácil entender porquê. Os pinguins teriam evoluído de aves locais há milhões de anos, numa Antártida já suficientemente distante, e daí se espalharam para outros pontos do Globo. Isso é muitíssimo mais provável do que a hipótese de que eles teriam existido no Mediterrâneo há cerca de 4 mil anos atrás, e depois migraram exclusivamente para o hemisfério sul sem deixar nenhum vestígio acima da linha do Equador.

4-Apesar de tudo, é bem provável que a influência das correntes oceânicas seja simplesmente desprezível para efeitos de migração. Isso traria tudo de volta à estaca zero. Os Pinguins só chegariam aonde chegaram devido a relativa proximidade. Daí para o Mediterrâneo a distância é bem maior, e o pior, repleta de correntes quentes, em mares quentes.

Portanto, há não ser que se consiga ao menos uma evidência dessa jornada, acho que ela é uma hipótese de baixa probabilidade. Não tão baixa quanto a migração de Capivaras, mas ainda assim baixa. E o restante de meus comentários se misturam ao próximo tópico.

IV) Deriva dos Continentes

Nem tenho muito o que comentar. Na realidade acho a hipótese de uma Pangéia super acelerada absurda demais para ser colocada em pauta sem evidências muito fortes, e essa Teoria das Hidroplacas ainda está muito confusa. Poderia citar um link não-criacionista sobre a mesma? Ou ela é uma Teoria puramente Criacionista? Posso ter procurado mal, mas só encontrei referências à ela em sites Criacionistas.

Mais uma vez você deu bons "palpites" sobre o tema, só exagerando, a meu ver, em suas suposições sobre como é ou deveriam ser o aspecto das camadas. Retomo meu texto A IDADE DA TERRA onde insisto em que todas as evidências geológicas, como a geografia acidentada, bem como a aparência das camadas, são muito mais harmônicas com um processo lento e aleatório do que com um processo rápido e ainda por cima dirigido por alguma inteligência.

O que queria comentar sobre os pinguins é que observando bem o mapa, notamos que a Antártida está bem perto da América do Sul, tendo evidentemente se desprendido dessa ao longo da Deriva Continental. Mais uma vez isso explica a similaridade das espécies destes dois continentes. Por outro lado, a explicação das diferenças e da especiação, mais uma vez, só parece possível para uma história evolutiva de muitos milhões de anos.

Não consegui entender seu comentário: "Apesar de o manto terrestre não ser sólido, a crosta terrestre, com o fundo dos oceanos e as placas continentais, é sólida. Mesmo com a movimentação do magma, seria necessário que as placas se sobrepusessem, senão só poderiam deslizar umas contra as outras, com os continentes fixos sobre elas. Seria como aquecer uma sopa com lâminas de pedra justapostas. Elas podem tomar o lugar uma da outra, sem encontro de suas superfícies, algo necessário para o encontro dos continentes. Isso impede a existência da Pangéia."

Como impede? Se é exatamente isso que ocorre! Por isso os terremotos e surgimentos de vulcões. Você também afirmou que todas as montanhas são inteiramente sólidas. Isso não é verdadeiro, várias montanhas são vulcões extintos, com espaços relativamente vazios dentro de si.

Se a Pangéia não tivesse ocorrido, explicação criacionista nenhuma poderia das conta da distribuição das espécies através do globo, se bem que nem tendo ocorrido.

Falamos em pinguins, mas não podemos esquecer diversos outros animais que só existem na Antártida, ou no Ártico. Para nenhum deles há sinal de tão fabulosas migrações, e a maioria deles não tem exemplos de deslocamentos ousados como os dos pinguins que vão até o Rio de Janeiro.

Uma deriva continental lenta e progressiva, aliada a evolução, é a única explicação para o fato de que tais animais, mesmo compartilhando uma bagagem genética em comum com todos os outros seres vivos do planeta, sejam significativamente diferentes, isolados geográfica e biologicamente. A deriva explica as árvores genealógicas entre as espécies, a Evolução explica sua diversificação.

Ainda não vi uma explicação Criacionista de Terra Jovem convincente.

V) Arca de Noé, animais e plantas no Dilúvio.

Continua...

Amigavelmente...

Marcus Valerio XR
13 de Setembro de 2004
RÉPLICA ORIGINAL DE
RAFAEL A. B. PAVANI

Questões Simples que o
Criacionismo não Responde