CRIACIONISMO: FATOS E FÉ
Rafael A. B. Pavani

Prezado Marcus, agradeço a oportunidade de expor alguns comentários e observações a respeito do assunto criacionismo-evolucionismo, abordado com profundidade em sua página.  Parabéns pela iniciativa.

Apresento-me mais uma vez: Rafael Augusto Borges Pavani, presbiteriano, 20 anos, estudante do 3º ano de medicina na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) – SP.  Acredito na criação do mundo em 6 dias e no dilúvio universal, por motivos teológicos e sempre procurando evidências na ciência.  No princípio acreditava na evolução como manifestação do poder de Deus.  Após uma palestra do Dr Adauto Lourenço, passei a crer cegamente na criação.  Depois de um tempo, pensando e pesquisando, comecei a desconfiar de alguns argumentos criacionistas, mas então o Espírito Santo abriu meus olhos para o real significado dessas dúvidas, e a relevância da fé.

O senhor Mario Campos de Jesus já explicou com maestria, em uma de suas correspondências, o objetivo da Bíblia como Palavra de Deus, acessível para todos e ambientado numa época em que não havia os conhecimentos de hoje.  Gostaria que quem lesse este texto também leia aquela parte da mensagem.  Apenas enfatizo que para Deus o que mais importa é a fé (sem fé é impossível agradar a Deus), portanto se a Bíblia pudesse ser toda comprovada cientificamente, inclusive a existência de Deus, todo o plano de salvação por intermédio de Jesus Cristo seria inútil.  Pois então todos nós seríamos obrigados a acreditar em Deus, ou pelo menos os cientistas.  Assim, até aqueles que dizem acreditar em Deus por não ter outra alternativa estão sem base na Palavra do Senhor, já que não há fé nesse argumento.

Em resumo, se a criação for verdade e o criador for o Deus Vivo, isso nunca poderá ser provado.  No entanto, algumas situações bíblicas podem ser comprovadas ou consideradas possíveis, como já ocorreu com os reis Salomão e Davi, o Templo de Salomão e fatos de precisão histórica relatados na Bíblia, e que antes eram desconsiderados pelos cientistas.  Situações hoje improváveis podem mostrar-se possíveis.  

Assim surge o criacionismo bíblico, fundamentado na fé e não na ciência, mas que através desta tenta provar parte das Escrituras.  Lembremos que a evolução não tem todas as respostas, e nem o criacionismo as terá.  Mas isso sinceramente não me preocupa, no fim tudo o que está escondido será descoberto, e a verdade será clara como a luz do dia.

Após essa longa introdução, vou para a parte que menos importa, e que infelizmente mais interessa para a maioria dos leitores.  Tenho alguns comentários a respeito de assuntos discutidos por você, Marcus Valério, com outras pessoas já há algum tempo, e que me instigaram a escrever.

 

I)                  Cor da pele, genética, etnias humanas, e distribuição das raças. 

            Li algumas discussões a respeito da dispersão das raças humanas e a origem delas.  O problema no criacionismo seria o surgimento de tão diferentes raças em um curto espaço de tempo, gerando hipóteses absurdas como o escurecimento da pele pela exposição ao sol ou até a transformação por Deus.  Todos já perceberam que uma pessoa que fique muito tempo ao sol, mesmo que tenha a pele escurecida, ou então clareie ela, gerará descendentes com a tonalidade original ou aproximada.  O escurecimento progressivo pelo sol é impossível, uma vez que envolveria modificações genéticas nas células reprodutivas.  Não vejo como o escurecimento da pele poderia modificar as células reprodutivas, não importa se é vantajoso ou não.  O mesmo pode ser pensado sobre outras características.  Agora vamos utilizar o método científico: raciocinar sobre os dados que temos.  Com essa observação só podemos supor que os genes para todas as raças estavam presentes desde o início, ou alguns genes sofreram mutações aleatórias que levaram à modificação da cor da pele, e posterior adaptação ao ambiente.  Razoáveis, não? 

            Temos, contudo, alguns outros dados um pouco menos conhecidos.  O primeiro deles (o outro demorará a ser citado) é que a cor da pele é definida pela interação de muitos genes, ao menos 4 principais, que definiremos pelas letras M e N, e seus alelos (correspondentes) m e n.  É como os genes A e a da cor dos olhos.  Dizemos que alguém com genes AA (ambos dominantes, um do pai e outro da mãe) tem olhos escuros e terá descendentes com olhos escuros.  Os indivíduos com genes aa (ambos recessivos) têm olhos azuis.  Aqueles com genes Aa têm os olhos escuros e podem ter descendentes com olhos claros se o outro progenitor tiver um alelo “a”.  Casais aa / aa (ambos com olhos azuis) sempre terão filhos de olhos azuis.

            No caso da cor da pele, consideramos indivíduos com o genótipo (conjunto de genes) MMNN como negros e mmnn como brancos.  Todas as outras combinações dessas letras formam as pigmentações intermediárias.  Aqui, precisamos esclarecer duas coisas: não há alelos dominantes ou recessivos, e por isso uma pessoa MmNn seria morena e não negra;  há muitas formas de expressão dos genes, portanto dependendo do indivíduo o genótipo pode originar diferentes fenótipos (no caso, as cores da pele).  Isso é verificado na cor dos olhos, em que as cores negro e verde são variações do castanho, devidas também ao alelo A, mas com expressão modificada por outros genes.  Sim, a expressão genética é muito complexa e pouco conhecida.

            Façamos o cruzamento de dois indivíduos MmNn (morenos “puros”). Podemos ter a formação dos seguintes gametas: MN, Mn, mN e mn.  Há 16 formas de combinação, e a chance de um filho MMNN é de 1/16, assim como mmnn.  O restante variará entre o moreno claro e moreno escuro.  Essa visão é simplista, pois mesmo os filhos MMNN e mmnn podem ter outros genes que regulem sua pigmentação de pele para o moreno.  Da mesma forma, os cruzamentos sucessivos que resultassem em maioria dos genes minúsculos (Mmnn, mmNn,...) poderiam suprimir esse mecanismo de regulação, resultando em indivíduos mais claros. Além disso, com apenas dois alelos a mais (O e o) conseguimos um moreno “médio” com genótipo MmNnOo e a combinação de gametas entre dois desses indivíduos sobe para 64!  Observe que nada foi adicionado ou modificado, apenas recombinado.

            Agora analisaremos a Bíblia.  Deus criou 1 homem, Adão (cujo nome significa “da cor da terra”, portanto podemos classifica-lo como MmNn) e 1 mulher, Eva (um “clone” de Adão do sexo feminino, portanto também MmNn).  Como já foi demonstrado, dessa união podem surgir todas as cores de pele existentes, mesmo que para a total diferenciação sejam necessários outros fatores, como o isolamento de povoados para preservação dos genes, e a passagem de algumas gerações (algo possível em 2000 anos, tempo entre a criação do homem e o dilúvio, apesar de não sabermos as condições do planeta e do homem antes da catástrofe).

            As três raças humanas básicas são a caucasóide, a negróide e a que representa os orientais e os índios das Américas.  Além da cor de pele, outras características são ligeiramente diferentes nas 3 raças, e qualquer uma delas poderia ser originada por apenas 1 casal, como já foi exemplificado.  Não é necessário que os primeiros ancestrais dos orientais tivessem os olhos puxados, bastariam os genes para tal.  Eles poderiam ser expressos ou suprimidos dependendo da associação de outros genes.

            Outra situação bíblica pode ser utilizada.  Não sabemos as condições ambientais e biológicas antediluvianas para a diferenciação das raças, mas podemos supor que parte dela já teria ocorrido até os tempos de Noé, especialmente se essas condições fossem favoráveis.  Assim, para continuar as linhagens seriam necessários apenas três representantes de cada raça.  Na arca com Noé foram seus três filhos, Sem, Cão e Jafé, com suas três esposas.  Essa consideração com as três esposas de diferentes etnias pode ser sustentada pela dúvida de por que Deus esperou até Noé ter seus filhos com esposas e não simplesmente salvou ele e sua esposa, começando tudo do zero.  Agora, antes de prosseguirmos, é preciso refletir: isso tudo faz sentido de alguma forma?  É possível nos aspectos biológicos e sociais?

 

            Ainda temos um problema a resolver: a distribuição das diferentes raças pelo mundo, uma vez que a adaptação por mutações não está sendo considerada.  Aqui ajuda a segunda informação pouco conhecida, descoberta há pouco tempo, a respeito da diferenciação das raças e sua distribuição.  Infelizmente não me lembro se li na Science ou na Scientific American (americana), em 2002 ou 2003.

            A dúvida era a seguinte: sabemos que os negros têm menor incidência de câncer de pele, e por isso podem ficar mais expostos ao sol.  No entanto, o câncer de pele ocorre na grande maioria das vezes apenas após os 40 anos de idade, mesmo nos mais brancos expostos ao sol escaldante por longos períodos.  Ou seja, após a idade reprodutiva.  Então não há motivos para ocorrerem mutações “orientadas” para o escurecimento progressivo, mutações aleatórias nos gametas devido ao câncer, ou mesmo o extermínio dos brancos pelo câncer, já que esses já teriam se reproduzido.  Então por que é difícil encontrar originalmente brancos em locais de muito sol e negros em locais de pouco sol?

            Para responder a essa pergunta, bastou para os cientistas associarem informações que já existiam, simples, mas que não tinham sido relacionadas: a) a exposição ao sol favorece a absorção de Cálcio nos ossos e outros tecidos através da formação de vitamina D; b) O Cálcio tem importância fundamental na formação do embrião; c) o ácido fólico é importante no fechamento do tubo neural do embrião; d) exposição excessiva ao sol causa destruição do ácido fólico, que é transformado na pele.  Os danos que podem ocorrer em “b” e “d” normalmente impedem o nascimento de uma criança viável.

            Lembremos que a maior pigmentação da pele dificulta a penetração de raios solares, e a pele mais clara as facilita.  A partir de agora, com todos os dados que conseguimos, é possível raciocinar até encontrar respostas para as seguintes perguntas:

-         Por que é difícil encontrar originalmente brancos em locais de muito sol e negros em locais de pouco sol?

-         Como os negros e brancos deslocados de seus ambientes originais (brancos na África do Sul, negros no norte dos EUA,...) não sofreram mudanças graduais na coloração da pele?

-         É possível a distribuição das raças para determinadas áreas sem modificação da constituição genética?  Como poderiam ter ocorrido as migrações?

 

Deixo para os leitores a reflexão, ou tomaríamos muito mais espaço.  Se desejarem as explicações, basta me escrever.

Como sempre ocorre na biologia, nenhuma resposta é conclusiva, e sempre desperta mais dúvidas.  E agora, como explicar que negros e brancos deslocados conseguem se reproduzir fora de seu ambiente original?  Não é difícil.  É só ver como as condições de vida mudaram nos últimos anos, e mesmo de 500 para 2000 anos atrás, ainda mais quando tratamos de povos em migração.  Para as mulheres brancas grávidas, basta o cuidado em não tomar muito sol.  Para as negras, é preciso reforço na ingestão de cálcio e vitamina D, além de exposição ao sol.  Veja, hoje temos programas para o aumento do consumo dessas substâncias entre as mulheres grávidas, e especialmente de ácido fólico, pois a incidência de crianças que nascem com espinha vertebral aberta é alta no Brasil, país em que as mulheres brancas ficam muito expostas ao sol com poucos cuidados.  Além disso, no mesmo artigo sugere-se que tanto em homens como em mulheres a fertilidade é diminuída quando tomam sol em excesso (principalmente para brancos) ou expõem-se pouco (para negros).

            Ainda não temos muitas respostas.  Falamos de caucasóides (brancos) e negróides (negros), mas não citamos os orientais e índios americanos.  Por enquanto, só posso supor que há relações semelhantes com alguma outra característica dessa raça.  Teremos que esperar por mais pesquisas, ou nós mesmos relacionarmos o que já conhecemos.

 

II)               Diferenciação dos animais e evolução.

            Assim como foi retratado para os humanos, deve ocorrer com os animais.  O material genético para a diferenciação dos animais árticos, por exemplo, estaria presente desde o princípio.  Mas durante as migrações, quando os animais que não expressavam os genes próprios para as características de adaptação ao clima morreram, os adaptados foram os únicos a restarem.  Da mesma forma, aqueles capazes de suportar rígidos climas glaciais dificilmente sobreviveriam em outros locais, levando a uma “purificação” dos genes em ambas as espécies. 

            A observação desse fato nos animais é possível, e muito conhecido quando lidamos com bactérias.  Podemos exemplificar através da diferenciação dos gatos, cães e gado em pouco tempo, mas como a observação e documentação científica de animais são recentes, fica difícil encontrar exemplos apropriados.

            Por outro lado, do campo microscópico tiramos bons exemplos.  Sabemos que os antibióticos, assim como os pesticidas em outro caso, podem não ter mais efeito contra uma espécie de bactéria após uso prolongado.  No princípio acreditava-se que as bactérias modificavam-se para resistir ao antibiótico.  Hoje sabemos que na verdade o que ocorre é o extermínio daquelas incapazes de degradar a substância, e assim as que têm essa capacidade têm mais espaço e alimento disponíveis, tomando o lugar da outra subespécie.  O mesmo ocorre com fungos e fungicidas.  Observe a semelhança com a mudança de ambiente dos animais, e veja que nenhuma “evolução” foi necessária.  Mesmo a capacidade das bactérias de começar a degradar toxinas que antes não conseguiam é devida à recombinação genética e estímulo dos genes necessários. Ocorre algo parecido com os nossos anticorpos, diferentes para cada invasor (bactérias, toxinas, fungos,...).  A recombinação para formação de anticorpos é absurda, e não é lógico dizer que evoluímos a cada infecção.

            Aliás, as bactérias e a evolução.  Esta acontece entre as gerações, por passagem de genes mutados para os descendentes; portanto, está correlacionada à idade reprodutiva.  A maioria das bactérias se divide após menos de 12 horas (uma geração), mas consideraremos 1 dia, como base.  Há mais de 50 anos elas são estudadas amplamente.  Então temos 365 gerações por ano em 50 anos.  Cerca de 18.000 gerações, expostas a todo tipo de situação, milhares de substâncias e ambientes os mais variados!  Entretanto, não está documentada nenhuma bactéria com qualquer chance de tornar-se um protozoário, célula vegetal ou fúngica, próximos passos na escala evolutiva.  Tomando um mamífero que tenha gerações de 20 anos, após (18.000 x 20) 360.000 anos não é esperada nenhuma orientação para outra espécie!  Isso sem considerarmos a maior quantidade de DNA e maior risco de erros, devido à especialização das células.

            Assim, notamos que a diferenciação é muito comum na natureza, mas seu próximo “passo”, a especiação, parece que ainda não foi observada nem nos seres mais simples.

 

III)            Equívocos.

            Aproveito o assunto das bactérias para lembrar alguns equívocos que você, Marcus, cometeu em algumas respostas.  Primeiro, acredito que você tenha se precipitado ao dizer que as bactérias não sobreviveriam na água, já que morriam com uma simples lavada de mãos.  Isso não é verdade, como a especialista em microbiologia Dra Márcia Oliveira de Paula (se não me engano) já explicou.  Lavar as mãos serve mais para retirar as bactérias mais superficiais, mais facilmente transmissíveis, e mesmo o sabão tem pouco efeito para sua morte.  Um estudo demonstrou que lavar as mãos fortemente, com sabão, durante meia hora, mata menos de metade das bactérias!  Felizmente, a maioria das que restam são comuns para a pele, e não causam nenhum problema.

            Ainda em relação às bactérias, lembro-me de você ter citado que elas são um tipo de animal, o que também não é verdade.  Elas pertencem ao Reino Monera, com características específicas e diferentes das células de protozoários, fungos, vegetais e animais, representantes dos outros reinos, sem se parecer mais com nenhum deles.  Entre os animais, os mais “simples” seriam as esponjas.

            Outras observações feitas por você foram a de que Pingüins vivem apenas em locais gélidos e são incapazes de nadar grandes distâncias.  A primeira afirmativa já foi desmentida pela Dra Márcia (se não me engano novamente), mas a segunda foi desmentida por você mesmo, ao se lembrar de que já encontraram um pingüim nas praias do Rio de Janeiro!

            Esses exemplos servem para a compreensão de que nem sempre conhecemos bem os argumentos que utilizamos; é preciso ter cautela ao afirmar como verdade fatos sobre os quais temos pouca informação.  Afinal, até quando sabemos bem o assunto, corremos o risco de errar.  Deve-se refletir muito a respeito de qualquer fato que nos é passado ou achamos real, senão corremos o risco de acreditar apenas no que é conveniente.  E esse é o maior entrave tanto para evolucionistas quanto para criacionistas.

 

IV)             Deriva dos continentes. 

Meu conhecimento de geologia é muito limitado, mas gostaria de fazer algumas observações sobre o deslizamento das placas tectônicas e movimento dos continentes. 

Nas discussões que observei, faltou esclarecer algo sobre as idéias criacionistas.  A hipótese mais comum sugere a derivação dos continentes durante o dilúvio e logo após, e não continuamente até os dias de hoje.  Ou seja, seria um deslocamento muito rápido, de uma grande quantidade de terras, e as cordilheiras seriam uma evidência.  Elas surgiram do encontro das terras deslocadas com obstáculos, como as cristas oceânicas, fazendo com que a terra se dobrasse e subisse. Logo após, há a acomodação, que acontece até hoje com pequenos movimentos (terremotos e deslocamento dos continentes).  Precisaria muito espaço e desenhos para explicar melhor, e isso não convém no momento.

Contudo, algumas perguntas me inquietam no evolucionismo: como as placas deslizam uma sobre as outras?  Que forças as movimentam? É possível todos os continentes unirem-se novamente após milhões de anos?

Isso me incomodava, pois através de imagens das placas tectônicas não consegui essas respostas.  Ou melhor, só pude chegar às conclusões: as placas não deslizam umas sobre as outras e os continentes nunca se encontrarão, pois precisaria que uma placa ficasse sobre a outra e parte do planeta ficaria sem placa.  Desenhe essas placas sobre a Terra (ou veja um desenho) e depois desenhe um corte da Terra com encontro de placas.  Como responder àquelas questões?

 

V)                Arca de Noé.

            Observei conflitos sobre como tão grande número de animais e plantas poderiam ser transportados na arca, isso sem considerar artrópodes e outros invertebrados.  Percebi um desconhecimento a respeito de uma teoria criacionista e certos conceitos biológicos.

            Realmente é muito difícil imaginar como tantos animais caberiam na arca, e como seriam alimentados corretamente.  A preservação das florestas também parece um entrave, levando à conclusão de que as sementes de muitas árvores precisaram ser postas na arca.  No entanto, podemos procurar outras alternativas.

            No caso dos animais, seria mais lógico que na arca não fossem carregados exemplares adultos, mas sim filhotes e ovos, muito mais fáceis de transportar.  Além disso, como 2 andares da arca ficaram na total escuridão, esses filhotes podem ter hibernado, evento comum na natureza.  Tanto é, que quando ocorrem eclipses solares, animais com período de atividade diurno tendem a se preparar para dormir.  Sem luz e sem capacidade de se moverem, os filhotes não devem ter dado trabalho.  Os ovos de aves e répteis poderiam ter sido protegidos entre folhas ou feno.  E ainda podemos voltar ao fato da diferenciação dos animais, que pode ter acontecido amplamente após o dilúvio.  Já vimos que um único casal de ursos (na arca, ainda filhotes) poderia gerar todas as outras espécies de ursos, bastaria terem os genes para tal.

            Com relação aos artrópodes incapazes de sobreviver num ambiente aquático, considera-se a resistência tremenda de seus ovos e larvas.  Esses ovos poderiam ficar soterrados junto das florestas ou em qualquer outro ambiente, ou mesmo flutuar na água.  Um ovo do mosquito da Dengue pode eclodir até 10 dias (ou mais) depois de posto se não encontrar condições ideais, ficando na beirada de vasos com umidade, por exemplo.  Outros invertebrados não teriam dificuldade em viver no lamaçal sob as águas do dilúvio.

            Acredito que florestas inteiras não sobreviveram ao dilúvio.  No entanto, seus restos mortais, junto da lama, devem ter fornecido condições boas para preservação de muitas sementes e ovos de insetos.  Logo após as águas abaixarem, recomeçaria a vida na floresta, com seus pequenos invertebrados saindo da terra e brotos florescendo.

            Esses argumentos possibilitam a extinção em massa e conservação da biodiversidade, mesmo que toda a vida na terra fosse extinta (ovos e sementes dificilmente eram considerados vida), além de resolverem o problema do espaço na arca de Noé.  Contudo, meus conhecimentos de biologia são poucos, e algumas afirmações podem ser errôneas.  Apenas demonstro uma possibilidade, e gostaria de saber de biólogos se esses fatos são possíveis.  Creio que um biólogo que não estivesse acreditando convenientemente na evolução pudesse refletir sobre seus conhecimentos e responder as muitas perguntas que restam, entre as quais podemos ter:

-         Ovos de aves e répteis que fiquem muito tempo no escuro também podem “hibernar”, eclodindo apenas em condições certas?

-         Filhotes no escuro podem hibernar por quanto tempo?

-         Ovos e larvas de invertebrados podem resistir nas condições citadas (lama, pressão)?

-         É possível a “ressurreição” das florestas nas condições citadas?

 

VI)             Espalhamento dos animais pelo globo.

            Passado o dilúvio, este parece ser um dos maiores desafios para o criacionismo.  Afinal, a distribuição dos animais por todo o mundo a partir de um único local parece algo fantástico, sem nenhuma explicação plausível.  De fato, por enquanto o é. Obviamente desconsiderando o milagre da condução por Deus (possível, uma vez que Ele é onipotente), podemos procurar uma resposta científica.

            Supomos o espalhamento dos animais parecido com a distribuição das raças humanas, como princípio.  Assim, a semelhança de animais distantes pode ser explicada, além da existência de diferentes raças em diferentes ambientes.  Compete lembrar que quando dizemos “raça” podemos envolver animais que hoje são classificados como espécies diferentes, muito parecidas.  Não sei se alguém tentou cruzar seus gametas para confirmar se são realmente raças distintas; mesmo assim, a combinação de certos genes da mesma espécie pode levar à morte do embrião prematuramente, como ocorre em algumas doenças de ratos e mesmo humanos.  De qualquer forma, seguindo esse raciocínio teremos muitas dúvidas, poucas passíveis de resposta lógica, dentre as quais:

1)      Como os animais chegaram em ilhas ou na Antártida?

2)      Por que em certas ilhas há espécies que não existem em outros locais?

3)      Por que há espécies únicas de certos ambientes e que não existem em nenhum outro lugar no mundo?

4)      Onde estão os fósseis de alguns tipos de animais que migraram?

5)      Por que e como os animais migraram?

 

Essas perguntas são vagas, então até certo ponto só podem ser respondidas superficialmente.  Vamos raciocinar de forma geral e linear, para depois encontrar as respostas nos argumentos propostos.

Quando os animais saíram da arca de Noé, instalaram-se próximos de onde ela parou.  A partir de então, foi necessário que eles procurassem novos ambientes, pois aquele estaria saturado.  Também é possível que alguns animais migrassem simplesmente por instinto para outros locais.  Após o dilúvio, o planeta estava na situação que hoje definimos como Era Glacial, devido ao congelamento das águas diluvianas e fatores atmosféricos, com terras unindo muitos locais separados, como a América do Norte com a Ásia e Groenlândia, América do Sul e Antártida, Ásia e Austrália, e muitas ilhas.

Fugindo de adversidades, em busca de melhores ambientes ou por instinto, as espécies foram se espalhando pelo mundo, deixando em cada local sua raça (igual aos humanos) que estivesse mais adaptada, ou pela migração de raças específicas.  Assim, quando uma raça ficou presa em uma ilha ou ambiente, continuou recombinando apenas seu próprio material genético, enquanto outras raças cruzavam-se entre si.  Nada impede também que uma espécie tenha migrado para uma única região, mas também é possível que as raças de certa espécie fossem extintas em outras regiões, por predadores naturais, falta de comida ou pelo homem. 

Em todo esse processo usamos o conceito de diferenciação.  Não sabemos até que ponto uma espécie é capaz de se diferenciar, como um casal de felídeos gerar tanto tigres como leões.  No entanto, sabemos que ela é comum e deve estar estreitamente relacionada à duração das gerações das espécies.  Quanto mais rápida a geração, maior o potencial de diferenciação.  Por isso encontramos uma variedade tão grande de aves e pequenos mamíferos, mas pequena diferença entre os animais de grande porte, como elefantes e rinocerontes, que têm maior expectativa de vida.  Isso é apenas uma observação, não uma conclusão científica.  Com ela e a distribuição pós-dilúvio, podemos desconfiar de por que é incomum encontrar animais de grande porte na América Latina e Austrália, em relação à África ou Ásia, por exemplo.

O povoamento dos novos ambientes, sem mamíferos e aves, deve ter sido rápido.  Sem predadores e com alimento abundante.  Vale lembrar que as pombas chegaram há pouco tempo no Brasil, e já tomaram conta de quase todo o país.  Também vimos a rápida adaptação dos búfalos aos pântanos da ilha de Marajó.

Com relação aos fósseis, precisamos entender o dilúvio.  Foi durante a catástrofe que se formou a maioria dos fósseis hoje existentes, portanto a formação de fósseis após esse evento deve ter sido muito rara, ainda mais para animais que migravam e morriam a céu aberto, apodrecendo.

            Todas essas considerações trazem algumas respostas, mas muito mais dúvidas.  Para os interessados, sugiro que procurem informações sobre geologia, geografia e biologia pertinentes aos assuntos tratados, e pesquisem as respostas.  Evitem perguntar para cientistas formados, pois estes normalmente já têm uma concepção preconceituosa, creiam na evolução ou criação.  Após a própria reflexão, nos tornamos mais críticos para as opiniões de outras pessoas, e então é hora de perguntar.

 

VII)           Seres multicelulares e Embriogênese.

            Bom, depois de muito divagar, retorno a assuntos que domino melhor.  Li comentários a respeito da “transformação” de seres unicelulares em multicelulares.  É verdade que algumas bactérias unem-se em tempos de escassez, permanecendo unidas para evitar maior consumo de energia.  Logo após o retorno de condições satisfatórias, elas se separam.  Desconheço seres com número intermediário de células, como já foi citado em algum dos textos disponíveis em sua página. 

            Também não compreendo como um ser unicelular poderia tornar-se multicelular, já que essa passagem envolve transformações importantes nos mecanismos de junções celulares e interdependência.  Seu exemplo foi o da transformação de uma única célula, o zigoto (óvulo fertilizado), em um ser completo sem intermediários.  Contudo, esse conceito é muito simplório.  Vejamos a embriogênese. 

            A divisão celular que se inicia logo após a fecundação é perfeitamente modulada, e todos os passos dependem da interação das células que estão formadas com o DNA.  Primeiro é necessário que todas as células permaneçam unidas, resultado da expressão de genes responsáveis por “pontes” intercelulares.  Quando um certo número de células já existe, algumas células deixam de se reproduzir, e outras continuam, fazendo com que o amontoado de células se curve.  Para isso ocorrer, o material genético das células que pararam deve ser inibido por um mecanismo que já exista.  Todo o restante do desenvolvimento é ainda mais espetacular, e não é difícil supor que mais de um terço do nosso DNA sirva apenas para a embriogênese.  Se dissermos que um ser unicelular de repente tornou-se multicelular, ele precisaria quase duplicar seu material genético, com combinações novas e de forma maravilhosamente ordenada para permitir um resultado viável.  Portanto, não podemos dizer que um zigoto unicelular torna-se um ser multicelular, pois ele já é multicelular desde sua origem, devido à informação genética que contém.

            A embriologia é um dos assuntos que mais aprecio, mas não tenho espaço para abordar melhor alguns aspectos.  Caso alguém deseje tirar algumas dúvidas ou tenha curiosidades sobre a nossa incrivelmente maravilhosa formação pode me escrever.  Não garanto que saberei responder a todas as dúvidas.

 

VIII)       Os cientistas e a evolução.  Conclusões.

            A maioria esmagadora dos cientistas acredita na evolução.  Um fato por si só capaz de fragilizar todos os argumentos criacionistas já que isso ocorre em todas as áreas da ciência.  Contudo, precisamos separar a crença racional da crença por falta de escolha ou sentimento de aversão à Bíblia (sentimento essencial para uma pessoa culta, segundo muitas pessoas cultas que conheci).  Na faculdade de medicina, cansei de ouvir citações a respeito de nossos ancestrais macacos e nosso passado quadrúpede, para explicar fatos que um simples conhecimento de embriologia pode responder.  Durante toda a faculdade cansamos de aprender sobre a evolução, apresentada como verdade, sem qualquer contestação.  Acredito que seja assim na maioria das faculdades, e não apenas em ciências; portanto, é fácil perceber porque tantas pessoas crêem na evolução, muitas vezes sem saber conceitos básicos.  Todos os meios de comunicação comuns, mesmo aqueles que não têm credenciais científicas, confirmam a evolução, e crescendo com ela na cabeça é realmente difícil analisar outras hipóteses sem preconceito.

            Convém reconhecer que Darwin foi muito inteligente e capaz de associar idéias de forma magnífica.  Tive o prazer de ler seu esboço para A Origem das Espécies, constatando suas dúvidas com relação ao raciocínio da transformação das espécies.  A rápida aceitação de suas idéias foi estranha até para ele, mas tenho o palpite de que os cientistas daquela época já procuravam uma forma de excluir Deus de tudo e mostrar a idiotice da Bíblia.  Algo comum entre os cientistas.  Discordo dos criacionistas que insinuam a inutilidade do pensamento evolucionista e a ignorância de Darwin, atestando sua própria cegueira.

            Por fim: crer em alguns argumentos criacionistas envolve a possibilidade remota da Bíblia estar correta, uma heresia para certos cientistas!  São homens e mulheres com medo de perder o que possuem neste mundo, amigos dos prazeres da carne e que não os querem abandonar, atacando esses fatos através da ridicularização da Bíblia, e cegos para perceber.  Mas Jesus Cristo pode mostrar a verdade, pois Ele a é, demonstrando a insignificância dessas discussões terrenas e o valor dos tesouros acumulados nos Céus, conseguidos pela fé e obediência às palavras do Senhor.

           

Mais uma vez agradeço, Marcus Valério, pela oportunidade de expor meus comentários.  Perdão pelo conteúdo extenso e qualquer confusão ocorrida, e espero que os argumentos colocados possam auxiliar outros leitores na busca por respostas, assim como a você também, Marcus.  Seu espaço aberto e discussões demonstram o quanto você consegue tratar com honestidade o assunto criacionismo-evolucionismo, aspecto que seria bem-vindo não apenas para os cientistas, mas para todos nós humanos.

Com grande satisfação me despeço, esperando por comentários e contra-argumentos ou contato de interessados.

 

                                                                        Rafael A. B. Pavani

                                                            São José do Rio Preto – 07/04/2004

                                                                    rafaabpavani@hotmail.com

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