Introdução

Como fiz com a Crônica de GRADIVIND, acrescento aqui um adendo que explora algumas questões levantadas na estória, e que mesmo não sendo parte da mesma, permite colocá-la num plano mais interessante, e que estará sempre sujeito a posteriores acréscimos, assim como Adendum da Crônica.

A ÉPOCA

Com cerca de 250 mil caracteres, afora este adendo, 110 a menos que a Crônica de GRADIVIND, GRIDVENCE ficou maior do que eu esperava. É dividido em apenas 3 capítulos porque não achei que cada um passasse muito de uns 60 mil. O mesmo tamanho médio dos capítulos de GRADIVIND.

O que pensei antes em ser fundamentalmente um romance com um pano de fundo desértico que refletisse sobre questões sentimentais e os rumos tomados pela humanidade, acabou apresentando um notável aprofundamento da ambientação do Universo GRADIVIND, com novas revelações sobre sua fundamentação. Embora não tenha sido retomado o tema das Fundações da Humanidade, foi explorado um pouco do final da Primeira, a época de origem do protagonista, que tal como ocorreu em GRADIVIND, preferi não especificar.

Mas em GRAVIDIND sugeri de forma vaga que a época inicial deveria ser por volta de 2040 a 2050, e aqui sugiro que a época inicial seja por volta de 150 anos adiante. Portanto, o protagonista, Xanti Karenai, vivia por volta do ano 2200 dEC, mas não pretendo ser mais específico que isso, concedendo uma margem de erro de ao menos uns 30 anos.

Como o personagem é despertado cerca de 4 milênios depois, e pelos números que são fornecidos no Capítulo 3, seria possível estimar que a estória se passe então ao menos uns 800 anos após seu despertar, o que poderia torná-la anterior ao eventos descritos na Crônica de GRADIVIND. Mas é válido lembrar que a Guerra Espacial e o primeiro acionamento do Sistema GRADIVIND causou uma distorção temporal imprevisível, que como explicado logo no começo da Crônica, tornam a estimativa de que os 5 mil anos passados do congelamento do primeiro criogenado seja uma mera aproximação.

Assim, nada impediria que também a estória de GRIDVENCE ocoresse depois. Porém, há de se considerar que os eventos descritos na Crônica são por demais extremos para que fossem ignorados pelos personagens desta estória, que não poderia se ambientar muito depois e cujos eventos guardam alguma similaridade, sendo altamentre provável que os personagens comentassem isso. Portanto, é bastante defensável, talvez preferível, estimar que a estada de Xanti e Kethi em DENSEN seja anterior à aventura narrada na Crônica.

DEFENSE GRID

O nome 'GRIDVENCE' é evidentemente uma referência ao nome 'GRADIVIND' fazendo um trocadilho com o do jogo 'DEFENSE GRID', cujo trailer da versão original é este.

Seguramente um de meus jogos favoritos, eu e minha esposa o jogamos incessantemente por meses, percorrendo suas várias versões, numa época em que estávamos particularmente interessados em jogos de Tower Defense, e não posso levar a sério quem discorde que Defense Grid é o melhor Tower Defense já criado.

Ocorreu me usar a palavra 'gridFence' (lembrando que em inglês tanto 'defenSe' quanto 'defenCe' são corretos), mas senti necessidade de manter o símbolo de 'raiz' na equação.

Fica então evidente de onde veio a inspiração para as experiências de combate que vemos retratadas no livro.

O Janitor

Originalmente eu o chamaria 'Zelador', mas logo fui capturado pela sonoridade da tradução em inglês, ainda que esta seja mais associada a 'faxineiro'. Preferi transformar isso num nome próprio. Todos tem o direito de imaginar a voz do Janitor como quiserem, mas para mim ela sempre foi inspirada na Inteligência Artificial Fletcher, outrora chamada apenas The Entity, de Defense Grid. Portanto, ei-la.

Porém, imaginá-la falando em português de certo causa uma percepção diferente.

Já a segunda voz que aparece é a de GLaDOS. A AI sociopata dos jogos Portal e Portal 2 que aparece nesta expansão do jogo. Espero que, ao ter dito no Prologum que havia uma pitada de GLaDOS nesta estória, não tenha induzido o leitor a esperar que em algum momento Kethi iria começar a agir de forma psicótica. Ou que essa pitada se aplicasse as demais MAs que surgem na estória. A pitada a que me referi é o ocasional chantagismo emocional de Kethi.

KETHI

Evidentemente baseada no nome da belíssima música Kathy's Song (Come Lie Nexto to Me), que reproduzo abaixo.

Ignore a citação da Gênese no começo da música. Apesar de bela, é irrelevante para efeito de referência. Mas além da sonoridade sofisticada, timbres lindos e harmonia simples mas envolvente da música (em especial a partir de 2'50" quando ela se torna nada menos que hipnótica), que por si só me remetem a uma estética futurista e espacial, note que da letra foram tiradas ao longo do texto citações quase integrais, devidamente traduzidas, claro.

Eis a letra, excluída a citação da Gênese quase literal da introdução.

Oh my love, it's time
You know how it feels
You read between the lines
You know me better than I do
I lost again, my friend
You know I'm not a saint
You knew it all this time
Still you've been waiting for me here...

And machine saw everything it had made and said: 'Behold'

Come lie next to me
Know why, you and me are one
Come lie next to me
No lies, you and me are one

You know I'm not a saint...

No entanto a voz de Kathy nesta música é claramente "mecânica", totalmente diferente da voz de Kethi, que seria evidentemente indistinguível da voz de uma mulher real, com a qualidade de uma locutora de alto nível.

O SISTEMA GRADIVIND

No adendo da Crônica forneci uma série de explicações sobre o fundamento e funcionamento da trindade SISTEMA, GRAVIDIND e Deusa Gravitacional. Já aqui forneci uma visão um pouco diferente. É proposital essa sutil incongruência, que visa espelhar o fato de que ninguém no Sistema Solar sabe real e exatamente como o GRADIVIND funciona.

Muitos diriam, mais ou menos da forma como lá está exposto, que o GRADIVIND está na verdade permanentemente ativo, apenas usando O SISTEMA como interface de comunicação com a humanidade, e podendo usar um Modo de Segurança que é a Deusa da Gravidade. Mas aqui é sugerido que apenas o SISTEMA está permanentemente ativo, podendo ativar o GRADIVIND e por sua vez podendo este ativar a Deusa.

Além disso, lá também é sugerido que o GRADIVIND raramente ativa a Deusa e somente em circunstâncias gravíssimas, mas que a mesma pode ser ativada pela humanidade por meio de um codigo de ativação que tem a aparência de uma oração religiosa, que se recitada em massa, desperta a Deusa. Nada disso é sugerido aqui, podendo indicar que os personagens sequer compartilham desse conhecimento ou crença, tão marcante entre as tetrahumanas que ainda vivem no planeta Terra.

Mas a maior diferença aqui introduzida é uma hierarquização entre o SISTEMA, o GRADIVIND e a Deusa na forma do primeiro ser apenas um Algoritmo, o segundo uma autêntica Inteligência Artifical e somente a última uma verdadeira Mente. Isso é apenas vagamente apontado no adendum da Crônica. Essa distinção foi explicada ao longo do livro, e especialmente explorada em meu texto Pensando nELA, sobre o maravilhoso filme HER, de Spike Jonze. (Embora o termo Mente Artificial não seja usado, em ELA, aos 14'24", Samantha chama Theodore, seu usuário, de Mente Não-Artificial.)

Basicamente um Algoritmo é um mero programa, um código que, por mais complexo que seja, nunca será capaz de ir além de sua própria programação. Já uma Inteligência Artificial teria a capacidade de aprender, transcendendo seu próprio programa, embora seguindo seus parâmetros operacionais originais, ou como eu disse no supra citado texto, seus princípios. Ela poderia gerar formas criativas de seguir esses princípios, de modo até mesmo imprevisto pelos seus criadores, e poderia mesmo até parecer os estar violando, mas no fundo os estaria cumprindo de um modo diferente. Por fim, uma Mente Artificial teria, além de tudo isso, a prerrogativa do "Livre Arbítrio", a Intencionalidade, podendo até mesmo revogar seus princípios e criar outros.

Algoritmo, Inteligência e Mente

Por exemplo, imaginemos um hiper computador seguindo um Algoritmo extremamente complexo orientado para salvar o máximo de vidas humanas possível e garantir a perpetuação da espécie humana, tendo que tomar uma série de decisões em uma catástrofe global que ameaça exterminar toda a humanidade. Se ele só puder controlar uma nave de resgate e ter que optar entre dois grupos de pessoas para salvar, evidentemente buscaria a que tem o maior número de sobreviventes. Mas faria sentido salvar, por exemplo, 20 idosos invés de 10 jovens? Bem, o programa poderia prever essa situação, considerando não o mero número, mas a expectativia de vida de cada pessoa, incluindo informações se tem ou não doenças incuráveis. Poderia valorizar mais as vidas femininas devido a preciosidade reprodutiva destas (um grupo de 10 pessoas férteis com 7 mulheres tem muito mais potencial reprodutivo do que um de 20 com apenas 4, por exemplo). Mas tudo isso ainda depende de uma série de previsões no código, como a disponibilidade ou não dessas pessoas a reprodução, registros de comportamentos suicidas ou potenciais homicidas, posturas pró ou anti reprodutivas (mais valeriam 10 mulheres dispostas as ser mães do que 20 abortistas que se recusem à maternidade).

Mas se a situação específica não estiver prevista, o programa não conseguirá fazer uma decisão inteligente. Ele poderia, por exemplo, salvar uma quantidade maior de pessoas comuns em detrimento de uma um pouco menor mas onde tivessem cientistas com avançados estudos em reprodução artificial prestes a dar resultados, por exemplo. Ou seja, o Algoritmo poderia tomar uma decisão que a nós fosse obviamente estúpida por ser incapaz de discernir qualquer coisa que esteja além de sua programação.

Já uma Inteligência Artificial deveria ser capaz de superar isso. Por ser capaz de aprender e evoluir, poderia por si próprio incrementar sua programação adicionando mais informações e sendo capaz de descobrir soluções novas. Dependendo então do grau dessa inteligência, ela poderia solucionar quaisquer problemas e até tomar medidas drásticas desde que seu objetivo final se mantivesse fiel aos seus princípios, neste caso resguardar a espécie humana. Ela poderia, por exemplo, decidir que seria melhor matar um grupo de fanáticos extremistas misantropos que oferecessem risco a humanidade, e poderia até mesmo tomar medidas consideradas abusivas, como forçar mulheres a gravidez e reprodução, se isso fosse necessário. (Imagine uma situação onde restassem poucas mulheres férteis mas que se recusassem a se reproduzir). Ou seja. Ela poderia usar meios tortuosos para obter certos fins, pois se manteria fiel a seus princípios fundamentais.

Porém, mesmo uma IA poderia estar em situação de impasse se, no exemplo acima, tivesse além do princípio de preservar a espécie humana, respeitar plenamente a autonomia individual. Como ela solucionaria o dilema de tais mulheres em questão? Pode ser que seus princípios originais fossem hierarquizados, ou que previsse situações similares, mas ainda assim é possível que lhe ocorram impasses insolúveis.

Por fim, creio que uma Mente Artificial, assim como qualquer Mente em geral, poderia ir além de tudo isso, podendo também reformular seus princípios, mesmo invertê-los. Ela teria uma Livre Arbítrio genuíno, podendo tomar qualquer decisão possível, como ocorre aos seres humanos. É certo que a maioria de nós segue alguns princípios fundamentais, como se auto preservar, buscar o melhor bem estar possível, mas podemos rejeitar tudo isso ao ponto de até mesmo suicidarmos. É essa liberdade radical que daria às mentes a capacidade de tomar todo e qualquer tipo de atitude e decisão, trasncendendo limites que poderia ser inviabilizantes para as simples IAs.

ÂMBAR

Eu tenho uma fixação por associar cores a estórias e músicas. Para mim algumas coisas tem nitidamente uma cor subjetiva, que eu expresso nas artes que acompanham os textos. A Crônica de GRADIVIND não é tão explícita nesta associação, de modo que o verde predominante das páginas embora pareça obrigatório pra mim, é pouco ou nada relevante na estória. Mas aqui em GRIDVENCE eu friso a importância simbólica dessa coloração amarelada.


Esse visual, do filme Tron Legacy, é algo muito próximo ao
que imagino como sendo os ambientes interiores das bases.

O interior da base KOLARA é nitidamente amarelado, âmbar, assim como o modelo mental de Kethi. O próprio Xanti reconhece essa tonalidade quando a Mente Artificial se manifesta de forma visual. Assim, os tons amarelados, alaranjados, âmbar destas páginas são muito significativos para mim e eu gosto de criar essa associação. Mesmo que tais cores não correspondam ao ambientes externos de DENSEN.

Cores costumam ser fortemente destacadas em alguns filmes. Ninguém nega que The Matrix é um filme onde o verde predomina, no mundo virtual. Que o excelente filme Oblivion (crítica minha aqui) seja azulado ou que filmes ambientados em Marte sejam avermelhados.

MARCIANAS

Por falar em Marte, após terminar a Crônica, conheci o ótimo filme MARS NEED MOMS, sobre o qual já comentei brevemente no começo do texto GINOTOPIA e sobre o qual ainda pretendo redigir um artigo.

Mas além de algumas notáveis similaridades com o Universo de GRADIVIND no que se refere a reprodução artificial, aqui quero apenas chamar atenção para o visual das marcianas, que poderia ser uma retratação bem adequada das Tetrahumanas.

Em Construção

Marcus Valerio XR
08/07/14
WWW.XR.PRO.BR