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27 de Agosto

Por que considero Alien uma concepção ESTÚPIDA!? Depois do suplício inominável que foi assistir Alien Covenant (2017), só verei Alien Romulus (2024) quando puder fazê-lo de graça. Mas duvido que o novo filme mude algo do que direi aqui. E sem negar os méritos estéticos, o clima de tensão, ou qualquer outro elemento emocional relevante, aponto que a franquia Alien se baseia e insiste em fundamentos totalmente estúpidos, que só são tolerados porque a dimensão de "Horror" é muito mais valorizada pelos fãs que a de Ficção Científica.

Deixo de lado as tolices de concepção espacial que 9/10 das obras audiovisuais de FC cometem, como as que explico aqui, ou as ridículas inconsistências tecnológicas, e foco em basicamente três pontos que são praticamente exclusivos da franquia.

1 - MÉTODO REPRODUTIVO PÉSSIMO: temos que os xenomorphs são uma espécie que depende totalmente de outra para se reproduzir, e ainda por cima mata desnecessariamente o hospedeiro após um único uso. Por que raios o monstrinho nasce arrebentando o tórax, e matando, o hospedeiro, quando seria muito mais fácil sair pela boca, e ainda dando a outro facehugger a oportunidade de reutilizá-lo? Esse tipo de estratégia reprodutiva seria eliminando pela seleção natural devido a sua extrema ineficiência, e se for resultado de engenharia então, seria de um "Design INinteligente" cujo único objetivo "prático" seria o sadismo.

Na nossa realidade, as espécies mais sofisticadas adotam reprodução sexuada, e mesmo as que apresentem procedimentos minimamente parecidos com o que vemos na concepção de Alien, no geral o fazem produzindo dezenas ou mesmo centenas de filhotes simultaneamente, o que só é prático em organismos pequenos.

Assim, uma espécie grande como a dos xenomorphs, sendo assexuada, teria reprodução muito mais eficiente usando seus próprios indivíduos como unidades replicadoras. Se existe uma rainha capaz de por ovos de facehuggers, por que não poderia gestar, ou ao menos por os ovos, dos próprios xenomorphs? Isso seria muito mais prático do que dividir a espécie em três níveis: Rainha, Facehuggers e Xenomorphs, que ainda por cima dependem de um quarto nível, a outra espécie hospedeira.

Em suma, uma completa implausibilidade evolutiva, ou uma total estupidez em bioengenharia.

2 - CRESCIMENTO MÁGICO INSTANTÂNEO, como vemos desde o primeiro filme, e especialmente turbinado em filmes posteriores. A questão nem é tanto o simples e absurdo fato do xenomorph sair do hospedeiro menor do que um gato, e estar maior que um humano, em questão de horas. Isso já é fantasioso e sobrenatural por si só, não merecendo qualquer consideração de um ponto de vista minimamente realista.

O verdadeiro problema, é que NINGUÉM NUNCA SEQUER SE SURPREENDEU COM ISSO na franquia! Ninguém jamais sequer perguntou "como raios o bicho cresce tão depressa", como se não fosse uma coisa absurda nem merecesse um pingo de reflexão. E o cresce, ao que tudo indica, sem sequer precisar se alimentar! (Aliás, eles comem?)

É o tipo de coisa que se aceita em "contos de fadas", fantasia, ou, evidentemente terror sobrenatural. Mas a Ficção Científica, deveria exigir uma satisfação explicativa mínima nem que fosse na base de uma technobable primário, mas nem isso!

3 - INTERESSE INJUSTIFICÁVEL DA WEILAND. O que vemos, recorrentemente desde o primeiro filme, é a fixação da mega corporação nessas criaturas. Mas a questão é: PRA QUÊ?! Afora a pesquisa básica, e talvez a mera curiosidade, é difícil imaginar uma aplicação prática que justifique gastar tantos recursos nas desastradas tentativas de obter e controlar tais criaturas, ainda mais às custas de vidas e equipamentos. A mais comum das explicações é péssima: a de que eles interessariam como "arma biológica".

Mas que porcaria de arma seria essa? Vamos imaginar eu aqui na minha base, nave, país etc, com mísseis nucleares, e você aí com seus alienzinhos? Quem vence? Ou entre um bando de xenomorphs irracionais e uma frota de robôs armados com metralhadoras e mísseis? Qual a vantagem dessas criaturas? Obviamente eles são letais em combate direto, oferecendo grande dificuldade, mas ainda assim em desvantagem, contra um tropa humana bem armada, só sendo capaz de sobrepujá-la quando a pega de surpresa, como ocorre em TODOS os casos nos filmes.

Mas mande uma tropa bem treinada e equipada e com as devidas informações, e esses aliens não tem a menor chance.

Quando se infiltra tropas num alvo específico, em geral é porque se quer capturar o local, ou prender os inimigos, ou visando algum objetivo tático, coisa que os xenomorphs não tem a menor condição de fazer. Mas se o objetivo é apenas causar uma destruição irracional, ora, um míssil faz isso muito melhor e mais rápido, ou um P.E.M., ou uma arma química ou bacteriológica específica, se objetivo for mais preciso.

O ponto é que o potencial de uso militar dessas criaturas é simplesmente NULO! A ideia vista em Alien Ressurrection (1997) já faz algum sentido maior, de usá-los como base de desenvolvimento de outras criaturas, mas isso é pouquíssimo explorado e fica sempre a dúvida de o que eles teriam de vantajoso nesse sentido além do apelo emocional.

Só se desperdiça recursos materiais ou humanos quando o retorno é conhecido. Por isso é anti-ético, mas plausível, que uma corporação nefasta despreze sua própria equipe em prol de lucro calculado. Mas qualquer utilidade dos xenomorphs só poderia estar estabelecida, de acordo com a própria franquia, no ano de 2379, que é quando ocorre Alien Ressurection (1997), mas todos os demais filmes se passam séculos antes! A saber, a cronologia é:

2004 Alien Vs Predator (2004)
2004 Alien Vs Predator: Requiem (2007);
2089 Prometheus (2012)
2104 Covenant (2017)
2122 Alien (1979)
2142 Romulus (2024)
2179 Aliens (1986)
2179 Alien 3 (1992)
2380 Ressurrection (1997)

Portanto, em TODOS os 8 filmes cronologicamente anteriores ao último, qualquer utilidade prática dos xenomorphs era, no mínimo, incerta.

Enfim, eu ainda considero que o primeiro filme, Alien - O 8° Passageiro (um dos poucos casos onde o subtítulo brasileiro melhora o título original) é um ótimo filme, incluindo as duas versões alternativas, devido a ainda ser uma novidade e pelas qualidades de suspense e horror envolvidas. E que o segundo, Aliens - O Resgate, é O MELHOR filme da franquia graças a sua ação eletrizante, e com uma versão do diretor melhor ainda! E até apreciei os dois AVPs, principalmente pela parte Predator, pois a concepção dos Yautjas é incomensuravelmente superior. Reconheço até méritos em Prometheus. Mas fora isso, há pouco que se salve além de algumas sequências emocionantes, mas vazias de qualquer conteúdo estético mais profundo, e completamente desprovido de qualquer senso mínimo de coerência.

Tudo isso por que, sim! Trata-se de uma concepção complemente estúpida! Válida apenas como filme de terror disfarçado de Ficção Científica.

YT 16 de Agosto FB

Em 2007, o drama romântico JUNO fez enorme sucesso, faturando mais de U$ 232 milhões, tendo custado apenas U$ 7 milhões, sendo uma unanimidade de crítica e ganhando várias premiações, inclusive o Oscar de melhor roteiro original, além de ter sido indicado para outras três categorias, inclusive a de melhor atriz para Ellen Page...

Quero dizer... Elliot Page, porque agora, todas as referências à atriz que também já fez o papel de Kitty Pride em duas edições de X-Men, bem como participou ao lado de Leonardo diCaprio em Inception (2010) ou de Kiefer Shutherland em Flatliners (1990), para citar filmes com temas similares aos da série deste post, tiveram que ser agora alteradas, passando a tratá-lo no masculino se não pelo espontâneo apoio à ideia de "transição de gênero", ao menos pelo medo de serem acusados de transfobia.

Mas somente a série The Umbrella Academy, que comentei nos dois posts anteriores*, teve que arcar com essa transição DURANTE as filmagens, e se alguém decidir fazer cosplay de gênero ou ser chamado do que bem quiser é apenas o menor dos problemas, ocorreu que devido a algo que outrora certamente seria considerado no mínimo uma falta de profissionalismo, eis que decidiram também mudar o gênero de sua personagem Vanya Hargreeves para Viktor Hargreeves.

Afinal, o atual consenso politicamente correto decidiu que condições alternativas de sexualidade ou identidade de gênero devem não apenas ser retratadas por intérpretes que realmente possuam tal condição, haja visto a constrangida retratação formal de Eddy Redmaine por ter intepretado uma transmulher em A Garota Dinamarquesa (2015). Mas também, que intérpretes com tais condições TAMBÉM SÓ PODEM retratar personagens nas mesmas condições. O que praticamente revoga a própria noção de atuação.

Foi essa justificativa usada pelos produtores da Netflix para a alteração no personagem, afinal, seria uma violência transfóbica contra o transator "forçá-lo" a respeitar o seu contrato e continuar interpretando uma personagem feminina.

Por sorte Vanya Hargreeves havia passado, na temporada anterior, por um arco dramático que a transicionou de uma aparente heterossexualidade, vista na primeira temporada, para a homossexualidade, em um romance lésbico. E como por mais que seja coreto esclarecer a diferença e independência entre sexualidade e identidade de gênero, elas acabam sendo confundidas mesmo, é de se refletir o quanto de seu papel ficcional influenciou na sua decisão pessoal.

Então, menos mal, os produtores aproveitaram para fazer a transição do personagem na terceira temporada, o que numa série de Fantasia travestida de Ficção Científica onde praticamente tudo é possível, bem poderia ter envolvido alguma justificação sobrenatural, talvez um efeito das viagens no tempo, alterações na realidade, ou mesmo derivando dos super poderes da personagem. Mas preferiram a abordagem mais simples: introduzir a realidade direto na ficção.

O problema, é já estamos no 3°, é que o tema não foi realmente tratado na série, pois todos os personagens, incluindo os vilões e aqueles mais babacas, aceitaram a transição de gênero sem nenhum questionamento, e sequer sem um único erro! Todos reagiram como "Ah, você agora é um homem e quer ser chamado Viktor? Beleza! Onde é que eu estava mesmo? Ah é! Eu ia te trucidar!"

Gracejos à parte, o fato é que a personagem pareceu não ver problema algum em, no meio de uma tensa negociação entre duas equipes de super-heróis querendo se matar, ter combinado com o n°1 da Sparrow Academy, Marcus, de fazer um acordo prevenindo uma guerra, e ir no dia seguinte com novo visual, novo nome e novo gênero, como se não houvesse uma tensão explosiva onde todos estavam desconfiados de tudo, e pra ser sincero, ainda o estavam de menos.

Invés de aproveitar para ilustrar os problemas da transição de gênero, que seguramente não são poucos, preferiram a opção politicamente correta onde nem mesmo os politicamente incorretos se atrevem a sequer manifestar estranheza. E o pior, mesmo a conhecendo por 30 anos como Vanya, de um dia para o outro a mudança ocorre é NINGUÉM sequer se confunde. Não há um único "Ei Vanya... ops, desculpe Viktor." Ou seja, introduziram não a realidade na ficção, mas a versão ideologizada onde ser "transfóbico" é não só um crime tão monstruoso que nem os vilões se atrevem a cometê-lo, como sequer é algo problemático ou sujeito a erros.

E isso para uma série que tratou bem temas como racismo, xenofobia ou homofobia, retratando na ficção o que se costuma, ou costumava ver, na realidade.

Mas o pior ainda está por vir.

Uma crítica que, se alguém quiser fazer a The Umbrella Academy, eu faço coro, é de que há uma certa misoginia na série, pois de todas as mulheres relevantes ao menos ao longo das três primeiras temporadas, a única virtuosa é a Sloane (n°5 da Sparrow Academy). Enquanto nos homens, há todo tido de herói: o certinho e adorável Luther (n°1), o vigilante agressivo mas ainda assim heroico Diego (n°2), o porra-louca mas totalmente amável e engraçadíssimo Klaus (n°4), incapaz de fazer qualquer mal a alguém, o violentíssimo mas ainda assim heroico N°5 (sem nome), capaz de massacrar dezenas de inimigos, mas sempre consciente disso e por causas que vão desde proteger a família até impedir o fim do mundo, sem contar outros personagens inesquecíveis...

Bem, por outro lado, as mulheres são quase todas umas pragas! Alisson (n°3), apesar de ser uma mãe carinhosa, e amar sua família, usa seus poderes de forma egoísta para conquistar fama e dinheiro, e ao longo da série vai decaindo e ficando cada vez mais violenta, instável e beirando a psicopatia. Cha-Cha, a agente da Comissão de "Vigilantes Temporais, companheria de Hazel, diferente dele que decide abandonar a vida de assassinatos e encontra uma redenção num simpático romance com uma mulher mais velha, decide ficar enciumada e tenta matar seu colega e a nova paixão dele.

A Gestora da Comissão... nem se fala! É uma víbora assassina e manipuladora da pior espécie, e Lila, sua afilhada, outra das "crianças" que nasceram miraculosamente com super poderes, é uma espiã que engana e tenta matar os Hargreeves, e depois que descobre que foi usada por sua "mãe", que inclusive tentou matá-la, parte para uma vida errática onde tenta manipular Diego fazendo cuidar de um suposto filho que não é dele. E depois de finalmente se casarem, fato que se consuma somente na quarta temporada, praticamente vira uma mãe arrependida que acaba traindo o marido e no fundo é obrigada a admitir que não o ama realmente, numa trama que deixa qualquer espectador revoltado.

A situação só melhora com a chegada da Sparrow Academy graças a Sloane, e a n°2, Fei, talvez fosse mais interessante se tivesse mais desenvolvimento, pois o que vimos não é algo de se admirar. Mas é impossível simpatizar com a Jayme (n°6)! Mas Sloane, para a frustração de milhões de fãs, desaparece no última episódio da Temporada 3, e Jennifer, Temporada 4, que parecia uma personagem com muito potencial, nem teve tempo de cativar o público.

Com isso, a redenção feminina ficava mesmo ao cargo de Vanya (n°7), que após matar seu suposto namorado, que na verdade era uma manipulador que pretendia voltá-la contra seus irmãos, e de fato o consegue, fazendo-a quase matar Alisson, mata Pogo (o adorável chimpanzé inteligente) e por fim destrói o mundo matando a humanidade inteira. Mas na segunda temporada, ela iniciou seu processo de re humanização, até porque o que seu "pai" Reginald Hargreeves, fez com ela, ao suprimir seus poderes, mentir que ela não os tinha e ainda a tratar mal, até torna compreensível a fúria e descontrole que viria a promover o primeiro Apocalipse.

Mas após "quase" repetir a dose de forma menos voluntária ao final da Segunda Temporada, Vanya assume um caminho, finalmente, heroico e grandioso, só que, aí... Vira homem! É quase uma pregação misógina! Você só presta se for masculino!

Mas agora, saindo do mundo ficcional e voltando ao mundo real, vejamos a consequência mais nefasta de dar ao tema da transição de gênero uma sacralidade tabu. Além de terem alterado o nome Ellen Page para Elliot Page mesmo nos créditos das temporadas anteriores, a totalidade, eu disse, A Totalidade! Quero dizer: A TOTALIDADE dos portais, canais e sites de cultura pop não apenas abraçaram entusiasticamente o novo gênero do "ator/personagem", como reescreveram os conteúdos passados literalmente criando uma "realidade alternativa", parodiando as viagens no tempo da série.

Agora, você vê que na primeira temporada, Leonard Peabody namorou não uma mulher, Vanya, mas um homem! Vê que Sissy não teve um romance lésbico como se viu na segunda temporada, pois seu amante era Viktor, um homem, o que destrói até a sentido do arco do romance. E se antes já havia uma lamentação de que a Umbrella Academy era desequilibrada em termos de gênero, com 5 homens e duas mulheres, ainda mais comparada a igualitária Sparrow Academy (considerando que o n°7, Christopher, é um cubo luminoso flutuante!). Ben, agora, piorou, pois os mesmos artigos que o diziam agora falsificam o passado dizendo que a Umbrella tinha 6 homens e uma única mulher!

Entenda: não é questão de aceitar a mudança e tratá-la de acordo, mas é preciso falsificar o passado! E isso na realidade também, pois muitos artigos já se referem a todo o pretérito artístico de Ellen Page no masculino, tornando alguns até mesmo hilários e gerando uma confusão que pode fazer algumas abordagens até mesmo incompreensíveis. Do tipo: Perái? Em Juno estamos falando da gravidez de uma transmulher!?

E que ninguém pense que estamos restritos a essa seara, pois se você, homem hétero, tiver tido uma namorada, mulher, que um dia no futuro decidir mudar de gênero, irão dizer que você é homossexual!

Há muito digo que o Feminismo e seus derivados: racialismo e movimento LGTVZYZVHSDVDBlu-Ray, jamais tiveram intenção de realmente ajudar quem quer que seja, mas sim, além da tradicional anti-reprodução e desarticulação da Esquerda tradicional, desenvolver uma forma de manipulação capaz de forçar as pessoas a negarem frontalmente a realidade, mesmo a material mais óbvia.

O que vimos nesse caso é apenas mais uma evidência disso, e se foi o primeiro caso na história (transição de ator causando transição do personagem misturando realidade e ficção nos dois sentidos) pode apostar que não será o último.

E por fim, qual é afinal o elefante no meio da sala, que todos se recusam a admitir que está lá? O fato de que todo mundo está agindo como se não houvesse sequer uma confusão aí, como se não fosse um problema reescrever o passado e distorcer por completo narrativas, bem como ninguém ter coragem de sequer citar que há, quem sabe, talvez, algumas coisinhas que poderiam ser melhor abordadas.

Não, é um novo Tabu! Não se pode falar sobre isso sem ser acusado de transfóbico, e minha simples iniciativa em fazê-lo já deveria ser, para a horda que abraçou a sandice, motivo de prisão sumária.

Reescreve-se o passado ao pior estilo orwelliano, criminaliza-se não apenas as críticas, mas qualquer hesitação em abraçar entusiasticamente a nova realidade, só restando aos que ainda resistem à loucura se reunir em restritos grupos que insistem que há, ou havia, uma realidade prévia diferente. Tal qual "Os Guardiões" da última temporada, denunciando o Umbrella Effect que teria criado realidades alternativas, e profetizando a "Purificação" que um dia viria a restaurar o universo para sua realidade original.

E apesar de tudo isso, The Umbrella Academy ainda é uma de minhas séries favoritas.

YT 16 de Agosto FB

No post anterior limitei-me a uma visão geral da série de 4 temporadas The Umbrella Academy, elogiando sua dimensão estética, ignorando suas inconsistências conceituais, e já adiantando alguns problemas de infiltrações ideológicas na narrativa. Reafirmo que na primeira temporada é praticamente nula a pregação de valores feministas, o fato concreto que se esconde por trás do termo "lacração" (versão brasileira de "woke"). Embora até possa soar diferente para aqueles que pouco entendem a essência desses valores, tendo dificuldades em percebê-los onde realmente ocorrem, mas querendo vê-lo onde sequer estão.

Posteriormente entrarei naquele que é o mais crucial dos temas, a transição de gênero de um atriz/ator que gerou consequências bizarras na estória, e muitíssimo mais na comunidades de fãs e comentaristas da série, e por sinal é um fato inédito! Também devo acrescentar que estou perfeitamente ciente que a série derive de uma História em Quadrinhos. Li o primeiro volume integralmente e partes dos volumes posteriores, e afirmo sem ressalvas que a versão televisiva supera o material original em absolutamente TODOS os aspectos comparáveis.

Mas por agora, comento alguns outros aspectos tanto narrativos quanto ideológicos a começar pela SEGUNDA TEMPORADA...

...repletos de SPOILERS ! ! !

Respeito a opinião de que ela até supere a primeira, mas aponto os elementos negativos de começar envolvendo um tema já muito revisitado, inclusive na Ficção Científica, do assassinato de JFK, bem como o deslocamento da ambientação de uma cidade desconhecida para Dallas, nos anos 60, após a desastrada viagem no tempo dos irmãos Hargreeves que os separa em anos diferentes. O ponto é que na Temporada 1 a série se sustentou unicamente em sua própria conceituação, sem necessitar de qualquer suporte externo derivado do mundo real. Na segunda, essa auto suficiência é perdida com a entrada de vários temas sociais e elementos históricos como o contexto da Guerra Fria, a ameaça de holocausto nuclear, a luta pelos direitos civis da comunidade negra, a pauta crítica à família tradicional e etc. E tudo isso, ainda repetindo a fórmula geral de lutar para impedir o apocalipse.

No entanto, é inegável que os temas são tratados com muita elegância, e apesar de preterir, não lamento a escolha da mudança de enfoque narrativo. Mas antes era difícil problematizar o conceito de família, a começar pelos Hargraves serem uma "família" artificial com direito a pai alienígena, mãe robô, sete filhos adotivos que nasceram milagrosamente e até um chimpanzé inteligente como mordomo. Ademais, temos Alisson (n°3) como uma mãe dedicada lidando com graves problemas de divórcio e da guarda da filha enquanto lida com sua tumultuada carreira de atriz e celebridade. Já na segunda temporada, há uma crítica à "família tradicional" no arco de Vanya (n°7), que tem um romance lésbico com a dona de casa Sissy Cooper, casada com Carl Cooper e mãe de Harlan Cooper, um menino autista que devido a Vânia, desenvolve devastadores superpoderes. (Lembrando que isso se dá em 1963.)

O ponto é que ainda que não tão explícito, Carl é vilanizado basicamente por ser um homem branco hétero tradicional, embora essencialmente nada faça de errado exceto uma ocasional embriaguez ou o simples fato de não gostar do romance extraconjugal de sua esposa. Apesar de um tanto rude, ele é um pai de família dedicado, que acolhe Vanya em sua casa após ela ser atropelada por sua esposa, e perder a memória. Mas a situação evoluiu para uma tragédia que mesmo terminando com a morte acidental de Carl, a leitura final é de que Sissy vivia num relacionamento abusivo apesar de seu marido jamais tê-la agredido fisicamente, e mesmo verbalmente havia apenas rusgas ocasionais, só pioradas quando o contexto da série o leva, e a muitos outros, a crer que Vanya, que por sinal é russa, fosse uma espiã comunista.

Mas Carl, ao finalmente descobrir o romance lésbico de sua esposa, nada mais que chama Vanya para uma conversa séria e lhe oferece dinheiro para que vá embora! Esse é o "vilão" patriarcal da estória! Ainda que seja retratado apenas como ignorante, e não exatamente como mau.

Por outro lado, o tema da luta da comunidade negra por direitos civis básicos numa cidade brutalmente racista é muito bem tratado, envolvendo Allyson, que é negra e termina se casando com um ativista racial. Bem como os arcos dos demais personagens: a passagem de Diego (n°2) por um sanatório onde conhece Lila, outra das 43 crianças superpoderosas (com habilidade de copiar os poderes alheios) que por um momento será inimiga do grupo e depois será sua esposa, e que acaba o levando para trabalhar na Comissão que protege a linha do tempo; a seita mística hippie criada por Klaus (n°4) fazendo uso de seus poderes e do auxilio do fantasma de Ben (n°6), bem como sua tentativa de salvar Dave, o soldado que conhecera e se envolvera em sua viagem no tempo para a guerra do Vietnam; a carreira de pugilista de Luther (n°1), que trabalha para ninguém menos que Jack Ruby o personalidade real que matou Lee Osvald, o assassino de John Kennedy. E por fim todo o esforço de Cinco (n°5) para, como sempre, impedir um novo apocalipse tentando reunir seus irmãos. Até mesmo o arco de Vanya tem muitos bons momentos, lembrando que envolve a "criação" de uma outra criança super poderosa, Harlan, que voltará na terceira temporada, já adulto, apenas para ter um mal desenvolvimento e uma finalização de arco grotesca.

Enfim, a segunda temporada termina sendo excelente, só me impedindo de considerá-la melhor primeiro pela redução da originalidade temática, segundo pela introdução de uma "crítica" feminista que, ao final, terminará arruinada pela transição de gênero do ator que forcará o público a ver Viktor no lugar de Vanya, destruindo até mesmo a dimensão lésbica do romance. Bem como pela insistência do roteiro em tratar a mistura de corpo de 13 anos com mente de 58 do personagem Cinco, como se fosse algo que precisasse ser "corrigido" oferecendo uma "solução" que só piora a situação, ainda que tenha resultado em ótimas sequências.

Por sinal, é lamentável que Cinco, interpretado por Aidan Gallagher em sua versão jovem e predominante, tenha sido interpretado em sua versão mais velha por Sean Sullivan, atores que em pouco ou nada se parecem. Quando porém poderia tê-lo sido feito por Noah Taylor**, que é tão parecido com Gallangher que poderia se passar por seu pai. Noah Taylor que por sinal trabalhou no filme Predestination (2014), sobre o mesmo tema de viagens no tempo reguladas por uma agência similar à Comissão.


Alguém conseguiria discordar que um parece filho do outro?

Ainda mais quando se confere fotos de Noah Taylor mais jovem.

Passando para a TERCEIRA TEMPORADA, é pouco ou nada discutível que seja inferior às anteriores, apesar de ótimo início e de muitos elementos marcantes. Continuando o cliffhanger do final da temporada anterior, conhecemos num universo alternativo a Sparrow Academy, contando com: Marcus (n°1) que basicamente possui a mesma super força e super resistência de seu equivalente Luther; o n°2 é o próprio Ben que era o n°6 na linha do tempo original; a n°3 é Fei, que apesar de cega, pode ver através de corvos mágicos que ela produz instantânea e massivamente por meio do próprio corpo, além de possuir notáveis habilidades de combate; o bizarro Alphonso (n°4), cujo rosto é terrivelmente deformado, mas possui extrema resistência e a capacidade de devolver magicamente ao agressor o dano de ataques sofridos; a bela Sloane (n°5) que manipula gravidade, sendo a única que pode voar e acaba tendo um romance com Luther e, desgraçadamente, desaparece na quarta temporada; a antipática Jayme (n°6) que cospe um veneno que causa alucinações; e por fim, o completamente incompreensível Christopher (n°7), extremamente poderoso, mas que é, nada menos que... um cubo de energia flutuante! (Não há qualquer explicação para isso!)

Mas apesar de todo o contexto montado, a temporada comete o erro de explora a Sparrow Academy menos do que qualquer um esperava, o n°1, Marcus, sai de cena já no primeiro episódio, e todas as disputas posteriores resultam de maus entendidos e, ao pior estilo LOST, do fato dos personagens não falarem uns com os outros sobre coisas totalmente relevantes. A retorno de Harlan Cooper, agora já idoso e com poderes extremos ao ponto de matar sem dificuldade dois membros da Sparrow Academy num único ataque, começa com uma ótima introdução, desenvolve-se em ótimos flashbacks, e tinha tudo para ser o ápice não só da temporada, mas da série. Mas os autores decidiram jogar tudo fora com o ridículo clichê de "sou um ser super poderoso, mas quero perder meus poderes!"

A desculpa de que ele não os controlava é sistematicamente desmentida o tempo todo. De fato, houve momentos em que ele causou tragédias, mas todas foram em situações muito específicas de intenso e perfeitamente compreensível rompante emocional. Mas durante todo o "tempo presente" da série é evidente que ele os controle melhor que a própria Vanya, que na realidade é, acidentalmente, a causa desses poderes. Lembrando que aqui, Vanya já virou Viktor, tema que abordarei no próximo post. O problema real é que Harlan já possuía um grau severo de autismo, que era a real razão de seus problemas tanto antes quanto após conquistar seus poderes. E especialmente durante o procedimento onde, com ajuda de Vanya/Viktor ele se livra dos poderes, fica gritante que ele os controle e os compreende muitíssimo melhor do que ela. É completamente irracional a pretensão de se desempoderar, justamente no momento em que a Sparrow Academy está atrás dele pretendendo matá-lo! Poderes sem os quais, provavelmente, a Sparrow Academy teria massacrado a Umbrella!

Para piorar é aqui que a personagem Alisson completa sua degeneração, que já vinha da Temporada 1, de modo assustador e termina por matar Harlan, agora sem poderes, porque no passado a conexão dele com as versão alternativas das mães dos Hargreeves levou as mortes delas no momento em que sofreram a gravidez miraculosa. Mães que os irmãos da Umbrella Academy jamais conheceram nem mesmo na linha do tempo original! Alisson, a n°3, se torna absurdamente odiável em todos os sentidos, fato que é apontado abertamente, mas relevado de modo muito superficial durante o restante da série.

Apesar de tudo, nem arranhei o contexto mais amplo de nenhuma das temporadas, que ainda são repletas de diversão. E encerro aqui por enquanto, pois no próximo post vamos falar no Elefante Cor-de-Rosa, branco e azul, flutuando na meio da sala, que a totalidade da nerdosfera finge que não está lá.

YT 13 de Agosto FB

Após 4 temporadas, encerra-se, na Netflix, uma de minhas séries favoritas, o que não me impede de apontar uma "qualidade" regressiva, com temporadas progressivamente "menos boas" ainda que, mesmo assim, a última continue mantendo um nível razoavelmente satisfatório.

Nada há que se levar a sério, exceto o tema que abordo noutro post e que transcende a estória. Trata-se de uma "aventura / comédia / romance / ação" pretensamente Ficção Científica, com direito a super poderes, viagens no tempo, chimpanzés inteligentes, mulheres robô e fim do mundo, tão desprovida de consistência quanto provida de beleza, e sobretudo repleta de diversão. Quase nada faz sentido "lógico", quase tudo faz "sentido" estético.

Hipnotizante desde o princípio, começa narrando o fato de que em 1° de Outubro de 1989, 43 mulheres, ao redor de todo o mundo, engravidaram súbita e miraculosamente, e gestaram e deram a luz em menos de uma hora. E logo depois, um excêntrico bilionário chamado Reginald Hargreeves (brilhantemente performando por Colm Feore) adotou 7 delas, prevendo seus super poderes e criando a Umbrella Academy.

Para que se tenha uma noção do non-sense, não espere sentido em nada disso. A justificativa sobrenatural para a origem das crianças especiais em nada justifica a gravidez miraculosa, e no total, só conhecemos 14 desses super humanos, talvez 15, e não há sequer a mais vaga referência aos demais mesmo que o final da série deixe claro que todos deveriam ter sido envolvidos na "solução final" que encerraria o 4° Apocalipse, pois há um fim do mundo ao final de cada temporada.

Mas não há como resistir à narrativa envolvente, a trilha sonora impecável que por si só consegue quase "criar" o clima imersivo, o carisma de todos os personagens perfeitamente interpretados por atores adequadíssimos aos seus papéis, e sobretudo às contendas entre os irmãos adotivos, repletos de problemas emocionais derivados tanto de seus poderes, mas sobretudo, da figura paterna exercida, In Memorian, pelo pai adotivo que é perfeito do ponto de vista racional, de autoridade e competência técnica, e absolutamente horrível do ponto de vista pessoal, deixando traumas tão severos em seus pupilos que alguns o insultam pós-morte durante seu funeral, que aliás, ocorre logo no 1° episódio.

! ! ! Spoilers ! ! !

Esse é o tema inicial: a reunião dos seis irmãos (um havia falecido), que há anos levavam vidas separadas. O n°1, Luther, é um grandalhão super forte e super resistente com coração de ouro e único fiel ao pai durante toda a vida; na total contra mão do n°2, Diego, que o odeia, inclusive pelo modo como ele tratava a "mãe-robô" (isso mesmo), e que após a dissolução do grupo se tornou um vigilante fazendo uso de suas habilidades em artes marciais e seu poder sobrenatural de controlar a trajetória de qualquer objeto em pleno ar, o que serve tanto para arremessar lâminas com maestria impossível, quanto para desviar balas que sejam disparadas em sua direção, o que só descobrimos na segunda temporada. A n°3, Alisson, possui a capacidade de sugestionar de forma irresistível o comportamento alheio, dom que usa inclusive para crescer em sua carreira de atriz.

O n°4, Klaus, inicialmente é basicamente um médium que detesta seu poder, ao estilo O Sexto Sentido, de ver e falar com fantasmas, e por isso mesmo se droga e se embriaga para neutralizar o constante assédio que os mortos tentam lhe fazer. Ele desenvolve outros poderes mais aprazíveis nas temporadas posteriores. O n°5, definitivamente o personagem central no sentido de que, sem ele, nada aconteceria, não tem nome (por sinal, o "pai" deles nunca os chamava pelos nomes), é um teleporter e viajante do tempo que, ainda na infância, se perde no futuro vivendo décadas sozinho num mundo pós-apocalíptico, sendo depois recrutado pela Comissão, uma agência de guardiões do tempo, até abandonar o serviço após ter que matar Kennedy e decidir voltar a seu tempo original para evitar o fim do mundo, que acontecerá 8 dias depois do início da estória. (Embora no início da estória todos tenham 30 anos, Cinco tem um corpo de 13 com uma mente de mais de 58!)

O n°6, Ben, está morto, embora participe da série sendo regularmente visto por Klaus, e tinha o poder bizarro de gerar tentáculos monstruosos num estilo Dr. Octopus com a vantagem de poder fazê-los sumir por completo a hora que quiser, apesar da desvantagem de serem orgânicos e portanto mais frágeis e repulsivos. Ele "volta à vida" em temporadas posteriores. E a n°7, Vanya (interpretada pela "ex-mulher" Ellen Page, hoje Elliot Page), é inicialmente apresentada como não possuindo super poderes, o que para qualquer um com um mínimo de experiência, é entendido como evidente código para: ela é na verdade a mais poderosa de todos. A sequência final da primeira temporada onde ela, vestida de branco e tocando um violino, termina derrubando a Lua da órbita e causando o fim do mundo, é uma das coisas mais espetacularmente lindas que já vi na TV! Ocasião onde já estamos tão acostumados à surrealidade da série que a astrofísica completamente delirante da situação já nem incomoda mais.

Mas vários outros personagens coadjuvantes são inesquecíveis. A começar por Hazel, o assassino profissional, da mesma Comissão de Cinco, que viaja pelo tempo com sua colega Cha-Cha, e passa boa parte do tempo reclamando das cada vez piores condições de trabalho e salário. E termina por se apaixonar por uma mulher mais velha com a qual decide fugir e deixar tudo para trás. Ou a inesquecível Sloane (a n°5 da equipe de uma realidade paralela, que controla gravidade) da terceira temporada, que entristeceu a fan-base por não voltar na temporada final, com direito a lamentações públicas dos próprios produtores que não conseguirem integrá-la no restante da estória.

Mas nem falarei mais sobre ambientação e a estória em si, pois meu interesse maior, além do deslumbre estético, é, como quase sempre, nas interferências ideológicas que quase todo bom produto de cultura pop sofre: a má e velha "lacração" entendida aqui como pregação de valores feministas.

Na primeira temporada, tende a Zero! Discordo de qualquer um que veja no praticamente monstruoso comportamento de Reginald como pai adotivo uma espécie de libelo anti-patriarcal. Primeiro porque isso é apresentado num modelo de "tragédia" cujos elementos são praticamente clássicos, remetendo a elementos que vão desde o helenismo até Star Wars, passando por Frankestein. Ademais, Reginald sequer é humano, sendo na verdade um alienígena com planos obscuros que só são compreendidos ao final da série, é que é na realidade incapaz de sentir a maioria das emoções humanas.

Muitíssimo menos eu lamentaria a homossexualidade de Klaus, sendo na verdade justamente um exemplo onde aquilo que poderia ser entendido como uma "cota gay" faz perfeito sentido para o personagem, levando a uma situação dramática que o engrandece de um modo que não seria possível a um personagem hétero, no caso, seu romance com outro soldado na sequência na qual, viajando acidentalmente no tempo, ele acaba como combatente no Vietnam, o que tem consequências formidáveis para restante da série.

Mas as demais temporadas, coincidentemente ou não, introduzem "lições ideológicas" cada vez mais intensas na medida que a qualidade geral da série piora. Ainda que seja defensável dizer que a segunda temporada até supere a primeira como alguns afirmam, justamente enquanto a introdução da temática feminista é feita, embora de modo ainda incipiente e que poderia ser incidental.

Dificilmente, porém, alguém discorda que a terceira temporada decaia juntamente com o acréscimo a uma pauta de Feminismo de Segunda Onda, de uma pauta de Terceira Onda, e é consenso que a quarta e última temporada seja a pior, onde a pregação anti-família atinge seu ápice. Sendo inclusive a menor temporada, com apenas 6 episódios em contraste com as três anteriores, cada uma com 10.

Mas a temática mais grave deixarei para desenvolver num próximo post, onde examino a "transição de gênero" da atriz/ator Ellen/Elliot Page, que de modo bizarro e anti-profissional saiu do "real" para o universo fictício da série, forçando também uma transição de seu personagens de Vanya para Viktor com consequências lamentáveis dentro da estória, e ainda mais, fora dela, num verdadeiro frenesi que não satisfeito em forçar uma mudança perceptual no presente, literalmente reescreve e falsifica o passado.

A série é tão boa que consegue resistir a isso, mas é um tema que, devido ao silêncio quase absoluto da "nerdosfera" que se recusa a comentar o elefante no meio da sala, alguém tem que enfrentar.

Resposta a um comentário no Facebook: se viu ao menos a primeira temporada, deve ter percebido que, a princípio, a homossexualidade de Klaus (embora possa ser apenas efeminação ou homoafetividade) está associada ao quadro depressivo e auto destrutivo do personagem, incluindo o vício em entorpecentes.

Até me surpreende que a "cota gay" ser exercida pelo mais disfuncional de todos os persongens, muitíssimo comum na realidade, não tenha gerado mais protestos.

Sendo esse comportamento real, sentido não faz achar que ele não possa ser representado numa obra ficcional. O que é criticável é que seja sobre representado.

Mas o desenvolvimento dado posteriormente no arco do Vietnam é o que torna o tema realmente relevante, uma vez que a aproximação entre homens em contextos de guerra assume modos pouco usuais em contextos comuns. E embora raramente envolva homossexualidade, ao menos homoafetividade é frequente, devido principalmente a falta de oportunidades de relacionamento com mulheres.

Aliás, é até incerto que Klaus seja mesmo homossexual, podendo ter sido apenas um relacionamento homoafetivo. O mais interessante, porém, é que o tema será por fim desenvolvido não na contemporaneidade, mas nos anos 60, onde a rejeição era de fato, muito maior. E note que ele não é levado a maiores consequências, até porque o arco do personagem o leva a outros temas, perdendo relevância à medida que o personagem supera seus problemas.

Mas o ponto crucial é que se é criticável a apologia a homossexualidade e outras sexualidades alternativas na cultura pop, também o é achar que o tema tenha que ser banido, até por fazer parte da realidade.

A única crítica válida é com relação a "sondagem", quando o tema é jogado não por ter relevância para a trama, mas apenas para testar a reação do público e a possibilidade de ampliá-lo. Só que no caso ele teve relevância objetiva na trama sim, tanto que simplesmente desaparece posteriormente, após cumprir seu papel narrativo.

8 de Agosto

Em 18/05/18 publiquei um texto* sobre UM LUGAR SILENCIOSO, deixando claro ser um ótimo filme do ponto de vista do suspense, drama e simbolismo. Até mesmo uma dissonância na ainda dominante sinfonia anti-família e anti-vida de Hollywood. Mas não poupei críticas a aspectos conceituais de suas características de pretensa Ficção Científica, considerando uma horda de inconsistências que tornam a obra nada verossímil.

A lista de coisas que os personagens deveriam fazer, mas ou não o fazem ou demoram muito a fazê-las, era na verdade tão óbvia que o filme subsequente A QUIET PLACE II, nem teve como escapar delas na maior parte do tempo. E este acrescentou, como eu disse num dos comentários, um elemento que tornou ainda mais implausível a ideia de que a invasão dos monstros tivesse sido capaz de praticamente dizimar a espécie humana ao ponto de quase não haver transmissões de rádio. Literalmente, o elemento "água", considerando que os imbatíveis monstros não nadam e parecem até morrer afogados.

Apesar de tudo, os dois primeiros filmes, malgrados essas deficiências que podemos ignorar em favor da ótima carga dramática, constituíram uma franquia muito interessante, e que a mim também despertou vontade de explorar mais.

Temos agora UM LUGAR SILENCIOSO: DIA UM, que no título já parece repetitivo, visto que vimos em retrospecto, e muito bem, o Dia 1° da invasão no segundo filme. E de fato, essa terceira edição pouco entrega disso, uma vez que após os primeiros momentos do ataque inaugural, já corta para um momento que possivelmente seria o segundo dia.

O fato de ser ambientado em Nova York é, para mim, um demérito, visto que uma das coisas que mais tem me aborrecido no cinema norte americano é justamente a exaustiva recorrência desta cidade, e de Los Angeles, em inúmeras produções. Curiosamente, o filme praticamente nada explora das características da cidade em si, exceto o fato de ser uma ilha cuja derrubada das pontes a isola do resto da costa, coisa que já vimos em outras ocasiões, como a terceira versão de Eu Sou A Lenda (2007), para o qual, por sinal, tenho uma análise comparativa detalhada.

Ainda mais surpreendente é que pouco vemos da cidade, sendo a maior parte do público incapaz de reconhecê-la nos planos fechados das ruas destruídas. Bem como não ser, de fato, um cinema catástrofe, tendo poucas cenas ostensivas de destruição, mesmo tendo ninguém menos que Michael (Explosões) Bay na produção.

Mas o realmente decepcionante é, diferente do ótimo Bird Box Barcelona, não ter havido qualquer aprofundamento maior na natureza, origem e características das criaturas invasoras. Num certo momento, tem-se a impressão que será revelado enfim "como vivem, o que comem, como se reproduzem", mas logo em seguida tudo é deixado em aberto, numa sequência confusa que acrescenta alguns elementos "alien" que por fim nada esclarecem.

O que segura o filme, justificando-o e tornando-o bom, é o carisma dos personagens, não somente os dois principais, mas também os coadjuvantes, ainda que seja estranho que o personagem do ator Djimon Hounsou tenha sido tão mal aproveitado. A personagem de Lupita Nyong'o inova ao acrescentar um câncer terminal que, no contexto específico, acaba sendo uma vantagem, visto que ela nada tem a perder e realmente consegue nos empolgar com o único objetivo de comer uma pizza antes de morrer. E o personagem de Joseph Quinn acrescenta um elemento inesperado resultado numa dinâmica de opostos que termina movendo satisfatoriamente a trama.

Infelizmente, o filme perdeu uma oportunidade dourada de fazer algo inédito, deslumbrante e revolucionário. Passou perto de fazê-lo, aliás, o fez muito tímida e brevemente, quando poderia tê-lo feito de forma muito mais aberta e ostensiva. O filme poderia ter nos presenteado com O PONTO DE VISTA DE UM GATO!

Sim, o gracioso felino de nome "Frodo" é praticamente uma das estrelas do filme, e num certo momento, temos uma breve sequência dele andando sozinha pelas ruas da Nova York destruída, observando o ambiente, e naturalmente sendo capaz de evitar as criaturas melhor do que qualquer um. De fato, por um breve momento, tivemos isso, quanto o filme faz a ligacão entre a primeira e o segundo protagonista.

Só que deveria tê-lo feito mais. Muito mais! Eu estenderia aquela sequência, no mínimo, mais uns cinco minutos, onde o silencioso e sutil animal veria coisas que os humanos jamais seria capazes, testemunhando as criaturas e até nos dando percepções privilegiadas que poderiam nos levar a uma compreensão melhor dos invasores, que no entanto permaneceriam misteriosos para os humanos. Num filme marcado pelo silêncio, o mutismo do animal é uma vantagem, e com recursos de filmagem que outrora seriam complicadíssimos, o fato de ter sido usado animais reais invés Computação Gráfica não seria um problema. Ou na pior das hipóteses, que se acrescentasse CGI em alguns momentos.

Isso teria sido genial, sublime e arrebatador. Infelizmente, o diretor Michael Sarnoski nos seu somente umas migalhas daquilo que deveria ter sido um inovador banquete estético. Isso ajudaria a minimizar as insistentes perguntas sobre o que justifica um filme que apesar de explorar pela terceira vez um bom tema, em nada o expande, muito menos o aprofunda, também não desenvolvendo mais os personagens e situações apresentados nos filmes anteriores.

UM LUGAR SILENCIOSO: DIA UM, termina deixando muito a desejar para os que gostaram das edições anteriores, embora possa ser excelente para quem mergulha pela primeira vez nesse cenário apocalíptico. Só espero que na próxima oportunidade tenhamos algum desenvolvimento maior dos temas principais, se possível, até com alguns acréscimos conceituais que tornem a ambientação mais consistente.

1° de Agosto

"TOLERÂNCIA 0" com capacho
do Imperialismo Globalista!


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