Pode até ter sido a "maior batalha da mídia audiovisual de todos os tempos", mas considerando as limitações da visão humana, não deu pra ver muita coisa naquela escuridão toda. Talvez seja por isso que o Ghost sumiu de cena, podendo apreciá-la em toda a sua magnitude e assim...
Chega! Falando sério, eu entendo o apelo de uma sequência tão escura, mas foi muita cara de pau querer antecipá-la com algo longe de ser o que de fato era. Não chegou nem perto do episódio S5E8, quando os Whitewalkers atacam em peso a vila de Hardhome, e nem mesmo o S6E9, conhecida como a "Batalha dos Bastardos" pela posse de Winterfell. Não fosse as cenas dos dragões, teria perdido até para S4E9, quando os selvagens tentam tomar a Muralha. Se estendermos para o cinema então, deveria ser vergonhoso dizer isso depois de Aquaman ou Vingadores Ultimato.
Tudo bem que certa vez eu explanei sobre a "fórmula" de Game of Thrones para parecer "imprevisível" quando na verdade passa longe disso. (
Fantasia e Tragédia em Game of Thrones,
Mais sobre Game of Thrones e
Realidade e Ficção em Game of Thrones) Inclusive afirmei que chegando a série mais próxima do final, essa "imprevisibilidade" da morte de personagens que costumava ameaçar até mesmo os queridos do público, iria diminuir. Mas juro que nem eu esperava isso, considerando o índice de sobrevivência espantoso de personagens que escaparam miraculosamente, chegando a soar até mesmo como uma daquelas séries mais infanto juvenis que jamais matariam seus personagens principais. Isso meio que quebrou definitivamente a mítica de "realismo", visto que o único personagem relevante que morreu realmente o fez num ato heróico de alto impacto e até mesmo reiteradamente anunciado ao longo da série. E o outro... Bem, já ressuscitou uma penca de vezes.
Muitos personagens ali mais do que cumpriram seu papel. Chega a parecer uma enrolação deixá-los vivos após colocá-los em situações praticamente impossíveis de escapar.
Mas de tudo, o que achei mais questionável foi o velho clichê, que deveria ter um nome, onde uma situação completamente inescapável de repente se resolve num literal passe de mágica, onde matando o líder, toda a ameaça desaparece. É o velho mito da origem de todo o Mal. No qual "destruir o Um Anel" leva todo o infindável e invencível exército de Sauron desabar. O "único tiro" que põe abaixo a Estrela da Morte. A morte do Alfa que faz todo o exército semi humano debandar (O 13° Guerreiro) e etc. Ou, já numa visão mais crítica, a crença da Mulher Maravilha de que matando Ares, todo ímpeto humano para a guerra sumiria.
Dá até pra entender a ligação do White King com os mortos que reanimara, clichê, pois eles bem poderiam continuar ativos após sua morte, mas compreensível. Porém, e os demais White Walkers? Não deveriam ter algum grau de independência? Ficaram o tempo todo só olhando?
Tudo estava tão extremamente dependente do White King que é incrivelmente temerário que ele se expusesse daquela forma. Se de uma só vida dependesse a totalidade de um fabuloso exército, então porque arriscar essa vida em campo? Ainda mais considerando o fato de que claramente o exército pode ser controlado a distância? Eles viram Arya se aproximando do White King, e ficaram só olhando? Mesmo sabendo que a vida deles também acabaria?
Mas além disso, desde o começo, toda a estória sempre foi apresentada como um grande combate entre Fogo e Gelo, e esse confronto final deveria ser o último. Aliás, a própria situação pedia isso. De um ponto de vista estratégico, eles deveriam era ter abandonado Winterfell e marchado em peso contra King's Landing, tomado o controle de Westeros e enfim partir pra batalha final contra os Whitewalkers, ou melhor, contra o White King.
Agora perderam a maioria do exército, os dotraki sacrificados daquela forma foi lastimável, e correm o sério risco de salvar o mundo das mãos da Noite Eterna pra morrer pelas mãos de Cersei! Ou será, que afinal, a ameaça Whitewalker não acabou? Se não, qual a acrobacia para viabilizar isso? E o Bran, que raios fez o tempo todo?
Pra se sincero, eu sempre quis ver os Whitewalkers marchando contra King's Landing, levando consigo o inverno, se a série finalizar mesmo do modo que está parecendo, temo que Game of Thrones perdeu a oportunidade de fechar com chave de ouro uma das maiories séries de todos os tempos pra ficar com final meia boca.
DROGA! Fiz o upload de um vídeo há dias e só agora me dei conta de que tinha ido com o nível de privacidade "Somente Eu!"
É sobre o quanto nosso Brasil pirou de vez! E que já passei da fase da raiva do governo e já estou na fase da pena. Também comenta um pouco sobre Sionismo e Feminismo, o vacilo de Bolso em Israel e a falta do que fazer da Manuela D'Ávila, pra quem fazer vitimismo de gênero é mais importante que defender a previdência pública.
Desmascarar Sérgio Moro não faz sentido, pois ele já deitou a máscara há muito tempo, e os que insistem em ver nele algo mais que um canalha não são sensíveis a fatos ou razões.
Tinha um colega na graduação, segundo ano. Uma vez ele se meteu a criticar Walter Benjamin, o famoso texto sobre "a obra de arte na época da reprodutibilidade técnica". A "crítica" dele? Benjamin não teria notado que os gregos usavam o mesmo termo "tekhné" tanto para "técnica" quanto para "arte". Meu Deus. Fiquei pasmo encarando ele em silêncio. Não sabia o que dizer. O cara realmente achou que Walter Benjamin, que provavelmente falava grego antes de aprender a andar, não sabia deste detalhe que só ele, primeiranista que gaguejava no espanhol, havia notado. Assim é como eu vejo vocês, vocês mesmos. Vocês são ridiculamente estúpidos. Vocês se metem a "criticar" tradições religiosas como se tivessem recebido alguma luz que não iluminou nenhum dos centenas de milhões de fiéis, mas iluminou a vocês e a meia dúzia, que travaram conhecimento delas ontem. Milhares de filósofos muçulmanos não tiveram o insight que vocês tiveram. Não... Todos eles foram enganados. Vocês é que estão certos. Dezenas de gerações enganadas. Têm ideia da prepotência ridícula de vocês? Vocês não passam de um bando de Nandos Mouras. Até Olavo tem mais senso de ridículo do que vocês. Acham que estou falando de ateus, comunistas e materialistas? Não. Estou falando de vocês mesmos. É lamentável admitir que é mais fácil dialogar com um ateu ou satanista do que com um conservador, nacionalista, chatólico e zé-cruzadinha. Puta que pariu. Há toneladas de links aí para descobrir o Islã, o que ele é de fato, mas não, vocês preferem continuar gado (e morrerão como gado, então). Enquanto vocês ficam aí em discussõezinhas ridículas na internet sobre o Islã (um "Islã" que, como vocês concebem, só existe na cabeça de vocês), a população muçulmana no mundo está pouco se fodendo com vocês. Foi preciso poucos muçulmanos para formar grupos revolucionários ou (como os classificam) "terroristas". Mas vocês, rá! nem se juntando em um milhão vocês teriam coragem de pegar em armas. Enquanto vocês ficam publicando atestados de burrice na internet, mais uma geração de muçulmanos está sendo forjada na fé e nas armas, a quinta, décima ou sabe-se lá qual seguida que praticamente não conheceu paz, cujos pais e irmãos morreram na guerra (guerras, de dois séculos para cá, pelo menos, arquitetadas e impostas por potências ocidentais). É gente que, muitas vezes, como alguns grupos minoritários, tem sido perseguida não há vinte ou trinta anos, mas há séculos, e continua na sua fé! Enquanto vocês, kkkk, vocês tremem por qualquer merdinha e na frente de um Kalashnikov já soltariam um "Bismillah" como num passe de mágica. Como é fácil a "fé" de vocês, não? Como é fácil discutir na internet e impressionar outros otários. Acha que os verdadeiros agentes históricos estão dando alguma importância para seus devaneios? Ah, claro, vocês entendem da religião deles melhor que eles! Óbvio! Vocês são muito burros. Criei esse perfil só pra dizer isso. Vocês são burros demais. Ninguém sério leva vocês a sério.
Uma das aeronaves mais bem sucedidas de todos os tempos é o C-130, batizado de "Hércules", produzido pela empresa aeroespacial norte americana Lockheed. Em operação há mais de meio século e com milhares de unidades vendidas para o mundo inteiro, este avião cobre desde as funções de carga e transporte de pessoal, com amplo uso em missões de resgate, humanitárias ou de treinamento, até aplicações militares, podendo ser equipado com várias opções de armamentos.
Propulsionado por quatro turboélices, chega a parecer uma relíquia comparado ao predomínio dos jatos, mas seu desempenho é tão otimizado que forças aéreas de todo o mundo não encontraram opção melhor. Ao menos até agora.
Recentemente, outra aeronave tem despontado como séria candidata a substituir o tradicional C-130. Trata-se do KC-390, mais sofisticado, propulsionado à jato, e embora ainda em fase de testes, caso se torne uma opção mais viável, pode vir a ser outro sucesso icônico da história da aviação, destronando o lendário Hércules, cujo nome remete à ampla variedade de trabalhos exercidos.
O KC-390 é produzido pela Embraer, e há uma boa chance de que uma aeronave de fabricação brasileira assuma uma posição de destaque na aviação global, tanto em aplicações civis como militares, como aliás já tem acontecido em segmentos da aviação comercial. Se isso ocorresse, o Brasil sucederia os EUA como fabricante do mais versátil e bem sucedido avião do mundo.
Infelizmente, não mais ocorrerá. Mesmo que o KC-390 não seja abortado, vingue e se projete internacionalmente, dificilmente não carregará o nome Boeing ao lado de Embraer, tal qual o Hércules hoje carrega o nome Lockheed Martin, devido a fusão posterior à sua fabricação com a empresa Martin Marietta.
O mérito, antes 100% brasileiro, será cooptado pelo novo proprietário.
E isso é somente um dos inúmeros atentados e crimes perpetrados pela entrega desta empresa brasileira de tecnologia de ponta ao domínio estadunidense, que somente lacaios podem apoiar.
Começando a ver agora! Mas desde já sei muito bem quem ninguém "vence" debates deste nível.
Vou comentar à medida que for vendo.
Adiantando a primeira parte, 30 minutos de Peterson. (Já tinha começado a ver.)
Não vi motivo para ele começar o debate com uma análise do Manifesto Comunista. Soa por demais neófito, introdutório, quase uma confissão de ignorância, como se fosse esta a única obra sobre o assunto que conhecesse, quando porém fica óbvio que conhece muito mais. Os apontamentos que faz sobre os primeiros de 10 problemas que detecta, a saber, o Materialismo Histórico e a Luta de Classes, são excelentes e abrangem o todo da obra marxista. Ou seja, ele faz a crítica correta como se fosse contra um alvo muito pequeno quando na verdade atinge um alvo muitíssimo maior.
A saber, fala exatamente o que venho dizendo há décadas que o problema da "luta de classes" e das hierarquias não são de ordem sócio cultural, mas da infra estrutura biológica humana, que o marxismo subestima completamente e como a própria história demonstrou, visto que a mudança do sistema econômico, apesar de mudanças efetivas, muitas vantajosas, ainda assim esteve longe de solucionar os grandes problemas estruturais justo por não levar em conta o quão mais profunda é a origem de tais problemas.
Depois, mesmo confundindo "classes dominantes" históricas com capitalismo em si, a tendência meio que irresistível de estabelecer um maniqueismo entre as classes em oposição, que evidentemente só poderá resultar nas dramáticas perversões inevitáveis quando um grupo se arvora de toda a virtude e se coloca numa cruzada sagrada, ainda que em grande parte ele baseie sua percepção do assunto nos suspeitíssimos números e enfoques dos massacres ocorridos durante as revoluções socialistas.
Escorrega um pouco ao crer que o marxismo acreditaria no valor zero da contribuição dos proprietários do meio de produção, até porque isso é uma das primeiras coisas que Marx deixa claro no Manifesto, o papel revolucionário da Burguesia e o modo como alavancou os meios de produção, alavancagem necessária para a própria ideia de revolução socialista. Ou seja, não, o marxismo não crê que a totalidade do valor produzido é feito exclusivamente pelo proletariado e que a organização e capitaista não tenha sua capacidade de otimizá-la e uma virtude em si no sentido de aprimorar materialmente os meios de produção.
Crítica do lucro é claramente equivocada, parecendo confundí-lo com a mais valia. E quando à ditadura do proletariado se tornar hiper produtiva?! Há sim algum mais o menos nesse sentido, mas não do modo como ele coloca, em especial ao apontar noção de um trabalho criativo espontâneo que o ex proletário faria após o estágio final da revolução. Fiquei confuso nessa hora. E embora eu entenda a crítica, ele exagera muito na noção de acumulação, confundindo a acumulação de capital com a acumulação de produtos! E por fim, erra completamente na acusação de que sistemas não capitalistas produzam mais, ou mesmo tanta, desigualdade quanto sistemas capitalistas, embora, mais uma vez, eu entenda a crítica, apontando-a como falha na conceituação de desigualdade.
Termina então apontando o fabuloso crescimento da produção no período capitalista, incluindo a diminuição factual da pobreza absoluta, porém, o aponta, estranhamente, como uma falha da teoria marxista, como se esta não a tivesse visto, quando no entanto é bem claro que admite sim isso, e ainda prevê que irá crescer mais. Nesse ponto ele deixa de criticar Marx para criticar marxistas secundários que fizeram apropriações da teoria, e é aí que está o problema de ter focado no Manifesto do Partido Comunista.
Se tivesse feito uma crítica mais genérica ao marxismo, eu concordaria com ele não por causa de Marx, mas por causa de leituras adaptadas ou pós marxistas que se impuseram na mesma tradição. Em suma, ele acerta mais do que erra, mas quase tudo que acerta está fora do Manifesto. Não deu pra entender essa abordagem de focar no pequeno panfleto de Marx e Engels.
E nem vou entrar na infame confusão entre 'Capitalismo' e "Livre-Mercado".
O problema é que depois dessa acidentada exposição, em sua maior parte acertada, mas repleta de vulnerabilidade, o Zizek só não tira o couro dele se não quiser!
Mas ainda nem vi a parte dele.
Finalmente terminei de ver a introdução do Zizek, que como eu devia ter esperado, não poderia ser uma resposta imediata ao Peterson por já ser um texto pronto. (Pessoalmente eu jamais iria para uma debate assim com um texto pronto.) Ele fez aquilo que talvez seja mesmo o mais adequado, a começar para se manter ao título do evento. Mas se por um lado enfatizou bem o problema que é lidar com o conceito de 'felicidade', deixou de lado os conceitos de 'capitalismo' e 'marxismo'.
Aqui, me cabe criticar tal título, pois não vejo como tais palavras conseguriam delinear qualquer panorama intelectual fértil sem um aprofunda distorção das mesmas. 'Felicidade' é "apenas" o objetivo máximo da existância humana, Capitalismo é um sistema economico e Marxismo é um sistema filosófico! Eu entenderia a questão "Será possível a felicidade sob o capitalismo?", mas a mesma questão sobre o marxismo não faria o menor sentido.
Mas é óbvio que o subjacente aí é qual seria o melho sistema para a maximização da felicidade humana, o capitalismo ou os sistemas propostos pelo marxismo. E nesse ponto, mais uma vez, Zizek pouco ou nada explorou.
Começando com a China como exemplo de fusão entre capitalismo e algo que sem nomear ele deixa claro ser uma manifestação de natureza marxista, aponta-a como o provável breve futuro dominante, mas não poupa crítica tanto ao capitalismo em si quanto ao totalitarismo, bem como o papel do Estado, neste ponto, soando bem marxista.
Zizek também fez questão de frisar que tem sido tão ou mais atacado pela neoesquerda quanto Peterson (e não é sequer possível que uma pessoa inteligente não o seja), e nesse ponto notou-se uma inversão de expectativas. Ele remete a isso várias vezes, em especial denunciando a substituição das pautas econômicas da esquerda tradicional pelas pautas de minorias, o que, curiosamente, Peterson, que ficou famoso justo pela crítica a isto, nem sequer passou perto.
Depois, após vários elementos paralelos, Zizek terminou focando, demais a meu ver, em questões ecológicas e de transhumanismo como potenciais perigos do sistema capitalista, passando também por questões de imigração. Mas ao final o que ficou claro é que os dois não dialogaram nesse primeiro momento, onde Zizek fez apenas uma única referência à obra de Peterson quando explanou sobre a questão da natureza, o que foi definitamente o ponto alto de sua fala.
Como não poderia deixar de ser de qualquer pessoa minimamente inteligente, ele evidentemente aceita o papel determinando da natureza na questão, mas aponta modos diferentes de se interpretá-la, e o faz com muita perfeição na questão da 'autoridade'. Me pareceu um tanto mais obscuro na defesa de uma estranha separação entre o poder político e a competência técnica, se é que o entendi bem.
Mas finalizando, o ponto é que praticamente não houve um diálogo entre os participantes. Peterson focou demais numa crítica do marxismo em si, a meu ver predominantemente acertada mas com muitos "furos" fáceis de explorar, nem passando perto de abordar o tema título do evento. Zizek chegou com um discurso bem mais amplo que tem um contato muito estreito com a fala do dialogante.
Como seria de se esperar, há enorme campo de consenso entre eles, o espero que se siga, dentro desse consenso inicial, um desenvolvimento do pontos divergentes.
Vista a segunda parte, as primeiras "réplicas" de 10 minutos cada, seguiu-se algumas surpresas. Previsível que Peterson comentaria não ter havido qualquer defesa explícita do marxismo por Zizek, o que parece lhe ter frustrado um pouco a expectativa, ele concorda que o capitalismo tem problemas e até usa a máxima de ser "o pior sistema exceto todos os outros", insistindo em praticamente igualá-lo com Livre Mercado.
Nisto está um ponto baixo. Capitalismo É MUITO DIFERENTE de Livre Mercado. Ao menos em qualquer sentido compreensivel do mesmo. Agora, mais do que uma definição de Capitalismo, eu queria ver de Peterson o que ele entender por Livre Mercado. Mas deixando isso de lado, o ponto que ele quer sustentar, e nisso vai ao encontro do título do evento, é que o capitalismo é um sistema melhor em maximizar as possibilidades de felicidade por promover maior bem estar material.
Por sua vez, Zizek parece fazer jogo duplo, concordar explicitamente com a adversário, apesar de uma ou outra pontuação, mas ao mesmo tempo fazer colocações que o desafiam, só não no sentido do sistema econômica, mas da felicidade em si. Nesse momento, surge aquilo que, foi até agora, o momento mais brilhante do debate, quando ele coloca que a Felicidade nunca pode ser perseguida por si, que fazê-lo resulta em fracasso, mas que tem que ser um subproduto de alguma outra conquista, e cita alguns exemplos de sua experiência pessoal arrancando não só aplausos, mas a própria aparente concordância de Peterson. Embora tenha falando pouco, disse tanto que não posso me alongar mais aqui. Pensando em fazer um vídeo só pra falar disso.
Termina então trazendo de volta questões ecológicas, no que a mim é tema menos inspirado até o momento, até mesmo aparentemente irrelevante, e bem mais importante, sem querer defender o Manifesto do Partido Comunista, aponta algumas as imprecisões de Peterson, mas sem maiores consequências. Aliás, em termos de leitura corporal e interpretações típicas de um pscianalista, Zizek deve estar sendo um prato cheio para Peterson.
Chega a parte das perguntas diretas, onde Jordan, ainda surpreso pela sofisticação do pensamento de seu interlocutor, questiona porque ele ainda parece se associar ao marxismo, no que Zizek responde primeiro que Marx é muito mais complexo, e ambíguo, do que o Manifesto pode sugerir, exemplificando com passagens onde ele prevê vários recursos de auto correção do modelo capitalista que explicam sua durabilidade e maior eficiência, em abordagens que passam longe da mera ideia de Luta de Classes ou da verve revolucionária.
É o ponto que qualquer analista sério não pode escamotear, uma coisa é você rejeitar o marxismo enquanto uma teoria capaz de explicar a totalidade das relações humanas, outros, totalmente diferente, é achar que nada tem ele a acrescentar e que seja um total e completo fracasso como sistema de pensamento.
O marxismo tem inúmeros instrumentos de análise que continuam perfeitamente atuais e eficazes e o principal motivo de sua durabilidade história não é um trabalho tosco de militância, mas a quantidade enorme de intelectuais qualificados que o estudam enquanto paradigma de pensamento de toda uma época ainda longe de se esgotar. Isso inclui tanto aqueles que se iniciaram com afinidade e terminaram se distanciando, quanto aqueles que iniciariam com antagonismo e terminaram se aproximando. É um sistema de pensamento especialmente denso e complexo capaz de ser utilizado das mais variadas formas, inclusive anti marxistas.
Em segundo lugar, Zizek termina se confessando mais próximo de Hegel que de Marx, apontando mais uma vez sua complexidade de pensamento e destacando afinidades e especialidades.
Jordan brevemente replica, também acertada, mas trivialmente, que a maior parte da popularidade do marxismo acaba sendo alavancada justo pela parte menos inspirada da militância, mesmo admitindo essa maior sofisticação da doutrina.
Mas aí é a vez de Zizek realmente fazer uma pergunta difícil: Por que raios Peterson vê o politicamente correto como uma forma de Neo marxismo?! E isso eu perguntarei sempre também, QUE RAIOS A DESGRAÇA DA NEOESQUERDA TEM A VER COM MARXISMO?! Que marxistas há entre eles? (Também ja acentuei isso em 7 de Fevereiro de 2014)
A resposta de Peterson foi previsível, e em parte compreensível, apontando pontos em comun entre pós modernismo e o marxismo, em especial a relação antagônica entre um grupo opressor e um grupo oprimido, e a pressuposição de superioridade moral dos oprimidos.
Afora comentar uns poucos exemplos de autores que fazem a fusão de um e outro, Zizek foi muito breve apontando que ícones pós estruturalistas, como Derrida, eram hostis ao marxismo, e apenas frisou muito brevemente a distição entre a visão materialista histórica marxista, em especial a causação da estrutura sobre a superestrutura, que só mesmo os já entendidos puderam perceber.
Mas eu insisto que essas congruências apontadas por Peterson não podem de forma alguma legitimar o uso do termo marxismo no pós modernismo, talvez nem mesmo o uso de um pós-marxismo, pois é uma universalidade trivial que qualquer descrição de um antagonismo qualquer entre grupos, e há infinitos deles em toda a história, praticamente sempre carrega uma maniqueísmo quando tal descrição é feita por um dos grupos em especial. Assim, o pós modernismo e o marxismo compartilham uma característica universal entre qualquer distinção já feita na história, quer perpasse em alemães e judeus, gregos e troianos, japonese e chineses ou colonizadores e índios.
Se é possível defender neoesquerdismo e suas divisões auto fágicas entre homens / mullheres, negros / brancos, heterossexuais / homossexuais ou cissexuais / transsexuais, ela não pode estar apenas no fato de haver uma antagonismo tendente ao maniqueísmo. A mim está muito mais na simples genealogia ideológico, uma vez que não é negável uma ligação dos primeiros neoesquerdistas com os marxistas. Mas essa relação não impede um profundo antagonismo que só se acentua com o tempo. Não há, ou ao menos eu não conheço, um único grande intelectual hoje, incluindo os marxistas, que se confrontado com a militância pós-moderna não irá cricitá-la e, mesmo que suavemente, e po isso será repudiado com o combo machista / racista / homofóbico / transfóbico, combo este que já se livrou do "capitalista" há décadas.
Peterson até fez breve alusão ao Maio de 68 francês, mas só posso lamentar ninguém ter levantado o que seria o argumento decisivo contra o rótulo de marxista no pós modernismo, que é o simples fato do mesmo ter sido deliberadamente fabricado justo pelos maiores inimigos dos marxistas com fins bem sucedidos de engenharia social que é a principal responsável pela neutralização quase absoluta do marxismo no ocidente.
Constrange-me cada vez mais o uso do termo civlização "Judaico-Cristã", como se essas tradições realmente se relacionassem por uma derivação espontânea compartilhando sua essencialidade, e não uma ruptura revolucionária que subverte por completo a essência da primeira. Porque não se falar em civilização "cristã-islâmica", que tem muito mais em comum, incluindo o espaço geográfico?
Pois os dois participantes compartilham dessa terrível ilusão. Mas na reta final do debate, o apresentador fez finalmente algo que deveria ser feito desde o começo, focar o tema do evento e perguntar ao participantes seus entendimentos pessoais sobre o conceito de felicidade.
Peterson começa explanando sua visão sobre responsabilidade pessoal, concordando (e seria trágico se não o fizesse) com a assertiva de Zizek sobre a felicidade ser mas uma consequência de outra coisa. No caso Peterson a vê mais como a resultante de ter se estabelecido como alguém que cumpre bem uma função voluntariamente assumida que não apenas permite essa finalidade, mas permite também a expansão dessa capaciade.
Zizek desenvolve um pouco o mesmo conceito mas se destaca mais por focar uma coisa dita pelo dialogante a respeito da ideia de felicidade como "graça", uma coisa que acontece sem uma razão clara, e entra em ampla, e interessante, digressão sobre o Cristianismo. Temina porém, questionando a já famosa máxima de Peterson sobre "arrumar o seu quarto" antes de pretender "arrumar o mundo", questionando que as duas podem ser feitas ao mesmo tempo e que por vezes a última pode ser um impeditivo da primeira. Como exemplo, elenca a questão ecológica, e a insuficiência das ações individuais como separar o lixo, que mesmo se feitas por todos, estariam longe de solucionar os maiores problemas.
A princípio, concordo mais com Peterson. Não que se deva parar na organização do próprio âmbito pessoal, mas que este seja um pré-requisito para o âmbito social.
Em muitos aspectos, reclamamos injustamente de nosso país e seus governantes, pois apesar da constante sucessão de ideologias opostas no poder, algumas boas coisas sempre foram mantidas constantes no Brasil em termos de política internacional.
Com um brevíssimo período de exceção durante a Segunda Guerra Mundial, nosso país sempre foi fiel a algumas virtudes em Relações Exteriores:
- RECIPROCIDADE: tratamos de igual pra igual qualquer outro país, dando-lhes sempre o mesmo tratamento que eles nós dão. Se o país relaxa ou engrossa os critérios aplicados a nossos cidadãos, fazemos exatamente o mesmo com os seus;
- PACIFISMO: jamais tomamos parte em conflitos e não cooperamos de modo algum com qualquer esforço de guerra, assumindo uma postura ATIVA de repúdio à agressões e de busca pela paz;
- NEUTRALIDADE: damos sempre a mesma atenção a ambas as partes envolvidas em qualquer contenda, evitando privilegiar uma delas. Por isso mesmo, ninguém no mundo vê o Brasil como ameaça ou impecilho, pelo contrário, não havendo qualquer disposição de hostilidade contra nós nem mesmo por parte dos mais agressivos e instáveis regimes.
- PARCERIA COMERCIAL: sempre estivemos abertos a fazer negócios com qualquer outro país, repudiando sanções econômicas e tendo uma postura de verdadeiro livre mercado que os EUA, por exemplo, jamais conseguiriam nem sonhar em chegar perto. Só um absoluto energúmeno pode crer que deixamos de lado qualquer relação comercial por motivos ideológicos.
Em mais de um século, ditadores, democratas, legalistas, golpistas, direitistas, esquerdistas, centristas, civis, militares ou o escabau que já tenha assumido o poder sempre respeitou essas virtudes com no máximo alguma breve oscilação transicional sem qualquer prejuízo.
Tudo isso mudou com o atual governo. O mesmíssimo candidato que delirou dizendo que deveríamos fazer comércio com qualquer país independente de viés ideológico, coisa que sempre fizemos, é o que arruinou nossa relação com parceiros comerciais perenes por absoluta boçalidade política e fanatismo ideológico, já trazendo prejuízos econômicos concretos. Nunca se tinha visto o Brasil passar tamanho vexame ao ponto de se humilhar entregando de graça riquezas e serviços inestimáveis e estratégicos sem nada pedir em troca e sem que sequer lhe tenha sido solicitado, num rompante de submissão canino e entreguismo só comparável a um grotesco "cuckoldismo".
Quem quer que, hoje, não sinta vergonha de ter votado em Bolsonaro, principalmente no Primeiro Turno, quando havia tantas opções melhores, só pode estar num surto de perversão e/ou boçalidade comparável a ele próprio.
ANIMAIS FANTÁSTICOS:OS CRIMES DE GRINDELWALD, é em tudo um excelente filme, e só posso achar que os que detestaram, embora tenham gostado do anterior e de outros filmes da franquia Harry Potter, estejam sofrendo de algum tipo de pane em seu senso estético.
Mas o ponto alto é sem sombra de dúvida o espetacular discurso do vilão título, que deveria se tornar referência para qualquer um queira construir um antagonista convincente, inteligente e verossímil, passando longe de tacanhos maniqueísmos infantis.
É o tipo de discurso difícil de refutar, que soa perfeitamente benevolente e inclusivo, e mesmo quando mergulha em sua parte mais drástica, o faz com uma justificativa fortíssima. Nas entrelinhas, é possível perceber que há mais que uma boa intenção ali, mas somente após compreender muito bem o contexto e ou já ter uma ampla experiência prévia com discursos similares.
Gellert Grindelwald é bem mais convincente que Voldemort, que apelava muito aos vícios de seus seguidores, com promessas mesquinhas de vantagens exclusivas, embora também se elevasse quando colocava como seu objetivo principal a superação da morte. Voldemort se impunha mais pela força bruta e sintonia com perversões inconfessáveis. Grindelwald efetivamente seduz, convence, faz soar verdadeiramente justo e benigno, e assim, pode realmente arrastar multidões em favor de uma causa que no fundo realmente não compreendam, mas que na superfície, sempre parecerá tão sublime quanto seu slogan: POR UM BEM MAIOR!
Tudo isso já estava devidamente adiantado no sétimo livro da saga Harry Potter, com o intraduzível subtítulo "The Deadly Hallows", cujo melhor conteúdo esta previsivelmente perdido na versão cinematográfica. Lá, no livro, é contada, em restrospectiva e de forma historiográfica, a saga de Grindelwald, lavando a alma daqueles que ouviram dele falar desde o primeiro livro da série e foram acometidos de intensa curiosidade.
Mas o recente filme apresenta o homem por trás da personalidade citada, o drama por trás da história, delineando melhor aquilo que Rowling já tinha deixado claro, que o personagem e sua cruzada era uma nítida alegoria de elementos da Segunda Guerra Mundial. Só que agora o enfoque é ainda mais profundo, pois fica a nítida impressão de que toda a Segunda Grande Guerra poderia ter sido evitada se os planos de Grindelwald prosperassem, ainda que, provavelmente, causando um estrago ainda maior.
Nisto está o ponto alto do discurso. Após, diferente de Voldemort, Grindelwald frisar que não odeia os não-mágicos, os "trouxas" na estranha tradução portuguesa, que não crê que sejam sem valor, mas de um valor diferente, que não são dispensáveis, mas que tem uma outra disposição, faz então o auto elogio sobre a minoria dos mágicos, que receberam o raro dom dos poderes e de uma visão maior, que lhes deve orientar para a busca da liberdade, da verdade e do amor.
Mas o verdadeiro motivo pelo qual devem assumir a liderança do mundo invés de permanecer escondidos nem sequer é esse senso de superioridade, mas sim a visão de futuro que ele apresenta, no caso, literalmente uma premonição. Se deixados à própria sorte, os não-mágicos irão não apenas se auto destruir, mas acabar destruindo o mundo mágico. E então Grindelwald, que faz tal discurso em 1927, apresenta a visão da Segunda Grande Guerra, com direito a holocausto e explosão nuclear! Aterrorizando até mesmo os próprios não mágicos.
E na verdade, essa concepção é bastante comum, e não só em filmes como The Adjustment Bureau (2011), no Brasil "Os Agentes do Destino", The Box (2009) ou Knowing (2009), "Presságio" no Brasil, mas na própria essência das religiões, tanto tradicionais quanto modernas e Nova Era. A ideia é que a humanidade não sabe cuidar de si própria e precisa ser salva ou dirigida por forças superiores. Sendo os mágicos capazes de coisas que aos normais são milagres inalcançáveis, como não se considerarem superiores e ficarem parados enquanto os trouxas destroem o mundo?
Aos espectadores já avisados dos rumos tomados pelos maus feitos de Grindelwald (por sinal há uma comuna com este nome na Suíça), fica fácil prever o estrago, mas como poderiam os personagens ali fazê-lo? Não a toa uma das mais amáveis bruxas é imediatmente seduzida pelo discurso, junto com vários outros.
Não somente para o universo ficcional, mas sobretudo para o real, o discurso de Grindelwald ajuda a depurar o horroroso maniqueísmo que muitos pensam estar limitado à mentalidade infantil com vilões caricatos que invertem adjetivos como se alguém gostasse de ser chamado de mentiroso, covarde ou grotesco. Mas que na realidade está profundamente embrenhado nas psiques de pessoas supostamente adultas que não hesitam em crer que podem dividir o mundo entre um Bem e um Mal perfeitamente discerníveis pela sua própria vontade.
Acima de tudo, tal deficiência moral e cognitiva se espalhou a tal ponto que muitos sequer desconfiam quando indivíduos ou grupos simplesmente se intitulam com virtudes sem qualquer necessidade de demonstrá-las, como "homem de bem", "temente a Deus" ou "defensor da liberdade". O bom senso deveria fazer qualquer um ficar de imediato alerta, porque é uma universalidade humana que alguém só sinta essa necessidade de se declarar como tal justo quando suas condutas não o fazem com clareza.
JAMAIS foram cometidas grandes atrocidades assumidamente más, mas sempre, em nome da virtude. O grandes psicopatas, criminosos e genocidas jamais deixaram de se ver e se ostentar como grandes, boas e generosas pessoas, com nobres objetivos de nos salvar de alguma coisa. Atualmente, está muito em moda a "luta contra a corrupção".
Gellert Grindelwald, em seu discurso, nos lembra que o mal sempre foi promovido em nome do bem.
A imagem reflete perfeitamente a única reação digna que um fã inveterado, e autor, de Ficção Científica que só abre mão da racionalidade e plausibilidade físicas em troca de benesses estéticas sublimes, ao ter se auto supliciado com uma exposição ao indecoroso Alien Covenant (2017).
Explico.
ALIEN (1979), no Brasil genialmente subtitulado como "O 8° Passageiro", foi um filme que me aterrorizou, e fascinou, mesmo antes de vê-lo. Eu tinha 8 anos e a censura naquele tempo era séria. Mas bastaram algumas imagens na saudosa revista Manchete para que a criatura ganhasse o honroso título de ÚNICA. Absolutamente a única! Monstruosidade do cinema que realmente me assustou. Contentei-me em ouvir relatos empolgados de adultos que assistiram ao filme, e de outras crianças que não o assistiram, mas transmitiam em segunda mão os relatos que ouviam de adultos. (Pode parecer chocante aos neófitos, mas houve um tempo em que não existia internet.)
Já ALIENS (1986), subtitulado como "O Resgate", não só assisti no cinema, principalmente graças ao Marcelo Germano, como se tornou um de meus filmes favoritos por muitas décadas. E só após ele finalmente consegui assistir o filme anterior, também excelente, e ainda melhor nas edições especiais, sim existem duas diferentes! Sem contar o livro que embora escrito juntamente com o filme, tem o perene mérito da superioridade literária em acrescentar profundidade e detalhes impossíveis a uma obra filmográfica. Tal livro, porém, assim como a Versão do Diretor, são incompatíveis com Aliens.
Daí pra frente, só decadência. ALIEN 3 (1992), isoladamente é até um bom filme, mas um verdadeiro insulto para quem gostou dos dois primeiros, arruinando absolutamente tudo que eles construíram. Aliás, configurou-se daí uma regularidade que parece reinar na série: tudo o que você fizer é inútil, pois vai morrer de qualquer jeito. Os personagens que parecem triunfar ao final serão apenas os primeiros a morrer na sequência ou ter um destino ainda mais horrendo.
ALIEN RESSURECTION (1997) teve seus bons momentos, mas a mim seu maior mérito é aquele monstro híbrido capaz de fazer carinha de choro que reflete bem a tristeza de ver uma franquia até então com uma primeira metade magnânina, e uma segunda verdadeiramente... Triste!
Tivemos também ALIEN X PREDATOR (2004) e ALIEN X PREDATOR REQUIEM (2007), no qual tudo que há de bom deve-se a fabulosa franquia Predator, mas da parte Alien herda tudo de ruim. Como é possível chamar de FC um filme onde uma criatura é gestada de um dia pro outro e depois ainda cresce em questão de horas a um tamanho descomunal sem sequer ingerir coisa alguma?! Não é que não seja dada alguma explicação. O que choca é ninguém jamais sequer ter se impressionado com isso! Como se fosse coisa normal. Não há um único "Como raios ele pode crescer tão rápido?!" em toda a série! A isso soma-se personagens idiotas e dispensáveis apenas para serem retalhados ao enfadonho estilo slasher que só pode agradar a adolescentes que acham que gostar de sangueira e nojeira é sinal de macheza. Sem contar construção de boas situações para serem completamente descartadas em seguida. E raios...
Que ideia mais inacreditavelmente idiota é essa de querer usar essas criaturas como arma biológica?! Você solta o bicho no alvo e ele sai matando todo mundo e destruindo tudo? Uma bomba faz isso muito melhor, caralho! E quando se infiltra soldados numa instalação inimiga é porque se pretende uma abordagem tática que uma criatura irracional jamais poderia realizar.
Mas então, um dia Ridley Scott, diretor do filme original, que nada tem a ver com as sequências, decidiu retomar a franquia que lançou. Só poderia melhor não é mesmo?
Sim. Melhorou. PROMETHEUS (2012) pode estar muito aquém dos dois primeiros filmes, mas é incomensuravelmente superior aos dois segundos, e dividiu público e crítica não por menos, pois mistura elementos excelentes, revivendo a verdadeira FC ao abordar os Engenheiros, revisitar o primeiro filme sob outro enfoque e com algumas cenas visualmente belas, além de Charlize Theron ser sempre um acréscimo estético relevante em qualquer filme. Mas também trouxe elementos patéticos, como um bando de astronautas incompetentes, uma concepção ridícula de operacionalidade de expedição, trajes espaciais que mais parecem escafandros do século XIX e armamentos tão grotescamente ruins que qualquer moleque esperto produziria coisa melhor em casa usando latas de spray e isqueiros.
E então... Então... O cara me vem com esse Alien Covenant...
E agora? Que raios eu faço além de nunca mais pisar num cinema para assistir qualquer coisa do Ridley Scott?
Sendo sincero, eu sempre soube que o filme ia ser ruim. Prometheus teve seus bons momentos, mas não "cumprius" coisa alguma no sentido de entregar algo à altura dos dois primeiros ou ao menos de elevar a obra à estatuto de Ficção Científica séria. Nem pensei em ir ver Covenant no cinema e não estava disposto a pagar um centavo.
Vi no torrent, mesmo sabendo que dificilmente gostaria. Mas juro que jamais esperei porcaria tão grotesca!
A nave colonizadora, de concepção espúria e infantil como sempre, utiliza velas para coletar energia. Raios! Os caras já tinham reatores de fusão e agora precisam coletar energia solar ainda por cima em espaço interestelar?! As cápsulas dos dois mil colonos criogenados são levados pendurados! PENDURADOS e balançando como se fossem salsichas! Enquanto a nave sofre o impacto de uma... Explosão de Neutrinos?! Q.P.É.E.?! Neutrinos são partículas sutis que não causariam danos nem em moscas a não ser que a nave já esteja quase dentro de uma Estrela de Nêutrons virando uma Supernova! Então detectam um planeta habitável que não havia sido antes visto apesar de ser incomensuravelmente mais próximo do planeta destino, decidindo seguir pra lá.
Chegando, não se faz sequer um sensoriamento da superfície. Não existe sequer uma sonda para ser enviada em primeiro lugar. Não. Tem que socar quase toda a tripulação dentro da ÚNICA nave e descer no meio de uma tempestade monstruosa. Céus! Trata-se de uma nave de colonização com missão de longo prazo e recursos para ampla duração que chegou num destino plausível muitíssimo antes do previsto! Pra que a pressa em não esperar ao menos a tempestade amainar?
Daí temos a única coisa realmente boa do filme, as cenas da chegada sobre belíssimas montanhas e rios. Aí dizem que é mais seguro pousar sobre a água devido a possível instabilidade do terreno, mas não pousa sobre flutuadores, e sim sobre uma pequena lâmina d'água com a terra seca ali do lado, para obrigar os exploradores e sair metendo o pé na lama a toa, num planeta, como sempre, idêntico à Terra (http://www.xr.pro.br/FC/5_BOBAGENS_PLANETARIAS.HTML)
Absolutamente nenhuma preocupação com patógenos, substancias sutis estranhas ou qualquer outra coisa. Não. É "Ah! O ar é respirável! Beleza!" Nenhuma análise mais detalhada. Sai todo mundo com a cara e a coragem se expondo na atmosfera de um planeta desconhecido e entrando no meio do mato sem qualquer proteção para o rosto. Damn! Os caras tem um andróide! Por que não enviar ele primeiro para uma observação preliminar?!
Resultado, óbvio, contraem um microorganismo que faz tudo o que se viu até hoje na franquia parecer fichinha, visto que de um pózinho microscópico, uma hora depois, saia um monstro de dentro do corpo do infeliz com força, resistência e velocidade colossais que não apenas cresce, mas praticamente "infla" quase instantaneamente e sai destruindo tudo. E detalhe, isso dentro da seção médica da nave onde o infectado foi enfiado sem absolutamente nenhum indício de que alguém já tenha ouvido falar nas quarentenas onipresentes nos filmes anteriores.
Aí começam sequências dignas dos três patetas. Como apesar de existir gravidade miraculosa no espaço e deslocamento hiperespacial, as armas de fogo continuam a mesmíssima porcaria de hoje, vai uma infeliz tentar acertar a criatura, que estava presa dentro de uma área fechada, com uma escopeta após abrir a porta invés de simplesmente atirar pela janela por onde ela já estava querendo sair. Escorrega numa poça de sangue, e depois atira direto em cima de material explosivo causando, adivinha? A destruição completa da única nave atmosférica que possuem, enquanto o outro grupo foi para ainda mais longe examinar a fonte da trasmissão que rastreavam, tendo que subir morro invés de simplesmente terem sido deixados lá em cima pela nave.
Começam a ser trucidados pelas criaturas que não tem medo algum de tomarem tiros diretos, mas fogem diante de um flare lançado por um suposto salvador que foi ótimo para praticamente cegar todo mundo, menos as criaturas que sequer tem olhos. Vão com o indivíduo para um cenário absolutamente assustador e se deparam com um anfitrião que dá arrepios. Incrível essa mania de dirigir um personagem que deixa claríssimo ao espectador ser sinistro e ao qual você não daria as costas, mas os próprios personagens parecem não notar.
Que estava mau intencionado ficou fora de dúvida quando ele corta o cabelo para ficar indistinguível do outro andróide, fazendo o espectador imediatamente deduzir que ele tenciona tomar o seu lugar. E numa situação trágica daquelas, deve ser mesmo um momento excelente para começar aulas de flauta!
Aí o que restou dos sobreviventes, após verem a maioria de seus companheiros estraçalhados por monstros terríveis, chega num local sinistro, escuro, sabendo que os bichos estão a espreita, e o que fazem? Ah! Vamos dar uma relaxadinha. E cada um vai pro seu canto ficar sozinho!
KCT! Isso é absolutamente anti humano! Numa situação dessas a pessoas jamais se separariam. Formariam um círculo de costas umas pras outras vigiando tudo com as armas apontadas pra todo lado. E aí é andróide gritando de desespero porque um alien foi abatido, e o capitão depois de lhe apontar uma arma, confiando nele a ponto de literalmente meter a cara no ovo de alien gosmento onde ele mandou. É tempestade que bloqueia telecomunicações que cruzam distâncias interestelares. Naves espaciais sendo colocadas na atmosfera apesar de todos os alertas de catástrofe iminente para depois ficar claro que sequer era necessário, pois a "plataforma escavadeira" que acabou os resgatando parecia perfeitamente capaz de subir até o espaço.
Mas chega. Daí pra frente, piora. E piora! E PIORA E PIORA MAIS com mais e mais burradas inacreditáveis! Clichês mil vezes repetidos, absoluta falta de noção da realidade física que supera os anteriores e uma previsibilidade inacreditavelmente tediosa. Não dá nem pra listar! Os Trapalhões fariam um serviço melhor!
Meus Deus! Até Thor Ragnarok (que sempre chamo de desgraça) ou Star Trek Beyond que me sepultou qualquer chance de ir ver outro no cinema, conseguem ser melhores! Não devia nem perder mais tempo comentado uma coisa dessas, e termino certo de que coisas assim só servem para emburrecer audiências, estupidificar o público, explorar um sadismo indecoroso e tão sem propósito quanto o de um personagem que ama a música de Wagner, as poesias de Byron e a Ciência e a Filosofia em geral, mas quer destruir a humanidade para ficar brincando com criaturas monstruosas e estúpidas.
Depois de assistir ontem a 'The Greatest Showman', ótimo musical com Hugh Jackman que eu nunca tinha ouvido falar, fascinei-me especiamente pela música 'From Now On'. Passando a pesquisar e ouvir versões variadas das canções, eis que descubro esse vocalista chamado Peter Hollens que tem uma voz olímpica! Com uma versão da música de beleza titânica! O vídeo também não fica atrás. Juro que nunca vi tão incrível combinação de simplicidade e beleza, quase uma paródia do filme original, com coral dos próprios fãs dele! Que por sinal, agora incluem a mim!
Não deve haver atestado de estupidez maior do que defender ativamente um lado nessa discussão ridícula sobre Nazismo ser de Esquerda ou de Direita.
O modo de operação mental dessa contenda é rigidamente o seguinte: "Meu lado é o do Bem, o outro lado é o do Mal. Nazismo é do Mal, logo, é do outro lado!"
SIM! É ISSO!!! Pura e simplesmente. Um maniqueísmo grotesco, menos que infantil. Animal!
Por mais que os termos Esquerda e Direita tenham variado ao longo do tempo e espaço, ao menos uma característica se mantém intocada. Esquerda se associa ao "Progressismo", a ideia de modificar radicalmente a sociedade rumo a algo novo. Direita se associa ao "Conservadorismo", a ideia de manter a estrutura básica da sociedade que se mostrou minimamente funcional historicamente. O que deve ser mudado ou mantido é o que variou, principalmente transicionando entre as esferas da economia e da cultura, tornando a dicotomia original no mínimo incompleta.
Até concedo que a classificação de Nazismo como Extrema-Direita atende uma necessidade de categorização didática se aceitarmos a débil divisão do espectro político ideológico apenas em uma dimensão. Mas no fundo até isso é essencialmente errado, visto insistir numa dicotomia tão evidentemente contraditória que obriga os incautos a inventar uma tal de "Teoria da Ferradura" para tentar disfarçar a inoperância dessa classificação, apelando para a burrada sacramentada dos "extremos que se tocam".
Daí, que venha um bando de acéfalos para dizer que Nazismo, ou Fascismo, é de Esquerda, não deveria surpreender.
Ocorre, que se fosse obrigado a colocar o Nazismo em algum lugar dentro dessa estúpida linha unidimensional entre Esquerda e Direita, eu o colocaria, sem pestanejar, no Centro. Por mais que tal centro seja também classificação tão ignóbil quanto o esquema inteiro.
Isso ocorre porque o Nazismo, justo por não ser nenhum dos dois, mistura elementos da esquerda e da direita, sendo justamente chamando de Terceira Via. Só que nesse "centro" também estaria a sua antítese total, o Liberalismo, em suas ambas dimensões Cultural e Econômica.
Esse centro é tão vasto quanto a linha imaginária entre a esquerda e a direita, horizontal, enquanto na vertical temos outro gradiente cujos extremos são de terminologia discutida, como na concepção da Bússola Política, mas que no Diagrama de Nolan são vistos como Liberdade e Autoridade.
Sendo uma esquematização liberal, é esperado que o Diagrama de Nolan irá dourar sua posição favorita como o reino da "Liberdade" contra os desmandos dos autoritarismo. Mas pode-se perfeitamente, substituir os termos, por exemplo, por Ordenação e Desordenação, ou por Planejamento e Anarquia.
Para compreender melhor, basta levar a panaquice da "teoria da ferradura", tão equina quanto o objeto a que remete, à sua consequência final e aceitar logo que nada há de extremos opostos aí, fechando um círculo, e mandando a ideia original às favas.
Daí divida o círculo em seus 4 quadrantes e pronto! Bem vindo à Segunda Dimensão! Surge um esquema básico de classificação que ainda que também incompleto, é incomensuravelmente mais lúcido, onde Esquerda e Direita são quadrantes opostos, e em perpendicular os quadrantes da Ordenação e da Liberdade. Daí você deriva as 4 posições políticas básicas, Progressismo, Conservadorismo, Liberalismo, e por falta de nome melhor, Nacionalismo.
É neste último que residem o Nazismo e o Fascismo, ao lado de outras versões bem menos radicais.
Nazismo não pode ser "de esquerda" porque conserva a propriedade privada dos meios de produção, mantém a hierarquia social, mantém a maior parte das tradições culturais, especialmente religiosas e familiares, sendo nesses pontos uma antítese do revolucionarismo esquerdista, e por, na contrapartida absoluta do marxismo e do socialismo tradicional, ser nacionalista.
Mas também não pode ser "de direita" porque coloca freios rígidos contra o liberalismo, forçando um capitalismo de Estado onde o Capital perde a condição de medida última de todas as coisas, apresenta um espiritualismo estrutural oposto ao materialismo essencial tanto do Capitalismo quanto do Marxismo, e procura ir alem das tradições conservadoras na busca de um passado ainda mais mítico para o qual se pretende retornar por meios humanos, sendo profundamente teleológico, hegeliano. Sem contar o patriotismo.
Em absoluto, não importa se o DOPS e o DOI-CODI, ou a CIA e o FBI, classficam o Nazismo como Extrema Direita, e muito menos se um bando de panacas cuja estrutura mental foi herdada dos desenhos do He-Man, resolveu, do fundo de seu maniqueísmo, inventar que o mesmo é "de esquerda". Pois nenhum deles está interessado em tornar as coisas claras ou estimular um mínimo de racionalidade.
Apelar à palavra "socialismo" na composição que dá nome ao Nazismo só seria perdoável para quem também aceita sem pestanejar que a Coréia do Norte é efetivamente uma Repúbica Popular DEMOCRÁTICA da Coréia. Está no nome oras!
De Mussolini e seu Fascismo a Plínio Salgado e seu Integralismo, a pretensão, claríssima, é a mesma, rejeitar tanto a esquerda quanto a direita se recusando a jogar um jogo de cartas marcadas sob controle de um sistema corrupto.
Em suma, Nazismo não é Esquerda nem Direita, transcende essa dicotomia tacanha que trabalha em favor de manipuladores que se beneficiam de uma população ignorante brigando entre si enquanto eles riem de sua ridícula impotência em enxergar a realidade por trás de suas artimanhas.
Atesto, reforçando que tal como Babylon 5, é compreensível que alguém tenha dúvidas sobre a série durante a Primeira Temporada, restrita em uma série de fatores econômicos e de intervenção executiva. Mas se você assistir até o fim da Segunda Temporada e não gostar, só estaca de madeira no coração mesmo.
Apesar de ter gostado desse obscuro filme, aproveito não para comentá-lo, mas sim sobre a contra parte ao péssimo hábito das distribuidoras de fimes estrangeiros em alterar os títulos originais muitas vezes de forma esdrúxula.
Esse contra parte é justo o hábito de titular filmes de forma vaga, não inspirada, sem relação com o conteúdo e completamente incapaz de chamar atenção. É o caso desse interessante suspense sobrenatural que poderia ter como título 'Beyond The Veil', como é sugerido dentro da própria estória.
Mas que raios um título como 'AFTER' transmite? COISA ALGUMA! Poderia ser qualquer coisa. E há muitos casos similares onde títulos mal escolhidos de certo contribuem para o insucesso do filme, como o desastroso 'JOHN CARTER', que sugere no máximo algum personagem histórico desconhecido, quando no entanto o título do livro original em que se baseia é o chamativo 'A PRINCESA DE MARTE', e nesse caso, a distribuidora não teve a decência de ao menos acrescentar uma subtítulo que remetesse à frenética aventura de Ficção Científica repleta de batalhas e efeitos especiais. Preferiu intitular 'JOHN CARTER - Entre Dois Mundos', o que ainda pode soar como qualquer drama mundano insosso.
Há alguns exemplos de títulos nacionais que superam em muito os originais, como "Sobre Meninos e Lobos", muitissimo mais significativo que o insípido 'THE MISTIC RIVER' original que nada remete à estória. O genial "Um Século em 43 Minutos", que mostra que o responsável prestou muita atenção ao original cujo não inspirado título é 'TIME AFTER TIME', que pode remeter a qualquer trivialidade invés do filme sobre viagem no tempo que realmente é. Ou acréscimos perfeitamente harmônicos que completam eficientemente títulos vagos, como "ALIEN - O Oitavo Passageiro", ou títulos originalmente herméticos como "BLADE RUNNER - O Caçados de Andróides".
Estes, porém, ao menos se tratam de produções relativamente abastadas que sempre podem compensar títulos fracos com bons esquemas de marketing, embora o caso John Carter mostre que nem sempre isso funciona.
Filmes modestos como AFTER acabam ficando ainda mais prejudicados pela má escolha do título. É digno não querer ser sensacionalista e apelar para títulos potencialmente enganosos, mas ser excessivamente humilde dando um nome tão sem graça para uma estória que merecia mais atenção também não é o caminho.
Por fim, sobre o filme em si, recomendo, desde que se tenha em mente ser uma produção simples. A ideia é muito boa, desde o início fazendo o espectador saber o que está acontecendo, mas mesmo assim surpreendendo pelo modo como a estória se desenvolve, numa ótima mistura de drama e sobrenatural.
Em 2007 eu morava no Cruzeiro Novo (bairro tradicional de Brasília-DF), e certa vez frequentando minha pamonharia favorita, deparei-me com uma foto de menina desaparecida. Procurava-se Isabela Tainara. De imediato me comoveu porque ela tinha idade próxima e semelhança física com minha filha mais velha. Uma semana depois vi outro cartaz, atualizado, e disse: "Deus, ainda não acharam essa menina?"
O caso teve desfecho trágico, e embora pouca repercussão na mídia nacional, foi bastante impactante no DF, recebendo ampla cobertura da mídia local
Naquela época eu tinha dois empregos, trabalhando um total de 50 horas semanais, o da tarde era no Setor Gráfico, e na volta para casa, de bicicleta, eu passava em frente ao prédio onde ela morava. E durante TODOS OS ANOS que por ali passei, NÃO HOUVE UM SÓ DIA em que eu não pensasse em Isabela Tainara.
Acompanhei o caso e fiquei bastante surpreso com o desfecho, que contrariava todas as especulações iniciais. O corpo dela foi encontrado menos de um mês depois em condições que não quero descrever. Frequentei o site que a família criou primeiro para encontrá-la, e que depois se tornou um portal para palavras de conforto e consolação. Mas nunca escrevi coisa alguma. Fui um acompanhante silencioso e apesar de já ter um site que na época era muitíssimo mais frequentado do que minha página do Facebook é hoje, me recusei a explorar o caso.
Na época eu era ainda mais agnóstico que hoje, e me sentiria hipocrita em tentar consolar a família com a única abordagem funcional, a religiosa, e jamais iria expressar minha arreligiosidade ali.
O que eu poderia dizer? Nessas horas, tudo o que as pessoas querem crer é que um dia verão novamente o ente falecido, que há uma compensação pelo sofrimento terrestre, que há um sentido transcendente, e só a religião pode fornecer esse conforto de forma direta.
Embora eu jamais tenha sido antirreligioso, jamais tenha fechado a porta da espiritualidade, naquele momento eu senti de uma forma mais plena as limitações do ateísmo e do materialismo.
Mas outra coisa também me atingiu. O quanto vivemos uma ilusão de segurança. Muitos confundem DF (que na média tem uma alta taxa de violência) com Brasília (que tem uma das mais baixas do país). Bairros como o Sudoeste, onde vivia Isabela, e Lago Sul, onde vivo, tem IDHs escandinavos e indíces de homicídios baixíssimos. Mas ficam relativamente próximos de bairros muito menos abastados e muito mais violentos. O DF é um microcosmo do Brasil que por sua vez é um microcosmo do mundo, principalmente em termos de desigualdade.
Apesar dessas "ilhas da fantasia", nada muda o fato de que vivemos num mundo perigoso. Todas elas tem histórias assustadoras para contar, e a fragilidade de nossa existência, e de nossa felicidade, é algo do qual não deveríamos jamais nos esquecer.
Se há algo que tais tragédias trazem de proveitoso, é nos manter cientes da dimensão trágica da existência. Do quanto tudo é efêmero, fugaz, podendo escapar a qualquer momento. Se mantemos o trágico sempre à vista, temos melhor medida de nossa condição privilegiada, e do quanto somos felizes e não sabemos, e de quanto perdemos tempo e existência com mesquinharias absolutamente desprezíveis e irrelevâncias insignificantes
IDEOLOGIA é um termo disputado principalmente por dois sentidos usuais. O primeiro, mais senso comum, e a meu ver mais adequado, é o de qualquer sistema de pensamento que tenha propostas de ação, ou inação, no mundo. Sendo suficientemente abragente para poder integrar até mesmo as religiões, visto que tal como ideologias políticas, elas tem proposições claras para o agir prático.
Outro, mais restrito e quase integralmente marxista, é no sentido de um sistema de justificação para modelos sociais opressores, que tem como objetivo disfarçar os reais motivos da dominação e da exploração colocando em seu lugar explicações e causas que alienam os dominados. Daí porque Marx irá chamar de ideológica qualquer defesa do estado de coisas vigente, que seja do capitalismo, da estrutura social, da relações de poder etc, e irá, também, estender tal definição para as religiões.
O problema que vejo nessa última definição é seu autismo. Somente as proposições do outro são ideológicas, enquanto as minhas são "a mais pura expressão da verdade objetiva", isentas de qualquer mácula. Não a toa, é fácil, e até justo, para os anti marxistas inverterem por completo a acusação e passar a dizer que somente as proposições de seus adversários é que são ideológicas.
É exatamente isso que Bolsonaro e seus cupinchas fazem ao usar o termo, no molde marxista de uso, onde somente seus adversários são ideológicos, enganosos e alienantes, enquanto eles, ora, são pura virtude tanto moral quanto de clareza no entendimento do mundo.
Ou seja, é o tipo de visão que não só jamais irá permitir qualquer tipo de diálogo, mas sequer de entendimento, pois partir do princípio da perfeição de sua própria visão de mundo não poderia, jamais, garantir precisão alguma, pelo contrário, fecha a mente para qualquer reflexão crítica, e ainda por cima, no caso dos conservadores e reacionários, ainda tem o deselegância de soar como paródia farsesca, o típico e infantil "Eu não, você que é!"
De certa forma, feministas, ao recusar o conceito de 'Ideologia de Gênero' apesar de defenderam exatamente o que se entende pela expressão, ao menos pertencem a uma tradição que fez primeiro esse mau uso do conceito, pois para elas, o Feminismo descreve a realidade exatamente como ela é, sem sombras, num grau de autismo que supera qualquer outro, e somente as proposições alheias são ideológicas, visto que visam justificar o patriarcado e a opressão. O fato da totalidade dos dados da realidade desmentirem sua proposições é irrelevante, visto a natureza dogmática das mesmas, com a desvantagem de que o Marxismo original ao menos tem um discurso meticuloso, detalhado e em muito aspectos inquestionável da realidade, pecando mais pelo montante geral que as conecta que pelas partes em si. O Feminismo nem isso tem.
E o tem menos ainda o "bolsonarismo", se é que lhe cabe esse elogio de aplicar-lhe um rótulo normalmente aplicável a sistemas de PENSAMENTO. Haja visto disparates constrangedores disparados por ele e seus asseclas, ao ponto de ter a boçalidade de dizer que um governo que fez negócios e manteve ótimas relações diplomáticas com TODOS os países do mundo o fazia por razões ideológicas, ao mesmo tempo que ele quer cortar relações com meio mundo a mando de seus patrões arriscando a economia e a própria segurança do país, mas vejam só, "não tem nada de ideológico!" Feministas, e correlatos, se confrontados com a acusação de dissonância cognitiva similar, ao menos nos casos mais espertos serão capazes de explicar o seu entendimento de 'ideologia'. Bolsonaristas nem isso conseguem!
Seria muito mais honesto e produtivo se todos nós admitirmos que temos nossos viéses ideológicos, pois ideologias são recortes da realidade que sempre mostram alguma verdade, mas jamais toda ela. Aí, ao menos saberemos estar discutindo postulados teóricos, premissas, entendimentos mais ou menos estruturados. Explico isso de um modo simplíssimo e breve em Filosofia Ideologia e Militância.
Nem um de nós tem acesso a uma descrição perfeita do real, e se o tivesse, não seria capaz de sabê-lo ou sequer de entendê-la. Tal qual o incauto que até afirma a esfericidade da Terra mas apenas porque acredita em autoridades, estando acidentalmente certo, mas tão incapaz de compreender o que isso verdadeiramente significa que apanha feio se for discutir com um terraplanista esperto.
Somos ideológicos, estamos contaminados de pressupostos que nos foram dados, a maioria vividos de forma dogmática. E dá um imenso trabalho, que leva décadas, ir se livrando da condição de marionete de sistemas de pensamento que praticamente nos controlam, para conseguir enfim entender realmente o que perpassa nossas mentes como se fosse a coisa mais natural e espontânea do mundo, mas são artificiais, arbitrários, e não raro completamente alienantes.